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O Verdadeiro Paradigma do Capitalismo não é o Americano, Mas o Hindu

Roberto de Aquino Neves

Com o advento da queda do muro de Berlim, a grande totalidade dos


comunistas de carteirinha no Brasil, abandonaram as denominações e siglas comunistas, e
se declararam democratas desde criancinha, como se o comunismo fosse sinônimo de
ausência de democracia e a democracia fosse parte inerente ao capitalismo.

Esqueceram que nem toda ditadura é antidemocrática, pois a


democracia nada mais é que a ditadura da maioria, e não há como se possa negar que
em todo e qualquer sistema político a maioria da população de qualquer país é composta
pelos trabalhadores e não pelos burgueses.

Portanto, tanto na ditadura Capitalista Alemã de Hitler, quanto nas ditaduras


capitalistas que assolaram a América do Sul por mais de 20 anos, o que grasnava em
comum entre elas, era a ausência de democracia, mas curiosamente, só os regimes
comunistas herdaram a pecha de antidemocráticos, enquanto o regime capitalista,
ironicamente, virou sinônimo de democracia.

O mais interessante, é que a característica mais marcante em todo e qualquer


regime capitalista é precisamente a dominação da maioria por uma seleta minoria de
privilegiados e isso é a própria contradição em termos, do que representa o conceito de
democracia.. Essa dominação ocorre em razão do maior poderio econômico e financeiro
destes, que obviamente têm a polícia e as leis que lhe asseguram a estabilidade do sistema,
de forma bem mais eficiente que nas ditaduras de esquerda. É que contam e sempre
contaram com eficiente sistema de marketing, para fazer crer aos incautos que o luxo, a
ostentação e o glamour são acessíveis a todos que se esforçarem e que as derrotas
pessoais são meras conseqüências de erros e fracassos individuais. Como se todos
começassem a corrida em posições equivalentes na pista.... Já se disse, com propriedade,
que “só os déspotas ineptos servem-se das baionetas...”.

Inicialmente, gostaria de esclarecer que não sou comunista, e muito menos


capitalista, e acho que o sistema ideal deveria ser construído paulatinamente e sem rótulos.
Deveria porém, iniciar-se obrigatoriamente a partir da democratização na concessão de
todos os instrumentos de comunicação, para que, através da igualdade na aquisição e
manutenção da propriedade dos meios de comunicações, os diversos atores das correlações
de forças sociais, passassem a deter iguais condições na seara da comunicação e
mobilização das massas.

Todos sabem que a verdadeira reforma passa pela Educação, mas as classes
menos favorecidas, por não possuírem seus próprios meios de comunicação de massa,
atualmente ficam refém dos humores e interesses dos grandes grupos de comunicação
empresarial, que transformam a luta por essa necessidade básica de toda população em
meras bandeiras de interesses demagógicos e circunstanciais, ainda assim, quando não haja
choques com seus próprios interesses empresariais ou políticos.

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Cabe lembrar que, atualmente não existe nenhum país puramente
capitalista, comunista ou socialista, vez que não existe nenhum regime capitalista que não
tenha sido temperado com medidas socializantes a exemplo de reforma agrária;
participação dos empregados nos lucros das empresas; financiamento do mercado de
capitais e empresas com dinheiro público (para salvar a quebra generalizada do modelo
econômico burguês, a exemplo do que ocorreu na recente crise econômica mundial); ou até
mesmo a universalização dos sistemas de saúde ou previdência social, que a vingar pelas
regras capitalistas, remeteriam ao limbo ou a cova, todos aqueles que não pudessem
financiar totalmente estes serviços ou sustentar com recursos próprios as próprias
atividades empresariais.

Por tais motivos, não é correto afirmar que a China não é mais um país
comunista, pelo simples fato de que, a exemplo dos países capitalistas (como descrito
acima), optara por soluções menos ortodoxas ou simplesmente inspiradas no modelo
socioeconômico que lhe é concorrente.

Concluindo, e justificando o título do presente ensaio, cabe-me explicar as


razões pela qual o paradigma do Sistema Capitalista a ser contraposto à ideologia que lhe é
oposta (Comunismo) não é o sistema em vigor nos Estados Unidos da América, mas é
precisamente o Sistema Socioeconômico em vigor na Índia.

Inicialmente, mister se faz lembrar que para que se possa realizar uma justa
comparação entre duas coisas, necessário se faz escolher paradigmas que guardem as
mesmas condições e obstáculos ao êxito ou fracasso, se comparados aos genuínos
representantes da espécie de coisa que se quer comparar.

Pois bem, a China possui uma população total de 1.350.000.000 (UM bilhão e
trezentos e cinqüenta milhões) de habitantes,
ao passo que os Estados Unidos da América
possuem uma esquálida população de 303.007.997 (Trezentos e três milhões, sete mil e
novecentos e noventa e sete) habitantes; em nada comparável, portanto, à gigantesca
população chinesa, que é portanto, mais que o quádruplo da população Estaduinense.

Se quiseres, portanto - para comparação entre os dois sistemas - tomar


como paradigma de capitalismo, aquele em vigor nos Estados Unidos da América,
antes, por uma questão de justiça e coerência, mister se faz dotá-lo com uma população
ao menos equivalente à chinesa, para que se possa realizar uma justa comparação entre
a eficiência de cada um dos dois sistemas.

Portanto, o paradigma que melhor se aplica para se comparar os dois


sistemas econômicos seria o capitalismo vigente na Índia, que possui uma população
mais próxima à Chinesa pois a Índia possui um população de 1,132,446,000 (Um
bilhão, cento e trinta e dois milhões e quatrocentos e quarenta e seis mil ) habitantes.

Fazendo-se, portanto as comparações, utilizando-se os paradigmas que


melhor respeitam as regas da semelhança - pois tiveram como base a equivalência nas
populações- chega-se facilmente a conclusão de que frente a uma população semelhante à

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China Comunista, o Capitalismo burguês somente é viável na Índia (e mal), se utilizados
instrumentos de opressão a exemplo do sistema de castas. Embora sejam diversos, esses
instrumentos são tão odiosos como aqueles aplicados na China.

Até hoje vigente no capitalismo hindu esse sistema odioso de castas é a


pedra angular que, se retirada da parede que sustenta o sistema capitalista na Índia, fará
desmoronar como um castelo de cartas, não só o sistema capitalista entendido como um
sistema socioeconômico viável, mas também todas as baboseiras cínicas/verborrágicas que
hoje se apresentam como substrato doutrinário “científico”, que pretensamente justificam
esse ineficiente, cruel e cínico sistema socioeconômico denominado Capitalismo.

E nem se diga que o sistema de castas só existe na Índia, pois apesar deste
fato ser verdadeiro, sem esse sistema de castas seria impossível, em um país tão populoso,
sustentar um regime capitalista com todas as odiosas contradições, que são inerentes ao
sistema socioeconômico burguês. Além do mais, todos sabem - e muitos já sentiram - os
eficientes filtros que dificultam, quando não impedem, a ascensão em massa da tão
desprestigiada classe popular, a exemplo da pura e simples segregação, passando pelo
descaso com o acesso a meios educacionais.

Isso depõe não só contra o capitalismo hindu, mas contra todas as bases do
próprio capitalismo, como sistema socioeconômico viável. É que para se manter como tal,
frente a uma população equivalente à chinesa, o capitalismo não se mostraria viável, sem
empregar meios igualmente tão violentos quanto o chinês (que no sistema hindu, responde
pelo singelo nome de sistema de castas). Do mesmo modo, em qualquer outro país
capitalista que tivesse a mesma população da China, fatalmente se serviriam de expedientes
análogos aos da Índia, para que se pudesse dar viabilidade ao sistema. Atente-se para o fato
de que, muito embora milenar; o sistema de castas hindu, nada mais seria que uma
exacerbação natural das necessidades do capitalismo, caso fosse confrontado com os
problemas inerentes a uma população equivalente à chinesa.

Roberto de Aquino Neves


Advogado, natural de Feira de Santana-Ba, exercendo sua profissão na Cidade de Aracaju-
SE. Fones: (79)3042-2902 e (79) 9123-0351

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