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ANO II Nº 12

NOV 07
EDITORIAL vos imóveis: O foto do século A estação da União Valenciana, ao fundo
XIX - data e autor não identificados
palacete do
Visconde do Rio
Preto, no jardim de
cima, a Câmara

N ascida aldeia dos coroados em fins do século XVIII,


tornada paróquia no início do século XIX e vila em
1826, Valença se desenvolveu com extrema rapidez. Com
Municipal no
jardim de baixo, a
Santa Casa de
a expansão do café a partir da primeira metade do século Misericórdia a capela do Cemitério do Riachuelo, etc. Um
XIX e sua transformação em principal produto econômico patrimônio considerável em quantidade e qualidade,
do império O solar dos Calmon e a 1ª Câmara /Vista da cidade de Valença, embora uma parte esteja ameaçada ou em más condições.
data e autor não identificados
a Vila de Já a partir
Va l e n ç a dos anos 50
teve um a v i l a
rápido e começa a
contínuo se moder-
desenvolvi n i z a r ,
mento, f o r a m
tornando- realizadas
se uma das o b r a s
m a i s Santa Casa de Misericórdia 1922 foto Daniel Ribeiro importan-
importante tes, como calçamento, canalização de água etc. Em 1868 é
s províncias do país. Esta importância foi ratificada com inaugurado o Teatro da Glória, a vida cultural e artística da
sua elevação a cidade por lei provincial em 29 de setembro cidade ganha um local apropriado para se manifestar, logo
de 1857, em conjunto com as vilas de Vassouras e depois (1871), é inaugurada a Ferrovia União Valenciana,
Petrópolis. a primeira em bitola estreita no Brasil, sem dúvida o maior
O centro urbano de Valença passou por inúmeras acontecimento de Valença na segunda metade do século
melhorias com novos arruamentos em 1836, 1848 e nos XIX.
anos 50. Alguns prédios anteriores a esses arruamentos Porém nesta mesma época o café começa a perder
ainda enfeitam nossa cidade e nos ajudam a ter um vislum- fôlego. O processo equivocado de plantio que causava a
bre daquela época, como exemplo podemos citar o solar rápida exaustão do solo, a diminuição de áreas para novas
dos Calmon e a primeira câmara de Valença na rua Padre plantações, o aumento do preço dos escravos, as fugas
Luna, em frente a Praça da Bandeira. A partir dos anos 50 mais freqüentes e o grito cada vez mais forte para o fim da
temos uma quantidade muito grande de belos e significati- e s c r a v a- 1ª Igreja Presbiteriana em Valença
tura são demolida em 2002 - foto de 1910
autor desconhecido
fatores
O Teatro Glória q u e
no século XIX contribu-
com sua
conformação de em para
chalé. e s s a
Foto de cartão
postal autor e decadên-
data não cia que
identificados
coleção Waldir culmina
da Fontoura com a
Cordovil
Pires abolição
em 1888, verdadeiro golpe de misericórdia na já combali- rência danosa a indústria brasileira. Novamente Valença é
da situação do vale. jogada ao chão.
“Restam a morraria áspera onde imperam a saúva, o sapé Junto com a queda das atividades produtivas a cidade
e a samambaia”, como registra Monteiro Lobato em tem tido uma seqüência de governos paternalistas, incom-
Foto Luiz Francisco “Cidades Mortas”, diz ainda: petentes e totalmente descolados das necessidades da
“Ali tudo foi nada é. Não se população, que vêm governando em benefício de peque-
conjugam verbos no presente. nos grupos a eles ligados e com isso só têm feito a crise
Tudo é pretérito”. aumentar e a cidade empobrecer cada vez mais. Hoje
Mas Valença reage. Em pouco somos o segundo maior município em território e um dos
tempo passa a ter uma pecuária primeiros em pobreza.
forte, tornando-se uma das Valença 150 anos: o que comemorar?
principais produtoras de leite da
província e logo no início do
século XX começa a se industria-
lizar. A primeira dessas indústrias
foi a Companhia Industrial de
Capela do Cemitério Riachuelo Valença em 1906, mais tarde
Ferreira Guimarães, em 1913 a Fábrica de Rendas e Tiras
Bordadas, em 1915 a Santa Rosa, em 1926 a Progresso e
mais tarde a Chueke.
Praticamente junto a essa nascente industrialização veio
a Central do Brasil, que encampou diversas pequenas Companhia Industrial de Valença 1910 foto de autor não identificado
ferrovias e criou a Rede de Viação Fluminense instalando
aqui suas oficinas que auxiliaram, também, a recuperação
econômica e a expansão urbana.
Valença ressurgia das cinzas como a Fênix Mitológica.
Novamente a cidade vivenciava o progresso, novos
m finais de 1990 o historiador Egon Wolff sugeriu a
prédios, escolas, vilas operárias, hotéis, etc.. A cidade
Luiz Benyosef que fosse conhecer um terreno vazio
volta a se destacar no vale por sua crescente vitalidade
situado nos fundos de um asilo na cidade de Vassouras
econômica.
onde estavam sepultados dois judeus que haviam falecido
Na segunda metade do século XX Valença é conhecida
naquela cidade em meados do século XIX.
como cidade modelo, “a Atenas do Estado do Rio de
A escolha deste local aconteceu devido a divergências
Janeiro”. É fundada a Faculdade de Filosofia e Letras em
religiosas da época que não permitia que pessoas de outras
1967, já existia a Academia Valenciana de Letras, fundada
religiões fossem enterradas no único cemitério da cidade,
em 1949 e que reunia a nata da intelectualidade da cidade
pertencente a uma ordem religiosa. Entretanto, através de
promovendo grandes eventos artísticos-culturais como a
um gesto de solidariedade, a Irmandade da Santa Casa de
festa da primavera, concursos de poesia etc..
Misericórdia abriu suas portas e permitiu que fossem
Em 1971, cem anos exatos da fundação da União
sepultados em pequeno jardim que havia nos fundos do
Valenciana as ferrovias são desativadas, resultado de um
seu hospital. Benyosef ao visitar o local, constatou o
processo que se iniciara em fins dos anos cinqüenta com a
opção do país pelo transporte rodoviário. É o prenúncio de
nuvens negras adiante.
Na década de 80 as indústrias têxteis sucumbem por
diversos motivos, entre eles a má administração e a
política errada do governo federal que causa uma concor-
Vista dos fundos do
hotel Valenciano.
Atrás à esquerda o
prédio da estação, ao
fundo ao centro, com
palmeiras, o prédio do
futuro Colégio
Valenciano S. José, e
no lado direito as
foto do início dos anos 20 autor não identificado oficinas e o10º
depósito da Central.

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Santa Casa de Misericordia de Vassouras 1922 através do seu prefeito, Severino Dias e de suas secretári-
foto Daniel Ribeiro
as, deram todo o apoio necessário. O saudoso Prof.
Severino Sombra de Albuquerque, então presidente da
Fundação Universitária Severino Sombra e um dos mais
entusiastas pelo projeto, cedeu toda a mão de obra neces-
sária. O Cemitério Comunal Israelita do Cajú, do Rio de
Janeiro, custeou todas as despesas de material. Seria mais
um monumento em uma cidade privilegiada pela história.
Vassouras tem um passado de glórias, por ser uma das
cidades pertencentes ao glorioso ciclo brasileiro do café,
do século XIX. Uma parte da cidade já era tombada pelo
Patrimônio Histórico Nacional, inclusive os terrenos onde
se situava a antiga Santa Casa, hoje Asilo Barão do
Amparo.
O Memorial Judaico de Vassouras é constituído de
abandono do terreno e a precariedade da única pedra plantas ornamentais como pinheiros e plantas nativas
tumular (matzeiva) existente, que pertencia a Morluf regionais. Devido a este fato requer muito cuidado e
Levy, de ascendência marroquina e que havia falecido na- atenção diária Para tornar este trabalho possível um novo
quela cidade em 1879. O outro, Benjamim Benatar, grupo de pessoas, incluindo Frieda Wolff e Luiz Benyosef,
também de origem marroquina, falecera em 1852 e sua fundaram a Sociedade Amigos do Memorial Judaico de
pedra tumular desaparecera há muito tempo. Vassouras que cuida da manutenção e preservação do
Para preservar a história, Egon e Luiz idealizaram então, Memorial.
aquele que seria o primeiro plano para recuperar o antigo O Memorial Judaico de Vassouras é um monumento de
jardim. Infelizmente na época Egon Wolff estava bastante dimensões muito pequenas mas gigante em seu significa-
doente e vindo a falecer poucas semanas depois. Em do. Em um pequeno pedaço de terra, dentro de uma
meados de 1991, sua esposa Frieda junto com Luiz decidi- instituição cristã, repousam dois judeus, imigrantes de um
ram retormar o projeto não concluído. Para finaliza-lo país distante, mas que aqui encontraram repouso, eviden-
convidaram o diretor do Cemitério Comunal Israelita do ciando o grande espírito de solidariedade e senso de
Rio de Janeiro, Alberto Salama e o Dr. José Kogut, para igualdade do bom povo brasileiro. Ele é um símbolo que
fazerem parte deste grupo de trabalho. reverencia a todos os imigrantes que aqui chegaram e que
Uma série de reuniões, viagens à Vassouras e contatos a despeito de suas origens, religião e tradição, tornaram-se
com as autoridades locais tiveram início. O paisagista irmãos integrando-se a comunidade nativa e no fim, tal
Roberto Burle Marx, amigo de Luiz, participado informal- qual as suas histórias, misturaram seus próprios corpos
mente, ficou sensibilizado com a idéia e solidário com o com o solo do país que os acolheu e que lhes deu a última
propósito de criar mecanismos que pudessem auxiliar no morada.
Extraido do site www.memorialjudaico.org.br
trabalho de preservação dos idosos carentes moradores do pesquisa e fotos Luiz Francisco
asilo, além de resgatar um elo da história que estava se
perdendo, ofereceu-se para fazer o projeto.
Durante alguns meses Burle Marx assessorado pela
arquiteta Claudia Rosier finalizou o projeto. Seria um
Memorial composto por canteiros, ornamentados com
flores do cerrado brasileiro, com formato de casulos. No
casulo central as duas pedras tumulares. Segundo Burle
Marx a idéia do casulo, casa de abelhas, seria para simboli-
zar nossa condição humana que sempre, como as abelhas,
tendemos retornar para nossos casulos - nossas casas -. O
Memorial representa a "casa de todos nós". Independente
de credos todos se uniram no esforço. O Prof. Azuil
Lasneaux, diretor da Irmandade da Santa Casa imediata-
mente cedeu o terreno para a obra. A Prefeitura Municipal

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fornecia o material em abundância, e apenas a cal vinha de Cabo
Frio. O nome da Mandioca proveio da planta que ali abundava.
Alcindo Sodré
Era limitada ao noroeste por uma cadeia de montanhas cortadas
por muitos desfiladeiros e coberta de florestas. No meio das
N o primeiro quartel do século XIX existiu na Raiz da Serra
de Petrópolis uma propriedade rural denominada Fazenda
da Mandioca. Seu organizador e primeiro proprietário foi um
florestas estavam os roçados nos quais depois de queimadas as
árvores, eram plantados milho, feijão, café e batatas. Em 1819
estrangeiro ilustre que realizou estudos científicos cortando em tinha já plantados, vinte mil pés de café e a mandioca dera mil
caravana os sertões do Brasil. sacas de farinha no valor cada uma de oito a dez schillings. Em
Nessa propriedade rural ele procurou desenvolver várias 1822 tentou fazer um núcleo colonial trazendo gente da Europa.
culturas, experimentou a colonização alienígena no trato da Colocou ali quarenta alemães e suíços e como administrador em
terra, e nela hospedou várias personalidades nacionais e sua ausência o oficial bavaro J. Friedrich Von Weeck.
forasteiras, sobretudo os grandes viajantes e escritores que em Saint-Hilaire escreveu "ser impossível, com efeito, encon-
demanda de Minas Gerais, através o Córrego Secco, ali pernoi- trar uma localidade onde o naturalista pudesse fazer mais belas
tavam. colheitas". Pedro I gostava de caçar na Mandioca e a maior parte
Esse estrangeiro, proprietário da Fazenda da Mandioca, era dos sábios que vieram visitar esta parte da América, por ocasião
o barão Jorge Henrique de Langsdorff, médico pela do primeiro casamento de Pedro I, passou alguns dias na
Universidade de Goetingue, na Alemanha, e acatado entomolo- Mandioca e ali recolheu muitos objetos interessantes.
gista. Consta ter nascido no Grão Ducado de Baden. Como Não houve um só dos inúmeros e celebres escritores da
médico do princípe Waldeck, seguiu-o a Portugal, quando este viagem Rio-Minas que deixasse de fazer referências à Fazenda
foi comandar o exército português ali introduzindo a prática da da Mandioca, passagem forçada para o Córrego-Secco. A 14 de
vacinação. outubro de 1829 quando foi resolvida a mudança da Fábrica de
Voltando à Alemanha ofereceu seus serviços à Rússia e logo Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas para a Raiz da Serra de
a seguir tomou parte na expedição do capitão Krusenstiern ao Petrópolis, a fábrica veio ser localizada em terrenos que até
Kamtchatka. Sob os auspícios do Imperador Alexandre I e então compreendiam as Fazendas da Mandioca, Velasco e
nomeado cônsul geral da Rússia no Rio de Janeiro, foi incumbi- Cordoaria.
do de importante exploração científica pelo interior do Brasil. E quem olhe hoje para o ponto onde se encontra a Fábrica de
Trouxe então consigo para o Brasil o grande pintor Rugendas, o Pólvora, longe estará de imaginar a situação da antiga Fazenda
botânico Luiz Riedel, o astrônomo Ruszoff e o naturalista da Mandioca que tão de perto esteve ligada às comunicações e à
Ménetries. Enviou preciosas coleções naturais para o museu de vida do antigo Córrego Sêco, hoje cidade de Petrópolis.
São Petersburgo sendo agraciado Conselheiro de Estado e
membro da Academia de Ciências da Capital russa, além de
Aquarela de hercules florence
outras associações. Possuiu também entre nós uma residência
na Corte situada em Santa Thereza onde dava grandes recepções
à alta sociedade, ouvindo-se ali Neukon, organista da imperatriz
Leopoldina. Remeteu certa vez para a Europra, mil e seiscentas
variedades de borboletas e escreveu um "Guia para as pessoas
que quiserem se estabelecer no Brasil". Como chefe da expedi-
ção de naturalistas e astrônomos incumbidos pelo imperador da
Rússia nos anos de 1825 a 1829 de S. Paulo atravessou Mato
Grosso saiu no Amazonas e Pará. Dessa expedição fizeram
parte, como desenhistas, Amadeu Adrian Taunay, que apareceu
afogado no sertão de Mato Grosso e Hércules Florence, que
escreveu em francês a narrativa da viagem e a quem se devem as
notícias a respeito, pois nessa mesma expedição Langsdorff
manifestou sintomas de loucura, seguindo diretamente para a
Europa ao chegar a Belém, onde terminou sua operosa existên-
cia.
Langsdorff pagara quase mil libras pela Mandioca, fazenda
de dez milhas quadradas, pouco antes de 15 de julho de 1817.
Spix e Martius descrevem a Mandioca como possuindo um
rancho espaçoso para caravanas de Minas, uma venda, um
moinho para moer milho, e uma casa de dormir no estilo usual
do país, construídos à margem da estrada. Estas pequenas casas
de campo continham alguns quartos espaçosos com janelas
laterais e uma varanda com pilares sustendo a coberta. Como os
tijolos seriam caros, fizeram-se as paredes de barro. A natureza

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