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XXV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HIDRÍCOS

O AUTOMONITORAMENTO DE EFLUENTES, COMO


FERRAMENTA DE GESTÃO DA QUALIDADE DOS RECURSOS
HÍDRICOS

Anderson Assis Nogueira 1; Carolina de Oliveira Silva 2; Eduardo Cuoco Léo3; &
Patrícia G. A. Barufaldi 4

Resumo: O enquadramento dos corpos d’água, manifesta os interesses de qualidade da água


(classe) a serem alcançados ou mantidos. A classe de enquadramento deve ser relacionada ao
uso preponderante mais exigente do corpo hídrico em pauta. A resolução do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) nº 357/2005 estabelece 5 classes de enquadramento possíveis
para as águas doces (Especial, 1, 2, 3 e 4) conforme aumenta a classificação do enquadramento,
diminui a qualidade da água e as tolerâncias quanto aos parâmetros qualitativos são menos
restritivas. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) é o órgão ambiental
do Estado de São Paulo, responsável por fiscalizar e monitorar a qualidade das águas do Estado,
ela implantou um projeto piloto de declaração dos resultados do automonitoramento do
lançamento de efluentes da bacia do Rio Jundiaí, no Sistema INFOÁGUAS (de propriedade da
CETESB). Este projeto objetivou complementar os dados monitorados do Rio Jundiaí, que foi
um dos poucos corpos hídricos do país a ter sua classe de qualidade reenquadrada para melhor.
A eficiência dos dados do automonitoramento declarados no INFOÁGUAS, notada na
avaliação qualitativa do trecho reenquadrado do Rio Jundiaí, revelou o potencial da declaração
do automonitoramento no Sistema, como uma ferramenta de grande potencial na gestão da
qualidade dos recursos hídricos. Neste cenário, a CETESB está implantando a declaração do
automonitoramento em todo estado e a Fundação Agência das Bacias PCJ (Agência das
Bacias PCJ) está viabilizando essa ação como uma ferramenta de gestão hídrica.

Palavras-Chave – Automonitoramento, Rio Jundiaí, Gestão hídrica.

INTRODUÇÃO

1) Doutorando em Tecnologia Ambiental pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil,
(19)99215-2491, anderassis@gmail.com
2
2) Pós-graduanda em Infraestrutura de Saneamento Básico pelo Centro de Pós-Graduação da Escola de Engenharia de Piracicaba
(PÓS EEP), Piracicaba, São Paulo, Brasil, (19)99729-8941, eng.carolinaos@gmail.com
3) Mestre em Ecologia Aplicada pela Universidade de São Paulo (ESALQ-CENA), Piracicaba, São Paulo, Brasil, (019) 3437-2105,
eduardo.leo@agencia.baciaspcj.org.br
4) Especialista em Planejamento & Regulação & Benchmarking Aplicados ao Saneamento pela Universidade de São Paulo (EESC),
São Carlos, São Paulo, Brasil, (019) 3437-2105, patricia.barufaldi@agencia.baciaspcj.org.br

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O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), através da Resolução CONAMA
n° 357/2005 estabelece que o enquadramento de um corpo hídrico deve estar baseado, não
necessariamente no estado atual da qualidade da água, mas nos níveis de qualidade que o corpo
hídrico deve possuir para atender às necessidades da sociedade. Neste contexto, entende-se que
o enquadramento é uma ferramenta de planejamento da qualidade das águas, e seu
acompanhamento pode ocorrer de maneira ainda mais eficaz com o automonitoramento dos
efluentes líquidos.
O monitoramento da qualidade da água deve ser contínuo e rotineiro, de modo que
alterações nos indicadores qualitativos do corpo hídrico, podem levar os comitês de bacias
hidrográficas a alterar a classe de enquadramento. Tendo como exemplo o ocorrido nas Bacias
Hidrográficas Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ), quando a proposta de alteração da
classe de qualidade do Rio Jundiaí, em determinados trechos, de Classe 4 para Classe 3, foi
aprovada pelos Comitês das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
(Comitês PCJ) e referendada pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH).
A Deliberação dos Comitês PCJ nº 261/16 estabelece metas intermediárias e finais, que
devem ser atendidas até 2020 e até 2035, respectivamente, as quais se referem a 05 parâmetros
de qualidade da água bruta, nos trechos com alteração do enquadramento no Rio Jundiaí. Este
acompanhamento e fiscalização é documentado por relatórios previstos pelo CRH, a cada 2
anos.
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) deve se articular ao DAEE
para que ocorra a fiscalização do cumprimento das metas qualitativas almejadas para o Rio
Jundiaí. Para isso são realizadas periodicamente amostragens in loco para avaliar a qualidade
do corpo hídrico. Além disso, as concessionárias responsáveis pelos serviços de água e esgoto
da bacia do Rio Jundiaí têm realizado sistematicamente o automonitoramento da qualidade do
rio desde 2017, complementando a base de dados qualitativos monitorada na bacia.
MATERIAL E MÉTODOS
Conforme art.2 XX da Resolução CONAMA nº 357/2005, o enquadramento de um
corpo hídrico estabelece a meta ou objetivo de qualidade da água (classe) a ser,
obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um trecho de corpo de água, de acordo com os usos
preponderantes pretendidos, ao longo do tempo;
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), através da Resolução CNRH nº
91/2008, evidencia que o enquadramento dos corpos hídricos (superficial ou subterrâneo) se
refere aos objetivos de qualidade da água. Dessa forma, um mesmo corpo d’água pode ter
diferentes classes ao longo de seus trechos, as quais se associam às exigências de qualidade a
serem alcançadas, ou mantidas. Portanto, deve-se acompanhar o atendimento dos padrões
determinados pelas classes enquadradas.
O trecho enquadrado como classe 3 do Rio Jundiaí nos dias atuais, passou por duas
etapas de alteração de enquadramento. O primeiro trecho foi aprovado pelo CRH em 2014,
enquanto o segundo teve sua aprovação em 2017, conforme apresentado na Figura 1. Em
virtude do reenquadramento para uma classe mais restritiva, alguns parâmetros que não
apresentam limites de restrição na Classe 4, passaram a ser controlados, outros que já possuíam
restrição na Classe 4, passaram a ter limites de controle mais restritivos para a Classe 3.

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Figura 1 - Trechos do Rio Jundiaí com alteração de enquadramento para Classe 3 aprovadas pelo CRH.

Fonte: Relatório Técnico Acompanhamento do atendimento às metas de atualização do enquadramento em trechos do


Rio Jundiaí Período 2019-2020. P.13,2021

Para efetivação do enquadramento proposto no Rio Jundiaí, além dos limites de controle
estabelecidos nas Resoluções CONAMA nº 357/2005 e 430/2011 para Águas Doces de classe
3, a Deliberação dos Comitês PCJ nº 261/16 estabelece metas intermediárias e finais
específicas, para os parâmetros: demanda bioquímica de oxigênio (DBO), oxigênio dissolvido
(OD), nitrogênio amoniacal, fósforo total e coliformes termotolerantes.
O Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), em
articulação com a CETESB acompanha o cumprimento das metas de atualização e manutenção
do enquadramento do Rio Jundiaí, monitorando e analisando os indicativos qualitativos e
quantitativos dos trechos reenquadrados. As informações sobre essa fiscalização são publicadas
a cada 2 anos, no Relatório Técnico denominado "Acompanhamento do atendimento às metas
de atualização do enquadramento em trechos do Rio Jundiaí".
A CETESB possui uma rede básica de pontos, onde ela efetua a amostragem para
monitoramento de qualidade da água. Os resultados destas coletas são utilizados para verificar
se a qualidade do rio está em conformidade com as metas estabelecidas. No entanto, a CETESB
tem encontrado dificuldades operacionais para realizar essa avaliação mensalmente, como seria
o mais indicado. Assim, essas análises ocorrem numa frequência bimestral ou trimestral.
Conforme previsto na Resolução CONAMA nº 430/2011, as fontes poluidoras dos
recursos hídricos também devem controlar periodicamente os efeitos dos lançamentos de
efluentes no corpo receptor, através do automonitoramento. Para isso, são realizadas
amostragens representativas do efluente tratado, bem como no corpo receptor (a montante e a
jusante do local onde é feito o lançamento do efluente). As companhias de saneamento da bacia
do Jundiaí realizam esse acompanhamento mensalmente, assim a CETESB optou por
incorporar esses resultados, ao conjunto de dados analisados para monitoramento da qualidade
no Rio Jundiaí.
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Em 2017 a agência ambiental da CETESB de Jundiaí iniciou um projeto piloto de
inserção dos dados do automonitoramento no sistema INFOÁGUAS (ferramenta de
propriedade da CETESB, de acesso público, para consultas sobre diversas informações sobre
qualidade das águas brutas e assuntos de interesse sobre a Gestão de Recursos Hídricos do
Estado de São Paulo). Embora o sistema seja de acesso público, às informações do
automonitoramento ainda não são divulgadas, apenas as da rede própria da CETESB.
Essa estratégia de gestão foi extremamente benéfica pois aumentou tanto a quantidade
de meses monitorados, como o total de pontos acompanhados. A rede básica da CETESB possui
06 pontos de monitoramento de qualidade da água no trecho em questão, enquanto as
concessionárias de água e esgoto acompanham 10 pontos. Considerando que 02 destes pontos
são equivalentes em ambos monitoramentos, totalizam-se 14 pontos monitorados no trecho de
classe 3 do Rio Jundiaí.
A adoção do automonitoramento como instrumento de planejamento e regulação dos
usos das águas se mostrou ainda mais assertiva em 2020, visto que em decorrência da situação
de calamidade pública motivada pela pandemia de COVID-19, o monitoramento da Rede
Básica da CETESB sofreu adequações na frequência e no número de pontos coletados, por
conseguinte as análises disponíveis não foram suficientes para avaliar a qualidade do rio ao
longo do ano. Porém, com a base de dados gerada pelo automonitoramento das companhias de
água e esgoto foi possível avaliar a qualidade das águas do Rio Jundiaí, no ano de 2020.
Essa atividade, relacionada a aplicabilidade dos dados do automonitoramento, notória
na Bacia do Rio Jundiaí, motivou os Comitês PCJ a viabilizarem um investimento na
estruturação das informações do sistema INFOÁGUAS, através da Fundação Agência das
Bacias PCJ (Agência das Bacias PCJ), que desempenha o papel de braço executivo dos Comitês
PCJ. O referido investimento visa a sistematização do INFOÁGUAS e ocorre no âmbito do
Contrato n°044/2019 celebrado entre a Agência das Bacias PCJ e a empresa Novaes Engenharia e
Construções Ltda.
Essa mobilização deriva das ações previstas no Acordo de Cooperação Técnica (ACT)
firmado em 2017, entre a Agência das Bacias PCJ, a CETESB e o DAEE, formalizado a partir de
tratativas iniciadas no Grupo de Trabalho de Qualidade (GT-Qualidade), criado pela Câmara
Técnica de Monitoramento Hidrológico (CT-MH), no âmbito dos Comitês PCJ, para discutir a
qualidade hidrica nas bacias PCJ. O ACT apresenta duas metas: acesso aos dados de qualidade das
águas pela Sala de Situação PCJ/DAEE e disponibilização de dados e informações de qualidade das
águas no âmbito da área de atuação dos Comitês PCJ.
O Contrato n°044/2019 tem por objetivo a validação, processamento de dados de
monitoramento de fontes de poluição e de qualidade da água superficial das Bacias PCJ, e por fim
de repassá-los para a Sala de Situação PCJ/DAEE e Agência das Bacias PCJ, para aprimorar os
dados e os sistemas de informação das redes de monitoramento de qualidade da água.
No que se refere ao automonitoramento do efluente, a Diretoria Colegiada da CETESB
publicou, em 22 de fevereiro de 2022, a Decisão de Diretoria nº 019/2022/C/E/I, que dispõe
sobre a aprovação dos procedimentos para elaboração e implementação do Plano de
Automonitoramento de Efluentes Líquidos (PAEL), a qual foi revogada posteriormente, em 25
de maio de 2022, pela Decisão de Diretoria nº 054/2022/C/E/I, atualmente em vigor. Este
documento remete sobre a elaboração do PAEL e a declaração dos dados de automonitoramento

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no INFOÁGUAS, com os devidos critérios para determinação do regime de monitoramento do
Sistema de Tratamento de Efluentes Líquidos (STEL).
A Decisão de Diretoria nº 054/2022 define o automonitoramento dos efluentes líquidos
como: “a coleta e análise de amostras e interpretação sistemática dos resultados analíticos
obtidos e a tomada de decisão, executados pelo responsável legal do empreendimento e
submetidos à apreciação da CETESB, para o exercício das ações de controle de poluição".
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a publicação pela CETESB da Decisão de Diretoria nº 019/2022/C/E/I (revogada
pela Decisão de Diretoria nº 054/2022), as companhias ambientais do Estado de São Paulo estão
se estruturando quanto à solicitação e apresentação do PAEL. A convocação dos
empreendimentos para declaração do automoritoramento no INFOÁGUAS será gradativa,
contudo cada Agência Ambiental foi obrigada a convocar no mínimo 5 empreendimentos
prioritários para apresentar o PAEL.
A Decisão de Diretoria nº 054/2022/C/E/I estabelece diretrizes para definição da
prioridade e da classificação do regime de monitoramento do STEL, em função do potencial
poluidor do efluente e da vulnerabilidade do corpo d’água. No entanto, o órgão ambiental pode
definir que um lançamento é prioritário em função de ocorrências específicas, que interfiram
na qualidade do corpo hídrico.
O potencial poluidor é determinado avaliando a vazão do lançamento e a Carga
Orgânica Remanescente (COR), enquanto a vulnerabilidade considera a criticidade do corpo de
água, com base no Índice de Criticidade Quantitativa Reservação (ISR) e no Índice de Criticidade
de Qualidade (IQ), de acordo com as faixas estabelecidas na Figura 2, retirada da Decisão de
Diretoria nº 054/2022/C/E/I.
Figura 2 - Faixas de classificação do potencial poluidor remanescente dos efluentes tratados e da vulnerabilidade do
corpo receptor dos efluentes tratados

Fonte: Decisão de Diretoria nº 054/2022/C/E/I. p.11, 2022

Para seleção inicial das fontes prioritárias para declaração no INFOÁGUAS, além dos
critérios recomendados pelo documento oficial da CETESB, os técnicos das Agências
Ambientais têm considerado se a empresa já possui uma rotina consolidada para efetuar o
automonitoramento, pois a estrutura requer planejamento para ser instalada e se manter
funcional.
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Uma vez que para o automonitoramento ser eficaz, os resultados precisam ser
acompanhados periodicamente, bem como comparados a resultados passados e a parâmetros
relevantes, além disso as amostragens e análises precisam ser executadas com rigor garantindo
confiabilidade e consistência nos resultados. Possibilitando assim, a identificação das possíveis
causas dos impactos gerados nos corpos hídricos, bem como maior agilidade nas soluções
propostas.
Neste cenário os Comitês PCJ comprometrema recursos financeiros e a Agência das
Bacias PCJ viabilizou o contrato n°044/2019, que visa a expansão do automonitoramento nas
Bacias PCJ/DAEE, ampliando a base de dados qualitativa da bacia. Com objetivo final de
transmitir esses dados para Sala de Situação PCJ e finalmente incorporá-los aos boletins
quantitativos, que são emitidos diariamente.
Nas Bacias PCJ se encontram 7 agências ambientais da CETESB, situadas nos seguintes
municípios: Americana, Atibaia, Campinas, Jundiaí, Limeira, Piracicaba e Paulínia. Essas
agências totalizam 57 municípios de atuação conforme apresentado na Figura 3. Todos os
pontos de monitoramento de lançamentos de efluentes situados nessa abrangência estão sendo
uniformizados no INFOÁGUAS.
Figura 3 - 58 municípios de atuação das 7 agências ambientais da CETESB nas Bacias PCJ

Fonte: Autores, 2023

Essa uniformização visa validar as informações de cada ponto monitorado com base em
verificações feitas em bases geográficas, desenvolvidas através de softwares livres de
geoprocessamento. Nesta etapa de trabalho, além da coesão na localização dos pontos, são
consolidadas informações como: distância entre a foz até os pontos de lançamento, montante e
jusante, enquadramento no ponto montante e jusante, entre outras informações. Os dados
técnicos, são verificados conforme as informações disponibilizadas pelo órgão ambiental,
permitindo um padrão nas informações.
Na Figura 4 são apresentados todos os pontos monitorados de lançamento em corpo
hídrico e de qualidade das águas inseridos nas Bacias PCJ cadastrados no INFOÁGUAS. Cada
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lançamento em corpo hídrico possui um conjunto de pontos para monitoramento, ou seja, além
da amostragem no efluente propriamente dito, são amostrados 02 pontos no corpo hídrico
receptor, um a montante do lançamento e outro a jusante do lançamento, para verificar a
influência do efluente no rio. Ao todo existem 924 pontos cadastrados nessa região no sistema,
dos quais 308 são pontos de lançamento ou qualidade das águas, 308 pontos de controle a
montante do lançamento no rio e 308 pontos controle a jusante do lançamento no rio.
Figura 4 - Pontos de lançamento de efluentes em corpo hídrico e qualidade da água cadastrados no INFOÁGUAS nas
Bacias PCJ

Fonte: Autores, 2023

Os pontos de monitoramento de qualidade das águas são alocados em lugares


estratégicos para acompanhar questões importantes do corpo hídrico, que não necessariamente
estão relacionadas a um lançamento de efluente. Por exemplo, existem pontos de qualidade na
foz de um rio, para avaliar a interferência do afluente no rio principal. Também podem existir
pontos de qualidade a montante e a jusante de um aterro sanitário, a fim de fiscalizar a influência
do estabelecimento no corpo hídrico. Assim entende-se que as finalidades desses pontos são
múltiplas e se adequam conforme a necessidade.
A validação dos pontos já cadastrados no sistema tem por finalidade garantir
confiabilidade às informações do INFOÁGUAS, uma vez que esses dados serão relacionados
aos resultados informados pelos usuários no momento da declaração do automonitoramento.
Além disso, sempre que identificada a necessidade, são inseridos novos cadastros no Sistema.
Em paralelo, são feitas ações especiais para os empreendimentos já convocados para o
automonitoramento, tais como elaboração de mapas e fichas técnicas, que detalham o entorno
da área.
O INFOÁGUAS identifica os resultados que estão fora dos padrões estabelecidos, com
base nas informações cadastradas. Por isso é tão importante a etapa inicial do contrato, de
padronização das referências. Assim, pode-se evitar problemas no resultado de falsa

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conformidade, como por exemplo se um ponto de classe 3 estiver configurado como classe 4 e
não avaliar os parâmetros conforme os limites estabelecidos para o enquadramento.
Com a integração do INFOÁGUAS se torna mais didático e ágil o acompanhamento do
monitoramento da qualidade do corpo hídrico, por parte dos técnicos da CETESB. No entanto
há um acréscimo na demanda de trabalho, não só pela amplitude de dados para avaliar, mas
também pela necessidade de suporte requerida pelos responsáveis pela declaração dos valores
obtidos com o automonitoramento.
O contrato n°044/2019 visa atuar também nesse contexto, assistindo o acompanhamento
do automonitoramento. Ao longo dos serviços foi desenvolvido um painel de gestão, que
futuramente poderá ser adaptado, para avaliar os resultados declarados pelas fontes poluidoras
do corpo hídrico. No entanto, por se tratar de um tema pioneiro e em expansão (número de
empreendimentos ativos declarando os resultados no sistema), as didáticas de trabalho estão
sendo definidas gradativamente.
As companhias de água e esgoto e grandes empresas estão sendo convocadas para
apresentação do PAEL. As perspectivas são que com uma base de dados consolidados com os
resultados desses automonitoramentos, em conjunto com o monitoramento próprio da
CETESB, os resultados transmitam melhor a realidade da qualidade do corpo hídrico, de modo
que problemas pontuais possam ser identificados com maior agilidade e consequentemente
sejam reduzidos os respectivos impactos ambientais.
Em questão da credibilidade dos dados do automonitoramento, que pode despertar
bastante incertezas quanto a veracidade dos dados, posto que o usuário é o responsável pela
coleta, bem como pela entrega dos dados. Cabe ressaltar que todos os laudos entregues devem
ser de laboratórios acreditados pelo INMETRO, além disso todo empreendimento deverá ter
um representante técnico e legal, que assinará um termo referente a responsabilidade quanto
aos dados gerados. Além disso, os resultados podem ser comparados com o monitoramento
interno da CETESB, facilitando a identificação de resultados anômalos.

CONCLUSÃO
O presente estudo conclui que o automonitoramento dos efluentes, aliado a um sistema
de gestão de recursos hídricos eficaz, traz importantes avanços no tocante à tomada de decisão.
O desenvolvimento econômico e o crescimento populacional de uma dada região são
diretamente impactados pela quantidade e qualidade dos recursos hídricos nela existentes,
assim, bacias hidrográficas que possuem boas ferramentas de gestão e informações sobre os
recursos hídricos possuem grande vantagem.
O monitoramento da qualidade das águas no Estado de São Paulo, efetuado pela
CETESB, é modelo por sua eficácia. As Bacias PCJ já são conhecidas nacional e
internacionalmente por suas aplicações relacionadas ao gerenciamento dos recursos hídricos.
Com o avanço dessas ferramentas e sistemas integrados de qualidade e quantidade hídrica,
poderão ser implantadas novas metodologias para avaliação e monitoramento do atendimento
as restrições estabelecidas necessárias ao desenvolvimento sustentável.
As diversas vantagens da incorporação dos resultados do automonitoramento de
efluentes no acompanhamento da qualidade dos corpos hídricos foram abordadas ao longo
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desse estudo, destacando a otimização na percepção de problemas nas atividades produtivas e,
consequentemente, a minimização dos impactos ambientais.
REFERÊNCIAS
COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (CETESB). DECISÃO
DE DIRETORIA Nº 019/2022/C/E/I, de 22 de fevereiro de 2022. São Paulo, 2022.
COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (CETESB). DECISÃO
DE DIRETORIA Nº 054/2022/C/E/I, de 25 de maio de 2022. São Paulo, 2022.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução nº 357, de
17 de março de 2005. São Paulo, 2005
CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução nº 430, de
13 de maio de 2011. Brasília, 2011
CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CNRH). Resolução nº. 91, de
05 de novembro de 2008. Brasília, 2008
CONSÓRCIO PROFILL-RHAMA. Plano de Recursos Hídricos das Bacias
Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, 2020 a 2035: Relatório Final. e
organizado por Comitês PCJ/Agência das Bacias PCJ. – Piracicaba, 2020
DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA, COMPANHIA
AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, FUNDAÇÃO AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ,
Relatorio Técnico Atendimento Enquadramento Rio Jundiaí, São Paulo,2021

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