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http://dn.sapo.pt/2008/02/13/opiniao/os_socialicidas.html

OS SOCIALICIDAS

Baptista-Bastos
escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt

Vai por aí algum alvoroço com as declarações de Manuel Alegre sobre as derivas do PS. O PS já nasceu
com derivas: basta atentar nos seus fundadores. Provinham, quase todos, do antifascismo, mas ética e
ideologicamente eram diferentes. De católicos "progressistas" a ex-comunistas, até republicanos de traça
jacobina, o PS foi, quase, um trâmite freudiano de adolescentes contra os pais. O que os impediu de
compreender as mitologias da social-democracia, esta mesma diversamente interpretada e opostamente
aplicada nos países escandinavos. Provinham de uma leitura catequista do marxismo, caldeada na
experiência da República de Weimar.

Quando, no PREC, se gritava: "Partido Socialista, partido marxista!" - a exclamação estava a mais. A
interrogação seria mais apropriada. O estribilho ficou mudo, quando Willy Brandt mandou dizer que as
estentóricas frases eram estranhas à teologia do "socialismo democrático". Por essa época, Manuel
Alegre, numa entrevista que lhe fiz, disse, dramático, que "a social-democracia era a grande gestora do
capitalismo". Goste-se ou não dele, a verdade é que nunca foi ambidextro na forma de protestar.

Na realidade, há muitíssimo poucos socialistas no PS; no Governo, parece-me que nenhum. Observo
aquelas figuras, marcadas por uma espécie de misticismo barroco, e pergunto-me: que tem feito pelo
País esta gente de manejos burocráticos e de cerviz dobrada ante o Príncipe? Nada. Pior: tem cometido o
mais condenável de todos os crimes - o socialicídio.

Não é de agora, o delito. Com José Sócrates, socialista de ocasião, propagandeou-se a "esquerda
moderna" como justificação de todas as malfeitorias ideológicas, sociais, morais e éticas. Mas ele resulta
de uma génese política malformada. As "tendências" no PS, desenvolvem-se, exclusivamente, com
palavras e frases protocolares. E os poucos que pertencem a uma genealogia oposta são marginalizados
ou tidos como anacronismos.

Há, nesta gente, falta de garra, de honra, de competência, de credibilidade, de integridade, de vergonha.
Trabalhadores precários: 1 700 000. População empregada: 5,2 milhões de pessoas. Desempregada:
cerca de meio milhão. Dois milhões de portugueses na faixa da pobreza. São conhecidos os vencimentos
escandalosos, as mordomias, as pensões de reforma não apenas no "privado" como no "público". O
regabofe na sociedade portuguesa é mais do que revoltante. O PS é uma desgraça. O Governo
"socialista" uma miséria. E ambos têm de saciar imensos e sôfregos apetites.

Manuel Alegre repetiu o que se sabe - e que só o não sabe quem o não quer saber. Afinal, pouco se
ambiciona do PS: apenas um bocadinho de socialismo.

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