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PARCEIROS
IMAC/AC SEMEIA/PMRB
HOMEM E A FLORESTA, AS ÁGUAS E O SOLO: A INTEGRAÇÃO
NECESSÁRIA PARA SUSTENTAÇÃO DA VIDA NA REGIÃO
ACREANA, BRASIL
Equipe Função
Herly Carlos Teixeira Dias Professor do DEF/UFV
Engenheiro Florestal Coordenador Técnico do Projeto
Dr. Manejo do solo e Nutrição de plantas Orientador dos Estudos
Maria de Nazaré Costa de Macêdo Pesquisadora
Engenheira Agrônoma Doutoranda em ciência Florestal –
MSc. Extensão Rural DEF/UFV
Izaias Fernandes Santos Pesquisador
Engenheiro Florestal Mestrando em Ciência Florestal –
DEF/UFV
Edson Alves de Araújo Pesquisador
Engenheiro Agrônomo Doutorando em Manejo de Solos e
Secretaria de Agricultura e Pecuária do Acre Nutrição de plantas – DPS/UFV
MSc. Manejo de Solos e Nutrição de Plantas Colaborador na Coleta de Solos
Maria France Gontijo Coelho Co-orientadora dos estudos e cursos de
Historiadora capacitação
Dra. em Sociologia
José Pereira Passos Técnico do Departamento de Recursos
Tecnólogo em Topografia e Estradas Hídricos do IMAC/AC
Marlene Fugiwara Aparecida Gerente do Departamento de Recursos
Bióloga Hídricos do IMAC/AC
Marconde Maia Ferreira Técnico do Zoneamento do Município
Biológo de Rio Branco
Nelson Antônio Carneiro Pinheiro Responsável pela condução do barco
Técnico administrativo do IMAC/AC
Antonio Marcos Silva Velásquez Responsável pela segurança e bom
1º Tenente BM, Corpo de Bombeiros. desenvolvimento da viagem
Joane Geronimo Rodrigues Responsável pela segurança e bom
Sargento BM, Corpo de Bombeiros. desenvolvimento da viagem
José Valfredo Responsável pela condução do barco
2
SUMÁRIO
Páginas
RESUMO EXECUTIVO 5
Objetivo 1 6
1. Construção do projeto e apresentação aos parceiros 6
a) Contato institucional para viabilização do projeto em Rio 6
Branco, Acre
b) Programação das reuniões 6
Objetivo 2. 8
1.Capacitação de técnicos 8
a. Programação do curso em metodologias de abordagem 8
participativas
b) Inscrições do curso e Certificados 9
Objetivo 3. 9
1.Capacitação de Técnicos 9
a. Programação do curso - Manejo Integrado de Bacias 9
Hidrográficas
Objetivo 6. 10
1. Prospecção e estudo preliminar de solos e ambientes da bacia 10
hidrográfica do Riozinho do Rôla
1. Introdução 10
2. Metodologia de Trabalho 11
2.1. Preparo da viagem (Viçosa-MG) 11
2.2. Preparo da viagem (Rio Branco) 12
2.3. Logística da viagem – navegação no Riozinho e estudo 12
de solos e ambientes
3. Resultados Preliminares 16
3.1. Aspectos hidropedológicos da bacia hidrográfica do 16
Riozinho do Rôla
3.2. Impressões ao longo do Riozinho do Rola e afluentes 22
3.3. Relação solo paisagem em área de influência do 30
Riozinho do Rôla
2. Análise preliminar das características socioeconômicas da população 49
ribeirinha do Riozinho do Rôla, Rio Branco – Acre
1. Introdução 49
2. Caracterização ambiental 49
3. Produção e fontes de renda 51
3.1. Extrativismo vegetal 51
3.2. Produção de subsistência 53
3.3. Produção tecnificada: as fazendas 55
3
4. Povos ribeirinhos 56
5. Os usos e a relação dos recursos naturais com os 58
ribeirinhos
6. Observações gerais 61
Objetivo 8 63
1. Percorrendo a bacia: primeira viagem 63
1.1. Instalação dos pluviômetros 66
1.2. Entrega de provetas 71
CONCLUSÕES 74
OBSERVAÇÕES 75
EQUIPE 76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77
ANEXOS 79
4
RESUMO EXECUTIVO
5
Objetivo 1.
6
participação das comunidades que residem nas regiões do Alto, médio e Baixo da bacia.
Dessa forma, o Quadro 1 mostra a programação das reuniões.
7
Objetivo 2.
1.Capacitação de técnicos
a) Programação do curso em metodologias de abordagem
participativas
Quadro 2. Lista de instituições e quantidade de técnicos que serão convidados para o curso
metodologia de abordagem participativa.
8
2 SEATER/XAPURI Trabalham na Reserva Extrativista.
2 SEATER/ BRASILÉIA Trabalham na Reserva Extrativista.
2 SEATER/RIOBRANCO Trabalham em assentamentos dentro da
área do Riozinho.
5 SEMEIA/PMRB Trabalham diretamente no Riozinho do
Rôla.
1 ZONEAMENTO/PMRB Trabalha com o Zoneamento de Rio
Branco.
1 IBAMA Coordena as ações da Reserva Extrativista
Chico Mendes.
1 PESACRE Realiza trabalho na região do Riozinho.
Centro dos Trabalhadores da Trabalha com comunidades rurais em
1
Amazônia – CTA geral.
Cooperativa Central de Trabalha com comunidades extrativistas.
Comercialização Extrativista do
1
Estado do Acre - COOPERACRE
Associação de Moradores e Trabalha com comunidades rurais em geral
Produtores da Reserva do município de Brasiléia.
1
Extrativista de Brasiléia –
AMOPREB
Associação de Moradores e Trabalha com comunidades extrativistas do
Produtores da Reserva município de Assis Brasil.
1
Extrativista de Assis Brasil -
AMOPREAB
Associação de Moradores e Trabalha com comunidades extrativistas do
Produtores da Reserva município de Xapuri.
1
Extrativista de Xapuri -
AMOREX
30
Objetivo 3.
1.Capacitação de Técnicos
9
com fundamentos técnicos a equipe com vistas garantir uma maior eficiência na atuação
das atividades na bacia, junto às comunidades locais.
O curso será realizado no 2º. Trimestre de 2007, com carga horária de 24 horas e
data a definir, tendo como facilitadores professores da UFV e profissionais da região
que atuam na área de recursos hídricos. Com isso, segue o plano do curso no Anexo 3, e
o certificado que será entregue aos participantes no encerramento do mesmo (Anexo 4).
Objetivo 6.
1. Introdução
10
determinados trechos do rio, durante a estação de menor índice pluviométrico, chegam a
secar por completo, sendo possível até transpor seu leito a pé?
Uma explicação provável para este fenômeno deve-se ao fato dos solos da
região, em sua maioria, serem bastante tamponados em relação a sua capacidade de
armazemanento de água, ou seja, o solum (horizontes A +B), em sua maioria, são rasos
(< 50 cm) a pouco profundos (≤ 100 cm). Essa característica é marcante em alguns solos
do Acre que tiveram os processos de pedogênese (formação do solo) retardados em
virtude da natureza pelítica do material sedimentar (argilitos e siltitos) da Formação
Solimões (Brasil, 1976). Isso faz com que estes solos apresentem uma baixa
permeabilidade (encharcam facilmente) e o excedente seja carreado por deflúvio
superficial.
Isso evidencia a importância da cobertura vegetal ao longo dos rios, igarapés e
nascentes de forma a evitar impactos negativos sobre o meio ambiente, tais como o
assoreamento, alterações no ciclo hidrológico e condições extremas de enchente e seca.
O objetivo deste relatório é apresentar as primeiras “impressões” e resultados
preliminares acerca do estudo dos solos e ambientes em áreas de influência direta e
indireta da bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla. Além disso, os resultados dessa
primeira viagem de reconhecimento da área para a coleta de solos irão contribuir com a
programação das viagens subseqüentes, garantindo sua eficiência e eficácia, e de
maneira integrada com os demais componentes do projeto, procurar maximizar o tempo
e os recursos necessários para sua consecução.
2. Metodologia de trabalho
11
(Resende & Pereira, 1988). Estas referências, a princípio, serviram para uma sondagem
preliminar e como subsídio para a metodologia de trabalho a campo e discussão do
presente relatórios, dentre outras que serão citadas.
De forma a facilitar a identificação das unidades de solos e ambientes da área de
influência direta e indireta do Riozinho do Rôla, elaborou-se o mapa de altitude da
região com o auxílio do Modelo Digital de Elevação (MDE), mapa de declividade, de
forma a estratificar as regiões por intermédio dessas duas variáveis, juntamente com o
mapa pedológico do Acre na escala de 1: 250.000 (Anexo 5).
A equipe técnica contou com o apoio de barcos tipo voadeira, sendo um com motor
de 25 HP, 40 HP, e de 8 HP, cedidos pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre –
IMAC/AC (Figura 1). Os barcos foram conduzidos por dois barqueiros (José Vidal e
José Valfredo), também cedidos pelo IMAC/AC.
A equipe saiu do porto de Rio Branco no final da tarde do dia 16 de março de 2007.
No Amanhecer do dia seguinte, a equipe técnica fez mais uma reunião com os
barqueiros de forma a esclarecer para os mesmos o objetivo da viagem e o itinerário a
ser realizado.
Durante a navegação pelo Riozinho e seus principais afluentes efetuavam-se
discussões, anotações e registro (fotografias e filmagens) de aspectos relevantes como o
uso da terra, a tipologia florestal, processos erosivos, assoreamentos e movimentos de
terra, dentre outros aspectos.
12
Figura 1. Detalhe das voadeiras no porto de Rio Branco e que foram utilizadas na viagem ao
Riozinho do Rôla (Foto: Leandro Macedo, março de 2007).
13
Ao percorrer a propriedade com os moradores, aproveitou-se para gerar uma
conversar buscando resgatar o conhecimento local em relação ao solo e a utilização da
terra. Nesse momento, levantaram-se as seguintes questões: como ele diferenciava a
terra? Se o solo costumava encharcar muito na estação chuvosa. Em que qualidade de
solo ocorria mais castanheira? Porque as seringueiras que ocorriam as margens do
Riozinho não morriam quando eram inundadas? Se as árvores de seringueiras eram mais
produtivas que as de terra firme? Entre outras.
Na porção central de cada segmento (por exemplo, topo, meia encosta, fundo de
vale) efetuavam-se tradagens até a profundidade de 1 m. Nesses locais discutia-se com o
(a) morador (a) aspectos relacionados a cor e textura do solo, relevo, vegetação, de
forma a informá-lo do que estava sendo realizado naquele momento, sempre numa
linguagem acessível e procurando apreender, perceber e resgatar o conhecimento local
dos solos da região (Figuras 2 e 3). Cada um desses locais, quando possível, foi anotado
a localização por meio de coordenadas UTM com auxílio de GPS.
14
Figura 3. Sebastião (à esquerda) morador do Seringal Cachoeira, Colocação Morada Nova,
acompanhando a tradagem do solo. (Foto: Nazaré Macedo, março de 2007).
15
(a) (b)
Figura 4. Detalhe do morador local auxiliando nos procedimentos de amostragem e abertura de perfis de
solo: a) Ailton, morador do Seringal Passagem, Colocação Dominguinhos, auxiliando na coleta
de solos (Foto: Isaias Santos, março de 2007); b) Senhor Aldo (segurando o boca-de-lobo)
morador do Seringal Bom Destino, Colocação Novo Destino auxiliando no processo de
abertura de trincheira em sua colocação, a esquerda Isaias Santos (Foto: Nazaré Macedo,
março de 2007).
3. Resultados preliminares
16
armazenamento desses ambientes em que os solos tiveram seus processos de formação
retardado em função da natureza pelítica do material de origem (Brasil, 1976) e de
evidências de períodos mais secos que o atual (Kronberg et al., 1989; Kronberg &
Benchimol, 1992).
A preocupação tem sido o crescente desmatamento na região que pode resultar
em alterações no ciclo hidrológico e desta feita reduzir o volume de chuvas e
comprometer o abastecimento de água das comunidades locais e da população residente
nos centros urbanos. Essa preocupação é corroborada por Duarte (2005), que em seu
estudo constatou uma diminuição na precipitação média diária no município de Rio
Branco entre 1990 e 2003, período em que se intensificou o desmatamento na região,
em sua maioria para implantação de pastagens extensivas.
14
12
Maxima
Minima
10
Cota fluviométrica (m)
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses do ano
Figura 5 – Gráfico das cotas fluviométricas máximas e mínimas mensais para o período de 1989
a 2005 para o Riozinho do Rôla (Fonte: ANA, 2007).
17
(a) (b)
Figura 6. Fotografias tiradas no mesmo local do igarapé São Raimundo, afluente do Riozinho do Rôla,
mostrando a variação do nível do igarapé em duas épocas distintas. A foto (a) foi tirada em
setembro de 2006 (período de grande seca) e a (b) em março de 2007 (período de grande
cheia). (Fotos: Nazaré Macedo).
Nesse caso o transporte é feito por ramais e varadouros que alcançam a rodovia
AC-090 (Transacreana) que se encontra asfaltada até a altura do km 60.
Portanto, essas variações, tendem a acompanhar a precipitação pluviométrica na
região (Figura 7). A precipitação média anual é bastante variável, com valores entre
1296 a 2560 mm. Observa-se que o menor valor corresponde ao ano de 2005, ano em
que a Amazônia foi castigada com o fenômeno da seca (Figura 8).
300
250
Média Mensal
CV
200
150
100
50
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
18
3000
2560
2500
2202
2039
Precipitação média anual (mm) 1977
2000 1874
1844 1782
1757
1596
1503
1500
1296
1000
500
0
1991 1992 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Anos
Figura 8. Gráfico da precipitação média anual do Riozinho do Rôla nos anos de 1991,
1992 e 1997-2005 (Fonte: ANA, 2007).
Comportamento similar pode ser observado para os dados de vazão (Figura 9).
Quando se compara os meses de maior volume de vazão (fevereiro e março) com os
meses de menor vazante (julho, agosto e setembro), observa-se que o escoamento da
água reduz significativamente, chegando nesse período a cessar em algumas regiões da
bacia.
500
450 Máx
Min
400 Média
350
Vazão (m3/s)
300
250
200
150
100
50
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses do ano
Figura 9. Dados médios mensais de vazão do Riozinho Rôla, referentes aos anos de 1998, 1999 e
2001 a 2004 (Fonte: ANA, 2007).
19
Vale ressaltar que os dados de precipitação, fluviometria e vazão foram obtidas
de uma única estação da ANA (Fazenda Santo Afonso), localizada próxima a foz do
Riozinho do Rôla (19L – E 603744 N 8886501). Isso demonstra a importância de se
expandir os pontos de observação hidrológica na bacia, sendo este um dos objetivos do
presente projeto.
Ao longo da Rodovia Estadual AC 090 (Transacreana) é comum observar a
construção de açudes como criatório de peixes, reservatório de água para criação de
animais em regime extensivo e para abastecimento local (Figura 10).
20
Horizonte C
Figura 11. Detalhe da pouca profundidade do solo em corte de estrada ao longo da Rodovia
Estadual AC 090 (Trasacreana). Ao fundo é possível notar a coloração acinzentada do
horizonte C, em ambiente de Plintossolos e Argissolos plínticos (Foto: Edson Araújo,
março de 2007).
Figura 12. Veículo tipo Toyota atoleiro, quando do trabalho de campo em ramal próximo a
Transacreana, em área onde foi instalado um pluviômetro (Foto: Leandro Macedo,
março de 2007).
21
3.2. Impressões ao longo do Riozinho do Rôla e afluentes
Riozinho do
Rôla
Rio Acre
Figura 13. Confluência entre o Riozinho do Rôla e o Rio Acre no período das cheias, março
de 2007 (Foto: Edson Araújo, março de 2007)
Nessa época do ano a navegação pelo Rio Acre é muito perigosa e requer
bastante atenção em virtude das correntezas e do material vegetal (troncos, galhos) que
é transportado pelo Rio em decorrência do deslizamento de barrancos. Sendo necessária
muita atenção do barqueiro e dos demais ocupantes da voadeira, no sentido de avisar
sobre a ocorrência desses materiais no Rio.
Por vezes a navegação torna-se impraticável devido ao volume das águas em
alguns trechos do canal do Riozinho do Rôla e seus afluentes. Isso se deve ao fato da
vegetação adentrar o leito do rio e igarapés, motivo pelo qual a comunidade em parceria
com Prefeitura de Rio Branco realiza operações de limpeza (adjunto).
Levando-se em conta o aspecto visual constatou-se que a carga de sedimentos
em suspensão do Rio Acre é superior a do Riozinho. Essa observação é corroborada
inclusive com a fala da população local, que afirma: “a água do Rio Acre é uma lama
só, a do Riozinho a qualidade da água é 10”.
22
Esse fato sugere que as águas do Rio Acre devem funcionar como uma espécie
de “barramento natural” ao livre escoamento de água (vazão) do Riozinho do Rôla. Essa
diferença pode estar associada à antropização das margens do Rio Acre e da natureza
arenosa de seus aluviões. A Figura 14 ilustra a concentração de sedimentos em
suspensão para o Rio Acre. Verifica-se que a concentração de sedimentos é coincidente
com os meses de maior precipitação na região.
Torna-se importante ressaltar que a diferença de sedimentos em suspensão será
determinada futuramente por intermédio da mensuração dos sedimentos em suspensão e
do nível de turbidez das águas, tanto na estação chuvosa como na estação seca
500
450
400
350
Concentração (mg L )
-1
300
250
200
150
100
50
0
Jan Mar Abr Jun Jul Ago Out Dez
Meses do ano
23
Isso demonstra a importância de estudos relacionados aos corpos d’ água do
Riozinho do Rôla, no que se refere a sua conservação, por ser este um dos tributários
fundamentais no fornecimento de água para o abastecimento da cidade de Rio Branco.
(a)
Ponte
Estação de Captação
de Água
(b)
Figura 15. (a) Estação de captação de água do município de Rio Branco; e (b) Ponte sobre o Rio
Acre (Foto: Edson Araújo).
24
As águas do Riozinho do Rôla são classificadas na Amazônia como sendo águas
brancas, ou seja, são verdadeiramente marrom-barrentas (Prance, 1980). Isso decorre
em virtude dos sedimentos em suspensão oriundos da erosão e escoamento superficial
às margens do Rio.
Na área de influência da foz do Riozinho do Rôla encontrava-se no limite
máximo, ou seja, no último degrau do Rio. Nesse trecho inicial o Rio é bem mais
amplo, podendo em muitos casos atingir cerca de 200 m de largura. A navegação é
menos perigosa em decorrência da menor incidência de material vegetal no leito do Rio.
Mas, mesmo assim requer atenção.
No trecho, compreendido entre a foz do Riozinho do Rôla e a confluência do
igarapé Caipora, verificou-se à margem esquerda do Rio, nas porções mais elevadas,
rachaduras no solo, tipo movimento de massa, no qual o uso é com pastagem extensiva.
Isso pode estar relacionada ao desmatamento e a ação dos processos erosivos que
atuaram na desestabilização do terreno. E também a processos decorrentes da atividade
da argila e a ciclos de umedecimento e secagem do solo. Fato observado desde a década
de 50 no município de Rio Branco, quando a população ainda era inexpressiva (Guerra,
1955).
Esse fato é bastante comum no perímetro urbano do município de Rio Branco,
próximo ao Rio Acre, onde ocorrem desbarrancamentos e prejuízos associados a
rachaduras de ruas, demolição de casas e perigo estrutural para alguns prédios (Figura
16a e b).
(a) (b)
Figura 16. Processo erosivo e movimento de massa na Rua Rio Grande do Sul, localizada no núcleo
urbano de Rio Branco, a margem esquerda do Rio Acre (ao fundo a direita) (Fotos: Lúcia
Hall, julho de 2007).
25
A planície inundável do Riozinho possui um caráter sazonal, ou seja, só é
inundada uma parte do ano. Nesse caso, de forma a padronizar a linguagem e
fundamentando-se na literatura, esta várzea seria caracterizada pela inundação anual das
florestas por águas brancas, ou seja, recebe a denominação de várzea estacional (Prance,
1980).
Na várzea estacional, região baixa do Riozinho do Rôla surge algumas praias
quando na vazante do Rio, mas que não é cultivada. Esse fato, segundo conversa com
moradores da comunidade local, decorre da pequena extensão dessas praias, do déficit
hídrico, baixa fertilidade e estabilidade estrutural (Figura 17). Em outras palavras,
nessas áreas costumam surgir “rachaduras” dando inicio ao processo de
desmoronamento, não permitindo o cultivo de plantas anuais como feijão, milho,
mandioca, melancia, que é bastante comum nas praias do Rio Acre e de outros Rios, tais
como o Juruá e Moa.
26
Figura 18. Margem esquerda do Riozinho do Rôla, na parte baixa da bacia, mostrando o
uso com pastagem em área de preservação permanente (Foto: Edson Araújo,
março de 2007).
27
água em alguns períodos do ano e a existência de propágulos vegetativos oriundos da
floresta circundante.
Figura 19. Árvore de Imbaúba (Cecropia spp) às margens do Riozinho do Rôla (Foto:
Edson Araújo, março de 2007).
28
“Furo”
29
Figura 21. Árvore de seringueira (Hevea brasiliensis), de ocorrência em
área inundável situada entre o segundo e terceiro segmento da
paisagem (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007)
30
Figura 22. Barranco às margens do Riozinho do Rôla com estabilidade estrutural em
virtude de sua textura predominantemente argilo-siltosa (Foto: Edson Araújo,
março de 2007).
Pontuações
avermelhadas e
cinzentas
Horizonte C
31
Como a planície inundável tem um caráter de várzea Estacional, a depender do
tempo de exposição ao alagamento podemos ter uma combinação de classes de solos
como Plintossolos e Gleissolos coexistindo lado a lado. Obviamente, nestes locais o
processo de pedogênese (formação do solo) não é contínuo, ou seja, está sempre se
renovando em virtude de material sedimentar trazido do Rio ano a ano. Assim a
caracterização desses ambientes torna-se difícil em virtude de sua variabilidade natural.
Em alguns casos, a lâmina de água contida na várzea estacional permite a
navegação de pequenas canoas (Figura 24), na qual é utilizada pela população local para
se deslocar de uma colocação para outra, atravessar o Rio e trabalhar em seu roçado.
32
(a)
(b)
Figura 25. Detalhe da dificuldade que se tem ao percorrer determinadas áreas quando o
acesso é realizado pela planície inundável. A fotografia (a) mostra uma
condição mais extrema e a (b) um local em que água já desaguou.
(Fotografias: Edson Araújo, março, de 2007).
33
PERFIL 1
Descrição Geral
Data – 18.03.2007
Classificação SiBCS (provável) - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico plíntico, A
moderado, textura média/argilosa, fase tropical subcaducifólia, relevo suave ondulado e
ondulado.
Localizaçao, municipio, estado e coordenadas – Bacia Hidrográfica do Riozinho do
Rola, margem esquerda do alto Riozinho, Colocação Dominguinhos. Município de Rio
Branco – Acre. Coordenadas UTM: 19L E 520015 N 8882930N (Ponto 135 GPS).
Situação, declive e cobertura vegetal sobre o perfil – descrito e coletado em topo de
elevação (em clareira de mata) com aproximadamente 8 a 20 % de declive, sob
vegetação de capoeira e cultivo agrícola.
Altitude - 219 metros
Litologia – sedimentos argilo-arenosos
Formação geológica – Formação Solimões.
Cronologia - Terciário.
Material Originário – sedimentos da Formação Solimões.
Pedregosidade – não pedregoso.
Rochosidade - não rochoso.
Relevo Local - suave ondulado.
Relevo Regional – suave ondulado a ondulado.
Erosão – não aparente.
Drenagem – moderadamente a imperfeitamente drenado.
Vegetação primária
Uso Atual – capoeira e cultivo de mandioca.
Clima
Descrito e coletado por – Edson Araújo, Izaias Santos e Ailton
Descrição Morfológica
34
Bt1 50-80 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); argila; moderada média
blocos subangulares; friável, plástica e pegajosa; transição plana e difusa.
Bt2 80-100 cm, bruno-forte (7,5YR 5/8, úmida); argila, friável, plástica e
pegajosa.
Raízes – comuns, finas e médias no A e AB; poucas, média e finas no BA; raras finas e
médias no Bt1.
Observações – Perfil descrito após chuva torrencial no dia anterior; depois de aberta a
minitrincheira começou a minar água; o horizonte Bt2 foi coletado com trado na
profundidade de 80-100 cm da superfície; na profundidade de 60 cm da superfície,
observaram-se pequenas pontuações cinza e avermelhada, denotando processos de oxi-
redução de ferro através do acúmulo de água; a estrutura não foi determinada de forma
satisfatória em virtude de o solo estar bastante encharcado; do mesmo modo não foi
possível diagnosticar se a presença ou não de cerosidade e a consistência do solo
quando seco.
35
Figura 26. Minitrincheira de Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico plíntico descrito
em topo de elevação (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007).
Figura 27. Detalhe do ambiente do perfil anterior em área de capoeira situada em clareira de
mata (Foto: Izaias Santos, março de 2007).
36
PERFIL 2
Descrição Geral
Data – 21.03.2007
Classificação SiBCS (provável) - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, A
moderado, textura média/argilosa, relevo suave ondulado.
Localizaçao, municipio, estado e coordenadas – Bacia Hidrográfica do Riozinho do
Rola, margem direita do médio Riozinho, Seringal Bom Destino, Colocação Novo
Destino. Município de Rio Branco – Acre. Coordenadas UTM: 19L – E 543302 N
8897652 (Ponto 165 GPS).
Situação, declive e cobertura vegetal sobre o perfil – descrito e coletado em topo de
elevação com aproximadamente 10 % de declive, sob pastagem de Brachiaria brizanta
(brizantão).
Altitude
Litologia – sedimentos argilo-arenosos
Formação geológica – Formação Solimões.
Cronologia - Terciário.
Material Originário – sedimentos da Formação Solimões.
Pedregosidade – não pedregoso.
Rochosidade - não rochoso.
Relevo Local - suave ondulado.
Relevo Regional – suave ondulado.
Erosão – ligeira laminar.
Drenagem – bem drenado.
Vegetação primária
Uso Atual – Pasto de B. brizanta cv Marandu.
Clima
Descrito e coletado por – Edson Araújo, Nazaré Macêdo, Izaias Santos e Aldo Lopes.
Descrição Morfológica
37
Bt1 40-90 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); argila; moderada média a
grande blocos subangulares; cerosidade fraca e comum, duro friável,
plástica e pegajosa; transição plana e gradual.
Bt2 90-130 cm, vermelho-amarelado (5YR 4/6, úmida); argila, moderada média
a grande blocos subangulares, cerosidade moderada a forte e comum, duro
friável, plástica e pegajosa.
38
Figura 29. Aspecto do ambiente onde foi descrito o perfil da figura anterior. Relevo suave
ondulado (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007).
39
Nesse ambiente, realizou-se caminhada com o morador nos diversos segmentos
da paisagem, partindo-se do canal do Riozinho até a porção mais elevada (Figura 31).
40
Aproximadamente 2000 m
6
5
4
2 3
1 40 m
Figura 31. Esquema ilustrativo mostrando transecto percorrido e diversos segmentos da paisagem (degraus) da Colocação Novo Destino, em área de influência do Riozinho
do Rôla e Mosaico de fotografias com esses ambientes (maiores detalhes ver Quadro 3).
41
Os locais amostrados, sua posição na paisagem e algumas características observadas
encontram-se no Quadro 3 abaixo:
degrau)
3 - 543380/8898103 3. Planície aluvial não Porção mais plana e extensa da paisagem; geralmente
inundável (2º degrau) predominam Plintossolos e por vezes Gleissolos quando
permanecem por um período de tempo mais
prolongado. Essas planícies se alternam em níveis
discordantes, ou seja, uma se apresenta em cota mais
elevadas e a outra em porções mais elevadas. Dessa
forma, a planície que se encontra em porções mais
baixas tende a ser inundada. No entanto a depender da
magnitude da enchente, por vezes as duas margens
podem vir a alagar, conforme relato do morador local.
Os solos existentes nessa área geralmente são
acinzentados ou descoloridos, denotando restrição de
drenagem e, ou acúmulo de água e matéria orgânica.
Nesse ambiente é comum a ocorrência de ciperáceas
(tiririca) e capim nativo.
4.- 543302/8897652 4. 3º degrau Nesse ponto já há a ocorrência de Argissolo Vermelho-
Amarelo A fraco textura média/argilosa em relevo
suave ondulado. O solo tradado apresentava zonas de
redução nos primeiros 10 cm da superfície em
decorrência do pisoteio do gado.
5 - 543302/8897652 5. 4º degrau Local onde foi descrito o perfil 2.
6.- 543899/8896326 6. Ponto mais alto da Local situado no topo, ou seja, na porção mais elevada
toposseqüência (5º da paisagem em área de floresta densa com palmeira.
degrau) No local tentou-se cavar uma trincheira, mas não se
obteve sucesso devido à textura predominantemente
arenosa e o lençol freático à superfície. O local
provavelmente deve ser um meandro abandonado,
resultante de uma antiga área de deposição de
sedimentos onde o rio antigamente devia correr. Por
questões de estabilidade o rio deve ter abandonado esse
trecho.
Figura 33. Ocorrência de tiririca do brejo (Cyperus spp.) em área da planície aluvial não
inundável na Colocação Novo Destino. (Foto: Nazaré Macedo, março de
2007.).
43
De acordo com informações do morador local o plantio de culturas, como o milho e
feijão não estão dando bons resultados nessas condições, o que pode estar associado às
condições de encharcamento do solo e, ou da toxidex por Fe e Mn. Nessas condições foram
coletadas amostras para análise de fertilidade e futuramente para micronutrientes como Fe e
Mn, como forma retornar para a comunidade resultados e sugerir alternativas de uso.
Na colocação Samaúma, situada no alto do Riozinho, igarapé Espalha, o relevo é
mais movimentado e a distância entre o canal do rio (1º segmento da paisagem) e a porção
mais elevada da paisagem (área de topo ou interflúvio tabular) são menos extensas,
chegando a alcançar, nesse caso, 400 m (Figura 34).
Aprox. 200 m 5
3
2
1
Figura 34. Esquema ilustrativo mostrando transecto percorrido em diversos segmentos da paisagem (degraus)
da Colocação Samaúma, margem esquerda do Igarapé Espalha. (Para maiores detalhes de cada
segmento da paisagem, consulte o Quadro 4).
44
mostrou as mesmas características do solo da
pastagem, somente com um declínio (aspecto
visual) no teor de matéria orgânica do solo. A
vegetação nativa é do tipo Floresta aberta com
Bambu. Pelo relato do morador local, nessas
condições de solo a castanheira (Bertholletia
excelsa) ocorre com menor freqüência. Fato
que pode ser explicado pela ocorrência da
mesma em áreas de terra firme e com
melhores condições de drenagem e
profundidade do solo. Isso pode ser
constatado por sua maior ocorrência na região
Leste do Acre, onde ocorrem solos mais
profundos e bem drenados.
Figura 35. Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) com folha mostrando sinais de amarelecimento
(Foto: Nazaré Macêdo, março de 2007).
45
O mesmo procedimento foi efetuado para o plantio de pimenta-do-reino (Piper
nigrum), que estava morrendo e apresentava sinais de amarelecimento das folhas (Figura
36). Esse fato pode estar relacionado a alguma deficiência nutricional e, ou alguma doença
e origem fúngica ou virótica.
Figura 36. Pimenta- do- reino (Piper nigrum) apresentando amarelecimento nas folhas.
(Foto: Edson Araújo, março de 2007).
Nas áreas visitadas, a utilização das terras com culturas anuais, tipo cultivo
itinerante, utiliza preferencialmente as áreas situadas distantes das margens do Rio e em
pequenos módulos que variam de 1 a 2 ha (Figura 37). Isso, de certo modo é um fator
positivo, uma vez que traria menos impactos negativos aos corpos d´água e a capoeira
tenderia a regenerar-se rapidamente em função dos propágulos vegetativos oriundos da
floresta.
No entanto, muitas das vezes após um período de cultivo de 1 a 2 anos em virtude
das terras ficarem “cansadas”, o agricultor tende a desmatar novas áreas. Isso de certa
46
forma pode contribuir para o aumento gradativo da descaracterização da cobertura vegetal
original da região.
O tamanho dos roçados varia em função da mão-de-obra familiar existente e da
conjugação com outras atividades exercidas por cada morador. Geralmente o seringueiro
concilia essa atividade produtividade com a extração de castanha e borracha.
Figura 37. Utilização da terra com culturas anuais (roçado) no sistema itinerante em clareira de
mata. No primeiro plano, área recém desmatada e queimada e ao fundo cultivo com
milho e mandioca. (Foto: Edson Araújo, março de 2007).
A seguir são listados alguns pontos estratégicos que se utilizou para fazer tradagens
e observações concernentes a solo e ambiente e que servirão de base para os próximos
passos do levantamento do meio físico (Quadro 5).
47
predominantemente arenosa até 1m. Mais escurecido em
decorrência da matéria orgânica. Abaixo disso o solo adquiriu uma
tonalidade amarelada; relevo suave ondulado; bem drenado. A
ocorrência de solo arenoso nesse segmento da paisagem (planície
aluvial não inundável) pode estar relacionada à deposição de
sedimentos dessa natureza no passado. Uma vez que esse segmento
pode ter sido um antigo leito do rio ou um meandro abandonado.
Colocação Conselho (3) Tradagem realizada em área de roçado de aproximadamente 2 há
577582/8886446 com plantio de macaxeira e banana. O mesmo encontrava-se
encapoeirado com plantas tipo imbaúba (Cecropia spp)e sapé
(Imperata brasiliensis); Textura média/argilosa, bem drenado,
relevo plano a suave onduladoe floresta densa com palmeira
Colocação Morada Nova, Tradagem feita a 1 m de profundidade em topo superior de
Seringal Cachoeira (1) elevação, próxima a área de roçado; a textura Franco-arenosa vigora
predomina até a quase 1 m, a partir daí já começa a carregar na
argila; apresenta horizonte A fraco, relevo local plano, regional
ondulado, floresta densa com palmeiras e musácea, bem drenado.
Colocação Morada Nova, Mini trincheira de escavada a 60 cm da superfície em posição de
Seringal Cachoeira (2) meia encosta; Apresenta A moderado, textura argilosa,
580474/8882196 imperfeitamente drenado em área de floresta densa com palmeira;
Provavelmente deva se enquadrar na classe de Plintossolo
Argilúvico
Colocação Morada Nova, Observação feita na planície inundável, na margem esquerda do
Seringal Cachoeira (3) igarapé Vai-Se-Ver; O solo tradado apresentou cores cinzentas
580810 /8881593 cinzentas e é de natureza argilo-siltosa; muito provavelmente deva
tratar-se de um Gleissolo, no entanto, será necessária a prospecção a
maiores profundidades na estação seca para se atestar realmente sua
classificação.
Colocação Morada Nova, Tradagem realizada a 1 m de profundidade em área de pastagem
Seringal Cachoeira (4) nativa a aproximadamente 250 m da margem direita do igarapé Vai-
580700/8881278 Se-Ver; relevo Plano, floresta densa com musácea; cor do horizonte
B 5YR 5/8 (vermelho amarelado), textura média/arenosa; A fraco;
bem drenado, sem evidência de encharcamento
Colônia Santo Antônio Tradagem em área de pasto; A moderado, bem drenado, relevo
609475/8886793 plano a suave ondulado, floresta densa com musácea; uso com pasto
nativo.
609309/8886593 Observação feita em barranco existente na área: Argissolo
Vermelho-Amarelo, textura argilosa, A moderado, bem drenado,
relevo suave ondulado; presença de cerosidade no horizonte B
expressiva; seqüência de horizontes A-AB-Bt.
Nesse local também se marcaram os pontos no GPS correspondente
a cada segmento da paisagem: 2º segmento – 609638/8886973 (154
m); 3º segmento – 609601/8886914 (174 m) corresponde ao nível
da moradia
48
2. Análise preliminar das características socioeconômicas das populações ribeirinhas
do Riozinho do Rôla, Rio Branco, Acre.
1. Introdução
2. Caracterização ambiental.
49
pontos ao longo do Rio a construção de estruturas como paióis e currais, além do plantio de
algumas culturas de subsistência, o que faz com que a vegetação ciliar seja, em parte,
retirada.
50
motorizadas; o lançamento, em certos pontos, de lixo e a lavagem de roupas. Os motores
dos barcos que são utilizados para o deslocamento das pessoas no Riozinho, afugentam os
animais da zona ripária. O lançamento de combustível e óleos na água do Rio altera sua
qualidade desfavorecendo a fauna aquática do mesmo. Em alguns pontos são notados,
próximo as casas dos moradores ribeirinhos, o lançamento de lixo doméstico. Como essas
observações foram realizadas em época de cheia do Rio, em períodos mais secos o
lançamento de lixo pode ser bem maior. Esse fato reforça ainda mais a necessidade de
ações junto às comunidades que possam contribuir com a educação ambiental, garantindo
assim uma maior conservação da bacia.
Foi notado também que algumas famílias lavam suas roupas no Rio. Quando o
mesmo está com uma maior vazão. Essa prática pode não comprometer a qualidade da água
nem a fauna aquática em função da diluição destes produtos no Rio. Porém, em época de
seca e dependendo do número de famílias que o fazem o impacto poderá ser bem maior.
É notado um gradiente de preservação da mata ciliar da foz à nascente do Riozinho.
No baixo Riozinho é claramente notado a interferência ao meio ambiente, sendo que existe
uma maior concentração de casas. São residências mais estruturadas e com uma relação
maior com a cidade de Rio Branco, pois utilizam materiais de alvenaria e em algumas casas
existe energia elétrica.
Parece que a navegação no Riozinho se dá por diferentes motivos e distintos
públicos. Dentre os motivos destaca-se o escoamento da coleta da castanha e da borracha, o
transporte da população para Rio Branco, ou para outras localidades dentro da bacia, e o
deslocamento de benefícios e políticas públicas para as comunidades. Em época de cheia o
público que navega por ele são em sua maioria castanheiros, agentes de saúde e técnicos do
governo ou de ONG's. Existem embarcações que levam os ribeirinhos para a cidade de Rio
Branco em barcos coletivos, onde se cobra pela viagem, ou em barcos familiares, onde se
viaja a família inteira. Portanto, a navegação no Rio nesta época do ano é a mais fácil e a
possível de ser realizada já que os “ramais” são praticamente intransitáveis.
51
se como uma fonte de renda importante e significativa para as comunidades ribeirinhas, já
que o preço pago é relativamente maior. Aparentemente é um número considerável de
famílias envolvidas nesta prática e conseqüentemente um volume significativo de castanha
é comercializada (Figura 39).
Segundo o IBGE (2006) o Acre extraiu e comercializou 11.142 toneladas de
castanha para o ano de 2005. Somente o município de Rio Branco comercializou 2.823
toneladas o que representou em torno de 3,896 milhões de Reais.
A comercialização da castanha é particularmente preferida pelos ribeirinhos por dois
motivos: facilidade na coleta e bom preço de mercado. Segundo os agricultores a castanha
não sofre ou não depende de variações do ambiente, como a chuva. O trabalho que se tem
com essa atividade é a coleta e a quebra do ouriço. Toda família é envolvida neste trabalho.
O preço pago por uma lata de 20 litros de castanha em uma das associações de
moradores no Riozinho do Rôla é de R$12,00. No caso do seringueiro comercializar
diretamente no mercado em Rio Branco, este valor pode chegar a R$14,00. Segundo os
ribeirinhos é uma quantia boa para o pouco trabalho que realizam. Neste sentido reclamam
que o período de coleta e comercialização é pequeno, apenas três meses.
Além da castanha-do-brasil, outra fonte de renda obtida pelos ribeirinhos é a
extração de látex da seringueira (Hevea brasiliensis)1. Diferentemente da castanha, a
seringa tem sua produção garantida por todo ano, porém sofre variações de qualidade em
função da quantidade de chuvas e do local de sua ocorrência. Os seringueiros consideram
que se trata de um produto de pouco rendimento, onde 200 litros de látex fornecem,
aproximadamente, de 8 a 10 quilos de borracha. Este aspecto, associado à variação de
produção de diferentes seringais faz com que a produção de seringa oscile em termos de
quantidade e qualidade. Essas alterações têm por conseqüência, segundo os moradores, a
obtenção de uma renda não constante durante o ano, o que os força a buscar alternativas de
renda, como a criação de gado, dentre outros.
A ocorrência destes dois produtos principais de extrativismo, a castanha e a seringa,
segundo os ribeirinhos, são em áreas mais drenadas, longe de matas ciliares. Segundo os
ribeirinhos, a ocorrência de seringueiras em áreas um pouco mais úmidas ou sob condições
de drenagem deficientes, tem como conseqüência a produção de um látex de baixa
qualidade e pouco produtivo. O aparecimento da seringueira em áreas mais alagadas são
casos isolados. No entanto, observou-se uma grande concentração de seringueiras
1
Ainda de acordo com o IBGE (2006), em 2005 foram retiradas 2073 toneladas de látex (3,61 milhões de
Reais).
52
distribuídas ao longo do leito do Rio em épocas de cheia. Ocorrência que deverá ser
estudada com maiores detalhe posteriormente (Figura 40).
53
Por se tratar de uma região com características climáticas e biológicas específicas
com altas temperaturas, disponibilidade hídrica e fontes de dispersão, o processo de
regeneração natural é relativamente rápido. Nota-se que em áreas onde se iniciou a cultura
tem-se a presença de algumas espécies pioneiras, como a imbaúba. As Figuras 41, 42 e 43
ilustram diferentes áreas de produção em distintos estágios de regeneração após a limpeza e
conseqüente plantio de culturas.
Figura 41. Área recém desmatada para plantio de culturas na Colocação Dominguinhos,
Seringal Passagem no Riozinho Rôla (Foto: Izaias Fernandes, março de
2007)
54
Figura 42. Área plantada com culturas agrícolas onde inicia um processo de regeneração,
Colocação Dominguinhos, Seringal Passagem no Riozinho do Rôla (Foto:
Izaias Fernandes, março de 2007).
Figura 43. Área onde foi realizado o plantio de milho, em seguida será plantado feijão,
Colocação Dominguinhos – Seringal Passagem no Riozinho do Rôla (Foto:
Izaias Fernandes, março de 2007)
55
para o próprio consumo da fazenda e a exploração dos recursos florestais, quando existe,
são para aumentar a área de pastos ou para a comercialização da madeira.
A maioria das fazendas encontradas na bacia está localizada em pontos estratégicos
que facilitam sua comunicação e deslocamento. A localização próxima à Rodovia Estadual
AC 090 (Trasacreana) e a pouca distância com a cidade de Rio Branco facilita e
potencializa as atividades produtivas a serem desenvolvidas pelas fazendas.
4. Os povos ribeirinhos
56
Em um local onde a comunicação é deficiente, a instrução é mínima e a distância de
agentes de aplicação de políticas de controle de natalidade é grande, foi observado um
número relativamente alto de crianças por casal. Geralmente, a união entre casais se dá
prematuramente: a mulher se casa com idades variando entre 14 e 15 anos. A esposa se
dedica aos cuidados da casa e dos filhos, já o homem com a lida com o gado, à coleta de
castanha e a extração de seringa. Em algumas atividades produtivas a mulher tem maior
participação com a criação de pequenos animais e auxílio ao homem no plantio e colheita
da lavoura de mandioca, de feijão e de milho. A Figura 45 apresenta uma atividade
produtiva onde a mulher tem principal participação, a criação de pequenos animais.
Figura 45. Criação de pequenos animais na Colocação Ipiranga no Riozinho do Rôla (Foto:
Nazaré Macêdo, março 2007).
Embora seja uma morada simples, com poucos utensílios domésticos convencionais,
a casa do ribeirinho é asseada, muito limpa e de um aconchego característico. Geralmente a
casa é construída em um nível superior de aproximadamente 0,5 a 1 metro. Isso evita a
entrada dos animais para o interior da moradia.
Foi relatado pelos ribeirinhos sobre a ocorrência em maior ou menor grau de
doenças como malária, dengue e leshimaniose, dependendo da época do ano. São
enfermidades que, segundo os moradores, diferentes membros da família as contraíram por
diversas vezes. Ao mesmo tempo em que se observa a ocorrência dessas enfermidades,
existe a dificuldade de tratamento em função da distância e pelas dificuldades impostas
57
dependendo da época do ano. A pouca ou nenhuma presença de unidades médicas em
diferentes regiões também dificulta a vida e o tratamento médico destes ribeirinhos.
58
Figura 46. Batelões utilizados para o transporte Figura 47. Embarcação construída com uma
de diferentes produtos peça única de madeira
Figura 48. Residência de um ribeirinho construída de Figura 49. Escola construída de paxiúba e
madeira retirada da floresta na Colocação jarina, Colocação Ipiranga, Riozinho do Rôla
Boa Vista, Riozinho do Rôla (Foto: (Foto: Izaias Fernandes, março 2007)
Nazaré Macêdo, março de 2007)
59
Figura 50. Interior da casa de um ribeirinho, Figura 51. Casa de ribeirinha construída de palha de
Colocação Ipiranga, Riozinho do Rôla paxiúba, Colocação Dominguinhos ,
(Foto: Izaias Fernandes, março 2007) Riozinho do Rôla (Foto: Izaias Fernandes ,
março 2007)
Uma variedade de plantas é usada pelos ribeirinhos, muitas das quais em práticas
medicinais (Amorozo & Gély, 1988). A utilização de plantas e outros recursos para a cura
das enfermidades é comum. Algumas espécies utilizadas por eles como medicinais são o
jatobá (Hymenae spp.), a unha-de-gato (Mimosa bimucronata) e o cajiru que são, também,
extraídos da floresta.
Outro fato é a domesticação de animais silvestres realizado pelas famílias de
ribeirinhos, como o loro (Papagaio). Esta domesticação não chega a privar a liberdade dos
animais, uma vez que são capturados e criados em liberdade nos arredores da casa dos
ribeirinhos. Desta forma, o animal pode ir embora quando desejar.
Os animais constituem importante parte da dieta do ribeirinho. Begossi, Amaral &
Silvano (1995) estudando os habitantes do Alto Juruá afirmam que a caça é uma fonte de
proteína muito importante, principalmente durante a estação chuvosa. A caça realizada
pelos ribeirinhos não é comercial e sim de subsistência. O que preocupa é a pressão sobre
os animais com o aumento do número de famílias ribeirinhas. Também contribui para esta
pressão a presença constante de pessoas da cidade que caçam nas matas. Os ribeirinhos,
embora digam que exista ainda muita caça nas matas, o número de animais eram maiores
em anos passados.
Uma caça preferida pelos seringueiros é a carne de Anta. Entretanto, é este animal
que promove a dispersão das sementes de castanha que é comumente encontrada na região.
Essa caça pode comprometer a propagação desta espécie vegetal.
Outro uso dos recursos florestais é como fonte de energia, combustível. A
castanhinha é exemplo desta utilização.
60
Esses diferentes usos feitos pelos ribeirinhos demonstram o conhecimento que estas
comunidades têm para com os recursos que lhes são oferecidos, mas também sua grande
adaptabilidade de sobrevivência. O que pode ser comprovado ao se ouvir uma ribeirinha
dizer: “Não se passa fome na floresta. Sempre se tem um recurso disponível”.
6. Observações gerais
As populações em sua maioria que residem na bacia têm sua origem na região
nordeste do país através dos fluxos migratórios que ocorreram no início do século XIX
durante o ciclo da borracha. Com isso herdaram costumes e o modo de vida destas
populações: a linguagem e a alimentação refletem bem essa importação de cultura.
De acordo com Ribeiro (2006), o declínio dos seringais fez com que, estas
populações que extraiam o látex, por estarem marginalizadas economicamente, se
encontravam em uma situação de adaptação as formas de vida regional. Tiveram que caçar
utilizando arco e flecha para poupar munição; abrir roçado usando instrumentos
rudimentares e se alimentavam de comidas da terra como a tartaruga e o jacaré. Até então o
dono do seringal fornecia produtos industrializados vindos de fora do seringal.
No caso da região em estudo, a adaptabilidade dos povos ribeirinhos as diferentes
condições apresentadas pela floresta pode ser explicada por fatores como a transferência de
conhecimentos de povos indígenas nativos da Amazônia, por saberes trazidos de suas
regiões de origem, mas também de conhecimentos construídos dentro da Floresta. Neste
aspecto, é importante verificar a presença de pessoas de conhecimento dentro destas
comunidades e entender se existe uma transferência de saber para populações mais jovens.
Essas pessoas de conhecimentos são denominadas de especialistas por Brandão (1981).
Ao que parece, essa transferência ocorre e se trata de um processo que se inicia
cedo. Como aqui comentado, a permanência e freqüência na escola para esta região é
difícil, por isso é interessante verificar esse repasse de conhecimento tradicional apreendido
durante toda a vida e repassado pelos pais. Entender esse conhecimento é importante para
que se pense em estratégias educacionais ajustados as condições de vida dos ribeirinhos.
Em um local de uma grande abundância de recursos naturais, a noção de
conservação ou até mesmo de preservação ambiental é um tanto quanto deturpada. Por se
tratar da floresta Amazônica têm-se uma idéia de que os recursos naturais ali disponíveis
nunca ou dificilmente se extinguirão, a partir de um período de tempo que para nós é
conhecido. Ribeiro (1997) apresenta uma visão semelhante por parte de agricultores
61
familiares residentes na região da zona da mata mineira, especificamente na região do Vale
do Jequitinhonha e do Mucuri durante os primeiros anos de colonização da área.
Por isso, é importante reconhecer como estas populações enxergam seus recursos e
se têm a noção de um manejo mais conservacionista. É preciso entender como se dá o
manejo destes recursos naturais pelos diferentes agentes que residem dentro da bacia
hidrográfica com o intuito de propor estratégias de uso e gestão mais ajustadas a diferentes
visões de conservação da natureza.
Sobre a coleta da castanha é importante avaliar alguns aspectos que se relacionam a
disponibilidade deste recurso. O número de famílias envolvidas na coleta pode contribuir
para uma pressão sobre esse recurso. O melhor preço pago pela castanha pode causar uma
maior procura o que pode ser negativo pelo ponto de vista conservacionista.
A extração do látex apresenta algumas normas que são seguidas pelos seringueiros:
o descanso de árvores que não produzem ou produzem pouca quantidade e um respeito para
com a delimitação das áreas de extração da seringa. Mas, e a exploração de outros recursos
da floresta que são por eles utilizados? Existe alguma regra ou norma formulada para sua
utilização? Em que ponto estas regras podem contribuir para a formulação de estratégias de
gestão de bacias? Estes aspectos são importantes para se pensar na formulação de um plano
de manejo de bacias participativo e consciente.
Talvez seja importante levantar e identificar, dentre os ribeirinhos, estratégias
tradicionais de manejo da natureza. Isso possibilita que entendamos como se deu esse
processo, valorizar esse conhecimento, mas também pode contribuir para a ciência
acadêmica em aspectos que lhes possa ser desconhecida.
O aumento constante de desmatamento pode comprometer a coleta da castanha e
prejudicar no incremento de renda para as famílias ribeirinhas. As associações existentes no
Riozinho podem contribuir com a organização do ponto de vista produtivo e de
comercialização, atuando no sentido de sensibilizar as famílias sobre estas questões
apontadas anteriormente.
A renda familiar do ribeirinho parece ser dispersa e variável dependendo da
atividade. Investigar esta renda dá suporte para criação de alternativas de renda mais justas
e conservacionistas, em sobreposição a formas de manejo, que embora possam parecer mais
rentáveis, são degradatórias ao ambiente de estudo, como no caso da criação de gado.
Parecem existir dois principais públicos que desenvolvem diferentes atividades: os
agricultores familiares extrativistas (ribeirinhos) e o pecuarista. A separação destes dentro
da bacia parece ser nítida. No baixo Riozinho há a presença de fazendeiros que se dedicam
62
a criação de gado, já no alto e médio Riozinho do Rôla há predominância de agricultores
familiares que mesclam suas atividades entre a extração de seringa, a coleta da castanha, a
agricultura de subsistência. Esse agricultor extrativista realiza uma criação de gado que
varia de acordo com a propriedade em termos do tamanho do rebanho e do pasto.
A maior dependência dos recursos da floresta pelos agricultores extrativistas ou
ribeirinhos pode ser em função da maior distância até a cidade de Rio Branco, o que
dificulta a obtenção de recursos vindos destas áreas urbanas, como recursos públicos e
serviços. Esse relativo isolamento favoreceu uma maior interação destes para com a
floresta.
Por outro lado, parece existir uma maior utilização dos recursos por parte dos
fazendeiros do baixo Riozinho e, conseqüentemente, uma maior degradação. Outro aspecto
é a interferência das áreas urbanas para com os recursos dentro da bacia: quanto mais
próximo da cidade mais degradado são os recursos.
Enfim, as atividades pecuaristas são grandes áreas concentradas no baixo Riozinho
do Rôla, dedicadas exclusivamente a criação de gado e empregam, relativamente, poucas
pessoas. Portanto, comparando com os pequenos proprietários do alto Riozinho, a geração
de renda destas propriedades traz pouco ou nenhum benefício para o município e para a
natureza. Neste sentido, seria interessante relacionar a importância destas duas atividades
conflitantes dentro da bacia investigando estas distintas unidades produtivas para que a
elaboração de programas e projetos de desenvolvimento para a bacia hidrográfica seja o
mais eficiente possível.
Objetivo 8.
63
Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, Rio Branco - Acre
O Riozinho do Rôla foi percorrido por barco tipo voadeira por 4 dias, nesta viagem
observou-se uma vasta região, que mesmo sendo próxima da capital de Rio Branco, possui
uma diversidade cultural, social, econômica e ambiental, que a cada momento era
percebida.
Durante a viagem, o pernoite foi realizado nas residências dos moradores locais,
tendo como finalidade realizar conversas informais com vistas a compreender a diversidade
cultural que existe na bacia, assim como identificar as reais necessidades dos moradores e
suas prioridades em relação aos aspectos dos recursos hídricos.
Ao chegar à foz do Rio, subindo em direção até a 3ª. Ponte (União) observa-se as
margens em sua maioria desmatadas, utilizadas com pastagem extensiva por grandes
fazendas e também por agricultores ribeirinhos que residem em área de assentamento do
INCRA, assim como a água com uma maior carga de sedimentos em suspensão e (Figura
53).
64
Figura 53. Margens desmatadas e água com sedimentos em
suspensão ao longo do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira,
maio de 2006)
Figura 54. Extratos de solos arenosos no fundo, ao longo do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira,
maio de 2006)
65
Figura 55. Água mais escura com menor carga de Figura 56. Manutenção de florestas as margens
sedimentos em suspensão ao longo do do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira)
Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira, maio
de 2006)
66
escassez de recursos os pluviômetros foram fabricados com canos de PVC, conforme
especificação como mostra o Quadro 6 a seguir:
Como era período de seca, o acesso aos locais foi realizado por meio de veículo tipo
Toyota e caminhadas, no qual foram exploradas várias áreas da bacia para poder encontrar
os pontos selecionados, ou identificar novos locais potenciais para instalação (Figuras 57,
58, 59, 60).
Figura 57. Inicio da expedição da equipe para Figura 58. Moradores da Reserva Extrativista Chico
identificar os locais potenciais e instalar Mendes, Colocação São João do
os pluviômetros (à direita professor Herly Guarani, e pesquisadores após conversa
da UFV, no centro Marlene – técnica do sobre o projeto. Município de Xapuri
IMAC/AC e Nazaré Macêdo – (Foto: José Passos)
pesquisadora do projeto). Balsa do Rio
Xapuri - Foto: José Passos
67
Figura 59. Sentido município de Assis Brasil em Figura 60. Caminhada de 4 horas com moradores da
busca da nascente do Riozinho do Rôla, região para chegar a uma das nascentes do
entrada da Reserva Extrativista Chico Riozinho do Rôla, na Colocação Boa Vista,
Mendes, pesquisadores no carro e o Reserva Extrativista Chico Mendes (Foto:
motorista Raimundo de blusa vermelha José Passos)
(Foto: Herly Dias)
68
Outro ponto importante de ser ressaltado, é que as pessoas da família deveriam indicar
alguém para realizar essas medições, contando que fosse uma pessoa alfabetizada, fato esse
lidado com muito cuidado e respeito para não haver constrangimento com relação às
pessoas diante da situação.
Com isso, diante das dificuldades encontradas, o período de tempo gasto para a
instalação dos pluviômetros foi insatisfatório, uma vez que era necessário indagar e realizar
todas as discussões, tirar dúvidas, ter uma conversar tranqüila com a família sobre o projeto
e também sobre o processo de instalação dos pluviômetros. Além disso, o processo de
abordagem com as famílias, ou seja, a chegada na propriedade foi inesperada e muito
brusca, tendo um desencontro entre os membros da equipe em relação ao diálogo inicial
para com os moradores que se acredita ter deixado-os em alguns momentos confusos com
tanta informação. Esse processo possibilitou a equipe, analisar metodologia de abordagem e
replanejar suas ações em períodos mais longos de permanência com as famílias chaves.
Após o morador aceitar a instalação em sua propriedade, locais estratégicos foram
selecionados, considerando os seguintes aspectos:
• O pluviômetro deve ser instalado aproximadamente a 1.5m de altura.
• A boca do pluviômetro deve estar a esta altura.
• Em geral se instala em um poste de madeira ou em qualquer objeto que
permita que o instrumento esteja à altura indicada e que não bloqueie a parte
superior do pluviômetro, por donde deve passar a água de chuva.
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• O poste deve aderir-se a uma estrutura de madeira ou algo que permita
colocar o pluviômetro.
• A maneira mais fácil de aderir este suporte é utilizando um arame e
ajustando-o até que o suporte fique bem fixo no poste.
Em seguida foi solicitada a contribuição do morador para realizar a instalação em
conjunto com os pesquisadores, sendo importante essa participação no sentido de se
aproveitar para explicar o processo que deveria ser realizado na medida da precipitação
(chuva), assim como os cuidados a serem tomados com o aparelho (Figuras 62a, b e 63). A
Figura 64 mostra a distribuição na bacia hidrográfica do Riozinho de 13 pluviômetros que
foram instalados durante essa expedição. Conforme foi ressaltado anteriormente, serão
instalados mais quatro pluviômetros um em cada nascente dos afluentes do Riozinho do
Rôla, que são: Igarapé Espalha, Vai-Se-Ver, São Raimundo e Caipora.
(a) (b)
Figura 62. (a e b) Fincamento do mourão para instalação do pluviômetro - Colocação Santana, Igarapé
Caipora – Afluente do Riozinho do Rôla (Pesquisadores e morador local) Foto: Nazaré
Macêdo, outubro de 2006
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Figura 63. Pluviômetro instalado na Colocação Samaúma, Reserva
Extrativista Chico Mendes (Foto: Marlene Fugiwara,
setembro de 2006)
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Esse processo foi agilizado devido à preocupação por parte do coordenador e
pesquisadores do projeto em não perder o período de chuvas da região, fato que poderia
prejudicar na coleta dos dados e seqüência diária da quantidade de chuva mensurada. Além
disso, um breve retorno teria que ser realizado para as famílias que se propuseram em
contribuir com a medição da precipitação em suas propriedades. Sendo assim, outra viagem
foi realizada no período de 16 a 28 de março de 2007, com vistas à entrega das provetas e
caracterização preliminar da região no que se refere à dinâmica de relevo e solos, aspectos
socioeconômicos como referido neste relatório.
A entrega das provetas possibilitou readequar a metodologia anterior de abordagem
e realizar a capacitação de forma tranqüila das pessoas que foram selecionadas pelas
próprias famílias para medir a chuva, ou seja, foi oportunizado um período de tempo maior
nas propriedades. Isso possibilitou explicar com maior nível de detalhe as medições que
deveriam ser realizadas e o registro das mesmas.
Dessa forma, esse processo tem como objetivo proporcionar a auto- aprendizagem
referente às questões ambientais, tanto para os pesquisadores quanto para os moradores
locais, assim como, permitir que ambos possam entender como ocorre à dinâmica e
distribuição das chuvas que abastece a bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla.
Ao realizar as primeiras explicações para a comunidade sobre como medir a chuva
utilizando a proveta percebeu-se que as mesmas estavam ficando constrangidas, pois os
outros membros da equipe observavam e muitas vezes tentavam ajudar de alguma forma,
aumentando ainda mais o nervosismo do morador (a).
Com isso, ficou claro naquele momento que esta forma de abordagem estava
restringindo os moradores em pensar sobre o que estávamos explicando, e até mesmo a
executar a prática para realizar a medição, fato preocupante no momento, sendo que
poderia vir a prejudicar o processo de construção da troca de conhecimento. Com isso, após
identificar esse ocorrido, os demais membros da equipe era deslocado para outras áreas de
estudo, ficando apenas um pesquisador, que de forma seqüenciada, passou a explicar sobre
o processo de medição da precipitação, tentando resgatar a importância da participação
local, mostrando o valor da parceria comunitária para o desenvolvimento do projeto, assim
como a troca de informações sobre as questões ambientais (Figura 65).
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Figura 65. Pesquisadora Nazaré Macêdo explicando para a
Sra. Fátima como realizar a coleta de chuva para
posterior medição – Colocação Dominguinhos,
Seringal Passagem, no Riozinho do Rôla (Foto:
Edson Araújo, março 2007)
Em seguida, observou-se que o morador (a) foi ficando mais tranqüilo, realizando e
entendendo todo o procedimento (Figura 66, 67 e 68a e b). A partir desse momento todas as
demais explicações foram realizadas seguindo essa estratégia, ter apenas uma pessoa da
equipe para explicar sobre a medição da precipitação.
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(a)
(b)
(c)
Figura 68. Seqüência mostrando os procedimentos de coleta (a), medição (b) e registro (c) realizado na prática
pelo Sr. José Augusto, morador da Colocação Macaúba, foz do Igarapé Espalha, afluente do
Riozinho do Rôla (Foto: Nazaré Macêdo, março 2007)
CONCLUSÕES
Diante dos resultados que foram explicitados, torna-se importante ressaltar que o
processo de construção do projeto no que se refere à consolidação das parcerias no estado
do Acre está em fase de consolidação, sendo que todas as instituições estão interessadas no
fortalecimento das parcerias, com isso, será realizada uma reunião em agosto para propor
ações integradas com vistas em uma maior eficiência das atividades dentro da bacia.
Com a realização das atividades que foram realizadas e que estão descritas neste
relatório foi possível se aproximar ainda mais das comunidades que residem na bacia,
considerando que, ao percorrer a bacia, e também por ter a preocupação de parar nas
propriedades e informar o que a equipe estava realizando na região, além de que foi
notificado no rádio local por meio de mensagem sobre o projeto, observou-se que o projeto
está sendo disseminado na região, fato importante, pois irá possibilitar em um maior
74
entendimento pelas famílias que residem no interior da bacia, assim como do seu entorno,
sobre as ações do projeto, assim como os resultados.
Quanto à caracterização dos ambientes pode-se perceber que esse estudo preliminar
irá contribuir com ações futuras de levantamento de solos e até mesmo pode ser
considerado como o primeiro passo que foi dado, no resgate do saber local, pois como já foi
relatado, buscou-se integrar os moradores nas atividades de caracterização, proporcionando
assim uma valoração deste saber, além de que se pode compreender que moradores locais
da bacia possuem conhecimentos tradicionais sobre o seu ecossistema que podem
contribuir e garantir a preservação dos recursos hídricos da região.
No que se refere ao monitoramento de precipitação pode-se considerar que uma
base de coleta já está montada na bacia, no entanto, serão instalados mais quatro
pluviômetros para possibilita a coleta de dados de chuvas nas nascentes. Outro fato
importante é com relação aos agentes multiplicadores, pessoas selecionadas para medir a
quantidade de chuva, pois se iniciou um processo de troca de conhecimento entre técnicos e
comunitários, processo esse que é de fundamental importância para a compreensão da
dinâmica do balanço hídrico da bacia.
OBSERVAÇÕES
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Objetivos/atividades Equipe
Objetivo 1. Herly C Ma. de Nazaré C. Edson Araújo Izaias France José Marlene Marcondes
T. Dias Macêdo Fernandes Gontijo Passos Ferreira
Contato institucional para viabilização do projeto em Rio x
Branco, Acre
Programação das reuniões x
Objetivo 2.
Programação do curso em metodologias de abordagem x x
participativas
Inscrição do curso e certificado x
Objetivo 3.
Programação do curso - Manejo Integrado de Bacias x x
Hidrográficas
Objetivo 6
Prospecção e estudo preliminar de solos e ambientes da bacia x x x x x
hidrográfica do Riozinho do Rôla
Análise preliminar das características socioeconômicas das x x x x x x
populações ribeirinhas do Riozinho do Rôla, Rio Branco, Acre.
Objetivo 8.
Percorrendo a bacia: primeira viagem x x x
Instalação de pluviômetros x x x x
Entrega de provetas x x x x
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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utilização em levantamentos pedológicos. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v.6,
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Solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, v.4, p.145-192, 2005.
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ANEXOS
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