Fechamento e abertura; recusa e acolhida; indiferença e consideração;
medo e confiança; mesquinhez e generosidade; desfavor e respeito; menoscabo e relevância; pretexto e razão. Estas palavras assim dispostas designam as duas leituras diametralmente opostas que o momento internacional oferece a nós cidadãos da terra. E apresentamos esta sucessão de termos para enfatizar o contraponto representado por duas manchetes na mídia nacional e internacional, reportando estes dois fatos díspares acontecidos na sociedade terrana. Um é a legitimação do “desacolhimento” que os 27 paises que formam a União Européia adotam como política de imigração através da criação de regras para expulsão, frente ao afluxo migratório em suas fronteiras e, o outro, é a celebração dos 100 anos do acolhimento brasileiro à imigrantes japoneses.
O ir e vir é um característico fundamental dos ocupantes da Terra. É por
conta deste pressuposto de liberdade, que lhe é intrínseco, que não há recanto do planeta que não tenha sido visitado – o deserto do Saara tem gente e as ermas estepes geladas da Sibéria, também. Nem as inóspitas paragens do ártico e do continente antártico são capazes de afastar de modo definitivo a presença humana. É também por conta do ir e vir que todas as conquistas do saber humano se distribuem por micro partilhas, efetuadas aqui e ali, disseminando a cultura particular por entre todos, impedindo que ela se enquistasse esterilmente em algum lugar. O ir e vir, é igualmente, um imperativo da globalização tão apregoada por países desenvolvidos como, por exemplo, os 27 paises da União Européia. O crescimento vegetativo da população terrana – dado permanente nas considerações que qualquer pensador faça, mormente quando teorias neomaltusianas se erguem e vociferam que tem gente demais pra pouco mundo – é outra força a impulsionar o ir e vir. Mesmo quando povos e nações alcançam o bem estar social incorporando excelência de vida, permanece o afã humano de buscar outros rumos, outras terras.
Não será, nunca, prudente ou tempestivo, pensar-se barrar esta fluência
tão natural por artifícios legais ou quaisquer outros. Porque não se obstaculiza um fluxo natural sem que sobrevenham conseqüências. Ainda mais quando se observa o aspecto histórico e vê-se que os europeus barram, justamente, gente oriunda dos países do Mediterrâneo, da Turquia e de adjacências, de onde partem as levas de imigrantes. Esta mesma Turquia, antigo território otomano, objeto da cupidez européia, fatiado no tratado de Sèvres de 1920 para o banquete das potências aliadas vencedoras da Primeira Guerra Mundial. Sobre que princípio ético
JOÃO CÉSAR SILVEIRA DA COSTA (56)
– Acadêmico do Curso de Ciências Sociais da UNIR; cristão-espírita, músico, escritor e tradutor. Crônica do dia 17 de junho está a lei do espoliador que recusa acesso posterior aos vitimados por sua própria espoliação?
Felizes de nós e dos japoneses em nossa celebração. Felizes dos
necessitados de terra e oportunidade pois ao descer do Kasato Maru encontraram quem lhes fizesse lugar, nos tempos passados. E hoje, todos – os samurais que lutam capoeira mais os morenos de olhinhos fechados – festejam os 100 anos do evento enriquecidos de parte a parte. Estes originalíssimos cidadãos brasileiros de origem japonesa exibem um matiz singular que é como se, de repente, o “sakura” florasse em verde e amarelo! De quebra, os da terra receberam da antiqüíssima cultura reforço para o senso de ordem, disciplina e paciência.
Já faz algum tempo que o Brasil prima no cenário internacional pela
originalidade ousada de suas ações, pela sensatez de suas atitudes e pela generosidade de seus propósitos e, reparem que nós, brasileiros, estamos passando batidos! Brasil no Haiti para pacificar; Brasil na África para mitigar a fome após o saqueamento europeu; Brasil propondo mercado de cooperação no hemisfério sul; Brasil apresentando ao mundo fontes renováveis de energia; Brasil quebrando as patentes de medicamentos para AIDS.
Por fim vivemos um momento ímpar em que este país dá mostras
inequívocas que seu pendor para a ordem e o progresso obedece a rigoroso critério de generosidade para aqui e além fronteiras. Gente, é uma nova disposição de olhar que proponho aos brasileiros, tão desusados de cantar nosso hino, de amar nossa bandeira noves fora dia de jogo da seleção. Oh, brasileiros, peço-lhes que esqueçam as negações que os olhares desvirtuados lhes impuseram e, agora, olhem terna e orgulhosamente para este Brasil! Olhem e ponham a mão direita sobre o peito esquerdo, peço-lhes que levantem o queixo e olhem reto, enquanto a figura do Príncipe Naruhito – transbordante de soberba dignidade – inclina gentilmente sua cabeça para o nosso Brasil...
Porto Velho, 17 de junho de 2008
JOÃO CÉSAR SILVEIRA DA COSTA (56)
– Acadêmico do Curso de Ciências Sociais da UNIR; cristão-espírita, músico, escritor e tradutor.