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Crônica do dia 17 de junho

CONTRAPONTO

Fechamento e abertura; recusa e acolhida; indiferença e consideração;


medo e confiança; mesquinhez e generosidade; desfavor e respeito;
menoscabo e relevância; pretexto e razão. Estas palavras assim dispostas
designam as duas leituras diametralmente opostas que o momento
internacional oferece a nós cidadãos da terra. E apresentamos esta
sucessão de termos para enfatizar o contraponto representado por duas
manchetes na mídia nacional e internacional, reportando estes dois fatos
díspares acontecidos na sociedade terrana. Um é a legitimação do
“desacolhimento” que os 27 paises que formam a União Européia adotam
como política de imigração através da criação de regras para expulsão,
frente ao afluxo migratório em suas fronteiras e, o outro, é a celebração
dos 100 anos do acolhimento brasileiro à imigrantes japoneses.

O ir e vir é um característico fundamental dos ocupantes da Terra. É por


conta deste pressuposto de liberdade, que lhe é intrínseco, que não há
recanto do planeta que não tenha sido visitado – o deserto do Saara tem
gente e as ermas estepes geladas da Sibéria, também. Nem as inóspitas
paragens do ártico e do continente antártico são capazes de afastar de
modo definitivo a presença humana. É também por conta do ir e vir que
todas as conquistas do saber humano se distribuem por micro partilhas,
efetuadas aqui e ali, disseminando a cultura particular por entre todos,
impedindo que ela se enquistasse esterilmente em algum lugar. O ir e vir,
é igualmente, um imperativo da globalização tão apregoada por países
desenvolvidos como, por exemplo, os 27 paises da União Européia. O
crescimento vegetativo da população terrana – dado permanente nas
considerações que qualquer pensador faça, mormente quando teorias
neomaltusianas se erguem e vociferam que tem gente demais pra pouco
mundo – é outra força a impulsionar o ir e vir. Mesmo quando povos e
nações alcançam o bem estar social incorporando excelência de vida,
permanece o afã humano de buscar outros rumos, outras terras.

Não será, nunca, prudente ou tempestivo, pensar-se barrar esta fluência


tão natural por artifícios legais ou quaisquer outros. Porque não se
obstaculiza um fluxo natural sem que sobrevenham conseqüências. Ainda
mais quando se observa o aspecto histórico e vê-se que os europeus
barram, justamente, gente oriunda dos países do Mediterrâneo, da
Turquia e de adjacências, de onde partem as levas de imigrantes. Esta
mesma Turquia, antigo território otomano, objeto da cupidez européia,
fatiado no tratado de Sèvres de 1920 para o banquete das potências
aliadas vencedoras da Primeira Guerra Mundial. Sobre que princípio ético

JOÃO CÉSAR SILVEIRA DA COSTA (56)


– Acadêmico do Curso de Ciências Sociais da UNIR; cristão-espírita, músico, escritor e tradutor.
Crônica do dia 17 de junho
está a lei do espoliador que recusa acesso posterior aos vitimados por sua
própria espoliação?

Felizes de nós e dos japoneses em nossa celebração. Felizes dos


necessitados de terra e oportunidade pois ao descer do Kasato Maru
encontraram quem lhes fizesse lugar, nos tempos passados. E hoje, todos
– os samurais que lutam capoeira mais os morenos de olhinhos fechados
– festejam os 100 anos do evento enriquecidos de parte a parte. Estes
originalíssimos cidadãos brasileiros de origem japonesa exibem um matiz
singular que é como se, de repente, o “sakura” florasse em verde e
amarelo! De quebra, os da terra receberam da antiqüíssima cultura
reforço para o senso de ordem, disciplina e paciência.

Já faz algum tempo que o Brasil prima no cenário internacional pela


originalidade ousada de suas ações, pela sensatez de suas atitudes e pela
generosidade de seus propósitos e, reparem que nós, brasileiros, estamos
passando batidos! Brasil no Haiti para pacificar; Brasil na África para
mitigar a fome após o saqueamento europeu; Brasil propondo mercado de
cooperação no hemisfério sul; Brasil apresentando ao mundo fontes
renováveis de energia; Brasil quebrando as patentes de medicamentos
para AIDS.

Por fim vivemos um momento ímpar em que este país dá mostras


inequívocas que seu pendor para a ordem e o progresso obedece a
rigoroso critério de generosidade para aqui e além fronteiras. Gente, é
uma nova disposição de olhar que proponho aos brasileiros, tão desusados
de cantar nosso hino, de amar nossa bandeira noves fora dia de jogo da
seleção. Oh, brasileiros, peço-lhes que esqueçam as negações que os
olhares desvirtuados lhes impuseram e, agora, olhem terna e
orgulhosamente para este Brasil! Olhem e ponham a mão direita sobre o
peito esquerdo, peço-lhes que levantem o queixo e olhem reto, enquanto
a figura do Príncipe Naruhito – transbordante de soberba dignidade –
inclina gentilmente sua cabeça para o nosso Brasil...

Porto Velho, 17 de junho de 2008

JOÃO CÉSAR SILVEIRA DA COSTA (56)


– Acadêmico do Curso de Ciências Sociais da UNIR; cristão-espírita, músico, escritor e tradutor.

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