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Os impactos da mensuração da receita na

apuração dos resultados das empresas de


construção civil 1

Adriano Galli Gardini2

Idalberto José das Neves Júnior3

Resumo
A contabilidade tem como desafio demonstrar com a maior clareza possível, os resultados
auferidos pelas organizações empresariais. Existem especificidades na mensuração da
receita das empresas de construção civil pelo fato de que o ciclo operacional nestas
empresas ultrapassa o ano contábil, sem contar as divergências em relação aos
Princípios Fundamentais da Contabilidade e da Instrução Normativa nº 84/79. A
importância do trabalho se dá a partir do momento em que pessoas, ou investidores
necessitam de informações confiáveis das empresas e na prática falta uma metodologia
clara, objetiva e adequada ao mercado. O objetivo deste trabalho é demonstrar o impacto
da adoção da mensuração das receitas na apuração dos resultados nas empresas de
construção civil.

Palavras-chave
Construção Civil, Mensuração da Receita e Lucro Contábil.

The impacts of income´s mensuration in the


ascertainment of results of construction
companies 1

Summary
Accountancy has the challenge to demonstrate in the most possible way, the plainness of
the results drawn from business companies. There are peculiarities in the income´s
mensuration of the construction companies by the fact that the working cycle in these
companies surpass the accounting year, not reporting the divergences related to the
Accountancy´s Basic Principles and Normative Instruction nº 84/79. The importance of this
work starts in the moment in which persons or investors need of reliable information from
companies and, in a matter of fact, there is lack of a clear and objective methodology
suitable to the market. The purpose of this work is to demonstrate the impact of the
adoption of income´s mensuration in the ascertainment of construction companies´s
results.

Keywords
Construction, Income´s Mensuration and Accounting Profit

1
Trabalho desenvolvido na graduação em Ciências Contábeis da UCB
2
Bacharelando do 2º semestre de 2002 Curso de Ciências Contábeis da Universidade Católica de Brasília
3
Professor Orientador do Trabalho
2

1. INTRODUÇÃO

O setor de construção civil exerce um papel vital para a sociedade, pois


engloba atividades que vão desde a construção de “obras de arte” tais como
pontes, viadutos, estradas, hidrelétricas até a construção de edifícios
comerciais/residenciais, shopping center, casas, e etc...
De acordo com Bonizio (2001, p. 13-14) o setor de construção civil se divide
em duas grandes vertentes: o setor de construção de grandes obras e a
construção imobiliária. Além dessas vertentes, tem-se três formas de atuação das
empresas:
• A prestação de serviços, em que a empresa de construção recebe uma
remuneração fixo ou variável pela execução da obra, ficando os riscos
da atividade por conta do contratante;
• A execução por empreitada, em que a empresa de construção assume
os riscos dos custos de construção e o contratante paga um preço
predeterminado pela construção;
• A incorporação imobiliária, em que a empresa de construção toma a
iniciativa da construção e comercialização das unidades imobiliárias.
O foco deste trabalho é estudar as empresas que atuam na área de
incorporação, ou seja, as empresas construtoras especializadas na área
imobiliária.
Sem levar em conta as atividades intermediárias e providencias
preliminares para a concretização da incorporação imobiliária, e partindo
diretamente para a venda dos apartamentos, têm-se as receitas do
empreendimento. Para definição do reconhecimento de tais receitas há
considerações a se fazer, mediante as divergências em sua mensuração pelo fato
de que o ciclo operacional nestas empresas ultrapassam o ano contábil, sem
contar as divergências em relação aos Princípios Contábeis e Instrução Normativa
nº 84/79.
A relevância do tema se dá a partir do momento em que pessoas, ou
mesmo investidores necessitam de informações confiáveis das empresas e na
prática falta uma metodologia clara, objetiva e adequada ao mercado.
3
Diante do exposto, pode-se formular o problema desta pesquisa, com o
seguinte questionamento: qual é o impacto da adoção da mensuração das
receitas baseado nos Princípios Contábeis e na Instrução Normativa nº 84/79 na
apuração de resultado das empresas de construção civil?
O artigo tem como objetivo explorar a mensuração da receita e suas
divergências de Normas Contábeis e Fiscais.
Para tanto têm-se os seguintes objetivos específicos:
• Definir o Ciclo Operacional nas Empresas de Construção Civil;
• Apresentar as divergências das Normas Contábeis e a Legislação
Fiscal;
• Demonstrar as formas de Reconhecimento das Receitas;
• Desenvolver um exemplo que possa demonstrar didaticamente a
problemática no reconhecimento da receita.
Tal pesquisa é classificada em cinco tópicos: básica, qualitativa,
exploratória, bibliográfica e pesquisa de campo.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Possíveis formas de realização e negociação dos


empreendimentos imobiliários

Segundo Scherer (2003, p. 27) a comercialização das unidades imobiliárias


podem ser feitas de quatro formas: pela venda a vista de unidade concluída, pelo
prazo ou prestação de unidade concluída, pela venda à vista de unidade não
concluída e pela venda a prazo ou prestação de unidade não concluída.
Bonizio (2001, p. 3) definiu que existe duas formas de atuação das
empresas, o setor de construção de grandes obras e o setor imobiliário. Definiu
ainda em relação à sua comercialização a existência de três forma de atuação: a
prestação de serviço, a execução por empreitada e a incorporação imobiliária.
4
De acordo com Costa (2000, p. 13) “as empresas de engenharia ou
construção civil executam obras para terceiros sob administração ou sob
empreitada”.
Costa (1981, p.24) define ainda que as unidades podem ser
comercializadas quando a obra estiver concluída ou ainda na planta.

2.2. O Ciclo Operacional

Segundo Assaf Neto (2002, p. 177) pode ser definido como as fases
operacionais existentes no interior da empresa, que vão desde a aquisição de
materiais para a produção até o recebimento das vendas efetuadas...”
De acordo com Marion (1997 apud BONIZIO 2001, p. 69) define o ciclo
operacional como sendo “o período desde a aquisição da matéria prima (que entra
no processo produtivo) até o recebimento...”
Iudícibus, Martins e Gelbcke (1995, p. 113) sugere que “nas entidades em
que a produção demanda longo espaço de tempo, deve ocorrer o reconhecimento
gradativo da receita, proporcionalmente ao avanço da obra, quando ocorrer a
satisfação concomitante...”

2.3. O lucro apontado nas empresas de construção civil

Martins (1998, p.35) define o ciclo operacional como:


Do ponto de vista econômico, o lucro já surge durante a elaboração do
produto, pois há agregação de valores nessa fase, inclusive do próprio
resultado, mesmo que ainda em forma potencial, sem se concretizar em
dinheiro, direitos a recebimento futuro ou a ativos.

Scherrer (2003, p.27) define que:


A sistemática de apuração de resultado exclusivamente para fins fiscais
não pode (ou não deve) prejudicar a visualização dos demonstrativos
contábeis com finalidade gerencial de qualquer empresa. No tocante à
atividade imobiliária, há um risco mais acentuado de que a
contabilidade sirva somente para atender às exigências do fisco.
(grifo nosso).
5
Costa (2000, p.158) relata que as empresas de construção civil podem
estar adotando procedimentos contábeis que modificam a situação real com isso
refletindo nas demonstrações contábeis.

2.4. Reconhecimento da receita a partir das Normas


Contábeis

De acordo com Bonizio (2001, p. 10) “...a utilização do Princípio Contábil da


Realização da Receita, deixa-se de reconhecer lucros nos anos em que o imóvel
está em construção...”
O Conselho Federal de Contabilidade (2000, p. 32) define como:
As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração de resultado
do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se
correlacionarem, independentemente da moeda de recebimento ou
pagamento.

O Conselho Federal de Contabilidade (2000, p.58) mediante ao apêndice à


resolução sobre os princípios contábeis rege que nas empresas em que a
produção poderá levar longo espaço de tempo deve-se ocorrer o reconhecimento
gradativo da receita proporcionalmente ao avanço da obra.
Iudícibus (1999, p. 63) define o reconhecimento da receita dividindo-se os
custos incorridos pelos custos totais estimados e a porcentagem obtida desta
operação é multiplicada pelo valor total da receita fixado no contrato.
Hendriksen e Van Breda (1999, p. 228) é definido pelo autor como “... do
evento crítico reconhece uma receita assim que tenha havido redução suficiente
de incerteza”.

2.5. Reconhecimento da receita a partir da Legislação Fiscal

IOB ([1991], p. 62) Instrução Normativa determina:


Uma vez implementado a condição suspensiva convencionada, as
quantias antecipadas pelo comprador do imóvel serão convertidas em
receita do exercício social da efetivação da venda, com o conseqüente
reconhecimento do lucro bruto a elas correspondentes.
6
Bonizio (2001, p. 10) define que de acordo com o fisco parte dos lucros são
apurados em períodos posteriores aos da construção e da entrega das unidades.
Secretaria da Receita Federal (Instrução Normativa nº 84/79). Esta
instrução apresenta:
O contribuinte que comprar imóvel para venda ou empreender
desmembramento ou loteamento de terrenos, incorporação imobiliária ou
construção de prédio destinado à venda deverá, para efeito de determinar
o lucro real, obedecer às condições constantes desta Instrução Normativa.

A Secretária da Receita Federal (Instrução Normativa n° 84/79) diz que o


reconhecimento da receita poderá ser feito proporcionalmente à receita de venda
mediante a atualização da conta resultados do exercício futuro.

3. METODOLOGIA

3.1. Classificação da pesquisa

Esta pesquisa, quando à sua natureza, é classificada como pesquisa


básica uma vez que objetiva gerar conhecimentos novos e úteis em torno do
problema levantado. Este assunto pretende analisar o reconhecimento da receita
nas empresas de construção civil.
Quanto à forma de abordagem do problema, será utilizada uma pesquisa
qualitativa, por não se tratar do uso de métodos e técnicas estatísticas.
Do ponto de vista de seus objetivos, será classificada como pesquisa
exploratória, por envolver levantamento bibliográfico visando apropriar as
características do problema.
Quanto aos procedimentos técnicos empregados, será utilizado a pesquisa
bibliográfica, pelo fato de ser elaborada a partir de matéria já publicada (revista,
livros, leis, artigos e teses), a pesquisa de campo visando apresentar um
exemplo de uma empresa de construção civil em plena atividade no Distrito
Federal.
7
3.2. Pressupostos

Para tal pesquisa têm-se os seguintes resultados antecipados:


• O impacto da mensuração das receitas, nas demonstrações contábeis
das empresas de construção civil gera distorções na interpretação dos
resultados.
• O reconhecimento da receita pelo Princípio da Competência deixa de
reconhecer os lucros nos anos em que o imóvel esta em construção.
• Com o reconhecimento da receita pela Instrução Normativa nº 84/79
parte dos lucros são apurados em períodos posteriores aos da
construção do imóvel.

3.3. Coleta e Análise de Dados

Para estudar o problema e testar os pressupostos, adotado-se os seguintes


procedimentos:
• Definiu a fundamentação teórica;
• Exemplificou, por simulação, os impactos na apuração do resultado de
empresa de construção civil de Brasília;
• Testou os pressupostos.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO

Para análise e discussão deste estudo será apresentado alguns pontos em


relação à fundamentação teórica e ao exemplo apresentado.
8

4.1 O reconhecimento da receita a partir dos


Princípios Contábeis

O Conselho Federal de Contabilidade no exercício de suas obrigações


definiu mediante a Resolução n° 750 de 29 de dezembro de 1993 como uma das
premissas da contabilidade o Princípio da Competência. Este princípio define a
questão do reconhecimento da receita e seu confronto com as despesas.
Para que as receitas sejam consideradas realizadas primeiramente
precisa-se observar quatro pontos:
• Nas transações com terceiros, quando estas efetuarem o pagamento ou
assumirem compromisso firme de efetivá-lo;
• Quando da extinção parcial ou total de um passivo sem o
desaparecimento concomitante de um ativo;
• Pela geração de novos ativos;
• No recebimento efetivo de doações e subvenções.
Este princípio não esta ligado diretamente com o relacionamento gerado
entre recebimento e pagamentos, mais sim com o reconhecimento das receitas
auferidas e as suas devidas despesas incorridas.
Se tal princípio for aplicado na integra nas empresas de construção civil e o
fato do ciclo operacional ultrapassar o ano financeiro, deixa-se de reconhecer o
lucro nos anos em que o imóvel esta em construção, só podendo ser reconhecido
tal ganho a partir do momento em que o bem for transferido assim gerando
distorções na apuração de resultados das empresas de construção civil.
Para tal compensação o CFC no ano de 1994 decretou a Resolução n° 774
de 16 de dezembro, tal resolução vem justamente a esclarecer o problema
encontrado e citado anteriormente neste trabalho.
Para tanto a Resolução nº 774 diz que as empresas em que a produção
demanda largo espaço de tempo como no caso das empresas de construção civil,
deve-se reconhecer as receitas gradativamente ao avanço da obra quando ocorrer
à satisfação concomitante nos seguintes quesitos:
9
• O preço do produto é estabelecido mediante a contrato, inclusive à
correção dos preços;
• Não há riscos maiores de descumprimento do contrato, tanto da parte
do vendedor quando da parte do comprador;
• Existe estimativa, tecnicamente sustentada, dos custos a serem
incorridos;
Se analisarmos o primeiro quesito, os contratos de compra e venda deixa
claro em relação a preço e correções contratuais. Já no terceiro quesito existe um
problema, embora o preço total da unidade possa ser fixado facilmente os custos
são incertos, no caso de contratos de compra e venda que existe a clausula de
custo mais taxa de administração o lucro é determinado mais o percentual de
acabamento torna-se um fator incerto.
O problema de tal resolução está no item segundo que se refere ao risco
do descumprimento por ambas as partes. Quem garante que no futuro o
comprador não possa a vir descumprir tal promessa mediante a empresa?

4.2 O reconhecimento da receita a partir da


legislação fiscal

A Secretária da Receita Federal mediante a Instrução Normativa n° 84 de


20 de dezembro de 1979 estabelece normas para a aspiração e tributação do
lucro nas atividades de construção civil.
A resolução define que o lucro bruto deverá ser reconhecido
proporcionalmente à receita de venda recebida em cada exercício social, com a
utilização de contas do grupo de resultados de exercícios futuros. Trata ainda que
deverão ser feitas correções nos custos orçados e ocorridos até a final de cada
exercício social.
Define também que o lucro bruto deverá ser transferido parcialmente do
grupo de resultados de exercícios futuros para cada exercício social mediante a
atualização entre o lucro bruto a receita bruta de venda.
10
Ou seja, os lucros brutos serão transferidos para a conta de resultado do
exercício à medida que os valores sejam recebidos. O grande problema desta
metodologia se dá em dois pontos: primeiro em relação à mensuração do quanto
do custo deve ser apropriado no exercício, e qual indicador de evolução deve ser
utilizado para tal medição; a segunda em relação a utilização da conta de
resultados dos exercícios futuros para registrar resultados que poderá não ser
concretizado no futuro.
O intuito da Secretária da Receita Federal com a Instrução Normativa
n° 84/79 é a da tributação mediante ao recolhimento do resultado a medida em
que os valores são recebidos.
Entende-se que como SRF tem a intenção de recolhimento de tributos, o

conceito de lucro e utilização de contas do balanço se contradiz aos princípios

fundamentais da contabilidade.

4.3 O ciclo operacional nas empresas de construção


civil em contrapartida à mensuração de seus
resultados

Quando é estudado o ciclo operacional nas empresas de construção civil


depara-se com um problema típico dessas empresas, o ciclo operacional
ultrapassa o ano financeiro.

FIGURA: 1
Modelo do ciclo do operacional nas empresas
11
Partindo da referência que o ciclo começa no momento em que a empresa
compra a matéria-prima, fabrica o produto, vende e recebe, esse tempo leva anos
para ser completado nas empresas de construção civil e com isso gera distorções
na apuração dos resultados das entidades.
Os Princípios Contábeis regidos pelo Conselho Federal de Contabilidade
descreve que a receita só poderá ser reconhecida a partir da entrega do bem, por
outro lado a Secretária da Receita Federal mediante a Instrução Normativa
n° 84/79 rege que a receita deve ser reconhecida mediante aos pagamentos
recebidos em cada exercício social.
Neste momento surge uma indagação: devemos efetuar a contabilização
mediante aos Princípios Contábeis ou a Instrução Normativa da Secretária da
Receita Federal?
Se houve agregação de valor ao produto nos períodos então deve-se
reconhecer a receita nos períodos que lhe compete, com isso sendo mais fiel a
sua realidade?
O lucro deve ser reconhecido no momento da venda, no momento da
entrega do imóvel ou durante o processo de construção que poderá levar anos?
Diante do exposto, os contadores adotam procedimentos para o
cumprimento dos Princípios Contábeis – as receitas são reconhecidas a partir da
transferência do bem.
Porem, como ficam as demonstrações contábeis? Apresentam informações
certas e confiáveis?
O resultado da adoção dos Princípios Contábeis gera informações que não
revelam a realidade das empresas de construção civil, o que pode implicar em
análises econômicas e financeiras que não refletem a real situação.
Isso acontece porque muita empresa de construção civil no Brasil é de
capital fechado com isso ficando desobrigadas a seguir as orientações da Teoria
da Contabilidade e ficando obrigados ao atendimento de resoluções e normas de
outros órgãos, com isso gerando demonstrações contábeis que não retratam com
fidelidade a real situação empresarial.
12

4.4 Comparação entre as duas formas de


reconhecimento da receita: Princípio da
Competência e Instrução Normativa nº 84/79

A seguir será apresentado um quadro resumo dos pontos de divergências


entre a legislação imposta pela Secretária da Receita Federal e pelos Princípios
Fundamentais da Contabilidade exposta pelo Conselho Federal de Contabilidade.

QUADRO: 1
Quadro Comparativo das divergências entre as Legislações
Instrução da Princípios
Ponto de Secretária da Teoria da Fundamentais
Divergência Receita Federal n° Contabilidade da
84/79 Contabilidade
Reconhecimento do No momento em que a No momento que é No momento da
lucro receita é recebida gerado entrega do bem
Receitas recebidas e
Confronto de receitas e Receitas e custos Receitas e custos
custos orçados
custos incorridos ou gerados incorridos ou gerados
proporcionais
Deve ser usada para o
Não deve ser utilizada Não deve ser utilizada
Uso de contas de reconhecimento de
par a lucros que não par a lucros que não
Resultados de todas as vendas, tendo
possam a vir se possam a vir se
Exercícios Futuros como contrapartida a
concretizar concretizar
conta a receber
Práticas exclusivas Deve ser adotada a
- -
para fins ficais escrituração contábil
Fonte: Bonizio (2001, p.16)

O caso a ser ilustrado neste trabalho tem efeito apenas didático e tem como
base uma empresa de médio porte que pratica a incorporação imobiliária. Para
definição da análise pretende-se apresentar os impactos segundo o Princípio da
Competência e da Instrução Normativa nº 84/79.
13
Para efeito das análises suponhamos que a construtora realizou apenas
este empreendimento durante o período em questão e que todos os imóveis foram
vendidos pelo mesmo preço, segue os dados do empreendimento:

QUADRO: 2
Dados gerais do empreendimento
42 Apartamentos
Custo Total da Obra R$ 2.730.000,00
Receita total das vendas R$ 3.528.000,00
Lucro Bruto Esperado R$ 798.000,00
Preço unitário de venda R$ 84.000,00
Custo unitário R$ 65.000,00

Dados sobre a venda


30 unidades durante a construção 12 unidades após a conclusão da obra

Dados Gerais
Início da obra – 01/10/2003
Término da obra – 01/10/2005
Entrega da obra – 10/05/2005
Início da obra – 01/08/2003

TABELA: 1
Dados da Negociação
FINAL DOS
VENDAS Quantidade
RECEBIMENTOS
1993 10 Out/07
1994 8 Out/08
1995 12 Out/09
1996 12 Out/10
Total Unidades 42

Política de Vendas a Prazo


Entrada de 20.000,00
64 Parcelas de 1.000,00

Para evidenciação dos recebimentos e custos incorridos, adotou-se os


seguintes procedimentos:
• Para os recebimentos foram feitos cálculos de cada sinal de venda no
valor de R$ 20.00,000 mais as parcelas acumuladas referente a cada
14
ano no valor de R$ 1.000,00 dando um total por unidade de
R$ 84.000,00 e um VGV (Valor Geral de Vendas) de R$ 3.528.000,00;
• Os custos totais foram calculados mediante ao custo unitário de cada
unidade no valor de R$ 65.000,00 dando um total de R$ 2.730.000,00;

TABELA: 2
Dados Gerais em VGV e Custos do Empreendimento
  
       
 
   
  

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Porém considerando o Princípio da Competência, o confronto entre receita


e custo incorrido ocorrerá somente no momento da entrega da unidade, assim
gerando distorções nas demonstrações contábeis destas empresas. Abaixo,
segue os dados da apuração mediante ao Princípio da Competência.

TABELA: 3
Apuração mediante a adoção do Princípio Contábil da Competência
  
       
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Adotando a Instrução Normativa nº 84/79 de Secretaria da Receita Federal,


parte dos lucros serão apurados em períodos posteriores ao da entrega do bem. A
seguir, apresenta-se segue os dados da apuração mediante a Instrução
Normativa.

TABELA: 4
Apuração mediante a adoção da Instrução Normativa nº 84/79 da SRF
  
           

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15
Por fim analisando a tabela 5, podemos evidenciar as divergências entre o
Princípio da Competência e a Instrução Normativa nº 84/79. No primeiro caso,
pode-se ver que o lucro só é reconhecido no momento da entrega do bem e no
segundo, o lucro é reconhecimento mediante aos recebimentos
Aplicando o Princípio da Competência e a Instrução Normativa nº 84/79 no
caso apresentado destaca-se que ao final dos recebimentos, os lucros
encontrados nos dois casos são os mesmos e que apresenta divergência em
relação ao momento de apuração dos resultados auferidos pela empresa ao longo
dos anos analisados. Na tabela 5 apresenta-se uma comparação entre a o
Princípio da Competência e a Instrução Normativa nº 84/79.

TABELA: 5
Comparativo dos lucros brutos: Lucro Bruto 1-Princípio Contábil da Competência
Lucro bruto 2-Instrução Normativa nº 84/79 da SRF
  
         

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo principal demonstrar as


divergências entre os Princípios Fundamentais da Contabilidade e da Legislação
Fiscal no tocante do reconhecimento dos resultados nas empresas de construção
civil. A divergência do caso apresentado revela distorções na apuração dos
resultados das empresas de construção civil.
O Conselho Federal de Contabilidade nos exercícios de suas obrigações,
mediante a Resolução n° 750 de 29 de dezembro de 1993 define como uma das
premissas o Princípio da Competência. Porém, este princípio deixa de reconhecer
parte dos lucros nos períodos em que o imóvel ainda está em fase de construção,
sendo que há, custos e despesas e agregação de valores ao produto.
Por outro lado a Resolução n° 774 de 16 de dezembro 1994 exposta pelo
CFC define que as empresas devem reconhecer as receitas gradativamente ao
avanço da obra quando ocorrer à satisfação concomitante.
16
Já a SRF mediante a resolução n° 84 de 20 de dezembro de 1979 define
que o lucro bruto deverá ser reconhecido proporcionalmente à receita de venda
recebida em cada exercício social, com a utilização de contas do grupo de
resultados de exercícios futuros. Trata ainda que deverão ser feitas correções nos
custos orçados e ocorridos até a final de cada exercício social.
Este estudo permitiu apresentar algumas observações em relação aos
pressupostos apresentados:
• O impacto da mensuração das receitas, nas demonstrações contábeis
das empresas de construção civil gera distorções na interpretação dos
resultados, uma vez que de acordo com a tabela 5 os resultados
auferidos pelas empresas de construção civil, não condiz com a real
situação.
• O reconhecimento da receita pelo Princípio da Competência deixa de
reconhecer os lucros nos anos em que o imóvel está em construção,
uma vez que o confronto dos custos incorridos com as receitas auferidas
é feito somente no momento da entrega do bem.
• Com o reconhecimento da receita pela Instrução Normativa
nº 84/79 parte dos lucros são apurados em períodos posteriores à
construção do imóvel, haja visto que esta legislação implica o uso da
conta de resultados do exercícios futuros o que não condiz com a
contabilidade societária e a teoria da contabilidade, além do
reconhecimento dos resultados a medida em que os pagamentos sejam
realizados.
Não podemos esquecer que o papel da contabilidade na sua essência tem
como premissa a evidenciação das variações patrimoniais em uma organização
empresarial, assim gerando informações plausíveis para aos usuários da
informação contábil.
Pata trabalho futuro pode-se-á estudar a legalidade da transferência do
imóvel à partir do registro cartorial e a produção de novos métodos de apuração
de resultados para as empresas do Setor de Construção Civil.
17

6. REFERÊNCIAS UTILIZADAS

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: um enfoque


econômico-financeiro. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

BONIZIO, Roni Cleber. Um estudo sobre os aspectos relevantes da


contabilidade e o seu uso em empresas do setor de construção civil. São
Paulo: FEA-USP. Dissertação de mestrado, 2001.

CFC. Princípios fundamentais da contabilidade e normas brasileiras de


contabilidade. Brasília: CFC, 2002.

COSTA, Magnus Amaral da. Contabilidade da construção civil e da atividade


imobiliário. São Paulo: Atlas, 2000.

______, Magnus Amaral da. Construção de imóveis para venda. Revista


Brasileira de Contabilidade, Conselho Federal de Contabilidade, Ano XI, nº 39,
out./dez. 1981.

HENDRIKSEN, Eldon S. & Van BREDA, Michael F. Teoría da contabilidade.


Tradução da 5ª edição americana. São Paulo: Atlas, 1999.

IOB – Informações Objetivas. Boletim 2/80. Caderno Texto Legal.

IUDÍCIBUS, Sérgio de & MARION, José Carlos. Introdução à teoria da


contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.

IUDÍCIBUS, Sérgio de, MARTINS. Eliseu & GELBKE, Ernerto R. Manual de


contabilidade das sociedades por ações. 5. ed. São Paulo: Atlas. 2000.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 6. ed. São Paulo: Atlas. 1998.

SCHERRER, Alberto Manoel. Contabilidade Imobiliária – Abordagem


Sistêmica, Gerencial e Fiscal. São Paulo: Atlas, 2003.
18
Brasil, Ministério da Fazenda, Secretária da Receita Federal. Instrução
Normativa nº 84 de 1979.

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