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PÁGINA 1- BELO HORIZONTE, SEXTA-FEIRA, 25/12/2009 - cultura@hojeemdia.com.br
Cenas
preciosas
Ronaldo Werneck registra a trajetória do cineasta Humberto Mauro
FABIANO MAURO RIBEIRO
ESPECIAL PARA O HOJE EM DIA
Rever a obra do grande minei-
ro e cineasta Humberto Mauro,
ainda bem, tomou novo impulso
nos últimos anos. Agora, o poeta
e escritor cataguasense Ronaldo
Werneck presta justa e bem tra-
çada elegia em “Humberto Mau-
ro Revisto por Ronaldo Werne-
ck” (ArtePaubrasil, São Paulo,
2009).
Werneck tem há muito
tempo uma ação efetiva no ce-
nário cultural da cidade.
Alem de publicações em jor-
nais e revistas literárias, fez
FOTOS ARQUIVO HOJE EM DIA
LIVRO/MEMÓRIA
traduções importantes desde
1971, como a de “A Feiticeira
de Michelet”, “Contos de Ho-
ffmann” em 1972, e no terre-
no próprio da poesia, “Selva
Selvaggia”. Mais recentemen-
te, em 2005, uma “Revista Sel-
vaggia”, lançada no Rio e, em
2008” “Minerar o Branco”, es-
ses últimos já com o apoio
maior da Cia Força e Luz Cata-
guases Leopoldina, sua base
de trabalho, onde é editor de
textos da Fundação Cultural
Ormeo Junqueira Botelho e
Diretor de Comunicação do
Cineport.
Em 2002, a Fundação ad-
quiriu em os direitos parciais
Celso Freitas apresenta
as notícias do Brasil e do
mundo, todas as noites, ao lado
de Ana Paula Padrão,
no Jornal da Record.
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do cineasta Humberto Mau-
ro, constituídos principal-
mente pelos troféus obtidos
em toda a sua vida e que vie-
ram integrar o Centro Cultu-
ral Humberto Mauro, em Ca-
taguases. Em dezembro de
2007, foi inaugurado o Memo-
rial Humberto Mauro, no se-
gundo andar do Centro Cultu-
ral, locais imperdíveis para
quem quer conhecer a obra
do diretor, assim organizada
e bem estruturada, incluindo
uma sala dedicada ao filho Ze-
quinha Mauro.
No livro, Ronaldo Werne-
ck mostra familiaridade e con-
vivência no eixo Cataguases -
Volta Grande. Nessa ultima,
onde outras figuras do mun-
do do cinema nacional, iam
amiúde beber da sabedoria
do velho Humberto, no seu
Rancho Alegre.
O trabalho de reprodução
de fotos, algumas raras, e
com excelente padrão, e a
diagramação geral do plano,
é um peso na obra. Mesmo as
extensas transcrições de tex-
tos, excertos de obras ímpa-
res como as de Sheila Schvarz-
man (aliás é quem prefacia
com muita acuidade o livro)
são bastante gratas para servi-
rem principalmente aos estu-
diosos que buscarem uma luz
RECORD
Humberto
Mauro (na
foto maior,
com o filho
Zequinha):
memória bem
tratada em
uma nova
publicação
para viajar nesse mundo mui-
to peculiar e arriscar-se a se
tornar um “templário,” como
menciona, com humor, Car-
los Augusto Calil, em 1984 (co-
mentário “Que Viva Mauro!”,
Mostra Embrafilme/ Força e
Luz Cat. Leopold.)
Cabe lembrarmos-nos de
uma assertiva em 2004 de Car-
los Alberto de Mattos, ao falar
em pesquisas no livro de Shei-
la (Humberto Mauro e as Ima-
gens do Brasil, Unesp, São
Paulo, 2004)lembrando que o
mestre dessa biógrafa, Marc
Ferro, exalta as fontes primá-
rias, como rainhas da verda-
deira pesquisa. Ocorre que
obras como a de Werneck,
que são de um elevado por-
centual de consultas com co-
letâneas fulcradas nas publi-
cações já existentes, têm po-
rem um valor elevado à parte
para o leitor, quando agluti-
nam também notícias da im-
prensa em geral, e informes
avulsos, ordenando tudo de
maneira mais objetiva e regu-
lar, e aqui injetadas e emoldu-
radas pelo lindo espetáculo
do preto-e-branco, mundo
aparentemente distante, mas
que constitui uma sagrada
palpitação. Esse mundo per-
tenceu não só a Humberto,
mas principalmente a seu fi-
lho, Zequinha Mauro, muito
a Luiz Mauro, o Lulu, e outros
verdadeiros ícones como Ed-
gard Brasil, Mário Carneiro e
demais mestres desse porte.
O retrospecto que Ronal-
do Werneck faz por exemplo,
do livro organizado por Alex
Viani (“Humberto Mauro,
Sua Arte, Sua Trajetória no Ci-
nema” ( Artenova Embrafil-
.Hoje EM DIA
me, 1978) é de notável valor.
Tal livro, lamentavelmente,
não mereceu até o momento
uma nova edição. O mesmo
se dirá de “Humberto Mauro,
Cataguases Cinearte”, de Pau-
lo Emílio Sales Gomes (USP,
1974), e da obra da própria
Sheila Schvarzman.
Mas todas as citações ou
transcrições de trechos não
caem em tom de mera compi-
lação – o autor mescla entre-
vistas, comentários, e toques
de sua própria veia poética,
consagrada, sempre com o
fundo da excepcional
diagramação. Fatos engraça-
dos, de vivência própria.
Curiosos detalhes, como os
comprovados pelos fac-sími-
les de um exemplar do Livro
de Paulo Emílio ganho por
Werneck, de uma sobrinha
da famosa Eva Comello (Eva
Nil). A outrora Eva Nil, miste-
riosa, corrigiu e retrucou,
com letra trêmula, algumas
afirmações do biógrafo. Sem-
pre fascinam esses dizeres
toscos escritos em missais e li-
vros antigos, por pessoas enig-
máticas já mortas _ tais pensa-
mentos refletem ângulos da
personalidade dos ex-viven-
tes e são expressões de verda-
des que assumem imagem de
surpresa, sepultadas com o
próprio autor delas.
Ao final, antes da
sequência de fotos de Walter
Car valho, nada como reler,
ou conhecer, o belo texto “O
Último Filme ao Fim do
Dia”, do amigo e admirador
incondicional de Mauro, Wal-
ter Lima Jr, publicado em no-
vembro de 1983 na Imprensa
Paulista. i