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Qualidade da água e perspectivas para a revitalização de um curso d'água urbano em

Recife, Brasil.

A urbanização de Recife caracterizou a ocupação das margens do Rio Capibaribe e seus


afluentes. Isso causou a degradação, retificação e degradação de vários córregos.
Portanto, este artigo apresenta um diagnóstico da qualidade da água do Córrego
Cavouco e sugere medidas para sua restauração. As coletas foram realizadas entre
2016 e 2017 em três pontos de amostragem. Foi adotado o Método Padrão para o
Exame de Água e Esgoto e calculado o Índice de Qualidade da Água (IQA). Um teste de
correlação foi aplicado entre os parâmetros para entender o fenômeno. A ação de
revitalizá-lo seguiu a Diretiva-Quadro da União Europeia para Águas. O IQA do Córrego
Cavouco teve uma boa apresentação na zona do pequeno lago; foi pobre na região da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ruim na seção da Avenida Caxangá. A
concentração de Oxigênio Dissolvido (OD) estava negativamente correlacionada com a
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), diminuindo do rio para o riacho. A
degradação da qualidade da água está associada ao despejo de esgoto não tratado ao
longo do córrego. A proposta para sua recuperação envolve coletar e tratar esgoto
doméstico, remover construções irregulares, restaurar a mata ciliar, controlar a
erosão, criar parques lineares e buscar mecanismos de governança com a participação
pública. As intervenções propostas são fundamentais para a restauração do potencial
ecológico do Cavouco, melhorar a qualidade da água e reduzir as pressões
antropogênicas.

Qualidade da água e perspectivas de revitalização de um riacho urbano no Recife,


Brasil

aterramento, retificação e degradação de inúmeros riachos. Neste contexto, este


artigo apresenta um diagnóstico da qualidade da água do riacho do Cavouco e indica
medidas para a sua revitalização. As coletas foram realizadas entre os anos de 2016 e
2017 em três pontos de amostragens. As análises seguiram o Standard Methods for
the Examination of Water and Wastewater e foi calculado o Índice de Qualidade da
Água (IQA). Um teste de correlação entre os parâmetros foi aplicado para
compreender o fenômeno. As ações de revitalização seguiram a Diretiva Quadro da
Água da União Europeia. O IQA do riacho do Cavouco apresentou bom no trecho do
laguinho, ruim no trecho UFPE e péssimo no trecho Caxangá. A concentração de
Oxigênio Dissolvido (OD) apresentou correlação negativa com Demanda Bioquímica de
Oxigênio (DBO), diminuindo de montante para jusante. A degradação da qualidade da
água está associada ao lançamento de esgoto sem tratamento ao longo do riacho.
Propõe-se para a sua revitalização, a coleta e tratamento do esgoto doméstico,
retirada de moradias irregulares, recomposição da mata ciliar, controle de erosão,
criação de parques lineares e a busca de mecanismos de governança com participação
da população. As intervenções propostas são fundamentais para o reestabelecimento
do potencial ecológico do Cavouco, com melhoria da qualidade da água e redução das
pressões antrópicas.Palavras-chave: Índice de Qualidade da Água; IQA; Riachos
urbanos; Diretiva Quadro da Água

INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento das cidades, a ocupação das margens dos rios também
avança. Por serem áreas mais baixas e suscetíveis a inundações, elas são terras menos
valorizadas pela indústria imobiliária e mais ocupadas por pessoas em situação de
vulnerabilidade econômica (FONSECA et al., 2014; FIA et al., 2015). Nessa competição
por espaços urbanos, os cursos d'água são aterrados e frequentemente retificados
para compor bacias de drenagem. Essas estruturas aumentam o fluxo de água, mas
causam inundações rio abaixo (TUCCI, 2013).

Outra causa de degradação dos rios em regiões urbanas é o descarte de resíduos


sólidos e esgoto doméstico. A ausência ou natureza precária dos sistemas de
saneamento público em cidades grandes e pequenas tem causado impactos negativos
e muitas vezes irreversíveis nos cursos d'água. O material orgânico presente no esgoto,
quando lançado no rio, inicia o processo de decomposição, causando o consumo de
oxigênio dissolvido (OD) na água. Sem OD, os rios perdem a vida marinha aeróbica,
composta por peixes e outros organismos. Além disso, a proliferação de doenças é
outro aspecto preocupante (KANG et al., 2010; VON SPERLING, 2014).

Infelizmente, o padrão de configuração espacial de Recife, no estado de Pernambuco,


negligenciou os ambientes naturais, que fazem parte da paisagem urbana. Basta
observar a transformação de ecossistemas frágeis, como manguezais, florestas e
estuários, em edifícios, como na bacia do Rio Capibaribe. Alguns córregos em Recife
foram aterrados ou canalizados para o escoamento das águas pluviais (VON SPERLING,
2014). O sistema de saneamento básico é insuficiente, coletando e tratando apenas
42% do esgoto doméstico. O restante é despejado nos cursos d'água que cortam a
cidade.

Este artigo apresenta uma avaliação da qualidade da água e propõe medidas para a
revitalização do córrego Cavouco, um afluente do Rio Capibaribe, em Recife. Essas
propostas são baseadas na concepção de infraestrutura verde e azul e nas diretrizes da
Diretiva-Quadro da Água da União Europeia (DQ-Água), que adota uma abordagem
ecossistêmica para garantir que os corpos d'água atinjam um estado de degradação
mínima (CE, 2000). As intervenções propostas são essenciais para restaurar o potencial
ecológico do Cavouco, melhorar a qualidade da água e reduzir as pressões humanas.
MATERIAIS E MÉTODOS

Caracterização da área de estudo

O córrego Cavouco é um afluente do lado direito do baixo Capibaribe; possui cerca de


18 pés de extensão, uma área de drenagem de cerca de 2,6 jardas quadradas e uma
inclinação média de cerca de 0,00488 pés (CABRAL et al., 2014). Sua nascente está na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É chamado de Laguinho e percorre os
bairros de Várzea, Cidade Universitária, Engenho do Meio, Cordeiro e Iputinga, onde
deságua no rio Capibaribe.

Logo após sua nascente, o córrego enfrenta os efeitos da urbanização com o


estreitamento de seu leito; as casas construídas sobre seu leito; e o descarte de esgoto
doméstico não tratado. Ao entrar novamente na área da UFPE, ele possui uma região
sem intervenção estrutural e vegetação circundante. Começando no Centro de
Tecnologia e Geociências - CTG até a Avenida Caxangá, paredes de concreto canalizam
o córrego.

Depois disso, ele foi obstruído por habitações irregulares e resíduos sólidos na seção
final da foz do Rio Capibaribe.

Análise da qualidade da água

Foram selecionados três pontos de coleta com base no uso e ocupação do solo e nos
canais do córrego Cavouco: o ponto 1 no pequeno lago da UFPE (PC1), onde sua
nascente está localizada; o ponto 2 coletado dentro da UFPE (PC2); e o terceiro ponto
(PC3) na interseção da Avenida Caxangá. Os pontos de coleta estão disponíveis no
mapa na imagem 1.
Imagem 1: Localização dos pontos de coleta no córrego Cavouco, Recife-PE.

Foram realizadas duas coletas de água superficial em maio (período chuvoso) e agosto
(período seco) de 2016 e seis coletas em 2017, em janeiro e abril (período seco), junho
e agosto (período chuvoso) e outubro e dezembro (período seco), de acordo com
dados de precipitação do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, 2018).

A coleta das amostras de água foi feita com base nas diretrizes nacionais para coleta e
preservação de amostras (CETESB, 2018). As amostras foram coletadas usando um
balde de aço inoxidável a uma profundidade de 20-30 cm da superfície. Em seguida,
elas foram colocadas em recipientes de armazenamento específicos, esterilizados,
identificados e embalados em uma caixa térmica com gelo e transportados para o
laboratório para análise.

O laboratório do Prof. Adaucto da Silva Teixeira analisou a qualidade da água, em


nome da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), de acordo com os Métodos
Padrão para o Exame de Água e Esgoto (APHA, 2012). Os parâmetros analisados foram:
Temperatura, pH, Turbidez, Amônia (NH4+), Sólidos Totais (ST), Fósforo (P), Oxigênio
Dissolvido (OD), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Coliformes
Termotolerantes (TtC).

Os resultados das análises da qualidade da água foram agrupados por data de coleta e
organizados da nascente para a foz, para uma melhor exibição dos efeitos da
urbanização. Os dados foram analisados com estatísticas descritivas, determinando a
mediana e o teste de correlação de Pearson, usando o software estatístico, versão 6.1,
e os gráficos foram criados usando o mesmo software.

O coeficiente de correlação de Pearson (r), também conhecido como coeficiente de


correlação do momento do produto de Pearson, mede o grau de correlação linear
entre duas variáveis quantitativas. É um índice adimensional com valores entre -1,0 e
1,0, que reflete a intensidade de uma relação linear entre dois conjuntos de dados
(Larson & Farber, 2010). Eles testaram os parâmetros para verificar a correlação
descrita na literatura.

O Índice de Qualidade da Água (IQA) calcula a produção ponderada dos nove


parâmetros que eles analisarão. Eles usam a seguinte fórmula na Equação 1:

WQI: Índice de Qualidade da Água, um número entre 0 e 100; qi: qualidade do i-ésimo
parâmetro, um número entre 0 e 100, obtido a partir da "curva média de mudança de
qualidade", de acordo com sua concentração ou medição, e wi: peso correspondente
ao i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 1, atribuído de acordo com sua
importância para a formação da qualidade geral, onde: n: número de variáveis
incluídas no cálculo do WQI.

Com base nesse cálculo, é possível estabelecer a qualidade da água bruta,


recomendada pelo IQA, em uma escala de 0 a 100: 80 < WQI ≤ 100 (EXCELENTE); 52 <
WQI ≤ 79 (BOM); 37 < WQI ≤ 51 (MÉDIO); 20 < WQI ≤ 36 (RUIM); e 0 < WQI ≤ 19
(PÉSSIMO) (VON SPERLING, 2014).

Medidas de revitalização

A proposta de medidas de revitalização para o córrego Cavouco foi baseada em uma


revisão bibliográfica e documental. A Diretiva-Quadro da Água da União Europeia (CE,
2000) e as recomendações dos Métodos de Aprimoramento de Bacias de Rios
Urbanos, um grupo criado para disseminar informações sobre revitalização de rios na
Europa (URBEM, 2004), orientaram esta pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Condições atuais de qualidade da água do córrego Cavouco

A Tabela 1 mostra os resultados de cada parâmetro, analisados e categorizados de


acordo com as estações seca e chuvosa, e os dados totais entre 2016 e 2017. Eles
calcularam a mediana dos valores para representar cada ponto de coleta.

Os valores de temperatura e pH encontrados no córrego Cavouco não mostraram


mudanças significativas entre os pontos de coleta e as estações analisadas. Oliveira et
al. (2013) também encontraram valores de pH entre 6 e 9 para o córrego Cavouco.
Esses valores corroboram o estudo de Alves et al. (2017) no córrego Abóboras, em Rio
Verde, Goiás, e no córrego São João, em Porto Nacional, Tocantins. O descarte de
esgoto não tratado no córrego tem pouco impacto no pH, porque esse esgoto possui
esse parâmetro variando de 6,89 a 8,47, de acordo com estudos de Monaco et al.
(2014).

A turbidez apresentou um aumento da nascente para a foz nos pontos estudados. Os


valores encontrados concordam com os de Araújo et al. (2013), que variaram de 3 a 40
NTU. Eles assumiram que o descarte de esgoto contribui para concentrar sólidos em
suspensão no córrego Cavouco. Segundo Libânio (2016), o aumento da turbidez altera
as condições de iluminação da água e a gama de radiação de luz, afetando a
fotossíntese e o crescimento de plantas aquáticas e plâncton.

A concentração de amônia não mostrou variação significativa entre as estações


chuvosa e seca. Araújo et al. (2013) encontraram para o córrego Cavouco, em 2012 e
2013, uma concentração de amônia variando de 0,5 a 1,7 mg L-1 e em linha com a
tendência de aumento da nascente para a foz. Para cursos de água com pH abaixo de
8, quase toda a amônia está na forma ionizada (NH4+) (LIBÂNIO, 2016). Eles associam
as altas concentrações de amônia e fosfato na água ao lançamento de resíduos
domésticos não tratados, o que resulta na redução do oxigênio dissolvido (RAMIREZ et
al., 2014; FIA et al., 2015; ZHANG et al., 2018). O consumo de OD ocorre na nitrificação
e na proliferação de algas, causando o fenômeno da eutrofização (DODDS, 2006). O
descarte de esgoto fresco destaca as altas concentrações de Demanda Bioquímica de
Oxigênio e baixas de OD, em todo o córrego Cavouco, como mostrado nas imagens 2a
e 2b.

Imagem 2a. Oxigênio Dissolvido (mg L-1) no córrego Cavouco (2016-2017)

Imagem 2b. Demanda Bioquímica de Oxigênio (mg L-1) no córrego Cavouco (2016-
2017)

Araújo et al. (2013), ao analisarem o oxigênio dissolvido do córrego Cavouco em cinco


pontos na UFPE, encontraram valores de 5 e 7,5 mg L-1 para o pequeno lago. Os
pontos mais a jusante apresentaram valores variando de 1 a 4 mg L-1. Costa et al.
também encontraram valores baixos nesses pontos, de 0 a 3,8 mg L-1, de 2008 a 2012
(COSTA et al., 2013).

Apesar do baixo fluxo de água no pequeno lago da UFPE, foram encontrados valores
elevados de oxigênio dissolvido. Em lagos e reservatórios, a concentração de OD
supera a saturação em dias de intenso trabalho fotossintético das algas e plantas
aquáticas (LIBÂNIO, 2016). As águas eutróficas (ricas em nutrientes) podem apresentar
concentrações de oxigênio maiores do que 10 mg L-1, conhecidas como
supersaturação. Esse efeito mascara a avaliação do nível de poluição da água, quando
baseada na concentração de oxigênio dissolvido, exigindo a análise de outros
parâmetros.

Silva et al. (2001) também encontraram no córrego Cavouco, na seção da UFPE,


maiores concentrações de DBO na estação seca, variando de 38 a 83 mg L-1, e na
estação chuvosa, de 29,5 a 35 mg L-1 (SILVA et al., 2001). Costa et al. (2013)
estabeleceram a DBO no Cavouco em 2008, 2011 e 2012. No ponto da ponte do CTG,
os valores foram de 60, 90 e 28 mg L-1. Dalmas et al. (2015) associaram as altas
concentrações de DBO e coliformes termotolerantes, encontradas nos trechos urbanos
dos rios do estado, ao lançamento de esgoto doméstico.
Os valores de coliformes termotolerantes para o córrego Cavouco mostraram valores
elevados nos pontos PC2 e PC3. Silva et al. (2001) analisaram o córrego Cavouco, na
seção da UFPE, e encontraram valores de coliformes termotolerantes variando de 0,4 a
1600 x 105 ufc/100 mL na estação seca e de 0,4 a 24 x 105 ufc/100 mL na estação
chuvosa.

Teste de correlação

O teste de correlação mostrou uma correlação muito forte entre a DBO e a turbidez
(0,907) e uma correlação forte com a amônia (0,727) na estação seca. O fosfato
também apresentou uma correlação forte com a DBO na estação chuvosa (0,872). Eles
encontraram relações moderadas entre a DBO, os coliformes (0,642) e a condutividade
(0,719). Estabeleceram correlações negativas com o Oxigênio Dissolvido tanto na
estação seca (-0,680) quanto na estação chuvosa (-0,646).

O teste valida as hipóteses de que a alta concentração de Demanda Bioquímica de


Oxigênio em corpos d'água altamente degradados está associada ao lançamento de
esgoto doméstico não tratado (PIVELI et al., 2006; FIA et al., 2015; VON SPERLING,
2014). A carga poluente liberada é composta por material orgânico, microorganismos,
fosfatos, nitratos e outras substâncias que levam ao consumo de oxigênio dissolvido
nos cursos d'água e causam efeitos como a morte de peixes e a proliferação de algas
que causam a eutrofização.

Índice de Qualidade da Água (WQI)

Após os cálculos realizados para o Índice de Qualidade da Água, eles chegaram ao


seguinte resultado: o córrego Cavouco apresentou melhor qualidade no pequeno lago
(PC1), classificado como bom na estação chuvosa e regular na estação seca. No ponto
PC2, classificaram a água como ruim em todas as estações. E no PC3, foi ruim na
estação chuvosa e terrível na estação seca. Os resultados estão na tabela 02.

A classificação da água pelo WQI do córrego Cavouco valida os resultados dos


parâmetros analisados separadamente. Na estação chuvosa, a água apresenta uma
leve melhora na pontuação do WQI, devido à diluição do esgoto lançado fresco. Em
um curso d'água não degradado, o WQI piora na estação chuvosa devido ao transporte
de sólidos por drenagem superficial, como observado por Piratoba et al. (2017) em um
rio no Pará.

Dalma et al. (2015) também encontraram valores baixos de IQA no rio Embu-guaçu, na
região metropolitana de São Paulo. O WQI mostrou ser uma boa ferramenta para
avaliar a qualidade da água, uma vez que foi possível encontrar as interações entre os
parâmetros em uma distribuição espacial e temporal, conforme recomendado por
Quinatto et al. (2019) e Vieira et al. (2019).

Primeiras etapas para a revitalização do córrego Cavouco

A revitalização compreende a preservação, conservação e recuperação ambiental dos


rios, por meio de ações integradas para melhorar a qualidade da água para múltiplos
usos, oferecer melhores condições ambientais e o uso sustentável dos recursos
naturais, preservar as áreas naturais de inundação e evitar qualquer uso que torne
inviável (PICKETT et al., 2011).

A Diretiva-Quadro da Água da União Europeia (WFD) estabelece o objetivo de atingir


um bom estado da água, que inclui águas superficiais, bom estado químico, bom
estado ecológico e potencial ecológico. Para corpos d'água alterados que não são
viáveis do ponto de vista técnico, financeiro e ecológico para retornar à sua condição
original, aplica-se o potencial ecológico. Esse objetivo requer a melhoria da qualidade
da água e a redução ou eliminação das pressões antrópicas que causam degradação
(EC, 2000).

Essa proposta de integração de cursos d'água à paisagem urbana, criando parques


lineares em suas margens, tem obtido resultados satisfatórios. Tanto no que diz
respeito ao saneamento urbano quanto aos serviços ecológicos e ambientais
oferecidos pelos cursos d'água e à aceitação pela sociedade. Exemplos disso são a
Alemanha, com o rio Isar; a França, o rio Sena; o rio Cheonggyencheon em Seul,
Coreia; e o rio Tijuco Preto em São Paulo, Brasil (RYU et al., 2016; ROLO et al., 2017).

Como a nascente do Cavouco (PC1) apresenta melhor qualidade da água, com maiores
valores de Oxigênio Dissolvido, isso leva à compreensão de que essa seção está em
bom estado químico. Durante a coleta, eles verificaram peixes na seção PC2, mesmo
com um valor mediano de oxigênio dissolvido de 3,7 mg L-1. Isso mostra que o córrego
ainda está vivo e destaca a possibilidade de revitalização.

Já foram adotadas medidas, como a urbanização do bairro do Cordeiro, com a


construção de taludes com vegetação, ciclovias e calçadas para pedestres e vias para
veículos. Isso promoveu o uso das margens do rio pela população para caminhadas e
esportes e contribuiu para conscientizar as pessoas a adotarem medidas de proteção
para esse ecossistema. Foram instalados sistemas de tratamento separado de águas
residuais, como na UFPE. Avançando no processo de revitalização, devem ser tomadas
medidas para garantir o potencial ecológico do córrego Cavouco. O quadro 1 abaixo
descreve as intervenções propostas, divididas em 5 seções, considerando a qualidade
atual da água, o uso e ocupação do solo, a vegetação nas margens, o saneamento
urbano e a infraestrutura de transporte e os serviços que podem ser oferecidos à
população.

Gráfico 1: Intervenções propostas no córrego Cavouco.

SEÇÃO PROBLEMAS PRINCIPAIS DESCRIÇÃO DE MEDIDAS


ESTRUTURAIS PARA
REVITALIZAÇÃO

Laguinho da UFPE Ausência de mata ciliar. Restauração da mata ciliar


por meio do plantio de
espécies nativas da Mata
Atlântica. Revitalização do
dique para contemplar o
lago.

Bairro da Várzea Urbanização desordenada Expropriação de


com casas construídas construções irregulares e
sobre o leito. Descarte de realocação da população.
esgoto doméstico. Dragagem de sedimentos
para ampliar o perímetro
do canal. Enriquecimento
da mata ciliar com
espécies nativas. Expansão
da coleta e tratamento de
esgoto doméstico.

UFPE Lançamento de águas Tratamento de águas


residuais químicas. residuais químicas e
Condução em concreto. sanitárias de laboratórios.
Restauração e
enriquecimento da mata
ciliar. Criação de um
parque com infraestrutura
esportiva e de lazer na
zona entre o Centro de
Tecnologia e Geociências -
CTG e o Centro de Artes e
Comunicação - CAC.
BAIRRO DO CORDEIRO Descarte de esgoto Criação de um parque
doméstico e resíduos linear com equipamentos
sólidos. esportivos e de lazer,
pavimentação permeável
das vias nas margens do
riacho, no trecho entre as
Ruas General Vargas e
Manoel Estevão da Costa.
Implementação de um
sistema de drenagem com
dispositivo de retenção de
resíduos sólidos.
Construção de encostas
em forma de escadaria.
Restauração e
enriquecimento da mata
ciliar.

BAIRRO DA IPUTINGA Urbanização desordenada Expropriação de


com casas construídas construções irregulares e
sobre o leito. Descarte de realocação da população.
esgoto doméstico. Dragagem de sedimentos
para ampliar o perímetro
do canal. Enriquecimento
da mata ciliar com
espécies nativas. Expansão
da coleta e tratamento de
esgoto doméstico. Na zona
do Parque Caiara, expandir
a mata ciliar criando
habitats para aves e
mamíferos.

A pavimentação permeável das estradas marginais aos cursos d'água promove uma
maior infiltração e percolação lenta no solo. A restauração da mata ciliar por meio do
plantio de árvores de grande porte intercepta até 25% das precipitações e reduz a
precipitação direta no solo e o escoamento. Encostas em forma de escadaria, cobertas
com vegetação, reduzem a erosão nas margens enquanto interceptam sólidos e
material suspenso (URBEM, 2004).
No entanto, a coleta e tratamento de esgoto doméstico são as principais medidas para
promover a revitalização do riacho Cavouco. O projeto de Parceria Público-Privada -
PPP para Saneamento na Região Metropolitana do Recife - RMR, entre a empresa BRK
Ambiental e a Companhia Pernambucana de Saneamento - Compesa está em
andamento.

Iniciado em 2013, a previsão era aumentar a coleta e tratamento de esgoto para 90%
até 2025. Após atrasos significativos no cronograma, em 2018, prorrogaram o prazo
para 2037. O contrato assinado possui um alto potencial de renegociações, o que pode
gerar consequências negativas, como mais atrasos e renegociações para dar
continuidade ao projeto.

A bacia do Riacho Cavouco faz parte do Sistema de Esgotamento Sanitário de Cordeiro


e Camaragibe. Atualmente, esses sistemas atendem apenas 18,42% e 4,76% da região,
servidos pelas Estações de Tratamento de Esgoto - ETE Caxangá III e Abençoada por
Deus. O cronograma estabelecido no 5º aditivo do contrato de PPP prevê a expansão
do sistema de Cordeiro para 50% em 2021, 55% em 2023 e 96% em 2025 (COMPESA,
2018).

As obras de saneamento planejadas para as bacias do Riacho Cavouco e Capibaribe


atenderão a uma grande parte da população e melhorarão a qualidade da água dos
cursos d'água e as condições de saúde da população, como o Rio Velhas em Minas
Gerais, conforme mencionado por Rollo et al. (2017). No entanto, o grande desafio é a
universalização do saneamento, conforme previsto na legislação, e a garantia da
conclusão do projeto. Atrasos no cronograma são uma preocupação importante, pois
podem atrasar a revitalização do Cavouco e de outros cursos d'água em Recife. Isso
também pode resultar na perda de credibilidade entre as autoridades públicas.

Além das medidas estruturais propostas acima para a revitalização do Riacho Cavouco,
as medidas não estruturais também são importantes. As obras causam expropriação,
interdição de estradas, entre outras perturbações. No entanto, um projeto de
revitalização de um rio urbano deve considerá-las como espaços de oportunidades
ambientais, sociais, econômicas e culturais. Portanto, Reynoso et al. (2010) e Pickett et
al. (2011) sugerem que uma ação intersetorial é necessária para que a implementação
do projeto ocorra sob uma sinergia de ações e gestão das instituições públicas, dada a
complexidade e diversidade dos envolvidos.

A Diretiva Quadro da Água espera a participação popular em todas as fases dos


projetos de revitalização de cursos d'água. As informações disponíveis, convocação
para ação e consulta pública são mecanismos usados para governar o projeto (URBEM,
2004). Nesse sentido, Luymes e Tamminga sugerem que a participação deve ser um
caminho duplo que combina o conhecimento popular com o conhecimento científico
(LUYMES et al., 1995). Portanto, as pessoas que participarão de maneiras positivas e
negativas, direta ou indiretamente afetadas, nos processos de tomada de decisão são
essenciais para o sucesso do projeto de revitalização do Cavouco.

CONCLUSÕES

A urbanização descontrolada de Recife ao longo de sua história até os dias mais


recentes ocupou cada vez mais áreas preservadas, como encostas e margens de rios e
riachos. A infraestrutura urbana deficiente de drenagem e a coleta e tratamento de
esgoto doméstico são a principal causa da deterioração da qualidade da água de seus
cursos d'água, como o Riacho Cavouco, cujas altas concentrações de Demanda
Bioquímica de Oxigênio e de coliformes termotolerantes e baixas concentrações de
Oxigênio Dissolvido confirmam, comprometendo a vida marinha.

Comparando os resultados dos períodos climáticos, a qualidade da água melhora na


estação chuvosa, quando mais água entra na bacia, diluindo o esgoto, como descrito
na literatura. Diferentemente do que acontece em cursos d'água não degradados,
onde as chuvas carregam sólidos para o leito, alterando sua qualidade. A análise
espacial mostrou que a qualidade da água piora de montante a jusante, de acordo com
o aumento das ocupações urbanas e o lançamento de esgoto doméstico fresco ao
longo do curso d'água.

Nas seções mais a montante, que incluem a nascente (PC1) e a UFPE, o Oxigênio
Dissolvido está no riacho que ainda está vivo. Dessa forma, sua revitalização se tornará
possível com a execução correta de projetos, como o RMR Saneamento PPP e o Parque
Capibaribe até 2025. É necessário um projeto para adotar as medidas propostas, como
a remoção de habitações irregulares, restauração da mata ciliar, controle da erosão e
criação de parques lineares, seguindo o modelo adotado em outras cidades.

A participação pública em todo o processo é essencial para o sucesso da revitalização


do Riacho Cavouco. Desde a concepção do projeto, com a escolha de equipamentos
esportivos e de lazer para os parques lineares, até um bom programa de comunicação
social para resolver conflitos e mudar habitações e conscientização ambiental. Eles
recomendam a busca por mecanismos de governança para rios urbanos, nos quais a
população local possa participar das decisões e ações propostas para recuperar a
qualidade da água e revitalizar os cursos d'água de Recife.

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