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AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE DAS ÁGUAS (IQA) DO


RIO MARINHO/ES NO PERÍODO DE 2007 A 2020: REVISÃO DE
LITERATURA

EVALUATION OF THE WATER QUALITY INDEX (WQI) OF THE


MARINHO RIVER/ES IN THE PERIOD 2007 TO 2020: LITERATURE
REVIEW

DÉBORA KIZUKA PEREIRA BIANCHINI


Graduanda em Engenharia Química
deborakizukab@gmail.com

MÔNICA CAROLINE GOMES CARNEIRO


Graduanda em Engenharia Ambiental
monicacarolinegc@gmail.com

DENISE VIEIRA MIRANDA


Profª. Msc. Centro de Pós-graduação FAESA
denisevmiranda@gmail.com

RESUMO

A sub bacia do rio Marinho vem sofrendo diversas alterações em sua morfologia, devido ao
crescimento urbano nas últimas décadas. Um dos impactos ambientais é o lançamento de
efluentes, que contribuiu para a contaminação das águas superficiais e assoreamento no local.
Mediante esta problemática, o objetivo deste artigo foi de avaliar no formato de pesquisa
documental exploratória descritiva a qualidade das águas do rio Marinho, localizado no
município de Vila Velha/ES, durante os anos de 2007 a 2020. A avaliação contempla os dados
dos nove parâmetros que compõem o Índice de Qualidade das Águas (IQA), tais como,
coliformes termotolerantes, demanda bioquímica de oxigênio, fósforo total, nitrogênio total,
oxigênio dissolvido, potencial hidrogeniônico, sólido total, temperatura da água e turbidez.
Inclusive, os valores de IQA são apresentados através de gráficos e analisados em função da
classificação da CETESB. Os dados são disponibilizados pelo banco de dados eletrônicos da
AGERH. Após as considerações nos resultados, as águas do rio Marinho apresentam faixa de
IQA entre aceitável e péssima e se enquadram na classe 4 da Resolução CONAMA 357/2005,
além da necessidade de recuperação ambiental e paisagística.

Palavras-chave: Índice de Qualidade das Águas. Rio Marinho. Revisão de Literatura.


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ABSTRACT

The Watershed basin of the Marinho river has undergone several changes in its morphology,
where it has experienced several interventions over the years. One of the environmental impacts
is the discharge of effluents, which contributed to the contamination of the surface waters and
silting up the site. The scenario has been evidenced by urban growth for decades. By means of
this issue, the objective of this article was to assess the quality of the waters of the Marinho
river, in the format of exploratory and descriptive documentary research, located in the city of
Vila Velha, Espirito Santo, Brazil, during the years of 2007 to 2020. The Evaluation
contemplates the data of the nine parameters that make up the Water Quality Index (WQI), such
as thermotolerant coliforms, biochemical oxygen demand, total phosphorus, total nitrogen,
dissolved oxygen, hydrogen potential, total solid, water temperature and turbidity. In Fact, the
WQI values are presented trough graphs and analyzed according to the CETESB classification.
The data was available by AGERH’s electronic database. After considering the results, the
water of the Marinho river has a WQI range between acceptable and very bad and falls into
class 4 of CONAMA Resolution 357/2005, besides the need for environmental and landscape
recovery.

Keywords: Water Quality Index. Marinho River. Literature Review.

INTRODUÇÃO

Imprescindível à sobrevivência de todos os organismos vivos e gestão do clima terrestre, a água


é um elemento fundamental no que diz respeito à tríade da sustentabilidade, cooperando com a
relação de qualidade de vida da população humana, desenvolvimento econômico e manutenção
dos ecossistemas naturais. Todavia, a qualidade dos recursos hídricos e sua disponibilidade no
ambiente têm sofrido grandes impactos, dada a forma de exploração não sustentável que avança
pelo planeta.

Em uma era de crescente necessidade de água, os corpos hídricos sofrem cada vez mais com
lançamento ilegal de efluentes industriais, esgoto sanitário, além da supressão de suas matas
ciliares, acarretando na contaminação da qualidade destas águas e em problemas à saúde
pública.

De modo a identificar o produto da ação antrópica sob os corpos d’água, demonstrando suas
características físicas, químicas e microbiológicas, são aplicados indicadores para avaliação de
variáveis. Valiosas para analisar a qualidade das águas, essas variáveis evidenciam níveis de
deterioração do corpo hídrico quando constatada a existência de valores superiores aos
convencionados para cada uso.

O rio Marinho, que divide os municípios de Cariacica e Vila Velha, encontra-se como um dos
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mais poluídos do estado do Espírito Santo. No decorrer de sua subsistência, o rio sofreu diversas
intervenções antrópicas, o que gerou a degradação da qualidade da água e, consequentemente,
a alteração de seu enquadramento a partir da CONAMA 357/2005.

Visando entender e discutir os impactos antrópicos, este artigo teve como objetivo a elaboração
de um estudo de revisão de literatura, no formato de pesquisa documental exploratória
descritiva, do Índice de Qualidade das Águas (IQA), indicador composto por nove parâmetros
que se dispõem entre físicos, químicos e microbiológicos para a caracterização hídrica do rio
Marinho/ES durante os anos de 2007 a 2020, interpretando os resultados obtidos sob a
perspectiva da Resolução CONAMA 357/2005 e pelos documentos disponibilizados pela
Agência Estadual de Recursos Hídricos.

REVISÃO DA LITERATURA

1 Breve contextualização histórico-geográfica das bacias hidrográficas do rio Jucu e


Formate-Marinho

Conforme o Departamento de Estrada de Rodagem do Estado do Espirito Santo (2014, p.140)


a bacia hidrográfica do rio Jucu (Figura 1) compreende os municípios de Domingos Martins,
Marechal Floriano, Viana, Vila Velha e parte dos municípios de Cariacica e Guarapari,
constituindo uma área de aproximadamente 2.221 km². Alvo de inúmeras interferências
antrópicas ao longo de sua história, como obras de drenagem, retificações e de transposições na
região de sua baixa bacia, destaca-se neste espaço o desvio do rio Formate, afluente do rio Jucu,
e que passou a desaguar no rio Marinho (INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES, 2008,
p.8).

O rio Formate originalmente era um afluente do rio Jucu. Todavia, conforme bem pontuado por
Bitencourt (1987, apud D’AVILA, 2017, p.72), os jesuítas, em 1740, elaboraram um canal
ligando o rio Formate a um pequeno rio que desaguava na baía de Vitória, e que por sua vez
ficou conhecido como rio Marinho. Durante a década de 70, o rio perdeu seu caráter de
escoamento de produção, fonte de alimentos e recreação. Assim, atualmente com um
baixíssimo fluxo de água, assoreamento, poluição e pouquíssimos peixes sobreviventes, seu
único uso é a drenagem de águas pluviais e residuárias de sua bacia hidrográfica.

A bacia do rio Formate-Marinho abrange parcialmente três municípios: Viana, Cariacica e Vila
Velha em seu curso principal. Trata-se de um curso da água de 4ª ordem, com nascente na
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Reserva Biológica de Duas Bocas, em que percorre 37,5 quilômetros até a baía de Vitória, onde
deságua. Em seu baixo curso, especificamente, passa a se chamar rio Marinho, com 9
quilômetros de extensão (D’AVILA, 2017, p.74).

Figura 1 - Bacia hidrográfica do rio Jucu

Fonte: AGERH, 2016 – adaptado

Segundo Plano de Desenvolvimento Metropolitano da Grande Vitória (INSTITUTO JONES


DOS SANTOS NEVES, 2017, p.70-75), concentrando boa parte de sua área na região
metropolitana, o entorno da região Formate-Marinho e costeira, é constituído basicamente por
moradias de baixa renda e predominante demanda industrial, desta forma é classificado como
ambiente de ordenamento urbano, conforme a politica de usos de solo municipal. O plano
destaca ainda que os municípios de Cariacica e Vila Velha apresentam, respectivamente,
15,37% e 3,61% de remanescentes de mata atlântica original, com relação a toda grande Vitória.

De acordo com Sartório (2015, p.31), a bacia do rio Marinho é localizada em região de
prevalecentes planícies e extensão territorial de 35,64 km², o rio Marinho compreende parte dos
municípios de Vila Velha e Cariacica, apresentando, na devida ordem, 11,34 km² e 24,29 km²
desta área. Através do Conselho Metropolitano de Desenvolvimento da Grande Vitória
(INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES, 2010, p.13) a bacia do rio Marinho, com toda a
sua extensão, incorpora 21 bairros, dentre esse espaço, possui parte de seu leito canalizada,
recebe carga de poluição doméstica e industrial via rio Formate e, efluentes dos bairros no
entorno, apresentando mais de 80% de ocupação residencial e industrial em sua bacia
hidrográfica, além de ter suas condições pioradas pelo periódico represamento de suas águas
pela maré na baía de Vitória.
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2 Qualidade das águas superficiais

Para avaliar a qualidade da água, determinando sua potabilidade e possibilidade de usos,


realizam-se análises físicas (aspecto, cheiro, temperatura, cor, turbidez, pH), químicas
(presença e concentração de substâncias, como flúor, chumbo, arsênico, selênio e cromo
hexavalente, que podem interferir na potabilidade da água, ou de carbonatos, bicarbonatos,
hidróxidos, nitratos que interferem na dureza, corrosividade, alcalinidade e acidez) e
bacteriológicas (presença e concentração de bactérias e coliformes totais e fecais), o que
possibilita uma avaliação mais criteriosa de suas características (CARVALHO, A.; OLIVEIRA,
M., 2010, p.56-57).

A água pura é um fluido incolor, inodoro e insípido. Entretanto, por ser um excelente solvente,
nunca é encontrada em seu estado de absoluta pureza. Dos elementos químicos conhecidos, a
maioria é encontrada de uma forma ou outra nas águas naturais, designando assim, as
impurezas. As propriedades desejáveis de uma água dependem de sua utilização (RICHTER,
C.; NETTO, J., 1991, p.24-25).

A água pode ser um veículo de contaminação e disseminação de doenças entre os seres vivos,
quando em sua composição está contaminada por patógenos ou substâncias químicas e
radioativas, além de ser um excelente criadouro para larvas de mosquitos e outros vetores
(CARVALHO, A.; OLIVEIRA, M., 2010, p.75).

Conforme a Resolução no 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA [BRASIL,


2005]), foram definidas classes de qualidade e para cada classe foram estabelecidas condições
e requisitos em relação ao corpo hídrico e seu uso, as águas doces podem ser classificadas em:
• Classe Especial: águas destinadas ao abastecimento doméstico, com desinfecção; à
preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.
• Classe 1: Águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento simplificado; à
proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário; à irrigação de
hortaliças e frutíferas que são consumidas cruas; à proteção das comunidades aquáticas em
terras indígenas.
• Classe 2: Águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional; à
proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário; à irrigação de
hortaliças e frutíferas; à aquicultura e à atividade de pesca.
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• Classe 3: Águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional ou


avançado; à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; à pesca; à recreação
de contato secundário; à dessedentação de animais.
• Classe 4: Águas que podem ser destinadas à navegação e à harmonia paisagística.

Assim, de acordo com art. 17 do CONAMA 357 (BRASIL, 2005), as águas doces de classe 4
possuirão as seguintes condições e medidas para os parâmetros de interesse: Oxigênio
dissolvido superior a 2,0 mg/L O2 e pH entre 6,0 a 9,0.

2.2 Monitoramento qualitativo de água

Segundo norma NBR 9896 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1993),
monitoramento é a medição contínua, discreta ou repetitiva, ou estudo sistemática da qualidade
ambiental da água, ar e solo.

De acordo com a Fundação Estadual do Meio Ambiente – Fundação João Pinheiro (1998, apud
JUNIOR, 2000, p.113), a definição de monitoramento das águas pode ser como
acompanhamento contínuo dos fatores qualitativos e/ou quantitativos das águas, envolvendo
uma série de fatores de interesse, tais como, dados quantitativos, as fontes e elementos
impactantes e a avaliação da qualidade do ambiente em geral.

Conforme a Agência Estadual de Recursos Hídricos (2015, p.24) no Espírito Santo utiliza-se o
Índice de Qualidade das Águas (IQA), composto por nove parâmetros relevantes para a
avaliação da qualidade da água, que são indicadores de degradação do corpo d’água pelo
lançamento de efluentes.

2.3 Degradação do corpo hídrico e seus efeitos

Segundo Valle (2012, p.63-64) a contaminação da água seja por caráter físico, químico,
bioquímico ou biológico pode proceder de vários modos, como:
• Poluição orgânica, definida pelo alto consumo de oxigênio dissolvido pelas bactérias
que degradam matéria orgânica;
• Presença de nutrientes, como nitratos e fosfatos, consomem grande quantidade de
oxigênio dissolvido para se decompor e contribuem para a eutrofização do corpo
hídrico;
• Produtos tóxicos industriais, como metais pesados, ácidos e solventes, além de
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pesticidas e herbicidas;
• Poluição térmica, acolhimento de águas em temperatura superior à do corpo d’água
receptor, proporcionando um aumento significativo na microbiota.

De acordo com Boschilia (2010, p.454) inúmeros poluentes são lançados em rios, mares e lagos,
mantendo-se na cadeia alimentar o que não se degrada. Os nutrientes excedentes não tratados
provocam a eutrofização do corpo hídrico, fenômeno que impede a fotossíntese nas camadas
mais profundas por conta do grande crescimento de algas planctônicas na superfície.

A concentração média de um poluente, pode ser quantificada por meio da medição de episódios
divergentes em duração, dependendo ainda de variáveis ambientais como uso e ocupação dos
solos, dados de precipitação, dentre outros (LARENTIS, 2014, p.31).

3 Índice de Qualidade das Águas (IQA)

Conforme a Agência Estadual de Recursos Hídricos (2019, p.35) o Índice de Qualidade das
Águas (IQA) foi criado em 1970, nos Estados Unidos, pela National Sanitation Foundation, o
IQA foi adaptado e começou a ser utilizado em 1975, pela Companhia Ambiental do Estado de
São Paulo (CETESB), difundindo a utilização do mesmo para a avaliação da qualidade das
águas no Brasil, sendo hoje o principal índice de qualidade das águas utilizado no país.

O IQA, de maneira simultânea, analisa nove parâmetros físicos, químicos e biológicos:


Coliformes termotolerantes, demanda bioquímica de oxigênio, fósforo total, nitrogênio total,
oxigênio dissolvido, potencial hidrogeniônico, sólido total, temperatura da água e turbidez,
sendo estes considerados importantes para avaliação da qualidade da água (AGÊNCIA
NACIONAL DE ÁGUAS, 2018, p.25). Ressalta-se, que a principal vantagem do IQA, é retratar
através de um único índice a qualidade das águas, facilitando a interpretação dos resultados de
monitoramento (AGÊNCIA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS, 2018, p.55).

Nas palavras de Braga (2005, p.103) este índice surge como uma alternativa de avaliação de
qualidade da água, dada a grande quantidade de parâmetros e suas diferentes características, de
forma que, manifesta-se a complexidade de como incorporar em um único índice, uma
informação consolidada acerca de todas essas variáveis relativas aos problemas de um
determinado corpo hídrico.

Segundo a Companhia de Tecnologia Ambiental do Estado de São Paulo (2017, p.2-4) a


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principal utilização deste índice, é analisar a qualidade das águas considerando seus aspectos
relativos, tendo como produto final o abastecimento público. O cálculo do IQA é realizado pelo
produtório ponderado das respectivas qualidades dos 9 parâmetros que integram o índice, como
é descrito na seguinte fórmula (1):

𝑛
𝑤𝑖
𝐼𝑄𝐴 = ∏ 𝑞𝑖 (1)
𝑖=1

Onde:
𝐼𝑄𝐴: Índice de Qualidade das Águas, um número entre 0 e 100;
𝑞𝑖 : qualidade do i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 100, obtido da respectiva “curva
média de variação de qualidade” (Figura 2), em função de sua concentração ou medida;
𝑤𝑖 : peso correspondente ao i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 1, atribuído em função da
sua importância para a conformação global de qualidade, demostrado na fórmula (2):
𝑛

∑ 𝑤𝑖 = 1 (2)
𝑖=1

Em que:
𝑛: número de variáveis que entram no cálculo do IQA.
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Figura 2 - Curvas Médias de Variação de Qualidade das Águas

Fonte: CETESB, 2017

De acordo com a Agência Nacional das Águas (2005, p.16) os respectivos pesos (wi) dos
parâmetros que compõem o IQA, foram fixados para retratar a sua importância na formação
qualitativa da água e para cada um foi atribuído um peso de qualidade (wi), cujos os valores
variam de 0 a 1, conforme pode ser verificado na Tabela 1:

Tabela 1 - Parâmetros de Qualidade da Água do IQA e Respectivo Peso (wi)


Parâmetros de Qualidade da Água Unidade de Medida Peso (wi)
Oxigênio Dissolvido (OD) % Saturação 0,17
Coliformes Tolerantes NMP / 100 mL 0,15
Potencial hidrogeniônico (pH) - 0,12
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) mgO2 / L 0,10
o
Temperatura C 0,10
Nitrogênio total mg / L 0,10
Fósforo total mg /L 0,10
Turbidez NTU 0,08
Sólidos totais mg / L 0,08
Fonte: ANA, 2005 – adaptado
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No entanto, ainda de acordo com Agência Nacional das Águas (2005, p.18) os valores do IQA
foram classificados em faixas, que variam com os estados brasileiros. A classificação da
qualidade da água segundo o IQA no Espírito Santo foi realizada de acordo com a Tabela 2.

Tabela 2 - Classificação do IQA-ES


Faixa Avaliação da Qualidade da Água
80 - 100 Ótima
52 - 79 Boa
37 - 51 Aceitável
20 - 36 Ruim
0 - 19 Péssima
Fonte: ANA, 2005 – adaptado

Cabe ressaltar que mudanças climáticas, tais como variações prolongadas no regime de chuvas
e no escoamento superficial, também têm o potencial de afetar a evolução do indicador tanto
para melhor ou quanto para pior (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2018, p.25).

3.2 Parâmetros utilizados no cálculo do Índice de Qualidade das Águas (IQA)

3.2.1 Oxigênio dissolvido

As principais fontes de oxigênio para a água são a atmosfera e a fotossíntese. A quantidade de


oxigênio dissolvido na água é relativamente pequena em virtude da sua baixa solubilidade em
meio aquoso. Isso acontece devido a vários fatores, um deles é à característica polar da molécula
da água, pois, o gás de oxigênio é uma molécula apolar que forma interação intermolecular
fraca com a água. Outro fator seria que a solubilidade é inversamente proporcional à
temperatura e à salinidade e diretamente proporcional à pressão do meio (FIORUCCI, A.;
FILHO, E., 2005, p.10-11).

O oxigênio é indispensável para os organismos aeróbicos (que vivem na presença de oxigênio).


Durante a estabilização da matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio nos seus
processos respiratórios, podendo vir a causar uma redução da sua concentração no meio.
Dependendo da magnitude deste fenômeno, podem vir a morrer inúmeros seres aquáticos (VON
SPERLING, 2005, p.38).

3.2.2 Coliformes termotolerantes

De acordo com Silva et al. (2017, p.118), o grupo dos coliformes termotolerantes, comumente
chamados de coliformes fecais, é um subgrupo dos coliformes totais, restrito aos membros
capazes de fermentar a lactose a 44,5-45,5 oC com produção de gás. Essa definição objetivou,
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em princípio, selecionar apenas as enterobactérias originárias do trato gastrintestinal


(Escherichia coli), porém, atualmente sabe-se que o grupo inclui membros de origem não fecal
(várias cepas, Klebsiella pneumoniae, Pantoea agglomerans, Enterobacter cloacae e
Citrobacter freundii).

3.2.3 pH

Potencial hidrogeniônico. Representa a concentração de íon hidrogênico (em escala


antilogarítmica) de uma solução, expressa a intensidade de uma condição ácida (pH abaixo de
7), neutra (pH igual a 7) ou alcalina (pH superior a 7) do líquido. A faixa de pH é de 0 a 14.
Valores de pH afastados da neutralidade podem afetar a vida aquática e os microrganismos
responsáveis pelo tratamento biológico dos esgotos (VON SPERLING, 2005, p.30).

De acordo com a Fundação Nacional de Saúde (2014, p.89) O pH é um fator crucial nos
processos de coagulação, desinfecção, abrandamento das águas, no controle da corrosão e no
tratamento dos esgotos e efluentes industriais. O tratamento de desinfecção das águas sucede-
se melhor em pH ácido e geralmente em águas alcalinas o consumo de cloro é maior.

3.2.4 Demanda de Oxigênio

Segundo RICHTER, C.; NETTO, J. (1991, p. 35) a maioria dos compostos orgânicos são
instáveis e podem ser oxidados biologicamente ou quimicamente, formando assim, compostos
finais mais estáveis. A matéria orgânica tem uma certa necessidade de oxigênio que pode ser
denominado por duas categorias:
• Demanda bioquímica de oxigênio (DBO): é a medida de qualidade de oxigênio necessária
para a realização do metabolismo das bactérias aeróbias que destroem a matéria orgânica.
• Demanda química de oxigênio (DQO): permite a avaliação da carga de poluição de esgotos
industriais ou domésticos em termos de quantidade de oxigênio necessário para a sua total
oxidação em dióxido de carbono e água.

3.2.5 Temperatura

Medição da intensidade de calor. A temperatura da água tem importância por sua influência
sobre outras propriedades, pois, a elevação da temperatura pode aumentar a taxa das reações
químicas, físicas e biológicas e a transferência de gases, por outro lado, pode diminuir a
solubilidade do oxigênio na água (VON SPERLING, 2005, p.28).
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3.2.6 Nitrogênio total

O nitrogênio pode ser encontrado na água como nitrogênio orgânico, amoniacal, nitrito e
nitrato. As fontes de nitrogênio nas águas naturais são diversas. Os esgotos sanitários consistem,
geralmente, a principal fonte, atribuindo nas águas, nitrogênio orgânico, devido à presença de
proteínas, e nitrogênio amoniacal através da hidrolise de ureia nas águas. Pela legislação federal
em vigor, o nitrogênio amoniacal é padrão de classificação das águas naturais e padrão de
emissão de esgotos. A amônia é uma substância prejudicial à vida dos peixes, e pode provocar
o consumo de oxigênio dissolvido das águas naturais, diminuindo a oxidação das águas
(COMPANHIA DE TECNOLOGIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2017,
p.30).

3.2.7 Fósforo total

De acordo com a Fundação Nacional de Saúde (2014, p.23) o fósforo é, devido a sua baixa
disponibilidade em regiões de clima tropical, o elemento mais importante para o crescimento
de plantas aquáticas. Quando o fósforo está em excesso no meio ocorre um fenômeno conhecido
como eutrofização. O fosforo pode se apresentar nas águas em várias formas:
• Orgânico: solúvel (matéria orgânica dissolvidas) ou particulado (biomassa de micro-
organismo).
• Inorgânico: solúvel (sais de fósforo) ou particulado (compostos minerais).

3.2.8 Turbidez

A turbidez demonstra o grau de interferência com a passagem da luz através da água, conferindo
uma aparência turva à mesma. (VON SPERLING, 2005, p.28). Segundo Richter e Netto (1991,
p.26), A presença dessas partículas suspensas na água, gera a dispersão e a absorção da luz,
dando à água uma aparência nebulosa, esteticamente indesejável e potencialmente perigosa.

3.2.9 Sólidos totais

Segunda a Fundação Nacional de Saúde (2014, p.20) os sólidos presentes na água podem ser
distribuídos nas seguintes categorias: em suspensão (sedimentáveis e não sedimentáveis) e
dissolvidos (voláteis e fixos). Sólidos em suspensão são classificados como as partículas
passiveis de retenção por processos de filtração. Sólidos dissolvidos são formados por partículas
de diâmetros inferior a 10-3 μm e que permanecem no solvente mesmo após a filtração. A
passagem dos sólidos na água pode ocorrer por meio de fontes naturais, tais como, processos
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erosivos, organismos e detritos orgânicos ou antropogênica, lançamento de lixo e esgotos.

METODOLOGIA

Este artigo consistiu em uma revisão de literatura, no formato de pesquisa documental


exploratória descritiva. O levantamento dos dados utilizados ocorreu por meio de consulta ao
banco de dados eletrônicos que pode ser acessado pelo seguinte link:
https://servicos.agerh.es.gov.br/iqa/, disponibilizado pela Agência Estadual de Recursos
Hídricos (AGERH). A seleção dos dados obedeceu aos seguintes critérios: dados dos
parâmetros componentes do IQA-ES e valores do Índice de Qualidade das Águas do ano de
2007 a 2020.

As variáveis utilizadas para a inferência do IQA foram: coliformes termotolerantes, demanda


bioquímica de oxigênio (DBO), fósforo total, nitrogênio total, oxigênio dissolvido (OD),
potencial hidrogeniônico (pH), sólido total, temperatura da água e turbidez. Os dados dos
parâmetros foram compilados em tabelas e os valores de IQA foram apresentados na forma de
gráficos, sendo que para cada ano são apresentados até 4 valores de IQA, os quais foram
analisados em função da classificação da CETESB para a região do Espírito Santo.

Os parâmetros apresentados em tabelas e os gráficos de IQA gerados a partir dessas tabelas,


foram analisados, utilizando também documentos disponibilizados pela Agência Estadual de
Recursos Hídricos (AGERH) e a CONAMA 357/2005, para fins de caracterizar a influência de
variáveis ambientais no índice de qualidade das águas no período proposto.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O programa de monitoramento das águas interiores do estado do Espírito Santo, é administrado


e operado pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (AGERH). Por meio de banco de dados
eletrônico fornecendo inúmeros valores de parâmetros (físicos, químicos e microbiológicos).
Com a proposta de avaliar a qualidade das águas, as tabelas foram adaptadas (Tabela 3 e 4) para
relatar apenas os valores dos nove parâmetros necessários para inferir valores de IQA.

Para a realização da pesquisa, foram utilizados dados referentes aos anos de 2007 a 2020. A
avaliação dos dados foi aplicada para 2 pontos localizados ao longo do rio Marinho, o ponto 1
(Figura 3), situado na ponte sobre o rio próximo ao bairro Rio Marinho com latitude e longitude,
respectivamente (-20.354757/ -40.358234), e o segundo ponto (Figura 4) sob a ponte do camelo
em São Torquato (-20.332685/ -40.354542).
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Figura 3 - Localização do Ponto 1

Fonte: Google Maps, 2020 - adaptado

Figura 4 - Localização do Ponto 2

Fonte: Google Maps, 2020 - adaptado

De acordo com Silva (2017, p. 80-92), o entorno da ponte do camelo possuía grande manguezal
e o rio serpeante, aterrados para instalar atividades da Vale e a Desportiva Ferroviária, o que
culminou em alto estágio de degradação. O autor acentua ainda, a recente ocupação no bairro
Rio Marinho, já expondo alta urbanização e lançamento de efluentes domésticos sem nenhum
tratamento na rede de águas pluviais, que desaguam no rio Marinho.

Segundo o Plano Estadual de Recursos Hídricos do Espirito Santo (AGÊNICIA ESTADUAL


DE RECURSOS HÍDRICO, 2018, p.17) relacionando-se de forma direta com a precipitação
local, o clima no estado se caracteriza por um período mais seco e com menores temperaturas
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de junho a setembro, e período com maior índice pluviométrico e maiores temperaturas de


dezembro a março.

Para a região hidrográfica específica do rio Jucu, existe uma sazonalidade que define que o
ciclo de vazões altas que se situa de novembro a abril (período úmido) e o período de vazões
baixas, de maio a outubro (período seco) (AGÊNCIA ESTADUAL DE RECURSOS
HÍDRICO, 2015, p.177). Vale destacar, que a região Formate-Marinho e costeira apresenta alta
instabilidade às inundações, pois, se trata de uma área com influência do oceano. (AGÊNCIA
ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS, 2016, p.38).

Mediante ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Jucu, 2017, que aprova o enquadramento de
corpos de água superficiais em classes de qualidade, segundo os usos preponderantes, declara
que o enquadramento do rio Marinho do limite de água doce às nascentes (foz rio Formate) é
de classe 4 e da foz até o limite de água doce é classe superior a 3 salobra.
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Tabela 3 - Dados de Qualidade das Águas Interiores no Ponto 1


Data da Chuva OD Coli pH DBO Temp Am NT PT Turb ST
Coleta 24 horas
13/01/2020 Não 1.97 1100.0 9.01 7.54 29.71 14792 0.71 20.96 230
14/10/2019 Não 4.27 20.0 7.91 7.25 27 38.02 4 741.67 1722
08/07/2019 Não 2.9 1600000.0 7.38 3.68 22.2 10 1.46 155.2 298
08/04/2019 Não 2.1 78.0 9.6 < 3.00 29.7 14.43 1.24 42.7 222
14/01/2019 Não 2.3 240000.0 7.57 < 3.00 27.59 7.75 < 0.05 44.71 116
15/10/2018 Não 2.1 170000.0 7.6 40.15 28 4.25 1.2 27.1 350
11/07/2018 Não 2.4 1600000.0 7.1 15 23 13.05 < 0.05 36.3 408
10/04/2018 Não 1.8 1600000.0 4.7 9.44 27 5.08 0.05 29.1 360
08/01/2018 Não 1,5 5400.0 12,1 <3,00 28,0 10.024 0.05 70,7 192
08/11/2017 Sim 0.3 36000.0 8 59.2 25 26.477 2.3 224.7 362
12/07/2017 - 2.1 4900.0 7.8 10.39 23 4.4 0.15 67.4 348
10/04/2017 Não 1,56 4900000.0 7,6 30,52 30 29 1.8 227,9 296
09/01/2017 Não 1.39 2400000.0 7.58 23.69 28.8 19.4 2.3 861.5 364
24/10/2016 Não 1,73 1700000.0 7,16 24,08 28,70 24.5 3.3 1.012,3 124
17/08/2016 Não 1,88 1600000.0 7,0 19,20 25,6 35.3 3.1 90,1 308
12/03/2015 Não 1.1 3500000 7.32 34 30 33.1 1.1 88 310
15/10/2014 Não 1.4 35000 6.9 24 26 29.9 2.39 66.2 306
13/08/2014 Não 2.1 790 6.9 16 25 13.7 2 32 244
21/05/2014 Não 2.7 1300 7 22.2 25 22 2.3 20.3 326
19/03/2014 Não 0.6 46000 6.9 8.4 28 59 0.12 65.7 327
22/10/2013 Não 2.7 16000000 7.8 8 29 17.3 2.2 45.5 324
14/08/2013 Não 2.2 2400000 7.5 22 23 24.5 2.35 154 318
15/05/2013 Não 2 1400000 7.6 25 25.1 14.906 1.82 77.5 244
13/03/2013 Não 0.6 130000 7.4 44 29 27.335 1.97 51.3 344
31/10/2012 Não 1.4 26000000 7.2 31.4 28 1.959 0.29 60 230
15/08/2012 Sim 2.2 2600000 7 40.8 22 1.401 0.386 252 340
17/05/2012 Não coletado 0 0 0 0 0 0 0 0 0
14/03/2012 Não 0.8 2400000 6.9 20 28 2.164 0.524 60 390
(Continua)
17

(Continuação) Tabela 3
Data da Chuva OD Coli pH DBO Temp Am NT PT Turb ST
Coleta 24 horas
10/08/2011 Não 1 160000 7.1 39 25.9 0 0.458 39 190
24/05/2011 Não 1.9 3500000 7.4 141 24.3 5.198 0.09 41 160
03/11/2010 Sim 0.8 14000000 7 14 25.1 2.915 0.172 57 220
01/09/2010 Sim 0 920000 6.34 32.6 23.6 0.591 16.136 54 250
26/05/2010 Não 3.3 610000 6.66 42.2 23.4 0 8.211 74 390
07/04/2010 Sim 0.5 700000 6.22 18.4 25.8 1.494 6.672 122 240
09/11/2009 Não 0.2 1300000 6.72 ** 29.9 4.081 1.34 57 230
12/08/2009 Não 0.2 6800000 6.96 220 22.8 12.866 3.2 33 850
16/07/2009 Sim 1.4 17000000 6.6 13 23.3 7.266 0.69 93 210
02/04/2009 Sim 0 2400000 6.71 14.7 26.5 0.729 2.34 51 560
06/11/2008 Sim ** *** 7 55.5 28.1 0 2.71 69 330
14/08/2008 Não ** 3600000 7.02 306 24 0 2.2 41 220
05/06/2008 Não 0.2 2000000 6.93 81.6 23 0 1.474 58 160
13/03/2008 Não ** 32000000 6.93 13.2 27.7 0 0.536 56 220
13/11/2007 0 0 5400000 7.34 50 29 1.79 2.34 84 235
09/08/2007 0 0.1 1300000 6.64 16 24.4 0.73 1.44 61 223
13/03/2007 0 0.2 2100000 7.12 16.5 23.4 0.37 0.99 68 230

Descrição dos Parâmetros

Chuva 24 horas: Ocorrência de chuva nas 24 horas antecedentes à coleta; Coli: Coliformes Termotolerantes (NPM/100mL);
OD: Oxigênio Dissolvido (mgO2/L); pH: Potencial Hidrogeniônico (adimensional);
DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio (mgO2/L); PT: Fósforo Total (mg/L);
Temp Am: Temperatura da Amostra (oC); Turb: Turbidez (UNT);
NT: Nitrogênio Total (mg/L); ST: Sólidos Totais (mg/L).

Fonte: AGERH, 2020 – adaptado


18

Tabela 4 – Dados de Qualidade das Águas Interiores no Ponto 2


Data da Chuva OD Coli pH DBO Temp Am NT PT Turb ST
Coleta 24 horas
13/01/2020 Não 1.83 170000.0 8.51 7.58 28.77 16.247 0.37 19.32 4136
14/10/2019 Não 1.9 540000.0 7.86 13.67 25.8 18.373 1.37 25.26 1196
08/07/2019 Não 2.39 1600000.0 7.22 3.14 21.5 14.67 1.01 106.6 10788
08/04/2019 Não 1.9 1400.0 8.9 5.24 28 12.85 1.29 41.9 940
14/01/2019 Não 2.62 920000.0 7.72 < 3.00 27.92 46.45 < 0.05 13.82 304
15/10/2018 Não 2.2 1600000.0 7.7 28.83 26 3.25 0.8 20.7 2788
15/10/2018 Não 2.2 1600000.0 7.7 28.83 26 3.245 0.8 20.7 2788
11/07/2018 Não 1.7 1600000.0 7.4 21 22 10.07 0.05 18.5 260
10/04/2018 Não 2.2 54000000.0 4.7 14.49 26 8.06 0.08 28.4 406
08/01/2018 Não 1,9 160000.0 12,3 24,90 27,0 14.975 0.05 19,2 274
08/11/2017 Sim 1,2 54000.0 8,1 81,00 23,0 14.957 0.32 149,35 5,976
12/07/2017 Não 2,7 110000.0 8,2 9,79 22,5 7.7 0.22 88,1 390
10/04/2017 Não 0,15 1600000.0 7,7 29,68 28,1 27 1.4 673,3 2270
09/01/2017 Não 2,36 1300000.0 7,71 20.24 27,0 22 1.7 7,71 2610
24/10/2016 Não 1,82 5400000.0 7,31 48,48 26,55 19.5 2.7 745,76 60
17/08/2016 Não 2,44 9200000.0 7,21 11,22 25,5 37 3.4 66,9 2100
12/03/2015 Não 1 5400000 7.33 30 28 29.7 1 37.7 3578
15/10/2014 Não 2.1 16000 7.1 24 25 18.3 1.6 65.2 4900
13/08/2014 Não 1 9200 7.1 18 23 20.3 2.1 52.6 2832
21/05/2014 Não 1.5 17000 6.9 25 26 29 1.6 10.1 6452
19/03/2014 Não 1.1 700000 7 6 28 47 1.4 48.2 747
22/10/2013 Não 2.2 1700000 7.7 3 28 12 1.25 28.3 3892
14/08/2013 Não 1 3500000 7.7 52 23 27.8 2.06 31 2900
15/05/2013 Não 1.8 1300000 7.6 23 24.3 12.508 1.13 58.2 974
13/03/2013 Não 0.5 630000 7.6 40 29 23.95 3.01 27.6 922
31/10/2012 Não 0.8 20000000 7.3 39.6 27 3.653 0.272 55 640
15/08/2012 Sim 2.1 15000000 7 7 22 0.983 0.423 221 310
17/05/2012 Sim 2.3 940000 7.1 7.57 23 1.112 0.198 33 740
(Continua)
19

(Continuação) Tabela 4
Data da Chuva OD Coli pH DBO Temp Am NT PT Turb ST
Coleta 24 horas
14/03/2012 Não 0.8 78000 7 31.2 28 5.32 0.48 14 700
10/08/2011 Não 3.1 160000 7.3 50 25 0 0.323 31 14470
24/05/2011 Não 0.6 1700000 7.2 232 23.1 5.664 0.07 35 220
03/11/2010 Sim 0.9 1400000 7 90 24.2 6.86 0.317 46 1440
01/09/2010 Sim 0 2600000 6.63 31.7 23.2 0.511 9.881 58 2700
26/05/2010 Não 0.3 2600000 6.78 27.9 23.8 0 5.894 132 610
07/04/2010 Sim 0.3 1400000 6.7 18.2 26 0.916 6.01 147 390
09/11/2009 Não 0.6 580000 6.35 ** 28.2 2.827 0.56 38 220
12/08/2009 Não 0 8200000 6.83 190 22.1 13.444 1.2 36 2430
16/07/2009 Sim 1.6 14000000 6.63 38 22.8 5.651 1.8 69 290
02/04/2009 Sim 2.7 220000 6.69 10 26 0.53 0.68 50 230
06/11/2008 Sim ** 1300000 7.21 164 26.9 0 0.811 58 440
14/08/2008 Não 0.5 21000000 7.34 95.8 24 0 0.96 49 560
05/06/2008 Não 0.6 210000000 6.97 31.9 23 0 1.151 63 840
13/03/2008 Não 0.2 6000000 6.99 12 25.2 0 0.01 39 350
13/11/2007 0 1.4 6800000 7.28 54 27.9 1.26 1.124 61 327
09/08/2007 0 0 3300000 6.96 30 23.1 1.22 1.433 73 465
13/03/2007 0 0.2 1400000 6.7 16.5 22.1 0.12 0.481 62 243

Descrição dos Parâmetros

Chuva 24 horas: Ocorrência de chuva nas 24 horas antecedentes à coleta; Coli: Coliformes Termotolerantes (NPM/100mL);
OD: Oxigênio Dissolvido (mgO2/L); pH: Potencial Hidrogeniônico (adimensional);
DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio (mgO2/L); PT: Fósforo Total (mg/L);
Temp Am: Temperatura da Amostra (oC); Turb: Turbidez (UNT);
NT: Nitrogênio Total (mg/L); ST: Sólidos Totais (mg/L).

Fonte: AGERH, 2020 – adaptado


20

O rio Marinho, apresentou, invariavelmente, grande quantidade de concentrações de OD


inferiores ao padrão ambiental referente à classe 4 em ambas as tabelas. Apenas um valor se
destacou, Tabela 3, data 14/10/2019 com valor respectivo de 4.27 mgO2/L. Entre as Tabelas 3
e 4, não foi observada diferença significativa entre os valores de OD encontrados. A
concentração do parâmetro foi levemente maior no período seco.

As concentrações de DBO também se mostraram altas nas Tabelas 3 e 4, dentre a maior parte
dos valores registrados, entretanto, as concentrações mais altas foram observadas durante o
período seco com média de 53,44 mgO2/L. Além disso, a menor concentração de DBO nos
períodos úmidos pode ser fundamentada na hipótese de que o aumento na precipitação resulta
em maior escoamento de base, derivando na diluição dos poluentes e diminuição da matéria
orgânica presente na amostra.

Dada alta concentração de DBO durante todos os anos, pode-se inferir o grande aporte de
matéria orgânica recebida pelo rio, pois, segundo a Agência Estadual de Recursos Hídricos
(2016, p.151), a região hidrográfica Formate-Marinho e Costeira e Baixo Jucu recebem, juntas
de DBO, mais de 90% da carga pontual gerada, e também contribuições de cerca de metade da
população do município de Cariacica, da maior parte da carga gerada em Viana, além de um
percentual do esgoto de Vila Velha, considerando as ETE’s existentes destas cidades.

Os dados de fósforo total, coliformes termotolerantes e sólidos totais comprometem a qualidade


da água em todos os pontos monitorados. Para estes parâmetros, há uma tendência geral de
maiores concentrações no período seco, o que pode ser justificado pela baixa vazão nos
respectivos períodos, resultando em uma maior concentração dessas substâncias. Os altos
valores observados para o fósforo estão relacionados ao processo de eutrofização do corpo
d’agua, implicando também no consumo do oxigênio dissolvido.

Para a Tabelas 3, identificou-se que o nitrogênio total obteve uma média mais alta no período
úmido e para Tabela 4, no período seco. Além de ter seus índices aumentados com o decorrer
dos anos, fato que pode ter sucedido devido à grande disponibilidade de nutrientes pelo maior
lançamento de cargas difusas próximas aos pontos de amostragem ao longo dos anos e sua baixa
assimilação. Situação similar aconteceu com o oxigênio dissolvido, cujos valores sofreram
aumento gradual, mesmo com algumas oscilações. É bom ressaltar que na Tabela 3, data
13/01/2020, obteve-se um valor bem discrepante em relação aos outros, com um valor de 14792
21

mg/L e devido a esse valor influenciou muito da média do nitrogênio para o Ponto 1, com isso
a média maior ficou no período úmido ao invés do seco.

Os elevados teores de sólidos totais podem ter induzido ao aumento da turbidez por causa dos
sólidos em suspensão, reduzindo a capacidade fotossintetizante do corpo hídrico.

As médias de concentrações do pH em ambas as tabelas ficaram dentro do que é convencionado


para a classe 4, nos períodos úmido e seco. O parâmetro obteve o melhor desempenho dentre
os parâmetros compilados, com grande parte dos valores dentro ou próximos do padrão
ambiental.

Entre as duas tabelas, as variáveis coliformes termotolerantes, DBO, fósforo total e sólidos
totais, apresentaram grande diferença entre as médias, com valores bem maiores no período
seco. Para os outros parâmetros das águas do rio Marinho analisados não foi observada
variância significativa entre os pontos nos períodos seco e úmido.

Pode-se constatar, que ambos os pontos monitorados apresentaram valores superiores a


legislação vigente. Além das interferências sazonais, a alta densidade demográfica e urbana no
entorno do rio Marinho e dos pontos analisados tem grande contribuição na quantificação destes
valores, que apesar de dispares entre alguns parâmetros para os períodos seco e úmido, mostram
que o rio se encontra totalmente degradado pelo produto antrópico.

Para cada gráfico de IQA, há uma demonstração dos resultados obtidos pela fórmula do IQA
acoplados a uma classificação da CETESB entre ótima e péssima, segundo as Figuras 5 e 6:

Figura 5 - Gráfico temporal de IQA referente ao Ponto 1

Fonte: AGERH, 2020


22

Figura 6 - Gráfico temporal de IQA referente ao Ponto 2

Fonte: AGERH, 2020

Em ambos os pontos analisados, os valores de IQA são bastante afetados pelo lançamento de
efluentes domésticos oriundos da área urbana. Para Lopes (p. 11), altos valores de coliformes
termotolerantes e de oxigênio dissolvido constituem grande peso para o cálculo do IQA.

De acordo com as Figuras 5 e 6, fica evidente a baixa qualidade da água nos pontos de interesse,
com médias de IQA igual a 23,61 e 22,63, respectivamente. A maior parte das amostras está
enquadrada com IQA entre a faixa ruim ou péssima.

Bonnet e outros (2008, p.317) afirmam que o IQA é sensível às variações sazonais em função
da adsorção da matéria orgânica nos corpos hídricos, associado ao uso e ocupação dos solos,
onde o escoamento superficial durante as estações úmidas pode ser determinante para as
variações de qualidade da água.

Na figura 5, é possível constatar que nos dias 12/07/2017, 08/04/2019 e 14/10/2019,


apresentaram-se os respectivos valores de IQA: 40,50; 38,14 e 39, ficando dentro da faixa
aceitável pela CETESB. Na figura 6, acontece o mesmo apenas em uma data 14/01/2019, com
o valor de 37,94. Dentre esses resultados, apenas 2 podem ter sofrido interferência pelo período
chuvoso, não havendo interferência da sazonalidade para o alto índice ocorrido no período seco.

A média do IQA no período úmido para o gráfico temporal de IQA referente ao ponto1(Figura
5) ficou em 22,93 e no período seco ficou em 24,29. No gráfico temporal de IQA referente ao
Ponto 2 (Figura 6), as médias foram 23,28 e 21,98 para os períodos úmido e seco,
23

respectivamente. As melhores faixas de IQA durante o período úmido já eram esperadas devido
ao peso dos parâmetros coliformes termotolerantes, OD, DBO e fósforo total, visto que, todos
apresentaram valores mais baixos no período úmido.

CONCLUSÕES

O rio Marinho está severamente impactado pela ação antrópica. As águas do rio Marinho se
enquadram na classe 4 da Resolução CONAMA 357/2005 e através da aplicação do IQA
mostrou que ao longo destes treze anos de coleta, a maior parte das classificações das águas da
bacia do rio Marinho se enquadram em classes que vão de péssima a ruim, devido ao fato de
que o rio tem sido usado como receptor de efluentes variados, por meio da ocupação urbana
desordenada e inadequada.

As principais variáveis que interferiram nos resultados de IQA foram: sólidos totais, coliformes
termotolerantes, fósforo total, nitrogênio total e demanda bioquímica de oxigênio. E essas
alterações nos parâmetros citados tem mais relação com impactos decorrentes de área urbana,
bem como os eventos hidrológicos que ocorreram na região. O IQA apresentou-se eficiente
para avaliar a qualidade das águas do rio Marinho, ao invés de se estudar isoladamente cada
parâmetro. Todavia, ocorreu ligeira redução na qualidade das águas durante a época seca.

Além disso, é bom destacar a necessidade de recuperação ambiental e paisagística do corpo


hídrico e a presente pesquisa poderá servir como base teórica para posteriores estudos sobre a
variação da qualidade da água e suas interações com o ambiente em diversos aspectos, dado o
fato de que o rio não possui muitos estudos ou informações ao seu respeito.

REFERÊNCIAS

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Jucu, 16 de Janeiro de 2017.Vitória: AGERH, 2017. Disponível em:
<https://agerh.es.gov.br/Media/agerh/Documenta%C3%A7%C3%A3o%20CBHs/Jucu/PROC
ESSO%2077031121_CBH%20RIO%20JUCU%20REFERENTE%20ENQUADRAMENTO.
pdf>. Acesso em: 10/11/2020.

AGÊNCIA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Conjura da gestão de recursos


hídricos no estado do Espirito Santo: relatório-síntese 2014. Vitória: AGERH, 2015.

AGÊNCIA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Enquadramento dos corpos de


água em classes e plano de bacia para os rios Santa Maria da Vitória e Jucu: relatório
síntese. Vitória: AGERH, 2016.
24

AGÊNCIA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Enquadramento e plano de


recursos hídricos da região hidrográfica litoral centro-norte: relatório de atividades
preliminares. Vitória: AGERH, 2017.

AGÊNICIA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICO. Plano estadual de recursos hídricos


do Espirito Santo. Vitória: AGERH, 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Glossário de poluição


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