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Conflito Conjugal: Impacto no Desenvolvimento Psicológico


da Criança e do Adolescente
Marital Conflict: Impact on the Psychological Development
of Children and Adolescents

Silvia Pereira da Cruz Benetti *


Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, Brasil

Resumo
As investigações sobre os processos relacionais familiares indicam uma associação entre conflito conjugal e
presença de adversidade no contexto familiar com implicações no desenvolvimento psicológico de crianças e
adolescentes. Este artigo propõe-se a revisar algumas contribuições teóricas importantes sobre o tema,
abordando alguns resultados das pesquisas sobre o impacto do conflito conjugal no desenvolvimento psicológico
de crianças e adolescentes. Discute-se, também, a contribuição do modelo cognitivo-contextual e do modelo
segurança-emocional na compreensão das relações familiares e do conflito conjugal. Finalmente, são abordadas
as implicações teóricas e práticas para as pesquisas na área da psicologia.
Palavras-chave: Conflito conjugal; crianças; adolescentes; desenvolvimento psicológico; relações familiares.

Abstract
The investigations about family relations indicate an association between marital conflict and the presence of
adversity in the family context with consequences on the psychological development of children and adoles-
cents. The purpose of this article is to review some of the theoretical contributions on the subject, including
some results of researches on the impact of marital conflict on the psychological development of children
and adolescents. Also, the contributions of the cognitive-contextual model and the emotional-security model
for the comprehension of family relations and marital conflict are discussed. Finally, theoretical and practical
consequences for research in the psychological field are discussed.
Keywords: Marital conflict; children; adolescents; psychological development; family relations.

Estudos sobre os processos familiares indicam que a associada a uma maior exposição da criança a situações de
qualidade da relação parental e a presença de discórdia no estresse familiar. Determinados padrões de interação con-
ambiente familiar são fatores associados à etiologia de dis- jugal, principalmente aqueles associados com maior ad-
túrbios emocionais na criança e no adolescente (Cummings versidade e violência, foram relacionados a distúrbios no
& Davies, 2002; Wamboldt & Wamboldt, 2000). Primeira- desenvolvimento emocional, cognitivo, social e até a alte-
mente, identificou-se uma associação geral entre discór- rações psicofisiológicas na criança (El-Sheikh & Harger,
dia conjugal e dificuldades no ajustamento infantil, consi- 2001). Como conseqüência, a dimensão conflito conjugal
derando-se que as situações de conflito conjugal na famí- assumiu um papel de grande relevância nas investigações
lia resultavam numa alteração das práticas educativas sobre as relações familiares, ao ponto de inclusive questi-
parentais que, por sua vez, interferiam no desenvolvimen- onar o entendimento do divórcio parental como gerador
to da criança. Posteriormente, verificou-se que determi- de distúrbios no desenvolvimento da criança e do adoles-
nadas características das situações de conflito estavam di- cente. Ao contrário, considerou-se que a presença de dis-
retamente relacionadas ao desenvolvimento da criança túrbios emocionais na criança não estava relacionada uni-
(Fincham, 1994, 2003). Além disto, os efeitos do conflito camente à situação do divórcio parental, mas, sim, à expo-
conjugal eram principalmente determinados pela exposi- sição da criança a conflitos intensos anteriores ao rompi-
ção da criança/adolescente a episódios de discórdia fami- mento familiar (Fonagy, Target, Steele & Steele, 1997).
liares e não somente a uma alteração das práticas educativas Apesar dos estudos sobre o tema situarem-se no período
por parte dos pais (Zeanah & Scheeringa, 1997). das duas últimas décadas, a contribuição dos achados dos
A questão do impacto do conflito conjugal nos proces- principais trabalhos de pesquisa já se constitui num ex-
sos psicológicos, cognitivos e relacionais da criança e do pressivo corpo teórico sobre as relações familiares e as
adolescente surgiu com maior ênfase recentemente, a par- conseqüências do conflito parental no desenvolvimento
tir da constatação de que a presença de conflitos estava infantil. Atualmente, a dimensão conflito conjugal é con-
siderada como um processo familiar importante para ocor-
rência de distúrbios afetivos e manifestações clínicas no
*
Endereço para correspondência: Curso de Psicologia, desenvolvimento infantil (Wamboldt & Wamboldt, 2000;
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS -
Av. UNISINOS, 950, São Leopoldo, RS. E-mail: Zeanah & Scheeringa, 1997) e com posteriores dificulda-
silvia1@net.crea-rs.org.br des na adolescência, como agressividade, conduta anti-so-
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cial, abuso de substância e envolvimento com a lei estratégias idênticas na resolução dos conflitos. Havia
(Fergusson & Horwood, 1998). uma grande variabilidade nos padrões de interação con-
O presente artigo tem como objetivo apresentar os acha- jugal na presença de conflitos, incluindo situações nas
dos de algumas pesquisas sobre as associações entre as quais os conflitos eram encobertos, até àquelas envol-
relações familiares e o desenvolvimento psicológico da vendo violência física entre o casal.
criança, abordando, especificamente, a questão dos efeitos Desta forma, Fincham (1994) argumentou que os estu-
do conflito conjugal na psicopatologia infantil. Para tal, dos iniciais permitiram uma gradual diferenciação da di-
serão revisadas as principais contribuições sobre o tema e nâmica familiar, primeiro identificando a associação entre
os modelos explicativos sobre as relações associativas e a satisfação e o nível de concordância entre o casal e ca-
processos psicológicos subjacentes à ocorrência de con- racterísticas do desenvolvimento infantil. Passou-se, a
flitos conjugais durante o processo de desenvolvimento seguir, a determinar a influência específica da dimensão
da criança. Na primeira parte do trabalho serão destaca- conflito conjugal e, posteriormente, a apontar algumas
dos os componentes mais importantes dos processos características do conflito conjugal como mais relevantes
relacionais envolvidos na conflitiva familiar. A seguir, se- e determinantes para aspectos negativos do desenvolvi-
rão discutidas as propostas explicativas baseadas no mo- mento psicológico em geral. Outro aspecto importante foi
delo cognitivo-contextual (Grych & Fincham, 1990) e no a verificação de que a variabilidade encontrada nas corre-
modelo segurança-emocional (Davies & Cummings, 1994). lações entre o conflito conjugal e distúrbios na criança
Ao final, serão feitas algumas considerações em relação à justificava um questionamento mais crítico do fenômeno
implicação dos achados para a pesquisa em psicopatologia com relação à metodologia das investigações, especialmente
do desenvolvimento. na necessidade de definições mais específicas do constructo
teórico conflito conjugal.
Estudos Iniciais sobre Discórdia Familiar A segunda geração de pesquisas, surgida na última dé-
e o Conflito Conjugal cada, tinha como objetivo a identificação dos processos
subjacentes aos efeitos do conflito conjugal na família
Segundo Cummings e Davies (2002), a primeira gera- procurando, de forma mais específica, compreender como
ção de pesquisas sobre os efeitos do conflito conjugal no as crianças são afetadas pelas situações de conflito intrafa-
desenvolvimento psicológico da criança teve o importan- miliar. Esse esforço de entendimento fundamentou-se
te papel de apontar a associação entre a discórdia parental num modelo compreensivo mais complexo das interações
e a presença de adversidade no contexto familiar. Esta si- entre os diversos fatores e influências no contexto fami-
tuação se caracterizaria por uma maior vulnerabilidade liar, procurando discriminar quais características das
emocional no sistema intrafamiliar (Emery & O´Leary, interações conjugais e, principalmente, das interações pais
1982) estando a ocorrência de conflito conjugal na família e filhos nos sistemas familiares afetavam o desenvolvi-
relacionada à psicopatologia infantil, principalmente de- mento da criança e do adolescente (Cummings & Davies,
sordens de interiorização (Johnston, Gonzalez & Campbell, 2002). Entretanto, a diversidade entre as correlações
1987) e de exteriorização (Jouriles, Murphy & O’Leary, encontradas (.25-.40), bem como a constatação de que
1989), e a aspectos mais amplos da dinâmica das relações amostras clínicas evidenciavam associações mais signifi-
familiares, como a associação entre conflito conjugal e cativas do que estudos não clínicos, levou os pesquisado-
depressão materna (Cummings & Davies, 1994), alcoolis- res a postularem modelos explicativos mais complexos
mo, abuso físico e sexual. sobre a relação entre conflito e impacto no desenvolvi-
Katz e Gottman (1993) descreveram os trabalhos ini- mento infantil (Fincham, 1994). Assim, verificou-se que
ciais sobre as características das relações conjugais e o os diferentes padrões de conflito conjugal refletiam não
desenvolvimento infantil como limitados à investigação somente as características da interação entre o casal, mas
da qualidade da relação parental utilizando-se da noção também eram influenciados por questões mais amplas da
de satisfação pessoal no relacionamento do casal como vida relacional familiar, afetando de forma diferenciada o
referência para o estudo das situações familiares de dis- desenvolvimento infantil. Passou-se, então, de uma aná-
córdia. Esses trabalhos tinham como foco de investiga- lise unidimensional do conflito familiar para uma com-
ção o nível de satisfação/insatisfação do casal no relacio- preensão multidimensional dos processos familiares en-
namento conjugal e sua relação com o comportamento volvidos nos conflitos conjugais e das conseqüências para
infantil, sendo a insatisfação conjugal apontada como o desenvolvimento da criança (Katz & Gottman, 1993),
relacionada à qualidade do desenvolvimento infantil. bem como a consideração das circunstâncias promoto-
Apesar da importante contribuição desses estudos sobre ras de crescimento psicológico e as características de
a relação entre insatisfação na relação conjugal e a pre- resiliência da criança.
sença de indicadores negativos no desenvolvimento da
criança, não foram identificados quais aspectos espe- Aspectos Multidimensionais do Conflito Conjugal
cíficos do processo familiar estavam relacionados aos Situações de discórdia entre o casal, manifestadas na
distúrbios infantis. Isto é, nem todo o relacionamento forma de conflito conjugal, podem caracterizar-se por
conjugal insatisfatório implicava em dificuldades no de- diferentes níveis de intensidade, freqüência, conteúdo e
senvolvimento da criança e nem apresentava disputas ou resolução, além de serem expressas no cotidiano familiar

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Benetti, S.P.C. (2006). Conflito Conjugal: Impacto no Desenvolvimento Psicológico da Criança e do Adolescente.

de forma aberta ou encoberta. Considera-se que todo o Hagan (1999), a habilidade dos pais em proteger a criança
sistema familiar envolve certo nível de conflito, sendo in- da exposição a conflitos e do estabelecimento de alianças
clusive um aspecto positivo no processo de desenvolvimen- baseadas em hostilidade contra um dos pais evita que esta
to psicológico infantil a observação de que adultos podem fique numa posição intermediária da disputa.
discordar e encontrar, de alguma forma, uma maneira de
resolver suas dificuldades. Dessa forma, o primeiro ponto a Resolução
ser destacado no construto multidimensional do conflito As situações nas quais os conflitos são resolvidos de for-
conjugal é identificar quais aspectos exercem um efeito ma satisfatória entre o casal não possuem necessariamente
disruptivo no processo de desenvolvimento infantil. Igual- características tão negativas e, ao contrário, muitas vezes
mente, são importantes as questões de quais aspectos do geram importantes processos de amadurecimento emocio-
desenvolvimento infantil são afetados pela presença de nal e cognitivo na criança, em função de que promovem
conflito conjugal, considerando-se a adaptação geral da discussões menos coercivas, agressivas e com menor ata-
criança, o desenvolvimento emocional, cognitivo e a esfera que verbal ao companheiro (Cummings, 1998; Grych &
comportamental (Cummings, 1998). Fincham, 1990). No sentido oposto, certos padrões negati-
As dimensões mais importantes do conflito conjugal, vos de resolução de conflitos podem provocar efeitos ad-
entendido como um construto inter-relacionado e com- versos. Katz e Gottman (1993) mencionam os padrões de
posto de diferentes situações particulares a cada caso, (a) exigência x evitação e de (b) mútua hostilidade contí-
são a freqüência da ocorrência de interações conflitivas nua, como formas predominantes de dificuldades na reso-
entre o casal, a intensidade das interações, o conteúdo lução de conflitos. No primeiro caso, um elemento do casal
sobre o que está ocasionando o conflito e, finalmente, a procura alcançar a mudança no companheiro por meio de
forma como as interações conflitivas são resolvidas críticas, exigências e demandas intensas, provocando a
(Grych & Fincham, 1990). retração e desinteresse do outro parceiro, que passa a evi-
tar a situação, calar-se ou deixar de exibir qualquer forma
Freqüência de interação – padrão de demanda e de abandono. No se-
A exposição da criança a episódios freqüentes de dispu- gundo caso, críticas, manifestações de afeto negativo, utili-
ta entre o casal, ou seja, a ocorrência de episódios cons- zação de ironia e de comentários depreciativos dirigidos ao
tantes de conflito conjugal como forma de relacionamen- parceiro assumem um padrão constante, caracterizado por
to familiar é um fator determinante de estresse. Conflitos mútua hostilidade contínua entre o casal.
freqüentes geram respostas emocionais intensas por par- A resolução de conflitos familiares de forma agressiva é
te da criança, que podem manifestar-se por meio de con- vivida pela criança como experiência cotidiana de violência,
dutas agressivas ou depressivas (Dadds, Sanders, Morrison indicando que a solução de problemas pode ser alcançada
& Rebgetz, 1992). Crianças expostas a situações de confli- através do uso de estratégias agressivas. Na investigação
to conjugal apresentam maior incidência de sintomas de de Lisboa et al. (2002), crianças vítimas de violência fami-
ansiedade, agressividade, distúrbio de conduta (Jenkins & liar utilizavam-se de comportamentos agressivos nas
Smith, 1991) e depressão (Katz & Gottman, 1993). estratégias de enfrentamento de conflitos com os colegas,
indicando que o padrão familiar agressivo na resolução dos
Intensidade conflitos era transposto para o convívio social.
A intensidade da expressão dos conflitos é variada. Pode
se caracterizar por situações de calma disputa entre o ca- Outros aspectos
sal, até episódios envolvendo agressão e violência verbal, Características como gênero, idade da criança e proce-
emocional ou física. Apesar da evidência de que a exposi- dência das amostras estudadas (clínicas e não clínicas) têm
ção à violência física causa maior dano psicológico à cri- apontado tendências variadas nas análises sobre a inter-
ança (Zavaschi, Benetti, Polanczyk, Solés & Sanchotene, relação entre essas características e os padrões de conflito
2002), episódios de agressões verbais e emocionais têm conjugal. No caso do gênero, meninos apresentam, em al-
efeitos tão negativos quanto os físicos e foram relaciona- gumas investigações, uma maior tendência a manifestar
dos à ocorrência tanto de problemas de interiorização como distúrbios de conduta e agressividade do que meninas, que
exteriorização (Grych & Fincham, 1990). Também a in- teriam uma maior tendência a condutas e afetos depressivos
tensidade dos episódios de conflito entre o casal está asso- (Fincham, 1994). Entretanto, há variabilidade nesses acha-
ciada a uma maior freqüência das situações de conflito. dos em função das distintas avaliações do constructo con-
flito conjugal (Grych & Fincham, 1990). Já as amostragens
Tópico clínicas tendem a apresentar correlações mais robustas
O tópico ou razão do conflito tem sido igualmente asso- entre conflito conjugal e distúrbios na criança. Porém, a
ciado como outra fonte de estresse para a criança, já que ocorrência de outros fatores afetando famílias em atendi-
muitas vezes os conflitos tratam de situações relaciona- mento clínico justifica uma análise mais cautelosa (Jouriles,
das à própria criança, tais como questões de manejo e su- Murphy & O’Leary, 1989).
pervisão nas quais os pais divergem sobre suas opiniões Como pôde ser visto, a abordagem do constructo con-
ou condutas, provocando intensa ansiedade infantil flito conjugal está baseada numa compreensão multidi-
(Cummings, 1998). Segundo Hetherington e Stanley- mensional que envolve as características de freqüência dos

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conflitos, da intensidade, do conteúdo e da forma como conflitos conjugais. Dessa forma, o impacto do conflito
são resolvidas as situações de discórdia. Considera-se que conjugal tem um caráter mais negativo na disponibilidade
a presença de conflitos no funcionamento familiar, por si afetiva e no envolvimento masculino, tendo sido observa-
só, não está necessariamente associada a dificuldades no do menor interesse paterno pelos filhos e participação em
ajustamento da criança e adolescente, dependendo de as- geral na família em situações de conflito conjugal.
pectos específicos de cada dimensão. Além disto, algumas Entretanto, alguns estudos também identificam altera-
condutas parentais face ao conflito têm função constru- ções na disponibilidade materna, visto que o conflito con-
tiva no amadurecimento emocional da criança. Tais situa- jugal estava associado à maior ocorrência de depressão
ções compreendem ações que evidenciam esforços de re- nas mães (Coyne, Thompson & Palmer, 2002; Downey &
solução de conflitos, procura de alternativas e explicações Cowney, 1990). No estudo de Coyne, Thompson e Palmer
sobre os acontecimentos à criança, indicando a perspec- casais com mulheres deprimidas apresentavam maiores
tiva de que dificuldades são situações que devem ser tra- dificuldades conjugais, menor expressão afetiva e presen-
balhadas e discutidas. ça de táticas mais destrutivas na resolução dos conflitos.
Ao contrário, condutas destrutivas envolvem agressão Segundo Cummings (1995) e Downey e Cowney (1990),
interpessoal e violência, conflitos não verbais com distan- as dificuldades de comportamento e desenvolvimento psi-
ciamento afetivo parental durante o episódio, agressão cológico da criança com pais depressivos resulta do clima
física, agressão a objetos, ameaças à integridade da famí- de discórdia e de conflito da relação parental, mais do que
lia e conflitos envolvendo a criança (Cummings & Davies, a ocorrência da patologia nos pais.
2002). Esses casos, principalmente aqueles envolvendo Por sua vez, Oliveira et al. (2002) em uma investigação
violência conjugal, originam situações adversas que sobre os estilos parentais intergeracionais, conflito con-
interferem nas relações parentais e nas práticas de so- jugal e comportamentos de internalização e de externa-
cialização da criança. A seguir, serão abordadas as con- lização infantil identificaram que a conflitiva conjugal
tribuições sobre as associações entre conflito conjugal e mediava as situações de estilo materno autoritário. A
as relações parentais, com ênfase nas situações de vio- atitude conjugal conflituosa materna associava-se ao
lência conjugal. estilo autoritário da mãe e constituía um fator de risco
para comportamentos de externalização.
Conflito Conjugal e as Relações Parentais Além de afetar a disponibilidade parental para com os
filhos, a exposição aos episódios de conflito conjugal gera
As relações entre pais e filhos são fundamentais no pro- estados afetivos internos na criança de intenso sofrimen-
cesso de desenvolvimento, porém, o sistema familiar como to psíquico e estresse e alterações emocionais e fisiológi-
um todo constitui um contexto relacional importante para cas (El-Sheik & Harger, 2001). Há um esforço, por parte
o desenvolvimento da criança e do adolescente (Cummings da criança, de controlar ou regular as relações parentais
& O´Reilly, 1997). Segundo Holden, Geffner e Jourieles disfuncionais, numa tentativa de diminuir a tensão familiar.
(1998), faz-se necessário a inclusão do sistema familiar, Entretanto, essas situações são dificilmente resolvidas a
principalmente das características das relações conjugais, partir destas estratégias, tendo como resultado a orga-
nos modelos conceituais do desenvolvimento psicológico nização de representações do self e dos relacionamentos
da criança. Partindo do modelo de Belsky (1984), no qual com adultos de forma agressiva e negativa. Neste sentido,
as relações entre pais e filhos são afetadas (a) pela perso- Santos e Costa (2004) salientam que os efeitos da dinâ-
nalidade dos pais e experiência emocional de bem-estar, mica conjugal violenta sobre o desenvolvimento dos fi-
(b) pelas características da própria criança, e (c) pelas fon- lhos associam-se à posição ambivalente da criança ao se
tes ambientais e contextuais de estresse, Holden, Geffner deparar com a conflitiva dos pais. Isto porque a aliança e a
e Jourieles consideram necessária a inclusão no modelo lealdade para com os pais colocam a criança numa situa-
do fator relação conjugal. Isto porque as características ção de opção entre defender o agressor ou a vítima, oca-
da relação conjugal influenciam diretamente a disponibili- sionando divisões internas no funcionamento familiar.
dade afetiva e física dos pais no cuidado e no envolvimento Além disto, a própria criança se depara com a tarefa de
com os filhos e, em geral, os conflitos entre o casal ocasi- conciliar o amor pelo genitor violento e a raiva pela si-
onam uma deterioração dessas relações entre pais e filhos tuação vivida na família.
(Grych & Fincham, 1990). Dentre todas as situações que afetam o sistema familiar,
Cummings e O’Reilly (1997) argumentam que a qua- a ocorrência de conflito conjugal associada a episódios de
lidade da relação do casal está relacionada com maior dis- violência entre o casal, constitui-se em uma das formas
ponibilidade, tanto materna quanto paterna, no envolvi- mais negativas de interação e expressão afetiva, com
mento com os filhos. Casais que consideram as relações graves conseqüências para o desenvolvimento infantil.
conjugais como satisfatórias apresentam envolvimento
similar e equivalente com os filhos. Ao contrário, dificul- Conflito Conjugal e Violência Familiar
dades na relação do casal diminuem o envolvimento e a dis-
ponibilidade parental, principalmente a disponibilidade A comorbidade entre conflito conjugal e violência fa-
paterna. Em geral, a relação mãe-filhos tende a manter-se miliar é outro aspecto adverso identificado nos estudos
mais estável do que a relação pais-filhos face à presença de sobre violência que aumenta as chances de ocorrência de

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episódios de maus-tratos dirigidos à criança (Ross, 1996). importante referente à percepção do adolescente sobre sua
Conflito conjugal está presente em casos de abuso, negli- experiência passada e sua motivação para um engajamento
gência infantil, e violência familiar (Jouriles et al., 1989). em relações afetivas diversas.
A deterioração da relação conjugal pode levar à reprodu-
ção de práticas abusivas na relação entre pais e filhos e a Modelos Processuais
práticas disciplinares inconsistentes. Muitas vezes as cri-
anças, além de testemunharem o conflito entre os pais, Ainda que a importância dos estudos iniciais sobre as
também são vítimas do mesmo (Wolfe, 1999; McCloskey, relações familiares tenha sido evidenciada nas associações
Figueredo & Koss, 1995). Ainda que episódios de maus- encontradas entre conflito conjugal e características do
tratos infantis sejam indubitavelmente traumáticos, a mera ajustamento infantil, a diversidade de situações (contex-
exposição da criança à violência, especialmente a episódi- to) e os diferentes fatores mediadores do impacto sobre o
os de agressão física entre o casal, provoca danos psicoló- desenvolvimento infantil apontaram a necessidade de se
gicos importantes no processo de desenvolvimento infan- organizarem modelos processuais mais complexos sobre
til, com seqüelas duradouras no amadurecimento da per- os fenômenos em questão.
sonalidade em geral (Cummings, 1998; Katz & Gottman,
1993). Nesse sentido, dois aspectos são considerados como Modelo cognitivo-contextual
associados ao dano psicológico à criança: um deles é quando Grych e Fincham (1990) consideram que o impacto da
a criança é exposta às situações de conflitos intensos en- exposição ao conflito conjugal depende do contexto maior
tre os pais envolvendo violência física (Jouriles et al., 1989), onde ocorrem os episódios de conflito, da capacidade cogni-
o outro é quando a própria criança passa a ser também tiva de interpretação dos acontecimentos e das estratégias
vítima das agressões parentais, caso que se caracterizaria de enfrentamento utilizadas pela criança. Desta forma,
como de abuso verbal ou físico. propõem o modelo cognitivo-contextual como uma tentati-
Alguns autores, entretanto, consideram que, apesar da va explanatória e compreensiva dos diversos componentes
evidência de que a presença de violência física causa maior atuantes na relação criança e família, considerando que as
dano psicológico à criança, agressões verbais e emocio- conseqüências do conflito conjugal no desenvolvimento
nais ocasionam conseqüências tão negativas quanto as fí- da criança e do adolescente são mediadas pelas capacida-
sicas (Grych & Fincham, 1990). Na investigação de des de compreensão e avaliação das situações parentais de
Fantuzzo et al. (1991) com 107 crianças pré-escolares, o discórdia. Portanto, características específicas, como ida-
grupo de crianças exposto somente a episódios de confli- de, sexo e processos cognitivos envolvidos na avaliação da
to verbal apresentou níveis moderados de distúrbio de situação (experiência passada, capacidade de compreensão,
conduta. Já o grupo de crianças exposto ao conflito verbal por exemplo) irão determinar os efeitos da exposição à
e físico tinha níveis clínicos de distúrbio de conduta e um conflitiva conjugal. Nesse modelo, o aspecto afetivo resul-
nível moderado de distúrbio emocional. O grupo exposto taria da avaliação processual cognitiva da situação de dis-
a conflito verbal, físico e residindo em abrigos apresentou córdia parental por parte da criança. Primeiramente, a
níveis clínicos de distúrbio de conduta, altos níveis de dis- exposição ao conflito gera um estado afetivo de ansieda-
túrbio emocional e baixo nível de adaptação social. de/medo na criança, a qual utiliza estratégias de enfrenta-
Estudos longitudinais apontam que os efeitos da ex- mento para lidar com a situação, baseadas nas suas carac-
posição à violência conjugal na infância persistem na terísticas cognitivas e atribuições causais. Dependendo das
juventude. Fergusson e Horwood (1998), em uma inves- características do conflito (intensidade, conteúdo, duração
tigação com 1265 adolescentes da Nova Zelândia sobre e resolução) e da faixa etária da criança, diferentes conse-
exposição à violência conjugal e qualidade de ajustamen- qüências ocorrerão no processo de desenvolvimento. A
to pessoal na adolescência, encontraram que as crianças criança pode oscilar entre atribuir a si mesma a responsa-
que haviam sido expostas a altos níveis de violência paren- bilidade pelo conflito ou atribuir aos pais. Essas situações
tal apresentavam maior risco de sintomas de ansiedade, geram estados afetivos de culpa e de vergonha ou de raiva
desordens de conduta, envolvimento com crimes e pro- dirigida a um dos pais ou a ambos. Além dos processos
blemas com álcool. cognitivos primários de avaliação do conflito como dos
Entretanto, De Antoni e Koller (2000) consideram que, processos secundários de atribuições e estabelecimento de
mesmo sob circunstancias adversas, adolescentes podem estratégias de enfrentamento, outros aspectos também
ter uma percepção crítica sobre o impacto da violência interferem no impacto na criança. Processos distais ou si-
intra-familiar. Numa investigação com adolescentes femi- tuações ao longo do desenvolvimento (experiência prévia
ninas institucionalizadas sobre suas próprias visões acer- com conflitos, percepção da criança do clima familiar, tem-
ca da noção de família, as pesquisadoras identificaram o peramento e gênero) e processos proximais (situações mais
desejo de estabelecimento de projetos familiares diversos transitórias e imediatas de avaliação da situação, corres-
aos vividos na sua própria família num esforço de consti- pondendo às expectativas frente ao evento e ao estado
tuir relações familiares distintas. Embora as situações de afetivo ou humor da criança no momento) irão influenciar
violência familiar vividas pelas adolescentes fossem indi- as conseqüências do conflito.
cadores de risco grave, muitas vezes mascaradas por uma Em síntese, atribuições e estratégias de enfrentamento
visão familiar idealizada, esse aspecto coloca uma questão inadequadas frente ao conflito conjugal podem colocar a

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criança em situação de vulnerabilidade emocional, já que do frente a conflitos, (b) de representações das relações
os estados afetivos de ansiedade, de frustração e de raiva familiares, ou o significado dos acontecimentos na família
despertados pela exposição ao conflito não são adequada- em relação à experiência de segurança emocional e (c) de
mente processados. Algumas situações podem levar ao regulação da exposição ao afeto, ou dos comportamentos
desenvolvimento de uma atitude de auto – recriminação, regulatórios que controlam a exposição da criança aos afe-
afeto deprimido, baixa auto-estima ou raiva que, ao longo tos resultantes das discórdias familiares. Desta maneira,
do desenvolvimento, acabam interferindo no processo de quando face às situações estressantes envolvendo discór-
amadurecimento psicossocial da criança. dias e conflitos familiares, a criança reage ao afeto negati-
vo e à ansiedade, esforçando-se por criar mecanismos me-
Modelo segurança-emocional diadores de controle, tanto em nível de seus próprios es-
Davies e Cummings (1994) também desenvolveram um tados de ansiedade interna, como também do controle do
modelo processual sobre o impacto do conflito conjugal no comportamento dos próprios adultos envolvidos na dis-
desenvolvimento infantil. Utilizando-se de uma análise puta. Assim, o estado emocional negativo, ativado pela
multidimensional dos diferentes componentes inter-rela- exposição ao conflito conjugal, perturba o sentido de se-
cionados na determinação do impacto do conflito conjugal gurança emocional interna, fazendo com que a criança
na criança e no adolescente, os autores também consideram procure acionar mecanismos que restabeleçam a seguran-
o contexto onde ocorre o conflito, as características da crian- ça emocional. Podem ocorrer tentativas de controle da
ça, a experiência passada, o nível de estresse e as estraté- disputa parental, por meio de interferência direta da crian-
gias de enfrentamento como elementos principais atuantes ça ou de condutas de mau comportamento, de agressividade
na forma como a criança processará a experiência. Esses ou de choro (Smith, Berthelsen & O´Connor, 1997).
elementos se inter-relacionam de uma forma dinâmica, ao A capacidade de regulação emocional é determinante da
longo do tempo, para influenciar o processo de desenvol- experiência da criança face ao conflito. Portanto, os efei-
vimento psicossocial da criança e do adolescente. Entretan- tos negativos da exposição não resultam diretamente das
to, mesmo a partir desta visão multidimensional, os auto- características menos ou mais intensas do conflito parental,
res enfatizam que a ação desses diferentes elementos de mas, sim, da percepção de ameaça à capacidade de manu-
influência se fundamenta num aspecto básico do desen- tenção da segurança emocional interna da criança, altera-
volvimento psicológico que é a experiência afetiva de segu- da pelo conflito.
rança emocional.
As emoções, partindo de uma perspectiva funcionalista, Considerações Finais - Contribuições à Pesquisa
servem como um monitor do estado psicológico interno e em Psicopatologia do Desenvolvimento
da experiência de segurança emocional individual, orien-
tando o comportamento no sentido de manter um estado A revisão da literatura discutida neste trabalho indicou
de regulação emocional, quando se está em face de uma que o campo das relações familiares é uma área de inves-
situação estressante. A experiência de segurança emocio- tigação fundamental para a compreensão do desenvolvi-
nal se desenvolve a partir das representações de apego mento psicológico. Nesse aspecto, a contribuição especí-
estabelecidas ao longo do relacionamento da criança com fica das relações familiares envolvendo situações de con-
as figuras cuidadoras, em situações onde predominaram flito conjugal evidenciou-se como um tópico de investiga-
elementos de afeto, apoio, compreensão e suporte emocio- ção importante nos estudos sobre os distúrbios no desen-
nal. Entretanto, também no desenvolvimento posterior, a volvimento da criança e do adolescente. Até o momento,
experiência de segurança emocional é determinada pela as pesquisas apontam para o impacto negativo do conflito
qualidade da relação parental, ainda que influenciada pe- conjugal no desenvolvimento psicológico, principalmente
las vivências de apego iniciais. Isto é, a noção de seguran- daquelas situações familiares envolvendo violência física
ça emocional, ainda que ligada às experiências de apego e verbal entre o casal. Os resultados dos trabalhos indicam
iniciais, seria influenciada pelas trocas posteriores ao lon- que os conflitos conjugais estão relacionados a distúrbios
go do desenvolvimento com as figuras parentais. em diferentes aspectos do desenvolvimento da criança e
O impacto do conflito conjugal sobre a experiência de do adolescente, tais como nas áreas emocional, cognitiva e
segurança emocional ocorre na medida em que as situa- social.
ções de discórdia geram estados de ansiedade na criança, Inicialmente, embora as situações de conflito e adversi-
medo e insegurança (Davies & Cummings, 1994). A expo- dade familiar estivessem claramente implicadas na ocor-
sição ao conflito conjugal teria o papel de interferir na rência de distúrbios no desenvolvimento, foi fundamental
qualidade dessas representações familiares, no momento a especificação dos diferentes aspectos do construto con-
em que se associam experiências de estresse ligadas às flito familiar para o avanço da compreensão da dinâmica
figuras parentais, fonte das vivências afetivas de estabili- familiar. A partir da análise mais precisa das diferentes
dade da criança. Em termos gerais, o construto segurança situações de conflito conjugal, verificou-se que os efeitos
emocional corresponde a um processo dinâmico envolven- negativos das interações conjugais estavam associados a
do subsistemas regulatórios compostos pelos componen- determinadas características dos processos envolvendo o
tes (a) de regulação emocional, ou a capacidade da criança conflito. Isto é, constatou-se que a associação entre expo-
em reduzir, aumentar e manter seu estado emocional quan- sição aos conflitos conjugais e o desenvolvimento infantil

266
Benetti, S.P.C. (2006). Conflito Conjugal: Impacto no Desenvolvimento Psicológico da Criança e do Adolescente.

dependiam da freqüência, da intensidade, do conteúdo e parte das pesquisas estuda grupos familiares de proce-
da forma de resolução dos conflitos. Além disto, as defini- dência anglo-saxônica e apontam a necessidade de am-
ções mais precisas sobre as características do conflito con- pliação das investigações para grupos de diferentes cultu-
jugal permitiram uma abordagem metodológica mais com- ras. Considerando-se a complexidade da sociedade brasi-
plexa dos estudos sobre as diferentes interações conju- leira e a relevância do tema, é importante e necessário o
gais nas resoluções de conflito. Verificou-se que os dife- desenvolvimento de trabalhos e pesquisas que reflitam as
rentes padrões de conflito conjugal refletiam não somente características nacionais, a fim de que se investiguem os
as características da interação entre o casal, mas também aspectos peculiares do contexto familiar e das formas de
eram influenciados por questões mais amplas da vida conflito conjugal em relação às influências culturais espe-
relacional familiar e afetavam de forma diferenciada o de- cíficas. Ainda que os fatores identificados como associa-
senvolvimento infantil. Passou-se, então, de uma análise dos ao conflito conjugal e às conseqüências da exposição
unidimensional do conflito familiar para uma compreen- às interações parentais adversas reflitam características
são multidimensional dos processos familiares envolvidos do funcionamento familiar relativamente similares em di-
nos conflitos conjugais e nas conseqüências para o desen- versos grupos sociais, eles estão inseridos num contexto
volvimento infantil. cultural mais amplo. A identificação destes aspectos é fun-
Como conseqüência, a análise multidimensional dos di- damental para uma visão mais abrangente das interações
versos fatores contextuais, familiares e individuais asso- familiares em contextos diversos e para a análise do im-
ciados aos efeitos da exposição ao conflito conjugal, levou pacto destas interações no desenvolvimento da criança e
a construção de modelos processuais das associações en- do adolescente.
tre as variáveis atuantes ao longo do desenvolvimento Como conclusão, espera-se que esta discussão dos tra-
psicológico. O modelo cognitivo-contextual enfatiza o balhos sobre a questão dos efeitos do conflito conjugal na
contexto maior onde ocorrem os episódios de conflito, a psicopatologia infantil, além de apresentar os resultados
capacidade cognitiva da criança de interpretação dos fatos das pesquisas sobre o tema, forneça elementos de aproxi-
e suas estratégias de enfrentamento, enquanto que o mo- mação compreensiva dos fenômenos psicológicos à luz de
delo de segurança emocional destaca a capacidade da crian- uma abordagem baseada no modelo processual da com-
ça de manutenção da regulação emocional. Mesmo que plexidade dinâmica dos fatores. E, igualmente, estimulan-
enfatizando a ação de alguns aspectos de maneira mais do o desenvolvimento de trabalhos contextualizados nes-
específica, tal como no modelo cognitivo-contextual ou ta área.
no modelo de segurança emocional, as interações proces-
suais entre os fatores são similares nos modelos propos- Referências
tos, visto que ambos identificam a sobreposição dinâmica
das ações dos diversos componentes do sistema familiar. Belsky, J. (1984). The determinants of parenting: A process
Tanto considerando os efeitos da exposição direta ao con- model. Child Development, 55, 83-96.
flito conjugal, como do efeito de fatores mediadores, os Coyne J. C., Thompson, R., & Palmer, S. C. (2002). Marital
modelos se equiparam na abrangência das propostas. quality, coping with conflict, marital complaints, and affection
in couples with a depressed wife. Journal of Family Psychology,
Cummings e Davies (2002) propõem que as pesquisas
16, 26-37.
na área devam se orientar por uma aproximação abrangente
Cummings, E. M. (1995). Security, emotionality, and parental
dos fenômenos atuantes no desenvolvimento infantil, fun- depression: A commentary. Developmental Psychology, 31, 425-
damentadas na noção de que comportamentos específicos 427.
são influenciados por diversos sistemas, incluindo aque- Cummings, E. M. (1998). Children exposed to marital conflict
les próximos à esfera de vida imediata da criança até aque- and violence: Conceptual and theoretical directions. In G.
les mais distais. Da mesma forma, essas influências afetam Holden, B. Geffner & E. Jouriles (Eds.), Children exposed to
o desenvolvimento conforme o período evolutivo e a ca- marital violence: Theory, research, and applied issues (pp. 21-53).
pacidade de resposta da criança. Portanto, ao se falar em Washington, DC: American Psychological Association.
distúrbios do desenvolvimento, deve-se partir de uma con- Cummings, E. M., & Davies, P. T. (1994). Maternal depression and
cepção de psicopatologia que compreenda o distúrbio como child development. Journal-of-Child-Psychology-and-Psychiatry-
uma resposta complexa da criança a determinada situa- and-Allied-Disciplines, 35, 73-112.
ção. A essa noção dinâmica de análise e compreensão dos Cummings, E. M., & Davies, P. T. (2002). Effects of marital
comportamentos infantis, Cummings e Davies denominam conflict on children: Recent advances and emerging themes
in process oriented-research. Journal of Child Psychology and
modelo de pesquisa orientada ao processo, isto é, a dire-
Psychiatry, 43, 31-63.
ção explicativa se orienta pela noção da complexidade e
Cummings, E. M., & O´Reilly, A. (1997). Fathers in family
diversidade dos fatores em questão e por suas ações dinâ- context: Effects of marital quality on child adjustment. In
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volvimento, orientar-se-ia por uma abrangência comple- Dadds, M. R., Sanders, M. R., Morrison, M., & Rebgetz, M.
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