O atual governo, em íntima co- rida, de preferência infeccioná- O agronegócio, em particu-
laboração com os ditos movi- la, para que o projeto socialista/ lar, vira vilão no documento. mentos sociais e as alas mais comunista possa tornar-se mais Não faltam críticas às monocul- à esquerda do PT, está produ- palatável. Afinal, os militares se- turas de eucaliptos, cana-de-açú- zindo uma completa deforma- riam, nessa perspectiva, os “re- car e soja, que, nessa exótica ção dos direitos humanos. De pressores”, enquanto os que pe- perspectiva, seriam culturas perspectiva universal, eles es- garam em armas por uma socie- atentatórias aos direitos huma- mento nuclear (artigo VI). tão se tornando, nas mãos dos dade comunista seriam as “víti- nos. A falta de qualquer cultura que teimam em instaurar no mas”, os “democratas”. nos assentamentos seria, essa, Brasil uma sociedade socialis- Maior falsificação da Histó- sim, expressão de uma nova for- ta/comunista, um instrumen- ria é impossível. Os que luta- ma de agricultura. Os despropó- to particular de conquista do ram contra o regime militar, sitos, porém, não param por aí. poder. Acontece que essa con- em armas, fizeram-no, por livre Os setores de habitação e de quista do poder é agora mais escolha, em nome da instalação construção civil são, também, uma opção muito realista. insidiosa, passando por uma do comunismo no Brasil. A novos alvos. Há propostas sobre ampla campanha de forma- guerrilha do Araguaia era novas abordagens do Estatuto ção da opinião pública. maoista, totalitária. Não o fize- das Cidades, que deveriam cor- De fato, se perguntarmos ram pela democracia. São, nes- responder a essa nova doutrina. a qualquer um se é favorável se aspecto, responsáveis por E até uma expressão algo enig- ou não aos “direitos huma- suas escolhas e não deveriam mática de identificação de “ter- nos”, a resposta será certa- ter sido agraciados com a “bol- ras produtivas” nas cidades, se- mente “sim”. Se fizermos a sa-ditadura”. Se optaram pelo ja lá o que se queira dizer com is- mesma pergunta por uma so- comunismo, deveriam ser res- so. Em todo caso, o esquema é o ciedade socialista/comunista, ponsáveis por sua opção e não mesmo. A invasão de um prédio a resposta será majoritaria- deveriam colocar-se como víti- em construção não seria suscetí- mente “não”. Eis por que a mas. Lamarca, Marighella e o vel de sentença judicial de rein- forma de influenciar a opi- próprio secretário Vannuchi tegração de posse sem antes nião pública pressupõe essa pretendiam instalar o totalita- passar por uma “mediação” dos armadilha das palavras, que rismo no Brasil. O primeiro, ditos movimentos sociais. Os corresponde a um plano ideo- aliás, era um assassino confes- mesmos que invadem são os lógico predefinido. so, tendo matado covardemen- que fariam a tal mediação. Eis uma das razões de por te um refém, um tenente da Polí- Não pensem os industriais que o dito programa insistiu cia Militar de São Paulo, a coro- que essas medidas não os afe- em abrir uma crise com os mi- nhadas. Eis os heróis dos “direi- litares, com o intuito claro de tos humanos”. indispor a sociedade brasilei- Todo o documento está escri- Um instrumento de ra com a instituição militar. O to na linguagem própria dos di- uso de expressões como “re- tos movimentos sociais, que são conquista do poder pressão política”, agora altera- organizações políticas com o para instaurar o da para “violação dos direitos mesmo propósito socialista/co- comunismo no País humanos”, tem precisamente munista. Em seus documentos o propósito de reabrir uma fe- não escondem isso, embora, pa- ra efeitos públicos, utilizem a tam. Também há no cardápio linguagem mais palatável dos medidas dirigidas a esse setor. “direitos humanos”. O “neolibe- A expansão de uma usina de eta- nol, de uma siderurgia, de uma PARTICULARES ralismo” e o “direito de proprie- dade” se tornam os vilões dessa empresa de mineração deveria LEO MARTINS nova versão deturpada dos di- passar pela aprovação de um co- reitos humanos. mitê de fábrica, por razões ditas Reintegrações de posse não ambientais. Não bastariam as li- seriam mais cumpridas sem cenças ambientais, já suficiente- que antes uma comissão de “di- mente rigorosas, mas, se esse reitos humanos” fizesse a me- plano for levado adiante, seria, diação entre as partes. Ou seja, então, necessário passar por es- uma decisão judicial perderia ses novos “sovietes”, porque é simplesmente o valor. Na verda- disso, na verdade, que se trata. de, esses comitês seriam erigi- Para que as medidas sejam dos em instância judiciária fi- totais é imprescindível que a opi- nal, que decidiria pelo cumpri- nião pública seja controlada. Se mento ou não de uma decisão ju- elas forem mostradas em seu au- dicial. O MST julgaria a ação do toritarismo, certamente não MST. No Pará, onde esse mode- passarão. Eis por que as empre- lo já foi aplicado, por recomen- sas de comunicação deveriam dação da Ouvidoria Agrária Na- estar subordinadas a um “conse- cional, o caos é total. Até inter- lho de direitos humanos”, de fa- venção federal, encaminhada to, à autoridade dos novos “co- pela Confederação da Agricultu- missários da mídia”, cujo poder ra e Pecuária do Brasil (CNA), poderia chegar a revogar uma foi pedida ao Supremo. A Justi- concessão. Por exemplo, a filma- ça lá não era mais respeitada. gem divulgada pela Rede Globo Qual é, então, o objetivo des- de destruição dos laranjais da sa diretriz de impedir o cumpri- Cutrale seria, nessa nova ótica, mento de decisões judiciais? Le- atentatória aos “direitos huma- gitimar, se não legalizar, as inva- nos”, por “criminalizar os movi- sões dos ditos movimentos so- mentos sociais”. Os novos comis- ciais, que teriam completa liber- sários, que têm a ousadia de se dade de ação. Sequestros, des- apresentar como representan- truição de maquinário, corte de tes dos direitos humanos, sola- tendões do gado, incêndio de pariam as próprias bases da de- galpões, destruição de alojamen- mocracia. Eis o que está em tos de empregados e sedes de questão. O resto é palavreado! ● empresas não seriam mais cri- mes, mas expressões de ações Denis Lerrer Rosenfield é profes- presidente do Haiti baseadas nessa muito peculiar sor de Filosofia na UFRGS. E-mail: doutrina dos direitos humanos. denisrosenfield@terra.com.br