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“Conversa atribulada - Frase simples e frase complexa”

A Noite, preguiçosa, abandona lentamente a paisagem recolhida do frio matinal.


O Sol depressa acordou a Manhã, chamando-a para cumprir a sua tarefa diária. De
seguida, com uma atitude austera e robusta, deslocou-se rapidamente pela Escola,
ainda adormecida, alheia aos passos e segredos dos alunos ruidosos que se aprox
imavam. O Sol, sem escrúpulos, invadiu os recantos silenciosos das vozes dos alu
nos, da escola de Campanário
No corredor do terceiro andar, estava a Frase Simples com as suas pupilas - as C
onjunções Coordenativas - a observar a estante da Oficina de Leitura, espaço con
quistado pelos textos e desenhos dos alunos da escola, quando, distraída choca c
om a Frase Complexa, que por lá passava, toda impregnada de importância, seguida
pelos elementos que a compõem.
Frase simples – oh! Desculpe.
Frase Complexa - Olá! Bonito dia. Já não te via desde a última aula. Achas que h
oje os alunos vão olhar para nós com atenção?
F. S. – Olá, cara colega. Não te tinha visto. Bom, os alunos vão com certeza apr
eciar as minhas qualidades, se tu parares de andar atrás de mim... Diz a frase s
imples, em tom irónico.
F.C. Pois é. Não podemos andar muito tempo separadas. Além do mais, tu precisas
de mim. Que farias sem mim... Já reparaste que os alunos só gostam de frases lon
gas, complexas, recheadas... E os professores? Esses então usam e abusam das min
has capacidades, saltitando de oração em oração, de raciocínio em raciocínio. Há
! Como eu fico bela, toda estendida em pensamentos e reflexões tão bem elaborado
s...
F.S.- Isso é conversa. Não preciso de ti para nada. E, se tu não existisses, eu
desdobrar-me-ia em tantas frases quantas as necessárias. Tens a mania que és mai
s importante, só porque consegues abarcar um raciocínio muito longo. Mas as veze
s, sua imbecil, ficas sem qualquer sentido. É nisso que dá andares atrelada com
tantas orações.
E em tom ligeiramente irritado, continua.
- Já eu, sou bem organizada gramaticalmente, tenho um sujeito e um predicado, co
meço com letra maiúscula e acabo com sinais de pontuação. Ninguém se atrapalha a
o ler-me, todos percebem a mensagem gravada dentro da minha frase... toda a gent
e sabe que é na simplicidade que está a beleza!!!
F.C. - Sua mono-oracional!!! Vê lá se tens respeito por alguém superior. Sim, e
u sou mais importante. Posso ser constituída por duas ou mais orações. Posso nar
rar, dizer tantas coisas de uma só vez, exprimir sentimentos, emoções... Além do
mais, também sou organizada. Tenho um sentido lógico, começo por letra maiúscul
a e acabo com sempre com um sinal de pontuação. Ok.?! Tu não passas de um mono-o
racional, absoluta, simplíssima, chata. Só és usada pelas crianças, por seres tã
o básica. Já eu, uma plurioracional, sou seleccionada pelos grandes escritores,
pensadores, filósofos, enfim, gente muito douta.
Frase simples, com semblante pesado, muito indignada, grita:
F.S. – Mas eu também sou importante, também posso se usada por todos os intelect
uais, também posso dizer tantas coisas... (A parte) Claro que uma de cada vez. E
tudo por culpa dos verbos...
Nesse momento, aproxima-se a Não Frase, para ver que confusão era aquela.
Não Frase – mim tava descansar no sofá da biblioteca, mais é que vocês f
alem altos, mim só querer é que descansar. Falarem mais baixo. Chiça!
F.S. e F. C. – Olá Não Frase, sempre a mesma confusa de sempre. Continua
s desorganizada, sem sentido. Que tal consultares uma gramática?
N.F. - Então é assim é que acharem isso de eu. Tava ali tão bem mais, ag
ora tou tristes que pensarem assim que eu sou...
E afastou-se a choramingar.
A Frase Simples e a Frase Complexa não controlam as gargalhadas. Riem da constru
ção absurda da Não Frase, sem dó nem piedade. E comentam entre si, sempre em tom
de gargalhadas mal disfarçadas:
F.S. – A Não Frase está cada vez pior…
F. C. – Já imaginaste, quando chegar o exame nacional de Língua Portuguesa. Coit
ada, vai ser tão riscada, com tinta vermelha.
F.S. – E penalizada!!! Os professores correctores são mesmo lixados. Vão descont
ar em tudo. Coitada...
F.C. - Bem, nós temos sorte. Ela gostaria de ser como nós, mas anda sempre tão b
aralhada... parece que nem ela entende os seus pensamentos. Bom, até logo. Vou p
reparar-me para a próxima aula.
F.S. – Eu também. Até logo. Só espero que a professora esteja bem disposta. Assi
m, os alunos podem aprender mais facilmente a nossa estrutura. E eu gosto tanto
de andar a passear pelos cadernos dos alunos.
O toque de entrada das 8.15h apressou os passos dos alunos, e colocou um ponto f
inal na conversa. As frases esconderam-se novamente na estante da biblioteca, na
respectiva secção da gramática.

"AS CONJUNÇÕES"
(Abrem-se as cortinas do teatro da sala de aula. Olfacto, Tacto e Paladar estão
sentados no fundo da sala a ouvir a conversa gramatical entre Ouvido e Vista – e
, por vezes também intervêm.)
Vista
- Ontem, na estante da Gramática aprendi novas palavras.
Ouvido (muito admirado)
- Sim!? Que engraçado, eu também! Que palavras?
Vista
- Muitas, agora não me lembro de todas, mas as que me impressionaram e inspirara
m foram as conjunções... que bonitas as conjunções...
Ouvido (com um ar muito importante)
- Eu sei o que são as Conjunções. São palavras invariáveis. Também gosto delas.
Até porque elas não variam, não mudam, sempre iguais a si mesmas. Já as pessoas.
.. bom as pessoas são umas chatas, sempre inconstantes, sempre com um humor estr
anho - nunca sei se vão rir ou fazer caretas!!! Mas as Conjunções são únicas, hu
m, que delicia, sempre imutáveis e além disso, são muito simpáticas com a frase
simples. Sabes, elas ajudam as frases simples a tornarem-se orações complexas.
Vista
- Pois é... tens razão. Nunca tinha pensado nisso. Já agora, sabias que a palavr
a conjunção provém da palavra latina "conjunctione" que significa unir, reunir,
juntar.
Ouvido
- Sabia! A senhora Gramática disse-me ao ouvido na aula anterior. Também me diss
e que as Conjunções são uma classe de palavras e que têm descendência. Aos reben
tos dão o nome de Subclasses. Não é muito complicado. Segundo ela, existem dois
Conjunções – as Coordenativas e as Subordinativas. As Coordenativas servem para
unir as frases simples, tornando-as em Orações Coordenadas. As conjunções subord
inativas são ligeiramente diferentes - estabelecem uma relação de interdependênc
ia. Daí que as orações subordinadas estejam sempre chateadas com as subordinante
s. Sabes que a Oração Subordinante é muita mandona com as nas Subordinadas. E ne
m sempre as Orações Subordinadas gostam de obedecer. Bom, confusões criadas pelo
sistema gramatical. Porém, na casa das Orações Coordenadas esse tipo de briga n
ão acontece. Elas entendem-se perfeitamente. Sabem que estão ao mesmo nível e qu
e nenhuma é mais importante que a outra... e também sabem que se forem separadas
, passam a ser meramente orações simples. E isso, elas não gostam. Sentem muito
orgulho por serem complexas e tudo devido às Conjunções Coordenativas. Sabias qu
e na mesma casa da Coordenação, existem Conjunções Adversativas, Copulativas, Di
sjuntivas, Explicativas e Conclusivas?
Vista
- Já chega! Se quiser saber tudo sobre as Conjunções pergunto à Sr. Gramática q
ue me mostre... tens a mania que sabes tudo. E além do mais, gosto mais das Conj
unções Subordinativas, é uma família mais interessante e complexa. Mas aposto qu
e não sabias que em vez de Conjunções podemos ter Locuções Conjuntivas...
Olfacto
- Locuções... o quê é isso?
Ouvido
- A Conjunção é só um vocábulo, já a Locução é constituída por duas ou mais pala
vras e apresenta o mesmo valor semântico de uma Conjunção da Conjunção correspon
dente. Estas...
Olfacto
- Calma, mais devagar, estou a ficar baralhado! Podes explicar melhor? Com calma
?
Ouvido
- Se calhar é melhor pedir isso à professora de Língua Portuguesa ou então à Sr.
Gramática. Pois estava só a armar-me em esperta. Ainda não percebi muito bem a
diferença entre as Conjunções e as Locuções...
(e baixando o tom de voz, continua)
- Ouvi dizer que a Dona Gramática sabe tudo, mas o Sr. Dicionário afirma que ele
é que sabe tudo. Claro que se eles, por acaso, deixassem de brigar e discutir q
uem é o mais sapiente, então dominariam toda a estrutura linguística. Mas namoro
entre os dois, não me parece possível... estão sempre às turras...
Vista
- Cala-te. Quero ouvir a aula que já começou. Esconde-te depressa!
(E assim preparam-se para mais uma aula de Língua Portuguesa... )

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