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REALIZAÇÃO REALIZAÇÃO PATROCÍNIO PATROCÍNIO

HOMEM E A FLORESTA, AS ÁGUAS E O SOLO: A


INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA PARA SUSTENTAÇÃO DA VIDA
NA REGIÃO ACREANA, BRASIL

PARCEIROS

IMAC/AC SEMEIA/PMRB
HOMEM E A FLORESTA, AS ÁGUAS E O SOLO: A INTEGRAÇÃO
NECESSÁRIA PARA SUSTENTAÇÃO DA VIDA NA REGIÃO
ACREANA, BRASIL

Equipe Função
Herly Carlos Teixeira Dias Professor do DEF/UFV
Engenheiro Florestal Coordenador Técnico do Projeto
Dr. Manejo do solo e Nutrição de plantas Orientador dos Estudos
Maria de Nazaré Costa de Macêdo Pesquisadora
Engenheira Agrônoma Doutoranda em ciência Florestal –
MSc. Extensão Rural DEF/UFV
Izaias Fernandes Santos Pesquisador
Engenheiro Florestal Mestrando em Ciência Florestal –
DEF/UFV
Edson Alves de Araújo Pesquisador
Engenheiro Agrônomo Doutorando em Manejo de Solos e
Secretaria de Agricultura e Pecuária do Acre Nutrição de plantas – DPS/UFV
MSc. Manejo de Solos e Nutrição de Plantas Colaborador na Coleta de Solos
Maria France Gontijo Coelho Co-orientadora dos estudos e cursos de
Historiadora capacitação
Dra. em Sociologia
José Pereira Passos Técnico do Departamento de Recursos
Tecnólogo em Topografia e Estradas Hídricos do IMAC/AC
Marlene Fugiwara Aparecida Gerente do Departamento de Recursos
Bióloga Hídricos do IMAC/AC
Marconde Maia Ferreira Técnico do Zoneamento do Município
Biológo de Rio Branco
Nelson Antônio Carneiro Pinheiro Responsável pela condução do barco
Técnico administrativo do IMAC/AC
Antonio Marcos Silva Velásquez Responsável pela segurança e bom
1º Tenente BM, Corpo de Bombeiros. desenvolvimento da viagem
Joane Geronimo Rodrigues Responsável pela segurança e bom
Sargento BM, Corpo de Bombeiros. desenvolvimento da viagem
José Valfredo Responsável pela condução do barco

2
SUMÁRIO

Páginas

RESUMO EXECUTIVO 5
Objetivo 1 6
1. Construção do projeto e apresentação aos parceiros 6
a) Contato institucional para viabilização do projeto em Rio 6
Branco, Acre
b) Programação das reuniões 6
Objetivo 2. 8
1.Capacitação de técnicos 8
a. Programação do curso em metodologias de abordagem 8
participativas
b) Inscrições do curso e Certificados 9
Objetivo 3. 9
1.Capacitação de Técnicos 9
a. Programação do curso - Manejo Integrado de Bacias 9
Hidrográficas
Objetivo 6. 10
1. Prospecção e estudo preliminar de solos e ambientes da bacia 10
hidrográfica do Riozinho do Rôla
1. Introdução 10
2. Metodologia de Trabalho 11
2.1. Preparo da viagem (Viçosa-MG) 11
2.2. Preparo da viagem (Rio Branco) 12
2.3. Logística da viagem – navegação no Riozinho e estudo 12
de solos e ambientes
3. Resultados Preliminares 16
3.1. Aspectos hidropedológicos da bacia hidrográfica do 16
Riozinho do Rôla
3.2. Impressões ao longo do Riozinho do Rola e afluentes 22
3.3. Relação solo paisagem em área de influência do 30
Riozinho do Rôla
2. Análise preliminar das características socioeconômicas da população 49
ribeirinha do Riozinho do Rôla, Rio Branco – Acre
1. Introdução 49
2. Caracterização ambiental 49
3. Produção e fontes de renda 51
3.1. Extrativismo vegetal 51
3.2. Produção de subsistência 53
3.3. Produção tecnificada: as fazendas 55

3
4. Povos ribeirinhos 56
5. Os usos e a relação dos recursos naturais com os 58
ribeirinhos
6. Observações gerais 61
Objetivo 8 63
1. Percorrendo a bacia: primeira viagem 63
1.1. Instalação dos pluviômetros 66
1.2. Entrega de provetas 71
CONCLUSÕES 74
OBSERVAÇÕES 75
EQUIPE 76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77
ANEXOS 79

4
RESUMO EXECUTIVO

Estudos voltados para os recursos hídricos no que se refere a sua dinâmica,


associada à preservação, ainda são deficientes na região Amazônica, principalmente no
Estado do Acre. Com características ambientais distintas dos demais estados da
Amazônia, o Acre possui aproximadamente 90 % de cobertura florestal, fator
importante para a manutenção e conservação dos corpos d’água. No entanto, a pressão
sobre os recursos hídricos no Acre continua a evoluir, em decorrência do avanço da
fronteira agrícola e abertura de novas vias de acesso.
Nesse contexto, a Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, afluente do Rio
Acre, e com cerca de 7,6 km2, se destaca como uma bacia prioritária para conservação.
Além disso, é a única hidrovia de acesso às comunidades ribeirinhas aos centros
urbanos durante a maior parte do ano, garantindo-lhes o escoamento da produção, busca
de serviços, educação e saúde. Some-se a isso o fato de ainda exercer a função de
suprimento alimentar, através da pesca.
Sendo assim, torna-se prioritário o conhecimento dos recursos naturais da
região, a forma como as comunidades convivem com as dificuldades e limitações
impostas pelas distâncias e os problemas de acesso na região.
Para tanto, o presente projeto conta com uma equipe mutidisciplinar proveniente
de instituições federais, estaduais e muncipais, além da participação da comunidade
local.
O projeto inclui a capacitação de técnicos da região que irão contribuir com uma
abordagem técnica diferenciada das convencionais, visando à troca de conhecimentos
entre a população local e técnicos que possam refletir sobre estratégicas eficientes
direcionadas para a gestão dos recursos naturais.
Na fase inicial efetuaram-se os contatos inicias visando o fortalecimento das
parcerias, além da caracterização inicial da Bacia, referente às questões
socioeconômicas, solo, e água. Nesse processo, sempre que possível, tentou-se resgatar
o saber local, de fundamental para a gestão ambiental integrada.
O presente relatório tem como objetivo apresentar as atividades do referido
projeto que foram desenvolvidas com vistas na sua elaboração e atividades referentes ao
1º. Trimestre de 2007.

5
Objetivo 1.

1. Construção do projeto e apresentação aos parceiros

a) Contato institucional para viabilização do projeto em Rio Branco,


Acre

O processo de construção deste projeto teve um diferencial no que se refere a


sua implantação e implementação. Sendo que, o contato inicial teve como objetivo
conhecer as demandas do Estado em relação aos recursos hídricos e identificar qual área
os estudos pudessem vir a ser realizados. Assim, o Grupo de Pesquisa e Extensão em
Sistemas Agroflorestais do Acre – PESACRE, propôs como área – piloto e unidade de
análise a Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, por ser uma área prioritária para
conservação em decorrência de sua contribuição no abastecimento de água para o
município de Rio Branco. Além disso, é considerada como uma área do município que
possui maior preservação dos recursos naturais, no entanto, o processo de pressão sobre
esses recursos está em expansão, correndo o risco de grandes impactos ambientais
futuramente.
A partir desse aceno iniciaram-se, de forma presencial os contatos com pessoas
chaves representantes de instituições que estão diretamente trabalhando na bacia
hidrográfica do Riozinho do Rôla, como: IMAC/AC, SEMEIA/PMRB, IBAMA, os
quais, vários encontros foram realizados em Janeiro de 2006. O principal assunto em
pauta nos encontros foi o apoio logístico para possibilitar a viabilização dos estudos na
região.

b) Programação das reuniões

Serão realizadas 3 reuniões de apresentação do projeto nas regiões do baixo,


médio e alto Riozinho do Rôla, com as comunidades que residem no local e instituições
parceiras. Essas reuniões têm como principal objetivo dar continuidade ao processo de
esclarecimento referentes às atividades que serão realizadas durante o período de
implementação do projeto na região, assim como esclarecer sobre seu objetivo,
instituições que estão envolvidas, sobre quem são os parceiros, quem está financiando o
projeto e consolidação da parceria com as comunidades. Para subsidiar a elaboração da
programação das reuniões, foi realizado um pré-contato com algumas lideranças, que
possibilitou identificar locais estratégicos para as reuniões com vistas em uma maior

6
participação das comunidades que residem nas regiões do Alto, médio e Baixo da bacia.
Dessa forma, o Quadro 1 mostra a programação das reuniões.

Quadro 1. Programação das reuniões de apresentação do projeto para as comunidades que


residem nas três regiões da bacia (Baixo, Médio e Alto).

HOMEM E A FLORESTA, AS ÁGUAS E O SOLO: A INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA


PARA SUSTENTAÇÃO DA VIDA NA REGIÃO ACREANA, BRASIL
PROGRAMAÇÃO DAS REUNIÕES
Apresentação do projeto as comunidades locais da Bacia Hidrográfica do Riozinho
do Rôla
1ª. Reunião 2ª. Reunião 3ª. Reunião
Local: Assentamento Moreno Local: Colocação Conselho – Local: Colocação Boa
Maia Igarapé São Raimundo Vista
Baixo Riozinho Médio Riozinho Alto Riozinho
12/08/2007 (Domingo) 18/08/2007 – Sábado 25/08/2007 - Sábado
Apresentação dos Participantes Apresentação dos Participantes Apresentação dos
Participantes
Objetivo da reunião Objetivo da reunião Objetivo da reunião
Explicar sobre Bacia Hidrográfica Explicar sobre Bacia Explicar sobre Bacia
Hidrográfica Hidrográfica
Apresentação do Projeto Apresentação do Projeto Apresentação do Projeto
• Objetivos do projeto • Objetivos do projeto • Objetivos do
• Atividades que serão • Atividades que serão projeto
realizadas no Riozinho realizadas no Riozinho • Atividades que
• Medidores de chuva • Medidores de chuva serão realizadas no
• Instituições parceiras e • Instituições parceiras e Riozinho
apoio apoio • Medidores de
• Parceria da comunidade • Parceria da chuva
comunidade • Instituições
parceiras e apoio
• Parceria da
comunidade
Discussão sobre o projeto Discussão sobre o projeto Discussão sobre o projeto
• Que beneficio está • Que beneficio está • Que beneficio está
levando para região levando para região levando para
• Continuidade do projeto • Continuidade do região
• O que os moradores projeto • Continuidade do
acham do projeto • O que os moradores projeto
acham do projeto • O que os
moradores acham
do projeto
Encaminhamento das próximas Encaminhamento das próximas Encaminhamento das
atividades do Projeto na região atividades do Projeto na região próximas atividades do
Projeto na região

As reuniões serão realizadas nos finais de semana em decorrência da


disponibilidade dos moradores locais serem apenas nestes dias, pois durante a semana
estão trabalhando nas atividades produtivas. O contato com as comunidades será
realizado em forma de mensagem pela rádio difusora que alcança todo o estado em
horário nobre (6h e 18h) e através das instituições parceiras que trabalham na região.

7
Objetivo 2.
1.Capacitação de técnicos
a) Programação do curso em metodologias de abordagem
participativas

O projeto propõe a formação de uma equipe: técnico contratado pelo projeto,


três estagiários (agronomia, florestal e ciências sociais) estudantes da Universidade
Federal do Acre (UFAC) e um técnico do IMAC/AC, que irão realizar o processo de
articulação junto às comunidades locais e instituições parceiras para a viabilização das
atividades.
Com isso, está programado para o 2º. Trimestre um curso sobre metodologia de
abordagem participativa com carga horária de 16 horas para os técnicos do projeto e
técnicos das instituições parcerias que estão envolvidos com atividades na bacia
hidrográfica do Riozinho do Rôla.
Para ministrar o curso será uma equipe multidisciplinar, com professores da
UFV e profissionais da região, permitindo assim uma troca de conhecimento da
realidade local e garantindo que o curso tenha uma maior eficiência em relação ao seu
conteúdo.
Dessa Forma, o curso tem como objetivo treinar os técnicos em instrumentos
dinâmicos e interativos que irão possibilitar no campo um envolvimento maior com a
população, garantindo as comunidades o papel de agentes ativos no processo
permanente da busca pela sustentabilidade dos recursos naturais, favorecendo aos
técnicos um aprendizado constante. Assim, segue a lista de instituições e quantidade de
técnicos (as) que serão convidados para participar do curso (Quadro 2), assim como a
programação do mesmo (Anexo 1).

Quadro 2. Lista de instituições e quantidade de técnicos que serão convidados para o curso
metodologia de abordagem participativa.

Quant. de Instituição Técnicos (as)


Técnicos (as)
para participar
do curso
4 PROJETO Atuando no projeto e Estagiários.

5 IMAC Atuando em atividades do Projeto.


1 CNPt/ XAPURI Trabalha na Reserva Extrativista Chico
Mendes, que está dentro da área do
Riozinho.

8
2 SEATER/XAPURI Trabalham na Reserva Extrativista.
2 SEATER/ BRASILÉIA Trabalham na Reserva Extrativista.
2 SEATER/RIOBRANCO Trabalham em assentamentos dentro da
área do Riozinho.
5 SEMEIA/PMRB Trabalham diretamente no Riozinho do
Rôla.
1 ZONEAMENTO/PMRB Trabalha com o Zoneamento de Rio
Branco.
1 IBAMA Coordena as ações da Reserva Extrativista
Chico Mendes.
1 PESACRE Realiza trabalho na região do Riozinho.
Centro dos Trabalhadores da Trabalha com comunidades rurais em
1
Amazônia – CTA geral.
Cooperativa Central de Trabalha com comunidades extrativistas.
Comercialização Extrativista do
1
Estado do Acre - COOPERACRE
Associação de Moradores e Trabalha com comunidades rurais em geral
Produtores da Reserva do município de Brasiléia.
1
Extrativista de Brasiléia –
AMOPREB
Associação de Moradores e Trabalha com comunidades extrativistas do
Produtores da Reserva município de Assis Brasil.
1
Extrativista de Assis Brasil -
AMOPREAB
Associação de Moradores e Trabalha com comunidades extrativistas do
Produtores da Reserva município de Xapuri.
1
Extrativista de Xapuri -
AMOREX
30

b) Inscrições do curso e Certificados

As inscrições serão realizadas quando estiver definido o local de realização do


curso, sendo que será encaminhado um oficio direcionado aos Secretários das
Instituições para indicação dos técnicos que irão participar do mesmo. Com isso, segue
o certificado (Anexo 2) a ser entregue aos participantes no encerramento do curso.

Objetivo 3.

1.Capacitação de Técnicos

b. Programação do curso - Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas

Dando continuidade a capacitação da equipe do projeto e técnicos das


Instituições parceiras será realizado um curso sobre Manejo integrado de Bacias
Hidrográficas. Esse curso tem como objetivo fornecer noções básicas sobre manejo de
bacias hidrográficas e instrumentos técnicos que possam auxiliar na elaboração do
planejamento integrado e gestão dos recursos hídricos da região. Além disso, subsidiar

9
com fundamentos técnicos a equipe com vistas garantir uma maior eficiência na atuação
das atividades na bacia, junto às comunidades locais.
O curso será realizado no 2º. Trimestre de 2007, com carga horária de 24 horas e
data a definir, tendo como facilitadores professores da UFV e profissionais da região
que atuam na área de recursos hídricos. Com isso, segue o plano do curso no Anexo 3, e
o certificado que será entregue aos participantes no encerramento do mesmo (Anexo 4).

Objetivo 6.

1.Prospecção e estudo preliminar de solos e ambientes da bacia hidrográfica do


Riozinho do Rôla

“Não existe mais lugar bom!


Lugar bom é aonde a gente
Tira nosso sustento”
(Fantoca – Confluência Igarapé
Espalha- Riozinho, Colocação Amapá).

1. Introdução

A bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla situa-se a Sudeste do estado do Acre,


na porção mais a oeste do município de Rio Branco. A bacia ocupa uma área de 7,6
km2, em sua maioria, no município de Rio Branco, e em menor proporção nos
municípios de Xapuri e Brasiléia. É o principal afluente do Rio Acre.
Durante boa parte do ano o Riozinho do Rôla não é navegável (sequer por
pequenas canoas), em virtude da grande oscilação de suas cotas fluviométricas. Durante
este período (geralmente de abril a novembro), alguns trechos do leito do rio chegam a
secar por completo. As populações que aí residem (seringueiros, ribeirinhos, assentados,
pecuaristas) fazem uso de estradas, ramais e varadouros para se deslocarem de suas
localidades. Os referidos ramais na estação chuvosa não apresentam condições de
trafegabilidade em virtude da atividade da argila (desliza e gruda) e da carência de
material graúdo para compor as estradas de barro.
Na estação de maior índice pluviométrico (dezembro a março) a região é tomada
por uma “explosão de vida”, uma vez que grandes extensões de terra próximas ao leito
do rio e igarapés (afluentes de natureza perenes e intermitentes) são inundadas
sazonalmente, formando ecossistemas semelhantes ao Pantanal Brasileiro e ao
Everglades nos EUA.
Com volume de água que chega a alcançar centenas de metros distantes do leito
e com uma pluviosidade anual considerável (cerca de 2000 mm), como se explica que

10
determinados trechos do rio, durante a estação de menor índice pluviométrico, chegam a
secar por completo, sendo possível até transpor seu leito a pé?
Uma explicação provável para este fenômeno deve-se ao fato dos solos da
região, em sua maioria, serem bastante tamponados em relação a sua capacidade de
armazemanento de água, ou seja, o solum (horizontes A +B), em sua maioria, são rasos
(< 50 cm) a pouco profundos (≤ 100 cm). Essa característica é marcante em alguns solos
do Acre que tiveram os processos de pedogênese (formação do solo) retardados em
virtude da natureza pelítica do material sedimentar (argilitos e siltitos) da Formação
Solimões (Brasil, 1976). Isso faz com que estes solos apresentem uma baixa
permeabilidade (encharcam facilmente) e o excedente seja carreado por deflúvio
superficial.
Isso evidencia a importância da cobertura vegetal ao longo dos rios, igarapés e
nascentes de forma a evitar impactos negativos sobre o meio ambiente, tais como o
assoreamento, alterações no ciclo hidrológico e condições extremas de enchente e seca.
O objetivo deste relatório é apresentar as primeiras “impressões” e resultados
preliminares acerca do estudo dos solos e ambientes em áreas de influência direta e
indireta da bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla. Além disso, os resultados dessa
primeira viagem de reconhecimento da área para a coleta de solos irão contribuir com a
programação das viagens subseqüentes, garantindo sua eficiência e eficácia, e de
maneira integrada com os demais componentes do projeto, procurar maximizar o tempo
e os recursos necessários para sua consecução.

2. Metodologia de trabalho

2.1. Preparo da viagem (Viçosa - MG)

Preliminarmente efetuou-se uma pesquisa bibliográfica a respeito das informações


do meio físico e biótico da região de estudo. Os materiais encontrados, em sua maioria,
demonstram que na região de inserção do projeto, praticamente, inexistem estudos
detalhados do meio físico. Assim, encontraram-se estudos generalizados que
contemplam a área de estudo ou áreas próximas em levantamentos dos recursos naturais
do Projeto Radambrasil (Brasil, 1976), do PMACI I (IBGE, 1994), do Zoneamento
Ecológico e Econômico do Acre (Acre, 2000), e de estudos paleoambientais (Latrubesse
et al., 1997; Westaway, 2006), geoquímicos (Kronberg et al., 1989; Kronberg &
Benchimol, 1992), geológicos (Cavalcante, 2005) e acerca da fluviometria do Rio Acre

11
(Resende & Pereira, 1988). Estas referências, a princípio, serviram para uma sondagem
preliminar e como subsídio para a metodologia de trabalho a campo e discussão do
presente relatórios, dentre outras que serão citadas.
De forma a facilitar a identificação das unidades de solos e ambientes da área de
influência direta e indireta do Riozinho do Rôla, elaborou-se o mapa de altitude da
região com o auxílio do Modelo Digital de Elevação (MDE), mapa de declividade, de
forma a estratificar as regiões por intermédio dessas duas variáveis, juntamente com o
mapa pedológico do Acre na escala de 1: 250.000 (Anexo 5).

2.2. Preparativo da viagem (Rio Branco)

Anteriormente a viagem de campo, período de 13 a 16 de março de 2007, a equipe


técnica realizou reuniões para discutir o roteiro da viagem, a logística de hospedagem e
alimentação no campo. Além disso, discutiram-se preliminarmente os objetivos da
viagem e a forma de prospecção e estudo a campo.
Nesse período também foi selecionado todo o material necessário para coleta de
dados a campo, tais como: GPS, pá, enxada, manual de descrição, caderneta de campo,
máquina fotográfica, pranchetas, filmadora dentre outros. Materiais que foram
emprestados pelas instituições parceiras.

2.3. Logística da viagem – navegação no Riozinho e estudo de solos e ambientes

A equipe técnica contou com o apoio de barcos tipo voadeira, sendo um com motor
de 25 HP, 40 HP, e de 8 HP, cedidos pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre –
IMAC/AC (Figura 1). Os barcos foram conduzidos por dois barqueiros (José Vidal e
José Valfredo), também cedidos pelo IMAC/AC.
A equipe saiu do porto de Rio Branco no final da tarde do dia 16 de março de 2007.
No Amanhecer do dia seguinte, a equipe técnica fez mais uma reunião com os
barqueiros de forma a esclarecer para os mesmos o objetivo da viagem e o itinerário a
ser realizado.
Durante a navegação pelo Riozinho e seus principais afluentes efetuavam-se
discussões, anotações e registro (fotografias e filmagens) de aspectos relevantes como o
uso da terra, a tipologia florestal, processos erosivos, assoreamentos e movimentos de
terra, dentre outros aspectos.

12
Figura 1. Detalhe das voadeiras no porto de Rio Branco e que foram utilizadas na viagem ao
Riozinho do Rôla (Foto: Leandro Macedo, março de 2007).

Assim, as paradas eram realizadas em locais onde haviam sido instalados


previamente os pluviômetros
Em cada local efetuou-se conversas informais com o (a) morador (a) para obter
as primeiras impressões do local. Nessa fase procurou-se resgatar algumas informações
relacionadas à fertilidade dos solos, ao sistema de produção, ao uso agrícola das
planícies e praias após a vazante do rio, das condições gerais de vida da população
local, das dificuldades de acesso, dentre outros aspectos.
Feito isso, pedia-se ao morador (ra) para nos acompanhar da parte mais baixa
(área de influência do Riozinho) até a parte mais alta do terreno de sua propriedade,
tendo como finalidade mostrar as variações de solos existentes em cada segmento da
paisagem, ou degrau da paisagem. Em outras palavras, tentou-se entender as relações
solo-paisagem da região na área de influência do Riozinho com o uso de
toposseqüência, ou mais precisamente, fazendo uso do modelo de paisagem do tipo
segmento de vertente (Vidal-Torrado et al., 2005; Campos et al., 2006) subsidiado por
outros estudos realizados na bacia dos rios Acre e Purus (Latrubesse et al. 1997;
Westaway, 2005).

13
Ao percorrer a propriedade com os moradores, aproveitou-se para gerar uma
conversar buscando resgatar o conhecimento local em relação ao solo e a utilização da
terra. Nesse momento, levantaram-se as seguintes questões: como ele diferenciava a
terra? Se o solo costumava encharcar muito na estação chuvosa. Em que qualidade de
solo ocorria mais castanheira? Porque as seringueiras que ocorriam as margens do
Riozinho não morriam quando eram inundadas? Se as árvores de seringueiras eram mais
produtivas que as de terra firme? Entre outras.
Na porção central de cada segmento (por exemplo, topo, meia encosta, fundo de
vale) efetuavam-se tradagens até a profundidade de 1 m. Nesses locais discutia-se com o
(a) morador (a) aspectos relacionados a cor e textura do solo, relevo, vegetação, de
forma a informá-lo do que estava sendo realizado naquele momento, sempre numa
linguagem acessível e procurando apreender, perceber e resgatar o conhecimento local
dos solos da região (Figuras 2 e 3). Cada um desses locais, quando possível, foi anotado
a localização por meio de coordenadas UTM com auxílio de GPS.

Figura 2. Participação do morador no processo de discussão e estudo de solos e ambiente da


região: Diones de Araújo (de camisa vermelha), agente multiplicador aferindo a cor do
solo com os pesquisadores Edson Araújo (Chapéu de palha) e Izaias Fernandes e outro
morador vizinho da Colônia Santo Antônio, baixo Riozinho do Rôla (Foto: Nazaré
Macedo, março de 2007).

14
Figura 3. Sebastião (à esquerda) morador do Seringal Cachoeira, Colocação Morada Nova,
acompanhando a tradagem do solo. (Foto: Nazaré Macedo, março de 2007).

Na medida do possível, devido às condições alagadas do solo e a


compatibilização com as demais atividades, foram descritos perfis de solo e coletadas
amostras (Santos et al., 2005) em porções representativas da parte alta e baixa em área
de influência direta do Riozinho. Esse procedimento também foi realizado em conjunto
com a comunidade local, que em muitos casos auxiliaram nas etapas de abertura de
perfis de solo a campo, coleta de amostras e transporte das mesmas e discussões sobre o
ambiente (Figura 4a e b).

15
(a) (b)

Figura 4. Detalhe do morador local auxiliando nos procedimentos de amostragem e abertura de perfis de
solo: a) Ailton, morador do Seringal Passagem, Colocação Dominguinhos, auxiliando na coleta
de solos (Foto: Isaias Santos, março de 2007); b) Senhor Aldo (segurando o boca-de-lobo)
morador do Seringal Bom Destino, Colocação Novo Destino auxiliando no processo de
abertura de trincheira em sua colocação, a esquerda Isaias Santos (Foto: Nazaré Macedo,
março de 2007).

3. Resultados preliminares

3.1. Aspectos hidropedológicos da bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla

Nessa parte introdutória iremos discutir alguns aspectos relacionados ao solo e a


água que tornam o Acre distinto dos demais ecossistemas da Amazônia Ocidental.
A área onde está inserida a bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla encontra-se
na margem esquerda do Rio Acre e pertence basicamente a duas feições
geomorfológicas: a depressão do Rio Branco e a planície Amazônica (Cavalcante,
2005). A depressão do Rio Branco corresponderia a segmentos mais antigos da
paisagem pertencentes a sedimentos terciários da Formação Solimões. A planície
Amazônica é aqui representada por sedimentos holocênicos, sendo o mais recente do
período quaternário.
Os Rios do Acre, em especial os da bacia do Rio Acre, apresentam cotas
fluviométricas contrastantes (Resende & Pereira, 1988).
No Riozinho do Rôla essa variação é bem acentuada, alcançando a quase 10
metros entre os meses de seca e enchente (Figura 5). A variação entre a cota máxima e a
cota mínima, nos meses de dezembro, pode alcançar a mais de 5 metros.
Essa variação nas cotas fluviométricas significa que os solos da região não
funcionam como um potencial reservatório de água. Isso se deve a baixa capacidade de

16
armazenamento desses ambientes em que os solos tiveram seus processos de formação
retardado em função da natureza pelítica do material de origem (Brasil, 1976) e de
evidências de períodos mais secos que o atual (Kronberg et al., 1989; Kronberg &
Benchimol, 1992).
A preocupação tem sido o crescente desmatamento na região que pode resultar
em alterações no ciclo hidrológico e desta feita reduzir o volume de chuvas e
comprometer o abastecimento de água das comunidades locais e da população residente
nos centros urbanos. Essa preocupação é corroborada por Duarte (2005), que em seu
estudo constatou uma diminuição na precipitação média diária no município de Rio
Branco entre 1990 e 2003, período em que se intensificou o desmatamento na região,
em sua maioria para implantação de pastagens extensivas.

14

12
Maxima

Minima
10
Cota fluviométrica (m)

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses do ano

Figura 5 – Gráfico das cotas fluviométricas máximas e mínimas mensais para o período de 1989
a 2005 para o Riozinho do Rôla (Fonte: ANA, 2007).

No Riozinho do Rôla e afluentes (igarapés) com a variação das cotas chega


quase a secar o canal do Rio principal (Figura 6a e b). Isso impede a navegação e a
população local fica sem poder deslocar-se para outras localidades dentro da bacia ou
para os centros urbanos.

17
(a) (b)

Figura 6. Fotografias tiradas no mesmo local do igarapé São Raimundo, afluente do Riozinho do Rôla,
mostrando a variação do nível do igarapé em duas épocas distintas. A foto (a) foi tirada em
setembro de 2006 (período de grande seca) e a (b) em março de 2007 (período de grande
cheia). (Fotos: Nazaré Macedo).

Nesse caso o transporte é feito por ramais e varadouros que alcançam a rodovia
AC-090 (Transacreana) que se encontra asfaltada até a altura do km 60.
Portanto, essas variações, tendem a acompanhar a precipitação pluviométrica na
região (Figura 7). A precipitação média anual é bastante variável, com valores entre
1296 a 2560 mm. Observa-se que o menor valor corresponde ao ano de 2005, ano em
que a Amazônia foi castigada com o fenômeno da seca (Figura 8).
300

250
Média Mensal
CV

200

150

100

50

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura 7. Gráfico da precipitação média mensal do Riozinho do Rôla nos anos de


1991,1992 e 1997 a 2005 (Fonte: ANA, 2007)

18
3000

2560
2500
2202
2039
Precipitação média anual (mm) 1977
2000 1874
1844 1782
1757
1596
1503
1500
1296

1000

500

0
1991 1992 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Anos

Figura 8. Gráfico da precipitação média anual do Riozinho do Rôla nos anos de 1991,
1992 e 1997-2005 (Fonte: ANA, 2007).

Comportamento similar pode ser observado para os dados de vazão (Figura 9).
Quando se compara os meses de maior volume de vazão (fevereiro e março) com os
meses de menor vazante (julho, agosto e setembro), observa-se que o escoamento da
água reduz significativamente, chegando nesse período a cessar em algumas regiões da
bacia.
500

450 Máx
Min
400 Média

350
Vazão (m3/s)

300

250

200

150

100

50

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses do ano

Figura 9. Dados médios mensais de vazão do Riozinho Rôla, referentes aos anos de 1998, 1999 e
2001 a 2004 (Fonte: ANA, 2007).

19
Vale ressaltar que os dados de precipitação, fluviometria e vazão foram obtidas
de uma única estação da ANA (Fazenda Santo Afonso), localizada próxima a foz do
Riozinho do Rôla (19L – E 603744 N 8886501). Isso demonstra a importância de se
expandir os pontos de observação hidrológica na bacia, sendo este um dos objetivos do
presente projeto.
Ao longo da Rodovia Estadual AC 090 (Transacreana) é comum observar a
construção de açudes como criatório de peixes, reservatório de água para criação de
animais em regime extensivo e para abastecimento local (Figura 10).

Figura10. Açude construído ao longo da Rodovia Estadual AC 090 (Transacreana)


como reservatório de água para criação de gado em regime extensivo (Foto:
Edson Araújo, março de 2007).

Esse armazenamento de água é facilitado devido à baixa permeabilidade dos


solos nessa região, que são rasos a pouco profundo e originário de sedimentos argilosos
e siltosos, que podem ser facilmente visualizados na porção inferior dos barrancos que
são cortados para a construção da rodovia (Figura 11).

20
Horizonte C

Figura 11. Detalhe da pouca profundidade do solo em corte de estrada ao longo da Rodovia
Estadual AC 090 (Trasacreana). Ao fundo é possível notar a coloração acinzentada do
horizonte C, em ambiente de Plintossolos e Argissolos plínticos (Foto: Edson Araújo,
março de 2007).

A baixa permeabilidade e alta atividade da argila desses materiais também


dificultam a circulação de veículos na estação chuvosa por estradas e ramais não
pavimentados e sem cobertura de material grosseiro (Figura 12).

Figura 12. Veículo tipo Toyota atoleiro, quando do trabalho de campo em ramal próximo a
Transacreana, em área onde foi instalado um pluviômetro (Foto: Leandro Macedo,
março de 2007).

21
3.2. Impressões ao longo do Riozinho do Rôla e afluentes

A confluência do Riozinho do Rôla com o Rio Acre se dá na margem esquerda


do Rio Acre, aproximadamente 1 hora de voadeira do porto de Rio Branco (Figura 13).

Riozinho do
Rôla
Rio Acre

Figura 13. Confluência entre o Riozinho do Rôla e o Rio Acre no período das cheias, março
de 2007 (Foto: Edson Araújo, março de 2007)

Nessa época do ano a navegação pelo Rio Acre é muito perigosa e requer
bastante atenção em virtude das correntezas e do material vegetal (troncos, galhos) que
é transportado pelo Rio em decorrência do deslizamento de barrancos. Sendo necessária
muita atenção do barqueiro e dos demais ocupantes da voadeira, no sentido de avisar
sobre a ocorrência desses materiais no Rio.
Por vezes a navegação torna-se impraticável devido ao volume das águas em
alguns trechos do canal do Riozinho do Rôla e seus afluentes. Isso se deve ao fato da
vegetação adentrar o leito do rio e igarapés, motivo pelo qual a comunidade em parceria
com Prefeitura de Rio Branco realiza operações de limpeza (adjunto).
Levando-se em conta o aspecto visual constatou-se que a carga de sedimentos
em suspensão do Rio Acre é superior a do Riozinho. Essa observação é corroborada
inclusive com a fala da população local, que afirma: “a água do Rio Acre é uma lama
só, a do Riozinho a qualidade da água é 10”.

22
Esse fato sugere que as águas do Rio Acre devem funcionar como uma espécie
de “barramento natural” ao livre escoamento de água (vazão) do Riozinho do Rôla. Essa
diferença pode estar associada à antropização das margens do Rio Acre e da natureza
arenosa de seus aluviões. A Figura 14 ilustra a concentração de sedimentos em
suspensão para o Rio Acre. Verifica-se que a concentração de sedimentos é coincidente
com os meses de maior precipitação na região.
Torna-se importante ressaltar que a diferença de sedimentos em suspensão será
determinada futuramente por intermédio da mensuração dos sedimentos em suspensão e
do nível de turbidez das águas, tanto na estação chuvosa como na estação seca

500

450

400

350
Concentração (mg L )
-1

300

250

200

150

100

50

0
Jan Mar Abr Jun Jul Ago Out Dez
Meses do ano

Figura 14 – Gráfico de concentração média mensal de materiais em suspensão do Rio


Acre para os anos de 1984, 1985 e 1987 a 2006 (Fonte: ANA, 2007) .

No trecho entre o porto de Rio Branco e a foz do Riozinho do Rôla encontra-se a


estação de captação e tratamento de água, junto à ponte que foi recentemente construída
sobre o Rio Acre (Figura 15a e b). Isso evidencia a expansão e o crescimento do
município de Rio Branco, tornando-se preocupante a contaminação do Rio pelo lixo e
dejetos humanos na zona de captação de água e tratamento de água. Outro fato atentado
é a quantidade de produtos químicos que deve ser empregado na água para separar os
sólidos em suspensão nesses corpos d´água.

23
Isso demonstra a importância de estudos relacionados aos corpos d’ água do
Riozinho do Rôla, no que se refere a sua conservação, por ser este um dos tributários
fundamentais no fornecimento de água para o abastecimento da cidade de Rio Branco.

(a)

Ponte
Estação de Captação
de Água

(b)
Figura 15. (a) Estação de captação de água do município de Rio Branco; e (b) Ponte sobre o Rio
Acre (Foto: Edson Araújo).

24
As águas do Riozinho do Rôla são classificadas na Amazônia como sendo águas
brancas, ou seja, são verdadeiramente marrom-barrentas (Prance, 1980). Isso decorre
em virtude dos sedimentos em suspensão oriundos da erosão e escoamento superficial
às margens do Rio.
Na área de influência da foz do Riozinho do Rôla encontrava-se no limite
máximo, ou seja, no último degrau do Rio. Nesse trecho inicial o Rio é bem mais
amplo, podendo em muitos casos atingir cerca de 200 m de largura. A navegação é
menos perigosa em decorrência da menor incidência de material vegetal no leito do Rio.
Mas, mesmo assim requer atenção.
No trecho, compreendido entre a foz do Riozinho do Rôla e a confluência do
igarapé Caipora, verificou-se à margem esquerda do Rio, nas porções mais elevadas,
rachaduras no solo, tipo movimento de massa, no qual o uso é com pastagem extensiva.
Isso pode estar relacionada ao desmatamento e a ação dos processos erosivos que
atuaram na desestabilização do terreno. E também a processos decorrentes da atividade
da argila e a ciclos de umedecimento e secagem do solo. Fato observado desde a década
de 50 no município de Rio Branco, quando a população ainda era inexpressiva (Guerra,
1955).
Esse fato é bastante comum no perímetro urbano do município de Rio Branco,
próximo ao Rio Acre, onde ocorrem desbarrancamentos e prejuízos associados a
rachaduras de ruas, demolição de casas e perigo estrutural para alguns prédios (Figura
16a e b).

(a) (b)
Figura 16. Processo erosivo e movimento de massa na Rua Rio Grande do Sul, localizada no núcleo
urbano de Rio Branco, a margem esquerda do Rio Acre (ao fundo a direita) (Fotos: Lúcia
Hall, julho de 2007).

25
A planície inundável do Riozinho possui um caráter sazonal, ou seja, só é
inundada uma parte do ano. Nesse caso, de forma a padronizar a linguagem e
fundamentando-se na literatura, esta várzea seria caracterizada pela inundação anual das
florestas por águas brancas, ou seja, recebe a denominação de várzea estacional (Prance,
1980).
Na várzea estacional, região baixa do Riozinho do Rôla surge algumas praias
quando na vazante do Rio, mas que não é cultivada. Esse fato, segundo conversa com
moradores da comunidade local, decorre da pequena extensão dessas praias, do déficit
hídrico, baixa fertilidade e estabilidade estrutural (Figura 17). Em outras palavras,
nessas áreas costumam surgir “rachaduras” dando inicio ao processo de
desmoronamento, não permitindo o cultivo de plantas anuais como feijão, milho,
mandioca, melancia, que é bastante comum nas praias do Rio Acre e de outros Rios, tais
como o Juruá e Moa.

Figura 17. Detalhe do aspecto da pequena praia formada em segmento da paisagem na


margem esquerda do Riozinho do Rôla, na parte baixa da bacia. (Foto:
Nazaré Macedo, março de 2007)

Em alguns trechos observou-se o uso predominante com pastagens extensivas,


no qual o desmatamento alcança as margens do Rio, desrespeitando a área de
preservação permanente (Figura 18).

26
Figura 18. Margem esquerda do Riozinho do Rôla, na parte baixa da bacia, mostrando o
uso com pastagem em área de preservação permanente (Foto: Edson Araújo,
março de 2007).

Em decorrência desse fato, durante a viagem, surgiram alguns questionamentos


com relação ao desmatamento mais intenso nessa porção da bacia, que foram:

1. A mudança de cobertura florestal decorrente da conversão de floresta em


pastagem poderia estar contribuindo para um aumento na carga de sedimentos
do Rio?
2. Em caso afirmativo isso contribuiria para sinergizar efeitos adversos como o
assoreamento e a diminuição do oxigênio dissolvido na água?
3. A quantidade de carbono orgânico dissolvido na água tenderia a se alterar?
4. Alterações na dinâmica do carbono decorrentes da mudança de cobertura
poderiam ser detectadas a partir de análises do 13C dissolvido na água?
Muitos desses questionamentos serão respondidos ao longo do desenvolvimento
do projeto, mas observa-se de uma forma geral que são todos resultantes de processos
degradativos, conseqüência do desflorestamento e fragmentação desses ambientes,
bastante dinâmicos, e como tal requerem que sejam monitorados ao longo do tempo.
Em locais onde já foi desmatado, ou mesmo nos trechos do Rio onde a mata
adentra o leito do mesmo, observou-se com freqüência a presença de imbaúba
(Cecropia spp) (Figura 19). Isso mostra a dinamicidade da vegetação, mesmo em área
de pouca antropização e a resiliência desses ecossistemas em virtude da abundância de

27
água em alguns períodos do ano e a existência de propágulos vegetativos oriundos da
floresta circundante.

Figura 19. Árvore de Imbaúba (Cecropia spp) às margens do Riozinho do Rôla (Foto:
Edson Araújo, março de 2007).

Em alguns trechos do médio e alto Riozinho do Rôla o leito começa a se


estreitar, ou seja, vai tornando-se mais encaixado Nesses locais a navegação é
dificultada em virtude da tortuosidade do Rio, da presença de arbustos com espinhos e
devido ao espraiamento da água. Um dos espinhos mais freqüentes na região é o
conhecido popularmente como espera-aí.
Com o alagamento da planície inundável, a navegação muitas vezes é facilitada
pela presença do que é denominado na região de “furo”. O furo seria uma espécie de
atalho ou curso temporário do Rio que surge em função da planície inundável e que
permite encurtar as distâncias, uma vez que evita as curvas do rio. Entretanto, muitas
vezes a utilização do “furo” não é viável, sendo necessário voltar ao ponto de onde se
adentrou no “furo” para daí seguir o curso original do Rio. Muitas vezes também não se
consegue distinguir facilmente o “furo” do leito normal do Rio (Figura 20).

28
“Furo”

Figura 20. Estreitamento do canal do Rio e alagamento do segmento de planície


inundável do Riozinho do Rôla com “furo”(Foto: Edson Araújo, março de
2007).

Em muitos locais, a vegetação invade o curso do Rio, sendo necessário o uso de


motosserra ou terçado de forma a abrir uma picada que permita a navegação.
Algumas árvores se destacam próximas ao leito, assim como a tipologia florestal
com bambu. Dentre as árvores, destacam-se: a seringueira (Hevea brasieliensis),
castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), o mulateiro ou pau-mulato (Calycophyllum
spruceanum), a samaúma, pau ferro (Machaerium scleroxylon), tingui (Dictyoloma
vandellianum) e copaíba (Copaifera spp.).
Um fato interessante observado foi com relação à ocorrência de seringueiras,
sempre entre o segundo e terceiro segmento da paisagem (Figura 21). Esse fato pode
estar relacionado à forma de dispersão de suas raízes por intermédio da correnteza do
Rio, uma vez que suas sementes quando caem são lançadas a grande distância e tem a
capacidade de flutuar na água. Segundo informação local a seringueira nessas condições
produz, no entanto, sua produtividade seria menor e o látex extraído de qualidade
inferior.

29
Figura 21. Árvore de seringueira (Hevea brasiliensis), de ocorrência em
área inundável situada entre o segundo e terceiro segmento da
paisagem (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007)

3.3. Relação solo-paisagem em área de influência do Riozinho do Rôla

O Riozinho do Rôla, a exemplo dos demais Rios da Amazônia Ocidental, foi


sedimentado em tempo geológico relativamente recente por sedimentos oriundos dos
Andes, por intermédio de uma incisão fluvial (Westaway, 2006). Isso indica que a
maioria da paisagem erodida observada, foi causada por esse aprofundamento ou corte
na paisagem.
Assim, a bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla é constituída basicamente de
sedimentos holocênicos do quaternário e sedimentos do terciário pertencentes a
Formação Solimões (Cavalcante, 2005).
Os sedimentos holocênicos são mais expressivos na porção mais baixa da bacia,
ou seja, na desembocadura do Riozinho do Rôla. Isso explica a maior largura do Rio
nessa porção e a maior quantidade de sedimentos arenosos encontrados nos segmentos
de vertente a partir do canal do Rio.
Quando se navega da foz para as cabeceiras, o Rio torna-se mais encaixado, com
predomínio de sedimentos do terciário, em sua maioria de textura argilo-siltosa a
argilosa. Isso de certa forma propicia uma maior estabilidade estrutural aos barrancos e,
com isso, a ocorrência de desbarrancamentos será menos freqüente (Figura 22).

30
Figura 22. Barranco às margens do Riozinho do Rôla com estabilidade estrutural em
virtude de sua textura predominantemente argilo-siltosa (Foto: Edson Araújo,
março de 2007).

A cor do solo nos barrancos do alto e médio Riozinho é geralmente


avermelhada, principalmente, nas partes que não são submersas. Nesses locais o ferro
presente no sistema permanece mais tempo exposto à oxidação, por isso a coloração
avermelhada. O fornecimento de ferro é contínuo em virtude do transporte lateral de
ferro dos segmentos mais elevados da paisagem.
Em locais onde o barranco é submerso, observa-se pontuações avermelhadas e
cinzentas, em virtude da exposição do mesmo a processos de oxidação (aeração) e
redução (alagamento) do solo (Figura 23).

Pontuações
avermelhadas e
cinzentas

Horizonte C

Figura 23. Mostra de barranco em época de seca no Igarapé Espalha, afluente do


Riozinho do Rôla, evidenciando o horizonte C e a coloração avermelhada e
cinzenta (Foto: Nazaré Macêdo, setembro 2006)

31
Como a planície inundável tem um caráter de várzea Estacional, a depender do
tempo de exposição ao alagamento podemos ter uma combinação de classes de solos
como Plintossolos e Gleissolos coexistindo lado a lado. Obviamente, nestes locais o
processo de pedogênese (formação do solo) não é contínuo, ou seja, está sempre se
renovando em virtude de material sedimentar trazido do Rio ano a ano. Assim a
caracterização desses ambientes torna-se difícil em virtude de sua variabilidade natural.
Em alguns casos, a lâmina de água contida na várzea estacional permite a
navegação de pequenas canoas (Figura 24), na qual é utilizada pela população local para
se deslocar de uma colocação para outra, atravessar o Rio e trabalhar em seu roçado.

Figura 24. Navegação em área de planície inundável do Igarapé Espalha, Colocação


Samaúma às margens do Riozinho do Rôla (Foto: Edson Araújo, março de
2007).

Na vazante, o caminho por essas áreas é bastante dificultado em decorrência da


lama e algumas poças d´água que se formam (Figura 25a e b).

32
(a)

(b)
Figura 25. Detalhe da dificuldade que se tem ao percorrer determinadas áreas quando o
acesso é realizado pela planície inundável. A fotografia (a) mostra uma
condição mais extrema e a (b) um local em que água já desaguou.
(Fotografias: Edson Araújo, março, de 2007).

A seguir são apresentados e comentados os perfis descritos a campo e as


tradagens e observações realizadas.

33
PERFIL 1

Descrição Geral

Data – 18.03.2007
Classificação SiBCS (provável) - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico plíntico, A
moderado, textura média/argilosa, fase tropical subcaducifólia, relevo suave ondulado e
ondulado.
Localizaçao, municipio, estado e coordenadas – Bacia Hidrográfica do Riozinho do
Rola, margem esquerda do alto Riozinho, Colocação Dominguinhos. Município de Rio
Branco – Acre. Coordenadas UTM: 19L E 520015 N 8882930N (Ponto 135 GPS).
Situação, declive e cobertura vegetal sobre o perfil – descrito e coletado em topo de
elevação (em clareira de mata) com aproximadamente 8 a 20 % de declive, sob
vegetação de capoeira e cultivo agrícola.
Altitude - 219 metros
Litologia – sedimentos argilo-arenosos
Formação geológica – Formação Solimões.
Cronologia - Terciário.
Material Originário – sedimentos da Formação Solimões.
Pedregosidade – não pedregoso.
Rochosidade - não rochoso.
Relevo Local - suave ondulado.
Relevo Regional – suave ondulado a ondulado.
Erosão – não aparente.
Drenagem – moderadamente a imperfeitamente drenado.
Vegetação primária
Uso Atual – capoeira e cultivo de mandioca.
Clima
Descrito e coletado por – Edson Araújo, Izaias Santos e Ailton

Descrição Morfológica

A 0-12 cm, bruno avermelhado (5YR 5/4, úmida); franco-arenosa; moderada


pequena a grande granular, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa;
transição plana e clara.

AB 12-30 cm, vermelho-amarelado (5YR 4/6, úmido), franco-argilo-arenosa;


moderada pequena a grande blocos subangulares, ligeiramente plástica a
plástica e ligeiramente pegajosa a pegajosa; transição ondulada e clara.

BA 30-50 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); franco argilosa;


moderada pequena a média blocos subangulares, plástica e pegajosa,
transição plana e gradual.

34
Bt1 50-80 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); argila; moderada média
blocos subangulares; friável, plástica e pegajosa; transição plana e difusa.

Bt2 80-100 cm, bruno-forte (7,5YR 5/8, úmida); argila, friável, plástica e
pegajosa.

Raízes – comuns, finas e médias no A e AB; poucas, média e finas no BA; raras finas e
médias no Bt1.

Observações – Perfil descrito após chuva torrencial no dia anterior; depois de aberta a
minitrincheira começou a minar água; o horizonte Bt2 foi coletado com trado na
profundidade de 80-100 cm da superfície; na profundidade de 60 cm da superfície,
observaram-se pequenas pontuações cinza e avermelhada, denotando processos de oxi-
redução de ferro através do acúmulo de água; a estrutura não foi determinada de forma
satisfatória em virtude de o solo estar bastante encharcado; do mesmo modo não foi
possível diagnosticar se a presença ou não de cerosidade e a consistência do solo
quando seco.

O perfil 1 mesmo tendo sido descrito na porção superior da paisagem, apresenta


alguma restrição de drenagem (Figuras 26 e 27). Isso pode ser constatado tanto pela
água que minava a 60 cm da superfície, logo após a abertura da minitrincheira, como
também devido a evidências deixadas pelas pontuações cinza avermelhada no solo.
Esse fato denota a baixa permeabilidade desses solos e a baixa capacidade de
armazenamento de água, numa área que poderá ser denominada de “zona de recarga”
dos aqüíferos. Sendo assim, essas áreas deveriam ser mantidas cobertas pela floresta
nativa, por representarem maior capacidade como reservatório de água, uma vez que o
fluxo de água nesses interflúvios é dominantemente vertical. Além disso, esses solos,
devido ao gradiente textural (textura média/argilosa) quando desnudos seriam mais
suscetíveis a erosão hídrica, que predisporia esses ambientes a perdas de nutrientes,
matéria orgânica e a dispersão de minerais de argila. Podendo em última análise
impactar negativamente os corpos d´água da bacia.
Nessa porção da paisagem seria onde encontraríamos solos mais pedogeneizados
oriundos de sedimentos terciárias da Formação Solimões.

35
Figura 26. Minitrincheira de Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico plíntico descrito
em topo de elevação (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007).

Figura 27. Detalhe do ambiente do perfil anterior em área de capoeira situada em clareira de
mata (Foto: Izaias Santos, março de 2007).

36
PERFIL 2

Descrição Geral

Data – 21.03.2007
Classificação SiBCS (provável) - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, A
moderado, textura média/argilosa, relevo suave ondulado.
Localizaçao, municipio, estado e coordenadas – Bacia Hidrográfica do Riozinho do
Rola, margem direita do médio Riozinho, Seringal Bom Destino, Colocação Novo
Destino. Município de Rio Branco – Acre. Coordenadas UTM: 19L – E 543302 N
8897652 (Ponto 165 GPS).
Situação, declive e cobertura vegetal sobre o perfil – descrito e coletado em topo de
elevação com aproximadamente 10 % de declive, sob pastagem de Brachiaria brizanta
(brizantão).
Altitude
Litologia – sedimentos argilo-arenosos
Formação geológica – Formação Solimões.
Cronologia - Terciário.
Material Originário – sedimentos da Formação Solimões.
Pedregosidade – não pedregoso.
Rochosidade - não rochoso.
Relevo Local - suave ondulado.
Relevo Regional – suave ondulado.
Erosão – ligeira laminar.
Drenagem – bem drenado.
Vegetação primária
Uso Atual – Pasto de B. brizanta cv Marandu.
Clima
Descrito e coletado por – Edson Araújo, Nazaré Macêdo, Izaias Santos e Aldo Lopes.

Descrição Morfológica

A 0-11 cm, bruno (7,5YR 4/4, úmida); franco-argilo-arenosa; forte pequena


granular, duro friável ligeiramente plástica a plástica e ligeiramente
pegajosa; transição plana e clara.

AB 11-27 cm, amarelo-avermelhado (5YR 6/6, úmido), franco; moderada média


blocos subangulares, duro friável ligeiramente plástica a plástica e
ligeiramente pegajosa a pegajosa; transição plana e gradual.

BA 27-40 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); franco; moderada média


blocos subangulares, duro friável ligeiramente plástica e ligeiramente
pegajosa, transição plana e gradual.

37
Bt1 40-90 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); argila; moderada média a
grande blocos subangulares; cerosidade fraca e comum, duro friável,
plástica e pegajosa; transição plana e gradual.

Bt2 90-130 cm, vermelho-amarelado (5YR 4/6, úmida); argila, moderada média
a grande blocos subangulares, cerosidade moderada a forte e comum, duro
friável, plástica e pegajosa.

Raízes - muitas finas e médias no A, AB e BA; poucas e finas no Bt1; raras e


finas no Bt2.

O perfil 2 foi descrito em uma situação de relevo menos movimentado. Nesse


sentido, os processos de gênese atuaram mais intensamente, resultando num solo mais
profundo e com evidência de que a água percola mais livremente nesse sistema, em
virtude da presença de cerosidade constatada e que recapiava os agregados do solo
(Figuras 28 e 29).

Figura 28. Perfil de Argissolo Vermelho-Amarelo descrito em área de pastagem de


B. brizantha de 10 anos. (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007).

38
Figura 29. Aspecto do ambiente onde foi descrito o perfil da figura anterior. Relevo suave
ondulado (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007).

No entanto, num segmento da paisagem mais acima, constatou-se uma extensa


área com síndrome de morte de B. brizantha cv Marandu (braquiarão) (Figura 30). Isso
denota que esses solos quando mal manejados também apresentam tal problemática.

Figura 30. Síndrome de morte do capim braquiarão em área de Argissolo Vermelho-Amarelo

39
Nesse ambiente, realizou-se caminhada com o morador nos diversos segmentos
da paisagem, partindo-se do canal do Riozinho até a porção mais elevada (Figura 31).

40
Aproximadamente 2000 m

6
5

4
2 3
1 40 m

Figura 31. Esquema ilustrativo mostrando transecto percorrido e diversos segmentos da paisagem (degraus) da Colocação Novo Destino, em área de influência do Riozinho
do Rôla e Mosaico de fotografias com esses ambientes (maiores detalhes ver Quadro 3).

41
Os locais amostrados, sua posição na paisagem e algumas características observadas
encontram-se no Quadro 3 abaixo:

Quadro 3. Algumas características de solo e ambiente dos diferentes segmentos (degraus)


na margem direita do Riozinho, Seringal Bom Destino, Colocação Novo
Destino

Nº -Coordenadas UTM Segmentos na Paisagem Características observadas


(degraus)
1 – Não obtido devido a 1. Canal do riozinho do À época encontrava-se preenchido pela água. Na época
cobertura vegetal existente de menor pluviosidade costuma baixar seu volume
Rola
2 - 543389/8898122 2. Sopé aluvial (1º Possui uma extensão de poucos metros

degrau)
3 - 543380/8898103 3. Planície aluvial não Porção mais plana e extensa da paisagem; geralmente
inundável (2º degrau) predominam Plintossolos e por vezes Gleissolos quando
permanecem por um período de tempo mais
prolongado. Essas planícies se alternam em níveis
discordantes, ou seja, uma se apresenta em cota mais
elevadas e a outra em porções mais elevadas. Dessa
forma, a planície que se encontra em porções mais
baixas tende a ser inundada. No entanto a depender da
magnitude da enchente, por vezes as duas margens
podem vir a alagar, conforme relato do morador local.
Os solos existentes nessa área geralmente são
acinzentados ou descoloridos, denotando restrição de
drenagem e, ou acúmulo de água e matéria orgânica.
Nesse ambiente é comum a ocorrência de ciperáceas
(tiririca) e capim nativo.
4.- 543302/8897652 4. 3º degrau Nesse ponto já há a ocorrência de Argissolo Vermelho-
Amarelo A fraco textura média/argilosa em relevo
suave ondulado. O solo tradado apresentava zonas de
redução nos primeiros 10 cm da superfície em
decorrência do pisoteio do gado.
5 - 543302/8897652 5. 4º degrau Local onde foi descrito o perfil 2.

6.- 543899/8896326 6. Ponto mais alto da Local situado no topo, ou seja, na porção mais elevada
toposseqüência (5º da paisagem em área de floresta densa com palmeira.
degrau) No local tentou-se cavar uma trincheira, mas não se
obteve sucesso devido à textura predominantemente
arenosa e o lençol freático à superfície. O local
provavelmente deve ser um meandro abandonado,
resultante de uma antiga área de deposição de
sedimentos onde o rio antigamente devia correr. Por
questões de estabilidade o rio deve ter abandonado esse
trecho.

Na planície aluvial do segmento 3 da Colocação Novo Destino (2º degrau)


constatou-se em área de quebra de borda algumas concreções maciças de Ferro (Fe) e
Manganês (Mn). Essa área por situar-se em relevo tabular, ao encontrar condições de
acúmulo desses elementos, deve formar-se por ciclos de umedecimento e secagem do solo
que propiciam os processos de redução, mobilização e transporte (Figura 32). Constatou-se
in loco a presença do Mn através da efervescência com água oxigenada.
Figura 32. Concreções escurecidas de Fe e Mn em condição de quebra de borda na planície
aluvial não inundável da Colocação Novo Destino, Seringal Bom Destino, em
área de Influência direta do Riozinho do Rôla (Foto: Edson Araújo, março de
2007).

Constatou-se também nesse segmento da paisagem a presença de tiririca do brejo


(Cyperus spp.), uma invasora adaptada a condições de encharcamento do solo (Figura 33).

Figura 33. Ocorrência de tiririca do brejo (Cyperus spp.) em área da planície aluvial não
inundável na Colocação Novo Destino. (Foto: Nazaré Macedo, março de
2007.).

43
De acordo com informações do morador local o plantio de culturas, como o milho e
feijão não estão dando bons resultados nessas condições, o que pode estar associado às
condições de encharcamento do solo e, ou da toxidex por Fe e Mn. Nessas condições foram
coletadas amostras para análise de fertilidade e futuramente para micronutrientes como Fe e
Mn, como forma retornar para a comunidade resultados e sugerir alternativas de uso.
Na colocação Samaúma, situada no alto do Riozinho, igarapé Espalha, o relevo é
mais movimentado e a distância entre o canal do rio (1º segmento da paisagem) e a porção
mais elevada da paisagem (área de topo ou interflúvio tabular) são menos extensas,
chegando a alcançar, nesse caso, 400 m (Figura 34).

Aprox. 200 m 5

3
2
1

Margem direita Margem esquerda

Figura 34. Esquema ilustrativo mostrando transecto percorrido em diversos segmentos da paisagem (degraus)
da Colocação Samaúma, margem esquerda do Igarapé Espalha. (Para maiores detalhes de cada
segmento da paisagem, consulte o Quadro 4).

Quadro 4 Algumas características de solo e ambiente dos diferentes segmentos (degraus) na


margem esquerda do Igarapé Espalha, Colocação Samaúma.

Nº - Coordenadas UTM Segmentos na Paisagem Características observadas


(degraus)
1 – Não obtido 1. Canal do riozinho do Rola À época encontrava-se preenchido pela água.
Na época de menor pluviosidade costuma
também baixar seu volume
2 – Não obtido 2. Sopé aluvial (1º degrau) Possui uma extensão de poucos metros

3 – 0533248/8871416 3. Planície aluvial ou várzea Porção mais plana e extensa da paisagem. Na


estacional (2º degrau) ocasião este segmento estava inundado, não
sendo possível amostrar o solo ou efetuar
algum tipo de tradagem. No entanto, presume-
se que área deva contemplar solos com
alguma restrição de drenagem, tais como
Plintossolos e Gleissolos.
4. 4 Área de encosta. Área de encosta
5.0533255/8871598 (Pasto) 5. Topo de elevação Nesse ponto da paisagem efetuamos a
tradagem em área de pasto de B. brizantha e
0533278/8871492(mata) de mata nativa. Pelas características
morfológicas o solo tradado se enquadria na
classe de Plintossolo Háplico, ou seja, existe a
presença de plintita em quantidade
considerável a partir de 40 cm da superfície.
Existe o relato também da ocorrência da
síndrome da morte de pastagem. O que pode
ser justificado pela drenagem deficiente e a
suscetibilidade dessa gramínea a condições de
encharcamento do solo. A área de mata nativa
tradada, situada na mesma posição do relevo

44
mostrou as mesmas características do solo da
pastagem, somente com um declínio (aspecto
visual) no teor de matéria orgânica do solo. A
vegetação nativa é do tipo Floresta aberta com
Bambu. Pelo relato do morador local, nessas
condições de solo a castanheira (Bertholletia
excelsa) ocorre com menor freqüência. Fato
que pode ser explicado pela ocorrência da
mesma em áreas de terra firme e com
melhores condições de drenagem e
profundidade do solo. Isso pode ser
constatado por sua maior ocorrência na região
Leste do Acre, onde ocorrem solos mais
profundos e bem drenados.

Na margem esquerda da Colocação Samaúma onde se localiza a planície inundável


a textura do solo é predominantemente argilosa.
Na margem direita a textura, em sua maioria, é de natureza arenosa. A tradagem
realizada até 1 m de profundidade na área de Sistema Agroflorestal revelou que a partir daí
o solo começa a ficar mais “carregado” em argila. Segundo informações do morador do
local, as castanheiras costumam ocorrer com maior freqüência nessa porção da paisagem.
Isso demonstra mais uma vez que as castanheiras adaptam-se melhor a condições de terra
onde predominam melhores condições de drenagem e maior profundidade do solo.
Nesse ambiente coletaram-se amostras na profundidade de 0-20 cm (5 amostras
simples para compor uma composta) em locais onde o cupuaçu (Theobroma grandiflorum)
apresentava sinais de amarelecimento das folhas (Figura 35).

Figura 35. Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) com folha mostrando sinais de amarelecimento
(Foto: Nazaré Macêdo, março de 2007).

45
O mesmo procedimento foi efetuado para o plantio de pimenta-do-reino (Piper
nigrum), que estava morrendo e apresentava sinais de amarelecimento das folhas (Figura
36). Esse fato pode estar relacionado a alguma deficiência nutricional e, ou alguma doença
e origem fúngica ou virótica.

Figura 36. Pimenta- do- reino (Piper nigrum) apresentando amarelecimento nas folhas.
(Foto: Edson Araújo, março de 2007).

Nas áreas visitadas, a utilização das terras com culturas anuais, tipo cultivo
itinerante, utiliza preferencialmente as áreas situadas distantes das margens do Rio e em
pequenos módulos que variam de 1 a 2 ha (Figura 37). Isso, de certo modo é um fator
positivo, uma vez que traria menos impactos negativos aos corpos d´água e a capoeira
tenderia a regenerar-se rapidamente em função dos propágulos vegetativos oriundos da
floresta.
No entanto, muitas das vezes após um período de cultivo de 1 a 2 anos em virtude
das terras ficarem “cansadas”, o agricultor tende a desmatar novas áreas. Isso de certa

46
forma pode contribuir para o aumento gradativo da descaracterização da cobertura vegetal
original da região.
O tamanho dos roçados varia em função da mão-de-obra familiar existente e da
conjugação com outras atividades exercidas por cada morador. Geralmente o seringueiro
concilia essa atividade produtividade com a extração de castanha e borracha.

Figura 37. Utilização da terra com culturas anuais (roçado) no sistema itinerante em clareira de
mata. No primeiro plano, área recém desmatada e queimada e ao fundo cultivo com
milho e mandioca. (Foto: Edson Araújo, março de 2007).

A seguir são listados alguns pontos estratégicos que se utilizou para fazer tradagens
e observações concernentes a solo e ambiente e que servirão de base para os próximos
passos do levantamento do meio físico (Quadro 5).

Quadro 5. Tradagens e observações realizadas em área de influência direta e indireta do


Riozinho do Rôla.

Localização e Características de solos e ambiente


Georeferenciamento (UTM)
Colocação Conselho (1) Tradagem na margem esquerda do igarapé São Raimundo, distante
577874/8886678 aproximadamente 50 m de seu leito. Apresenta A fraco, textura
argilosa, classificação provável – Argissolo Vermelho Amarelo com
caráter plíntico. Cor do horizonte B 5YR 5/6 (vermelho-amarelado).
Não se tirou a cor do horizonte A em virtude de queima recente. A
área aberta próximo a moradia apresentava grande incidência de
tiririca do brejo, capim relógio, plantio de bananeira e pasto nativo.
Colocação Conselho (2) Tradagem em área de mata, floresta densa com palmeira e presença
577736/8886522 de castanheira (Bertholletia excelsa). A textura avaliada foi

47
predominantemente arenosa até 1m. Mais escurecido em
decorrência da matéria orgânica. Abaixo disso o solo adquiriu uma
tonalidade amarelada; relevo suave ondulado; bem drenado. A
ocorrência de solo arenoso nesse segmento da paisagem (planície
aluvial não inundável) pode estar relacionada à deposição de
sedimentos dessa natureza no passado. Uma vez que esse segmento
pode ter sido um antigo leito do rio ou um meandro abandonado.
Colocação Conselho (3) Tradagem realizada em área de roçado de aproximadamente 2 há
577582/8886446 com plantio de macaxeira e banana. O mesmo encontrava-se
encapoeirado com plantas tipo imbaúba (Cecropia spp)e sapé
(Imperata brasiliensis); Textura média/argilosa, bem drenado,
relevo plano a suave onduladoe floresta densa com palmeira
Colocação Morada Nova, Tradagem feita a 1 m de profundidade em topo superior de
Seringal Cachoeira (1) elevação, próxima a área de roçado; a textura Franco-arenosa vigora
predomina até a quase 1 m, a partir daí já começa a carregar na
argila; apresenta horizonte A fraco, relevo local plano, regional
ondulado, floresta densa com palmeiras e musácea, bem drenado.
Colocação Morada Nova, Mini trincheira de escavada a 60 cm da superfície em posição de
Seringal Cachoeira (2) meia encosta; Apresenta A moderado, textura argilosa,
580474/8882196 imperfeitamente drenado em área de floresta densa com palmeira;
Provavelmente deva se enquadrar na classe de Plintossolo
Argilúvico
Colocação Morada Nova, Observação feita na planície inundável, na margem esquerda do
Seringal Cachoeira (3) igarapé Vai-Se-Ver; O solo tradado apresentou cores cinzentas
580810 /8881593 cinzentas e é de natureza argilo-siltosa; muito provavelmente deva
tratar-se de um Gleissolo, no entanto, será necessária a prospecção a
maiores profundidades na estação seca para se atestar realmente sua
classificação.
Colocação Morada Nova, Tradagem realizada a 1 m de profundidade em área de pastagem
Seringal Cachoeira (4) nativa a aproximadamente 250 m da margem direita do igarapé Vai-
580700/8881278 Se-Ver; relevo Plano, floresta densa com musácea; cor do horizonte
B 5YR 5/8 (vermelho amarelado), textura média/arenosa; A fraco;
bem drenado, sem evidência de encharcamento
Colônia Santo Antônio Tradagem em área de pasto; A moderado, bem drenado, relevo
609475/8886793 plano a suave ondulado, floresta densa com musácea; uso com pasto
nativo.
609309/8886593 Observação feita em barranco existente na área: Argissolo
Vermelho-Amarelo, textura argilosa, A moderado, bem drenado,
relevo suave ondulado; presença de cerosidade no horizonte B
expressiva; seqüência de horizontes A-AB-Bt.
Nesse local também se marcaram os pontos no GPS correspondente
a cada segmento da paisagem: 2º segmento – 609638/8886973 (154
m); 3º segmento – 609601/8886914 (174 m) corresponde ao nível
da moradia

48
2. Análise preliminar das características socioeconômicas das populações ribeirinhas
do Riozinho do Rôla, Rio Branco, Acre.

1. Introdução

Na Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla (BHRR), grande parte do escoamento


da produção é realizada durante o período das chuvas, época em que o Rio é navegável por
grandes embarcações (batelões). No período de seca, em virtude das baixas cotas
fluviométricas do Rio, a navegação Rodovia Estadual AC – 090 (Transacreana), principal
via de acesso ao núcleo urbano de Rio Branco.
Neste sentido, destaca como uma bacia prioritária para conservação, uma vez que é
a única via de acesso às comunidades ribeirinhas durante a maior parte do ano, garantindo-
lhes o escoamento da produção, busca de serviços, educação e saúde na cidade de Rio
Branco. Além disso, para muitos, ainda exerce a função de suprimento alimentar, através da
pesca.
Assim, essa parte do relatório tem como objetivo apresentar um levantamento
preliminar das características socioeconômicas de algumas famílias ribeirinhas que vivem
em área de influência direta do Riozinho do Rôla e seus afluentes.
Além disso, com este levantamento será possível ter um pré-diagnóstico das
condições socioeconômicas da bacia, que irá contribuir com informações fundamentais
para uma abordagem eficiente as comunidades locais. Ao mesmo tempo subsidiará
atividades de pesquisa que, posteriormente, explicarão as possíveis questões referentes às
relações das populações com os recursos naturais.
Assim visando não atrasar o cronograma das atividades do projeto, esse estudo
preliminar foi realizado entre os dias 16 a 28 de março de 2007, tendo apoio das
instituições parceiras, como no caso o Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC) e
CNPq.

2. Caracterização ambiental.

Alguns núcleos populacionais estão situados às margens do Riozinho do Rôla. Em


decorrência do processo de ocupação no período da intensa exploração da borracha, as
casas dos ribeirinhos foram construídas próximas ao Rio. Isso facilita, em época de cheia, a
comunicação e o deslocamento da população para a cidade de Rio Branco e outras
localidades, assim como o escoamento da produção (Figura 38). Observou-se em vários

49
pontos ao longo do Rio a construção de estruturas como paióis e currais, além do plantio de
algumas culturas de subsistência, o que faz com que a vegetação ciliar seja, em parte,
retirada.

Figura 38. Embarcação utilizada (batelão) pelos ribeirinhos para o


escoamento da produção agrícola da região.

Em alguns pontos nota-se o assoreamento do leito do Rio. Esse processo é mais


evidente na região mais próxima à foz do que na cabeceira. A dinâmica anual de enchente e
vazante do Rio explica esse fenômeno, embora se tenha um maior ou menor efeito em
função da ação antrópica.
Na zona ripária (mata ciliar) parece existir a predominância de espécies mais
adaptadas às condições de alagamento como a imbaúba (Cecropia spp.), o ingá (inga spp) e
uma espécie conhecida popularmente na região de espera-aí. Outros vegetais como o
cumaru-preto (Dipteryx spp.), a samaúma (Ceiba petandra) e o buriti (Mauritia spp.) estão
localizadas em solos mais drenados e são também de maior porte.
A fauna existente na mata ciliar parece ser diversa apresentando aves de diferentes
espécies, primatas e alguns quelônios (tracajá). Segundo os moradores a piscosidade do Rio
não é boa e relatam que os motivos que levaram à diminuição da quantidade de peixes, são:
o alto uso de tingui (Magonia spp.) e açacu (Hura crepitans L.) na cabeceira; a seca
ocorrida em 2005, o aumento do número de famílias na região e a pesca realizada por
pessoas da cidade.
Os impactos ambientais observados sobre o Riozinho do Rôla, principalmente, na
região da foz, além da retirada da vegetação ciliar, foram: o fluxo de embarcações

50
motorizadas; o lançamento, em certos pontos, de lixo e a lavagem de roupas. Os motores
dos barcos que são utilizados para o deslocamento das pessoas no Riozinho, afugentam os
animais da zona ripária. O lançamento de combustível e óleos na água do Rio altera sua
qualidade desfavorecendo a fauna aquática do mesmo. Em alguns pontos são notados,
próximo as casas dos moradores ribeirinhos, o lançamento de lixo doméstico. Como essas
observações foram realizadas em época de cheia do Rio, em períodos mais secos o
lançamento de lixo pode ser bem maior. Esse fato reforça ainda mais a necessidade de
ações junto às comunidades que possam contribuir com a educação ambiental, garantindo
assim uma maior conservação da bacia.
Foi notado também que algumas famílias lavam suas roupas no Rio. Quando o
mesmo está com uma maior vazão. Essa prática pode não comprometer a qualidade da água
nem a fauna aquática em função da diluição destes produtos no Rio. Porém, em época de
seca e dependendo do número de famílias que o fazem o impacto poderá ser bem maior.
É notado um gradiente de preservação da mata ciliar da foz à nascente do Riozinho.
No baixo Riozinho é claramente notado a interferência ao meio ambiente, sendo que existe
uma maior concentração de casas. São residências mais estruturadas e com uma relação
maior com a cidade de Rio Branco, pois utilizam materiais de alvenaria e em algumas casas
existe energia elétrica.
Parece que a navegação no Riozinho se dá por diferentes motivos e distintos
públicos. Dentre os motivos destaca-se o escoamento da coleta da castanha e da borracha, o
transporte da população para Rio Branco, ou para outras localidades dentro da bacia, e o
deslocamento de benefícios e políticas públicas para as comunidades. Em época de cheia o
público que navega por ele são em sua maioria castanheiros, agentes de saúde e técnicos do
governo ou de ONG's. Existem embarcações que levam os ribeirinhos para a cidade de Rio
Branco em barcos coletivos, onde se cobra pela viagem, ou em barcos familiares, onde se
viaja a família inteira. Portanto, a navegação no Rio nesta época do ano é a mais fácil e a
possível de ser realizada já que os “ramais” são praticamente intransitáveis.

3. Produção e fontes de renda.

3.1. Extrativismo vegetal.

Na época de inverno, ocorre a colheita da castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa).


Esse período, geralmente, vai de final de dezembro a março. Com isso, castanha apresenta-

51
se como uma fonte de renda importante e significativa para as comunidades ribeirinhas, já
que o preço pago é relativamente maior. Aparentemente é um número considerável de
famílias envolvidas nesta prática e conseqüentemente um volume significativo de castanha
é comercializada (Figura 39).
Segundo o IBGE (2006) o Acre extraiu e comercializou 11.142 toneladas de
castanha para o ano de 2005. Somente o município de Rio Branco comercializou 2.823
toneladas o que representou em torno de 3,896 milhões de Reais.
A comercialização da castanha é particularmente preferida pelos ribeirinhos por dois
motivos: facilidade na coleta e bom preço de mercado. Segundo os agricultores a castanha
não sofre ou não depende de variações do ambiente, como a chuva. O trabalho que se tem
com essa atividade é a coleta e a quebra do ouriço. Toda família é envolvida neste trabalho.
O preço pago por uma lata de 20 litros de castanha em uma das associações de
moradores no Riozinho do Rôla é de R$12,00. No caso do seringueiro comercializar
diretamente no mercado em Rio Branco, este valor pode chegar a R$14,00. Segundo os
ribeirinhos é uma quantia boa para o pouco trabalho que realizam. Neste sentido reclamam
que o período de coleta e comercialização é pequeno, apenas três meses.
Além da castanha-do-brasil, outra fonte de renda obtida pelos ribeirinhos é a
extração de látex da seringueira (Hevea brasiliensis)1. Diferentemente da castanha, a
seringa tem sua produção garantida por todo ano, porém sofre variações de qualidade em
função da quantidade de chuvas e do local de sua ocorrência. Os seringueiros consideram
que se trata de um produto de pouco rendimento, onde 200 litros de látex fornecem,
aproximadamente, de 8 a 10 quilos de borracha. Este aspecto, associado à variação de
produção de diferentes seringais faz com que a produção de seringa oscile em termos de
quantidade e qualidade. Essas alterações têm por conseqüência, segundo os moradores, a
obtenção de uma renda não constante durante o ano, o que os força a buscar alternativas de
renda, como a criação de gado, dentre outros.
A ocorrência destes dois produtos principais de extrativismo, a castanha e a seringa,
segundo os ribeirinhos, são em áreas mais drenadas, longe de matas ciliares. Segundo os
ribeirinhos, a ocorrência de seringueiras em áreas um pouco mais úmidas ou sob condições
de drenagem deficientes, tem como conseqüência a produção de um látex de baixa
qualidade e pouco produtivo. O aparecimento da seringueira em áreas mais alagadas são
casos isolados. No entanto, observou-se uma grande concentração de seringueiras

1
Ainda de acordo com o IBGE (2006), em 2005 foram retiradas 2073 toneladas de látex (3,61 milhões de
Reais).

52
distribuídas ao longo do leito do Rio em épocas de cheia. Ocorrência que deverá ser
estudada com maiores detalhe posteriormente (Figura 40).

Figura 39. Produção de castanha esperando para ser


transportada no Riozinho do Rôla (Foto: Figura 40. Árvore de seringa no leito do Riozinho
IzaiasFenandes, março 2007) do Rôla (Foto: Edson Araújo, março
2007)

3.2. Produção de subsistência.

A dinâmica de produção utilizada pelos ribeirinhos se dá a partir de uma agricultura


itinerante: ocorre a implantação de uma lavoura em uma determinada área e quando cessa
ou diminui a produtividade migra-se para outra área.
A produção se dá seguindo o esquema de desmate, limpeza da área, plantio de
culturas e formação do pasto. No que se refere ao plantio de culturas, geralmente têm-se
uma seqüência que é o plantio de arroz, depois o milho e em seguida o feijão. Em áreas
mais altas se cultiva comumente a mandioca, pois são culturas mais adaptadas as condições
de menor umidade e fertilidade. O trabalho de Morán (1990) apresenta um exemplo
interessante sobre como o conhecimento local forma a base de estratégias de sobrevivência
destas populações na floresta Amazônica.
A utilização da lavoura de subsistência como, arroz, feijão, milho e mandioca é
realizada por meio de um processo dinâmico que envolve o desmate, a queima da floresta,
o cultivo, a colheita, a mudança de área produtiva, repouso (pousio) e, finalmente, retorno a
área. Geralmente esse retorno se dá em um período de 2 a 3 anos, a depender das condições
de fertilidade do solo.

53
Por se tratar de uma região com características climáticas e biológicas específicas
com altas temperaturas, disponibilidade hídrica e fontes de dispersão, o processo de
regeneração natural é relativamente rápido. Nota-se que em áreas onde se iniciou a cultura
tem-se a presença de algumas espécies pioneiras, como a imbaúba. As Figuras 41, 42 e 43
ilustram diferentes áreas de produção em distintos estágios de regeneração após a limpeza e
conseqüente plantio de culturas.

Figura 41. Área recém desmatada para plantio de culturas na Colocação Dominguinhos,
Seringal Passagem no Riozinho Rôla (Foto: Izaias Fernandes, março de
2007)

54
Figura 42. Área plantada com culturas agrícolas onde inicia um processo de regeneração,
Colocação Dominguinhos, Seringal Passagem no Riozinho do Rôla (Foto:
Izaias Fernandes, março de 2007).

Figura 43. Área onde foi realizado o plantio de milho, em seguida será plantado feijão,
Colocação Dominguinhos – Seringal Passagem no Riozinho do Rôla (Foto:
Izaias Fernandes, março de 2007)

3.3. Produção tecnificada: as fazendas.

As fazendas localizadas mais a leste da bacia hidrográfica têm a criação de gado


como principal atividade produtiva. Com isso, a ação antrópica se apresenta como
extremantemente degradatória, seja pela retirada da vegetação nativa, seja pelas formas de
manejo utilizadas (Figuras 44).
Essas atividades não possuem uma adequada assistência técnica o que faz com que
as práticas de manejo, muitas vezes, não são conservacionistas, como: utilização
indiscriminada de agrotóxicos; superpastejo; desmatamento de matas ciliares; etc. Os
fazendeiros são proprietários capitalizados que constroem uma estrutura fundada na
contratação de empregados para o manejo do gado durante o ano e de instalações dentro da
fazenda.
As atividades de produção desenvolvidas são exclusivamente para a geração de
lucro e para se abastecer. Os produtos alimentícios cultivados dentro da propriedade são

55
para o próprio consumo da fazenda e a exploração dos recursos florestais, quando existe,
são para aumentar a área de pastos ou para a comercialização da madeira.
A maioria das fazendas encontradas na bacia está localizada em pontos estratégicos
que facilitam sua comunicação e deslocamento. A localização próxima à Rodovia Estadual
AC 090 (Trasacreana) e a pouca distância com a cidade de Rio Branco facilita e
potencializa as atividades produtivas a serem desenvolvidas pelas fazendas.

Figura 44. Pastagem com aparecimento de áreas erosivas ao


longo da Rodovia AC 090 (Transacreana) (Foto:
Edson Araújo, março 2007)

4. Os povos ribeirinhos

As casas dos ribeirinhos possuem uma estrutura diferenciada de saneamento com a


presença de banheiros e um escoamento de dejetos para locais mais baixos do terreno. A
obtenção de água de qualidade para as atividades domésticas tem duas fontes básicas: as
nascentes ou vertentes e o Riozinho. Segundo os ribeirinhos a qualidade da água da
nascente é melhor. Em época de chuva a água do Riozinho fica turva e em época de seca a
quantidade (vazão) compromete seu uso. Não é toda família que tem acesso a uma água de
qualidade, de nascente. Muitas delas dependem exclusivamente da água do Rio para
execução de todas as atividades domésticas e produtivas.
O nível de instrução máximo observado para essas populações é o ensino básico, 4ª
série do primeiro grau. Essa pouca escolaridade pode ser explicada pela falta de professores
e escolas para outras séries; à distância e possibilidade de deslocamento para a cidade e, por
fim, a impossibilidade dos pais em manter seus filhos na cidade de Rio Branco estudando.

56
Em um local onde a comunicação é deficiente, a instrução é mínima e a distância de
agentes de aplicação de políticas de controle de natalidade é grande, foi observado um
número relativamente alto de crianças por casal. Geralmente, a união entre casais se dá
prematuramente: a mulher se casa com idades variando entre 14 e 15 anos. A esposa se
dedica aos cuidados da casa e dos filhos, já o homem com a lida com o gado, à coleta de
castanha e a extração de seringa. Em algumas atividades produtivas a mulher tem maior
participação com a criação de pequenos animais e auxílio ao homem no plantio e colheita
da lavoura de mandioca, de feijão e de milho. A Figura 45 apresenta uma atividade
produtiva onde a mulher tem principal participação, a criação de pequenos animais.

Figura 45. Criação de pequenos animais na Colocação Ipiranga no Riozinho do Rôla (Foto:
Nazaré Macêdo, março 2007).

Embora seja uma morada simples, com poucos utensílios domésticos convencionais,
a casa do ribeirinho é asseada, muito limpa e de um aconchego característico. Geralmente a
casa é construída em um nível superior de aproximadamente 0,5 a 1 metro. Isso evita a
entrada dos animais para o interior da moradia.
Foi relatado pelos ribeirinhos sobre a ocorrência em maior ou menor grau de
doenças como malária, dengue e leshimaniose, dependendo da época do ano. São
enfermidades que, segundo os moradores, diferentes membros da família as contraíram por
diversas vezes. Ao mesmo tempo em que se observa a ocorrência dessas enfermidades,
existe a dificuldade de tratamento em função da distância e pelas dificuldades impostas

57
dependendo da época do ano. A pouca ou nenhuma presença de unidades médicas em
diferentes regiões também dificulta a vida e o tratamento médico destes ribeirinhos.

5. Os usos e a relação dos recursos naturais com os ribeirinhos.

Os ribeirinhos elaboraram estratégias de sobrevivência neste ambiente o que


envolve um delicado processo de adaptação e um grande conhecimento sobre o ambiente
que os cerca. Neste sentido, o uso e a dependência dos recursos naturais que a floresta
oferece são grandes.
De acordo com Colchester (2000) as populações ribeirinhas, foco desta pesquisa,
podem ser consideradas populações tradicionais: grupos étnicos que usam de técnicas
apuradas de produção, com uso de simbolismos relacionado com sua cultura e que é
passado entre gerações.
A dependência para com os recursos naturais também se relaciona com uma maior
integração entre homem e natureza o que faz surgir um conhecimento fundamentado na
experiência vivenciada pelos ribeirinhos (Begossi, 2001). Essa dependência para com os
recursos naturais se dá de várias formas: deslocamento, produção, fonte de renda, lazer,
fonte de alimentação, construções rurais, fontes de energia, produtos medicinais, entre
outros.
Em época de chuvas, como aqui comentado, a principal forma de transporte é o
Riozinho e seus afluentes. Desta forma, o aumento da vazão do Rio se torna o meio de
utilização direta do deslocamento para as comunidades dentro e fora da BHRR. Neste
sentido, as embarcações utilizadas têm como principal matéria prima a madeira extraída da
floresta. Em embarcações grandes, como os chamados batelões, ou de porte menor como as
construídas de uma peça única de madeira, os recursos florestais sempre utilizados.
Algumas espécies têm preferência para este tipo de construção a jacareúba, a
itajubá, a guariúba e até mesmo a castanheira. Estas espécies apresentam uma maior
durabilidade em condições de grande umidade. As Figuras 46 e 47 apresentam as
embarcações comumente utilizadas pelas populações ribeirinhas fabricadas de madeira.

58
Figura 46. Batelões utilizados para o transporte Figura 47. Embarcação construída com uma
de diferentes produtos peça única de madeira

Para a construção de suas moradias os ribeirinhos utilizam determinadas espécies


florestais, dependendo de sua função estrutural: telhado, parede ou piso. Nas casas mais
simples, por exemplo, é comum que a casa seja construída de paxiúba (Iriartea Deltóidea)
que é uma palmeira em que suas folhas são usadas na cobertura das casas. A jarina
(Phytelephas spp.) também é utilizada e, segundo os ribeirinhos possibilita uma cobertura
melhor. As Figuras 48, 49, 50 e 51 apresentam diferentes residências dos ribeirinhos. Cada
uma com aspectos e espécies florestais diferentes.

Figura 48. Residência de um ribeirinho construída de Figura 49. Escola construída de paxiúba e
madeira retirada da floresta na Colocação jarina, Colocação Ipiranga, Riozinho do Rôla
Boa Vista, Riozinho do Rôla (Foto: (Foto: Izaias Fernandes, março 2007)
Nazaré Macêdo, março de 2007)

59
Figura 50. Interior da casa de um ribeirinho, Figura 51. Casa de ribeirinha construída de palha de
Colocação Ipiranga, Riozinho do Rôla paxiúba, Colocação Dominguinhos ,
(Foto: Izaias Fernandes, março 2007) Riozinho do Rôla (Foto: Izaias Fernandes ,
março 2007)

Uma variedade de plantas é usada pelos ribeirinhos, muitas das quais em práticas
medicinais (Amorozo & Gély, 1988). A utilização de plantas e outros recursos para a cura
das enfermidades é comum. Algumas espécies utilizadas por eles como medicinais são o
jatobá (Hymenae spp.), a unha-de-gato (Mimosa bimucronata) e o cajiru que são, também,
extraídos da floresta.
Outro fato é a domesticação de animais silvestres realizado pelas famílias de
ribeirinhos, como o loro (Papagaio). Esta domesticação não chega a privar a liberdade dos
animais, uma vez que são capturados e criados em liberdade nos arredores da casa dos
ribeirinhos. Desta forma, o animal pode ir embora quando desejar.
Os animais constituem importante parte da dieta do ribeirinho. Begossi, Amaral &
Silvano (1995) estudando os habitantes do Alto Juruá afirmam que a caça é uma fonte de
proteína muito importante, principalmente durante a estação chuvosa. A caça realizada
pelos ribeirinhos não é comercial e sim de subsistência. O que preocupa é a pressão sobre
os animais com o aumento do número de famílias ribeirinhas. Também contribui para esta
pressão a presença constante de pessoas da cidade que caçam nas matas. Os ribeirinhos,
embora digam que exista ainda muita caça nas matas, o número de animais eram maiores
em anos passados.
Uma caça preferida pelos seringueiros é a carne de Anta. Entretanto, é este animal
que promove a dispersão das sementes de castanha que é comumente encontrada na região.
Essa caça pode comprometer a propagação desta espécie vegetal.
Outro uso dos recursos florestais é como fonte de energia, combustível. A
castanhinha é exemplo desta utilização.

60
Esses diferentes usos feitos pelos ribeirinhos demonstram o conhecimento que estas
comunidades têm para com os recursos que lhes são oferecidos, mas também sua grande
adaptabilidade de sobrevivência. O que pode ser comprovado ao se ouvir uma ribeirinha
dizer: “Não se passa fome na floresta. Sempre se tem um recurso disponível”.

6. Observações gerais

As populações em sua maioria que residem na bacia têm sua origem na região
nordeste do país através dos fluxos migratórios que ocorreram no início do século XIX
durante o ciclo da borracha. Com isso herdaram costumes e o modo de vida destas
populações: a linguagem e a alimentação refletem bem essa importação de cultura.
De acordo com Ribeiro (2006), o declínio dos seringais fez com que, estas
populações que extraiam o látex, por estarem marginalizadas economicamente, se
encontravam em uma situação de adaptação as formas de vida regional. Tiveram que caçar
utilizando arco e flecha para poupar munição; abrir roçado usando instrumentos
rudimentares e se alimentavam de comidas da terra como a tartaruga e o jacaré. Até então o
dono do seringal fornecia produtos industrializados vindos de fora do seringal.
No caso da região em estudo, a adaptabilidade dos povos ribeirinhos as diferentes
condições apresentadas pela floresta pode ser explicada por fatores como a transferência de
conhecimentos de povos indígenas nativos da Amazônia, por saberes trazidos de suas
regiões de origem, mas também de conhecimentos construídos dentro da Floresta. Neste
aspecto, é importante verificar a presença de pessoas de conhecimento dentro destas
comunidades e entender se existe uma transferência de saber para populações mais jovens.
Essas pessoas de conhecimentos são denominadas de especialistas por Brandão (1981).
Ao que parece, essa transferência ocorre e se trata de um processo que se inicia
cedo. Como aqui comentado, a permanência e freqüência na escola para esta região é
difícil, por isso é interessante verificar esse repasse de conhecimento tradicional apreendido
durante toda a vida e repassado pelos pais. Entender esse conhecimento é importante para
que se pense em estratégias educacionais ajustados as condições de vida dos ribeirinhos.
Em um local de uma grande abundância de recursos naturais, a noção de
conservação ou até mesmo de preservação ambiental é um tanto quanto deturpada. Por se
tratar da floresta Amazônica têm-se uma idéia de que os recursos naturais ali disponíveis
nunca ou dificilmente se extinguirão, a partir de um período de tempo que para nós é
conhecido. Ribeiro (1997) apresenta uma visão semelhante por parte de agricultores

61
familiares residentes na região da zona da mata mineira, especificamente na região do Vale
do Jequitinhonha e do Mucuri durante os primeiros anos de colonização da área.
Por isso, é importante reconhecer como estas populações enxergam seus recursos e
se têm a noção de um manejo mais conservacionista. É preciso entender como se dá o
manejo destes recursos naturais pelos diferentes agentes que residem dentro da bacia
hidrográfica com o intuito de propor estratégias de uso e gestão mais ajustadas a diferentes
visões de conservação da natureza.
Sobre a coleta da castanha é importante avaliar alguns aspectos que se relacionam a
disponibilidade deste recurso. O número de famílias envolvidas na coleta pode contribuir
para uma pressão sobre esse recurso. O melhor preço pago pela castanha pode causar uma
maior procura o que pode ser negativo pelo ponto de vista conservacionista.
A extração do látex apresenta algumas normas que são seguidas pelos seringueiros:
o descanso de árvores que não produzem ou produzem pouca quantidade e um respeito para
com a delimitação das áreas de extração da seringa. Mas, e a exploração de outros recursos
da floresta que são por eles utilizados? Existe alguma regra ou norma formulada para sua
utilização? Em que ponto estas regras podem contribuir para a formulação de estratégias de
gestão de bacias? Estes aspectos são importantes para se pensar na formulação de um plano
de manejo de bacias participativo e consciente.
Talvez seja importante levantar e identificar, dentre os ribeirinhos, estratégias
tradicionais de manejo da natureza. Isso possibilita que entendamos como se deu esse
processo, valorizar esse conhecimento, mas também pode contribuir para a ciência
acadêmica em aspectos que lhes possa ser desconhecida.
O aumento constante de desmatamento pode comprometer a coleta da castanha e
prejudicar no incremento de renda para as famílias ribeirinhas. As associações existentes no
Riozinho podem contribuir com a organização do ponto de vista produtivo e de
comercialização, atuando no sentido de sensibilizar as famílias sobre estas questões
apontadas anteriormente.
A renda familiar do ribeirinho parece ser dispersa e variável dependendo da
atividade. Investigar esta renda dá suporte para criação de alternativas de renda mais justas
e conservacionistas, em sobreposição a formas de manejo, que embora possam parecer mais
rentáveis, são degradatórias ao ambiente de estudo, como no caso da criação de gado.
Parecem existir dois principais públicos que desenvolvem diferentes atividades: os
agricultores familiares extrativistas (ribeirinhos) e o pecuarista. A separação destes dentro
da bacia parece ser nítida. No baixo Riozinho há a presença de fazendeiros que se dedicam

62
a criação de gado, já no alto e médio Riozinho do Rôla há predominância de agricultores
familiares que mesclam suas atividades entre a extração de seringa, a coleta da castanha, a
agricultura de subsistência. Esse agricultor extrativista realiza uma criação de gado que
varia de acordo com a propriedade em termos do tamanho do rebanho e do pasto.
A maior dependência dos recursos da floresta pelos agricultores extrativistas ou
ribeirinhos pode ser em função da maior distância até a cidade de Rio Branco, o que
dificulta a obtenção de recursos vindos destas áreas urbanas, como recursos públicos e
serviços. Esse relativo isolamento favoreceu uma maior interação destes para com a
floresta.
Por outro lado, parece existir uma maior utilização dos recursos por parte dos
fazendeiros do baixo Riozinho e, conseqüentemente, uma maior degradação. Outro aspecto
é a interferência das áreas urbanas para com os recursos dentro da bacia: quanto mais
próximo da cidade mais degradado são os recursos.
Enfim, as atividades pecuaristas são grandes áreas concentradas no baixo Riozinho
do Rôla, dedicadas exclusivamente a criação de gado e empregam, relativamente, poucas
pessoas. Portanto, comparando com os pequenos proprietários do alto Riozinho, a geração
de renda destas propriedades traz pouco ou nenhum benefício para o município e para a
natureza. Neste sentido, seria interessante relacionar a importância destas duas atividades
conflitantes dentro da bacia investigando estas distintas unidades produtivas para que a
elaboração de programas e projetos de desenvolvimento para a bacia hidrográfica seja o
mais eficiente possível.

Objetivo 8.

1. Percorrendo a bacia: primeira viagem

Uma primeira viagem foi realizada no período de 24 de abril a 15 de maio de 2006,


tendo como finalidade observar aspectos sociais, e ambientais da bacia, dando início a um
processo de Feedback com as comunidades locais, a fim de que o projeto tivesse em sua
estrutura elementos direcionados para a realidade local Devido ser o período que o Rio
começar a baixar sua águas, a viagem, da foz em direção a montante do Rio foi possível
chegar até a o Projeto Oriente, onde está localizada a Escola Estadual Verdes Florestas
(Figura 52).

63
Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, Rio Branco - Acre

Figura 52. Pontos visitados durante 4 dias na Bacia Hidrográfica do Riozinho do


Rôla no período de 24 de abril a 15 de maio de 2006

O Riozinho do Rôla foi percorrido por barco tipo voadeira por 4 dias, nesta viagem
observou-se uma vasta região, que mesmo sendo próxima da capital de Rio Branco, possui
uma diversidade cultural, social, econômica e ambiental, que a cada momento era
percebida.
Durante a viagem, o pernoite foi realizado nas residências dos moradores locais,
tendo como finalidade realizar conversas informais com vistas a compreender a diversidade
cultural que existe na bacia, assim como identificar as reais necessidades dos moradores e
suas prioridades em relação aos aspectos dos recursos hídricos.
Ao chegar à foz do Rio, subindo em direção até a 3ª. Ponte (União) observa-se as
margens em sua maioria desmatadas, utilizadas com pastagem extensiva por grandes
fazendas e também por agricultores ribeirinhos que residem em área de assentamento do
INCRA, assim como a água com uma maior carga de sedimentos em suspensão e (Figura
53).

64
Figura 53. Margens desmatadas e água com sedimentos em
suspensão ao longo do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira,
maio de 2006)

Ainda nessa região, em direção à foz, ocorre a predominância de solos arenosos


(estratos arenosos) (Figura 54), fato que será verificado com maiores detalhes após a
realização da caracterização de ambiente e levantamento de solos, nas regiões do baixo,
médio e alto da bacia. Além disso, observa-se ainda a predominância de solos Neossolos
Flúvicos (Aluviais) em suas margens, principalmente, quando se aproxima da região mais
baixa da bacia, seguindo para a foz.

Estratos de solos arenosos

Figura 54. Extratos de solos arenosos no fundo, ao longo do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira,
maio de 2006)

Entretanto, ao percorrer essa região (parte média) em direção as nascentes, pelo


menos até a Escola Estadual Verdes Florestas, verificou-se a ocorrência de mudanças no
gradiente florestal, aspectos de moradias, qualidade da água (cor mais clara) (Figura 55) e
manutenção de florestas as margens do Rio de forma substancial (Figura 56).

65
Figura 55. Água mais escura com menor carga de Figura 56. Manutenção de florestas as margens
sedimentos em suspensão ao longo do do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira)
Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira, maio
de 2006)

Durante todo o trajeto da viagem (subida e descida do Rio) os pesquisadores,


buscaram selecionar os pontos de instalação dos pluviômetros, utilizando GPS. Devido às
condições do Rio, que já na vazante, não foi possível chegar até as nascentes,
impossibilitou a seleção de pontos para a instalação de pluviômetros naquela região. No
entanto, por meio de coordenadas do mapa de campo foi possível identificar apenas 20
locais potenciais para a realização desta atividade. No entanto, alguns critérios foram
estabelecidos para realizar esta seleção, tais como: o pluviômetro deverá ser instalado na
propriedade dos produtores (as), sendo que a leitura será realizada pelos mesmos; conversar
primeiramente com o (a) morador (a) sobre o trabalho e possível instalação dos
pluviômetros em sua propriedade; que a decisão de instalação do pluviômetro na
propriedade fosse do (a) próprio (a) morador (a); que a instalação dos pluviômetros fosse
realizada ao longo do Riozinho do Rôla, próxima a foz dos afluentes e nas nascentes.

1.1. Instalação de Pluviômetros

Mesmo sendo selecionados os 20 pontos para instalação de pluviômetros na bacia, é


pretensão do projeto a instalação de uma maior quantidade de pluviômetros, em
decorrência de se obter uma melhor precisão nas análises do volume e distribuição da
precipitação na região.
Dessa forma, foi realizada uma viagem no período de 21 de setembro a 06 de
outubro de 2006, tendo como finalidade a instalação de pluviômetros nos pontos
selecionados in loco e por meio do mapa de campo.
Anterior a viagem, com apoio do Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC/AC),
as peças dos pluviômetros foram compradas e montadas em Rio Branco. Em decorrência da

66
escassez de recursos os pluviômetros foram fabricados com canos de PVC, conforme
especificação como mostra o Quadro 6 a seguir:

Quadro 6. Especificações das peças para montagem de 1 pluviômetros

Material Quantidade Descrição


Tubo Esgoto 30,0 cm 150 mm
Redução PVC 1 1¼x1
Redução Esgoto 1 50 x 40
Redução Esgoto 1 100 x 50
Redução Esgoto 1 150 x 100
Tubo cola para (PVC) 1 Tubo pequeno
Registro PVC 1 1
Proveta 1 1000 ml
Proveta 1 500 ml
Proveta 1 100 ml
Luva de Correr 1 150 mm

Como era período de seca, o acesso aos locais foi realizado por meio de veículo tipo
Toyota e caminhadas, no qual foram exploradas várias áreas da bacia para poder encontrar
os pontos selecionados, ou identificar novos locais potenciais para instalação (Figuras 57,
58, 59, 60).

Figura 57. Inicio da expedição da equipe para Figura 58. Moradores da Reserva Extrativista Chico
identificar os locais potenciais e instalar Mendes, Colocação São João do
os pluviômetros (à direita professor Herly Guarani, e pesquisadores após conversa
da UFV, no centro Marlene – técnica do sobre o projeto. Município de Xapuri
IMAC/AC e Nazaré Macêdo – (Foto: José Passos)
pesquisadora do projeto). Balsa do Rio
Xapuri - Foto: José Passos

67
Figura 59. Sentido município de Assis Brasil em Figura 60. Caminhada de 4 horas com moradores da
busca da nascente do Riozinho do Rôla, região para chegar a uma das nascentes do
entrada da Reserva Extrativista Chico Riozinho do Rôla, na Colocação Boa Vista,
Mendes, pesquisadores no carro e o Reserva Extrativista Chico Mendes (Foto:
motorista Raimundo de blusa vermelha José Passos)
(Foto: Herly Dias)

Mesmo tendo o mapa como o referencial, houve dificuldades em encontrar os


pontos selecionados, decorrente da falta de informação sobre as localidades, assim como o
difícil acesso no interior da bacia, principalmente, para se chegar às nascentes. O que se
observou foi que não existe um cadastro dos moradores que residem em toda a área de
drenagem da bacia do Riozinho. Isso dificulta o dimensionamento da densidade
populacional dos moradores da bacia, assim como uma assistência por parte do poder
público aos moradores locais com maior eficiência.
Para conseguir chegar aos locais selecionados tivemos que seguir as coordenadas ou
ir perguntando aos moradores que residem ao longo dos ramais, que tinham acesso sobre as
localidades que pretendíamos chegar. Sempre nos referíamos as regiões da bacia, como
nascentes ou foz. Com isso, foi possível ter noção onde estávamos e onde pretendíamos
chegar.
Para poder garantir e iniciar um processo de consolidação da participação dos
moradores potenciais para realizar as medições de precipitação, e acima de tudo garantir
que os mesmos começassem a se sentir agentes diretos desse processo de construção do
conhecimento foi realizado uma abordagem com as famílias nas propriedades,
especialmente, em locais que ainda não tinham conhecimento da equipe. Assim, o referido
projeto foi detalhado, argumentando o seguinte: o que era o projeto; quem estava
envolvido; que atividades seriam desenvolvidas; porque seriam desenvolvidas; porque era
importante a participação das famílias nesse processo; e após várias discussões sobre o
assunto, perguntava-se se os mesmos estariam interessados em participar (Figuras 61).

68
Outro ponto importante de ser ressaltado, é que as pessoas da família deveriam indicar
alguém para realizar essas medições, contando que fosse uma pessoa alfabetizada, fato esse
lidado com muito cuidado e respeito para não haver constrangimento com relação às
pessoas diante da situação.

Figura 61. Pesquisadores (à direita Nazaré Macêdo, no


centro José Passos), conversando sobre
instalação dos pluviômetros com o professor
da escola local, João (à esquerda – blusa
vermelha) na colocação São João do Guarany
- Reserva Extrativista Chico Mendes (Foto:
Marlene)

Com isso, diante das dificuldades encontradas, o período de tempo gasto para a
instalação dos pluviômetros foi insatisfatório, uma vez que era necessário indagar e realizar
todas as discussões, tirar dúvidas, ter uma conversar tranqüila com a família sobre o projeto
e também sobre o processo de instalação dos pluviômetros. Além disso, o processo de
abordagem com as famílias, ou seja, a chegada na propriedade foi inesperada e muito
brusca, tendo um desencontro entre os membros da equipe em relação ao diálogo inicial
para com os moradores que se acredita ter deixado-os em alguns momentos confusos com
tanta informação. Esse processo possibilitou a equipe, analisar metodologia de abordagem e
replanejar suas ações em períodos mais longos de permanência com as famílias chaves.
Após o morador aceitar a instalação em sua propriedade, locais estratégicos foram
selecionados, considerando os seguintes aspectos:
• O pluviômetro deve ser instalado aproximadamente a 1.5m de altura.
• A boca do pluviômetro deve estar a esta altura.
• Em geral se instala em um poste de madeira ou em qualquer objeto que
permita que o instrumento esteja à altura indicada e que não bloqueie a parte
superior do pluviômetro, por donde deve passar a água de chuva.

69
• O poste deve aderir-se a uma estrutura de madeira ou algo que permita
colocar o pluviômetro.
• A maneira mais fácil de aderir este suporte é utilizando um arame e
ajustando-o até que o suporte fique bem fixo no poste.
Em seguida foi solicitada a contribuição do morador para realizar a instalação em
conjunto com os pesquisadores, sendo importante essa participação no sentido de se
aproveitar para explicar o processo que deveria ser realizado na medida da precipitação
(chuva), assim como os cuidados a serem tomados com o aparelho (Figuras 62a, b e 63). A
Figura 64 mostra a distribuição na bacia hidrográfica do Riozinho de 13 pluviômetros que
foram instalados durante essa expedição. Conforme foi ressaltado anteriormente, serão
instalados mais quatro pluviômetros um em cada nascente dos afluentes do Riozinho do
Rôla, que são: Igarapé Espalha, Vai-Se-Ver, São Raimundo e Caipora.

(a) (b)
Figura 62. (a e b) Fincamento do mourão para instalação do pluviômetro - Colocação Santana, Igarapé
Caipora – Afluente do Riozinho do Rôla (Pesquisadores e morador local) Foto: Nazaré
Macêdo, outubro de 2006

70
Figura 63. Pluviômetro instalado na Colocação Samaúma, Reserva
Extrativista Chico Mendes (Foto: Marlene Fugiwara,
setembro de 2006)

Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, Acre

Figura 64. Localização dos pluviômetros instalados na bacia hidrográfica do


Riozinho do Rôla, município de Rio Branco - Acre

1.2.Entrega das provetas

Na viagem de instalação dos pluviômetros não foi possível entregar as provetas


(coletor de chuva para posterior medição) em decorrência de não estar disponível no
comercio local de Rio Branco. Com isso, o pedido foi realizado pelo Instituto de Meio
Ambiente do Estado do Acre sendo em seguida efetuada a compra.

71
Esse processo foi agilizado devido à preocupação por parte do coordenador e
pesquisadores do projeto em não perder o período de chuvas da região, fato que poderia
prejudicar na coleta dos dados e seqüência diária da quantidade de chuva mensurada. Além
disso, um breve retorno teria que ser realizado para as famílias que se propuseram em
contribuir com a medição da precipitação em suas propriedades. Sendo assim, outra viagem
foi realizada no período de 16 a 28 de março de 2007, com vistas à entrega das provetas e
caracterização preliminar da região no que se refere à dinâmica de relevo e solos, aspectos
socioeconômicos como referido neste relatório.
A entrega das provetas possibilitou readequar a metodologia anterior de abordagem
e realizar a capacitação de forma tranqüila das pessoas que foram selecionadas pelas
próprias famílias para medir a chuva, ou seja, foi oportunizado um período de tempo maior
nas propriedades. Isso possibilitou explicar com maior nível de detalhe as medições que
deveriam ser realizadas e o registro das mesmas.
Dessa forma, esse processo tem como objetivo proporcionar a auto- aprendizagem
referente às questões ambientais, tanto para os pesquisadores quanto para os moradores
locais, assim como, permitir que ambos possam entender como ocorre à dinâmica e
distribuição das chuvas que abastece a bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla.
Ao realizar as primeiras explicações para a comunidade sobre como medir a chuva
utilizando a proveta percebeu-se que as mesmas estavam ficando constrangidas, pois os
outros membros da equipe observavam e muitas vezes tentavam ajudar de alguma forma,
aumentando ainda mais o nervosismo do morador (a).
Com isso, ficou claro naquele momento que esta forma de abordagem estava
restringindo os moradores em pensar sobre o que estávamos explicando, e até mesmo a
executar a prática para realizar a medição, fato preocupante no momento, sendo que
poderia vir a prejudicar o processo de construção da troca de conhecimento. Com isso, após
identificar esse ocorrido, os demais membros da equipe era deslocado para outras áreas de
estudo, ficando apenas um pesquisador, que de forma seqüenciada, passou a explicar sobre
o processo de medição da precipitação, tentando resgatar a importância da participação
local, mostrando o valor da parceria comunitária para o desenvolvimento do projeto, assim
como a troca de informações sobre as questões ambientais (Figura 65).

72
Figura 65. Pesquisadora Nazaré Macêdo explicando para a
Sra. Fátima como realizar a coleta de chuva para
posterior medição – Colocação Dominguinhos,
Seringal Passagem, no Riozinho do Rôla (Foto:
Edson Araújo, março 2007)

Em seguida, observou-se que o morador (a) foi ficando mais tranqüilo, realizando e
entendendo todo o procedimento (Figura 66, 67 e 68a e b). A partir desse momento todas as
demais explicações foram realizadas seguindo essa estratégia, ter apenas uma pessoa da
equipe para explicar sobre a medição da precipitação.

Figura 67. Johny Araújo realizando a prática,


Colônia Santo Antônio, Riozinho do
Figura 66. Sra Fátima realizando a
Rôla (Foto: Nazaré Macêdo , março de
prática (Foto: Edson Araújo,
2007)
março de 2007)

73
(a)

(b)

(c)
Figura 68. Seqüência mostrando os procedimentos de coleta (a), medição (b) e registro (c) realizado na prática
pelo Sr. José Augusto, morador da Colocação Macaúba, foz do Igarapé Espalha, afluente do
Riozinho do Rôla (Foto: Nazaré Macêdo, março 2007)

CONCLUSÕES

Diante dos resultados que foram explicitados, torna-se importante ressaltar que o
processo de construção do projeto no que se refere à consolidação das parcerias no estado
do Acre está em fase de consolidação, sendo que todas as instituições estão interessadas no
fortalecimento das parcerias, com isso, será realizada uma reunião em agosto para propor
ações integradas com vistas em uma maior eficiência das atividades dentro da bacia.
Com a realização das atividades que foram realizadas e que estão descritas neste
relatório foi possível se aproximar ainda mais das comunidades que residem na bacia,
considerando que, ao percorrer a bacia, e também por ter a preocupação de parar nas
propriedades e informar o que a equipe estava realizando na região, além de que foi
notificado no rádio local por meio de mensagem sobre o projeto, observou-se que o projeto
está sendo disseminado na região, fato importante, pois irá possibilitar em um maior

74
entendimento pelas famílias que residem no interior da bacia, assim como do seu entorno,
sobre as ações do projeto, assim como os resultados.
Quanto à caracterização dos ambientes pode-se perceber que esse estudo preliminar
irá contribuir com ações futuras de levantamento de solos e até mesmo pode ser
considerado como o primeiro passo que foi dado, no resgate do saber local, pois como já foi
relatado, buscou-se integrar os moradores nas atividades de caracterização, proporcionando
assim uma valoração deste saber, além de que se pode compreender que moradores locais
da bacia possuem conhecimentos tradicionais sobre o seu ecossistema que podem
contribuir e garantir a preservação dos recursos hídricos da região.
No que se refere ao monitoramento de precipitação pode-se considerar que uma
base de coleta já está montada na bacia, no entanto, serão instalados mais quatro
pluviômetros para possibilita a coleta de dados de chuvas nas nascentes. Outro fato
importante é com relação aos agentes multiplicadores, pessoas selecionadas para medir a
quantidade de chuva, pois se iniciou um processo de troca de conhecimento entre técnicos e
comunitários, processo esse que é de fundamental importância para a compreensão da
dinâmica do balanço hídrico da bacia.

OBSERVAÇÕES

Conforme descrito neste relatório, algumas atividades somente serão realizadas a


partir de agosto, fato esse que poderá ser justificado em decorrência do atraso na liberação
dos recursos do projeto. Esse atraso impossibilitou a contratação dos técnicos, um
agrônomo e o assessor de imprensa e marketing. Esse fato retardou a realização de algumas
atividades que dependem de uma articulação maior com as comunidades locais. Dentre elas
incluem-se: reuniões para apresentação do projeto, reunião do conselho gestor e reunião
para definição do plano de uma rede de comunicação entre moradores locais e instituições.
Dessa feita, essas atividades já se encontram em andamento para realização.

75
Objetivos/atividades Equipe
Objetivo 1. Herly C Ma. de Nazaré C. Edson Araújo Izaias France José Marlene Marcondes
T. Dias Macêdo Fernandes Gontijo Passos Ferreira
Contato institucional para viabilização do projeto em Rio x
Branco, Acre
Programação das reuniões x
Objetivo 2.
Programação do curso em metodologias de abordagem x x
participativas
Inscrição do curso e certificado x
Objetivo 3.
Programação do curso - Manejo Integrado de Bacias x x
Hidrográficas
Objetivo 6
Prospecção e estudo preliminar de solos e ambientes da bacia x x x x x
hidrográfica do Riozinho do Rôla
Análise preliminar das características socioeconômicas das x x x x x x
populações ribeirinhas do Riozinho do Rôla, Rio Branco, Acre.
Objetivo 8.
Percorrendo a bacia: primeira viagem x x x
Instalação de pluviômetros x x x x
Entrega de provetas x x x x

76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  

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Econômico do Estado do Acre. Zoneamento ecológico-econômico: recursos naturais e meio
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ANEXOS

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