Através de um estudo de uma realidade concreta, relativa à
implementação de um sistema SAP R/3 numa empresa portuguesa, procurou-se verificar a adequação de alguns conceitos, nomeadamente confrontação de alguns dos factores de resistência abordados, bem como analisar qual a influência das estratégias adoptadas pela empresa sobre o nível de resistência. Este método é um instrumento considerado, por muitos investigadores, o método mais adequado para a realização de investigações na área dos SI, apesar das suas limitações em termos de generalização dos resultados, por exemplo conforme “Darke, Hartley”. Foram realizadas diversas entrevistas aos principais intervenientes no processo e a 65 utilizadores que forneceram os dados sobre os seus principais receios e opiniões sobre a implementação.
As motivações que levaram uma empresa industrial do norte de
Portugal com cerca de 1.500 funcionários e um volume de facturação da ordem dos 24 milhões de contos em 1999 e que estão na origem da tomada de decisão por este tipo de sistema, tiveram por base algumas limitações do sistema anterior, nomeadamente a falta de integração entre as diversas aplicações e a ausência de aplicações de apoio à tomada de decisão. Após a leitura do caso, verifiquei que foram utilizadas algumas estratégias que reduziam possíveis situações de resistências ao novo Sistema:
- As áreas de responsabilidade sobre a preparação do Projecto,
análise e estudo sobre a Organização, instalação e implementação, foram seccionadas e acompanhadas por responsáveis hierárquicos da Empresa responsável pela implementação do Sistema – Sponsor -e por responsáveis de cargos superiores da Organização que ia acolher o novo Sistema, por exemplo pelos Directores de Departamento, o que permitiu um acompanhamento e conhecimento pelos responsáveis superiores da Organização, bem como manterem-se a par das evoluções da implementação;
- Em alguns desses grupos, nomeadamente no de implementação e
programação, foram chamados a participar os utilizadores chave de cada área, técnicos informáticos da empresa, apoiados por elementos da empresa externa.
- Sendo que o trabalho de fundo coube às equipes de implementação,
onde os elementos da empresa participaram activamente fornecendo informação sobre processos e anteriores procedimentos, fomentando- lhes o interesse e motivação para adquirir conhecimentos sobre o uso das novas TI’s implementadas e até alguma manutenção futura, ajudando a combater possíveis resistências oriundas da falta de participação e acompanhamento;
- Foi efectuada formação aos utilizadores futuros do novo programa,
permitindo a aquisição de conhecimentos por parte destes, afastando assim a insegurança de alguns profissionais menos aptos e a possibilidade de negação ou inércia no uso por falta de entendimento, desconhecimento ou informação;
- A formação permitiu ainda, a muitos dos profissionais sentirem
confiança na manutenção dos seus postos de trabalho, não se sentindo excluídos ou ameaçados;
- Outro factor positivo foi a não exagerada valorização e julgamento
dos aspectos comportamentais dos utilizadores;
Em relação aos fracos factores de resistência encontrados,
apenas 9 dos inquiridos mostrou preocupação pelo risco do posto de trabalho e quanto ao nível de emprego houve maior percentagem, cerca de 80%, no seio dos menos possuidores de conhecimentos de informática, que referiram que o SAP pode diminuir os postos de trabalho. Também as pessoas com menos habilitações são mais adeptas do efeito negativo das novas Tecnologias sobre o nível de emprego. No que concerne ao receio de perda de estatuto e poder não se verificou. A participação activa na implementação do Sistema e a formação, ainda ajudou a melhorar a auto-confiança de alguns, incutindo-lhes maior sentido de poder e estatuto. Este sentimento, foi tanto maior quanto mais eram as habilitações e conhecimentos dos funcionários. As opiniões dobre as informações prestadas foram as mais desfavoráveis por parte mais uma vez das pessoas com menor nível de conhecimentos. A ansiedade e o nervosismo provocado pela instalação do novo sistema, também foram sentidos em maior percentagem pelos escalões com menor habilitações e mais idade.
A MINHA CONCLUSÃO:
As Organizações não se constituem como marcos estáticos sem
animação. Pelo contrário, devem reger-se por processos de desenvolvimento e evolução, capazes de acompanhar as constantes transformações sociais, económicas, culturais e políticas. Os profissionais são o motor das Organizações, e como tal merecem o maior respeito. Qualquer transformação deve ser devidamente planeada e acompanhada. Neste sentido, todo o mais pequeno pormenor conta para uma maior aceitação das transformações. No presente caso de estudo tudo isto foi tido em conta em grande parte. Mas com a meu ver, com algumas falhas. Para mim a resistência por vezes deriva da exclusão e da falha na informação, por vezes esta é prestada, mas de uma forma pouco adequada. Como profissional de uma Organização deixo algumas sugestões, algumas delas vão de encontro às utilizadas no caso em estudo: - Depois da decisão superior de adoptar qualquer alteração funcional significativa como é o caso da implementação de um novo sistema Tecnológico, deverá ser convocada uma reunião geral; - Nesta reunião devem ser comunicadas as decisões tomadas e as razões por que foram tomadas. Os funcionários devem inteirar-se das falhas do sistema vigente e do esforço dispendido na realização de tarefas que poderão tornar-se mais fáceis e rápidas com o novo Sistema; - Todos deverão participar activamente na implementação do novo sistema, ainda que tenham menos habilitações e formação e tenham mais idade. Poderão ser-lhe atribuídas algumas tarefas dentro dos seus conteúdos funcionais, que venham a contribuir para o estudo da Organização e migração de dados para o novo sistema; - Frequentemente, devem ser informados da fase em que encontra a implementação, de forma a sentirem-se integrados e informados como participantes; - Logo de inicio, informar e tranquilizar os profissionais em relação à manutenção dos seus postos de trabalho e se alguma alteração funcional houver para alguns, prestar-lhes formação, acompanhamento e apoio; - Proporcionar formação antecipada sobre o novo Sistema. Depois da sua entrada em funcionamento, deverá haver a permanência de Técnicos para apoio nas dúvidas que possam surgir. Enfim, todas estas e outras medidas que não referi, podem contribuir para o esclarecimento e integração dos profissionais de uma Organização em relação a alterações em curso. A informação reduz a resistência e a ignorância. Se as pessoas não se sentirem de alguma forma ameaçadas não adoptam atitudes de defesa. A defesa traduz- se na negação da aceitação das alterações, prejudicando não só os próprios funcionários mas também a Empresa. Por defesa de si próprios fecham-se e criam barreiras entre nós funcionários e eles dirigentes ou superiores, negando-se a colaborar tanto no uso das tecnologias e na sua aprendizagem, como na colaboração para melhorar a Organização para a qual contribuem, retardando o efeito das inovações adoptadas e o alcance de melhores objectivos.
Hoje em dia as organizações têm investido bastante em sistemas que
lhes sirvam de apoio utilizando-os como ferramentas de trabalho que contenham toda a informação da Organização de modo a ser utilizada mais eficaz e rapidamente. Apesar desses investimentos, muitas vezes, os resultados não são os esperados principalmente no que respeita ao grau de satisfação dos utilizadores
As principais razões desse insucesso residem no aspecto humano,
muitas vezes esquecidos no processo de implementação. De facto, a implementação dos sistemas ERP, necessita de organizar e motivar os agentes organizacionais, de os preparar como componentes dessa mudança, para que possam participar, de um modo activo, na prossecução dos objectivos pretendidos pela organização.
RESISTÊNCIA AOS SISTEMAS ENTERPRISE
RESOURSE PLANNING E ESTRATÉGIAS DE SUPERAÇÃO
Resistência à mudança
Conforme afirmação de Ganhão, a resistência à mudança é a
"reacção que exercem os indivíduos ou os grupos nas organizações perante a modificação de alguns parâmetros do sistema organizativo”. A resistência à mudança proveniente da introdução de uma nova tecnologia com características distintivas face a outro tipo de tecnologia anteriormente utilizada. Estas características podem ser de carácter de: • Horizontalidade - alteram não só um sector específico mas toda a organização; • Multidimensionalidade - porque os impactos da sua introdução são múltiplos. Modificam o anterior ‘saber-fazer’ e os conhecimentos técnicos a ele associados, podem alterar o conteúdo do próprio trabalho, as qualificações, as funções, o regime de trabalho, os métodos de gestão e organização.
A resistência à mudança não representa apenas uma questão
psicológica, ou seja, o medo do desconhecido, gosto pela rotina, inércia do ser humano, mas também tem a ver com aspectos sociológicos, organizacionais e individuais, nomeadamente, a reorganização das competências, a falta de informação e conhecimentos, a segurança do emprego, as relações de poder e as oportunidades de carreira. Formas de resistência à mudança
A resistência à mudança manifesta-se de diversas formas,
provocando efeitos negativos na Organização: - Resistência Espontânea e Resistência Organizada - A resistência espontânea caracteriza-se por reclamações constantes, absentismo, alterações da natureza das relações com a hierarquia, baixa da produtividade, deterioração das relações com a clientela, aumento da retenção de informação. A resistência organizada manifesta-se através de uma estratégia de oposição, individual ou colectiva, voluntária e geralmente estruturada, assim como através de pedidos de reuniões, conflitos de trabalho, manifestações colectivas ou greves de zelo.
• Resistência Racional e Irracional - A resistência racional
baseia-se em receios fundados a irracional se baseia em emoções.
• Resistência Passiva/Oculta e Activa - A resistência
passiva/oculta é menos visível, provocando efeitos negativos muitas vezes superiores aos da resistência activa. A resistência passiva caracteriza-se por: • Cumprir apenas as regras e funções impostas, assumindo uma postura de apatia em relação ao trabalho; • Não querer saber das alterações em curso; • Não procurar soluções para problemas novos que surgem; • Demonstrar falta de motivação para a formação.
• A resistência activa é mais visível e revela-se numa atitude
de sabotagem à implementação do sistema, destruição do hardware, tentativas de destruição dos ficheiros, difamação do sistema, queixas constantes e recusa em utilizar o novo sistema. Os Sistemas ERP
Estes sistemas permitem:
• Automatizar e integrar a maioria dos seus processos de negócio; • Produzir e aceder à informação num ambiente de tempo real; • Partilhar dados e práticas comuns através de toda a empresa.
A principal característica desse sistema é a integração da informação,
ficando a informação registada numa única base de dados, imediatamente disponível em todo o sistema, organizada de forma a poder ser utilizada em tempo real nos vários centros de decisão da organização, melhorando a qualidade global da informação disponível. Ao interligar as várias áreas da organização, o sistema confere a agilidade e a racionalidade que um mercado competitivo exige, constituindo uma arma poderosa para competir num mercado em permanente mudança. A implementação destes Sistemas permite à empresa rever os seus processos, analisando as melhores práticas aplicadas pelas organizações líderes em cada sector.
No entanto, a instalação e configuração de um sistema ERP, de
acordo com as necessidades de cada empresa, envolve perigos, custos escondidos e gera profundas alterações nas organizações, podendo provocar resistências à sua aceitação. Alguns dos perigos são: • O tempo de implementação pode exceder o previsto; • Formar os utilizadores para utilização do novo interface e procedimentos do software vai exigir elevados investimentos em formação; • A não transferência dos conhecimentos para as equipas internas da organização coloca em risco não só o funcionamento presente, mas sobretudo a capacidade futura em termos de adaptações; • Pode ser difícil interligar o sistema com outros produtos de software específicos usados na empresa; • Verifica-se uma quebra de produtividade nos primeiros meses após o arranque do sistema. Várias vantagens se oferecem com a utilização destes sistemas: • Obtenção de vantagens competitivas; • Melhoria da produtividade e desempenho organizacional; • Desenvolvimento de novos negócios; • Novas formas de gerir e organizar. O maior desafio prende-se com a resistência do factor humano.
Factores de resistência às tecnologias da
informação
• Receio de perda de emprego - associado à menor utilização de
recursos humanos, faz com que haja esse receio, com tendência à sua não utilização; • Ameaça ao estatuto e ao poder - Receio de perde de nível do estatuto, poder ou influência, distribuição das funções reconhecimento ou prestígio adquirido por uma determinada pessoa numa determinada organização, provocando perda de poderes para uns e oportunidades para outros. • Falta de informação - Ninguém está disposto a mudar de comportamento se não tiver uma visão clara dos objectivos que se pretendem alcançar, a informação é imprescindível para suavizar um processo de substituição de um tipo de conhecimento por outro. A falta de informação provoca ainda o aparecimento de frustrações. • Factores individuais - As pessoas menos habilitadas, ou com menores conhecimentos informáticos, as mulheres e os idosos, tendem a ser as classes com maiores aversões. Muitas pessoas também tendem à inércia ou comodismo opondo-se às inovações. • Factores organizacionais e modo de condução da implementação - Existem determinados factores que dificultam a implementação de sistemas ERP, nomeadamente o centralismo das decisões, sistemas burocráticos, e imposição das soluções propostas. A resistência, devida à falta de participação, é ainda mais latente nas situações em que os utilizadores não reconhecem capacidade técnica aos próprios mentores da mudança por desconhecerem a complexidade das tarefas envolvidas no processo de mudança.
Estratégias de superação
É muito difícil apontar estratégias perfeitas, quer pelas diferentes
características de cada Organização quer pela mudança constante dos parâmetros envolventes do negócio, e a velocidade com que ocorrem.
Gestão do processo de mudança
Para gerir correctamente um processo de mudança é necessário ter
consciência que este tipo de processo envolve várias fases:
1. Descongelamento do nível presente (unfreezing) - procura criar um
ambiente favorável à mudança, nomeadamente proporcionando um maior nível de comunicação e informação sobre as vantagens da mudança. 2. Movimento para o novo nível mudança - (change) - Torna-se necessário, nesta fase, um grande esforço ao nível do apoio e formação dos utilizadores. 3. Recongelamento (assegurar) do novo nível - (refreezing) - depois de se ter operado a mudança é necessário procurar consolidá-la de modo a evitar o recurso às práticas anteriores.
Algumas atitudes, correctamente aplicadas podem minimizar a
resistência à mudança, nomeadamente:
1. Identificar quais os principais factores que contribuem para a
resistência à mudança;
2. Ter consciência de que quanto maior for o grau de mudança,
maior será a probabilidade da verificação de resistência;
3. Elaboração de um plano da mudança cuidadoso e flexível, de
modo a preparar as diferentes actividades do projecto de implementação, sem cair em exageros em termos de descrição dessas actividades;
4. Preparação da mudança, que visa a criação de um ambiente
favorável à inovação Comunicando os motivos que justificam a mudança e do papel dos colaboradores nesse processo, assim como os meios de apoio disponibilizados pela organização;
5. Constituição de equipas multidisciplinares, que combinem peritos
das TI com outros funcionários da organização; 6. Formação e apoio acrescido aos colaboradores na fase de implementação;
7. Seguir e controlar a mudança de modo a avaliar os resultados e
realizar as necessárias adaptações.
Existem vários factores que condicionam o uso e adopção de TI's,
como por exemplo a facilidade e a utilidade do seu uso. No "Technology Acceptance Model (TAM) de Davis", afirma que são o grau em que uma pessoa acredita que o uso de um sistema pode aumentar o desempenho do seu trabalho, Se o utilizador achar a tecnologia difícil de utilizar, acha também que o esforço não compensa o seu uso. Se o utilizador entender que o uso da tecnologia não implica um grande esforço, estará mais pré-disposto a utilizá-la e a aceitá-la mais facilmente. Neste processo entram em linha de conta diversos factores que formam o "Modelo de Aceitação Tecnológico de Venkatesh: • Variáveis Externas; • Utilidade Percebida; • Facilidade de Uso; • Intenção de Uso; • Uso Actual.
Também o sucesso da implementação destes Sistemas nas
organizações depende da forma como os colaboradores são chamados a participar na mudança. Se o utilizador se sentir envolvido resiste menos e colabora mais activamente quer seja mostrando a sua experiência nas tarefas que serão alvo de mudança quer seja na aprendizagem tentando descobrir os benefícios e facilidades que lhe pode trazer a mudança. Da sua satisfação resulta um maior uso das Novas Tecnologias e por isso uma menor rejeição. Esta pode também resultar de factores como o sexo, a idade, a formação e estrato social.
A formação é um factor importante que deve anteceder a aplicação
de novas TI's, assegurando que os utilizadores se sintam mais à vontade e preparados para o seu uso, se estes têm já algum treino e conhecimentos, sentem-se mais seguros quanto à sua utilização e esta acção induz confiança no sentido de que o profissional continuará a ocupar o posto de trabalho evitando o receio de perder o emprego. O treino dos utilizadores conduz à habilidade e esta por sua vez a uma maior aceitação. A própria organização deve incentivar os seus profissionais à aquisição de formação.