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BEL-i9:

empreendendo e inovando
em rede para o
desenvolvimento sustentável
Catalogação na fonte feita por Dagmar Spring – CRB 09/1377

C782 Companhia Paranaense de Energia


BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento
sustentável / Companhia Paranaense de Energia; Marcos de Lacerda
Pessoa et al. -- Curitiba: COPEL, 2010.
218 p.

Apresentação de Carlos Eduardo Moscalewsky (Superintendente


de Telecomunicações da COPEL)

1. Inovação Tecnológica. 2. Incubadora Tecnológica. 3.


Desenvolvimento Sustentável. I. Pessoa, Marcos de Lacerda et al.
II. Título.

CDD 608.7

COPEL Telecomunicações S. A.

DIRETORIA
Rubens Ghilardi
Diretor Presidente
Antonio Rycheta Arten
Diretor de Administração
Paulo Roberto Trompczynski
Diretor de Finanças, Relações com Investidores e de Controle de Participações
Raul Munhoz Neto
Diretor de Telecomunicações
Zuudi Sakakihara
Diretor Jurídico
Moacir Mansur Boscardin
Diretor Adjunto
CONTEÚDO
APRESENTAÇÃO, 7
Carlos Eduardo Moscalewsky

INTRODUÇÃO, 9
Marcos de Lacerda Pessoa

1 Os projetos BEL e BEL-i9: seus propósitos, inovações e benefícios para o


desenvolvimento sustentável do Paraná, 13
Marcos de Lacerda Pessoa

2 O projeto BEL-i9 e a incubação no ciberespaço, 25


Roberto M. Spolidoro

3 Inovação, empreendedorismo e incubação de empresas, 31


Sergio Scheer

4 Incubação de negócios em telecomunicações e o desenvolvimento


inclusivo paranaense, 41
Roberto Gregorio da Silva Junior
Jaime Sunye Neto

5 Sobre os novos projetos que a COPEL Telecomunicações propõe para o


desenvolvimento socioeconômico do Paraná, 49
Maria Elisa Ferraz Paciornik

6 Inovação e a sua gestão no contexto do projeto BEL-i9, 53


Ruy Sant’Ana

7 Plataforma para a criação flexível de novos produtos e negócios: o


paradigma da inovação aberta, 61
Júlio César Felix
Rodrigo G. M. Silvestre

8 Projeto BEL-i9: transpondo o abismo entre academia e indústria, 69


Klaus de Geus
9 BEL-i9: transformando o Paraná em um polo de excelência na era dos
conteúdos digitais, 83
Wagner Eric Heibel

10 Co-criação no projeto BEL-i9, 91


Paulo Sertek

11 Proposta de escopo de atividades de gestão do projeto BEL-i9 da


COPEL, 101
Marilda Medeiros Packer
Felipe Grando Sória

12 Reflexões sobre estratégias para a obtenção de financiamento para o


BEL-i9, 107
Yára Christina Eisenbach

13 A gestão da incubadora BEL-i9 com base na visão antropológica da


formação do ser, 111
Paulo Roberto Luccas

14 Conceitos para planejamento e gestão dos novos empreendimentos


incubados no BEL-i9 e o papel dos stakeholders, 121
Henrique Ricardo dos Santos

15 BEL-i9: ambiente de cooperação e inovação para pequenas e médias


empresas do setor de telemática, 127
Cristiane Garbin Langner

16 Aplicações do BEL no ambiente universitário e potencial do BEL-i9 para


gerar empreendimentos inovadores, 133
Julio Cesar Nitsch
Edson Pedro Ferlin
Paulo Arns da Cunha

17 Quebrando os paradigmas computacionais: a Computação em Nuvem, 139


Cezar Taurion

18 Desenvolvendo produtos inovadores através do BEL-i9, 149


Aloivo Bringel Guerra Junior
19 Incubadoras: necessidade e modelos que podem ser usados no projeto
BEL-i9, 157
Ricardo Mendes Junior
Maria do Carmo Duarte Freitas
Sergio Scheer

20 Habitats de inovação: o modelo do Tecnoparque da PUCPR e a atração


de iniciativas inovadoras, 165
Luiz Márcio Spinosa
Mauro Fonseca
Mauro Nagashima

21 Modelo de incubação estruturada em rede e orientada por demandas de


um agente de inovação regional, 171
Roberto Candido
José Reinaldo Silva
Sebastião Dambroski

22 A COPEL na era da interatividade, 181


Rita de Cássia Laporte

23 BEL-i9: a possibilidade de inovar e comercializar sobre uma rede


telemática com significativo potencial de consumo, 185
Gilberto Krieger

24 Dois monólogos não fazem um diálogo, 189


Marcos Miguel Ferigotti

25 A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do


desenvolvimento sustentável, 195
Eduardo Manoel Araújo

26 Novos serviços e a web semântica, 211


Norberto Alves Ferreira
Fernando Basseto
APRESENTAÇÃO

A área de telecomunicações da COPEL está empreendendo o projeto BEL, a partir do


qual pretende-se oferecer à população do Paraná, através de acesso Internet de alta
qualidade e confiabilidade, por fibra óptica e em Banda Extra Larga, a possibilidade de
que os usuários possam montar seus próprios pacotes (bundles), de forma
personalizada.

É um projeto considerado inovador, nas suas tecnologias e nos modelos de negócio. Ele
está sendo viabilizado em conjunto com operadoras e provedoras de conteúdos,
aplicações e serviços digitais, em sistema de parceria e com compartilhamento de
receitas.

O BEL introduz o conceito de rede aberta, em que a COPEL provê a infraestrutura de


fibras ópticas passivas (GPON) até os clientes usuários, acolhendo todos os bons
parceiros que desejarem inserir, nessa rede avançada, seus produtos e serviços. Em
adição a isso, essa rede será neutra, o que significa que os seus usuários poderão ter
pleno acesso aos aplicativos que desejarem. Finalmente, a rede proporcionará alocação
dinâmica de banda e os clientes poderão, se assim o desejarem, pagar "por consumo",
isto é, somente por aquilo que utilizarem, o que uma inovação adicional.

Em paralelo ao BEL, a COPEL deseja incentivar o empreendedorismo inovador no


Paraná, através de projeto complementar, denominado BEL-i9. O objetivo é a
organização de um fórum permanente de discussão sobre o papel das redes no
desenvolvimento sustentável do Paraná e a incubação de novos negócios, a serem
desenvolvidos em parceria (entre a COPEL, as universidades, os centros de pesquisa e
outras instituições), a partir de produtos e serviços que poderão ser comercializados na
própria plataforma tecnológica do BEL.
Para que se dê início a essa ação, convidou-se uma série de profissionais de grande
competência, com diversidade de formação, de experiência e de atuação, para a
contribuição com textos, contendo suas recomendações com respeito ao
desenvolvimento e a implementação cooperada do BEL-i9.

É com satisfação que esses textos estão sendo aqui apresentados, todos de qualidade
excepcional e que compõem capítulos do presente livro.

Agradecemos imensamente a todos aqueles que contribuíram para que essa publicação
pudesse ser viabilizada!

Carlos Eduardo Moscalewsky


Superintendente de Telecomunicações da COPEL
INTRODUÇÃO

Para que um indivíduo obtenha sucesso atualmente é preciso que se adapte


rapidamente às inovações que não param de surgir. E para alguém ser um verdadeiro
inovador é necessário que altere o mundo ao seu redor, refazendo os conceitos, as
mentalidades e sempre gerando novas mudanças.

Por isso, para que se possa empreender de forma inovadora é preciso que se esteja
preparado para desaprender, reaprender e desbravar, muitas vezes sem que se tenha
qualquer modelo para seguir ou se guiar.

“O progresso é impossível sem mudança.


Aqueles que não conseguem mudar as suas mentes
não conseguem mudar nada.”
- George Bernard Shaw

Nesse contexto, mais importante do que responder às perguntas é formular perguntas


diferentes, referentes aos problemas já existentes.

As boas questões são convites para explorar, aventurar, arriscar, ouvir e abandonar as
posições individuais. Boas questões ajudam as pessoas a se tornarem curiosas e ao
mesmo tempo incertas, e esse é sempre o caminho que conduz à surpresa de um novo
insight. Mas, na prática, como isso pode ser efetivamente realizado?

Inicialmente, é necessário que se tome consciência de que cada ser humano é único e
que, portanto, possui percepções diferentes a respeito de um mesmo objeto de análise.
Assim sendo, só se consegue uma melhor aproximação à visão do todo, quando se
reúne a maior quantidade e a mais ampla diversidade possível de visões.
Esse é o verdadeiro conceito da palavra “rede”, que está no título da presente
publicação: para se obter um delineamento claro a respeito de qualquer problema ou
sistema complexo, fazem-se necessários muitos olhos, ouvidos e corações, envolvidos
em perspectivas compartilhadas.

O Paraná constrói redes telemáticas com competência. A rede de fibras ópticas da


COPEL, por exemplo, possui avançadas tecnologias e uma capilaridade extraordinária,
chegando a todas as regiões do Estado. O desafio que se coloca, agora, é usar essa
infraestrutura para formar uma rede de competências, em torno de temas relevantes
para as pessoas e para o desenvolvimento sustentável do Estado.

“Conectar computadores é um trabalho.


Conectar pessoas é uma arte.”
- Eckart Wintzen

Todo indivíduo pode ser criativo e inovador quando tem a oportunidade de participar
ativamente em conversações com significado, em torno de questões que importam a ele
e à sociedade. Isso é algo que, de fato, lhe dá grande satisfação e, até mesmo, um
significado ainda maior à sua vida. Adicionalmente, à medida que as pessoas
conversam, passam a acessar uma maior sabedoria, que é unicamente encontrada no
coletivo.

Somente quando há muitas perspectivas diferentes é que se consegue ter informação


suficiente para que se tomem boas decisões. E explorar diferentes perspectivas sempre
aproxima as pessoas umas das outras.

Assim sendo, só é preciso que se crie um ambiente onde as pessoas se sintam bem-
vindas.
“O segredo é não correr atrás das borboletas...
É cuidar do jardim para que elas venham até você.”
- Mário Quintana

Mas a criação de um ambiente hospitaleiro vai muito além do local físico em si. O
fundamental é que cada pessoa sinta-se necessária e perceba que pode contribuir com
algo que, de repente, possa virar um insight coletivo.

Os seres humanos querem participar de conversações significativas. As pessoas


verdadeiramente gostam de trocar impressões, de aprenderem juntas e de prestarem
uma contribuição em temas com os quais elas se importam.

Esse é o princípio da inteligência coletiva, da sabedoria que emerge à medida que as


pessoas se tornam mais e mais conectadas umas com as outras.

“Ações individuais, quando conectadas,


levam a uma capacidade muito maior”.
- Juanita Brown

A telemática, por penetrar em todos os setores da atividade humana, presta-se muito


bem para colaborar nesse papel aglutinador. E, nesse contexto, a COPEL pode atuar
como um elemento catalisador, disponibilizando meios e acessos para facilitar a
discussão em rede e fomentar o empreendedorismo que impulsione o desenvolvimento.

O desafio está lançado e a primeira etapa já está sendo vencida com sucesso, à medida
que esta publicação é viabilizada, contendo diferentes visões por parte de pessoas
experientes e profissionais competentes com atuação em áreas diversas, sobre uma
causa comum que pode ser expressa pela pergunta:
Como o empreendedorismo inovador pode levar,
com a ajuda das redes,
ao desenvolvimento sustentável do Paraná?

O BEL-i9 pode ser um primeiro instrumento para o estabelecimento de um fórum


permanente que discuta essa questão, com a possibilidade adicional de se valer, como
elemento acessório, de uma incubadora para gerar produtos e serviços inovadores,
utilizando no seu funcionamento os conceitos de rede aberta e de inovação aberta.

Essa é a proposta prática, sendo que as análises iniciais são apresentadas em cada
capítulo deste livro.

“Empreendedorismo não é uma ciência, nem arte.


É uma prática.”
- Peter Drucker

Que essa primeira iniciativa sirva de estímulo para que o assunto possa, daqui para
frente, evoluir com sucesso. Boa leitura!

Marcos de Lacerda Pessoa


Editor
1
Os projetos BEL e BEL-i9: seus
propósitos, inovações e benefícios para o
desenvolvimento sustentável do Paraná
1
Marcos de Lacerda Pessoa

COPEL – Companhia Paranaense de Energia


marcosp@COPEL.com

1 A COPEL

A COPEL é uma empresa de sociedade por ações, com capital aberto, constituída na forma de
sociedade de economia mista, controlada pelo governo do Estado do Paraná e que atua,
principalmente, nas áreas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.

É a maior empresa do Estado, Top of Mind pela sexta vez consecutiva na categoria “Grandes
Empresas”, considerada pela avaliação dos clientes “A Melhor Distribuidora de Energia Elétrica da
Região Sul” (Prêmio ABRADEE) e sempre indicada como uma das melhores do Brasil.

Construiu, ao longo dos anos, uma reputação sólida de companhia séria, competente e
socialmente responsável. Sempre considerando a necessidade de se manter como uma empresa
lucrativa e economicamente saudável, ao mesmo tempo possui uma grande consciência quanto ao

1
Marcos de Lacerda Pessoa é Engenheiro Civil (UFPR), M.Eng. (Poli-USP), M.Phil. (Univ. Birmingham, Inglaterra), Ph.D.
(Univ. Birmingham, Inglaterra), Pós-Dout. (Univ. Salford, Inglaterra), Res. Fellow (MIT, EUA), Pós-Dout. (Parsons Lab. – MIT,
EUA). Já foi Engenheiro Consultor da Salford University Business and Services Limited – SUBS, Inglaterra, através da qual
prestou serviços de consultoria em diferentes países, como Grã Bretanha, Alemanha, França e Portugal; Pesquisador e
Membro do Staff do CMPO e do Ralph M. Parsons Lab, no Massachusetts Institute of Technology - MIT; Professor Visitante da
Escola Politécnica da USP; Pesquisador Sênior da Coordenadoria Científica do Laboratório Central de Eletrotécnica e
Eletrônica - LAC (hoje, LACTEC); Diretor do Sistema Meteorológico do Paraná – SIMEPAR e Membro Titular do Conselho
Deliberativo do SIMEPAR; Gerente da Coordenadoria de Geociências e Sensoriamento Remoto da COPEL; Diretor Geral da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Governo do Paraná; Coordenador do Ensino Superior do Estado do
Paraná; Diretor de Operações da Paraná Tecnologia, gestora do Fundo Paraná e da Fundação Araucária; Membro Titular do
Conselho de Administração do TECPAR; Membro Titular do Conselho de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial - CDTI do
TECPAR; Membro Titular do Conselho Estadual de Informática e Informações – CEI; Membro do Conselho Deliberativo do
Centro Internacional de Tecnologia de Software – CITS; Membro Titular do Conselho Superior do Sistema de Informações
Geoquímicas do Paraná – SIGEP; Membro Associado e Membro do Conselho de Administração do Centro Cultural Brasil-
Estados Unidos (Interamericano). É autor de livros e capítulos em livros, e autor de mais de 110 artigos publicados em
periódicos nacionais e internacionais. No momento, busca titulação como Especialista em Educação (Univ. de LaSabana). É
Engenheiro Consultor da COPEL, onde atua há 27 anos, atualmente lotado no setor de Telecomunicações e responsável pela
área de Novos Negócios, coordenando os projetos BEL e BEL-i9.

Os projetos BEL e BEL-i9: seus propósitos, inovações e benefícios para o desenvolvimento sustentável do Paraná 13
seu papel como agente de desenvolvimento do Paraná, bem como em relação à sustentabilidade,
tendo inclusive criado a Diretoria de Meio Ambiente.

Há mais de três décadas, a COPEL opera e mantém seu próprio sistema corporativo de
telecomunicações, interligando escritórios, agências, usinas e subestações, em todo o Estado do
Paraná.

A empresa passou a atuar em telecomunicações ao perceber que os avanços tecnológicos em


geração, transmissão e distribuição de energia elétrica eram dependentes de sistemas de
telecomunicações adequados, sendo que dominar esse conhecimento era estratégico para seu
core business.

Ao investir nos seus próprios sistemas de telecomunicações, a COPEL garantiu a qualidade e


disponibilidade necessárias para atividades críticas, como automação de usinas e subestações,
despacho operacional de veículos para atendimento de ocorrências na rede elétrica, intranet,
telefonia corporativa, supervisão e controle da transmissão, interligação de call-centers, tele-
proteção, videoconferência e monitoramento remoto, que são executados pela própria empresa
(evitando os custos crescentes inerentes a esses serviços) e considerados indispensáveis à
operação e manutenção do sistema elétrico.

A necessidade de ampliar a capacidade de transmissão de dados e voz do seu sistema corporativo


e de substituir o sistema de transmissão por microondas em fase de obsolescência, levou a
COPEL a interligar as principais regiões do Estado do Paraná, através de uma rede de fibras
ópticas. Essa interligação foi implementada com a substituição de cabos pararraios por cabos
OPGW nas linhas de transmissão de energia.

2 A COPEL Telecomunicações

Em maio de 1998, a COPEL se tornou a primeira empresa do setor elétrico brasileiro a obter a
autorização da Anatel para prestação de serviços especializados de telecomunicações e, em 2003,
obteve a autorização SCM - Sistema de Comunicação Multimídia, em nome de sua subsidiária
integral, COPEL Telecomunicações.

Assim, além de atender às necessidades da corporação, a COPEL Telecomunicações também


passou a comercializar serviços para operadoras e outras empresas. Adicionalmente, a COPEL
passou a ter uma forte atuação em governo, tendo interligado todas as 2100 escolas da rede
Estadual de ensino e, no momento, está ligando todas as unidades da administração pública
Estadual. Como consequência destas ampliações, o que era considerada uma área de custos
passou, em pouco tempo, a ser um negócio muito promissor. Hoje, a receita da COPEL com
telecomunicações está em torno de R$ 140 milhões/ano, sendo que 76% desse valor se origina de
clientes externos.

Para a COPEL ingressar em telecomunicações foi decisiva a existência de infraestrutura,


representada pela extensa rede física instalada para transmissão e distribuição de energia elétrica,
a detenção dos direitos de passagem e a experiência na operação e manutenção de redes e
sistemas de telecomunicações complexos.

14 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


A COPEL Telecomunicações tem sido muito bem sucedida, atuando em um mercado de nicho –
serviços de transporte para todas as operadoras de telecomunicações e grandes empresas, que
atuam no Estado do Paraná, além de atendimento ao governo–, utilizando-se das vantagens
competitivas que a sua sinergia com a corporação COPEL lhe confere, obtendo taxas de
crescimento e retorno bastante atraentes.

Em função desses excelentes resultados, é desejo da direção da COPEL que a atuação de sua
subsidiária de telecomunicações se amplie para novos mercados e novos serviços de
telecomunicações, vindo a se constituir em uma multi-utility company no Estado do Paraná.

Para isso, em 2008 a COPEL Telecomunicações contratou o CPqD, com o objetivo de, em
conjunto com aquele Centro, definir quais os novos mercados que seriam passíveis de exploração
sustentável pela COPEL, além de conceber um plano de negócios contemplando um portfólio de
serviços ampliado, novas tecnologias a serem utilizadas, e um modelo organizacional e de gestão
mais adequado para a realidade da COPEL e para os novos cenários regulatórios e de mercado.

Um dos resultados desse trabalho fez com que, em 2009, a COPEL reestruturasse totalmente a
sua subsidiária de telecomunicações e criasse um novo departamento, de Novos Negócios.

3 O projeto BEL

O departamento de Novos Negócios organizou e passou a coordenar o projeto BEL (BEL significa
Banda Extra Larga), cujos conceitos fundamentais já foram descritos em duas publicações
anteriores ([1] e [2]). Resumidamente, o objetivo do projeto é posicionar a COPEL
Telecomunicações dentro de um modelo inovador de rede aberta e neutra. Isso implica a formação
de parcerias para que conteúdos, serviços e aplicações possam ser oferecidos por terceiros em
cima da rede de fibras de alta confiabilidade e capacidade da COPEL, o que resulta em uma série
de benefícios, como os que serão apresentados a seguir.

3.1 Macro objetivos do BEL

• Posicionar a COPEL Telecomunicações, que é provedora de infraestrutura de fibras


ópticas dentro do Estado do Paraná, em modelo inovador de rede aberta e neutra.

• Estabelecer parcerias para oferecer, no Paraná, produtos e serviços de valor adicionado


em Banda Extra Larga, de forma competitiva, em cima da rede de fibras ópticas da
empresa.

3.2 Benefícios do BEL para as pequenas e médias empresas

Comercialização de produtos e serviços em clube privé (Intranet), com:

• Custos acessíveis.

• Grande facilidade de venda.

Os projetos BEL e BEL-i9: seus propósitos, inovações e benefícios para o desenvolvimento sustentável do Paraná 15
• Monitoramento das operações em tempo real.

• Veiculação de propaganda segmentada.

• Divulgação e exposição virtual dos produtos e serviços utilizando recursos de alta


tecnologia (vídeos com alta definição, imagens de alta resolução, som de elevada
qualidade).

• Segurança no comércio on-line.

3.3 Benefícios do BEL para os usuários residenciais

• Possibilidade de o usuário montar pacotes (bundles), de forma personalizada (TV +


Internet + Telefonia + ...).

• Direito a ingresso em um clube privé (Intranet), mediante senha, que permite acesso a
informações e a produtos exclusivos (como vídeos sob demanda e jogos com alta
definição, cursos de treinamento profissional, música Dolby, imagens de alta resolução).

• Não necessita de assinatura adicional de provedor de acesso à Internet (ISP).

• Dispensa linha telefônica (não é necessário ter linha telefônica ou adquirir modem).

• Sem custos de instalação ou manutenção para o cliente.

• Possibilidade de instalação de câmeras de segurança.

• Possibilidade de instalação de "Porteiro Virtual".

• Alta qualidade de streaming de vídeo, permitindo acesso a vídeos (YouTube, por


exemplo) sem interrupções.

• Privacidade e segurança nas transações on-line (garantia por firewall e antivírus remoto).

• Altos volumes de downloads.

• Conexão 100% compatível com sistemas operacionais Windows (98, 2000, XP, Vista, 7,
etc), MacOS e Linux.

3.4 Benefícios gerais do BEL para todos os seus usuários

• Conexão por fibra óptica de alta capacidade e confiabilidade.

• Elevadas taxas de conexão (>100Mbps), e de volume de download e upload, como se


encontra somente nos países mais adiantados.

• Possibilidade de contratação on-line.

16 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Constituição de uma Intranet pela formação de um clube [3].

• Possibilidade (de forma fácil e segura) para realização de backup e arquivamento remoto
de informações, no datacenter de alta capacidade e confiabilidade da COPEL.

• Rede elétrica própria suportada por sistemas de no-break.

• Imune a variações e quedas abruptas de energia.

• Serviços e equipamentos homologados conforme as normas na Anatel.

• Todos os serviços a serem providos no âmbito do BEL deverão estar certificados de


acordo com as normas ISO 9001:2000.

• Pleno suporte à utilização de sistemas VoIP (telefone por Internet).

• Produto para armazenamento remoto, em nuvem [4]. O usuário pode acessar as


informações armazenadas no datacenter, via Internet, de qualquer local do planeta.

• Possibilidade de utilização de webcams, mensagens instantâneas, serviços de webmail.

• Valor mensal fixo, independente do tempo de uso, ou “por consumo”.

• Disponibilidade 24 horas por dia.

• Suporte técnico 24x7 e assistência local.

• Servidores com hardware de primeira linha.

• Possibilidade de cofaturamento com as despesas efetuadas junto às empresas parceiras


e com as despesas de energia.

• Neutralidade em relação a conteúdos e aplicações.

3.5 Benefícios do BEL para os parceiros

• Novo canal para oferta de conteúdos, propagandas, produtos e serviços, para público
cativo de perfil conhecido.

• Coleta permanente de inteligência sobre os usuários, possibilitando a estes uma melhoria


contínua dos serviços.

• Fidelização de clientes pela venda em pacotes (bundles).

• Participação em programas de desenvolvimento econômico e social (por exemplo, na


universalização de voz e de Internet por meio de redes móveis).

• Acesso à infraestrutura e aos serviços da COPEL (sistema de telecomunicação, torres e


postes, terrenos, agências, equipes de manutenção, sistemas de informação, etc).

Os projetos BEL e BEL-i9: seus propósitos, inovações e benefícios para o desenvolvimento sustentável do Paraná 17
• Possibilidade de cofaturamento.

3.6 Benefícios do BEL para a COPEL

Todos os benefícios listados abaixo se constituem em inovações no âmbito da COPEL


Telecomunicações.

• Inserção da COPEL Telecomunicações no mercado de pessoa física.

• Estabelecimento de parcerias estratégicas.

• Ascensão na cadeia de valor: venda de Serviços de Valor Adicionado (SVA).

• Atração de conteúdo exclusivo à rede da COPEL, permitindo maiores taxas de upload,


melhor qualidade de serviço para o usuário e maior economia para a COPEL em termos
de uso de banda Internet.

• Atração de conteúdo público, reduzindo a atual assimetria de tráfego (download > upload)
e melhorando o poder de negociação com as operadoras.

• Novos modelos de comercialização.

• Implantação de sistemas terceirizados de teleatendimento e pós-venda.

• Possibilidade de aquisição on-line de produtos e serviços, com contratação por adesão.

• Implantação de uma plataforma para a criação flexível de produtos novos [5] [6].

• Implantação de novos modelos de faturamento [7].

• Teste no uso de diferentes arquiteturas de acesso: GPON, PLC Indoor e outras.

3.7 Benefícios de ordem econômico-social e para governo

• O BEL facilitará sobremaneira a viabilização de programas e projetos de integração


regional e setorial.

• Possibilidade de ingresso, por parte do governo, aos serviços e conteúdos de uma


Intranet.

• Viabilização de programas de inclusão social, tanto pela ampliação e melhoria da rede de


fibras ópticas da própria COPEL Telecomunicações, quanto pela constituição de parcerias
com as operadoras móveis.

• Redução de custos com telecomunicações.

• Maior segurança e confiabilidade nas telecomunicações de governo.

18 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Possibilidade de usufruir de pacotes (bundles).

3.8 Benefícios do BEL para o desenvolvimento do país

Todo o modelo tecnológico e de negócios do BEL poderá ser reproduzido em outros estados do
país, com os diversos benefícios estendidos aos mesmos, inclusive nos que se referem aos
projetos de integração de setores e regiões, bem como naqueles voltados à inclusão digital e à
universalização de serviços de telecomunicações.

4 O projeto BEL-i9

O projeto BEL, cujos benefícios incluem os que foram acima apresentados, abre uma considerável
gama de oportunidades para a geração de inúmeros projetos, produtos e serviços inovadores
voltados ao desenvolvimento sustentável do Paraná.

Como já foi dito na Introdução deste livro, o Paraná possui elevada competência para construção
de avançadas redes de telecomunicações. O desafio, agora, é reunir em rede as inúmeras
competências existentes no Estado para a discussão de temas que, segundo seu entendimento,
sejam relevantes, para si e para o progresso do Paraná.

O que se propõe aqui, portanto, é a integração de lideranças empresariais, industriais,


universitárias, governamentais e da sociedade civil para, juntas, em um diálogo orquestrado pela
riqueza da diversidade e harmonizado por um propósito comum (empreender e inovar em rede
para o desenvolvimento sustentável do Paraná) discutirem as questões relevantes para o
progresso do Estado e apontarem novos caminhos e novas soluções, regidas por valores
sustentáveis.

Em paralelo, esse fórum permanente pode dispor de uma incubadora que, por sua vez, pode usar
a rede BEL para gerar empreendimentos inovadores e, assim, proporcionar novos e melhores
produtos e serviços para o povo do Paraná.

A proposta da COPEL Telecomunicações é que o BEL-i9 seja realizado em parceria com


instituições de pesquisa e ensino superior, bem como com outras empresas, entidades e
organizações.

Os projetos a serem gerados deverão ser de interesse para o desenvolvimento sustentável do


Paraná, beneficiar os negócios da COPEL Telecomunicações e também serem desenvolvidos em
conjunto com instituições de pesquisa e ensino superior, e com outras empresas, entidades e
organizações.

Os incubados deverão ser egressos de cursos de graduação ou pós-graduação, sendo


supervisionados por um professor universitário em conjunto com um profissional da área técnica
da COPEL Telecomunicações. Esforços deverão ser envidados por todos os parceiros no sentido
de fomentar o empreendedorismo inovador no Estado.

Seguem os macro-objetivos e uma série de benefícios potenciais do projeto.

Os projetos BEL e BEL-i9: seus propósitos, inovações e benefícios para o desenvolvimento sustentável do Paraná 19
4.1 Macro objetivos do BEL-i9

• Aproximar mais a COPEL de outras empresas, universidades, centros de P&D, entidades,


organizações e sociedade civil em torno do tema “o papel das redes no desenvolvimento
sustentável do Paraná”.

• Promover a inovação tecnológica e o aumento da competitividade, fomentando o


desenvolvimento de novos produtos e serviços, e incubando a formação de novos
negócios.

• Estimular a competitividade das Pequenas e Médias Empresas, possibilitando com que, a


custos reduzidos, elas possam melhor desenvolver, promover, divulgar e comercializar
seus produtos e serviços.

• Criar condições favoráveis para uma maior cooperação da COPEL Telecomunicações


com os governos, na formulação e implementação de políticas públicas voltadas ao
desenvolvimento social, econômico, científico e tecnológico de setores e regiões,
inclusive em projetos de inclusão digital e universalização dos serviços de
telecomunicações.

4.2 Benefícios do BEL-i9 aos incubados

• Oportunidade de utilizar as tecnologias de telecomunicações implementadas a partir do


BEL para gerar novos conhecimentos e negócios.

• Possibilidade de utilização de um ambiente adequado e propício aos propósitos de uma


incubadora de negócios, o qual é diferente de um ambiente acadêmico e de um ambiente
empresarial.

• Facilidade de acesso a apoios diversos (jurídico, marketing, planejamento financeiro,


contabilidade, etc.).

• Facilidade de acesso a recursos financeiros e fontes de financiamento [8].

• Facilidade para acesso a bolsas de estudo e de iniciação científica.

• Utilização de infraestrutura física, material e humana (secretária, estagiários e pessoal


para serviços gerais).

• Oportunidade para interação com profissionais da COPEL, com fornecedores de


equipamentos/produtos e com pesquisadores de diferentes instituições de ensino
superior, pesquisa e desenvolvimento.

• Desenvolvimento pessoal, formação complementar voltada ao desenvolvimento de


espírito empreendedor.

• Aumento do nível pessoal de empregabilidade, pela aquisição de conhecimentos voltados


ao atendimento das demandas de mercado.

20 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Teses e dissertações de melhor qualidade e com sentido mais prático, o que é alcançado
por uma orientação dupla: um orientador provindo da Academia e outro da COPEL.

4.3 Benefícios do BEL-i9 aos técnicos / engenheiros da COPEL

• Oportunidade de interação com a Academia: reciclagem contínua, maior experiência na


realização de projetos inovadores, ampliação da visão de mercado, dentre outras.

• Oportunidade de participação em projetos inovadores.

• Oportunidade para o desenvolvimento da capacidade de supervisionar equipes técnicas.

• Ampliação da visão de oportunidades pela interação com profissionais externos à


COPEL.

• Aumento da rede de contatos.

• Desenvolvimento pessoal.

• Novas oportunidades de treinamento.

• Motivação através do enfrentamento de novos desafios.

• Realização de testes e análises qualificadas em novos equipamentos e sistemas de


telecomunicações.

4.4 Benefícios do BEL-i9 à COPEL / COPEL Telecomunicações

• Geração de novos negócios através das tecnologias de telecomunicações implementadas


a partir do BEL.

• Realização sistemática de testes com tecnologias emergentes.

• Maior segurança na introdução de novos produtos e serviços em seu portfolio.

• Renovação sistemática do conhecimento através do contato com a Academia.

• Atendimento à demanda interna de projetos.

• Estímulo aos funcionários para o desenvolvimento de ideias inovadoras.

• Atuação em novos mercados.

• Geração de novos conhecimentos e negócios a baixos custos e sem aumento do quadro


de pessoal.

• Possibilidade de atrair recursos financeiros externos e de usufruir incentivos (fiscais e


outros).

Os projetos BEL e BEL-i9: seus propósitos, inovações e benefícios para o desenvolvimento sustentável do Paraná 21
• Aumento da visibilidade da marca e dos negócios da COPEL Telecomunicações.

• Internalização de projetos inovadores.

• Desenvolvimento tecnológico.

• Possibilidade da utilização de equipe interdisciplinar, provinda de diferentes cursos


acadêmicos, para solução de problemas e geração de oportunidades.

• Oportunidade para o registro de patentes.

• Oportunidade para formação de parcerias em novos empreendimentos.

• Oportunidade de melhoria e ampliação dos programas de treinamento funcional.

4.5 Benefícios do BEL-i9 à Academia (instituições de pesquisa e ensino superior)

• Contato permanente com problemas práticos, questões reais e demandas de usuários,


através da interação com a COPEL.

• Oportunidade de interagir com as tecnologias implementadas no BEL.

• Oportunidade de interagir com o corpo técnico da COPEL Telecomunicações.

• Melhor preparação para o mercado de trabalho.

• Novas oportunidades para a captação de recursos financeiros.

• Redução dos índices de evasão nos cursos de Pós-Graduação.

• Maior visibilidade dos trabalhos desenvolvidos.

• Possibilidade de utilização de laboratórios e demais infraestruturas de que a Academia


normalmente não dispõe.

• Aumento do número de dissertações, teses e trabalhos publicados.

• Maior interação com outras instituições de ensino superior.

• Redução no prazo de elaboração das teses e de outros trabalhos acadêmicos.

• Novas oportunidades de estágio para seus alunos de graduação.

4.6 Benefícios do BEL-i9 aos coordenadores/supervisores de projetos

• Novas oportunidades em gestão, pesquisa e inovação.

• Interação com a Academia.

22 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Maior interação com empresas.

• Aumento da rede de contatos.

• Desenvolvimento pessoal.

• Formação de líderes e estímulo ao empreendedorismo.

4.7 Benefícios do BEL-i9 aos fundos de fomento

• Apoio a projetos de desenvolvimento científico e tecnológico.

• Fomento à criação de empresas de base tecnológica.

• Oferecimento de bolsas de estudo e de iniciação científica.

• Garantia de retorno a partir dos recursos disponibilizados.

• Possibilidade da realização de investimentos casados e da gerência/supervisão mais


eficiente dos mesmos.

4.8 Benefícios do BEL-i9 à sociedade e ao governo

• Criação e atração de empresas de base tecnológica.

• Novas ofertas de emprego e novas oportunidades de geração de renda.

• Complementação na formação profissional dos cidadãos.

• Acesso da população a novos serviços de telecomunicações.

• Desenvolvimento científico-tecnológico, criação de novas linhas de pesquisa e produção


de teses, dissertações, artigos e outros trabalhos acadêmicos.

• Possibilidade de alavancar a criação de um Fórum/Rede para fomento à discussão do


desenvolvimento do setor de telecomunicações no Estado do Paraná.

• Fomento a interação com profissionais, pesquisadores, empresas e instituições de ensino


superior e pesquisa de outros estados e países.

• Possibilidade da formação de condições para alavancar a atração de novas empresas e


investimentos para o setor de telecomunicações do Estado do Paraná.

4.9 Benefícios do BEL-i9 ao desenvolvimento científico/tecnológico

• Criação de novas linhas de pesquisas.

Os projetos BEL e BEL-i9: seus propósitos, inovações e benefícios para o desenvolvimento sustentável do Paraná 23
• Desenvolvimento de teses, artigos e outros trabalhos acadêmicos.

5 Conclusões sobre a proposta “BEL-i9”

O que aqui se propõe é a conjugação de esforços, por meio de um fórum, envolvendo lideranças
empresariais, industriais, universitárias, governamentais e da sociedade civil para, em conjunto,
discutirem permanentemente questões que entendam como relevantes para si e para o
desenvolvimento sustentável do Paraná, propondo novos caminhos e novas soluções.

Adicionalmente, esse fórum pode se valer de um mecanismo prático para o desenvolvimento de


novos e melhores produtos e serviços a serem, eventualmente, disponibilizados à sociedade
através da rede de fibras ópticas da COPEL, a partir da Plataforma de Usuários do BEL.

Essa proposta baseia-se na convicção de que é somente através do diálogo e da análise


compartilhada, sobre as questões relevantes para o progresso do Paraná, que se obterá as
melhores decisões e soluções possíveis, e que as redes telemáticas podem ser excelentes
instrumentos para esse fim, encurtando distâncias, economizando tempo e reduzindo custos.

6 Referências
[1] PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada
estrategicamente, em equipe. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2009. 207pp.

[2] PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: implantação de uma rede telemática aberta e neutra.
Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2010. 100pp.

[3] LANGNER, Cristiane. O clube virtual COPEL.net – Parte I: aspectos psicossociais. In: PESSOA,
Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada estrategicamente, em
equipe. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2009. 207pp.

[4] TAURION, Cezar. Quebrando os paradigmas computacionais: a Computação em Nuvem. In:


PESSOA, Marcos de Lacerda et al. BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o
desenvolvimento sustentável. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2010.

[5] GUERRA JR, Aloivo. Desenvolvendo produtos inovadores através do BEL-i9. In: PESSOA, Marcos
de Lacerda et al. BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável.
Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2010.

[6] BOGUSZ, Jomar. Plataforma de usuários BEL. In: PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL:
implantação de uma rede telemática aberta e neutra. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2010.

[7] KITAGAWA, Jun. Parâmetros que impactam no resultado de um modelo de análise de projeto (BEL)
ou na precificação de serviços em telecom. In: PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL:
implantação de uma rede telemática aberta e neutra. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2010.

[8] EISENBACH, Yára C. Reflexões sobre estratégias para a obtenção de financiamento para o BEL-i9.
In: PESSOA, Marcos de Lacerda et al. BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o
desenvolvimento sustentável. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2010.

24 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


2 O projeto BEL-i9 e a incubação no
ciberespaço
1
Roberto M. Spolidoro

NEOLOG Consultores Ltda


robertospolidoro@uol.com.br

1 Introdução

O presente capítulo lembra a origem do processo de incubação de empresas intensivas em


conhecimento e dos parques tecnológicos, na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, cujo
sucesso motivou a sua multiplicação em âmbito mundial.

A seguir, o capítulo destaca que a associação internacional de parques tecnológicos deixou de


considerar, a partir de 2002, o espaço físico como um dos componentes básicos dessas iniciativas,
traduzindo tendências como parques tecnológicos formados por segmentos disseminados no
tecido urbano e a incubação de empresas no ciberespaço - o que é bem apropriado no contexto da
incubadora BEL-i9, proposta pela COPEL.

A seguir, o artigo lembra o crescimento das oportunidades, em âmbito mundial, de criação de


negócios e de trabalho com base no uso da Internet e, nessa perspectiva, avalia os impactos que o
projeto da COPEL Telecomunicações - de oferecer conexão à Internet por fibra óptica de alta
capacidade (100 Mbps) e de elevada confiabilidade - poderá provocar no Brasil, inclusive quanto a
políticas públicas de apoio a novos formatos de incubação e de parques tecnológicos.

1
Roberto M. Spolidoro é Engenheiro Eletricista (PUCRJ), Doutor em Física (França), e realizou Pós-Doutoramento em
desenvolvimento regional, no Massachusetts Institute of Technology - MIT, Estados Unidos. Desde a década de 1980 atua em
processos inovadores de desenvolvimento regional, incluindo a estruturação de Incubadoras de Empresas, Parques e Pólos
Tecnológicos, Tecnópoles e Projetos Regionais para o Futuro. Desde 1997 é presidente da NEOLOG Consultores Ltda., em
Brasília. Entre parques tecnológicos assistidos destacam-se: Parque Científico e Tecnológico da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul - TECNOPUC (Porto Alegre), VALETEC Park (Vale do Sinos, RS), Parque Tecnológico Capital
Digital (Brasília), Parque Tecnológico Uberaba, Parque Tecnológico de Pato Branco, Parque Científico e Tecnológico da Serra
(Caxias do Sul), Parque Tecnológico Misiones (Argentina) e Parque Tecnológico de Informática de Buenos Aires. Possui vários
livros e dezenas de artigos publicados, no Brasil e exterior, sobre parques tecnológicos, incubação de empresas e
desenvolvimento regional inovador.

O projeto BEL-i9 e a incubação no ciberespaço 25


2 Origem do processo de incubação de empresas e dos parques tecnológicos

Admite-se que os processos de incubação de empresas intensivas em conhecimento e os parques


tecnológicos tiveram origem na Universidade de Stanford, fundada no final do século XIX, ao sul
de São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos [1 a 9].

Embora a principal riqueza da região, à época, fosse a agricultura, a nova universidade decidiu
transcender as vocações locais e apostar no futuro, concentrando-se nas Engenharias e Ciências
Exatas. Durante as primeiras décadas da novel instituição, os seus graduados tiveram dificuldade
em obter empregos na região e muitos buscaram paragens economicamente mais dinâmicas [1 a
9].

Em meados da década de 1930, o professor Frederick Terman, do departamento de engenharia


elétrica, percebeu que a aceleração dos avanços da ciência e tecnologia constituía uma
oportunidade singular para estancar a fuga de cérebros e promover um novo perfil econômico
regional. A Universidade passou, então, a oferecer bolsa de estudos, acesso a laboratórios e
orientação a estudantes pós-graduados que desejassem transformar ideias e conhecimentos em
produtos no mercado. Essa estratégia propiciou a criação de empresas como a Hewlett - Packard,
e deu início ao que se tornou conhecido como incubação de empresas [1 a 9].

O crescimento das empresas assim geradas e o interesse dos seus fundadores em permanecer no
ambiente em que haviam florescido levaram a Universidade a criar, em 1951, em parte do seu
campus, um espaço para a instalação de empreendimentos intensivos em conhecimento, que veio
a ser denominado Stanford Research Park e que constituiu o primeiro parque tecnológico de que
se tem notícia [1 a 9].

Atualmente, o Stanford Research Park abriga mais de 150 empresas em áreas intensivas em
conhecimento, em especial eletrônica, informática e biotecnologia, bem como diversos centros de
pesquisa científica e empresas ancilares em temas como advocacia, finanças, consultoria e capital
de risco [1].

A incubação de empresas e o Stanford Research Park somaram-se a diversos outros fatores, tão
ou mais importantes, para transformar a região em um dos mais dinâmicos centros de inovação
tecnológica do mundo, tornando-a conhecida sob o epíteto de Vale do Silício, em homenagem ao
substrato dos circuitos integrados, ali desenvolvidos na década de 1960 [1 a 9].

O êxito do Vale do Silício estimulou, a partir da década de 1950, em âmbito internacional, a busca
da replicação dos seus modelos e ambientes, o que conduziu à estruturação de milhares de
incubadoras de empresas e de parques tecnológicos no mundo.

3 A evolução dos parques tecnológicos e do trabalho via Internet

Apesar da multiplicação dos parques tecnológicos em âmbito mundial, não há consenso sobre o
conceito correspondente, como ilustrado pela diversidade das definições propostas pelas
associações que reúnem essas iniciativas [10].

Devido às suas origens, as definições de parque tecnológico costumam incluir, como um dos
componentes básicos do empreendimento, o espaço físico, com glebas e prédios destinados a

26 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


abrigar empresas e instituições de ensino e pesquisa. Entretanto, em 2002, a Associação
Internacional Parques Tecnológicos retirou a menção explícita ao espaço físico e adotou a
seguinte definição: [10]

Um Parque Tecnológico é uma organização, gerida por profissionais especializados, cujo


objetivo fundamental é aumentar a riqueza da comunidade em que se insere mediante a
promoção da cultura da inovação e da competitividade das empresas e instituições
intensivas em conhecimento associadas à organização. Para tal fim, o Parque Tecnológico:

• Estimula e gerencia o fluxo de conhecimento e tecnologia entre universidades, instituições


de pesquisa e desenvolvimento, empresas e mercados;

• Estimula a criação e o crescimento de empresas fundamentadas na inovação mediante


mecanismos de incubação e desdobramentos de empreendimentos (spin-off);

• Provê espaço e instalações de qualidade e outros serviços de valor agregado.

A supressão do espaço físico com um dos componentes essenciais do parque tecnológico, a partir
de 2002, é interpretada como um reconhecimento, pela comunidade internacional, de que as
características dos parques tecnológicos têm evoluído e podem continuar a fazê-lo. Essa
percepção vem sendo confirmada por duas tendências convergentes:

• O crescente número de parques tecnológicos cujo espaço físico não é uma gleba limitada
e com prédios específicos - na linha do modelo convencional introduzido pelo Stanford
Research Park, mas é formado por segmentos locais disseminados no tecido urbano e na
região, aproveitando infraestruturas e, inclusive, prédios existentes [1] [11].

Essa tendência é ilustrada, por exemplo, pelo TECNOPUC - Parque Científico e


Tecnológico da PUCRS, em Porto Alegre [1] e o VALETEC Park - Parque
Tecnológico do Vale do Sinos, Rio Grande do Sul [12], no Brasil, e por grande
número de parques tecnológicos no exterior [13] [14] [15].

• O uso crescente das possibilidades da Internet para ampliar os processos criativos


conducentes a saltos científicos e inovações tecnológicas.

A democratização do acesso em banda larga à Internet, os avanços das técnicas


de videoconferência e as ferramentas da Web 2.0 (e, possivelmente, em breve, da
Web 3.0) tornam viável a realização de trabalhos criativos de modo disseminado
em âmbito mundial, independentemente de fusos horários e continentes [11].

A IBM informa que 40% de seus empregados já não trabalham nos escritórios
convencionais da companhia, mas em casa ou em outros locais [11].

Empresas em países de economia avançadas contratam crescentemente


profissionais em países como a Rússia e a Índia, que trabalham com base na
Internet, para a elaboração de projetos de engenharia e atividades de pesquisa e
desenvolvimento [11] [16] [17].

O projeto BEL-i9 e a incubação no ciberespaço 27


Grandes empresas internacionais ampliaram consideravelmente a sua capacidade
de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico mediante a obtenção de
colaboração, via Internet, de grande número de profissionais que atuam em suas
casas, em diferentes continentes, e cujas atividades decorrem, inclusive, de
sugestões por eles encaminhadas às empresas [19].

4 A ação da COPEL Telecomunicações quanto a ampliar o acesso à Internet

Nesse contexto, é extremamente oportuna - e constitui importante contribuição ao


desenvolvimento do país - a iniciativa da COPEL Telecomunicações de oferecer, a todos os três
milhões e meio de consumidores de energia da empresa, no prazo de até dez anos:

• A possibilidade de conexão à Internet por fibra óptica de alta capacidade (Banda Extra
Larga - BEL) e de elevada confiabilidade.

• A assistência e estímulo, aos usuários da conexão, para que participem com êxito das
imensas possibilidades que se abrem, em âmbito mundial, quanto à geração de trabalho
e à criação de negócios no ciberespaço.

A assistência da COPEL Telecomunicações aos usuários da conexão de banda larga, para que
sejam competitivos na arena dos negócios via Internet, exigirá a estruturação de processos e de
práticas de incubação de negócios e de projetos no ciberespaço.

Isso demandará inovações em relação aos processos convencionais de incubação, ainda


fundamentados na cessão de espaços físicos às empresas emergentes e em serviços presenciais
de orientação aos empresários e colaboradores dos negócios nascentes.

5 Conclusões

O novo formato de incubação, com base na Internet, será calcado em talentos que trabalharão em
casa ou em ambientes inovadores (como os centros de criatividade da Google) [9], que serão
presumivelmente estruturados em locais próximos às residências e inseridos na atmosfera da
cidade clássica [18]. Isso reforçará a tendência da propagação de parques tecnológicos com base
segmentos locais disseminados nas cidades e na região.

Esse formato de parque tecnológico, por sua vez, permitirá valorizar e aproveitar o notável
conjunto de cultura, patrimônio e infraestrutura que as cidades ainda dispõem, e propiciará a
elevação da qualidade de vida de todos os envolvidos na inovação tecnológica, por permitir a
aproximação física dos locais em que essas pessoas desenvolvem tanto o seu trabalho quanto a
sua vida familiar e a sua interação com a sociedade.

Finalmente, por representar um novo paradigma quanto a conceitos e modelos, os novos formatos
de incubação no ciberespaço, associados a parques tecnológicos estruturados por segmentos
disseminados no tecido urbano - e até no ciberespaço, poderão motivar significativa evolução das
políticas públicas de estímulo ao empreendedorismo e aos habitats de inovação, cuja formulação é
parte da atual agenda do governo federal e do governo de diversas unidades da federação.

28 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


6 Referências
[1] SPOLIDORO, R.; AUDY, J. Parque Científico e Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul - TECNOPUC, Porto Alegre: Editora PUCRS, 2008.

[2] LÉCUYER, Christophe. Technology and Entrepreneurship in Silicon Valley, December 2001.
Disponível em: http://nobelprize.org/nobel_prizes/physics/articles/lecuyer/index.html - 6 julho 2007.

[3] PACKARD, D.: The HP Way, New York: Harper Collins Publishers, 1995.

[4] TAJNAI C. E.: Fred Terman, The Father Of Silicon Valley, Stanford Computer Forum, Stanford
University, California, May, 1985: www.netvalley.com/archives/mirrors/terman

[5] www.stanford.edu

[6] Stanford Management Company: www.stanfordmanage.org

[7] REICH, R. B.: The Quiet Path to Technological Preeminence, Scientific American, 261 (4), October,
1989.

[8] OHMAE, K. O novo palco da economia global. Porto Alegre: Bookman, 2006.

[9] GIRARD, B.; Une révolution du management: le modèle Google. Paris: MM2 Editions, 2006.

[10] International Association of Science Parks: www.iasp.org

[11] Innovation Goes Downtown, Pete Engardio, ,Businessweek, Inside Innovation November 30, 2009:
www.businessweek.com/magazine/content/09_48/b4157050810294.htm

[12] SPOLIDORO, R.; PRODANOV, C.; BARROSO, F. O VALETEC Park e o desenvolvimento do Vale do Rio
do Sinos. Anais do XIX Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de
Empresas, Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores -
ANPROTEC, Florianópolis, SC, 2009; e Revista Locus Científico. Brasília: Associação Nacional
de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores - ANPROTEC, a ser publicado, 2010.
(www.anprotec.org.br)

[13] www.nantesmetropole.fr/e www.lyon-infocite.org

[14] http://www.sciencecityyork.org.uk/

[15] Kista Science City: www.kista.com/adimo4/Site/kista/web/default.aspx?p=1344&l=en&t=h401

[16] ICTD Observatory - http://sdnhq.undp.org/.

[17] ASPRAY, W.; MAYADAS, F.; VARDI, M. Y. Globalization and Offshoring of Software, A Report of the
ACM Job Migration Task Force. Editors: www.acm.org, http://www.acm.org/globalizationreport.

[18] Sobre o ambiente da cidade clássica, Ortega y Gasset declarava “em rigor, a urbe clássica não devia ter
casas, mas apenas as fachadas necessárias para delimitar uma praça...”. (apud GOITIA, F. C., Breve
História do Urbanismo, Lisboa: Editorial Presença, 1982).

[19] TAPSCOTT, D.; WILLIAMS, A.D. Wikinomics: How Mass Collaboration Changes Everything. New
York: Pinguin Group. 2006.

O projeto BEL-i9 e a incubação no ciberespaço 29


3 Inovação, empreendedorismo e
incubação de empresas
1
Sergio Scheer

UFPR – Universidade Federal do Paraná


scheer@ufpr.br

1 Introdução

Inovar é transformar a criatividade (ou oportunidade) em produto, serviço ou processo novo ou


melhorado. Pode-se inovar em quatro dimensões: produtos, processos, gestão e negócio.
Inovação é muito mais que tecnologia de ponta ou produto novo. O resultado tido como uma
inovação deve ter como consequência a geração de valor num sentido sócio-econômico-ambiental
(sustentabilidade) em consonância com o ambiente organizacional que a demanda.

Para Drucker [1], “o surgimento da economia empreendedora é um evento tanto cultural e


psicológico, quanto econômico e tecnológico”. Neste sentido a inovação é o instrumento dos
empreendedores para explorar novas oportunidades de mercado.

Em [2] Beltrame coloca que as incubadoras de empresas de base tecnológica se constituem


ambientes onde convergem três relevantes fenômenos da economia contemporânea: inovação,
empreendedorismo e relações universidade-empresa.

Neste capítulo são colocadas algumas ideias e conceitos sobre a temática da inovação e do
empreendedorismo, culminando com colocação do cenário propício das universidades com as
atividades fundamentais de ensino, pesquisa e extensão favorecendo a prática de inovação e
empreendedorismo, como em um caso descrito de agência de inovação em universidade e seus
serviços.

1
Sergio Scheer é Eng. Civil (UFPR), com mestrado em Eng. Civil (UFRGS) e doutorado em Informática, área de Computação
Gráfica (PUC-RIO). Foi Membro, Secretario e Presidente da Comissão Central de Informática (UFPR) de 1989 a 2002. Diretor
do Centro de Computação (UFPR) de 1994 a 1998. Coordenador do Ponto de Presença da RNP-PR de 1994 a 1998.
Integrante e coordenador de tecnologia do Núcleo de Educação a Distância (NEAD/UFPR) de 1998 a 2002. Membro Suplente
do Conselho de Planejamento e Administração (UFPR) de 1999 a 2001. Membro Titular do Conselho de Planej. e Admin.
(UFPR) de 2001 a 2003. Diretor do Centro de Estudos de Eng. Civil. Vice-Coordenador do Programa de Pós-Grad. em
Métodos Numéricos em Engenharia de 2004 a 2006. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Métodos Numéricos
em Engenharia, de 2006 a 2008. Atualmente é Prof. Associado 2 do Depto. de Constr. Civil (UFPR), docente na UFPR desde
1981, ocupando hoje a função de Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. Também é o atual Diretor Executivo da Agência
de Inovação da UFPR, posição que ocupa desde janeiro de 2009.

Inovação, empreendedorismo e incubação de empresas 31


2 Inovação e empreendedorismo

Quase sempre colocados lado a lado, a inovação e o empreendedorismo se parecem em muitos


de seus valores, mas são conceitos bastante distintos e que apresentam protagonistas bastante
diferenciados. Os empreendedores e os inovadores precisam ter como premissa a
interdisciplinaridade ao abordar um assunto, de modo a melhor compreender as peculiaridades de
cada situação, ganhando conhecimento suficiente como subsídio a suas ações.

Sem consideração de mérito, uma pessoa dita empreendedora não necessariamente é inovadora.
No entanto, o empreendedor é uma espécie de herói, um ícone no mundo dos negócios: um
empreendedor é corajoso e determinado, sempre colocando muito esforço e comprometimento nas
suas atividades.

Por outro lado, enquanto o empreendedorismo não exige um protagonista inovador, a inovação
sempre exige do inovador o espírito empreendedor. Para utilizar bem a sua imaginação, um
inovador precisa ter mente aberta e espírito livre, pronto para romper dogmas, buscar novos
conceitos, novas tecnologias e novas formas de trabalhar.

No entanto, uma ideia somente se transforma em oportunidade quando seu propósito vai ao
encontro de uma necessidade de mercado, isto é, quando existem potenciais clientes.

A identificação de uma oportunidade pelo empreendedor exige uma postura sempre atenta com
relação ao que está acontecendo no segmento no qual atua ou pretende atuar. A rotina de trabalho
deverá incluir a participação em eventos relacionados ao segmento de atuação, leitura constante
de material escrito em publicações periódicas voltadas ao segmento procurando conhecer e
compreender as tendências de mercado, as questões econômicas, políticas e sociais. Ainda deve
buscar a participação em encontros e reuniões de associações, bem como usar as formas
possíveis de comunicação para conhecer e conversar com os concorrentes, clientes,
colaboradores, empregados, fornecedores e empresários sempre no sentido de ampliar a sua rede
de conhecimento. Ao longo do tempo, tudo isto ajuda o empreendedor a ter ideias que podem
resultem oportunidades para novos produtos, processos ou serviços que venham a atender
necessidades de mercado.

Dessa forma, identificar uma oportunidade significa buscar resposta para uma série de questões,
como por exemplo [3]:

• Existe uma necessidade de mercado que não é suprida ou é suprida com deficiências?

• Como funcionam empresas similares?

• Qual a quantidade de potenciais clientes para este negócio? Qual o seu perfil? Onde se
localizam?

• Quais são os principais concorrentes? Quais os seus pontos fortes e fracos?

• Existem ameaças?

• Quais os valores que o novo produto/serviço agregam para os clientes?

32 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Será que o momento correto é realmente este?

• É possível inovar? Em que aspectos?

• E outras...

E, após ter algum sucesso, o perigo para um empreendedor sem perfil inovador é a acomodação,
com perda de interesse na, hoje, premente e necessária atualização de conhecimentos. Por outro
lado, um inovador pode entender que a inovação é um fim em si mesma, contrariando a ideia de
geração de valor (que sempre deve ser pensado como um valor sustentável) para a sociedade ou
empresa ou negócio específico.

3 Incubação e as relações Universidade-Empresa

O papel das Universidades é o da produção de conhecimento através da pesquisa básica e


aplicada em todas as áreas do conhecimento, bem como a formação de profissionais. Além destes
dois aspectos fundamentais das universidades, elas podem participar nos processos de inovação
nas empresas colocando em pauta a faceta do empreendedorismo e a consequente formação de
empresas oriundas de pesquisa acadêmica.

Plonski [4] observa que os diversos mecanismos voltados ao desenvolvimento tecnológico, tais
como institutos de pesquisa, polos, parques e incubadoras tecnológicas, contam com a
participação de universidades em seus arranjos interinstitucionais.

Num crescente período de instabilidade econômica e social, as empresas estão pressionadas pela
necessidade de inovação para competir num mercado global cada vez mais ágil e competitivo,
clamando por cada vez mais rápida transferência de conhecimentos tecnológicos da academia.
Por outro lado, as universidades são pressionadas pela necessidade de buscar recursos
financeiros fora dos mecanismos tradicionais, ou seja, fora do financiamento governamental.

No Brasil, como colocado em [2], as relações Universidade-Empresa ganharam impulso com a


promulgação da Lei nº. 10.973/2004, conhecida como a Lei da Inovação, que estabelece medidas
de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. Nesse
sentido, Etzkowitz em [5] enfatiza a importância do relacionamento entre universidade, empresa e
governo, defendendo o conceito de universidade empreendedora, baseado na criação intensiva
direcionada à inovação e ao desenvolvimento econômico.

Contudo, Dagnino em [6] assinala a fragilidade dos arranjos definidos pelo argumento Hélice Tripla
de Etzkowitz, seja pela dificuldade da “descida da torre de marfim” por parte das universidades,
seja pelo interesse exclusivamente comercial da empresas, ou pelas posições efêmeras, e por
vezes conflitantes, assumidas pelo governo neste processo [2].

Como colocado em [7]: “As universidades e a sua integração com as empresas, faz-se necessária
para que haja empreendedorismo e inovação, apresenta-se como um modelo sustentável para o
desenvolvimento do país, e uma opção estratégica para as empresas e motivacional para as
universidades aperfeiçoarem seus conhecimentos na prática e as relações mantidas e sua ligação
com as incubadoras”.

Inovação, empreendedorismo e incubação de empresas 33


4 Incubadoras de empresas de base tecnológica

O Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos – PNI [8]


conceitua incubadora de empresas como mecanismos de estímulo e apoio logístico, gerencial e
tecnológico ao empreendedorismo inovador e intensivo em conhecimento, com o objetivo de
facilitar a implantação de novas empresas que tenham como principal estratégia de negócios a
inovação tecnológica.

Para tanto, conta com um espaço físico especialmente construído ou adaptado para alojar,
temporariamente, as empresas e que, necessariamente, dispõe de uma série de serviços e
facilidades descritos a seguir:

• Espaço físico individualizado, para a instalação de escritórios e laboratórios de cada


empresa admitida;

• Espaço físico para uso compartilhado, tais como salas de reunião, auditório, área para
demonstração dos produtos, processos e serviços das empresas incubadas, secretaria,
serviços administrativos e instalações laboratoriais;

• Recursos humanos e serviços especializados que auxiliem as empresas incubadas em


suas atividades, bem como a capacitação/formação/treinamento de empresários-
empreendedores nos principais aspectos gerenciais quais sejam: gestão empresarial,
gestão da inovação tecnológica, comercialização de produtos e serviços no mercado
doméstico e externo, contabilidade, marketing, assistência jurídica, captação de
recursos, contratos com financiadores, engenharia de produção e propriedade
Intelectual, entre outros;

• Acesso a laboratórios e bibliotecas de universidades e instituições que desenvolvam


atividades tecnológicas.

As incubadoras podem ser de três tipos, dependendo das características das empresas que
abriga:

• Incubadora de Empresas de Base Tecnológica: é a incubadora que abriga empresas


cujos produtos, processos ou serviços são gerados a partir de resultados de pesquisas
aplicadas, e nos quais a tecnologia representa alto valor agregado;

• Incubadora de Empresas dos Setores Tradicionais: é a incubadora que abriga empresas


ligadas aos setores tradicionais da economia, as quais detém tecnologia largamente
difundida e queiram agregar valor aos seus produtos, processos ou serviços por meio de
um incremento no nível tecnológico. Devem estar comprometidas com a absorção ou o
desenvolvimento de novas tecnologias;

• Incubadoras Mistas: é a incubadora que abriga empresas de base tecnológica e


empresas dos setores tradicionais.

Nas universidades é usual um ambiente de pré-incubação, criado como um espaço facilitador para
a geração de empresas. A pré-incubação deve prover ferramentas, serviços e apoio institucional a

34 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


ideias promissoras e com viabilidade técnica e mercadológica que possam evoluir para futuros
negócios e empreendimentos abrigados (incubação). Um ambiente deste tipo aumenta o nível de
excelência da oferta de projetos para as incubadoras de empresas, aumentando as chances de
sucesso de empresas graduadas no processo de incubação. Além dos serviços de apoio, busca-se
prover consultoria em negócios, identificação de oportunidades, estudo de viabilidade técnica e
econômica, elaboração de planos de negócios e projetos de atração de recursos financeiros,
dentre outras atividades. A pré-incubação enfatiza o planejamento, detalhando o gerenciamento
estratégico das tecnologias agregadas a protótipos, produtos e serviços, elementos vitais à
sustentação futura dos empreendimentos, validando e testando a viabilidade técnica e de mercado
de produtos e serviços [9].

As atividades de pré-incubação, incubação e mesmo as possibilidades de alinhamento do


movimento de empresas juniores, visam um adensamento da cadeia de inovação, conectando o
desenvolvimento de projetos científicos e tecnológicos da universidade até a potencial
comercialização de bens e serviços [9]. Desta forma, busca-se a minimização de efeitos de
descontinuidades no processo, como falta de suporte para avaliação e validação de viabilidade
técnica e comercial e, ao final nas partes finais da cadeia, intensificação de preparo de empresas
que não passaram por processos prévios de pré-incubação, onerando as atividades de incubação.

No ambiente universitário, as incubadoras despertam a curiosidade dos estudantes e incentivam a


criação de empresas de base tecnológica. Esta é considerada importante na promoção dos países
em desenvolvimento por gerarem inovação. O risco de investir e incubar empresas de conteúdo
tecnológico tornou-se um importante meio de transformação da criatividade gerada no ambiente
acadêmico em invenções inovadoras [10].

Além das incubadoras, outro tipo de arranjo são os Parques Tecnológicos que se constituem em
complexos de desenvolvimento econômico e tecnológico que visam fomentar e promover sinergias
nas atividades de pesquisas científica, tecnológica e de inovação entre as empresas e instituições
científicas e tecnológicas, públicas e privadas, com forte apoio institucional e financeiro entre os
governos federal, estadual e municipal, comunidade local e setor privado.

Os parques tecnológicos devem ser ambientes de forte integração entre as universidades e


instituições de pesquisa e as empresas ali instaladas, funcionando como um elo de ligação entre
clientes e recursos humanos e tecnológicos das universidades. Nestes ambientes deve haver forte
estímulo a interação e transferência de tecnologia das instituições de pesquisa para as empresas e
a manutenção de constante capacitação empresarial das empresas nele estabelecidas.

5 O empreendedor

A Universidade e os pesquisadores vêm sendo chamados, cada vez mais, a assumir um papel
empreendedor e de gerador de iniciativas, em parte para suprir o vácuo outrora existente na
interface com a sociedade e também para formar estudantes com uma mentalidade
empreendedora, capazes de criar, desenvolver e manter as estruturas econômico-sócio-industrial
reclamadas pela sociedade [11].

Em [12], o ensino do empreendedorismo durante a formação de um novo profissional tem sido


considerado pelos especialistas como vital para o seu sucesso, principalmente se ele for egresso

Inovação, empreendedorismo e incubação de empresas 35


das escolas ditas de massa. Estas instituições concebem seu projeto pedagógico baseado em
novos paradigmas educacionais e no desenvolvimento das competências para o trabalho,
considerando todas as peculiaridades e incertezas da sociedade do século XXI.

O empreendedorismo transforma-se, assim, na inusitada revolução social que deverá ocorrer no


século XXI, comparável aos efeitos da revolução industrial ocorrida no século passado. Esta
transformação surgiu há vinte anos nos Estados Unidos, visando estimular a criação de empresas
de sucesso, bem como procurando diminuir os riscos inerentes aos processos de inovação. E para
compreender este fenômeno é interessante lembrar que, em 1975, nos EUA, cinquenta instituições
universitárias ministravam aulas de empreendedorismo, sendo que em 1998 já eram mais de mil.
Hoje, o ensino de empreendedorismo no primeiro grau tornou-se obrigatório em cinco estados
americanos. O contexto que emoldura estas considerações é o de que, depois da Segunda
Guerra, 50% de todas as inovações e 95% de todas as inovações radicais vieram de empresas
novas e pequenas [12].

Porém, até recentemente os modelos educacionais vigentes nas instituições brasileiras não tinham
ênfase na formação de profissionais empreendedores ou a criação de empresas, em especial as
pequenas e médias.

A partir de esforços de governo e de entidades empresariais, diversas escolas já estão incluindo


nos seus currículos a temática de empreendedorismo, estimulando e favorecendo a criação de
novas empresas e empreendimentos. O ensino do empreendedorismo favorece o desenvolvimento
de importantes habilidades pessoais como: trabalho em equipe, capacidade de comunicação
verbal e escrita, realização de apresentações de ideias, capacidade de gestão, administração do
tempo e habilidades técnicas gerais e específicas da área de interesse. Deve ser prioridade na
política governamental no sentido do desenvolvimento de inovações tecnológicas e de uma
economia global competitiva.

6 Cenário para a inovação em uma instituição de ensino, pesquisa e extensão

No Brasil, cerca de 80% dos pesquisadores atuam no âmbito de universidades e centros de


pesquisas públicas, enquanto nos países desenvolvidos essa atuação concentra-se junto ao setor
privado, empresas e indústrias. Atualmente a Universidade Federal do Paraná (UFPR) ocupa a
oitava posição no ranking brasileiro de produção científica, sendo a décima quarta no âmbito sul-
americano. Esta geração de conhecimento é impulsionada pelo trabalho em ensino, pesquisa e
extensão de mais de dois mil professores, dos quais 75% têm doutorado. Hoje a UFPR conta com
58 programas de pós-graduação senso estrito (mestrados e doutorados) e com 357 grupos de
pesquisa cadastrados no CNPq. Em novembro de 2009 a UFPR alcançou a marca de noventa
patentes requeridas, se destacando no cenário nacional neste quesito. Entretanto, as
universidades são responsáveis por apenas 0,2% das patentes apresentadas ao Instituto Nacional
de Propriedade Industrial (INPI).

Instituições de Educação Superior ainda encontram caminhos difíceis para fazer com que o
desenvolvimento científico-tecnológico fique disponível para o setor produtivo. Para isso, Núcleos
de Inovação Tecnológica (NITs), que na UFPR se configura com o nome de Agência de Inovação,
visam contribuir para que a produção de conhecimento chegue à sociedade brasileira e resulte em

36 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


desenvolvimento econômico e social, com manutenção de qualidade do ambiente, isto é, em
consonância com as ideias de sustentabilidade.

Precisa ser entendido neste contexto que inovar (em tudo que for possível) deve ser uma das
principais missões de uma universidade. Ao seu lado estão as histórica e conceitualmente
reconhecidas produção de novos conhecimentos e a consequente formação de pessoas como
cidadãos e profissionais para o desenvolvimento sustentado da sociedade.

A Agência de Inovação da UFPR é o resultado da junção de três unidades: o Núcleo de


Propriedade Intelectual (NPI) criado em 2005, o Portal de Relacionamento criado em 2004 e o
Núcleo de Empreendedorismo e Projetos Multidisciplinares (NEMPS) criado em 2001, substituídas,
respectivamente, pela Coordenação de Propriedade Intelectual, pela Coordenação de Incubadoras
de Empresas de Base Tecnológica e pela Coordenação de Transferência de Tecnologia.

A Agência na UFPR é o local ideal para o pesquisador que deseja que sua pesquisa aplicada
chegue ao setor produtivo e traga benefícios para a sociedade; para o empresário, que enxerga a
Universidade como uma fonte de soluções para os problemas enfrentados diariamente em seus
empreendimentos; para o cidadão comum que possui uma ideia inovadora, mas não tem
condições de contratar serviços especializados no setor privado; para pessoas com visão
empreendedora que desejam começar seu próprio negócio, mas não sabem por onde começar.
Enfim, a Agência de Inovação é mais um instrumento facilitador para o incentivo e o
desenvolvimento de inovações na sociedade brasileira.

7 Conclusão

Tratando-se a inovação tecnológica como a conversão de conhecimentos tecnológicos em novos


produtos e processos, visando ao seu lançamento no mercado, observa-se que nela interferem
todos os tipos de atividades educacionais, científicas, tecnológicas, de infraestrutura, financeiras,
comerciais e legais. A influência do fator inovação tecnológica para o desenvolvimento e a
competitividade empresarial é reconhecida como de grande urgência e necessidade.

Deve se ter em conta que análises econômicas têm demonstrado que a transferência de
tecnologia é a de fato a principal força motriz do crescimento econômico nos países
industrializados e, ao mesmo tempo, um importante fator de contribuição para a evolução social e
cultural de um país.

A Universidade e seus pesquisadores vêm sendo chamados a assumir um papel empreendedor e


de gerador de iniciativas, em parte para suprir o vácuo outrora existente na interface com as
empresas e a sociedade em geral. Par e passo, são demandados a formar estudantes com uma
mentalidade empreendedora, capazes de criar, desenvolver e manter as estruturas econômico-
sócio-industrial reclamadas pela sociedade, mantendo o necessário equilíbrio (sustentabilidade).

Com respeito ao projeto BEL-i9, preconizado pela COPEL Telecomunicações, torna-se importante
a busca de um modelo de incubação de empresas que resulte de fato em empreendimentos
inovadores, competitivos, autossustentáveis e com potencial de crescimento. Para tanto é
necessário que haja grande envolvimento da incubadora em cada negócio, buscando fornecer
serviços que de fato agreguem valor e trazer competências e contatos de uma rede de

Inovação, empreendedorismo e incubação de empresas 37


relacionamento que reflitam positivamente no empreendimento em incubação. A incubadora
inovadora deve também adotar práticas administrativas modernas que permitam a transparência
dos resultados aos sócios e ao mercado.

Outra peça chave para que se garanta o sucesso do BEL-i9 está no próprio empreendedor, tão
importante quanto a ideia e o investimento para o desenvolvimento da oportunidade, é a sua
formação de modo a ter um bem preparado profissional para liderar o negócio em formação. É
fundamental que a incubadora invista no desenvolvimento complementar do empreendedor e de
sua equipe, tanto em aspectos gerenciais quanto em técnicos.

É mister lembrar que processos de incubação, particularmente os realizados em sistema de


parceria entre universidade e empresa, levam ao desenvolvimento socioeconômico na região,
tornando as empresas competitivas e proporcionando a desejada criação de postos de trabalho. E
esse deve ser, certamente, o papel mais relevante do BEL-i9.

Por fim, é importante reiterar que os processos de empreendedorismo e incubação andam juntos
com ideias e inovações. Esses resultam muitas vezes em invenções e necessidades de proteção à
propriedade intelectual e processos de transferência de tecnologia. Estes serviços usualmente são
coordenados pelos chamados núcleos de inovação tecnológica das universidades e instituições de
pesquisa, como o exemplo colocado da Agência de Inovação da UFPR.

8 Referências
[1] DRUCKER, Peter. F. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. São Paulo: Thomson,
2005.

[2] BELTRAME, Andor. Ensinagem e aprendizagem em incubadora tecnológica: um estudo de caso na


incubadora tecnologia de Caxias do Sul. (Dissertação de mestrado, Universidade de Caxias do
Sul, 2008). Caxias do Sul, 2008.

[3] Portal da Administração. Como identificar uma oportunidade. Disponível em:


http://www.administradores.com.br/producao_academica/como_identificar_uma_oportunidade/893/
Acesso em 29 de novembro de 2009.

[4] PLONSKI, Guilherme A. Cooperação universidade-empresa: um desafio gerencial complexo. São


Paulo: Revista de Administração, USP, v.34, n.4, p.5-12, out/dez 1999.

[5] ETZKOWITZ, Henry. Reconstrução criativa: hélice tripla e inovação regional. Revista Inteligência
Empresarial. Nº 23, Abr/Mar/Jun, 2005. Centro de Referência em Inteligência Empresarial.
CRIE/COPPE/ UFRJ. Rio de Janeiro, 2005.

[6] DAGNINO, Renato. A relação universidade-empresa no Brasil e o “Argumento da Tripla Hélice”.


Revista Brasileira de Inovação. Vol. 02, nº 02, julho/dezembro, 2003. Disponível em:
http://www.finep.gov.br/revista_brasileira_inovacao/quarta_edicao/Dagnino.pdf Acesso em: 13 de
novembro de 2009.

[7] LUZ, Andréia Antunes da; KOVALESKI, João Luiz; ESCORSIM, Sergio. Incubadora de empresas de
base tecnológica: um estudo de caso sobre empreendedorismo, inovação e relações Universidade-
Empresa. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 6., 2009, Resende. Anais..

38 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


http://www.aedb.br/seget/artigos09/476_TGI_2009_SEGET-AUTORES.pdf Acesso em 29 de
novembro de 2009.

[8] MINISTÉRIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Manual para implantação de incubadoras de empresas.


2000. http://www.mct.gov.br/upd_blob/0002/2219.pdf Acesso em 28 de novembro de 2009.

[9] SILVA, Fábio Q. B. da. Empreendedorismo e interação universidade-empresa. Seminário de


Computação na Universidade da Sociedade Brasileira de Computação, 26., 1996, Recife.
http://www.di.ufpe.br/~srlm/secomu96/fabio.htm Acesso em 28 de novembro de 2009.

[10] TERRA, Branca; DRUMOND, Ricardo. Empreendedorismo e a inovação tecnológica. Portal Venture
Capital – FINEP
http://www.venturecapital.gov.br/VCN/empreendedorismo_e_a_inova%E7%E3o_tecnol%F3gica_CR.
asp Acesso em 28 de novembro de 2009.

[11] FREITAS, Maria do Carmo; MENDES JR, Ricardo. Incubação de empresas. In: SILVA JR, Roberto
Gregório. Empreendedorismo Tecnológico. Instituto de Engenharia do Paraná, 2009. p.158.

[12] LEMOS, Paulo; GRIZENDI, Eduardo; LOTUFO, Roberto. Empreendedorismo, empresas juniores e
cadeia de inovação: a experiência de pré-incubação da Inova/Unicamp.
http://www.inova.unicamp.br/download/artigos/anprotec.pdf Acesso em 29 de novembro de 2009.

Inovação, empreendedorismo e incubação de empresas 39


4
Incubação de negócios em
telecomunicações e o desenvolvimento
inclusivo paranaense
1
Roberto Gregorio da Silva Junior
2
Jaime Sunye Neto

1
Universidade Federal do Paraná – UFPR
roberto.gregorio@ufpr.br

2
Instituto de Engenharia do Paraná – IEP
presidente@iep.org.br

1 Introdução

O processo de concentração populacional e econômica, desenvolvido ao longo de várias décadas,


é um fenômeno que tem causado significativas desigualdades locais, regionais e internacionais,
intensificando problemas sociais e econômicos.

A produção mundial está concentrada em aproximadamente 1,5% do território do planeta. A União


Europeia, Japão e América do Norte, com menos de um bilhão de habitantes, geram cerca de 75%

1
Roberto Gregorio da Silva Junior é doutorando em Administração pela PUC-PR; mestre em administração pela UFPR (1993),
especialista em Engenharia de Produção pela UFSC (1987) e graduado em Engenharia Mecânica pela UFPR (1980). Realizou
dezenas de cursos e visitas técnicas no Brasil e em vários países americanos e europeus. Possui mais de 25 anos de
experiência em engenharia, inovação tecnológica e administração no âmbito público e privado. Concebeu e implantou diversos
empreendimentos e programas de capacitação tecnológica. Foi diretor do Lactec (1997 a 2003), diretor superintendente do
Cetis (1998 a 2000), diretor superintendente da Escoelectric (2002 a 2003), diretor geral da Casa Civil do Paraná (2000 a
2001), além de diversas funções na COPEL, onde trabalhou por quase 20 anos, e em outras empresas e entidades do terceiro
setor. No Sistema Confea / Creas foi conselheiro regional e conselheiro federal (1991 a 1993). Também foi dirigente de várias
entidades entre as quais o Instituto de Engenharia do Paraná e a Agência de Inovação e Engenharia do Paraná (Engenova) da
qual foi presidente (2007 a 2009). Há mais de 20 anos é professor da UFPR, na qual atua nas disciplinas de administração e
economia de engenharia. Organizou o livro “Empreendedorismo Tecnológico” (2009), no qual é autor do capítulo
“Oportunidades de negócios” e do apêndice “Um caso de incubação de empresas via entidade de classe”. Entre seus artigos
mais recentes estão: “Pesquisa e desenvolvimento e a qualidade dos serviços de energia elétrica” (2008); “A pesquisa e
desenvolvimento na estratégia competitiva das concessionárias do setor elétrico brasileiro” (2009) e “Estratégias de legitimação
nos mercados brasileiro e paraguaio: o caso de Itaipu (2009).
2
Jaime Sunye Neto é formado em Eng. Civil pela UFPR (1979). Trabalhou na FUNDEPAR e Secretaria de Educação. Desde
2003 coordena o Projeto de Xadrez nas Escolas do MEC. Participa da Diretoria do IEP desde 2003 e é o atual Presidente do
Instituto (Gestão 2009-2011). Participa da Diretoria da ACP desde 2002 e é o atual Vice-Financeiro Administrativo. Foi
presidente da CBX - Confederação Brasileira de Xadrez (1988-1992) e Presidente das Américas da FIDE - Federação
Internacional de Xadrez (1994-1998). Foi GMI - Grande Mestre Internacional de Xadrez em 1986.

Incubação de negócios em telecomunicações e o desenvolvimento inclusivo paranaense 41


da riqueza mundial. Por outro lado, mais de um bilhão de pessoas que residem nas nações mais
pobres, principalmente na África e Ásia, tem acesso a menos de dois por cento dessa riqueza [1].

No Brasil, três estados da região Centro-Sul, com 15% do território nacional, respondem por mais
da metade da produção. Em alguns de estados mais pobres do país, a taxa de pobreza é o dobro
da encontrada nos mais prósperos [1]. Somente a grande São Paulo gera 15% da produção
brasileira avaliada pelo PIB (Produto Interno Bruto) [2]. No estado do Paraná, 20 dos seus 399
municípios, que compõem a microrregião de Curitiba, abrigam cerca de 30% da população do
estado e respondem por 43% de sua atividade econômica medida pelo Valor Adicionado Fiscal [2].

No Paraná, a concentração pode ser ilustrada pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal
(IFDM), que contempla as dimensões de saúde, educação, emprego e renda. Em 2006 o IFDM do
Brasil era de 0,7376 e do Paraná de 0,8074 (o segundo melhor do país). Entretanto, 87% dos seus
municípios estavam abaixo da média nacional e 97,5% abaixo da média estadual, indicando,
inclusive, um aumento da desigualdade em relação ao ano anterior. No referido ano, 52% dos
municípios paranaenses estava abaixo da média do estado em saúde e 44% abaixo em educação.
Porém, a grande maioria (98%) estava abaixo da média estadual no tocante ao emprego e renda
[4].

A concentração também está presente dentro de localidades e cidades desenvolvidas. Vários são
os casos em que a prosperidade convive com a emergência social e com os bolsões de pobreza,
como é o caso das grandes metrópoles. Essa situação demanda, em especial, a constante
ampliação dos serviços públicos e de infraestrutura básica para a manutenção ou recuperação da
qualidade de vida.

Outro aspecto a ser considerado é a tentativa de reprodução de soluções exógenas não


adequadas às realidades locais. Diniz Filho e Vicentini [5], por exemplo, entendem que muitas das
atuais reformas urbanas resultam em processos incompletos ou projetos mal acabados, pois não
tem aderência com as possibilidades de investimento e renda geral das cidades e regiões mais
carentes [5].

De outro lado, as aglomerações urbanas propiciam sinergias e benefícios que devem ser
explorados. Segundo Edward Glaeser, nas cidades globais como Londres, Nova York, São Paulo,
entre outras, é possível identificar duas características fundamentais que são o capital humano e a
densidade populacional. O poder econômico dessas cidades é sustentado pelas ideias e maior
convivência entre as pessoas, potencializando, assim, a criação e dispersão de ideias [2].

As concentrações também geram acumulação de serviços e diversas outras facilidades que criam
elementos de escala e atratividade social e econômica. Muitas pessoas identificam nas
concentrações melhores serviços, como saúde e educação, oportunidades de emprego ou renda e
novas perspectivas de vida. Já as empresas encontram, nessas aglomerações, a desejada
proximidade com os seus mercados, tanto consumidor quanto fornecedor, bem como a
infraestrutura e logística adequadas para suas operações.

Nesse contexto emergem duas questões básicas. Uma é se a concentração aumentará a


prosperidade econômica e social, ou se causará congestionamento e degradação. Outra é se ela
não impedirá a atenuação dos desníveis entre os padrões de vida dos beneficiários e os mais
desfavorecidos por tal processo. As tentativas de equacionamento dessas questões têm partido da

42 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


premissa de que o ritmo de urbanização deve ser contido, entretanto, as ações nesse sentido têm-
se mostrado ineficazes, assim como o processo de concentração tem-se mostrado irreversível em
várias partes do mundo [1].

A definição da orientação estratégia sobre o equacionamento dessas questões é fundamental para


subsidiar a formulação de políticas direcionadas à promoção do desenvolvimento, como é o caso
dos investimentos públicos em empreendimentos e infraestrutura produtiva. Essa definição, em
especial, é relevante para o Paraná em razão das significativas desigualdades sociais e
econômicas presentes em seu território.

Nesse sentido e sem pretensão de aprofundar a discussão de tal orientação, o presente capítulo
apresenta algumas considerações estratégicas sobre o Projeto BEL-i9 de iniciativa da Companhia
Paranaense de Energia (COPEL), voltado à promoção do empreendedorismo e inovações, através
da incubação de negócios na área de telecomunicações.

2 Orientações estratégias

As experiências bem sucedidas nos processos de desenvolvimento indicam que a produção tende
a se tornar mais concentrada. Porém, também mostram que é possível trabalhar por uma maior
convergência dos padrões de vida, tornando-os mais uniformes no espaço. Ou seja, apesar da
tendência da produção se manter concentrada, o desenvolvimento sob o viés social e econômico,
pode ser inclusivo. Para isso a formulação de políticas deve ser baseada no princípio da
integração econômica, com o adequado uso de instituições, infraestrutura e intervenções
específicas com foco na integração geográfica em lugar do direcionamento geográfico [1].

O papel principal das instituições é garantir a oferta de serviços básicos. Por sua vez, a
infraestrutura visa facilitar a mobilidade das pessoas, a movimentação de mercadorias, o acesso a
serviços e o intercâmbio de ideias e, ainda, outras facilidades, especialmente pela disponibilização
de sistemas de transporte e comunicação. Já as intervenções contemplam ações direcionadas
para questões específicas de cunho social, como melhoria de favelas, ou econômico, como
incentivos para a produção em determinadas localidades [1].

O contexto da inovação é particularmente adequado para dar forma a esse tripé do


desenvolvimento inclusivo (instituições, infraestrutura e intervenções), especialmente, pela
relevância que ela, ao lado da educação, ciência e tecnologia, tem nos processos de desenvolvimento.

A inovação contribui para o adensamento das cadeias produtivas, envolvendo maior diferenciação
em produtos e serviços, ganhos de produtividade, melhoria da logística e aumento da capacidade
de exportação, entre outros benefícios. Ela também aumenta o acesso aos recursos de produção,
uso mais eficiente e até reaproveitamento dos mesmos. De outro lado, também potencializa os
riscos para a produção dependente de recursos básicos ou não especializados, pois cria
facilidades para concorrência, reprodução, substituição e até redução no uso dos mesmos [6].

Caracterizada como um fenômeno sistêmico e interativo, a inovação contempla diferentes tipos de


cooperação e depende da interação entre instituições de ensino, centros de pesquisa, empresas,
entidades políticas, órgãos governamentais e outras organizações [7]. Ela também requer formação

Incubação de negócios em telecomunicações e o desenvolvimento inclusivo paranaense 43


tecnológica, visão estratégica, interação empresarial, perspectiva internacional e capacidade
empreendedora [8].

As inovações que deram e dão suporte aos significativos avanços sociais e econômicos,
especialmente em telecomunicações, tem transformado radicalmente os sistemas produtivos, as
empresas, o comportamento das pessoas e a sociedade em geral. O reconhecimento da
importância da inovação tem estimulado a criação de indicadores do esforço e de resultado dos
investimentos na mesma.

O European Innovation Scoreboard (EIS), por exemplo, utiliza como indicadores de esforço os de
indução, criação do conhecimento, inovação e empreendedorismo. Como indicadores de
resultado, o EIS utiliza aqueles relacionados à aplicação e propriedade intelectual. Outro exemplo
é o Global Innovation Scoreboard (GIS) que classifica os indicadores de inovação em indutores,
criação do conhecimento, difusão, aplicação e propriedade intelectual [9].

Para avaliar a indução da inovação, o EIS tem utilizado como indicadores, as relações entre o
número de habitantes os diplomados em ciências e engenharia, formandos no nível superior, taxa
penetração da banda larga; participação em educação continuada e jovens que com o segundo
grau. Por sua vez, o GIS, nesse mesmo sentido, tem utilizado apenas os dois primeiros
indicadores e acrescenta o número de pesquisadores [9].

3 Incubadoras tecnológicas

A experiência brasileira mostra que o processo de inovação deve repercutir no setor produtivo e
que não faz muita diferença o empenho de governos e da academia [10]. Ou seja, é fundamental a
participação do segmento empresarial nesse processo. A transformação do conhecimento ou, mais
especificamente, da tecnologia em emprego, renda e novos negócios depende do efetivo
envolvimento das empresas. Assim, cresce a importância das iniciativas voltadas à promoção do
empreendedorismo baseado no conhecimento. Entre elas está a implantação das incubadoras de
empresas e negócios de base tecnológica.

No Brasil o número de incubadoras de empresas cresce aproximadamente 30% ao ano,


reproduzindo, com sucesso, um fenômeno que ocorre há vários anos em diversas partes do
mundo. Com cerca de duas décadas de experiência na incubação de negócios, o país já conta
com quase 400 incubadoras. Esse dinamismo tem várias razões, entre os quais está a redução da
mortalidade empresarial. No âmbito nacional, mais de 60% das micro e pequenas empresas não
operam por mais de três anos. Por outro lado, mais de 80% das empresas que passam por
processos de incubação continuam em operação após esse período [11].

As incubadoras brasileiras têm gerado resultados excepcionais em relação ao investimento


realizado para a sua implantação, com destaque para a geração de empregos, impostos, novos
produtos e serviços. As incubadoras também estimulam a mudança do perfil e cultural regional,
especialmente por se constituírem em expressão física da capacidade empreendedora e da
inovação. Elas apresentam ainda um efeito multiplicador na geração de novos negócios
contemplando iniciativas complementares e até similares, bem como outras ações que surgem da
demonstração de práticas e processos de aprendizado empreendedor [11].

44 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


No Paraná as principais incubadoras tecnológicas estão reunidas na Rede Paranaense de
Incubadoras e Parques Tecnológicos (Reparte), uma entidade privada e sem fins lucrativos, que
conta com 28 incubadoras associadas, das quais um pouco menos de 30% está sediado em
Curitiba [12].

Um dos destaques paranaenses na incubação de empresas cabe à Universidade Tecnológica


Federal do Paraná (UTFPR) que há vários anos tem promovido o empreendedorismo junto aos
seus alunos e professores, bem como mantém seis hoteis tecnológicos que oferecem suporte para
a criação de produtos, serviços e empresas inovadoras. Também merecem destaque os hoteis de
projetos de inovadores do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), que
oferecem um processo de pré-incubação para projetos de alunos e ex-alunos das instituições
vinculadas ao mesmo.

Uma recente inovação institucional na incubação de empresas ocorreu no Paraná, onde foi
implantada a primeira incubadora brasileira vinculada a uma entidade classe profissional. Essa
iniciativa do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), ocorrida em 2003, tem contribuído com a
geração de empregos qualificados, promoção de inovações tecnológicas, valorização profissional e
outros benefícios para a classe que representa e sociedade em geral. Outro aspecto relevante
dessa iniciativa é que ela sinaliza um novo papel para as entidades profissionais, que é promover
negócios, empresas e empreendimentos tecnológicos [13].

4 Considerações finais

As iniciativas voltadas à promoção de inovações em telecomunicações são estrategicamente


importantes para o Paraná. Em primeiro, pelo papel que essa área tem desempenhado nas
mudanças sociais e econômicas contemporâneas. Em segundo, pelo seu potencial na promoção
do desenvolvimento inclusivo.

O projeto BEL-i9, em especial, contempla as três dimensões básicas desse tipo de


desenvolvimento, que são as instituições, infraestrutura e intervenções. Assim, ele apresenta os
requisitos potenciais para auxiliar nos esforços em prol do maior compartilhamento da
prosperidade econômica, bem como na atenuação das diferenças de padrões sociais e
econômicos no Paraná.

Isso é possível porque esse projeto mobilizará diferentes atores institucionais oriundos dos
segmentos privado, acadêmico e governamental. O esforço conjunto dessas instituições poderá
redundar em melhorias na oferta de serviços públicos, qualificação e atualização profissional,
desenvolvimento da capacidade empreendedora e outros benefícios de interesse da sociedade.

No âmbito institucional, o projeto poderá também inovar, indo além das parcerias tradicionais nas
iniciativas de incubação, que envolvem universidades e centros de pesquisa. Uma alternativa
nesse sentido é uma possível parceria com o IEP, em especial através de sua Incubadora de
2
Empreendimentos de Engenharia do Paraná (IE P) [13], bem como, com outras entidades de
classe, especialmente da engenharia, das diversas áreas tecnológicas e de negócios.

No tocante à infraestrutura, o projeto poderá potencializar a geração de novas soluções em


telecomunicações, contribuindo para a ampliação de serviços que poderão facilitar as atividades

Incubação de negócios em telecomunicações e o desenvolvimento inclusivo paranaense 45


econômicas, interações entre as pessoas, acesso ao conhecimento e diversos outros benefícios.
E, finalmente, o projeto contemplará intervenções específicas direcionadas à promoção da
inovação e desenvolvimento da capacidade empreendedora, fatores reconhecidamente
importantes para a promoção do desenvolvimento.

5 Referências
[1] BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento). Relatório sobre o Desenvolvimento
Mundial 2009: a Geografia econômica em transformação – visão geral. Washington: BIRD, 2009.

[2] PIMENTA, Ângela. Esqueça os países. O poder está com as cidades. (publicado em 29.11.2007)
Disponível em:
<http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0907/negocios/m0144514.html>. Acesso em
30.11.2009.

[3] IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). Os vários Paranás: estudos
socioeconômicos-institucionais como subsídio ao plano de desenvolvimento regional. Curitiba:
IPARDES.

[4] FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Portal eletrônico. Índice FIRJAN de
Desenvolvimento Municipal. Disponível em:
<http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9231956A5012343B7C92D5445.htm>. Acesso em
30.11.2009.

[5] DINIZ FILHO, L. L.; VICENTINI, Y. Teorias espaciais contemporâneas: o conceito de competividade.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 9, p. 107-116, jan./jun. 2004. Editora UFPR.

[6] HADDAD, Paulo R. Reflexões sobre os modelos de crescimento da economia brasileira. Curitiba:
FIEP. 25 jul. 2006.

[7] CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H. M. M. Sistemas de inovação e desenvolvimento: as implicações da


política. São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 1, p. 34-45, jan./mar. 2005.

[8] CNI (Confederação Nacional da Indústria). Inovar para crescer: propostas para acelerar o
desenvolvimento tecnológico da indústria brasileira. Brasília: CNI, 2007.

[9] VASCONCELOS, M. C. R. Lobo de. A inovação no Brasil em comparação com a comunidade européia:
uma análise sobre os desafios e oportunidades, com base em indicadores. In: XXV SIMPÓSIO DE
GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Anais ... Brasília: ANPAD, 2008.

[10] MAZZONETTO, Caroline; DIAS, Cora. Compromisso com a Mudança. Locus: Anprotec, no 57 • Ano XV,
p. 28 (até 35), Julho/Agosto/Setembro 2009.

[11] ANPROTEC (Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores). Agenda
das cidades empreendedoras e inovadoras. Brasília: ANPROTEC, 2004. Disponível em:
<http://www.anprotec.org.br/ArquivosDin/anprotec_agendadascidades_pdf_33.pdf.> Acesso em:
30.11.2009.

[12] REPARTE (Rede Paranaense de Incubadoras e Parques Tecnológicos. Portal eletrônico. Associados.
Disponível em: <http://www.reparte.org.br>. Acesso em 30.11.2009.

46 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


[13] SILVA JR., R. G. Um caso de incubação de empresas via entidade de classe. In. ______ (org.)
Empreendedorismo tecnológico. Curitiba: IEP, 2009. p. 187-193.

Incubação de negócios em telecomunicações e o desenvolvimento inclusivo paranaense 47


5
Sobre os novos projetos que a COPEL
Telecomunicações propõe para o
desenvolvimento socioeconômico do Paraná
1
Maria Elisa Ferraz Paciornik

FERRAZPACIORNIK consultoria e planejamento ltda.


melisa@ferrazpaciornik.net

1 Projeto BEL

A proposta contida no projeto BEL é da maior importância para o consumidor, que através dele
terá oportunidade de exercitar sua cidadania, escolhendo o pacote (bundle) mais adequado para
seu estilo de vida, não ficando refém de operadoras de telefonia e de TV a cabo, como é o caso
hoje em dia.

Trata-se de importante instrumento de democratização, pois hoje, embora os cidadãos brasileiros


estejam livres (pois não há mais monopólios) para escolher uma operadora de telefone fixo, ou
celular, ou de TV a Cabo, são todos absolutamente submetidos às regras despóticas por parte
delas, sem falar na dificuldade encontrada, cada vez que se quer mudar de operadora.

O valor agregado para a COPEL, quando da implantação deste projeto, é incomensurável; o


consumidor acredita na COPEL e se sentirá mais respeitado, enquanto cliente, com esta inovação
que trará tantos benefícios a ele.

1
Maria Elisa Ferraz Paciornik é Bacharel em Direito (UFPR), Pós-graduada em Direito Público pela (PUC/SP). Atualmente,
cursa o terceiro ano de graduação em Filosofia (UFPR). Realizou estágios internacionais de estudos em diferentes países,
como Inglaterra, EUA e França. Foi presidente da Aliança Francesa de Curitiba; Conselheira da Federação das Indústrias do
Paraná – FIEP; Presidente do Conselho de Administração da Universidade Livre do Meio Ambiente; Procuradora da Prefeitura
Municipal de Curitiba desde 1971; Diretora Executiva da Fundação Cultural de Curitiba; Diretora de Ação Social da Secretaria
de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Curitiba; Secretária de Recursos Humanos da Prefeitura Municipal de Curitiba;
Presidente da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba – CIC (1992 a 1996). Representou o Brasil no Escritório da Onudi
em Paris (1997 e 1998). Foi Secretária de Estado da Administração do Paraná (1999 e 2000); e Diretora de Relações
Exteriores da Renault do Brasil (2000 a 2002). Atualmente presta consultoria através da empresa FerrazPaciornik Associados,
na montagem e implantação e administração de projetos, novas estruturas de gestão, empreendimentos de responsabilidade
social e geração de novos negócios para mercados emergentes. Além disso, é Presidente da Associação dos Amigos do
Hospital de Clínicas (UFPR).

Sobre os novos projetos que a COPEL Telecomunicações propõe para o desenvolvimento socioeconômico do Paraná 49
2 Projeto Copel.org

Provavelmente, boa parte do índice de aceitação e de respeito do paranaense para com a COPEL,
deve-se ao seu trabalho de inclusão social, através, sobretudo, do programa “Luz Fraterna”.

A questão das “cotas”, estabelecidas nas universidades, para afrodescendentes, egressos de


escolas públicas, além de ser um instrumento de discriminação, mostra-se ineficaz, porque, na
maioria dos casos, há uma insuficiência de saber, que impede o acompanhamento posterior das
aulas.

Parece claro que, para o desenvolvimento do país, há que se investir intensamente na educação
básica. A educação não poderia ser nem uma prioridade do estado, mas uma estratégia de estado.

Uma vez que a educação seja eficiente, não haverá mais necessidade de cotas, para ingresso no
ensino superior.

O projeto Copel.org, cujo objetivo é o atendimento às populações de mais baixa renda com acesso
à Internet por rede sem fio, irá, com certeza, se constituir em um instrumento concreto de inclusão
social, através da inclusão digital.

Não há, atualmente, qualquer possibilidade no mercado de trabalho, para quem não tenha
conhecimentos de informática e possibilidade de acesso à informação.

A cultura geral consiste hoje em um pré-requisito para o acesso a cargos executivos.

Os professores da rede pública necessitam de constante aprimoramento.

Grande parte das escolas hoje, no Paraná, dispõe de hardware; o projeto Copel.org, traria um
upgrade fundamental, para os alunos e também para os professores. E permitirá, a esses alunos,
uma competição em parâmetros de igualdade com os jovens egressos de escolas privadas.
Possibilitará ainda, com facilidade, a alfabetização de adultos, erradicando com esta vergonha
nacional.

Além do fator educação, há ainda a questão da profissionalização.

O projeto pode abrir um leque de oportunidades de especialização e de busca de mercado de


trabalho muito grande, se direcionado para esse foco.

Da mesma maneira, pode facilitar em muito o pequeno comerciante, profissional autônomo da


periferia, o acesso a informações necessárias, bem como à formação específica para sua área.

Em função do grande contingente de população de classe C e D, e do importante aumento de seu


poder aquisitivo, suponho que as grandes redes de comércio populares terão muito interesse no
patrocínio de um projeto de tal alcance.

3 Projeto BEL-i9

A pesquisadora Rebecca Henderson, do MIT, diz que “o pior dano que uma empresa pode causar
aos técnicos é permitir que esses percam a sua capacidade de inovar e a visão de mercado”. De

50 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


fato, um dos piores danos que um país pode causar a si mesmo, é não propiciar oportunidade para
seus talentos inovadores se desenvolverem em seu próprio país, aplicando seus conhecimentos
nele. Há décadas, assiste-se ao êxodo de talentos para países que prestigiam e remuneram mais
efetivamente a pesquisa e o desenvolvimento.

E quantos talentos nativos nunca tiveram oportunidade de se desenvolver? Quantos valores têm
sido perdidos no Brasil à medida que o tempo passa?

O projeto BEL-i9 será mais um instrumento efetivo de pesquisa e desenvolvimento; sem tirar o
mérito de incubadoras ligadas exclusivamente à academia, o fato de estar ligado à empresa dará a
esses jovens talentos, um cunho de praticidade e aplicabilidade de seus projetos no mercado.

4 Algumas Sugestões

Um projeto como este será mais rico e eficaz quanto mais conseguir estabelecer uma rede de
apoios na comunidade, além dos já citados no projeto.

4.1 Em relação à educação

Estabelecimento de uma rede consistente de secretarias de educação e de desenvolvimento


social, Ministério da Educação, escolas públicas, escolas de línguas estrangeiras (boa parte delas
tem isenção de impostos – as oficiais de cada país –,, logo, tem obrigação de realizar um trabalho
social), associações de bairros, instituições de desenvolvimento social, para cooperarem na
implantação e desenvolvimento do projeto.

4.2 Em relação ao mercado de trabalho

Estabelecimento de uma rede de instituições ligadas ao ensino profissionalizante, tais como SESI,
SENAI, SENAC, SEBRAE, Ministério do Trabalho, Ministério de Ciência e Tecnologia, entidades
sindicais e de classe, ACP, FIEP, FAE, FACIAP, Secretarias de Desenvolvimento Econômico,
Agências de Fomento, grandes empresas, para desenvolvimento de programas de formação e de
especialização para profissionais e pesquisadores, para novos negócios.

4.3 Em relação à pesquisa e desenvolvimento

Já há algum tempo o cerne do sucesso de um empreendimento não está no processo industrial,


mas está no que vem antes e depois da fábrica: design, logística, business plan, marketing. Hoje,
grande parte dos talentos que imaginam e desenvolvem um produto novo, na sequência, ou são
obrigados a vendê-lo, por não conseguir comercializá-los, ou simplesmente desistem do produto.

É crucial a adesão destes setores citados ao projeto de incubadoras.

Sobre os novos projetos que a COPEL Telecomunicações propõe para o desenvolvimento socioeconômico do Paraná 51
5 Conclusão

Através deste projeto o Paraná tem condições de assumir a vanguarda na educação e na inovação
tecnológica, particularmente em telecomunicações e áreas afins. Haverá nele, ainda, um grande
ganho social de “integração” de setores, o que fortalecerá a sociedade como um todo, dando ao
perfil eclético da população, mais identidade enquanto paranaenses.

Como paranaense, a autora do presente capítulo só pode desejar que o BEL-i9 se transforme
brevemente em realidade e que ela possa participar dele, se possível!

52 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


6 Inovação e a sua gestão no contexto do
projeto BEL-i9
1
Ruy Sant’Ana

Instituto Ermínia Sant’Ana - IES


ruysantana@onda.com.br

1 Reflexões...

Darwin mostrou que não são as espécies mais fortes e nem as mais inteligentes que sobrevivem,
mas aquelas que melhor se adaptam ao ambiente.

Em seu livro mais recente, How the mighty fall – and why some companies never give in, o
professor e escritor norte-americano Jim Collins investiga com detalhes o ciclo de vida de inúmeras
empresas e corporações. Toda instituição, independente da sua grandeza e sucesso, é vulnerável
ao declínio, diz o autor. Qualquer uma pode desaparecer e a maioria, mais cedo ou mais tarde, irá
entrar em declínio. Este declínio é, na maioria dos casos, autoinfringido e o caminho da
recuperação depende principalmente delas próprias e não de fatores externos. O autor sugere, e
explora minuciosamente, um modelo de 5 etapas para explicar as diferentes fases de empresas
que desapareceram e de outras que conseguiram se recuperar.

É muito interessante a analogia que Collins faz com doenças que afetam o ser humano. Alguém,
aparentemente saudável, pode ter dentro de si uma grave doença já instalada. Nesta fase inicial
sem maiores sintomas, o diagnóstico é muito difícil, mas um tratamento eficaz pode eliminar a
doença e suas consequências. À medida que a doença evolui, o diagnóstico torna-se mais
evidente, enquanto o tratamento fica mais difícil ou até impossível. O mesmo acontece com as

1
Ruy Fernando Sant’Ana é formado em Engenharia Civil (UFPR), Master of Science (Colorado State Univ.), MBA Marketing
(ISAE/ FGV), PhD (Colorado State Univ.). Foi professor em cursos de Graduação e de Mestrado na área de Recursos Hídricos
na UFPR (1971 a 2003), sendo homenageado como Patrono e Paraninfo de diversas turmas. Professor de Pós-Graduação na
área de Qualidade e de Inovação na UniFAE – Business School (a partir de 1995), recebendo prêmios “Melhores
Professores”(1999, 2000, 2001, 2002, 2006, 2007). Professor de Pós-Graduação na área de Gestão da Qualidade na ESIC –
Business & Marketing School (a partir de 2006). Professor Convidado em diversas Instituições de ensino. Palestrante em
inúmeros eventos no país (desde 1992). Na Companhia Paranaense de Energia – COPEL, atuou de 1972 a 2008 em
atividades de Engenharia Civil (Projeto de Usinas Hidrelétricas), como Assessor da Presidência (1986 a 1993), Consultor do
Escritório da Qualidade e Produtividade (1996 a 1997), Superintendente da Coordenação de Pesquisa do CPE/CEHPAR
(1998), Diretor de Marketing Adjunto (2000 a 2005), Consultor da Diretoria de Gestão Corporativa (2006 a 2007). Na Itaipu
Binacional, foi Assessor da Superintendência de Planejamento Empresarial (de 1993 a 1995). Atualmente presta consultoria no
Instituto Ermínia Sant’Ana, em Curitiba. Também é Piloto de Avião e de Planadores, com 1300 horas de voo.

Inovação e a sua gestão no contexto do projeto BEL-i9 53


empresas segundo a tese do autor: elas ainda estão aparentemente saudáveis, mas seu declínio é
só uma questão de tempo.

De tudo que se lê na área de gestão de empresas e de organizações, parece que o traço comum
para o sucesso, ou mesmo para a sobrevivência, é o seu poder de renovação, de criação de novos
produtos e serviços de qualidade, de melhoria de processos, de encantamento de seus clientes, da
sua consciência ambiental e responsabilidade com as comunidades com as quais se relaciona. O
segredo que pode garantir uma receita de sucesso é a habilidade de INOVAR.

A edição de dezembro de 2009 da prestigiosa revista Harvard Business Review (HBR), apresenta
como título de capa Spotlight on Innovation e apresenta quatro artigos muito interessantes e atuais
sobre o tema, a saber:

• “The Innovator’s DNA”.

• “How Open Innovation Can Help You Cope in Lean Times”.

• “Create Three Distinct Career Paths for Innovators”.

• “Enterprise 2.0: How a Connected Workforce Innovates”.

Uma pesquisa rápida no Google com a palavra “innovation”, por exemplo, apresentará mais de 20
milhões de indicações.

A partir daqui, pode-se explorar duas dimensões importantes do tema:

(i) O estudo da Criatividade e Inovação como atributo pessoal e de grupos criativos; e

(ii) O estudo da aplicação dessas qualidades tão valorizadas, no ambiente das organizações,
isto é, a Gestão da Inovação (e do Conhecimento) nas empresas modernas.

Na avaliação do autor deste capítulo, a obra mais interessante e completa sobre o primeiro item, é
a obra Criatividade e Grupos Criativos, do Professor da Universidade de Roma, Domenico de
Masi. Ao longo de quase 800 páginas, o Professor de Masi explora: (i) A história da criatividade; (ii)
Estudos sobre criatividade; e (iii) Exemplos de criatividade na Ciência, Religião e nas Artes. No
final do livro, é apresentada, usando as palavras do Professor de Masi, “uma bela biblioteca
composta de três amplas salas, cada uma das quais contendo muitas estantes cheias de teses
que reproduzem mais ou menos a ordem lógica do livro“.

Para ilustrar a abrangência do trabalho do Professor de Masi, apresenta-se a figura 1, indicando


sua biblioteca de 859 livros sobre o assunto.

54 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Figura 1 – Biblioteca da criatividade (Domenico de Masi) – 859 publicações

Mas, afinal, o que é Criatividade? Entre tantas definições, explicações, exemplos, encontra-se:

“A Criatividade é o recurso mais fecundo com que o homem, desde sempre,


procura derrotar os seus inimigos atávicos: a fome, o cansaço, a ignorância, o
medo, a feiúra, a solidão, a dor e a morte. Em cada esquina do planeta, em
cada fase da sua evolução, a criatividade humana consegue atribuir uma
forma ao caos, um significado às coisas“

Em busca de um entendimento consistente sobre a natureza da criatividade, o Prof. Domenico cita


o ensaio do psiquiatra Silvano Arieti, Creativity. The Magic Synthesis. Segundo Arieti, o processo
criativo consiste numa síntese entre o pensamento primário e o pensamento secundário conforme
apresentado por Freud:

“O processo primário, para Freud, é um modo de funcionamento da psique,


especialmente da sua parte inconsciente. Ele prevalece no sonho e em

Inovação e a sua gestão no contexto do projeto BEL-i9 55


algumas doenças mentais, especialmente nas psicoses. O processo primário
funciona de modo muito diferente do secundário, que é o modo de
funcionamento da mente quando esta está desperta e se serve da lógica
comum. Os mecanismos do processo secundário manifestam-se também no
processo criativo; em estranhas e complexas combinações com os
mecanismos do processo primário e em sínteses que, apesar de
imprevisíveis, são, ainda assim, suscetíveis de interpretação psicológica. É
do acoplamento apropriado com os mecanismos do processo secundário que
essas formas primitivas de cognição, geralmente limitadas à camadas
anormais ou à processos inconscientes, se transformam em forças
inovadoras.”

Em outras palavras, a criatividade precisa de imaginação e fantasia para se fazer presente na


mente humana. O Professor de Masi vai mais além e agrega outros dois elementos explicando que
o processo criativo é também síntese da esfera racional, composta de conhecimentos e
habilidades, e da esfera emotiva, composta de emoções, sentimentos, opiniões e atitudes. A
criatividade, assim, não se caracteriza pela imaginação e pela fantasia sozinhas, mas consiste
numa síntese de fantasia e concretude. Acontece que pouquíssimas pessoas possuem
simultaneamente esses atributos. Quando isto ocorre, tem-se uma pessoa genial, como por
exemplo, Michelangelo. O Professor de Masi, em livro anterior, A emoção e a Regra, explica que
esta limitação é superada pela criatividade coletiva, onde são reunidas no mesmo grupo pessoas
fantasiosas e pessoas realizadoras. A figura 2 sintetiza o pensamento de Arieti e do Professor de
Masi.

56 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Figura 2 – Fantasia e concretude

Trazendo o debate para o ambiente das “Business Schools”, é interessante o que trata o artigo
“Innovation in Turbulent Times“ (Rigby, Gruver e Allen) publicado na edição de junho de 2009 da
Harvard Business Review (HBR). Escrevem os autores: “Quando os recursos se tornam escassos,
a chave do crescimento é a reunião de um pensador analítico (cérebro esquerdo), com um
parceiro cheio de imaginação (cérebro direito)”. Ao longo do artigo, os autores citam inúmeros
exemplos de parcerias deste tipo: David Packard e Bill Hewlett, Pierre Wertheimer e Coco Chanel,
John Walker e Brad Bird (Pixar), entre outros.

Por falar na empresa “Pixar”, também vale a pena citar um dos artigos mais festejados e citados da
HBR (está entre os 10 mais lidos): “How Pixar Fosters Collective Creativity” assinado pelo Co-
Fundador e Presidente da Pixar e da Disney Animation Studios, Ed Catmull (edição de setembro
de 2008). Neste longo artigo, o autor explica desde o início a importância de compor um time de
pessoas competentes e comprometidas, e das dificuldades em gerenciar um grupo tão eclético de
pessoas talentosas. Ele encerra o artigo declarando que seu maior feito não foi ter produzido o

Inovação e a sua gestão no contexto do projeto BEL-i9 57


primeiro desenho digital em longa metragem (Toy Story), mas sim, foi ter ajudado a criar um
ambiente único que permitiu que o filme fosse produzido. À propósito, a Pixar possui 3 Princípios
Operacionais: (i) Todos devem ter liberdade para se comunicar diretamente com todos; (ii) Todos
devem se sentir à vontade para dar ideias; e (iii) Devemos ficar por perto das inovações que estão
ocorrendo na comunidade acadêmica.

A reunião e gestão de equipes ecléticas não é, obviamente, tarefa para principiantes. Citando
novamente o Professor de Masi:

“Obviamente, não basta colocar lado a lado, mecanicamente, pessoas


imaginativas com pessoas concretas, nem é bastante fornecer-lhes um
suporte tecnológico adequado: é preciso criar um clima de tolerância
recíproca, estima e colaboração; reforçar esse clima, dando-lhe a certeza de
uma missão compartilhada; torná-lo incandescente, graças a uma liderança
carismática, capaz de derrubar as barreiras que bloqueiam a criatividade de
equipe”.

Outra questão importante, nessa breve reflexão, diz respeito às contribuições recentes no estudo
da Gestão do Conhecimento e da Inovação nas organizações. Aqui também a quantidade de livros
e trabalhos técnicos é absurdamente extensa. Talvez o primeiro trabalho, do leitor interessado,
seja a separação cuidadosa das contribuições importantes - com fundamentação consistente – e
das demais, escritas com base em opiniões superficiais.

Um dos livros mais citados, devido a sua contribuição científica original, é o clássico “Criação do
Conhecimento na Empresa” dos Professores Nonaka e Takeuchi.

Um conceito muito interessante, relativamente recente, é o de “Open Innovation”, ou seja,


Inovação Aberta, apresentado pelo Professor Henry Chesbrough da Universidade de Berkeley –
Haas School of Business, Center for Open Innovation. Partindo do racional de que o conhecimento
está cada vez mais disponível na Internet e suas redes sociais, de que nem todas as pessoas
inteligentes do mundo trabalham para você, de que as empresas não podem depender mais
exclusivamente de suas pesquisas internas, por que não adquirir invenções ou propriedade
intelectual (IP’s) de outras empresas parceiras? Essa entrada de ideias de fora para dentro é
chamada de “Outside-in open innovation”.

A inovação aberta, que também pode ser no sentido de dentro para fora, ou seja “inside-out”,
quebra as barreiras corporativas tradicionais e permite o livre fluxo de ideias, propriedade
intelectual, e pessoas.

Na edição de dezembro de 2009 (HBR), o Prof. Chesbrough explora, em detalhes, cinco tipos de
modelos de gestão para a prática da inovação aberta (de dentro para fora). São apresentados
diversos casos de sucesso envolvendo empresas como a British Telecom e suas spin-offs, Azure
Solutions, Vidus e Psytechnics; Eli Lilly e InnoCentive; De Beers e Element Six; Lucent e Lucent
Digital Video; CH2M Hill e ADA Technologies; Philips Electronics e suas “incubadas” Liquavista,
Silicon Hive e a priv-ID; Unilever e MiLife, etc. No mesmo artigo os autores citam, também,
empresas que foram criadas para financiar (Venture Capital) esses novos empreendimentos.

58 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


No Brasil, o tema tem igualmente despertado muito interesse. Realizou-se em São Paulo nos dias
22 e 23 de outubro de 2009, a segunda edição do “Open Innovation Seminar”. O Palestrante
principal foi o próprio Prof. Henry Chesbrough, que apresentou conferência com o tema “Open
Innovation: A new approach to Industrial R&D”. Essa apresentação pode ser vista no seguinte link:

http://www.slideshare.net/Allagi/open-innovation-seminar-2009-brazil-henry-chesbrough

Neste evento, diversas empresas apresentaram suas experiências, entre elas a 3M, Fiat, e
Chemtech (Siemens).

Outro pesquisador que tem se destacado é Andrew McAfee, cientista do Center for Digital
Business - MIT Sloan School of Business e autor do livro ainda não lançado cujo título será
“Enterprise 2.0: New Collaborative Tools for Your Organization’s Toughest Challenges“.

O Prof. McAfee explicou, em recente entrevista, o papel das tecnologias sociais na mudança da
forma de trabalhar a inovação nas organizações. Ele diz, por exemplo, que muitas empresas estão
permitindo que os grandes usuários participem de processos de desenvolvimento de produtos.
Não só os grandes usuários, mas qualquer pessoa pode ajudar a desenvolver um novo produto, ou
melhorar um produto existente ou resolver um problema real. Essas empresas não mais
especificam quem pode participar do processo de inovação, todos são bem-vindos. As ferramentas
da Empresa 2.0 são projetadas para ajudar em processos de inovação aberta.

A empresa Procter & Gamble (P&G), segundo McAfee, abraçou a filosofia da inovação aberta
criando no seu site um link específico (Connect +) para receber ideias inovadoras de qualquer
pessoa. A P&G publica não só aquilo que sabe e que pode fazer; destaca também o que precisa.
É uma mudança radical; grandes empresas em geral não mostram a sua ignorância.

Naturalmente, esta nova abordagem não elimina a forma tradicional de fazer inovação nas grandes
empresas, ambas se complementam.

Na mesma entrevista, o Prof. McAfee informa que pesquisa recente da empresa de consultoria
McKinsey mostra que um número expressivo de empresas (20% das pesquisadas) já abriu seus
processos de inovação para seus funcionários e clientes e que em média, o número de inovações
tem aumentado 20%.

2 Concluindo...

Em 2009, foi comemorado o centenário do nascimento de Peter Drucker. Nada mais justo que se
pense sobre o que ele diria a respeito do Projeto BEL-i9, proposto pela COPEL Telecomunicações.
Poderia ser uma pergunta: O que é o melhor para a empresa? E completaria:

O fato de fazer esta reflexão não garante que a decisão correta seja tomada.
Mesmo o executivo mais brilhante é um ser humano e portanto sujeito a erros
e preconceitos. Mas a omissão em fazê-la, praticamente levará à decisão
errada.

Inovação e a sua gestão no contexto do projeto BEL-i9 59


7
Plataforma para a criação flexível de
novos produtos e negócios: o
paradigma da inovação aberta
1
Júlio César Felix
2
Rodrigo G. M. Silvestre

1
INTEC/TECPAR – Incubadora Tecnológica de Curitiba, do Instituto de Tecnologia
do Paraná
jfelix@tecpar.br

2
IBQP – Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade
silvestre@ibqp.org.br

1 Introdução

O projeto BEL propôs uma série de desafios dentro da COPEL e em especial na COPEL
Telecomunicações, um destes desafios é a implantação de uma plataforma para a criação flexível
de novos produtos e serviços. Para isso a concepção das atividades como sendo conduzidas por

1
Júlio César Felix é formado Engenharia Civil (UEM), com Especialização em Administracion de laboratorios (OPS/OMS, B.
Aires); Embalage - Control de la Calidad (Inst. Italiano de Embalage, Milán). Production Engineering and Quality Control of
Steel Structure (Ind. Res. Inst. of Hyogo Prefecture, Japan). Foi Diretor de Metrologia Científica e Industrial do INMETRO
(1987). Diretor Administrativo do TECPAR (1987 a 1988). Diretor de Tecnologia Industrial do TECPAR (1991 a 1995).
Presidente da ABIPTI; Diretor Técnico do TECPAR (1995 a 1999). Membro do Comitê Brasileiro de Metrologia do CONMETRO
(1998 a 2009). Diretor de Certificação do TECPAR (2001 a 2004). Presidente da Sociedade Brasileira de Metrologia – SBM
(2004 a 2006) e Diretor de Operações do IBQP (2006 a 2009). Atualmente é Gerente da Incubadora Tecnológica de Curitiba,
do Instituto de Tecnologia do Paraná (INTEC/Tecpar), Conselheiro Técnico IBQP, Coordenador da Comissão Especial de
Estudos da ABNT – Gestão da PD&I. Participou como autor nas seguintes publicações: Desafios do Empreendedorismo
Tecnológico Inovador, 2009 (livro); A Qualidade no Brasil - uma experiência profissional, 2008 (artigo); Empreendedorismo no
Brasil, 2007/2008/2009 (livros); Sistema de Avaliação da Conformidade de Material Biológico. MCT, 2002 (Livro); A Metrologia
no Brasil - Qualitymark Editora, RJ. 1995 (Livro); Guia para Implantação da Confiabilidade Metrológica. ABIPTI/INMETRO.
1986 (Livro).
2
Rodrigo Gomes Marques Silvestre é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL e é
Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atua como economista do Instituto
Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP, é Membro do Comitê Técnico Tecnológico dos Programas da FINEP, PAPPE
Subvenção e Programa Juro Zero no Paraná, é Membro do Conselho Consultivo da PEIEX em Curitiba e Membro da Rede de
Apoio aos Arranjos Produtivos Locais do Paraná - Rede APL Paraná. Participou como autor nas seguintes publicações: The
tendency of development of the information technology industry from 2007 to 2011 in Brazil; The Brazilian System of Digital
Television the diffusion and capturing of financial benefits and its impact upon democratization of communication media;
Empreendedorismo inovador: perfil atual do empreendedorismo brasileiro segundo o global entrepreneurship monitor.

Plataforma para a criação flexível de novos produtos e negócios: o paradigma da inovação aberta 61
indivíduos pertencentes a um “clube” é central, pois, é a participação do consumidor final que
definirá que produtos, conteúdos e tipos de pacotes de serviços serão ofertados. Nesse contexto
os ofertantes precisam adaptar-se com grande velocidade.

Uma opção para essa plataforma pode ser pelo desenvolvimento de novos negócios que
fomentados pelo projeto BEL podem seguir possivelmente os seguintes caminhos: a geração de
um novo negócio que se utiliza da infraestrutura da COPEL Telecomunicações, a geração de uma
tecnologia que pode ser explorada economicamente por meio de licenciamento, o surgimento de
uma fornecedora de tecnologia para a COPEL Telecomunicações ou um empreendimento que não
seja interessante do ponto de vista econômico.

Um dos principais itens do WBS (Work Breakdown Structure) do Projeto BEL destaca a
importância de buscar e estabelecer parcerias. Por ser uma empresa com participação importante
de capital público a COPEL Telecomunicações tem um papel fundamental em conduzir sua
atividade econômica pautada no desenvolvimento da sociedade. Essa característica é relevante
para determinar os tipos de parceria que a empresa pretende estabelecer. Dada a sua grande
capacidade de transformação social as atividades resultantes do Projeto BEL precisam ser
potencializadas por uma estratégia de cooperação com instituições que fomentem a inovação, o
empreendedorismo e a responsabilidade social.

Nesse aspecto a intenção de estabelecer uma plataforma para o surgimento de novos produtos e
novos negócios, se assemelha fortemente à vocação das incubadoras de base tecnológica
brasileiras. Essas instituições têm como competência central a atuação em rede que permite que o
conhecimento circule de maneira mais eficiente que o estabelecimento de cooperações pontuais
entre duas instituições. Complementarmente, essas instituições têm a capacidade de compartilhar
o risco associado aos estágios iniciais de empreendimentos inovadores de base tecnológica. Por
fim essas instituições têm um papel central no desenvolvimento regional e fomento à
sustentabilidade. Entre as incubadoras em operação no Brasil atualmente, uma se destaca pela
extensa contribuição ao empreendedorismo de base tecnológica, a Incubadora Tecnológica de
Curitiba – INTEC.

Essa forma de organização da produção de conhecimento inovador e surgimento de novos


negócios, articulada entre uma grande empresa, uma instituição de apoio ao empreendedorismo e
indivíduos com ideias e disposição para conduzir negócios de base tecnológica, se assemelha à
concepção da inovação como sendo “aberta”. Henry Chesbrough, professor e diretor executivo no
Centro de Inovação Aberta da Universidade de Berkeley apresenta essa nova abordagem sobre o
processo de inovação, chamada de “paradigma da inovação aberta”.

Ele destaca que os processos de inovação conduzidos pelas empresas líderes do


desenvolvimento tecnológico, até o presente momento, se pautam essencialmente em desenvolver
conhecimento internamente e utilizá-lo de modo exclusivo. Nesse caso, uma parte relevante das
tentativas de desenvolver novos conhecimentos não chega a atingir o mercado, pois por questões
diversas, consta de projetos que não são consideradas como economicamente viáveis e, portanto,
a empresa decide por encerrá-los. No caso da inovação aberta as ideias que eventualmente não
são úteis ao seu criador inicialmente podem ser utilizadas por outros e gerar rendas de
licenciamento e outras formas de garantir a sustentabilidade do empreendimento que a concebeu.

62 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


O presente capítulo se propõe a discutir os aspectos do estabelecimento de uma parceria entre a
COPEL Telecomunicações e a INTEC/Tecpar para estruturar uma plataforma para a criação
flexível de novos produtos e novos negócios no âmbito do Projeto BEL. Inicialmente é apresentada
a abordagem da inovação aberta e seu potencial para o desenvolvimento regional. Na seção
seguinte é apresentada a configuração da parceria e o modelo operacional. Em seguida é feita
uma apresentação dos pontos fortes e itens para melhoria do estabelecimento da parceria. Por fim
é feita uma breve conclusão.

2 Uma abordagem aberta da inovação

A inovação usualmente é tratada como uma atividade conduzida por uma empresa buscando
internalizar as ações e conhecimentos necessários para o seu sucesso de mercado. Essa
abordagem é relevante para entender o processo de criação da inovação realizado pelas grandes
empresas inovadoras até o início do Século XXI. Para os mercados onde a velocidade de
surgimento de inovações é relativamente baixa, essa forma de lidar com os conhecimentos novos
pode ser eficiente, porém, se as inovações são frequentes em um mercado, conduzir os projetos
de maneira isolada eleva demasiadamente o risco de inverter recursos em projetos que não terão
um longo período de exploração comercial.

Para os mercados onde a tecnologia varia rapidamente e novos produtos, processos e modelos de
gestão são introduzidos frequentemente, a abordagem da inovação aberta é mais interessante
para sugerir formas de organizar a produção pautada em atividades de Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação – PD&I. Dentro dessa forma de entender a inovação, três processos
se destacam: o processo de dentro para fora realizado pelo enriquecimento do conhecimento
próprio da companhia por meio da integração com fornecedores, consumidores e fontes externas
de conhecimento; o processo de fora para dentro que se refere aos ganhos de lucro por levar
ideias ao mercado, vendendo Propriedade Intelectual, multiplicando tecnologias pela transferência
de ideias para o ambiente externo da empresa; e o processo composto que se refere à co-criação,
em geral, com parceiros com atividades complementares por meio de aliança, cooperação, e joint
ventures durante as quais as trocas são cruciais para o sucesso (ENKEL, GASSMANN &
CHESBROUGH, 2009). É importante destacar que essa abordagem da inovação não é excludente
em relação à abordagem da inovação fechada e sim uma expansão da noção sobre como a
inovação pode ser conduzida do ponto de vista da tomada de decisão empresarial.

Do ponto de vista social, principalmente para países com grande necessidade de desenvolver seu
tecido produtivo, a inovação conduzida de maneira aberta apresenta-se como uma alternativa para
pautar as estratégias de apoio à atividade empreendedora. A inovação fechada tende a criar
vantagens competitivas para a empresa que a gerou, mas a contrapartida dessa inovação é o
surgimento de poder de monopólio temporário para a mesma empresa. Quando se observam o
resultado desse relativo poder de monopólio sobre o mercado, e particularmente para aqueles
mercados ocupados majoritariamente por Micro e Pequenas Empresas, o resultado coletivo pode
ser menor que o resultado individual. Se a inovação foi concebida de maneira aberta, a tendência
a maior disponibilidade dos conhecimentos gerados por meio do mercado de tecnologia,
licenciamentos etc. permite que o resultado coletivo seja majorado.

Plataforma para a criação flexível de novos produtos e negócios: o paradigma da inovação aberta 63
Os três processos de inovação aberta têm em comum a necessidade de estabelecimento de
alguma organização em rede, seja pela integração entre elos da cadeia produtiva, seja pela
relação com instituições de PD&I, ou ainda, pela coexecução de projetos inovadores. Em todos os
casos, uma rede nesses moldes necessita ser estruturada e gerenciada. Essa demanda pela
constituição de redes sinaliza a necessidade de uma evolução na forma de atuação das
instituições que fomentam a atividade empreendedora e a inovação. É preciso que essa mudança
seja pautada à luz dessa visão complementar da inovação.

3 O novo papel de uma incubadora de base tecnológica

As incubadoras tecnológicas têm um longo histórico de contribuições para o desenvolvimento


empresarial e regional no Brasil. Inúmeros exemplos de empresas de sucesso têm suas origens
associadas às incubadoras de empresas. No Paraná, a Bematech, primeira empresa incubada na
INTEC/Tecpar, é sempre lembrada como um caso a ser destacado. Inicialmente, seu papel era de
levar conhecimentos e fornecer infraestrutura para empreendedores ligados às chamadas hard
sciences e às engenharias. Com isso almejava-se fomentar ideias que tivessem grande potencial
disruptivo e capacidade de competir na fronteira do desenvolvimento empresarial. Esse
desenvolvimento estava fortemente influenciado pelas experiências internacionais na mesma
direção.

Esse modelo de desenvolvimento e gerenciamento das incubadoras tecnológicas obteve inegáveis


resultados, porém agora é o momento de evoluir para um modelo que incorpore os avanços no
conhecimento sobre o processo de inovação e, principalmente, que permita a difusão da inovação
pelo segmento de empresas de menor porte e menos dependente de recursos próprios de PD&I.
Para constituir esse novo modelo de atuação das incubadoras, a expansão do conceito de
inovação para contemplar também os processos de inovação aberta permite reposicionar as
incubadoras para que assumam um papel mais central na condução do processo produtivo e no
desenvolvimento regional.

As incubadoras podem assumir também o papel de fomentar tecnologias e conhecimentos para


serem difundidos visando a obtenção de resultados positivos para a sustentabilidade empresarial.
Os empreendimentos incubados que se apoiam no desenvolvimento do projeto de um novo
produto ou novo processo dependem fortemente dos resultados desse projeto no mercado para
avaliar a viabilidade do empreendimento como um todo. Assim, se a incubadora fornece
oportunidades no sentido de que os esforços para concretizar uma inovação executados por um
empreendedor gerem conhecimento sistematizado, então se criam também oportunidades para
ampliar a gama de fontes de recursos e aumentar as chances de sustentabilidade empresarial.

4 Arranjo institucional da parceria e modelo operacional

A proposta que aqui se apresenta é iniciar o arranjo institucional pela proposição da incorporação
da COPEL Telecomunicações no Conselho da INTEC, de maneira a estabelecer a governança de
um projeto com gestão compartilhada. Com isso seria possibilitado o início imediato das
atividades. Essa proposição visa atender ao desenvolvimento da plataforma de novos produtos
preconizada no Projeto BEL e iniciar a FASE II da INTEC, prevista em seu planejamento
INTEC+20.

64 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Esse desenho inicial da parceria poderia contar com os 20 anos de experiência da INTEC no
gerenciamento e fomento ao empreendedorismo inovador e no desenvolvimento regional. Ao longo
das duas décadas recém completadas, a incubadora do Tecpar foi protagonista na criação do
ambiente de benevolência da inovação pelo qual o Brasil passa atualmente. Recentemente,
também a INTEC aprovou seu Projeto PNI/Finep, Programa Nacional de Incubadoras, da
Financiadora de Estudo e Projetos, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), passando a ser
Coordenadora de Rede de incubadoras na região, o que ressalta sua capacidade de atuação em
parceria com outras instituições e organizações produtivas.

A COPEL Telecomunicações poderia ofertar ao projeto sua infraestrutura de comunicação e assim


que o fornecimento seja estabelecido à primeira chamada de projetos pode ser efetuada dentro do
cronograma de inclusão de novos projetos na estrutura atual da INTEC. Em um segundo estágio, a
atuação conjunta das organizações poderia estabelecer a ampliação da infraestrutura física da
INTEC, onde já está prevista a expansão do predito e as obras de fundação do prédio expandido já
foram realizadas. Nessa nova estrutura, concebida para oferecer uma infraestrutura diferenciada
aos empreendedores, seriam ofertadas mais de 30 vagas.

Solucionada a questão da infraestrutura física e de comunicação do projeto, o estágio seguinte


poderia prever a constituição de um modelo de geração de negócios baseado no paradigma da
inovação aberta. Isso significa que os empreendimentos selecionados precisariam estar pautados
em uma visão mais ampla do processo de geração de conhecimento. A proposta é que com a
supervisão da INTEC e da COPEL Telecomunicações, na gestão dos projetos de inovação que
ocorram no âmbito do projeto, possam gerar não somente empresas que desenvolvem
tecnologias, mas que também tenha na comercialização e difusão dessas tecnologias um
importante pilar de suas estratégias de negócios.

O objetivo seria desenvolver uma organização que seja capaz de se apropriar das principais
competências, conhecimentos e ativos dos participantes do projeto para obter resultados positivos
no mercado e para a sociedade. O diagrama 1 ilustra como as instituições e empreendedores ao
tornar seus limites menos rígidos para a circulação da informação podem gerar os conhecimentos
necessários para a constituição de uma plataforma de geração flexível de novos produtos e novos
negócios. E os principais resultados esperados na dimensão social e de mercado.

Plataforma para a criação flexível de novos produtos e negócios: o paradigma da inovação aberta 65
Diagrama 1: Estrutura conceitual da organização para condução do projeto

CONHECIMENTOS,
COMPETÊNCIAS E
ATIVOS

INTEC/
TECPAR COPEL
Telecomunicações

EMPREENDEDORES

informação

PLATAFORMA DE
GERAÇÃO FLEXÍVEL DE
informação NOVOS PRODUTOS E
SOCIEDADE informação
NOVOS NEGÓCIOS MERCADO
Resultado

Resultado

Desenvolvimento Regional
- Geradores de Conhecimento e Tecnologia para
Expansão da fronteira tecnológica nacional Licenciamento

Fortalecimento da Competitividade Empresarial - Geradores de Conteúdo utilizando a plataforma do


Projeto BEL
Geração de demanda por Emprego altamente
Qualificado - Fornecedores de Soluções em TIC para aprimorar o
Projeto BEL

- Empresas de Jogos em plataformas 100% on-line

- Outros Tipos de Empreendimentos Inovadores

FONTE: FELIX & SILVESTRE, 2009

66 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


A disposição da plataforma como o centro de convergência da informação e conhecimento permite
que a disponibilidade de infraestrutura de comunicação, experiência na gestão de
empreendimentos inovadores e a existência de empreendedores dispostos a conduzir negócios
inovadores gerem importantes resultados para o mercado e para a sociedade.

Os resultados para a sociedade, exigência da participação pública das instituições coordenadoras


do projeto, serão principalmente a aceleração do desenvolvimento regional pela criação de
empreendimentos com grande potencial de geração de renda e pela disponibilização de
conhecimento inovador para as empresas que não estejam diretamente ligadas ao projeto. Como
resultado para a sociedade também será possível expandir a fronteira tecnológica para as
empresas nacionais em um mercado brasileiro que em 2005 era de cerca de 200 bilhões de
dólares (BOLAÑO, SHIMA & SILVESTRE, 2008). Complementarmente, as estratégias
competitivas pautadas na inovação tecnológica fortalecerão as empresas e os riscos desses
empreendimentos serão partilhados com os integrantes da rede de organizações ligadas ao
projeto. Por fim, esses empreendimentos demandarão profissionais altamente qualificados, por um
lado isso gera melhoria na qualidade de vida dos empregados diretamente e indiretamente, por
outro sinaliza para as instituições de ensino e qualificação de pessoal qual o perfil dos profissionais
a serem formados. Particularmente em relação ao último resultado, a experiência da
INTEC/Tecpar em gerir uma rede de conhecimento possibilita que a informação sobre essas
demandas circulem mais rapidamente dos empreendimentos para as instituições de ensino e
qualificação.

Os resultados no mercado são semelhantes em sua natureza com os obtidos por empresas agindo
individualmente, porém diferem significativamente em relação ao impacto e eficácia. Ao comparar
os resultados de uma das empresas a serem incubadas na plataforma com outra que tenha
surgido exclusivamente pela ação isolada de um empreendedor, o principal diferencial está na
rapidez com que a informação sobre soluções e oportunidades circula para efetivar o sucesso da
inovação no mercado. Do ponto de vista coletivo, a principal diferença está na destinação do
conhecimento gerado dentro das empresas incubadas. Quando uma empresa isolada inicia um
projeto de inovação, a avaliação da viabilidade econômica desse projeto será determinante para
decidir se esse resultado é ou não útil para a estratégia da organização e sobre sua continuidade.
Em uma das empresas incubadas a viabilidade econômica também é relevante, mas ela é
expandida pela possibilidade de difundir o novo conhecimento entre os membros da rede e fora
dela. Essa difusão pode ocorrer por meio do licenciamento da tecnologia, troca de conhecimentos
ou outras formas de reaproveitar os esforços realizados durante a realização do projeto.

5 Considerações finais

O principal objetivo do presente capítulo é a destacar o potencial que o estabelecimento de


parcerias tem para facilitar a obtenção dos objetivos almejados pela COPEL Telecomunicações e
definido por seu novo posicionamento estratégico. A sociedade paranaense possui um importante
conjunto de ativos institucionais, cujos objetivos se assemelham e convergem para os definidos
por essa empresa do setor de energia e telecomunicações. Desta forma é preciso pensar nessas
parcerias, inicialmente pelo aproveitamento desses ativos institucionais, para obter no curto prazo
os objetivos das instituições e maximizar os resultados para o Paraná. Particularmente, a parceria

Plataforma para a criação flexível de novos produtos e negócios: o paradigma da inovação aberta 67
possível com a INTEC/Tecpar poderia permitir a obtenção do objetivo definido de construir e
fomentar uma plataforma de criação flexível de novos produtos.

A proposta do presente capítulo é iniciar uma discussão sobre a efetiva criação de uma parceria
entre a COPEL Telecomunicações no âmbito do Projeto BEL e a INTEC/Tecpar para realizar um
projeto piloto de criação de uma plataforma de criação flexível de novos produtos e negócios. Esse
projeto almeja conduzir um projeto de incubação de empreendimentos à luz do paradigma da
inovação aberta, para potencializar os resultados desses empreendimentos inovadores no
mercado e na sociedade.

6 Referências
[1] BOLAÑO, C. R. S.; SHIMA, W. T.; SILVESTRE, R. G. M. . The tendency of development of the
information technology industry from 2007 to 2011 in Brazil. In: 12th International Joseph A.
Schumpeter Conference Society, 2008, Rio de Janeiro. Technological Innovation and Development 2-
5, July 2008, 2008.

[2] CHESBROUGH, H. W. Open Innovation: the new imperative for creating and profiting from
technology. ISBN: 978-1-422102-83-1 2005

[3] ENKEL, Ellen, GASSMANN, Oliver and CHESBROUGH, H. Open R&D and Open Innovation: Exploring
the Phenomenon. R&D Management, Vol. 39, Issue 4, pp. 311-316, September 2009. Available at
SSRN: http://ssrn.com/abstract=1487834 or doi:10.1111/j.1467-9310.2009.00570.x

[4] PESSOA, M. L. Novo posicionamento estratégico da COPEL Telecomunicações frente às


transformações do setor. In: PESSOA, M. L. et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações
pensada estrategicamente, em equipe. Companhia Paranaense de Energia. Curitiba: COPEL, 2008.

[5] FELIX, JÚLIO C., et al. Desafios do empreendedorismo tecnológico inovador- Intec 20+20. Curitiba:
Tecpar, 2009.

68 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


8 Projeto BEL-i9: transpondo o abismo
entre academia e indústria
1
Klaus de Geus

COPEL – Companhia Paranaense de Energia


klaus@copel.com

1 O abismo entre a academia e a indústria

Recentemente, o país tem vivenciado uma invasão de conceitos relacionados à inovação e, em


especial, aquela que diz respeito ao setor tecnológico. As empresas começam a falar sobre
programas e projetos de pesquisa e desenvolvimento, almejando caminhar em direção a um
patamar de competência que lhes possibilite adquirir diferencial competitivo sustentando, gerado
por meio de conhecimento especializado e, portanto, aquele que não pode ser facilmente
reproduzido ou imitado. As empresas do setor tecnológico percebem que, devido ao dinamismo da
ciência e do mercado, não podem permanecer estacionadas no tempo, e se veem obrigadas a
investir em novos horizontes como forma de sobrevivência e, se possível, de se sobressair no
mercado e gerar maiores lucros.

Entretanto, apesar dessa invasão de conceitos e da consciência de alguns gestores sobre a


importância de investir na inovação, o modelo de gestão vigente no país continua resistindo a
absorver integralmente os novos conceitos que se lhe apresentam, e acabam por impor barreiras
que dificultam e até mesmo impedem a efetiva integração entre o mundo acadêmico e o mundo
empresarial. Por sua vez, a academia envida seus esforços no sentido de mostrar à sociedade sua
abertura à geração de resultados que lhe proporcionem benefícios práticos. Tais esforços ainda se
mostram inócuos, uma vez que a academia persiste em seu modelo quase puritano de
empreender pesquisa científica.

1
Klaus de Geus é Engenheiro eletricista pela Universidade Federal do Paraná, Master of Science (MSc) em Ciência da
Computação pela University of Manchester, Inglaterra, Doctor of Philosophy (PhD) em Ciência da Computação pela University
of Sheffield, Inglaterra. Atuou em instituições, tanto na indústria como na academia, tais como Siemens, Simepar, UFPR, PUC-
PR, Uniexp e FAE. Atualmente é gerente de programa de P&D da COPEL Geração e Transmissão S.A., onde também
gerencia e coordena projetos de pesquisa. É professor colaborador no programa de mestrado e doutorado do Centro de
Estudos de Engenharia Civil - CESEC da Universidade Federal do Paraná – UFPR e diretor da Faculdade de Ciências Exatas
e de Tecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). É membro dos Comitês Científicos do “IASTED - Conference on
Computer Graphics and Imaging” e do “International Conference in Central Europe on Computer Graphics, Visualization and
Computer Vision” e editor responsável do periódico técnico-científico Espaço Energia (ISSN: 1807857-5). É autor de diversos
artigos científicos e do livro “Mentes criativas, projetos inovadores - A arte de empreender P&D e inovação” (no prelo), pela
Musa Editora.

Projeto BEL-i9: transpondo o abismo entre academia e indústria 69


Apesar do grande potencial que o país apresenta em suas atividades científicas e até mesmo em
alguns pontos de seu setor empresarial, essa resistência mútua dos dois mundos, científico e
empresarial, impõe ao país a perda da oportunidade de gerar inovação e despontar como uma
nação geradora de riquezas baseadas no conhecimento.

A produção científica brasileira tem proporcionado ao país despontar como uma força emergente e
de grande potencial no cenário acadêmico mundial. Porém, o país ainda fraqueja na tarefa de
transformar seu conhecimento e suas criações científicas em produtos palpáveis, ou seja, o país
ainda fraqueja na concretização da inovação. Não obstante sua significativa produção científica, o
Brasil continua pagando royalties para fazer uso das invenções realizadas em outros países e que
foram exploradas em todo o seu potencial, gerando produtos inovadores. A necessidade de
construir uma ponte que una o mundo acadêmico e o mundo empresarial com vistas a produzir
inovação a partir das criações e do conhecimento científico gerado no Brasil se torna, portanto,
premente.

Em países que se sobressaem no cenário científico e que ao mesmo tempo apresentam


maturidade em seus métodos de realizar empreendimentos inovadores, uma quantidade
significativa de cientistas atua no setor empresarial, o que permite às empresas absorver a cultura
científica, distanciando-as do modelo de gestão baseada na revolução industrial e, ao mesmo
tempo, chamando a atenção da academia para novas oportunidades que gerem valor prático para
a sociedade.

O paradigma industrial preconiza a ideia de que pesquisa científica se faz na universidade, e que
as empresas têm que lidar apenas com coisas práticas. Da mesma maneira, é comum perceber-se
nos bastidores das universidades a resistência quanto ao envolvimento de cientistas em
empreendimentos industriais, por ser isso considerado uma forma de contaminação. Enquanto
esses dois pensamentos perdurarem, o país não conseguirá construir uma ponte que possa unir a
academia e a indústria e, portanto, transpor as barreiras que impedem o estabelecimento da
cultura do empreendedorismo inovador.

2 A natureza das atividades criativas

Uma das principais questões a se abordar na busca de se construir a ponte que una os dois
mundos, acadêmico e industrial, é a que se refere à natureza de empreendimentos inovadores
com base científica. É necessário que se compreenda o mecanismo pelo qual os principais
ingredientes da inovação interagem. Para tanto, serão abordadas questões que se mostram
essenciais na diferenciação entre o caráter de atividades industriais e o de empreendimentos
inovadores, tais como a relação entre controle e criatividade, o apetite ao risco e as principais
características do trabalho criativo.

2.1 Controle versus criatividade

A literatura científica relacionada ao tema “liderança” relata algumas conclusões acerca da relação
entre a organização e a criatividade. Em seu livro intitulado “Uma bagunça perfeita” (“A perfect
mess”), Eric Abrahamson e David Freedman [1] defendem a ideia de que a bagunça (ou falta de
ordem) não é nociva ao ambiente empresarial ou mesmo à vida pessoal. Ao contrário, eles vão

70 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


além afirmando que a desorganização é benéfica, pois permite que as pessoas sejam mais
eficientes e percam menos tempo.

A criatividade lida com ideias inusitadas e, portanto, não deve ser confinada a um ambiente que
tenha um caráter fortemente processual. Um ambiente totalmente organizado sufoca os impulsos
criativos, pois limita a liberdade de pensamento e de ação. A organização, por sua vez, é um dos
aspectos mais fortemente explorados pela gestão baseada no controle. Nesse modelo de gestão,
baseado no controle, pode-se até falar em inovação ou no fomento a empreendimentos
inovadores, porém o paradigma no qual se baseia mostra-se completamente inadequado a tais
atividades.

A criatividade e o controle lutam entre si e, por esse motivo, não conseguem conviver
harmoniosamente em um ambiente único. Dessa maneira, é necessário escolher um caminho,
adotar uma estratégia, que possa fundamentar a natureza do empreendimento.

2.2 Apetite ao risco

A maioria das tarefas criativas são empreendimentos arriscados. Sua natureza já pressupõe essa
característica, uma vez que não se sabe ao certo qual será o caminho para conquistar a solução
para o problema. Aliás, muitas vezes nem se pode dimensionar ao certo a extensão do problema,
ou talvez nem se compreenda na integralidade o seu escopo.

Portanto, o risco é inerente ao empreendimento criativo. Muitas vezes, ele pode até ser identificado
na própria mente das pessoas, ou em seu estado de espírito, em seu ânimo, em sua motivação.
Se uma pessoa não está disposta a criar em um determinado instante, resultados não serão
concretizados [2].

Segundo o extenso estudo sobre a criatividade escrito por Mumford et al [3], três fontes de risco
parecem ter significativo impacto em empreendimentos criativos:

• A geração de uma ideia viável não está assegurada: obter ideias inovadoras é algo
completamente dependente da criatividade das pessoas. Muitas vezes, mesmo que o
ambiente de trabalho seja completamente favorável à criação, a geração de ideias que
levem a uma solução tão inovadora quanto o desejado também não está garantida. Em
suma, dependendo das circunstâncias, é possível que os resultados obtidos não sejam os
esperados.
• Mesmo que a ideia seja gerada, não há garantia de que ela possa ser implementada: uma
característica do processo de pensamento de uma pessoa criativa é a de não se atrelar
muito ao mundo real, à maneira como as coisas devem ser feitas, se algo é realmente
factível ou não. No mundo das ideias, tudo é possível. Muitas vezes, as ideias geradas
podem não levar a um produto realizável, ou então o produto final pode não ser viável sob
o ponto de vista econômico ou técnico.
• Mesmo que o seu desenvolvimento seja bem-sucedido, não há garantia de que o produto
final seja um sucesso: o produto final pode não ser bem aceito por seus potenciais
usuários, levando o projeto a ser malsucedido em termos de resultados e aplicabilidade.

Projeto BEL-i9: transpondo o abismo entre academia e indústria 71


Em algumas áreas, esse problema pode ser causado por falhas em processos correlatos,
tais como marketing ou publicidade.
O risco que decididamente está implícito em empreendimentos criativos implica a necessidade de
experimentação e a necessidade de tolerar falhas [4] [5] apud [3].

2.3 O trabalho criativo

Trabalho criativo é tipicamente relacionado com artistas e cientistas. Quando pensamos em


criatividade, é natural que venha à nossa mente as pessoas ligadas à arte e, quando muito, à
ciência. Entretanto, a criatividade não está necessariamente relacionada com o tipo de ocupação
profissional. Em vez disso, ela ocorre em tarefas que envolvem certos tipos de atividade, a saber,
aquelas que envolvem problemas complexos, por vezes nebulosos, e cuja solução requer a
geração de novas ideias. Outra faceta da criatividade é que ela é centrada em pessoas, ou seja, a
criatividade reside nas pessoas, em suas mentes, em sua maneira de ser.
É claro que a criatividade está presente nas mais diversas atividades, independentemente de seu
nível intelectual. Entretanto, quanto maior o nível intelectual, maior impacto parece ter o resultado
da criatividade. Mais do que isso, a criatividade parece andar junto com o conhecimento. Pessoas
criativas tendem a mergulhar em estudos, adquirir conhecimento e utilizá-lo em suas soluções
criativas. Muitas dessas soluções advêm da ativa manipulação do conhecimento adquirido. E
sobre tudo isso está o fato de que a especialidade em certa área do conhecimento acontece de
forma muito lenta e gradativa. Tudo isso demonstra que a geração de soluções criativas é
resultado de um processo longo e complexo.
Para empreender um trabalho criativo em equipe, ou, em outras palavras, resolver um problema de
forma criativa em equipe, as partes envolvidas devem:
• Trabalhar a correta definição do problema, esclarecendo com o maior número de detalhes
possível toda a sua extensão. Vale considerar que esses tipos de problema normalmente
não permitem vislumbrar seus detalhes facilmente, especialmente no princípio do
trabalho.
• Adquirir conhecimento sobre o tema no qual o problema parece estar inserido. Nota-se,
pela construção dessas frases, que no início desse processo o grau de incerteza é muito
grande. O conhecimento a ser adquirido deve ser abrangente o suficiente para que se
vislumbre pelo menos algumas direções de trabalho. À medida que se evolui nesse
conhecimento, a direção de trabalho definitiva vai se esboçando, até ficar evidente.
• Dentro da linha de trabalho definida, o conhecimento deve ser lapidado ativamente. As
ideias iniciais devem ser progressivamente refinadas e estendidas para que sua
implementação possa ser bem-sucedida.

Essa breve exposição demonstra que a execução de um projeto dessa natureza exige um longo
tempo, dada a complexidade envolvida em suas atividades.
As implicações das características mencionadas se traduzem em:

72 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Trabalhos criativos dependem muito da motivação das pessoas envolvidas. Além disso, o
nível de motivação tem grande impacto nos resultados obtidos, ou seja, quanto maior o
nível de motivação, tanto melhor serão os resultados e o próprio desenvolvimento do
projeto [6] [7].
• Trabalhos criativos requerem atenção sustentada durante longos períodos de tempo, sob
condições em que o grau de ambiguidade é alto, o feedback negativo é provável e o
estresse é parte da vida diária [8]. Isso significa que a liderança deve estar extremamente
atenta para aspectos muito mais subjetivos do que aqueles conhecidos em técnicas de
gestão de projetos.

3 O perfil de pessoas criativas

Em um estudo que fez uso de preferências de atividades com vistas a avaliar a motivação de
pessoas com perfil científico e com perfil voltado à gestão industrial em termos de conquista, de
afiliação e de poder, Harrel e Stahl [6] apud [2] chegaram a algumas conclusões relevantes e que
merecem ser explicitadas ao se considerar a relação entre modelos de gestão e perfis pessoais.

As pessoas com perfil científico obtêm maiores notas em motivação pela conquista, ou seja, pouco
lhes importa sua posição empresarial ou política, contanto que eles estejam enfrentando desafios e
conquistando resultados que tragam valor. Pessoas criativas evidenciam, portanto, forte orientação
à autonomia.

Por outro lado, as pessoas com perfil voltado à gestão industrial obtêm maiores notas em
motivação pelo poder e pelas necessidades de afiliação, ou seja, seu objetivo principal é progredir
em suas carreiras nas empresas em que trabalham.

4 Ambientes favoráveis à criatividade

Stacey [9] trata da questão da criatividade em seu livro intitulado Complexity and creativity in
organizations, confrontando a teoria organizacional tradicional com um novo paradigma baseado
na criação de ambientes em que haja liberdade para a criação. A teoria organizacional tradicional
diz que as empresas devem predizer e controlar para que o caos seja evitado. Em contrapartida, o
novo paradigma, proposto pelo autor, argumenta que a repressão da ansiedade causada pela
natureza instável e dinâmica do mundo dos negócios atual implica a igual repressão de impulsos
criativos, os espaços para a inovação, que permitem que os membros da força de trabalho
produzam seu melhor.

Amabile [10] também argumenta que a criatividade é uma das virtudes mais importantes na
economia do conhecimento atualmente, mas muitas empresas adotam estratégias gerenciais que
acabam por matá-la. A maneira com que isso é feito consiste de um tema polêmico para muitos: a
motivação intrínseca das pessoas, isto é, o forte desejo interno de fazer algo baseado em
interesses e paixões. Dirigentes matam sem querer a criatividade por não saberem que esta é, em
grande parte, consequência da motivação intrínseca, a qual eles se esforçam ao máximo para
neutralizar, ou até mesmo destruir. Eles encaram os interesses intrínsecos das pessoas como algo

Projeto BEL-i9: transpondo o abismo entre academia e indústria 73


nocivo à sobrevivência da empresa, mas não percebem que a empresa depende justamente dessa
paixão que as pessoas têm por suas obras. Eles primam pela produtividade, eficiência e controle,
que aliás constituem imperativos de negócio importantes, e ao mesmo tempo menosprezam a
criatividade.

Torna-se necessário à gestão, portanto, mudar a linha de pensamento e perceber que a


criatividade é constituída de três partes: o conhecimento especializado, a habilidade de pensar de
maneira flexível e imaginativa, e a motivação. As duas primeiras podem ser influenciadas pela
gerência, mas fazê-lo é extremamente complexo, lento e custoso, pois depende muito mais das
próprias pessoas. É muito mais eficaz trabalhar o terceiro quesito, ou seja, aumentar a motivação
intrínseca. Para isso, dirigentes têm à disposição cinco pontos a abordar:

• A quantidade de desafio que eles dão aos empregados.

• O nível de liberdade que eles concedem em torno de processos.

• A maneira com que projetam grupos de trabalho.

• O nível de encorajamento que eles dão.

• A natureza do apoio organizacional.

A motivação intrínseca, por exemplo, é alta quando os empregados se sentem desafiados, mas
não pressionados pelo seu trabalho. A tarefa dos dirigentes se torna então atribuir os papéis
adequados aos seus empregados. A liberdade, a motivação intrínseca e, portanto, a criatividade,
evidenciam-se quando os dirigentes deixam os empregados decidirem como alcançar seus
objetivos, e não quais objetivos alcançar. Em resumo, dirigentes podem fazer a diferença quando
se trata de criatividade, gerando empresas verdadeiramente inovadoras que não apenas
sobrevivem, mas também se sobressaem.

5 Liderança criativa

A liderança em empreendimentos de natureza criativa requer uma postura muito distinta daquela
utilizada atualmente na maioria dos ambientes profissionais das corporações.

O primeiro motivo para se adotar uma postura distinta é a natureza do trabalho a ser desenvolvido.
Uma vez que o trabalho criativo ocorre quando as tarefas envolvem problemas complexos, cuja
definição não pode ser especificada de maneira precisa, e cuja solução requer a geração de novas
ideias, o líder de tais empreendimentos não pode confiar em estruturas predefinidas. Ao invés
disso, ele deve ser capaz de induzir estrutura e prover direção de trabalho onde não há uma
direção inerente.

Em termos práticos, o líder de empreendimentos criativos não pode depender da estrutura


empresarial tradicional. A estrutura tradicional não provê o direcionamento adequado a esses tipos
de empreendimentos, uma vez que não há uma regra bem definida para fazê-lo. Ao invés disso,
deve induzir a estrutura de trabalho de maneira adequada às atividades a serem desenvolvidas e
às pessoas envolvidas. Prover direcionamento em tais empreendimentos é uma tarefa que exige

74 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


visão, imaginação e, além de tudo, flexibilidade para vencer as barreiras das regras. Cabe ao líder
executá-la.

Líderes de empreendimentos criativos também devem saber como exercer influência. Aliás, essa é
uma característica marcante do líder criativo. Ele consegue, com seu poder baseado no
conhecimento, na imaginação e na habilidade de inovar, atrair a atenção e a confiança dos demais
integrantes do empreendimento.

6 Lidando com o desconhecido

“Pesquisa e desenvolvimento” é o termo que remete a atividades científicas e, portanto,


investigativas, que trazem como fruto principal o desenvolvimento, seja tecnológico, social ou
mesmo humano. Atividades de pesquisa e desenvolvimento normalmente produzem ingredientes
para a inovação científica e, de maneira mais abrangente, a evolução da sociedade.

Uma das características marcantes de uma atividade de P&D é que ela trabalha com o
desconhecido. Se se constatar que um projeto não lida em algum ponto ou sob algum aspecto com
o desconhecido, esse projeto não pode ser categorizado como de P&D. O fato de que o contexto
de P&D é o desconhecido implica o fato de que P&D, por definição, gera conhecimento.

A figura 1 ilustra algumas atividades que podem ser caracterizadas como de P&D e outras que não
podem. Dentre as que podem ser consideradas P&D, algumas tratam essencialmente com o
desconhecido, estando nele inseridos de forma integral. Outras lidam com o desconhecido apenas
sob alguns aspectos, mas nem por isso devem deixar de ser consideradas como P&D.

Outra característica marcante de projetos de P&D é que, dado que trabalham com o desconhecido,
os resultados obtidos são normalmente diferentes daqueles vislumbrados quando de seu início,
como ilustrado na figura 2. À medida que o projeto progredir e o conhecimento for adquirido, o
projeto deve ser redirecionado. Isso quer dizer que um projeto de P&D nunca pode ter seus
resultados rigorosamente previstos.

Entretanto, vale salientar que os resultados relacionados ao conhecimento adquirido no projeto


têm uma abrangência bastante grande e muitas vezes são difíceis de mensurar. Tais resultados
incluem o impacto causado em outras atividades e projetos relacionados devido ao novo
conhecimento obtido e à maturidade adquirida pelos profissionais envolvidos.

Projeto BEL-i9: transpondo o abismo entre academia e indústria 75


7
8
5 6

desconhecido
3 10

11
2
12
1

ponto de partida
Figura 1: Caracterização de P&D: atividades que passam em
algum momento pelo desconhecido podem ser consideradas, pelo
menos parcialmente, P&D. Este não é o caso das atividades 1, 2,
11 e 12, as quais não podem ser consideradas P&D. As demais
atividades passam, em maior ou menor grau pelo desconhecido,
implicando a geração de conhecimento. Dentre estas, as atividades
3, 9 e 10 apresentam menor grau de P&D [2].

76 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Resultado Resultado
esperado obtido

desconhecido

ponto de partida
Figura 2: Resultados de P&D: os resultados obtidos em uma
atividade de P&D normalmente são diferentes daqueles
vislumbrados no ponto de partida [2].

7 Modelos estratégicos de gestão de P&D

As iniciativas de P&D no setor industrial do país preconizam o estabelecimento de uma parceria


com a academia ou com uma instituição de ciência e tecnologia. Muito embora esse tipo de
parceria seja extremamente benéfica, pouco se conseguiu no país, de forma inequívoca e
eficiente, no sentido de estabelecer um modelo de parceria que pudesse gerar os resultados
esperados pela sociedade, salvo alguns casos excepcionais.

Tanto as empresas quanto as instituições lutam para conseguir unir os dois mundos, por meio de
um modelo de empreendimentos que suprima as dificuldades relacionadas às diferenças culturais
e que permita cumprir com as expectativas de resultados. O grande desafio é transpor o abismo
existente entre a academia e a indústria, o que a COPEL pretende agora fazer, com base em
experiências do passado, no aprendizado dos erros e acertos de outros empreendimentos que
promoveram ações cooperadas entre universidades e empresas.

Dois modelos de gestão estratégica de P&D são apresentados aqui. O primeiro diz respeito ao
mecanismo normalmente utilizado nas parcerias, e o segundo trata de uma postura voltada à

Projeto BEL-i9: transpondo o abismo entre academia e indústria 77


supressão das diferenças culturais que impedem o avanço de empreendimentos de P&D no setor
industrial com a efetiva participação da academia.

7.1 Modelo ad hoc de gestão de P&D

No primeiro modelo, normalmente usado pelas empresas em seus programas de P&D, a interação
com a instituição de pesquisa se dá de duas maneiras: A primeira é pelas gestões do programa de
P&D de ambas as partes, mas apenas sob os aspectos administrativos. A segunda, de caráter
mais técnico, se dá entre o líder científico da instituição e o gerente de projeto da empresa.

Os empecilhos para uma correta internalização do conhecimento por parte da empresa e para um
adequado mecanismo de geração de conhecimento com efetiva participação da empresa são os
seguintes:

• O nível de conhecimento especializado entre as duas entidades que se relacionam é


discrepante. O líder científico detém conhecimento avançado sobre o tema estudado e o
gerente de projeto da empresa, por sua vez, está apto apenas a acompanhar os aspectos
administrativos do empreendimento.

• O conhecimento é, portanto, gerado apenas na instituição de pesquisa, e se torna


totalmente independente dos profissionais da empresa, os quais não têm condições de
absorvê-lo.

• Não há uma estratégia da empresa quanto ao desenvolvimento dos empreendimentos


científicos, uma visão de futuro, um roadmap tecnológico e, consequentemente, não há
interação com outros players no ciclo de inovação (clientes, fornecedores, marketing).

Os resultados dos empreendimentos são, portanto, isolados e restritos a áreas específicas de


aplicação. Não obstante sua importância, eles não podem ser explicitados de forma a impulsionar
a empresa em direção a um contexto de inovação.

7.2 Modelo de gestão de P&D voltado à inovação

Um modelo mais adequado de gestão de P&D, com vistas à geração efetiva de inovação,
pressupõe uma interação mais forte entre a empresa e a instituição de pesquisa, preconizando o
mesmo nível intelectual (conhecimento) em ambos os lados, estabelecendo dessa maneira os
alicerces para a construção da ponte que une os dois mundos. Para tanto, é necessária a
composição de um grupo de cientistas especializados nas áreas estratégicas que possa liderar as
iniciativas de inovação na empresa.

Entretanto, o nível de interação dentro da empresa se torna significativamente complexo, uma vez
que envolve também grupos de interesse e de gestão, corresponsáveis pelo planejamento
tecnológico da empresa (technology roadmapping). A interação se estende aos fornecedores, que
passam a participar mais ativamente do processo com vistas a uma melhor concretização do
resultado traduzido por um produto específico, e ao marketing, corresponsável pelo sucesso do
lançamento dos produtos finais do projeto. A interação intrinsecamente considera a evolução do
mercado, ou seja, as demandas cada vez mais especializadas dos clientes e consumidores. Todo

78 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


esse trabalho é feito nos processos paralelos a P&D, a saber, prospecção tecnológica, estratégia
competitiva e technology roadmapping.

O papel do corpo de profissionais com alta capacitação e experiência científica, que possa avaliar
constantemente os projetos e sugerir e planejar ações que tenham como objetivo maximizar seus
resultados, é preponderante. O foco é, portanto, no bom andamento da carteira de projetos de
P&D.

Uma vez que as duas principais entidades da parceria, a instituição de pesquisa e a empresa,
interagem de forma harmônica, tendo a empresa um corpo de especialistas que interage com o
corpo de líderes científicos da instituição, os resultados se tornam mais evidentes e têm maiores
chances de gerar benefícios práticos.

As vantagens deste modelo em relação aos resultados e à aquisição de conhecimento são os


seguintes:

• A empresa passa a ser parceira da instituição na aquisição do conhecimento


especializado, fomentando a inovação, o desenvolvimento de novas aplicações e a
abertura de novas oportunidades.

• O nível de interação entre as duas entidades é muito mais forte, uma vez que elas falam a
mesma linguagem em termos de especialização.

• A ênfase do programa deixa de ser meramente administrativa para ter um caráter


estratégico.

• Os resultados dos projetos são mais facilmente internalizados, uma vez que os gerentes
de projetos estão em sintonia com os profissionais da área de aplicação e com os grupos
de interesse.

• Os projetos estão inseridos numa estratégia corporativa, elaborada pelos players da


empresa na interação proposta.

Os benefícios advindos de um modelo como o proposto aqui, e que poderia ser aplicado no projeto
BEL-i9, são significativos, pois tornam possível a verdadeira absorção do conhecimento por parte
da empresa, permitem uma melhor internalização de resultados nas áreas de aplicação,
fundamentam novas oportunidades de negócio e de aplicações especializadas e concretizam uma
estratégia corporativa de inovação tecnológica.

8 BEL-i9: Núcleo de P&D e inovação

O desafio do projeto BEL-i9 é quebrar o paradigma de gestão industrial e criar um ambiente em


que se possa criar conhecimento aliado a ideias inovadoras e transformar esse conjunto em
diferencial competitivo, novos produtos, novas metodologias, que tragam valor à sociedade.

Para chegar a esse resultado, torna-se necessário adquirir uma postura adequada em relação à
criatividade e à inovação, assim como às atividades científicas, que dão sustentação e robustez ao
processo criativo. Em outras palavras, a primeira tarefa é criar um ambiente propício à inovação,

Projeto BEL-i9: transpondo o abismo entre academia e indústria 79


possibilitando a geração dos resultados a que se propõe. Nesse ambiente, atividades científicas e
criatividade se integram, gerando um grande potencial de inovação. Como visto anteriormente, a
criatividade depende fortemente de características e postura pessoais.

A integração com instituições de ensino superior e de ciência e tecnologia constitui um aspecto


preponderante no estabelecimento do ambiente de empreendedorismo e ao mesmo tempo um
grande desafio, dadas as diferenças de cultura e as barreiras por elas impostas. Essa integração
será a base para o estabelecimento de estrutura adequada para as atividades científicas e as
atividades voltadas a novos negócios, cujo ingrediente principal é o empreendedorismo.

Para que o ambiente seja favorável a essa integração e também à criatividade, é imprescindível
que as atividades estejam imunes a problemas de caráter operacional ou que dizem respeito ao
dia-a-dia empresarial. Torna-se, portanto, aconselhável que tal ambiente esteja fisicamente
instalado junto a uma universidade ou a um centro científico.

Em resumo, a criação de uma nova cultura voltada à inovação deve contemplar, porém não se
limitar, as seguintes ações:

• Criar e consolidar um ambiente propício à inovação em que a criatividade tenha lugar em


detrimento do controle. Para tanto, deve-se adquirir uma correta postura com relação ao
processo criativo, cujo funcionamento não pode ser integralmente compreendido, mas
que pode ser explorado de acordo com o comportamento de pessoas criativas;

• Centrar os empreendimentos na motivação pessoal e prover pessoas de autonomia para


empreender;

• Estabelecer um mecanismo de integração entre a empresa e instituições de ensino


superior e de ciência e tecnologia, que possa vencer as barreiras impostas pelas
diferenças culturais no que tange à natureza de atividades;

• Prover estrutura para as atividades científicas, com base nas premissas subjacentes ao
processo de criação de conhecimento;

• Prover estrutura para a consolidação de novos negócios, criados a partir das


oportunidades abertas nos empreendimentos de natureza científica e inovadora.

O estabelecimento do ambiente de trabalho deve contar com os benefícios provindos dos


mecanismos de fomento à pesquisa, tais como a Lei de Inovação e a Lei do Bem, além do auxílio
de agências de fomento, tais como Finep, Fundação Araucária, CNPq, BNDES e outras.

De acordo com o modelo estratégico de gestão discutido anteriormente, torna-se propícia a criação
de um núcleo de P&D que possa fundamentar as tecnologias com grande potencial de aplicação e
prover subsídios para a criação de novos negócios, concretizando assim os benefícios para a
sociedade. Esse núcleo deve ser constituído de pessoas que liderem linhas de pesquisa
estrategicamente estabelecidas.

As linhas de pesquisa devem alimentar os novos negócios a serem incubados de maneira


financeiramente sustentável. Isso pode ser conseguido adotando-se uma metodologia onde o novo

80 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


empreendedor é beneficiado com uma percentagem dos resultados, ao mesmo tempo em que
uma percentagem é revertida para o programa BEL-i9. É importante notar que o número de
iniciativas de incubação não está limitado ao espaço físico disponível, pois muitas delas podem ser
realizadas a distância fazendo uso das excelentes tecnologias de comunicação pertencentes ao
portfólio da COPEL Telecomunicações.

Uma vez definidas as linhas de atuação e as linhas de pesquisa nelas envolvidas por meio de um
plano estratégico, seus líderes farão o papel integrador entre o mundo da ciência e o mundo dos
negócios, consolidando a base científica das atividades, alinhada à sua natureza criativa, a qual
leva à inovação e gerando subsídios para que os novos negócios em telemática, como se propõe
no BEL-i9, possam ser adequadamente incubados.

O projeto BEL-i9 é, portanto, uma iniciativa inédita na empresa, dado seu caráter voltado à
convergência de iniciativas científicas e de negócio, que lhe proporciona uma grande oportunidade
de despontar como um importante agente da inovação no Paraná, trazendo importantes frutos no
tocante ao desenvolvimento tecnológico. Mais do que isso, o projeto proporciona um ambiente
permeado pela motivação e pelo espírito inovador, fazendo uso da união entre a criatividade e o
empreendedorismo, transpondo, enfim, o abismo que hoje existe entre a academia e a indústria.

9 Referências
[1] ABRAHAMSON, E.; FREEDMAN, D. A perfect mess. Little, Brown and Company, 2007.

[2] DE GEUS, K. Mentes criativas, projetos inovadores – a arte de empreender P&D e inovação, Musa
Editora, no prelo.

[3] MUMFORD, M. D.; SCOTT, G. M.; GLADDIS, B.; STRANGE, J. M. Leading creative people:
orchestrating expertise and relationships. The Leadership Quarterly, no 13, pp. 705-750, 2002.

[4] ANDRIOPOULOS, C.; LOWE, A. Enhancing organizational creativity: the process of perpetual
challenging. Management Decision, 38, pp.474-734, 2000.

[5] QUINN, J. B. Technological innovation, entrepreneurship, and strategy. In M. L. Tushman, C. O’Reilly,


& D. A. Adler (Eds.). The Management of Organizations, pp. 549-581. New York: Harper and Row,
1989.

[6] COLLINS, M. A.; AMABILE, T. Motivation and creativity. In R. J. Sternberg (Ed.), Handbook of creativity,
pp. 297-312. England: Cambridge Univ. Press, 1999.

[7] PELZ, D. C.; ANDREWS, F. M. Autonomy, coordination, and simulation in relation to scientific
achievement. Behavioral Science, no 12, 89-97, 1966.

[8] KASOF, T. Creativity and breadth of attention. Creativity Research Journal, no 10, pp. 303–317, 1997.

[9] STACEY, R. Complexity and creativity in organizations. Berrett-Koehle Publishers, Inc., 1996.

[10] AMABILE, T. How to kill creativity. Harvard Business Review, 76 (5): pp. 76-87, 1998.

Projeto BEL-i9: transpondo o abismo entre academia e indústria 81


9
BEL-i9: transformando o Paraná em um
polo de excelência na era dos
conteúdos digitais
1
Wagner Eric Heibel

AMARQMELLO Consultoria e Engenharia


wagner@amarqmello.com.br

1 Introdução

Não resta dúvida que a disponibilidade de banda larga de alta performance, a Banda Extra Larga
(BEL), é fator fundamental para o desenvolvimento econômico e social, neste século que se inicia.

Relatório publicado recentemente pelo Deutch Bank sinaliza que a disponibilidade de redes de
banda larga de alta performance será fator determinante na decisão dos investidores quando da
localização e investimentos nos negócios.

A OCDE destaca que cerca de um terço dos ganhos de produtividade dos negócios em geral
deverão ser obtidos em decorrência das comunicações em banda larga.

Também há fortes sinalizações que a geração de empregos será alavancada pela expansão da
2
cobertura das redes de banda larga .

O Banco Mundial confirma a importância das tecnologias associadas à comunicação, também em


recente relatório, onde deixa clara a correlação entre o crescimento do PIB e a penetração de
banda larga, sinalizando que para cada 10% de crescimento na penetração de banda larga é
esperado um crescimento de 1,3% no PIB.

Mais do que isso, a banda larga vem se consolidando como o principal canal para acesso à
informação, essencial para todas as formas de atividade econômica e de boa governança.
Também a banda larga é o canal para o desenvolvimento de soluções de e-gov, e-learning, e-
health, dentre outros avanços fundamentais para a construção de um governo mais eficiente e
presente, disponibilizando a população soluções de menor custo.

1
Wagner Eric Heibel é formado em Engenharia, com pós-graduação na área de Economia e MBA em Gestão Empresarial,
tendo sido Diretor da Telefônica São Paulo, Gerente na ANATEL e na Telebrás. Atualmente é consultor de empresas.
2
“Por exemplo, a Federação Alemã de Autoridades Municipais (Deutsche Städte - und Gemeindebund) estima que 250,000
postos de trabalho seriam criados pela rápida expansão da cobertura de banda larga na Alemanha” Fonte: Deutsche Bank
Research (aug/09)

BEL-i9: transformando o Paraná em um polo de excelência na era dos conteúdos digitais 83


O setor de tecnologia de informação e comunicação (TIC) vem evoluindo de forma acelerada e
exponencial nos últimos anos. A convergência de serviços de voz, dados e conteúdo é inexorável
e já começa a ocorrer no Brasil, com as ofertas integradas das prestadoras de serviço de
telecomunicações.

Com isso, há forte sinalização que nos próximos anos a demanda por banda, ou seja, por
capacidade de transmissão entre o usuário e a Internet superará o crescimento observado até
agora.

O aumento do número de computadores e outros dispositivos geradores de conteúdo nas mãos


dos usuários também é crescente, com os custos caminhando na direção oposta.

Nesta mesma direção, deve ser registrado o decréscimo observado nos sensores (presença,
temperatura, movimento, etc) e equipamentos de monitoramento por vídeo, com câmeras
sofisticadas atingindo valores impensáveis há alguns anos.

Espera-se também uma popularização dos meios em alta definição, com o uso de câmeras e TVs
High Definition (HD) por parcela crescente da população.

Essa popularização de dispositivos, com alta qualidade, e com preços acessíveis a uma parcela
crescente da população terá como consequência o aumento das exigências dos usuários, na
direção de que imagens e vídeos hoje apresentados na Internet com qualidade abaixo daquela de
nossas televisões analógicas, passe por uma revolução, atingindo níveis de qualidade das TVs
digitais a cabo.

A figura 1 evidencia esse fato, mostrando uma expectativa de que, ao redor de 2015 se tenha uma
demanda por usuário ao redor dos 30 Megabits/seg de banda.

Em complemento a esse movimento, espera-se também a popularização das aplicações de


telepresença, que possibilitarão as comunicações ponto a ponto, com vídeo de alta resolução, em
substituição as reuniões presenciais.

1000
Necessidade domiciliar de dados Mbps

100 Banda larga


32
10 24
6 (historicamente
1 1.5 a capacidade de
banda aumenta
0,1 4 vezes a cada
0.0560 4 anos)
0.0288
0,01 Modem
0.0096
0.0024 analógico
0,001 0.0012
1980 1990 2000 2010 2020

Figura 1: Evolução da demanda por velocidade para acesso à Internet

84 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Somando-se a essa demanda crescente, o Brasil vive e deverá continuar vivendo nos próximos
dez anos um crescimento de sua renda média, com o surgimento de um mercado novo para os
serviços e produtos.

É esperado que as classes C e D mantenham o crescimento significativo já verificado nos últimos


anos, impactando positivamente a expansão da quantidade de pessoas com renda para adquirir
produtos e serviços, alimentando ainda mais esse processo.

2 A sinergia com a COPEL energia

Além de todos os avanços elencados acima, estamos na véspera de uma revolução sem
precedentes no setor de energia: a introdução do SMARTGRID ou Rede Inteligente na rede de
transmissão e distribuição de energia elétrica.

Tal movimento vem sendo comparado com a revolução causada pela digitalização das redes de
telefonia ocorrida há alguns anos, e que implicou em toda a revolução vivida no setor.

A introdução de equipamentos de monitoramento de rede, medição remota de contadores,


viabilidade de telecomando em pontos cada vez mais capilares, é sinalizada como uma prioridade
pelo governo Obama, no sentido de promover o reaquecimento da economia dos EUA, bem como
na direção do uso racional de energia e água.

3 O desafio

Toda essa demanda, no entanto, é desafiadora para os formuladores de políticas públicas capazes
de posicionar um determinado Estado em condições de se valer dessa demanda como fator
diferenciador para o progresso e bem estar social de sua população.

Em todo o mundo percebem-se movimentações no sentido de posicionar governos e países, de


forma a aproveitar e liderar esse processo de crescimento e ruptura que se avizinha.

Um ponto significativo a ser registrado é que as tecnologias hoje implantadas, como os pares de
cobre e o acesso sem fio, não sinalizam a viabilidade de crescimento para atendimento a essa
demanda ao redor dos 30 Mbps. Percebe-se que tanto as redes móveis quanto as fixas já
apresentam sinais de esgotamento de suas capacidades, com problemas para a oferta de um
serviço adequado a essa demanda por banda de alta performance (projeto BEL).

A conclusão quase unânime é de que será necessário investir em redes óticas, de forma a que os
limites impostos pelas tecnologias por cobre e sem fio possam ser ultrapassados, permitindo a
oferta praticamente ilimitada de banda aos usuários finais, em seus negócios e residências.

Nesta direção, investimentos significativos necessitam ser realizados pelas empresas prestadoras
de serviços de telecomunicações para disponibilizar uma rede ótica. E isso precisa ser feito com
urgência sob pena de se perder uma janela de oportunidade para o desenvolvimento do país.

BEL-i9: transformando o Paraná em um polo de excelência na era dos conteúdos digitais 85


4 O Paraná no contexto da era dos conteúdos digitais

O Paraná possui diferenciais competitivos para buscar a liderança brasileira nesta era dos
conteúdos.

Formado por uma forte e crescente classe média, com nível de educação acima da média
nacional, o Paraná possui condições de se posicionar neste novo contexto forma diferenciada e
desruptiva. Pode-se dizer, sem ser exaustivo, que o Paraná possui:

• Mercado aderente a inovações, nacionalmente reconhecido como excelente território para


o desenvolvimento de projetos piloto ou testes de conceito e aceitação.

• Capital Humano para sustentação de um projeto inovador, com mão de obra nos mais
variados níveis, capaz de dar sustentação a implementação de uma inovação tecnológica.

• Escala, para o desenvolvimento e ampliação do mercado, com possibilidade de dar


sustentação a expansão do projeto para outros estados do país.

• Posição privilegiada, próxima a São Paulo e ao Mercosul.

Além disso, o Paraná possui uma forte infraestrutura já implantada, em fibra ótica, disponibilizada
pela COPEL Telecomunicações, que já tem capilaridade significativa para acesso aos clientes
finais, diminuindo o esforço e capital necessário para o atendimento às demandas desse novo
momento. Diferentemente de outros estados essa infraestrutura é detida por uma empresa sob
controle do estado, podendo ser utilizada com maior facilidade para alavancar o desenvolvimento
social e econômico da estado. Em síntese, o Paraná possui:

• Infraestrutura estatal (COPEL Telecomunicações) abundante para desenvolvimento


dessa política.

• Capacidade técnica na COPEL Telecomunicações e Sercomtel.

• Capacidade de alavancar o negócio com aplicações específicas que sustentam o projeto


dentro da COPEL (energia) e na SANEPAR.

Desta forma, há potencial para que o Paraná desenvolva uma política pública direcionada para a
atração de investimentos para o Estado, de forma a que venha a tornar-se um polo de
desenvolvimento de conteúdos e de aplicações, nesta nova era que se descortina.

Para tanto ações de governo podem e devem ser desenvolvidas na direção de:

• Usar a capacidade da COPEL (energia), COPEL Telecomunicações, SANEPAR e


Governo do Estado como ferramenta de desenvolvimento do Paraná.

• Atrair os principais players de conteúdos de banda larga interativa e com alta definição.

• Desenvolver novas soluções de e-gov, e-learning, e-health, modernizando a


administração do governo.

86 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Exportá-las para outros estados e países.

A figura 2 procura sintetizar essa visão de futuro, integrando algumas frentes a serem
desenvolvidas.

• Know-how em aplicações
Polo de • Mercado de testes
Conhecimento • Atração de empresas de
conteúdo

Modelo em • Modernização administrativa


• e-health
e-gov • e-learning

Polo de • Know-how em soluções


• Mercado de testes
Desenvolvimento • Atração de empresas de
conteúdo

Figura 2: Visão do Paraná como polo na era do conteúdo

Essa visão inovadora é um projeto desafiador, que envolve a ação coordenada de diferentes
unidades do Governo, na administração direta e indireta, de forma a acelerar a implantação do
projeto, em prazos compatíveis com as expectativas da sociedade.

É fundamental que se perceba que esse tipo de iniciativa, em vários países do mundo, teve forte
envolvimento e liderança dos governos, de forma a gerar a massa critica necessária a romper o
ciclo de viabilização econômica da implementação das fibras óticas necessárias ao crescimento da
demanda e barateamento dos custos para o usuário final.

Neste cenário o governo passa a ser o líder da mudança, promovendo a cultura digital,
estabelecendo um ambiente criativo, sustentado em apoio institucional, que estimule a produção
de conteúdo local capaz de girar essa engrenagem, especialmente apoiado nas aplicações de e-
government, utilizando para tanto as sinergias de suas diferentes unidades governamentais da
administração direta e indireta.

BEL-i9: transformando o Paraná em um polo de excelência na era dos conteúdos digitais 87


OUTRAS
ENTIDADES
DO GOVERNO

VISÃO

COPEL + Sanepar + Sercomtel

INICIATIVA PRIVADA UNIVERSIDADES

Figura 3: Visão e os envolvidos em sua realização

5 O projeto BEL-i9 como berço para a mudança

A implementação de uma Banda Extra Larga, de alta performance, como a proposta pelo projeto
BEL é inédita no Brasil e necessita de ferramentas que permitam uma parceria entre vários atores,
necessários para o desenvolvimento e implementação de um modelo desafiador, visando criar um
ambiente inovador e criativo para o debate de soluções que permitam ao Paraná alcançar o
objetivo de tornar-se, na próxima década, o principal polo de conteúdos para redes de alta
performance no Brasil.

O inicio de um projeto dessa magnitude deve ser acompanhado do desenvolvimento de mão de


obra qualificada, capaz de dar suporte à implementação de soluções inovadoras, ainda não
vivenciadas em outras partes do país.

Neste sentido, o uso de recursos oriundos das mais diversas fontes como a academia e o
mercado, mesclados com a proximidade aos especialistas da COPEL e da COPEL
Telecomunicações tende a criar esse ambiente propício ao desenvolvimento de novas ideias e
conceitos, de forma a alavancar os negócios e o desenvolvimento do Estado do Paraná como
celeiro dessa inovação.

Para que um projeto inovador como o proposto no projeto BEL possa ser alavancado mais
rapidamente, é importante que características de empreendedorismo sejam associadas às
iniciativas do corpo de empregados, de forma a trazer ideias inovadoras e desruptivas para o
projeto, descompromissadas com o status quo e capazes de motivar e trazer visões novas para os
demais envolvidos.

O Projeto BEL-i9 vem, então, tem potencial para suprir essa lacuna com um grupo de profissionais
oriundos da comunidade acadêmica e do mercado, capazes de, em conjunto com a equipe da
COPEL Telecomunicações, compor uma equipe com visões complementares, capaz de dar ao
projeto BEL a velocidade e capacidade de inovar que tal desafio necessita.

88 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


A título meramente ilustrativo, são sugeridas algumas áreas que poderiam ser focadas pelo projeto
BEL-i9, de forma a dar um direcionamento inicial à sua construção. Assim, sugerem-se algumas
áreas foco do projeto BEL-i9, que visam complementar e antecipar estudos e ações a serem
desenvolvidas pela COPEL Telecomunicações, agilizando, com recursos externos, essas
atividades:

• Políticas Públicas: avaliação das políticas públicas a serem desenhadas, desenvolvendo


a visão estratégica de médio e longo prazo, bem como o endereçamento de atuação
sinérgica entre os diferentes steakholders, identificando e indicando ao Governo de
Estado as ações de coordenação necessárias à implementação do projeto.

• Conteúdo: identificação de parcerias a serem atraídas à rede da COPEL


Telecomunicações de forma a gerar conteúdo para a rede, atraindo clientes,
desenvolvendo o Paraná como centro de excelência para a produção e divulgação de
conteúdos no país.

• Hardware: avaliação de soluções existentes e/ou desenvolvimento de equipamentos que


possam alavancar a capacidade de atendimento, tanto para usuários finais como para as
aplicações de telemetria e telecomando, demandadas pela COPEL (energia).

• Software: especialmente SMARTGRID, para tratamento e disponibilização de


informações para a COPEL (energia) e outros, de forma a tornar o negócio sustentável.

• Marketing: desenvolvimento e apoio à área de marketing da COPEL, na busca de


parcerias estratégicas e serviços de algo valor agregado, que permitam a diferenciação
competitiva da COPEL Telecomunicações como provedora de soluções.

Novamente, como uma colaboração inicial para a discussão da estrutura do projeto BEL-i9 sugere-
se uma estrutura de coordenação dos trabalhos em forma de Conselho, que serviria de balizador
para o encaminhamento dos trabalhos dos diferentes grupos do projeto BEL-i9.

Este Conselho, cuja composição deve ser melhor detalhada, poderia ser composto de um grupo
multidisciplinar, composto de representantes dos diversos órgão envolvidos na condução do
projeto de transformação do Paraná em polo de conteúdos, com representantes da COPEL,
COPEL Telecomunicações, Governo do Estado, Sercomtel, Celepar e outros órgãos com potencial
para alavancar e acelerar a implementação do projeto.

BEL-i9: transformando o Paraná em um polo de excelência na era dos conteúdos digitais 89


CONSELHO DE PROJETOS E ESTRATÉGIA

Coordenador Coordenador do Empreendedores


Geral da Projeto
Incubadora
Aluno 1 n
Professor orientador
1 Alunos 1 n

Gerente i9 Professor orientador Alunos 2 n


2

Professor orientador
n
Aluno M N

M = 9 Projetos N = Alunos empreendedores

Figura 4: Proposta de Conselho

6 Conclusão

O projeto BEL-i9 tem grande potencial para ser o alavancador do Paraná como polo de excelência
em conteúdos digitais, levando o Estado a liderar um momento de ruptura tecnológica,
posicionando-se à frente de um patamar de desenvolvimento, com total inserção na economia da
era do conhecimento.

O estabelecimento de um ambiente criativo e inovador é fundamental para que as ideias comecem


a se tornar concretas, com o empreendedorismo servindo como motor para a mudança.

Atrair capitais para o Estado, estimulando o aparecimento de demandas de e-gov que possam
modernizar a administração pública e, especialmente, servir de catalisadores para implementação
deste projeto é também um importante ponto a ser endereçado, de forma a colocar o governo,
tanto na administração direta como indireta, engajado em um processo maior de desenvolvimento
econômico e posicionamento estratégico do Estado.

7 Referências
[1] FCC BROADBAND FORUM, http://www.broadband.org; Acesso em 24/11/2009

[2] BANCO MUNDIAL. Key Trends in ICT Development, Relatório, s.d.

[3] BANCO MUNDIAL . Information and Communications for Development, Relatório, 2009.

[4] INFODEV, What role should governments play in broadband development?, Setembro, 2009

90 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


10 1
Co-criação no projeto BEL-i9

Paulo Sertek

Bellatrix - Planejamento em Gestão e Marketing


paulo-sertek@uol.com.br

1 Introdução

Os sistemas atuais de informação e comunicação têm promovido a interação maior e mais rápida
para a satisfação das necessidades das pessoas. A Internet tem possibilitado as interações diretas
dos clientes com as empresas e entre pessoas que participam de grupos de interesse. As
interações, provenientes destes novos ambientes emergentes, são eficazes, para o estímulo da
participação dos stakeholders, no processo de criação de valor ou de utilidade, para todas as
partes interessadas.

A criação de valor transcende o âmbito interno das organizações, porquanto os interessados têm
uma maior capacidade de participação no processo de criação de valor, quer por estarem mais
bem conectados com outros serviços concorrentes ou substitutos, ou ainda, porque as suas
2
experiências são valiosas para impulsionar a inovação de valor .

Os modelos emergentes de co-criação de valor ampliam as possibilidades de inovação, já não


centradas na empresa, mas fazendo parte de um projeto de construção comum dos stakeholders.

O conceito de co-criação foi desenvolvido por Prahalad e Ramanswamy [1], em sintonia com as
experiências emergentes em ambientes virtuais de inovação empreendedora. Nesta abordagem

1
Paulo Sertek é formado em Engenharia Mecânica (Mauá, S. Caetano Sul, SP), com Mestrado em Tecnologia e
Desenvolvimento (CEFET-PR) e Doutorado em Educação (UFPR). Possui 4 livros publicados (IBPEX) sobre Gestão de
Empreendimentos (2003); Responsabilidade Social e Competência Interpessoal (2006); Empreendedorismo (2007); e
Administração e Planejamento Estratégico (2009). Autor de cerca de 15 artigos e apresentações em paineis. É professor de
cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de administração e pedagogia da FAESP, CAPPEX - Faculdade Anchieta de
Ensino Superior do Paraná. Faculdades Modelo –Pedagogia e Administração e no Centro de Pesquisa e Extensão do Instituto
Modelo e Cursos à distância da Facinter e Fatecinternacional nos cursos de Logística, Gestão de Produção Industrial e na
especialização Uninter: MBS Executive Secretaries em Gestão de Projetos e Protagonismo Secretarial. Professor dos Cursos
de Gestão de Empresas e Desenvolvimento Pessoal e Familiar do Instituto de Ensino e Fomento-IEF e. Prof. de Ética nas
Organizações em Cursos de Especialização na CEMPPEX, CAPPEX, e FACINTER. Também é Consultor da Bellatrix Gestão
em Planejamento e Marketing.
2
Emprega-se o conceito de Inovação de Valor de Kim e Mauborgne (2005).

Co-criação no projeto BEL-i9 91


dá-se maior ênfase à interação e construção de conhecimentos entre as partes, desafiando o
paradigma da era industrial, em que a empresa é a protagonista-chave da criação de valor dentro
da sua cadeia interna de atividades.
As empresas não são mais capazes de, unilateralmente, empurrar produtos para os
consumidores passivos. Os consumidores ativos participam de comunidades e
acessam recursos de informação comparáveis aos da empresa, ou até melhores. Hoje,
os consumidores têm condições de escolher as empresas com que pretendem manter
relacionamentos, com base em suas próprias perspectivas de como querem co-criar
valor [1].

Sob esta perspectiva este capítulo visa ampliar os horizontes do empreendedorismo-inovador no


âmbito do projeto BEL-i9 através do conceito de co-criação. Isto é, da criação intencional de valor
por meio do projeto de ambientes interativos, favoráveis a construção comum de experiências e
conhecimentos e a descrição de processos emergentes de co-criação através dos consumidores.
Destacam-se como elementos de inspiração para a inovação alguns casos de sucesso como os da
Nike e Medtronic.

2 Criação de valor tradicional

No desenvolvimento dos novos negócios a lógica dominante é a da centralidade da geração de


valor dentro da organização, segundo os moldes porterianos, empregando as sinergias da sua
própria cadeia de valor. No melhor dos casos destaca-se na curva de valor destas
empresas/produtos/serviços os atributos de valor que geram utilidade excepcional para o cliente,
tal como se prevê na BOS (Blue Ocean Strategy), Estratégia Oceano Azul, desenvolvida por Kim e
Mauborgne [3]. Neste tipo de abordagem, ainda que se busquem os mercados inexplorados (Blue
Ocean) ou os ‘não-clientes’, em geral, o potencial criador dos consumidores e de outros
interessados, não é favorecido pela sua participação efetiva na criação de valor. O modo mais
comum da criação de valor ocorre como o indicado na figura 1, onde as siglas SCM, ERP e CRM
correspondem respectivamente a: Suply Chain Management, Enterprise Resource Plannig e
Customer Relationship Management. Os consumidores são considerados como elementos
passivos neste processo.

92 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Figura 1: Criação de valor tradicional [4]

É oportuno considerar, de acordo com Ramaswamy [5], que a lógica tradicional incorporada aos
negócios é induzida pela própria palavra marketing que está associada às trocas de mercadorias.
Esta maneira de ver a atividade empresarial leva a que a empresa desenvolva a sua atividade de
forma autônoma, ouvindo o cliente; no entanto, a co-criação não faz parte da estratégia. As
empresas desenvolvem produtos, serviços, processos, logística e outras ações com pouca ou
quase nenhuma participação do consumidor. “Os consumidores somente são envolvidos na
comercialização. As empresas agregam os consumidores dentro de “segmentos significativos”
para o caso de troca. Este conceito está sendo desafiado pela emergência de consumidores
conectados, informados, ativos e empoderados” [5].

No modo tradicional, a criação de valor, situa-se dentro da empresa de forma unilateral, e o


mesmo ocorre com a abordagem de marketing:
O conceito kotleriano de marketing propugna o papel unilateral da empresa em focar os
consumidores. Desde este ponto de vista, os mercados são vistos como agregado de
consumidores, a ser segmentado pelas empresas, e para vender o que elas têm como
oferta de valor presumido para os clientes [5].

3 Criação de valor em ambientes de experiência

Os consumidores estão deixando de ser passivos no processo de construção do conhecimento, e


no desenvolvimento dos produtos e serviços. Sendo mais participativos, este comportamento
aguça-se, pois oportuniza mais alternativas para envolvimento dos clientes em processos de
comunicação e interação de experiências com os fabricantes e fornecedores. As empresas com
visão estratégica têm aproveitado estas sinergias para construir ambientes ‘possiblitadores’ e

Co-criação no projeto BEL-i9 93


estimuladores do processo de co-criação dos bens culturais ou econômicos. “Armados com novas
ferramentas e insatisfeitos com as ofertas disponíveis, os indivíduos (consumidores) querem
interagir com as empresas, e da mesma forma, como as comunidades de consumidores para co-
criar valor” [4].

Todos os conhecimentos adquiridos pelos clientes, além dos conhecimentos expressos, que
assimilaram e como estes interagem com as suas experiências vitais, são capazes de
transformarem-se em experiências e interações para soluções surpreendentes de problemas [6].
Para este processo de interação dos conhecimentos tácitos e explícitos pode-se aplicar os
conceitos de socialização, explicitação, combinação e internalização, desenvolvidos por Nonaka e
Takeushi [2]. O mesmo ocorre nas interações produzidas nas comunidades de prática, no seu
processo de construção e de maturação durante a sua vida [7]. A criação do conhecimento e a
inovação é potencializada pelos comportamentos solidários que se desenvolvem pelas motivações
de caráter colaborativo [8].

Na figura 2 destacam-se os elementos-chave da interação, visando a co-criação focada na mútua


experiência Empresa-Cliente. A intersecção entre as ações da empresa e as do cliente constituem
o ambiente de experiência como fonte da criação de valor e de benefício mútuo.

De acordo com Prahalad e Ramaswamy [9],


o ambiente de experiência é conceitualmente distinto daquele do produto, que é
convencionalmente foco da inovação. No ambiente de experiência, o consumidor
individual é central, e um evento provoca a experiência de co-criação. Os eventos têm
um contexto no tempo e no espaço, e o envolvimento do indivíduo influencia aquela
experiência. O significado pessoal derivado da experiência co-criativa é o que
determina o valor para o indivíduo.

Figura 2: Ambientes de experiência - adaptação de [5]

94 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


4 Processo de co-criação pela experiência

As interações, por meio de trocas de experiências, no ambiente projetado para dar suporte aos
eventos interativos, propiciam o ciclo de conversão e interação de conhecimentos [2]. Como
exemplo Ramaswamy [4] indica a experiência da Sumerset, empresa de barcos-casa que opera
com o conceito de co-criação:
Os indivíduos devem ser capazes de co-construir um valor único para eles mesmos,
por meio da comunidade-rede de interação, que facilita o resultado da experiência
contextualizada através do diálogo, o acesso, a gestão de risco e da transparência (ou
DART para abreviar) [4].

O processo DART também é exposto por Ramasnawamy [10], na descrição do estudo de caso
sobre a Nike, e pode-se verificar a sua replicabilidade para outras situações similares visando a
potencialização da co-criação. O Diálogo possibilita o compartilhamento das informações e uma
compreensão adequada das questões colocadas. Permite aos que participem do ambiente gerar
contribuições únicas e visões ampliadas ou inovadoras sobre uma determinada prática, situação,
trabalho ou produto. Não importa qual seja o conteúdo propositivo, pode ser tangível ou intangível.
Quanto ao Acesso, permite que os indivíduos tenham as ferramentas e os instrumentos
adequados para construir a sua própria experiência e comunicá-la adequadamente. A gestão do
Risco refere-se ao conhecimento do potencial de risco do produto, isto é: “A gestão de riscos
assume que se os consumidores tornarem co-criadores de valor, eles demandarão mais
informação sobre o potencial de risco de produtos e serviços; mas eles também devem arcar com
maior responsabilidade para lidar com estes riscos” [5]. A Transparência é necessária para que o
processo de interação ocorra efetivamente como uma busca intencional de co-criação.

A co-criação permite a inovação de valor, tal como preconizam Kim e Mauborgne [3] e a nova
curva de valor emerge da intersecção entre dois âmbitos: o da co-criação e o da experiência tal
como se visualiza na figura 3.

Co-criação

Inovação de
valor

Experiência

Figura 3: Inovação de valor

Co-criação no projeto BEL-i9 95


Trata-se de desenvolver processos de interação, que propiciem e potencializem a co-criação,
tendo como base as experiências próprias em cada interação. As experiências são diferentes dos
produtos, porquanto envolvem questões cognitivas e afetivas do indivíduo em relação ao conteúdo
que provoca o processo de co-criação. O conceito de inovação de valor, diferente da inovação
tecnológica, é aquela em que se produz um maior valor fornecido aos clientes com diminuição de
custos. A inovação de valor se dá com uma nova curva de atributos fornecidos que geram utilidade
excepcional a baixos custos [3].

A figura 4 ilustra os dois movimentos, o da diminuição dos custos e do valor para o consumidor.

Figura 4: Inovação de valor [3]

De acordo com Gutiérrez (2009) há uma evolução do conceito de co-criação quanto o tipo de
aprendizagem que propicia o ambiente de troca de experiências, a saber:

• Primeira geração: refere-se às sensações que os consumidores experimentam.

• Segunda geração: aplicação da metodologia DART de modo que o valor não seja criado
dentro da empresa, mas na relação com o indivíduo.

• Terceira geração: o valor é criado na relação entre os indivíduos.

A figura 5 mostra o aumento do fornecimento de valor na evolução dos tipos de aprendizagens


provocadas, constatando a tendência à potencialização da interação entre indivíduos.

96 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Figura 5: Evolução do conceito de experiência [11]

Com relação às práticas de terceira geração de aprendizagem estão as comunidades virtuais que
surgem espontaneamente por interesse comuns. Emergem das trocas de experiências nestes
grupos informações valiosas sobre produtos, serviços, lugares turísticos e modos sobre como
assimilar ou dar andamento a determinados tratamentos médicos, entre tantos exemplos que se
poderiam citar.

5 Aplicações

5.1 Nike

A Nike durante a copa do mundo de 2006 desenvolveu um site interativo, o joga.com, e convidou
os que se interessassem a assistir os melhores lances dos jogos, a fazer upload de vídeos e
outras iniciativas. Mais de um milhão de fãs, do mundo inteiro, participaram desta iniciativa,
reforçando assim a marca da Nike. De qualquer forma a iniciativa não se restringiu ao enfoque
puramente de marketing:
A Nike comprometeu-se com competições futebolísticas, criou um web site que
conectou os jogadores de futebol profissional com seus fãs, e também se comprometeu
com programas convencionais marketing pela Internet. Um vídeo de Ronaldinho foi
“baixado” mais de 32 milhões de vezes. Além do mais, no website “Nike ID” a empresa
convidou vinte fornecedores de tênis para competir no projeto de um novo tênis pra a
Nike. A empresa estruturou a competição como se fosse um reality show
e então perguntou à Comunidade da Nike via Internet sobre o melhor design. Além
desses designs e do novo projeto da Nike para a temporada, os fãs podiam ir ao site
Nike ID personalizar seus próprios tênis em vários estilos e cores, e pondo as
bandeiras dos países que queriam em seus tênis. A Nike forneceu as ferramentas de
software para os times locais e para as ligas profissionais, para codesenhar e
personalizar o tênis de futebol [10],

Co-criação no projeto BEL-i9 97


Vê-se que esta aplicação permitiu que a Nike conectasse com milhões de pessoas no mundo
inteiro e conseguiu a adesão do público através da plataforma disponibilizada para esta aplicação
de co-criação. A condução desta nova abordagem foi um grande desafio, pois a Nike seguia o
paradigma da inovação centrada somente na empresa. “A empresa reconheceu logo que a
competição para obter vantagens no mercado de tênis tinha se deslocado para a criação de valor
através de experiências” [10].

5.2 Medtronic

A Medtronic foi a empresa que desenvolveu o marca-passo e tem como missão institucional
promover a qualidade de vida e a longevidade dos que usam os seus produtos. Para contextualizar
a questão imagine um paciente, com problemas cardíacos, que implantou um marca-passo, e
tivesse a possibilidade de monitorar à distancia o seu ritmo cárdico, e pudesse interagir on-line
com seus médicos para saber como deveria proceder nas possíveis intercorrências de saúde. O
seu conforto psicológico aumentaria pelo fato de se permitir o monitoramento on-line e a interação
com seu médico e, se fosse o caso, com algum outro médico que tivesse que intervir em caso de
urgência. Pode-se pensar também noutro cenário, como o caso de viagem do paciente, tornando a
questão mais complexa. O paciente, para ser bem orientado, teria que saber dos hospitais mais
próximos e os médicos teriam que ter acesso a seu histórico clínico. Como instrumento de co-
criação Ramaswamy [4] exemplifica que:
(A Medtronic) desenvolveu um sistema de visitas em “consultório virtual” que permitiu
aos médicos a verificação pela Internet do estado dos pacientes que têm implantados
aparelhos. Os dados são obtidos por antena são “baixados” pelo monitor e transmitidos
por linha de telefone padrão para a Medtronic CareLink Network. Num website
dedicado e seguro, os médicos podem rever os dados do paciente e estes podem
verificar sobre as suas condições – e ninguém mais- e dispõem de acesso os familiares
e responsáveis pelos pacientes [4].

Este sistema de monitoração e conexão dos vários atores permitiu a co-criação de valor centrada
na experiência vital do paciente. A “interação com o médico, com a família, e com a empresa, em
uma situação de atendimento fora da cidade, afeta totalmente a qualidade da experiência do
paciente” [4]. A criação do ambiente de interação de experiências, neste caso sobre como lidar
com a doença, propiciaram avanços em satisfação das necessidades e melhores resultados para
todas as partes.

6 Conclusão

O processo de co-criação permite uma inesgotável fonte de interações para a criação de valor de
1ª, 2ª ou 3ª geração. Além das comunidades externas à empresa, todos os setores internos podem
participar do plano de interação, como os departamentos de pesquisa e desenvolvimento, de
desenvolvimento de produtos e serviços, de marketing e comunicação, de suporte ao consumidor,
de manufatura, de tecnologia de informação e de recursos humanos. Também se pode estender o
ambiente de experiência para os integrantes da empresa em questões tais como: avaliação de
desempenho, recrutamento e seleção, benefícios, treinamento e desenvolvimento, gestão de
desempenho e gestão de talentos. As aplicações são inúmeras e a literatura sobre o tema começa
a apresentar os resultados das aplicações em diversos campos de negócio e atividades formativas

98 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


e educacionais. O interesse das empresas na co-criação tem aumentado, por estarem desejosas
de assumir os desafios impostos pela maior participação do público atual, cada vez mais bem
informado, com mais recursos, na construção do conhecimento e mais interessado na valorização
das suas experiências.

A co-criação permite compreender que, além da forma tradicional de geração de valor para os
clientes, somente centrada na cadeia de valor interna da organização, há outra forma, que conta
com a colaboração criativa e empreendedora dos clientes e outros grupos de interesse. A co-
criação é um fenômeno exigido pelo comportamento dos indivíduos que atualmente têm maior
acesso às informações e é potenciado pelas tecnologias e redes de informação, sendo, portanto,
adequada ao ambiente da incubadora BEL-i9.

7 Referências
[1] PRAHALAD, C. K.; RAMASWAMY, Venkat. O Futuro da Competição: como desenvolver diferenciais
inovadores em parceria com os clientes. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 253.

[2] NONAKA, Ikuhiro , TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro:
Campus, 1997.

[3] KIM, W. CHAN, MAUBORGNE, RENEE, A Estratégia do Oceano Azul. Ed. Rio de Janeiro Campus.
2005.

[4] RAMASWAMY, Venkat. Co-creating Experiences of Value with Customers. SETLabs Briefigs, Vol 5 N.
4 oct-dec. 2007, p. 54 e 58.

[5] RAMASWAMY, Venkat. Co-creating Experiences with Customers: New Paradigm of Value
Creation.The TMC Journal of Management. Julho 2005 obtido no sítio
<http://www.eccvenkat.com/1._Experience_Co-Creation__-_VR.pdf> em 1.12.2009, p. 7 e 10.

[6] MARINA, Jose .Antonio. Teoria de la inteligencia creadora. 2. ed. Barcelona: Ed. Anagrama, 2001.

[7] SERTEK, Paulo e ASINELI-LUZ, Araci, Comunidade de prática de pesquisa em educação: abordagem
para a formação de professores. In: Anped Sul Curitiba. 2006.

[8] SERTEK, Paulo e REIS, Dalcio. Gestão de Mudanças e Comportamento Ético. Revista Inteligência
Empresarial, Rio de janeiro, v. 07/02, n. 12, p. 39-47, 2002.

[9] PRAHALAD, C. K.; RAMASWAMY, Venkat. The New Frontier of Experience Innovation. MITSloam
Management Review. Summer 2003, VOL, 44 No 4, p.14.

[10] RAMASWAMY, Venkat. Co-creating value through customers’ experiences: the Nike case.
STRATEGY & LEADERSHIP, Vol 38, pp 9-14, 2008, p.10.

[11] GUTIERREZ,Carlos. Gerencia del Servicio, Universidad de La Sabana, Apresentación del Curso de
Gerencia de Servicio. 2009. Obtido no sítio
<http://sabanet.unisabana.edu.co/postgrados/gerencia_comercial/merc_comexterior/Ciclo_III/gs_nia
mpira/UNISABANA%20EGC%20GERENCIA%20DEL%20SERVICIO%2015102008%2003.pdf>Cons
ulta em 1.12.2009.

Co-criação no projeto BEL-i9 99


11
Proposta de escopo de atividades
de gestão do projeto BEL-i9 da
COPEL
1
Marilda Medeiros Packer
2
Felipe Grando Sória

CITS – Centro Internacional de Tecnologia de Software


1
marilda.packer@cits.br
2
felipe.soria@cits.br

1 Introdução

O propósito desse capítulo é apresentar resumidamente o escopo das atividades a serem


desenvolvidas pelo CITS de forma a contribuir na gestão do projeto BEL-i9.

Para tanto será apresentado um breve resumo sobre a instituição e a sugestão das atividades a
serem desempenhadas.

2 Resumo executivo do CITS

No começo da década de 90, um grupo de empresários e instituições percebeu que junto com a
sociedade da informação surgiam no mercado de TI novas potencialidades. Ao se organizarem,
encontraram apoio em empresas privadas, instituições acadêmicas e órgãos governamentais. Hoje
são mais de 30 associados. Este modelo de atuação está alinhado com a Política de Inovação do
Governo Federal que objetiva uma maior cooperação entre os segmentos.

1
Marilda Medeiros Packer é formada em Administração de Empresas pela FAFI e Especialização em Finanças pela FAE.
Mestranda em Engenharia de Produção pela UFSC com ênfase em Controladoria. Atualmente é Coordenadora Executiva de
Operações do Centro Internacional de Tecnologia de Software. Tem mais de 10 anos de experiência em direção de empresas,
atuando nas áreas de Gestão, Finanças, Processos Organizacionais e Gestão de Projetos Complexos.
2
Felipe Grando Sória possui Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas e Graduação em Engenharia de Computação
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atualmente é Assessor de Processos Organizacionais e Estratégia da
Coordenadoria Executiva do Centro Internacional de Tecnologia de Software. Tem experiência na área de Ciência da
Computação, com ênfase em Engenharia de Software, atuando principalmente nos seguintes temas: Implantação do CMMI e
MPS.BR, Modelos de qualidade, Tecnologia da informação, Gestão de Projetos Estratégicos, Processos e Estratégia
Organizacional.

Proposta de escopo de atividades de gestão do projeto BEL-i9 da COPEL 101


Dessa forma surgiu o CITS – Centro Internacional de Tecnologia de Software – instituto de
pesquisa, desenvolvimento e inovação (ICT privada) em TI que busca alavancar a competitividade
local através de soluções que atendam às demandas globais.

3 Serviços

O CITS desenvolveu um processo de trabalho próprio com base em sua sólida experiência de
projetos. Esse diferencial permite total controle das fases, sendo que dessa forma as necessidades
do cliente são atendidas com exatidão pelos nossos projetos.

• Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento de Software, Hardware e Firmware.

• Execução e gestão de projetos (fomentados ou não pela Lei de Informática).

• Ensaios e Testes de Compatibilidade Eletromagnética.

• Ensaios e Testes Metalográficos.

• Capacitação de empresas e profissionais.

• Difusão do conhecimento tecnológico;.

• Gestão dos recursos de fomento (FINEP, CNPQ, Lei de Informática, etc).

• Implantação de melhoria de processos de software: CMMI, MPS.BR, Systematic Reuse e


Software Factory, IT Mark, entre outros modelos e metodologias, em projetos cooperados
e específicos.

• Gestão da Inovação em parceria com a I2M: InovaXpress, SyncFolio, Avaliação de


Tecnologias e Gestão da Inovação, Gestão de Portfólio de Inovações.

São mais de 400 projetos, a grande maioria fomentada pela Lei de Informática, nas áreas de:
Saúde, Firmware, Aeronáutica, Previdência, Gestão de Projetos e Gestão Pública. No seu portfólio
de clientes encontram-se nomes como Bematech, Furukawa, HP – Hewlett-Packard, Positivo
Informática, Siemens Enterprise, Nokia, Intelbras, Landis+Gyr, Nokia Siemens, entre outros.

Segundo relatório publicado pelo MCT/CATI em julho/2009, o CITS é a quarta Instituição de


Ciência de Tecnologia Privada (ICT) que mais aplica recursos da Lei de Informática em todo Brasil,
num universo de mais de 100 instituições credenciadas pelo CATI.

No setor de Gestão Pública pode-se destacar projetos de grande complexidade e tamanho, como
é o caso dos seguintes:

• GPrev: projeto que durou quase três anos e envolveu o desenvolvimento do sistema de
controle e gestão previdenciário do Estado do Paraná, com participação de mais de 100
profissionais do CITS dedicados a desenvolver tal solução para a Paraná Previdência e
100% gerenciado pela equipe do CITS.

102 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• FIPLAN: projeto que durou mais de dois anos e envolveu o desenvolvimento do sistema
de planejamento e realização orçamentário do Estado do Mato Grosso, com participação
de mais de 70 profissionais CITS e de outros parceiros locais dedicados a desenvolver tal
solução para a Secretaria da Fazenda do Estado do Mato Grosso e 100% gerenciado
pela equipe do CITS.

4 Prêmios

• 1º Lugar Nacional Prêmio FINEP de Inovação 2008 – Categoria Instituição de Ciência e


Tecnologia – FINEP.

• 1º Lugar Regional Prêmio FINEP de Inovação 2008 – Categoria Instituição de Ciência e


Tecnologia – FINEP.

• 2º Lugar Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica 2006 – Categoria Instituição de Ciência


e Tecnologia Regional – FINEP.

• Troféu Expressão de Excelência Tecnológica 2005 – FINEP.

• 3º Lugar Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica 2004 – Categoria Instituição de


Pesquisa e Desenvolvimento – FINEP.

5 Certificação / Qualificação da equipe

CMMI Nível 3 – Fornecida pelo SEI (Software Engineering Institute – EUA) em 2009;

A expertise em gestão de projeto que o CITS possui é atestada por manter, na equipe, Gerente de
Projetos com certificação PMI, CMMI e MPS.BR.

Mais de 80% dos colaboradores CITS têm curso superior, sendo que 30% são pós-graduados;

6 Descrição do escopo

Para descrever o escopo das atividades que pretende-se desenvolver, foram extraídas duas frases
do livro do projeto BEL [1] que sintetizam, na visão do CITS, a essência do projeto BEL-i9:

“Estabelecimento de parcerias estratégicas...” (Marcos Pessoa).

“BEL – propiciar uma nova experiência para os seus clientes, onde eles passem a perceber valor
nas aplicações que venham a consumir...” (Aloivo Guerra Jr. e Márcio Miguel).

Tais enunciados provenientes do projeto maior levam a compreender a necessidade da COPEL


em investir nesta ação complementar, para garantir a sustentabilidade do projeto, pelo fato de
concentrar seus esforços no desenvolvimento de conteúdo e tecnologia para estimular a utilização
da rede de Banda Extra Larga pelos seus clientes, corporativos ou não, gerando tráfego
permanente, diminuindo assim o risco de uma possível ociosidade do sistema, risco muito comum
em instalações desta magnitude. Outro fato relevante é a estratégia da COPEL em realizar tais

Proposta de escopo de atividades de gestão do projeto BEL-i9 da COPEL 103


atividades por meio de parcerias, desenvolvendo e estimulando novos empreendimentos de base
tecnológica por meio do estabelecimento de incubadoras distribuídas pelo Paraná.

6.1 Atividades do projeto

A estratégia para o desenvolvimento do projeto com sucesso, inicia-se pelo planejamento do


mesmo, onde o escopo deverá ser definido por meio de um WBS (work breakdown structure) e a
partir deste ponto as ações/atividades de execução do mesmo.

Para tanto, sugerem-se algumas atividades/produtos que deverão ser gerados durante o
planejamento e monitoramento do projeto:

• Definir uma WBS.

• Definir os stakeholders do projeto (áreas da COPEL, CITS, FINEP e demais parceiros) e


suas respectivas responsabilidades.

• Definir um cronograma dos marcos e principais atividades do projeto.

• Levantar e mensurar dos riscos do projeto.

• Definir o processo de monitoramento do projeto.

• Definir o orçamento do projeto.

• Definir o Plano do Projeto.

• Definir critérios de seleção das tecnologias e conteúdos a serem desenvolvidos.

• Definir critérios para seleção das empresas/projetos a serem incubados.

• Definir locais das incubadoras.

• Definir infraestrutura para o projeto.

• Desenvolver um Programa de Capacitação Tecnológica e Gerencial da Empresas


Incubadas, baseada nas melhores práticas de mercado.

• Desenvolver a capacidade inovadora das empresas incubadas para sustentabilidade e


fornecimento de tecnologias e conteúdos inovadores de maneira contínua.

• Desenvolver o empreendedorismo das empresas.

Além das atividades de preparação e planejamento, o CITS se propõe ser responsável ainda pelas
atividades de:

• Monitoramento e Controle do Projeto.

• Aplicação de Metodologia e Indicadores.

104 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Apoio tecnológico e capacitação (educação continuada e consultoria) para as empresas
incubadas.

• Contratação e gestão dos fornecedores (consultores, entre outros).

• Prestação de contas para FINEP e outros órgãos necessários.

• Comunicação e divulgação do andamento e resultados do projeto.

• Prestação de contas periódica para a COPEL Telecomunicações.

• Gestão dos convênios com as instituições parceiras (stakeholders).

Tais atividades são propostas para a participação ativa do CITS no gerenciamento do projeto BEL-
i9. Lembrando sempre que estas deverão ser refinadas e discutidas com a comissão do projeto,
liderada pela COPEL Telecomunicações.

7 Referência
[1] PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada
estrategicamente, em equipe. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2009. 207pp.

Proposta de escopo de atividades de gestão do projeto BEL-i9 da COPEL 105


12
Reflexões sobre estratégias para a
obtenção de financiamento para o
BEL-i9
1
Yára Christina Eisenbach

COPEL – Companhia Paranaense de Energia


yara.eisenbach@copel.com

1 Introdução

A COPEL Telecomunicações, de maneira pioneira e criativa, propõe a viabilização de incubadora


de novos negócios, através do fomento à inovação tecnológica e ao empreendedorismo inovador,
no âmbito do Projeto BEL.

Tem por objetivo selecionar projetos que visem contribuir significativamente para o
desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do Estado do Paraná, dotando jovens
empreendedores de condições de transformar ideias inovadoras em produtos para a rápida
absorção pela indústria, pelo comércio e pela própria COPEL. Tais propostas seriam consideradas
aptas a receber apoios financeiros, técnicos, jurídicos e administrativos, por um período
determinado, de forma a estabelecer uma consciência empresarial e simplificar as cargas
administrativas associadas à criação de novos negócios.

1
Yára Christina Eisenbach é graduada pela Faculdade de Direito da PUCPR, tendo realizado estágio em Direito Penal na
Université de Paris – Sorbonne, pós-graduada em Administração de Empresas pela FAE-PR com ênfase em Planejamento
Empresarial, especialização em Licitações e Contratos Administrativos pela CELC-SP e especialização em Procurement pelo
Banco Mundial. Foi consultora de licitações na Coordenadoria de Análise de Licitações da Secretaria Especial de Ouvidoria
Geral do Estado do Paraná. Consultora do Banco Mundial para projetos na América Latina e Caribe. Consultora do Banco
Mundial para o Projeto de Saneamento da Bolívia. Consultora Jurídica para projetos em desenvolvimento e execução no
Estado do Paraná, com financiamentos externos - Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e Japan Bank for International Cooperation –JBIC. Consultora do Banco Mundial -
BIRD para o Programa de Treinamento e Disseminação de Procedimentos Licitatórios. Consultora do Projeto PRODESAM –
Governo do Espírito Santo, nas áreas de planejamento, gestão e procurement. Consultora na área de Captação de Recursos
Externos de Ministérios e de Estados Brasileiros, para projetos governamentais, junto a organismos de crédito internacionais.
Consultora de Agências Internacionais da ONU, tais como: UNESCO, PNUD e IICA. Coordenadora Geral do Centro de
Coordenação de Programas do Governo do Estado do Paraná – 1995/2002. Secretária de Estado do Planejamento e
Coordenação Geral – Governo do Estado do Paraná. Presidente da URBS – Urbanização de Curitiba S.A. – Prefeitura
Municipal de Curitiba. Diretora Regional da Associação Nacional de Transporte Público e Trânsito – ANTP. Na COPEL, já
exerceu diferentes cargos gerenciais, onde atualmente ocupa a posição de Analista Consultor, com lotação na Ouvidoria da
empresa.

Reflexões sobre estratégias para a obtenção de financiamento para o BEL-i9 107


Neste capítulo procura-se refletir acerca das implicações socioeconômicas deste tipo de auto-
emprego e estimar seu mérito não como mecanismo de combate ao desemprego, mas sim, como
mola propulsora do desenvolvimento de pessoas e de produtos e serviços tecnológicos de ponta,
parte integrante de um menu de políticas geradoras de emprego.

Ao se analisar os resultados de programas de apoio ao jovem empreendedor já implementados no


país e em países industrializados da Europa, da América do Norte e da África, pode-se concluir
que os pontos fracos desses outros programas foram afastados na proposta do Projeto BEL-i9, ao
tempo em que os aspectos considerados como pontos fortes foram assimilados no que competia e
acrescidos de variantes apropriadas para dotar o projeto do conceito de sustentabilidade financeira
tão requerido por organismos de crédito nacionais e internacionais.

Os objetivos deste programa parecem estar em absoluta consonância com a Recomendação da


ONU que ao mesmo tempo em que propugnam pela necessidade de geração de milhares de
novos empregos em países subdesenvolvidos e em países em desenvolvimento, afastam a
possibilidade dos governos desses países proporcionarem a criação e a manutenção de novos
postos de trabalho permanentes. Portanto, a dita Recomendação da ONU orienta no sentido de
que esforços sejam direcionados com a finalidade de gerar o auto-emprego e a capacidade
gerencial.

O PNUD, conceituada Agência da ONU, recentemente financiou um programa destinado a doze


países africanos, tendo aportado recursos da ordem de US$ 1,5 milhões para Cabo Verde, em um
projeto enquadrado no âmbito do programa denominado Programa Regional Emprego Jovem e
Coesão Social, a ser implementado em dois anos.

Nesta mesma direção, programas instituídos pelo Governo Federal do Brasil canalizam seus
apoios, inclusive financeiros, através de bancos oficiais, para universitários recém formados. Neste
caso, o fraco desempenho desses programas pode ser creditado a três motivos principais: (i) o
inexpressivo limite máximo de recursos estipulado pelos programas para apoio financeiro ao recém
formado; (ii) a falta de acompanhamento técnico na aplicação dos recursos; e, (iii) a ausência de
parcerias com a academia, com a indústria e com a iniciativa privada.

Outras iniciativas ainda surgiram de forma esparsa em estados brasileiros, em cooperação com
entidades de ensino superior, e mesmo assim nenhuma delas pôde ser considerada como modelar
para que fosse replicada de forma exitosa. Tratam-se de programas de geração do auto-emprego
e de outros que consistiam em introduzir na grade curricular de determinada universidade a
disciplina de gestão de novos empreendimentos. Desta vez, pode-se creditar a baixa performance
a dois aspectos fundamentais: (i) a ausência de recursos financeiros para o apoio às iniciativas; e,
(ii) a dissociação do projeto das necessidades da indústria.

Assim, projetos que pretendam o desenvolvimento tecnológico divorciado do desenvolvimento


educacional e do foco no mercado estão fadados ao insucesso e ao baixo desempenho.

A reengenharia de empresas sólidas e tradicionais como a COPEL, quando em busca do


desenvolvimento da competitividade através do fomento à inovação tecnológica, além de
demonstrarem responsabilidade social, comprometimento com o desenvolvimento de capacidades
locais e oportunidades ao jovem empreendedor, ainda buscam o estabelecimento de novos

108 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


negócios para a própria Companhia, contribuindo assim para o aumento de sua inserção em novos
e promissores mercados e com o crescimento de sua lucratividade.

O Projeto BEL-i9 já nasce vencedor, quando vinculado a “grife” COPEL, marca consolidada e
conceituada mesmo fora dos limites político-administrativos do Estado do Paraná. Ademais disso
está concebido atrelando parcerias com as mais renomadas instituições de ensino superior por um
lado e, por outro, com a Federação das Indústrias do Estado do Paraná - FIEP.

Bem por isso, as futuras incubadas do Projeto BEL-i9 abrigarão propostas viáveis, com
possibilidades de rápida absorção pelas indústrias parceiras e em especial pela COPEL. Outro
aspecto que importa destacar é que a recuperação dos investimentos iniciais se dará pela
participação da COPEL Telecomunicações nos novos negócios apoiados. Sob o ponto de vista dos
organismos internacionais de crédito e das demais entidades financiadoras de projetos é um dos
principais aspectos no que diz respeito ao cálculo da taxa interna de retorno dos investimentos.

Pode-se afirmar que no mercado internacional recursos financeiros existem em abundância, com
prazos de carência adequados, prazos de amortização alongados e custos financeiros atrativos, o
que se registra é a falta de bons projetos a serem apoiados, a exemplo do BEL-i9.

Um basta aos trabalhos acadêmicos superlotando as bibliotecas das universidades sendo


totalmente desconhecidos pela indústria e pelo mercado em geral; um basta aos programas
medíocres que são avaros na disponibilização de recursos com o intuito de atender a maior
quantidade possível; um basta aos projetos paternalistas que ao invés de buscar a independência
do apoiado pretendem mantê-lo sob a dependência estatal com fins políticos e eleitorais;
finalmente, um basta a um país de assalariados. Por outro lado, aplausos a programas que
transformem iniciativas em empresas produtivas, que gerem empregos e renda ao nosso povo
paranaense, como se propõe no Projeto BEL-i9.

2 Referências
[1] FRISCHTAK, Claudio R. - Emprego e pequena empresa. In: VELLOSO, João P. dos Reis. O Real e o
futuro da economia. São Paulo: José Olympio, 1995. 234-46p.

[2] ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT(OECD). OECD in Figures:


statistic on the member countries. Paris, 1997.

[3] EVANS, David S., LEIGHTON, Linda. Some empirical aspects of entrepreneurship. The American
Economic Review, v. 79, n. 3, p. 519-35, 1989.

[4] ONU - (PNUD e outras Agências).

[5] The World Bank Group.

Reflexões sobre estratégias para a obtenção de financiamento para o BEL-i9 109


13
A gestão da incubadora BEL-i9
com base na visão antropológica
da formação do ser
1
Paulo Roberto Luccas

Consultoria FOCUS
paulo.luccas@consultoriafocus.com.br

1 Introdução

Desde que o homem decidiu deixar o fundo de uma caverna onde habitava de costas para o
mundo e para a verdade, tomou consciência de que havia algo além das sombras projetadas por
um raio de luz. Percebeu que também ele tinha luz própria e podia empreender, criar e inovar. Sua
curiosidade – base de toda ciência – o levou a vencer o medo, a superar a limitação do ambiente,
a transformar com disposição racional o mundo em que habitava.

O racionalismo socrático, que foi um marco na história da humanidade, inspirou o homem a livrar-
se do condicionamento dos mitos e limitações que ele próprio se impunha. A história evoluiu, a
ciência progrediu, a natureza foi submetida, mas os condicionamentos ainda continuam
aprisionando o homem em seu ambiente de trabalho.

A visão materialista dos mercados, o condicionamento mecanicista dos processos, o desrespeito á


sustentabilidade ambiental, a degradação do tecido social, a crise em instituições fundamentais
como a da família, e, particularmente do trabalho, levam a acreditar que só o racionalismo
produtivo não será suficiente para emancipar o homem em seu destino de submeter e transformar
o mundo. Este é o desafio que se impõe a todas as empresas que têm como modelo de negócios
o serviço à comunidade e a longevidade de suas atividades.

2 O desafio empreendedor inovador

A inovação tecnológica é uma fronteira que não pode ser desprezada por qualquer empresa que
pretenda manter-se viva no mercado. Mas seria um equívoco imaginar que bastam os
investimentos em capitais físicos e tecnológicos para alcançar tal avanço. “Empresas de base
tecnológica podem perder rapidamente a sua competitividade se priorizarem os seus aspectos

1
Paulo Roberto Luccas é Economista (UFPR), com Pós-graduação em Estratégia Econômica de Empresas (FAE/CDE); Pós-
graduação em Desenvolvimento Humano e Familiar (Universidad de La Sabana, Colômbia). Foi Gerente da Caixa Econômica
Federal por 15 anos; Consultor e Superintendente do Instituto de Ensino e Fomento-IEF por 5 anos. Atualmente é Consultor e
Diretor da Focus Consulting, atividade que exerce há 5 anos.

A gestão da incubadora BEL-i9 com base na visão antropológica da formação do ser 111
técnicos e operacionais, em detrimento da geração de novos negócios que as inovações
tecnológicas permitem” [1].

A geração de novos negócios a que se refere Henderson, obviamente não pode limitar-se a um
departamento ou grupo de pessoas de uma empresa, devendo ser uma característica fundamental
que domina a mentalidade empreendedora de toda a organização. Não é possível criar e inovar
sem a disposição e a competência de empreender. O grande desafio que se apresenta com o
projeto BEL-i9, portanto, não é a produção de novas tecnologias, mas a geração de uma cultura
empreendedora da inovação.

A capacidade de empreender e inovar deve estar presente em cada elo da incubadora proposta,
permeando cada processo, cada atividade, cada decisão. Isto só será possível mediante a adesão
e disposição de cada profissional que dela participar, em abrir-se ao novo sem perder os princípios
que regem a conduta da pessoa e da própria organização. A inovação tecnológica se conquista na
margem, mas se sustenta no fundamento. Se um princípio for negociado por razão de
conveniência, todo o processo será comprometido pela quebra da confiança, e o resultado pode
ser desastroso. Se estes fatores de equilíbrio forem conjugados em harmonia, criar-se-á uma
cultura de identidade que influenciará tanto os processos produtivos e seus resultados como as
relações inter-pessoais dentro e fora da nova empresa, assegurando a ela um contexto de sintonia
com o entorno onde atuará.

3 O investimento na pessoa

O fator humano é o único que cria valor e sustenta princípios. No entanto, o próprio homem parece
desconhecer esta sua importância no processo produtivo. Condicionado por séculos de um
mecanicismo opressor, acostumou-se a executar tarefas, a transferir responsabilidades, a esperar
que lhe digam o que fazer. O profissional moderno precisa ser resgatado naquilo que é a essência
do trabalho, uma atividade que por excelência atualiza as potências que realizam o ser. Esta
primeira década do século XXI reúne condições raras de emancipação da atividade laboral e da
própria condição humana; no entanto, este esforço será infrutífero se solitário, sendo preciso um
esforço coletivo para que o bem seja comum.

Daqui a algumas centenas de anos, quando a história do nosso tempo estiver


sendo escrita com a perspectiva de um distanciamento maior, muito
provavelmente o mais importante evento que os historiadores verão não será a
tecnologia, nem a Internet, nem o comércio eletrônico. Será a mudança sem
precedentes ocorrida na condição humana. Pela primeira vez, literalmente pela
primeira vez, um número substancial e crescente de pessoas tem a possibilidade
de fazer escolhas. Pela primeira vez, as pessoas terão de administrar a si
próprias. E é preciso que se diga uma coisa: elas estão totalmente
despreparadas para isso [2].

O desafio empreendedor inovador é caracterizado pela possibilidade de escolha e não pode ser
imposto como norma pela incubadora. E como afirma Drucker, as pessoas estão totalmente
despreparadas para esta possibilidade de escolha. A busca pela liberdade é uma aspiração antiga
do homem, está na sua gênese, mas princípios utilitaristas atrofiaram essa disposição de

112 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


crescimento, e o profissional se vê hoje cerceado pelas inúmeras amarras que lhe são impostas e
por seu próprio subdesenvolvimento ontológico e antropológico.

Caberá à incubadora BEL-i9 complementar a formação de seus incubados, ou ao menos fazê-los


despertar para a possibilidade de cada um deles desenvolver-se como ser. A formação ética, o
desenvolvimento das virtudes, o conhecimento da gestão e o exercício da cidadania são aspectos
que numa primeira consideração podem parecer alheios ao ambiente da incubadora, certamente
caracterizado pelos resultados e negócios, mas que se revelam vitais quando vistos sob a ótica da
longevidade das empresas que serão formadas e da realização humana. Não pode sustentar-se
por muito tempo um negócio ou uma carreira que não conte com bons fundamentos.

A visão imediatista de curto prazo é, na verdade, o grande equívoco que se comete com a
educação de uma forma geral. Por se tratar de um bem de investimento intangível e de longo
prazo, a educação costuma ser preterida aos objetivos tangíveis de curto prazo. Se a pretensão
para a nova empresa é empreender e inovar de forma sustentável, cabe a ela pensar em novas
formas de investimento que lhe permitam construir uma cultura de identidade, mantendo-se firme
na rota das diretrizes traçadas.

Um primeiro passo desse esforço educativo é a incubadora oferecer ao profissional a oportunidade


de refletir sobre a possibilidade de melhoria, ou ao menos tornar-lhe evidente a necessidade de
mudança. Este esforço educativo deve levá-lo a refletir sobre aspectos que já influenciam sua
atividade laboral ainda que não o perceba. São aspectos como:

• Pensar na mudança como regra e na inovação como processo.

• Perceber, antecipar e, se possível, propor a mudança.

• Pensar mais na produtividade do que na produção.

• Pensar mais no trabalho do que no emprego.

• Trabalhar mais com qualidade do que com quantidade.

• Focar mais as pessoas do que os processos.

• Abrir-se ao aprendizado com humildade e fortaleza.

• Praticar a justiça e descobrir-se no outro.

• Ter em conta o bem comum antes que o individual.

• Ter um coração generoso e uma alma grande.

4 A responsabilidade da gestão no contexto da incubadora

Estes aspectos devem estar orientados mais pela oportunidade de desenvolvimento pessoal do
que pela ameaça ou exigência do mercado. Esta orientação positiva é de responsabilidade do
gestor, que além das funções gerenciais de praxe deve cada vez mais assumir sua missão de

A gestão da incubadora BEL-i9 com base na visão antropológica da formação do ser 113
liderança servidora, tendo como maior competência sua atitude educadora. Cabe ao gestor dar o
sentido ao trabalho vinculando o esforço produtivo ao conceito da obra bem feita: A obra bem feita
resume em si mesma as possibilidades de encontrar efetivamente a alegria no trabalho [3]. Só
pode oferecer alegria o trabalho que enseja algo de si, que transforma o sujeito além do objeto.
Sem este componente de transformação pessoal, o trabalho é executor e escravizante.

Como a pessoa é uma realidade aberta para o que a rodeia e, conseqüentemente, qualquer
elemento pessoal tem uma relação com o ambiente, o próprio trabalho é uma atividade que
poderíamos chamar de exteriorizante, isto é, que exige a projeção do sujeito em direção ao mundo
exterior [4]. Esta atitude de abertura ao outro encontra no trabalho a atividade por excelência de
atualização das competências já presentes na pessoa e que precisam ser desenvolvidas. Mais que
um castigo, portanto, o trabalho é uma atividade libertadora que faz crescer o homem
aproximando-o do seu fim último, desempenhando assim um caráter de missão.

Não pode ser utopia pensar em alegria no trabalho, porque não cria nem inova quem executa uma
tarefa com a ânsia de livrar-se do que faz. Se a empresa incubada deve ir além dos processos e
dos produtos, também o seu profissional deve ir além de cumprir metas e executar tarefas. Esta é
a verdadeira inovação que pede o mercado: o trabalho bem feito, a obra bem acabada, o serviço
prestativo que vai além das expectativas, o relacionamento integrador. Todos estes aspectos
correspondem a um mesmo indicador de qualidade: a alegria do que se faz e de como se faz
tendo em conta para quem se faz. O trabalho é algo que se faz dirigido a alguém, e é este alguém
que dá sentido ao que se faz.

É também papel do gestor em seu esforço educativo provocar os que dele dependem, gerar crises
controladas para que o profissional possa administrá-la antes de ter que sofrê-la por acomodação.
Segundo Perez Lopez, “Toda crise é sempre dolorosa, mas necessária para se evitar a
acomodação que pode ser fatal” [5]. Deixar as coisas como estão, ou pior ainda, beneficiar-se de
posições conquistadas é uma atitude mesquinha de curto prazo que prejudica tanto a empresa
como aqueles que dela dependem. O pior da crise não está no sacrifício que ela impõe, mas em
não tirar proveito destes sacrifícios para o crescimento daqueles que a suportam.

5 Determinação de união

A gestão da crise administrada visando a criação de uma identidade empreendedora inovadora na


empresa, tem um caráter estratégico que não pode ser submetido aos fatores limitantes da
atividade operacional. Sem a visão clara dos gestores, sem o seu comprometimento e exemplo
pessoal, todo o esforço educativo de mudança é comprometido pelos sulcos pré-existentes que
irão exercer uma força de acomodação que dificulta a mudança proposta. Mesmo que de forma
inconsciente, os velhos padrões e crenças pressionarão as novas formas forçando o retorno à
cultura tradicional.

É preciso evidenciar a necessidade de mudança, oferecer condições de transformação, mas,


sobretudo, fechar as portas para o retorno. É preciso haver uma firme determinação de união para
que o processo de mudança se estabeleça e gere seus frutos duradouros. Um bom exemplo dessa
transformação é a que se passou com a economia japonesa no século passado.

114 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Logo após o término da II Guerra Mundial, o Japão encontrava-se em uma situação extremamente
crítica, tanto econômica como social. Grande parte de sua população economicamente ativa havia
perecido na guerra ou estava mutilada para o trabalho de reconstrução do país. O parque industrial
sistematicamente bombardeado pelos americanos estava totalmente destruído. Uma grande
quantidade de órfãos e pessoas debilitadas perambulavam pelo país à mercê da assistência do
Estado, que naquela altura encontrava-se totalmente desorganizado. O moral e a confiança
estavam completamente abalados pela derrota e pelo fim do sonho expansionista. Se a causa
deste sonho expansionista tinha sido as limitações de recursos naturais e de mercado, o resultado
agora se mostrava ainda mais desolador.

Dois grandes fatos contribuíram para que este quadro não desembocasse no caos: a
determinação do povo japonês em reconstruir a nação, e a “mão estendida” pelos americanos
através do Plano Marshall. Uma força cultural que somada a outra conjuntural, proporcionaram as
condições para um verdadeiro fenômeno de reconstrução. A cultura milenar de auto-disciplina e
determinação foi fundamental para que o povo japonês pudesse usufruir dos benefícios da
transferência de crédito e de tecnologia proporcionados pelo Plano Marshall. Aos valores culturais
se somaram a disposição de vencer e de aproveitar a oportunidade que se oferecia. O resultado foi
além da recuperação econômica e da ocupação de espaço no mercado, sendo que uma nova
base tecnológica surgiu como fruto de uma produção enxuta em que o fator humano se mostrou
essencial.

Esta rápida apreciação do milagre japonês na segunda metade do século XX é de grande


relevância para que se entenda e se considere a necessidade de adoção de novas práticas de
gestão, especialmente para as empresas nascentes incubadas. Não foi a abundância de recursos
naturais, tecnológicos ou financeiros que permitiram tal desempenho, mas justamente o contrário,
foi a consciência da escassez e da oportunidade da mudança quem motivou a união de esforços
para suplantar a crise.

6 O comprometimento com a proposta

A competição gerada nesta primeira década do século XXI em função da globalização, da abertura
de mercados, da socialização tecnológica, do desenvolvimento da logística e das
telecomunicações, expõem todas as empresas e profissionais a um desafio de rompimento com a
acomodação vivida no século XX. A previsibilidade do ambiente estável cedeu lugar ao dinamismo
da era das mudanças, onde a única regra é a própria mudança.

Já não cabem mais os modelos voltados “para dentro”, que baseados apenas na boa vontade e
tino comercial, mostram-se insuficientes diante da concorrência global. A regra é a do
profissionalismo, das parcerias e da corresponsabilidade, não só nas relações externas da
empresa como também nas relações internas. O cliente definitivamente entrou na empresa
exigindo novas soluções e criatividade no produto, nos processos e nas relações produtivas. O
cliente é exigente e se faz presente tanto numa nota fiscal como numa ordem de serviço.

Mas não basta a evolução e o esclarecimento dos conceitos para que eles surtam os efeitos
desejados da produtividade. É indispensável a coerência entre o discurso e a conduta na relação
entre dirigentes e empregados. É da observância desta conduta coerente que depende o
engajamento e a participação de todos os envolvidos no processo produtivo.

A gestão da incubadora BEL-i9 com base na visão antropológica da formação do ser 115
Estimulados pela necessidade de mudança e aplicação de melhores técnicas de gestão, os
dirigentes são chamados a propor a participação de todos os profissionais num processo onde
fique claro o compromisso com a missão, com os objetivos e com os valores da empresa. A
clareza desta comunicação e a fidelidade ao seu cumprimento são vitais para o comprometimento
dos envolvidos.

Esta atitude de transparência estimula o trabalho em equipe e a cooperação entre pessoas e


setores, gerando a tão almejada corresponsabilidade pelo resultado. Para isto os gestores devem
definir formas e procedimentos para que todos tenham igual oportunidade de se engajar ao
processo premiando as lideranças positivas e alertando as negativas para a necessidade de
mudança.

7 O surgimento dos talentos, da motivação e da liderança

Outro fator importante num ambiente de oportunidades é o surgimento tanto de ideias como de
talentos naqueles que se dispõem ao aperfeiçoamento e engajamento a nova causa. É o reino da
motivação intrínseca, onde o profissional percebe o solo rico que se apresenta e se sente
estimulado a produzir mais e melhor pelo benefício de crescimento pessoal e da empresa.

Neste ambiente, a diversidade passa a ser considerada como bem inestimável a ser utilizado pela
equipe numa atitude de cooperação e complementaridade, própria de quem se importa com o bem
alheio. É o reino da motivação transcendente, onde o bem comum redunda em bem pessoal.

Falar como um igual, fazer-se presente, estabelecer o diálogo, discutir com a equipe o
planejamento e as ações, permitir e estimular o contraditório, não inibir a participação. São
algumas atitudes que provocam o empenho e a fidelidade gerando a disposição necessária para
as grandes mudanças. São todas necessárias aos incubados.

Na medida em que esta unidade é proposta e há um esforço por torná-la real e operativa, ou seja,
na medida em que o líder se posiciona, gera nos comandados o compromisso de posicionamento.
O jogo é aberto, as regras são claras, o compromisso é de todos e não há espaço para meias
entregas. Todos são chamados a dar o melhor de si porque sabem pelo que lutam e por quem
lutam.

A implantação de um programa de gestão depende totalmente da ação das


pessoas, assim sendo, três fatores são fundamentais para a educação,
treinamento e mudança de comportamento: motivação, liderança e comunicação.
A prática tem demonstrado que as empresas que desenvolvem e utilizam estes
três fatores são as que obtêm os melhores resultados com programas de
melhoria da qualidade e aumento da produtividade. [6]

A criação da motivação intrínseca e ainda mais a transcendente são essenciais para que os
profissionais se engajem no processo produtivo e desenvolvam suas competências e alcancem o
resultado. A criação deste ambiente propício e fecundo passa pela formação e esclarecimento dos
profissionais.

116 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Mais esclarecido, o profissional se vê como sujeito de direitos, mas também como responsável
pelo seu próprio desenvolvimento. Vê na produtividade não mais uma exploração, mas uma
oportunidade de investir em si mesmo, de tornar-se mais valorizado e considerado na própria
empresa e também no mercado. Vê a oportunidade de crescer como pessoa, como profissional,
fazendo a sua parte no mundo que o rodeia e que dele depende, sobretudo, a família.

8 A formação humana

Este é o ambiente fértil de que precisa a boa semente da formação humana. Um ambiente honesto
e legítimo onde as partes são parceiras de um mesmo objetivo, a melhoria, o crescimento, a
realização. Mais que adestrar e treinar, estas iniciativas devem visar a educação e a formação.

Cabe aqui esclarecer a diferença que vai além de meros conceitos. Para Lorda [7], o homem é um
ser especial, é um ser livre, que muito menos condicionado pelos seus instintos precisa aprender
muitas coisas que os animais conhecem por instinto. É um ser que precisa ser educado para viver
como homem. Se há no homem conhecimentos que podem ser adestrados como o empunhar de
um martelo, há outros que devem ser instruídos como a forma de bater o martelo, e outros ainda
que devem ser educados, como o objeto em que se bate o martelo. Na formação há uma
conotação ética indispensável que dá a razão do agir e compromete a pessoa.

Dentro deste conceito, Corominas [8] distingue três partes na formação da pessoa: a matéria, a
inteligência e a vontade. Cada uma delas se desenvolve por processos diferentes, ainda que todos
interligados, pois formam um único ser indivisível que é a pessoa. A tendência natural da parte
material da pessoa é a satisfação dos sentidos, da inteligência é procurar a verdade, e da vontade
é fazer o bem. Educar uma pessoa é ensiná-la a fazer bom uso da liberdade e a ser responsável
pelos seus atos. Estes conceitos são explicitados no quadro abaixo:

Quadro 1 - Os níveis de formação da pessoa segundo Corominas [9].


Pessoa Formar Tendência Natural Exemplos de Ação
Matéria Adestrar Satisfazer os sentidos Praticar um esporte, andar, fazer coisas.
Inteligência Instruir Buscar a verdade Aprender idiomas, conceitos, metodologias.
Vontade Educar Fazer o bem Querer aprender, assumir responsabilidade.

O grande papel de quem tem a responsabilidade de formar, seja ele um pai ou um gestor, consiste
em ajudar as pessoas a formar a vontade, em educar.

A incubadora BEL-i9 deve investir em treinamento, e num conceito mais elevado em educação,
deve proporcionar múltiplos bens que vão além da produtividade e da qualificação, proporcionando
a busca da verdade e a oportunidade de se fazer o bem. Embora este bem possa não ser
percebido de forma imediata, já que a educação é um bem de investimento e não de consumo, é
com certeza um bem duradouro que tanto faz longevas as novas empresas incubadas como
contribui para o engrandecimento pessoal de seus gestores e funcionários.

A gestão da incubadora BEL-i9 com base na visão antropológica da formação do ser 117
Um grande risco em que incorre o homem é presumir-se formado, fazendo-se incapaz de
aprender. Como destaca Garcia Hoz [10], para aprender o homem deve fazer-se como criança: um
ser a caminho. Deve fazer-se também grato pela condição e oportunidade de trabalhar e de se
desenvolver.

Cabe aqui também mencionar a importância dos quatro pilares da educação destacados pela
UNESCO [11] como forma de um desenvolvimento integral: (i) Aprender a aprender; (ii) Aprender a
fazer; (iii) Aprender a conviver; (iv) A prender a ser.

Na empresa como na família e em toda a sociedade, o primeiro que se tem a fazer é reconhecer a
necessidade e o direito de aprender, algo que depende tanto da virtude da humildade como da
justiça. Num degrau acima tem-se que aprender a conviver, pois se o conhecimento já é
importante, quanto mais as pessoas.

Por fim deve-se ter em conta a importância do ser, a dignidade com que se reveste o homem em
sua diversidade e riqueza de talentos, que mediante as condições apropriadas pode bem cumprir a
sua missão.

9 Conclusão

Mais que a dialética, o momento propõe a ética, o justo contribuir para o bem próprio e do próximo.
Como salienta Covey [12] deve-se começar a perceber que se mudar a situação é algo desejado,
precisa-se primeiro cada um mudar a si mesmo. E, para mudar efetivamente o modo de ser,
precisa-se primeiro mudar a própria percepção.

Se o objetivo é construir uma nova mentalidade, uma nova cultura de aprendizagem e


transferência, de inovação e competência, é preciso ter o foco no homem. É preciso implodir as
estruturas que feudalizam os espaços e as mentes, que aprisionam os talentos e as ideias. É
preciso coragem para empreender e humildade para transpor o abismo entre o “eu e o tu”, o atual
e o melhor.

A incubadora BEL-i9 deve ser uma aventura do ser. E só os corações generosos e magnânimos
são capazes desta aventura. Mais que a sustentabilidade das empresas incubadas, se faz urgente
a redescoberta do ser através de líderes que inspirem, que sejam modelos, homens comuns como
Guillaumet [13] que nada fizeram de espetacular senão assumir a responsabilidade pela própria
vida:

Se alguém falar a Guillaumet de sua coragem ele dará de ombros. Mas seria
traí-lo também celebrar sua modéstia. Ele está muito além dessa qualidade
medíocre. Se dá de ombros é por sabedoria. Sabe que uma vez no centro do
perigo os homens não se horrorizam mais. Só o desconhecido espanta os
homens. Sua verdadeira qualidade não é essa. Sua grandeza é a de sentir-se
responsável. Responsável por si, pelo seu avião, pelos companheiros que o
esperam. Ele tem nas mãos a tristeza ou a alegria desses companheiros.
Responsável pelo que se constrói de novo, lá, entre os vivos, construção de que
ele deve participar. Responsável um pouco pelo destino dos homens, na medida

118 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


de seu trabalho. É um desses seres amplos que aceitam o destino de cobrir
largos horizontes com suas folhagens. Ser homem é precisamente ser
responsável. É experimentar vergonha em face de uma miséria que não parece
depender de si. É ter orgulho de uma vitória dos companheiros. É sentir,
colocando a sua pedra, que contribui para construir o mundo.

10 Referências
[1] HENDERSON R. Material didático, MIT Sloan School of Management, 2005.

[2] DRUCKER, P. Conferência “Redefinindo lideranças, organizações e comunidades”, Fundação P.


Drucker, 1999.

[3] GARCIA HOZ, V. Pedagogia visível: educação invisível -Ed. Nerman, São Paulo, p. 74-80

[4] GARCIA HOZ, V. Pedagogia visível: educação invisível -Ed. Nerman, São Paulo, p. 74-80

[5] LOPEZ, J. A. P. Fundamentos da direção de empresas. Ed. Aese, Lisboa, 1996.

[6] ABRANTES, J. Programa 8S – A base da filosofia seis sigma. Rio de Janeiro, Ed. Interciência. 2001, p.
23.

[7] LORDA, J.L. Moral: a arte de viver. Ed. Quadrante, São Paulo, 2001. p. 13.

[8] COROMINAS, F. Educar hoje. Ed. Quadrante. São Paulo, 2005. p. 13.

[9] COROMINAS, F. Educar hoje. Ed. Quadrante. São Paulo, 2005. p. 16.

[10] GARCIA HOZ, V. Educar: uma difícil tarefa. Ed. Nerman. São Paulo, 1981. p. 9.

[11] UNESCO. Pronunciamento: "Os Quatro Pilares da Educação: O seu Papel no Desenvolvimento
Humano " - São Paulo, 2003.
http://www.brasilia.unesco.org/noticias/opiniao/index/index_2003/pilares_educacao

[12] COVEY, S. R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes. Ed. Best Seller. São Paulo, 2001. p. 19.

[13] SAINT-EXUPERY, A. Terra dos Homens. 27. Ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 1986. p. 38-44.

A gestão da incubadora BEL-i9 com base na visão antropológica da formação do ser 119
14
Conceitos para planejamento e gestão
dos novos empreendimentos incubados
no BEL-i9 e o papel dos stakeholders
1
Henrique Ricardo dos Santos

Unindus – Universidade da Indústria /Sistema Federação das Indústrias do Estado


do Paraná
henrique.santos@fiepr.org.br

1 Introdução

Novos empreendimentos tecnológicos se caracterizam pelo risco associado ao seu


desenvolvimento e pelas grandes oportunidades. Risco financeiro, risco tecnológico de
obsolescência, risco de má gestão, risco de novos entrantes, risco de substitutos, etc. Minimizar os
riscos de uma empresa que se inicia, uma start-up, é uma das tarefas principais do empreendedor.

Em todo novo empreendimento há uma série de atores que são necessários para que o risco seja
minimizado e para que as chances de sucesso do negócio sejam animadoras. O empreendedor
precisa de recursos financeiros para viabilizar seus protótipos, pilotos, estudos, pesquisas, ações
promocionais, contratação de gestores, etc. Estes recursos podem vir de várias fontes: FINEP
(subvenção econômica, juros subsidiados), BNDES, investidores particulares, fundos de
investimento, bancos, amigos e familiares, etc. Associações de classe como Federações de Indústria
e outras, podem desempenhar um papel importante ao disponibilizar ao empreendedor as
informações sobre todas as fontes de recursos disponíveis para os novos empreendimentos e
também serviços que agreguem valor ao novo negócio.

Além dos recursos financeiros, o empreendedor necessita de uma boa rede de parceiros na
academia. Universidades e centros de pesquisa têm um papel importante na geração de novas
tecnologias em potencial e na avaliação através de seus laboratórios e pesquisadores com alta

1
Henrique Ricardo dos Santos é Engenheiro Químico formado pela UFPR em 1989, com M.Sc. em Engenharia Quimica pela
Case Western Reserve University (Cleveland, OH, EUA), MBA em Estratégia e Finanças pela Weatherhead School of
Management (Cleveland, OH, EUA). Foi Engenheiro de Projetos na Keithley Instruments, Inc. de junho de 1994 a abril de 1999,
Engenheiro Senior na Microchemical Systems Inc. de maio de 1999 a janeiro de 2000 (Cleveland, OH, EUA), Gerente de
Projetos na CoreComm Ltd de janeiro de 2000 a junho de 2001 (Cleveland, OH, EUA), Diretor de Parcerias Industriais na
Cornell University de junho de 2001 a julho de 2003 (Ithaca, NY, EUA), Coordenador do Centro Internacional de Negócios do
Sistema FIEP de março de 2004 a fevereiro de 2006, Coordenador de Marketing Corporativo Sistema FIEP de fevereiro de
2006 a outubro de 2007, Diretor da Unindus - Universidade da Indústria (Sistema FIEP) desde outubro de 2007, sendo
atualmente Diretor de Contas Especiais do Sistema FIEP, desde outubro de 2009.

Conceitos para planejamento e gestão dos novos empreendimentos incubados no BEL-i9 e o papel dos stakeholders 121
capacidade de descobrir e inovar. Eles propiciam o suporte acadêmico laboratorial e conhecimento
para que o empreendedor tenha segurança na qualidade de seu produto.

Com recursos financeiros e parceiros acadêmicos, o empreendedor ainda corre riscos significativos,
pois, necessita de gestores profissionais. Na grande maioria dos casos, o empreendedor não detém
todas as competências necessárias para gerir ou fazer crescer um negócio. É por isso que gestores
experientes são necessários. Eles trazem a segurança de que o novo negócio será conduzido de
forma profissional e irão evitar erros estratégicos e táticos que possam comprometer a sobrevivência
do próprio negócio.

Neste ponto chega-se ao último ator desta rede: as incubadoras, como a BEL-i9, proposta pela
COPEL. Sejam elas de base tecnológica, de empresas tradicionais ou mistas, todas desempenham
um papel importantíssimo na sistematização dos processos de criação de novas empresas e na
redução de custos operacionais do negócio.

Além destes atores, o empreendedor precisa de um bom planejamento e uma boa ferramenta para
gestão do seu projeto até que ele se torne viável como negócio. O bom planejamento ainda sim não
dá garantias de sucesso, porém minimiza os riscos e dá garantias de uma chance de sucesso. Há
várias ferramentas disponíveis no mercado para planejamento e gestão de projetos.

2 O planejamento e a gestão eficaz do novo empreendimento: fundamentos

Metodologias, softwares e consultorias para planejamento e gestão de projetos não faltam. O


essencial é que o empreendedor entenda a necessidade do planejamento e não o veja como algo
estanque, que não possa ser alterado. Além disso, uma ferramenta para o planejamento e gestão
de projetos deve ser simples, prática e eficaz. O empreendedor deve levar em conta os seguintes
fundamentos para o seu negócio: utilidade, inerência, expectativa, inovação, logística, relevância e
complexidade.

2.1 Utilidade

No BEL-i9, algumas perguntas deverão ser feitas, no âmbito de cada incubado:

Qual é a utilidade do negócio? Para que ele serve ou servirá? Qual a proposta de valor agregado
que o negócio traz? A clareza de propósito e de papéis será fundamental para o sucesso do novo
empreendimento, pois eliminará logo no início do novo negócio dúvidas que podem atrasar o seu
desenvolvimento.

O empreendedor no BEL-i9 deverá, ainda, entender com clareza a utilidade dos parceiros para o
seu novo empreendimento: centros de pesquisa e/ou universidades, agentes financiadores,
incubadora e gestores profissionais. Entendendo a utilidade de cada stakeholder permitirá ao
empreendedor definir os papéis com mais clareza e alavancar o potencial e as competências
específicas de cada um deles para colaborar no sucesso do seu empreendimento.

122 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


2.2 Inerências

Cabem, aqui, outras perguntas:

O que é inerente ao novo empreendimento? O que absolutamente não pode faltar para que o novo
negócio prospere? Quais fatores são inerentes à atuação da incubadora e dos parceiros:
academia, financiadores e gestores?

Deve haver clareza nas inerências relativas ao novo negócio, a fim de que os fatores críticos para
o sucesso dos negócios a serem gerados no BEL-i9 não sejam negligenciados.

2.3 Expectativas

Quais são as expectativas do empreendedor em relação ao seu novo negócio? O que ele espera?
O que pretende realizar? A expectativa em relação ao novo negócio se traduz também em
objetivos, que devem ser bastante claros para que o empreendedor direcione o seu negócio e suas
ações numa direção única e focada.

Devem ser consideradas também as expectativas dos demais stakeholders do novo


empreendimento. Qual é a expectativa da incubadora BEL-i9 em relação ao presente e futuro
deste novo empreendimento? E os parceiros da academia e centros de pesquisa? Quais são as
suas expectativas? O que pretendem com a parceria e como podem agregar valor à mesma?

Qual também será a expectativa dos parceiros financiadores do empreendimento? E os gestores


profissionais chamados a contribuir? Qual a sua expectativa em relação ao presente e ao futuro do
empreendimento?

Clientes e fornecedores também têm expectativas que devem ser contempladas e não podem ser
negligenciadas. Principalmente os clientes, pois são eles, em última análise, diretamente
responsáveis pelo sucesso do empreendimento. Clientes invariavelmente têm as seguintes
expectativas em relação ao produto ou serviço final: custo, entrega, segurança (pessoal, do
patrimônio e do planeta), atendimento e qualidade. Estes cinco itens devem ser muito bem
avaliados pelo empreendedor para que seu produto ou serviço atenda às necessidades dos seus
clientes e prospere. O BEL-i9 neste caso desempenhará um papel essencial, porque afeta
diretamente todos estes aspectos do novo negócio.

É de suma importância que o empreendedor avalie as expectativas de todos os stakeholders e


procure entender de que forma o seu negócio agrega valor a todos eles, para definir uma
estratégia de abordagem e negociação com cada um destes atores.

2.4 Inovação

Que tipo de inovação traz este novo empreendimento? Não apenas tecnológica, mas na gestão,
nos processos, na relação com clientes, fornecedores, parceiros, pesquisadores, financiadores e
gestores. De que maneira a empresa vai inovar na sua atuação dentro da incubadora BEL-i9 e na
sua relação com a mantenedora da mesma? Como o empreendedor pretende implementar estas

Conceitos para planejamento e gestão dos novos empreendimentos incubados no BEL-i9 e o papel dos stakeholders 123
inovações? Haverá alguma inovação que mereça um registro de patente ou algum acordo especial
de licenciamento?

2.5 Logística

Os aspectos logísticos do novo empreendimento devem ser avaliados pelo empreendedor nesta
etapa inicial. Se o produto for físico, como será a sua embalagem? E a armazenagem, o
transporte? Há alguma necessidade especial para conservação do produto? Caso seja um serviço,
há necessidade de transporte? Como será a entrega deste serviço? Pessoal? Via Internet? Como
será a cobrança do serviço? Como será a logística dentro do BEL-i9? Que fatores desta logística
são essenciais para o sucesso do empreendimento?

Todos estes itens relacionados e outros mais são relevantes para o negócio, pois representam
custos e têm ligação direta com a imagem, credibilidade da empresa e, consequentemente,
impactam o resultado final.

2.6 Relevância

Uma vez pensados e definidos os itens anteriores, o empreendedor deve levar em conta a
relevância dos mesmos, ou seja, o significado que um evento tem para as pessoas ligadas a ele.
Esta relevância pode ser classificada em alta, média e baixa. Fatores com alta relevância
inviabilizam o projeto quando estão ausentes. Os de relevância média não inviabilizam, mas
trazem grandes desconfortos: e os de baixa relevância, são aqueles que não prejudicam o todo,
caso não sejam executados.

É importante que o empreendedor tenha clara a relevância dos fundamentos anteriores para o
projeto, pois, desta forma, pode otimizar o uso dos recursos na implementação do negócio.

2.7 Complexidade

O fundamento da complexidade depende da habilidade do gestor para lidar com o projeto. A


complexidade dos fundamentos anteriores (utilidade, inerência, expectativas, inovação e logística)
também pode se dividir em alta, média e baixa. Para atividades de baixa complexidade encontram-
se facilmente pessoas que possam realizá-las. Eventos de média complexidade necessitam de
pessoas com certas habilidades e experiência diferenciadas e atividades de alta complexidade
exigem pessoas estratégicas e dependem de grandes esforços para serem realizados.

3 Planejamento e gestão do novo empreendimento: recursos

Os recursos necessários para a execução de um projeto podem ser resumidos em seis itens.

i. Material

São os materiais necessários para o desenvolvimento do novo negócio. Dentre estes materiais
pode-se citar material didático (manuais, etc.), material de escritório, material de limpeza, material
promocional, material de acompanhamento e outros. O BEL-i9 terá um papel importante no

124 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


compartilhamento de materiais entre as empresas instaladas, o que proporcionará uma redução de
custos associados.

ii. Máquina

Máquinas importantes para o novo negócio são: equipamentos de informática, equipamentos de


manutenção, rádios, telefones, fax, equipamentos de som e iluminação, etc. Da mesma forma, o
BEL-i9 pode ter um papel importante no compartilhamento de máquinas entre as empresas
incubadas.

iii. Mão-de-obra

São essencialmente as pessoas envolvidas, sejam da limpeza e segurança, mestres, doutores e


pesquisadores dos parceiros (universidades, centros de pesquisa, empresas, independentes),
gestores profissionais contratados, financiadores, funcionários e terceiros da empresa. A qualidade
da mão-de-obra é fundamental numa start-up, uma vez que os recursos são escassos e o sucesso
do novo negócio depende muito da capacidade desta mão-de-obra executar ações diversas.

iv. Medida

Quais são as medidas necessárias para o desenvolvimento e sucesso do novo negócio? Há


medidas de distância entre a empresa e seus fornecedores para entrega de produtos físicos e
serviços, que impactam custos. Há medidas de parâmetros de qualidade (qualitativos e
quantitativos) que também impactam custos e margens de contribuição. Que outras medidas são
necessárias neste novo empreendimento? Medidas de intensidade, tamanho, tempo, autoridade,
medidas de recursos financeiros, etc?

v. Método

No método o empreendedor precisa definir as formas de atendimento, os acordos que fará com a
incubadora BEL-i9, com os financiadores, com os gestores e com os parceiros de pesquisa, a
forma de comunicação com todos os seus públicos (parceiros, fornecedores, clientes,
financiadores), o modelo de controle de processos e produção, tipos de treinamento, modelos de
contratação, avaliação, vendas e outros. Os métodos são muito importantes para garantir que haja
rastreabilidade nas informações e capacidade de observar o progresso das mesmas.

vi. Meio ambiente

Este item refere-se ao ambiente da empresa, ou seja, a incubadora BEL-i9. Há que se considerar
aspectos como: acesso, adequação, iluminação, climatização, estacionamento, espaço,
decoração, limpeza, infraestrutura, segurança, sinalização, temperatura, transporte, etc. A
preocupação com a sustentabilidade em seus três eixos principais: financeiro, ambiental e social
também precisa estar presente no plano de negócios do novo empreendimento. A cada dia o fator
ambiental assume mais importância no mundo dos negócios e na vida das pessoas e as empresas
novas já devem ter incorporado ao seu negócio conceitos e práticas sustentáveis.

Conceitos para planejamento e gestão dos novos empreendimentos incubados no BEL-i9 e o papel dos stakeholders 125
4 Conclusão

Apresentou-se de forma resumida conceitos importantes para planejamento e gestão de projetos


que podem ser aplicados de forma transversal na definição não apenas de um novo negócio, mas
também das relações que o empreendedor irá desenvolver com os demais atores no processo:
BEL-i9, agentes financiadores, academia e gestores. Estes conceitos apesar de não garantirem,
serão fundamentais para maximizar as chances de sucesso dos empreendimentos a serem
incubados.

5 Referências
[1] ESCOLA DE PLANEJAMENTO HOMO SAPIENS. TEvEP, apostila . http://www.tevep.com.br. Acesso em
26/11/2009

[2] MOREIRA, Daniel e QUEIROZ, Ana Carolina. Inovação organizacional e tecnológica, 1ª edição São
Paulo, Thomson.

[3] STAINSACK, Cristiane. Dissertação: Estruturação, organização e gestão de incubadoras


tecnológicas. Curitiba: CEFET, 2003.

126 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


15
BEL-i9: ambiente de cooperação e
inovação para pequenas e médias
empresas do setor de telemática
1
Cristiane Garbin Langner

COPEL Telecomunicações
cristiane.langner@copel.com

1 Introdução

Pesquisas recentes [1] apontam que as pequenas e médias empresas (PMEs) constituem um
importante reforço na economia brasileira e desempenham um papel fundamental no contexto
econômico do país, pois, quando fortemente estabelecidas, estas empresas precisam investir para
continuarem competitivas.

Mesmo sendo consideradas fundamentais para ajudar a revitalizar a economia no atual cenário de
crise mundial, as PMEs não têm encontrado apoio suficiente para garantir que sobrevivam sequer
ao primeiro ano de funcionamento. Como esperar que estas empresas se estabeleçam e invistam
no seu crescimento?

Para sobreviver no mundo globalizado, é comum encontrar PMEs que tenham de suprir
necessidades muito semelhantes às das grandes corporações, principalmente no que diz respeito
à tecnologia [2].

Para ajudar na sobrevivência destas empresas, colaborando no start-up dos seus negócios, este
capítulo trata da incubadora de telemática BEL-i9 no contexto das PMEs. Na incubadora, o
empresário, ou futuro empresário, encontrará um ambiente favorável com disponibilidade de
produtos e serviços que o ajudará, tanto nos “primeiros-passos”, como no crescimento de suas
expectativas de rentabilidade.

1
Cristiane Garbin Langner é Engenheira de Computação pela Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Mestre em
Engenharia de Produção e Sistemas (PUCPR) e está concluindo MBA Executivo em Comunicação, Marketing e Publicidade
pela Universidade Positivo.
Atualmente atua na área de Novos Negócios da Copel Telecomunicações, já tendo sido pesquisadora do Instituto de
Tecnologia para o Desenvolvimento (LACTEC).
Participou da publicação do livro Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada estrategicamente, em equipe.

BEL-i9: ambiente de cooperação e inovação para pequenas e médias empresas do setor de telemática 127
A incubadora BEL-i9 apresenta-se como um espaço para que as PMEs de telemática ganhem
visibilidade na Internet e, através dela, tenham todo o apoio necessário para o início das
atividades, ganhando vantagem competitiva através de ações de cooperação e inovação.

2 O empreendedorismo no Brasil

Num momento em que o país busca contornos para a crise econômica, optando pelo combate ao
desemprego e pela busca do crescimento sustentável, o estímulo aos empreendedores e às micro
e pequenas empresas representa uma alternativa eficaz.

As micro e pequenas empresas empresas já são um dos pilares de sustentação da economia


brasileira, podendo ter um papel fundamental no contexto econômico do país, especialmente neste
momento de crise mundial.

O Brasil está em 7° lugar entre os 35 países mais em preendedores do mundo, segundo pesquisa
da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) [1].

Existem atualmente no país 5,9 milhões de micro e pequenas empresas formais, o equivalente a
97,5% do total de empresas (figura 1) [3]. Os pequenos negócios respondem por 51% da força de
trabalho urbana empregada no setor privado (são 13,2 milhões de empregos com carteira
assinada), 38% da massa salarial; e 20% em média do Produto Interno bruto (PIB).

No Paraná, o Sebrae/PR trabalha com um universo de aproximadamente 450 mil micro e


pequenas empresas formais [3].

97,5%

Micro e Pequenas Empresas Formais

Outras

2,5%

Figura 1 - Empresas estabelecidas no país

Entretanto, apesar de uma parcela crescente de brasileiros procurarem alternativas para


empreender, ainda lhes falta informação básica para isso. Alguns estudos do Sebrae de São Paulo
indicaram que o empresário que busca informação especializada tem mais chances de sobreviver.
Os índices de mortalidade empresarial, no primeiro ano de atividade, giraram em torno de 17%
para os que receberam capacitação, contra 27% no geral [4]. Cerca de 70% das pequenas e
médias empresas fecham depois de um ano de funcionamento por falta de informação, de metas
estabelecidas, de critérios definidos e até mesmo conhecimentos gerenciais atualizados.

128 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


2.1 Setor de Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC

Com uma taxa de crescimento de aproximadamente 5% ao ano, em cinco anos (de 2004 a 2009),
os serviços ligados a softwares triplicaram e o segmento de desenvolvimento de softwares dobrou
de tamanho (figura 2). Poucos países no mundo possuem taxas dessa magnitude no setor. “O
País representa apenas 1% do mercado mundial de TIC, mas é 60 vezes maior em potencialidade
de negócios, se comparado a outros países” [5].

Figura 2 - Mercado brasileiro de TIC

No Brasil já existe alta demanda por Tecnologia da Informação e Comunicação. O mercado


interno, crescente nos últimos anos, tem atraído inclusive grandes empresas internacionais. Para
competir com estas empresas é preciso contar com produtos e serviços absolutamente inovadores
e muito competitivos, além de ter bons preços, uma vez que os clientes do setor estão visando
redução de custos e aumento das vendas. Ainda, há a premente promessa da computação nas
nuvens (ver capítulo de Cezar Taurion, neste livro), que mudará as micro e pequenas empresas,
as quais tenderão a utilizar softwares na nova rede (web) [6].

3 A incubadora de telemática BEL-i9

Para atender aos desejos de ampliar seus negócios visando novos mercados e novos serviços de
telecomunicações, a COPEL Telecomunicações está empreendendo o projeto BEL [7], que inclui
em seus principais objetivos:

• Estimular a competitividade das pequenas e médias empresas, possibilitando com que, a


custos reduzidos, elas possam melhor promover, divulgar e comercializar seus produtos e
serviços.

• Promover a inovação tecnológica e o aumento da competitividade, fomentando o


desenvolvimento de novos produtos e serviços, e incubando a formação de novos
negócios.

• Oferecer, no estado do Paraná, produtos e serviços de valor adicionado em banda extra


larga, de forma competitiva, em especial pelo seu ineditismo no Brasil.

BEL-i9: ambiente de cooperação e inovação para pequenas e médias empresas do setor de telemática 129
Como parte integrante do projeto BEL, destaca-se a incubadora BEL-i9, que contará com área
física e virtual para que os integrantes cooperem, compartilhem recursos e desfrutem de diversos
benefícios como:

• Infraestrutura: datacenters para armazenamento e backup (virtualização), o que é um


grande benefício, pois elimina pesados investimentos em infraestrutura de tecnologia e
segurança;

• Serviços: acesso à Internet de altíssima velocidade com anti-vírus e firewall, telefonia,


sistema VoIP e videoconferência, secretária virtual, biblioteca virtual, divulgação
segmentada, comércio eletrônico, manutenção e suporte técnico, gerenciamento de
centros de processamento, redes corporativas, call centers, dentre outros.

• Acessorias: contábil, jurídica, gerencial, de gestão financeira, de comercialização, de


comunicações, dentre outras.

• Qualificação: através de treinamentos, cursos, assinaturas de revistas e jornais.

• Networking: através da articulação de contatos com entidades governamentais e


investidores, participação em eventos de divulgação das empresas, fóruns e outros.

Vale destacar que, nos quesitos assessoria e qualificação, é muito importante auxiliar os
empresários e futuros empresários a elaborar e manter um Plano de Negócios (ou Plano
Empresarial), o qual ajuda na melhor visualização do potencial do negócio e é necessário quando
se precisa buscar financiamento, para o qual, a credibilidade da incubadora também conta pontos.

De forma planejada, a incubadora conduzirá as empresas incubadas ao estágio de graduação,


momento no qual estas empresas poderão se estabelecer como novas geradoras de receita,
empregos e inovações tecnológicas para a sociedade.

4 Conclusão

O acompanhamento da evolução do projeto, o apoio técnico-financeiro, mercadológico, contábil e


jurídico, além da sinergia criada pela concentração de empreendedores no mesmo ambiente, são
modos das pequenas e médias empresas organizarem-se e cooperarem para inovar e criar valor
com o intuito de se conseguir novas oportunidades, modificando e intensificando as relações entre
empresas e clientes e gerando resultados positivos para a empresa alcançar o sucesso
empresarial, favorecendo a sobrevivência em um mercado cada vez mais exigente.

A incubadora BEL-i9 propiciará o ambiente flexível e encorajador para PMEs, oferecendo uma
série de facilidades para o surgimento e crescimento de novos empreendimentos a um custo bem
menor do que pode-se encontrar no mercado, na medida em que esses custos são rateados e
muitas vezes financiados [8] (ver capítulo de Yára Christina Eisenbach, neste livro), visando
amenizar as principais dificuldades encontradas por empreendedores iniciantes, auxiliando desta
maneira a consolidação de novas empresas competitivas.

A missão da incubadora BEL-i9, no cenário das PMEs, deve ser auxiliar o empresário a criar valor
para o cliente e gerar vantagem competitiva para a empresa, dando todo apoio em tecnologia e

130 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


suporte em infraestrutura para que o empreendedor possa concentrar-se no desenvolvimento de
seu produto ou serviço. O acesso à crédito também fica facilitado uma vez que o cadastro das
empresas na incubadora passa a ser compartilhado com as empresas operadoras de crédito.

A incubadora BEL-i9 também propõe-se a ser o ambiente favorável para as empresas terem um
acompanhamento na implantação de seu plano de negócio, aprofundarem o relacionamento com
os clientes e parceiros, desde a criação de produtos e serviços e suas customizações, passando
pela pesquisa sobre comportamento e avaliação das expectativas e desejos destes consumidores,
até a negociação de prazos e condições de pagamento, entre outras atividades empresariais. A
incubadora deverá desempenhar tanto o papel de canal de marketing quanto o papel de ambiente
de negócios, facilitando e auxiliando a transformação de ideias inovadoras em empreendimentos
que possam ser competitivos no setor de telemática, gerando benefícios econômicos e sociais.

Com o BEL-i9, certamente novas PMEs serão criadas com probabilidades de sobrevivência e de
competitividade muito maiores e oferecendo mais e melhores produtos e serviços à população.

5 Referências
[1] MINNITI, Maria, Bygrave, WILLIAM D. e AUTIO, Erkko. Global Entrepreneurship Monitor. Executive
Report 2005. s.l. : Babson College and London Business School, 2006.

[2] TI INSIDE. PMEs cumprem o seu papel. Abril de 2009, nº 45, ano 5.

[3] SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Anuário do trabalho na micro e pequena
empresa: 2008. Site do SEBRAE. [Online] Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos, 2008. [Citado em: 05 de Fevereiro de 2009.]
http://www.sebrae.com.br/customizado/estudos-e-pesquisas/anuario_trabalho2008.pdf.

[4] SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Futuro empreendedor terá
noções de como gerir o seu próprio negócio. Site do SEBRAE/SP. [Online] 31 de Outubro de
2008. [Citado em: 15 de Janeiro de 2009.] http://www.sebraesp.com.br/node/6447.

[5] MEIRA, Silvio. Armadilha para setor de TIC é virar commodity. [entrev.] Vanessa Brito. s.l. : Agência
SEBRAE de Notícias, 24 de Novembro de 2009. Silvio Meira é cientista-chefe do Centro de Estudos
de Sistemas Avançados de Recife.

[6] —. Tendências transformam rapidamente o setor de TIC. [entrev.] Vanessa Brito. s.l. : Agência
SEBRAE de Notícias, 24 de Novembro de 2009.

[7] PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada
estrategicamente, em equipe. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2009. 207pp.

[8] QUADROS, Felipe Zurita. Plano de Negócios e a Pequena Empresa de Base Tecnológica: um estudo
de caso na Incubadora de Empresas do Midi Florianópolis. [Dissertação de Mestrado].
Florianópolis : Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal
de Santa Catarina, 2004.

BEL-i9: ambiente de cooperação e inovação para pequenas e médias empresas do setor de telemática 131
16
Aplicações do BEL no ambiente
universitário e potencial do BEL-i9 para
gerar empreendimentos inovadores
1
Julio Cesar Nitsch
2
Edson Pedro Ferlin
3
Paulo Arns da Cunha

Universidade Positivo - UP
1
nitsch@up.edu.br
2
ferlin@up.edu.br
3
pcunha@positivo.com.br

1 Introdução

A inovação em serviço está largamente caracterizada tanto pela academia e empresas, quanto
pelo mercado. Apesar das diferenças de grau de inovação referentes às estruturas
organizacionais, fatores institucionais, inserção tecnológica entre outros, o mercado apresenta
demandas que realimentam o processo de inovação [1].

Com a mudança do percentual econômico que aconteceu na década de 1980 em favor da


estrutura de serviços, em detrimento aos produtos, a percepção de inovação em serviços também
se acentuou de maneira acelerada.
“... a inovação mais produtiva é um produto ou serviço diferente, criando um novo tipo
de satisfação, ao invés de uma simples melhoria”. Dessa forma, a inovação está
associada à geração de valor econômico e é diferente da invenção, que tem um
significado tipicamente tecnológico. A inovação não é restrita aos aspectos
tecnológicos e econômicos. As inovações sociais e as inovações na forma de gerenciar
uma empresa são tão relevantes quanto as econômicas. O senso de inovação de uma
organização tem que possibilitar o abandono sistêmico do que já é antigo [2].

1
Julio César Nitsch é Especialista em Educação (UTFPR) e Mestre em Educação (PUC). Foi Diretor Adjunto de Relações
Empresariais no CEFET (1996 a 1999); Coordenador do Curso de Engenharia Elétrica (2000 a 2006). Atualmente é Professor
de Engenharia Elétrica na UTFPR e Universidade Positivo, o que exerce desde 1992. Ocupa, no presente momento, a posição
de Coordenador de todo o Parque Tecnológico da Universidade Positivo.
2
Edson Pedro Ferlin é Engenheiro da Computação, Doutor em Engenharia Elétrica e Informática Industrial (UTFPR) e Mestre
em Física Computacional (IFSC/USP). Foi Professor da PUCPR e Faculdades SPEI. Atualmente é Professor e Coordenador do
Curso de Engenharia da Computação da Universidade Positivo, o que exerce desde 1999.
3
Paulo Arns da Cunha é Engenheiro Elétrico. Atualmente é Superintendente da área de Educação do Grupo Positivo.

Aplicações do BEL no ambiente universitário e potencial do BEL-i9 para gerar empreendimentos inovadores 133
Dentro de vários projetos (e o projeto BEL aqui se inclui) um elemento é comum e fundamental: há
que se determinar claramente entre os serviços e o processo aquele que deve se apresentar ao
mercado. Howells e Tether [3] alertam que a inovação em serviço tem como “backstage” um
conjunto tecnológico que, na maioria das vezes atingem o consumidor final e que podem trazer
dúvidas ao cliente.

Podemos exemplificar com a TV digital que se apresenta agora aos consumidores. Toda a
tecnologia desenvolvida não é o consumo em si. As possibilidades de utilização entre elas,
vendas, comunicação interatividade é que são, sim, as inovações de serviço oferecido ao
consumidor final.

2 Ciclo de taxas de transmissão

Há um período de três ou cinco anos, a eternidade da Internet era de um a dois minutos de espera
de conexão, hoje a eternidade já se resume a dez ou quinze segundos para aqueles que estão
conectados em uma rede de razoável velocidade. Porém, como eternidade é um conceito mais
platônico que físico, ela continua a ser eternidade. Nessa linha, a ânsia da realidade de informação
instantânea, veem-se as taxas de transmissão de base tecnológica se superarem diariamente.
Porém, como ressaltou-se na introdução, taxas de Mbps, Gbps ou Tbps (não acaba aqui) são base
tecnológica de um conjunto intangível que é o real foco de um negócio: a interatividade. Assim, de
mensagens passou-se a sites, blogs, comunicação, visão. Aguarda-se com ansiedade para que se
tenha o médico em casa, projeção holográfica dos filhos na sala de casa, montar o próprio carro
on-line quando este estiver já na linha de montagem...
A palavra de ordem é velocidade. A comutação de dados em redes de computadores
está sendo empregada em ambientes computacionais de todos os tipos. Vários
fabricantes possuem comutadores (switches) compatíveis com todos os padrões de
hardware mais utilizados em especial Ethernet, ATM e Frame Relay. Trata-se de uma
solução para redes que utilizam roteadores na interligação dos pontos chaves (o
roteador é um equipamento que encaminha os pacotes de dados aos endereços
certos). Como se baseiam em protocolos de comunicação complexos, esses
equipamentos têm de processar uma enorme quantidade de dados de endereçamento
e de controle para transmitir um documento qualquer. [4]

As redes de alta velocidade abriram as portas para um novo padrão de comunicação, se assim
pode ou poderá ser chamada. Referenciadas à Internet, suas tecnologias de base já estão
amplamente suportadas (Ethernet, Fast Ethernet, Gigabit Ethernet, VGAnylan). E, como para o
consumidor final, o que importa é a satisfação de suas necessidades, cabe a outro grupo de
profissionais desenvolverem a inovação do serviço a ser consumido. Mesmo que o consumidor
não saiba se ele ainda o quer ou quererá. Se é a inovação que puxa a demanda ou a demanda
que puxa a inovação não cabe agora a discussão. Mas, a velocidade de acesso ofertada e o
aumento da capacidade das estações de trabalho permitiram que grandes áreas de negócios
aguçassem seus olhares e apetites. Entre diversas áreas pode-se destacar a editoração eletrônica,
as operações financeiras pelo mundo, as ações on-line de multimídias, a medicina.

134 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


3 Fastnet e academia

Cabe-se destacar do conjunto de setores anteriormente citados a utilização por parte da academia
das vantagens da Internet no estado último da arte. Em um panorama geral, as redes de alta
velocidade chegam ao meio acadêmico para revolucionar o processo de desenvolvimento
científico e tecnológico. A pesquisa científica de alto nível demanda um conjunto de dados de alta
quantidade numérica em tratamento matemático avançado. Esse conjunto pode ser encontrado na
meteorologia, nas ciências espaciais, na simulação de voo de novos jatos, ou no
geoposicionamento de embarcações, só para citar quatro casos particulares.
São infinitas as facilidades quando existe a possibilidade de transportar, via Internet,
um grande volume de informações entre institutos de pesquisa. Uma delas é diminuir a
distância entre os centros de pesquisa através da troca rápida e imediata de dados. A
mais importante talvez seja a socialização do conhecimento acadêmico com a
disseminação das pesquisas, seus resultados e aplicações práticas. Podem-se criar
novas maneiras de pensar a educação, com informações disponibilizadas em áudio e
vídeo de alta resolução. Também podem ser estruturadas bibliotecas digitais de alta
fidelidade documental, avançados recursos multimídia e, até mesmo, controles remotos
de microscópios eletrônicos em centros tecnológicos distantes. [5]

Com uma profundidade de tratamento de dados não tão grande, porém com a mesma importância,
pode-se exemplificar a aula em vídeo conferência com o repasse e upload de filmes para centenas
de alunos em educação à distância.

A medicina tem um destaque especial nesse tópico. O que era notícia com a ficção científica há
três anos, já se implementa em hospitais e universidades espalhadas pelo Brasil. Sessões de
telemedicina começam a se tornar comuns. Análises de ressonância magnética 3D são feitas on-
line por equipes especializadas em centros avançados, estando o paciente a centenas ou milhares
de quilômetros. Como na apresentação abaixo exposta por um profissional.
Visualização tridimensional da atividade cerebral: superposição de imagens
tridimensionais para visualização das atividades cerebrais (de percepção, motoras ou
cognitivas), permitindo a visualização espaço-temporal das atividades do órgão.
Permite a participação em tempo real de diversos especialistas, através da
comunicação digital, com voz e vídeo. [6]

Acima dos casos específicos e pontuais as ferramentas de alta velocidade tendem a democratizar
o acesso à informação de qualidade. Isso incrementa o número de iniciativas empreendedoras.

4 O projeto BEL e a Universidade Positivo

Dentro das dependências da Universidade Positivo (UP) circulam diariamente dez mil pessoas que
“manipulam” o conhecimento nas suas mais diversas formas, estados e quantidades. O tráfego e a
multiplicação do conhecimento estão diretamente ligados à velocidade e à quantidade de
informação, intra e extra-institucional.

As atividades diárias da Universidade exigem um elevado número de informações nos seus


diversos graus de complexidade. A expressão cidade universitária, comum no meio, não foi criada
sem sentido.

Aplicações do BEL no ambiente universitário e potencial do BEL-i9 para gerar empreendimentos inovadores 135
Sem muito esforço, unindo-se ao projeto BEL, o donwload simultâneo e interativo de um software
3D de montagem e simulação de um motor automotivo pode ser facilmente alcançada. Ou, o curso
de Design de Produto, trocando informações com os alunos do Curso de Marketing e Propaganda
disponibilizando on-line seus trabalhos para s outras instituições que compartilham a rede de alta
velocidade. Ainda, pode-se ter disponibilização de vídeo de em alta definição para todos os
participantes da rede mostrando detalhes de um experimento de física nuclear. Jogos de empresas
para aqueles que compartilham a rede... Por que não uma videolaparoscopia interativa em um
boneco didático em parceria com outra universidade do laço de alta velocidade? Pode-se ainda
pensar em uma na pesquisa acadêmica dos alunos de Engenharia da Computação na base de
tecnologia da informação (TI) que suporta o projeto BEL.

Como se pode abstrair dos exemplos anteriores a integração da Universidade Positivo com
COPEL Telecomunicações e o projeto BEL são ilimitados. Adicionalmente, todos esses exemplos
podem ser efetivamente empreendidos no contexto da incubadora BEL-i9, em uma ação conjunta
e cooperada entre a Universidade Positivo, com a sua experiência acadêmica, e a COPEL, com a
sua eficiência de atuação empresarial.

5 Conclusão

A evolução e a mobilidade do tráfego de informações na Internet (e na comunidade) é um produto


do ciclo de conhecimento, tecnologia, serviço, usuário. E, de um serviço disponível, o usuário
reestrutura as bases de uma nova oferta.

A COPEL implementou e agora expande uma rede de alta velocidade e elevada confabilidade, que
hoje atende às operadoras de telecomunicações, ao Governo e à grandes corporações. Agora, as
bases tecnológicas já estão maduras para também integrar os mais diversos usuários, inclusive os
residenciais. Serão as necessidades e iniciativas que irão definir, destacar os parceiros (comerciais
ou não) na utilização de enlaces de redes de alta definição. O projeto BEL pode ser um canal
confiável e econômico para uma plataforma de serviços que também sejam de interesse
acadêmico, enquanto que o BEL-i9 proporcionará o ambiente adequado para que novos produtos
e serviços digitais possam ser desenvolvidos, em conjunto com as instituições de pesquisa e
ensino superior, dentre as quais a Universidade Positivo.

6 Referências
[1] FOSTER, R. Inovação: a vantagem do atacante. São Paulo: Best Seller, 1986.

[2] SVEIBY, K. A nova riqueza das organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

[3] HOWELLS, J. TETHER, B. S. Information technology research in the UK: perspectives on services
research and development and systems of innovation. London: Prentice Hall,1998 .

[4] INPE. Redes de alta velocidade. http://www2.dem.inpe.br/ijar/RedesAltaVelocidade.htm. Acesso em


1/12/2009

[5] UFBA. Jornalismo e redes de alta velocidade. www.scribd.com/.../Ensino-Do-Jornalismo-Em-Redes-de-


Alta-Velocidade-Metodologias-Softwares. Acesso em 1/12/2009.

136 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


[6] MEC. Aplicações em tele-medicina em redes de alta velocidade.
http://www.rnp.br/_arquivo/documentos/pal0126.pdf acesso em 2/12/2009.

Aplicações do BEL no ambiente universitário e potencial do BEL-i9 para gerar empreendimentos inovadores 137
17
Quebrando os paradigmas
computacionais: a Computação em
Nuvem
1
Cezar Taurion

Gerente de Novas Tecnologias/Technical Evangelist da IBM Brasil


ctaurion@br.ibm.com

1 Introdução

O assunto Cloud Computing ou Computação em Nuvem é extremamente fascinante. Mas, o que a


Computação em Nuvem traz? O mundo da tecnologia está às portas de uma transformação
profunda e no cerne desta transfomação está exatamente este conceito. Antigamente os
computadores ocupavam salas inteiras, custavam pequenas fortunas e eram privilégio exclusivo
de grandes companhias. Depois os minicomputadores e posteriormente os microcomputadores (os
PCs) levaram a TI para as casas. Com o movimento em direção à Computação em Nuvem os
computadores tendem a ter novas formas. A Internet passa a ser o repositório de arquivos digitais
e o usuário pode criar documentos, planilhas e apresentações sem precisar instalar nenhum
software em sua máquina. A proposta da Computação em Nuvem é permitir que um mesmo
arquivo possa ser acessado por um celular, um PC ou notebook, ou seja, independentemente do
equipamento, pois todos os arquivos estarão guardados em servidores na web.

Esta reviravolta no modelo tradicional de computação é comparada pelo jornalista Nicholas Carr
em seu livro “A Grande Mudança: Reconectando o Mundo, de Thomas Edison ao Google” com o
advento das redes públicas de eletricidade. Durante um breve período da Revolução Industrial, as
grandes companhias tinham de gerar sua própria energia, mesmo que esta não fosse sua
atividade-fim. Graças a um conjunto de inovações no final do século 19, tudo mudou e de forma
radical. Linhas de transmissão permitiram separar a geração e o uso da eletricidade. Segundo

1
Cezar Taurion é Gerente de Novas Tecnologias Aplicadas/Technical Evangelist da IBM Brasil, é um profissional e estudioso
de Tecnologia da Informação desde fins da década de 70. Com educação formal diversificada, em Economia, mestrado em
Ciência da Computação e MBA em Marketing de Serviços, e experiência profissional moldada pela passagem em empresas de
porte mundial, Taurion tem participado ativamente de casos reais das mais diversas características e complexidades tanto no
Brasil como no exterior, sempre buscando compreender e avaliar os impactos das inovações tecnológicas nas organizações e
em seus processos de negócio. Escreve constantemente sobre tecnologia da informação em publicações especializadas como
Computerwold Brasil, Mundo Java e Linux Magazine, além de apresentar palestras em eventos e conferências de renome. É
autor de cinco livros que abordam assuntos como Open Source/Software Livre, Grid Computing, Software Embarcado e Cloud
Computing, editados pela Brasport (www.brasport.com.br). Cezar Taurion também mantém um dos blogs mais acessados da
comunidade developerWorks (www.ibm.com/developerworks/blogs/page/ctaurion). Este blog, foi, inclusive o primeiro blog da
developerWorks na América Latina. Foi também professor do MBA em Gestão Estratégica da TI pela FGV e do MBI da UFRJ.

Quebrando os paradigmas computacionais: a Computação em Nuvem 139


Carr, o que aconteceu com a eletricidade está acontecendo agora com a computação. Sistemas
privados, montados e operados individualmente por empresas estão sendo suplantados por
serviços fornecidos por uma rede comum. A computação está virando um serviço e as equações
econômicas que determinam a maneira como se vive e se trabalha estão sendo reescritas.

Computação em Nuvem ainda não está no topo das prioridades dos CIOs, mas já está aparecendo
na tela do radar. É simples questão de tempo sair do cantinho da tela e se deslocar para o centro,
atraindo a atenção dos executivos. É bastante provável que em poucos anos Computação em
Nuvem já esteja no cerne dos discursos e ações dos CIOs. Portanto, é o momento de conhecer
um pouco mais seu conceito, suas tecnologias e aplicabilidades.

2 Computação em Nuvem a as incubadoras de software

A sociedade informatizada está às portas de cada pessoa. Caminha-se a passos acelerados em


direção a uma economia baseada no conhecimento. O seu alcance e efeito será maior que a
provocada pela revolução industrial. Os processos de produção, padrões e relações de trabalho,
organização empresarial, programas educativos, padrões de consumo e comunicação estão e
continuarão a passar por transformações significativas.

Informação e conhecimento já são hoje o principal motor de uma economia. Os bens tangíveis
incorporam valor muito mais pelo que representam, de tecnologia e inovação, do que pela matéria
prima e trabalho não-qualificado que contém. Um quilo de satélite custa alguns milhões de vezes
mais que um quilo de soja. Cresce continuamente a participação da indústria e dos serviços
intensivos em conhecimento. É uma revolução baseada na informação e conhecimento, liderada
pela evolução das Tecnologias da Informação e das Telecomunicações. As TICs afetam
profundamente o desempenho de todos os setores econômicos, públicos e privados, e também
consolidam por si, um setor altamente dinâmico e de grande peso econômico.

Software é o segmento mais dinâmico desta indústria. A produção de software que começou como
apêndice da indústria de computadores, é hoje um setor dinâmico que apresenta crescente
especialização. A produtividade da indústria de software (indústria aqui entendida como o conjunto
de empresas que produzem produtos e/ou serviços substitutos entre si) tem aumentado
significativamente pela adoção de técnicas elaboradas de desenvolvimento (engenharia de
software) e pelo uso de estações de trabalho que permitem utilização de linguagens interativas de
mais alto nível.

O efeito econômico da indústria de software não pode ser medido simplesmente pelos empregos e
impostos gerados. O software provoca um profundo impacto em praticamente todos os segmentos
da economia. No nível mais básico, automatiza tarefas repetitivas que antes requeriam grande
investimento de tempo e dinheiro. Automatizando estas tarefas as empresas conseguem se
concentrar no trabalho mais substantivo, ao invés do administrativo. A evolução tecnológica
permite variar e sofisticar o trabalho, permitindo, por exemplo, que engenheiros utilizem recursos
de “realidade virtual” para produzirem visões de automóveis, aeronaves e edifícios. As tecnologias
da informação e telecomunicações e o software são ferramentas essenciais para melhorias de
eficiência das empresas e economias, aumentando sua produtividade e competitividade como um
todo.

140 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


A indústria de software se encaixa nas classificações pertinentes da economia de serviços. É
invisível, embora seus efeitos sejam sentidos; é indivisível, pois não funciona em partes; e é
intangível, pois não pode ser tocado ou estocado. O que é estocado são as mídias. Além disso,
existe a dificuldade em estabelecer um valor real a ele. Também é difícil mensurar a amplitude da
produção de software de um país, pois muito software é desenvolvido internamente em empresas
de outros segmentos ou sob encomenda, não entrando nas estatísticas.

A dinâmica do mercado de software é acelerada. As barreiras de entrada são baixas. É um


mercado orientado a conhecimento, com pouca necessidade de capital. Não é em absoluto um
mercado intensivo em capital. É também um mercado de grande concorrência, com as empresas
estabelecidas enfrentando contínuos riscos de novos entrantes.

As baixas barreiras de entrada e a pouca necessidade de capital impulsionam o ritmo de inovação


e modificações. Produtos inovadores são lançados continuamente, bem como as versões dos
produtos existentes são liberadas em curtos intervalos de tempo entre si.

Entretanto, alguns desafios surgem na frente dos empreendedores desta indústria. Embora as
barreiras de entrada sejam muito mais baixas que no setor industrial tradicional, o custo de
equipamentos e softwares ainda é um sério inibidor para empreendedores sejam eles oriundos de
universidades, sejam microempresários.

A criação de incubadoras para start-ups de softwares, como se propõe no projeto BEL-i9, vem
sendo considerada uma alternativa por excelência para ajudar a vencer algumas barreiras, como
apoio em planos de negócio e auxílio no desenolvimento dos negócios. Nesse contexto, a
possibilidade do uso de novos modelos computacionais que permitam mitigar ou mesmo eliminar
os custos de aquisição de servidores e softwares será um excelente impulsionador para as
incubadoras de software. Nesse novo modelo, a Computação em Nuvem ou Cloud Computing já
demonstrou, na prática, seus benefícios para incubadoras.

Um exemplo interessante é a incubadora de empresas de software criada na cidade de Wuxi, na


China. Quais são os principais problemas de qualquer incubadora de softwares? Alocar recursos
computacionais, de forma dinâmica (os softwares incubados estão em níveis diversos de demanda
de recursos) e barata (empresas incubadas não tem dinheiro...). A resposta da incubadora foi criar
uma infraestrutura em Cloud Computing que permite às incubadas alocarem recursos
dinâmicamente.

Então o que é Cloud Computing ou Computação em Nuvem? É uma ideia extremamente sedutora:
utilizar os recursos ociosos de computadores independentes, sem preocupação com localização
física e sem investimentos em hardware. O interesse pela ideia é refletida nos inúmeros artigos
técnicos, publicações e eventos sobre o tema.

Pode-se dizer que a Computação em Nuvem é um termo para descrever um ambiente de


computação baseado em uma imensa rede de servidores, sejam estes virtuais ou físicos. Uma
definição simples pode então ser “um conjunto de recursos como capacidade de processamento,
armazenamento, conectividade, plataformas, aplicações e serviços disponibilizados na Internet”. O
resultado é que a nuvem pode ser vista como o estágio mais evoluído do conceito de virtualização,
a virtualização do próprio data center.

Quebrando os paradigmas computacionais: a Computação em Nuvem 141


Se é possível resumir algumas das suas caraterísticas principais, tem-se:

• A Computação em Nuvem cria uma ilusão da disponibilidade de recursos infinitos,


acessáveis sob demanda.

• A Computação em Nuvem elimina a necessidade de adquirir e provisionar recursos


antecipadamente.

• A Computação em Nuvem oferece elasticidade, permitindo que as empresas usem os


recursos na quantidade que forem necessários, aumentando e diminuindo a capacidade
computacional de forma dinâmica.

• O pagamento dos serviços em nuvem é pela quantidade de recursos utilizados (pay-per-


use).

O conceito de Computação em Nuvem já é comum em algumas das empresas mais famosas da


Internet como o Google, Amazon e o Yahoo, que mantém parques computacionais com centenas
de milhares de máquinas.

Estas empresas, de forma independente umas das outras, criaram imensos parques
computacionais, baseados no conceito de nuvem, para operarem seus próprios negócios. Uma vez
tendo desenvolvido estas imensas infraestruturas, descobriram que poderiam gerar novos
negócios, criando então as ofertas de serviços de Computação em Nuvem, disponibilizando-os
para o mercado.

Isto acontece de duas formas:

Uma parte é oferecida na forma de serviços. Assim, em vez de armazenar documentos e rodar um
processador de textos no próprio PC, pode-se acessar o Google Docs, que disponibiliza as
principais e mais usadas funções do onipresente Office da Microsoft. Esta abordagem é conhecida
como “software como serviço” ou Software-as-a-Service. O SaaS já envolve hoje inúmeros
aplicativos empresariais como gerenciamento de relações com o cliente, recursos humanos,
contabilidade e outros, providos por empresas como Salesforce e NetSuite. As pequenas
empresas, em particular, estão recorrendo a esses serviços para fugir da dor de cabeça que é
manter seus próprios data centers.

A segunda forma de computação terceirizada envolve o fornecimento de poder de processamento


e capacidade de armazenamento. As companhias compram acesso ao massivo centro de dados
de um provedor de nuvem para reforçar sua capacidade em períodos de necessidade ou
simplesmente para substituir totalmente sua infraestrutura.

A Amazon surgiu como líder inicial deste negócio e pode vir, um dia, a ser mais conhecida pela
sua plataforma de nuvem do que por seu website de varejo. A Amazon, de forma pioneira,
descobriu que poderia vender sua infraestrutura em nuvem, como uma plataforma (conhecida
como Platform-as-a-Service), explorando novos modelos de uso e pagamento. Mais da metade
dos recursos de computação da Amazon estão sendo consumidos por outras companhias, que
rodam seus aplicativos nos centros de dados da varejista.

142 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Aliás, mesmo sem conhecer o assunto, ao se usar Gmail ou armazenar fotos da família no Flickr já
se utiliza a Computação em Nuvem. E porque estes serviços são utilizados? Simples: são fáceis
de usar e muito convenientes. Ter acesso a seus e-mails, fotos e arquivos de texto e
apresentações, de qualquer lugar, de qualquer computador ou dispositivo de acesso à Internet,
seja este seu próprio, de um amigo ou em um cibercafé, faz muita diferença.

Nos próximos anos, o uso da Computação em Nuvem deve aumentar significativamente. Além da
tecnologia estar disponível (proliferação de conexões banda larga, processadores mais baratos e
cada vez mais poderosos, como o custo de armazenamento caindo significativamente) permitindo
a criação de data centers massivos, algumas pesquisas têm mostrado que os usuários de 18-29
anos usam com muito mais intensidade estes serviços que os mais veteranos, de mais de 45-50
anos. A geração Y que está começando a despontar no cenário do mercado de consumo e de
trabalho vai acelerar mais ainda sua utilização. Daqui a dez anos este pessoal será dominante nas
empresas.

Além disso, a pressão por um maior eficiência da infraestrutura de computação é cada vez maior.
A cada dia são gerados no mundo inteiro novos 15 petabytes de informação. Os custos de energia
elétrica aumentaram pelo menos oito vezes de 1996 até hoje. E se somarmos a isso a previsão
que em 2011 um terço da população mundial estará na Internet, fica claro que os modelos atuais
de gestão de infraestrutura não são mais adequados.

O que se ganha com esta arquitetura? Os usuários domésticos, como os que usufruirão dos
serviços do BEL, passarão a dispor destas nuvens, obtendo, na prática, acesso praticamente
ilimitado a recursos, como espaço em disco e softwares. O que se verá é um deslocamento do
conteúdo de dentro dos PCs para as nuvens computacionais. Provavelmente não serão mais
necessários computadores pessoais com grande capacidade de processamento, como hoje. Para
que dispor de 120 GB de disco rígido se é possível, via comunicações de alta velocidade, ter
acesso a terabytes de dados?

As pessoas poderão usar equipamentos portáteis como smartphones ou netbooks, com um


browser para acesso à Internet. Através deste browser será possivel acessar qualquer informação
pessoal e aplicativos, que estarão todos disponíveis nas nuvens do BEL. O PC pode ser
praticamente um chip com um monitor ligado à Internet. Toda a inteligência estará na rede. Uma
frase propagandeada pelo Google reflete bem isso : “meu outro computador é um data center”.

Mas, e as empresas? Alguns estudos têm mostrado que empresas de pequeno a médio porte
gastam 70% do seu tempo gerenciando os recursos de TIC (algo que não gera valor agregado ao
negócio) e apenas 30% em atividades focadas no seu próprio negócio. Claro que é uma situação
problemática. Com o modelo de Computação em Nuvem, o primeiro benefício é uma melhor
utilização dos recursos computacionais, potencializando os conceitos de consolidação e
virtualização. Além disso, reduz sensivelmente o time-to-market para aplicações de e-business e
Web 2.0 (com a inclusão de aplicações de mundos virtuais e games MMPOG), que demandam
conceitos do modelo computacional on-demand (alocar recursos à medida que for necessário, de
forma dinâmica).

A empresa pode se abstrair de uma camada de complexidade demandada pela infraestrutura


computacional e se concentrar na geração de valor de nível mais alto. Em vez de ficar 70% do

Quebrando os paradigmas computacionais: a Computação em Nuvem 143


tempo gerenciando sua infraestrutura, pode investir este tempo e energia para otimizar ou expandir
o negócio. A infraestrutura passa a dispor de uma elasticidade que permite à organização
aumentar ou diminuir seu “parque computacional virtual” de acordo com a demanda de recursos. É
a realidade da computação sob demanda. E tudo isso pode ser perfeitamente viável por meio de
um sistema de telecomunicações de alta capacidade e confiabilidade, como o do BEL [7], da
COPEL Telecomunicações.

O resultado? Imagine-se uma empresa de comércio eletrônico, que vende seus produtos pela
Internet. Ela precisa dispor de um parque computacional configurado para atender seus períodos
de pico de venda, como Natal e Dia das Mães. No restante do ano grande parte desta capacidade
computacional fica subutilizada. Com a Computação em Nuvem esta empresa não precisa ter este
parque de computadores instalado em seus escritórios. Ela adquire a quantidade de capacidade
necessária e apenas paga por este uso. Não paga pela capacidade instalada e ociosa, como fazia
no modelo anterior. Paralelamente, o BEL também oferecerá Internet “por consumo”, onde o
usuário pagará somente pela Internet que usar, o que é outra vantagem adicional para os
consumidores.

Isto significa que ela pode comprar capacidade de processamento por uso. Assim, em períodos de
maior demanda, como nos períodos de pico de vendas ou no fechamento da folha de pagamento
aumenta a capacidade. Nos períodos de menor uso, dispensa esta capacidade e não paga pelo
que não usa. Por sua vez, o provedor da nuvem, pode obter bons resultados comerciais, pois
realoca dinamicamente a capacidade disponível para quem está precisando naquele momento.

Como a empresa não paga por recursos desnecessários e nem tem gastos com os espaços físicos
e de infraestrutura do data center, como energia e refrigeração, ela tem gastos menores com sua
operação de TIC e pode repassar esta eficiência operacional aos seus clientes, tornando-se mais
competitiva no mercado.

Portanto, com o BEL não se está diante de mais uma onda de marketing, mas sim de uma
revolução tecnológica e de conceitos, que pode mudar significativamente a maneira como são
utilizados os recursos computacionais e de telecomunicações. A possibilidade de criar um
verdadeiro data center virtual com recursos já existentes permite desenvolver novas e inovadoras
aplicações. Abre-se uma nova perspectiva e certamente estamos diante de grandes mudanças nos
paradigmas computacionais.

Apesar da tecnologia estar na sua infância, já existem casos concretos e bem sucedidos de
implementação em ambiente empresarial. Um bom exemplo é o portal de inovação usado
internamente na IBM, denominado TAP (Technology Adoption Program). É uma das iniciativas de
fomento à inovação e que permite que softwares experimentais sejam usados e testados pelos
funcionários, uma comunidade de profissionais experimentados e críticos que podem avaliar o
software quanto à qualidade, funcionalidade, desempenho, etc. Sem uso de uma nuvem
computacional, seria necessário construir uma infraestrutura específica e disponibilizá-la para esta
comunidade de experimentadores. Com o portal de inovação e Computação em Nuvem como
infraestrutura, a equipe responsável pelo software simplesmente preenche uma requisição on-line
explicitando os recursos (CPU, memória, sistema operacional, etc) e em cinco minutos a
requisição pode ser aprovada e os recursos virtuais alocados. O resultado tem sido bastante
positivo. Em 2007 estavam registrados mais de 92.000 funcionários como experimentadores

144 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


destas tecnologias, ou quase 1/3 da força de trabalho global da IBM. Mais de 70 softwares
experimentais estiveram ou estavam em operação e muitos foram graduados, ou seja,
disponibilizados em produção como sistemas internos ou colocados como produtos no mercado.

A adoção de novos conceitos e tecnologias levam anos para se consolidarem e disseminarem pelo
mercado. As empresas não abandonam seus primeiros investimentos em tecnologia, mas criam
camadas de tecnologias mais recentes em cima das antigas. A mudança para o paradigma da
Computação em Nuvem não vai ocorrer da noite para o dia. As empresas geralmente são
cautelosas quanto à maneira como lidam com seus ativos de informação e não experimentam
facilmente novos sistemas de TI. As preocupações com segurança e confiabilidade ainda vão agir
como barreiras de entrada durante alguns anos.

A velocidade de adoção da Computação em Nuvem vai depender da maneira como as


companhias usarão os novos recursos e como elas atenderão às crescentes expectativas dos
seus clientes. Isto significa que todas as coisas que o Google e Amazon fazem tão bem também
devem ser feitas por grandes empresas em seus data centers. Para poder ter escala para prestar
grandes volumes de serviços, data centers deverão investir em uma abordagem industrializada,
simbolizada pelas nuvens privadas. Alguns estudos mostram que os data centers deverão suportar
um crescimento de dez a cem vezes em número de aplicações e serviços nos próximos dez anos.

O fato é que as infraestruturas computacionais atuais são subutilizadas. Na maioria das


organizações apenas uma pequena parcela da potência dos computadores é utilizada plenamente.
A maioria apresenta níveis de utilização muitos baixos, chegando a apenas 5% a 10% da
capacidade de processamento disponível.

A Computação em Nuvem aparece como uma alternativa, pois aloca recursos computacionais à
medida que eles sejam demandados. Se houver maior demanda de transações, mais recursos são
alocados. Se a demanda diminuir, esses recursos são liberados para outras aplicações.

Uma nova tecnologia se desenvolve e é impulsionada quando determinados problemas não podem
mais serem resolvidos pelas tecnologias existentes. Em termos da Computação em Nuvem pode-
se pensar em impulsionadores extremamente poderosos, que não podem ser ignorados.

O primeiro é que à medida que as empresas se interconectam, em redes de valor colaborativas,


trabalhando sob demanda em “organizações virtuais”, mais e mais a infraestrutura computacional
também deve operar sob demanda. Uma “organização virtual” pode ser um consórcio industrial,
como automotivo ou aeroespacial, no qual diversos parceiros de negócios desenvolvem projetos
de um automóvel ou aeronave, de forma colaborativa, compartilhando informações, bases de
dados e aplicações. Um mercado que precisa responder rapidamente às mudanças no contexto de
negócios, seja para mais ou para menos, não pode ficar dependente de uma infraestrutura
computacional rígida como a imposta hoje em dia.

Além disso, à medida que a computação vai se tornando cada vez mais onipresente, com
etiquetas de produtos contendo chips com Identificação por Rádio Frequência (RFID - Radio
Frequency Identification) colados em latas de cerveja e pacotes de sucrilhos, o volume de dados
que irão trafegar pelas empresas e que precisarão ser manuseados em tempo real será
absurdamente maior que o atual. E é quando se dará imenso valor às empresas que investiram e
investem em redes de fibras ópticas, como é o caso da COPEL Telecomunicações. A

Quebrando os paradigmas computacionais: a Computação em Nuvem 145


imprevisibilidade da demanda aumentará também de forma exponencial e será impossível
implementar sistemas pelo tradicional método de dimensionamento de recursos pelo consumo no
momento de pico, pois os custos serão simplesmente astronômicos.

Juntando a necessidade de acompanhar a flutuação das demandas de mercado com o


crescimento dos volumes e serviços prestados, e com a subtilização dos recursos computacionais
hoje disponíveis nas empresas, chega-se à constatação de que precisa-se de um novo modelo
computacional, mais flexível e adaptável à velocidade das mudanças que ocorrem diariamente no
mundo dos negócios.

Como se aprendeu na era industrial, para criar indústrias com altos níveis de produtividade e
qualidade de padrão mundial, é necessário adotar disciplinas de engenharia, trabalhar com
informações em tempo real e simplificar consideravelmente os processos industriais. Similarmente,
não se conseguirá aumentar a capacidade de um data center para suportar de dez a cem vezes
mais serviços e aplicações, mantendo os processos atuais de gestão e operação. Simplesmente
os custos de gerenciamento e de energia serão proibitivos. Portanto, um novo modelo torna-se
necessário.

Este novo modelo ou conceito, de computação como utility, é uma ideia simples, mas ao mesmo
tempo fantástica. Utilizando uma metáfora, seria similar às redes de energia elétrica da COPEL,
onde toda a complexidade da geração, transmissão e distribuição de energia é escondida do
usuário que simplesmente aperta o interruptor para iluminar sua sala ou liga um aparelho
eletrodoméstico na tomada e aperta o botão de ligar, sem ter ideia de onde a energia foi gerada e
que caminhos ela percorreu para chegar até ele. Um dos principais pilares da computação como
utility é exatamente o conceito da Computação em Nuvem.

Nuvem em TIC significa que toda uma rede de computadores estaria disponível ao usuário para
executar seus programas, sem que ele precise saber exatamente qual ou quais computadores
estão fazendo o trabalho. Embora a complexidade para isto acontecer seja imensa, a nuvem de
computadores, como um todo, permanece oculta para o usuário. O que está se falando aqui é
fazer com que computadores diferentes, com ambientes operacionais diversos, trabalhem
colaborativamente como se fossem um único e poderoso computador virtual. Integrar ambientes
heterogêneos não é uma tarefa fácil e simples. O usuário deve fazer o login, autenticar-se na rede
e se adequar às políticas de segurança dos componentes da nuvem. Ele precisa confiar que seu
trabalho e seus dados estarão tão seguros na nuvem quanto em seu próprio computador.

A Computação em Nuvem ainda não está perfeitamente compreendida. A atual fase é ainda de
aprendizado e muitas dúvidas e questionamentos ainda ocorrem. Se for perguntado até a um
profissional de TIC o que é Computação em Nuvem, com certeza diferentes respostas. Serão
obtidas. Indefinições e reações adversas quanto à sua aplicabilidade e utilidade ainda são comuns.

3 Conclusões

É indiscutível que a Computação em Nuvem sinaliza um novo paradigma computacional.


transformando toda a indústria de TIC, como a energia elétrica transformou toda a sociedade. A
Computação em Nuvem provocará impactos significativos na maneira como as empresas usam as
TICs e como os fornecedores vendem as TICs. Este impacto deverá ser tão grande quanto foi o e-

146 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


business anos atrás, que mudou em muito a visão e o papel das TICs nas organizações. Como o
e-business gerou novas e inovadoras empresas para o mundo web, como a Amazon e o Google,
por exemplo, a Computação em Nuvem também abrirá espaço para novos e inovadores negócios.
Assim, é fundamental que seu uso seja contemplado em um projeto como o BEL-i9.

Será difícil prever quais serão os efeitos da disseminação da Computação em Nuvem sobre as
empresas e a sociedade. De maneira geral, as mudanças nas arquiteturas e paradigmas
computacionais são acompanhadas por previsões que derivam simplesmente das experiências
passadas. E os efeitos da maior alcance de uma nova tecnologia normalmente são aqueles que
não são previstos. No entanto, com o maior acesso da população às redes ópticas de alto
desempenho, como as do projeto BEL, da COPEL Telecomunicações, a tendência é que a
Computação em Nuvem venha a se consolidar, e mais rapidamente do que se possa imaginar.

4 Referências
[1] Taurion, Cezar. Cloud Computing: Transformando o mundo da Tecnologia da Informação. Rio de Janeiro,
Editora Brasport, 2009

[2] www.computingonclouds.wordpress.com

[3] www.ibm.com/developerworks/blogs/page/ctaurion

[4] “Above the clouds: a Berkeley view of Cloud Computing”, que pode ser acessado em
http://www.eecs.berkeley.edu/Pubs/TechRpts/2009/EECS-2009-28.pdf.

[5] “Cloud Architectures”, de Jinesh Varia, Technology Evangelist da Amazon, que pode ser acessado em
http://jineshvaria.s3.amazonaws.com/public/cloudarchitectures-varia.pdf.

[6] www.ibm.com/cloud

[7] PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada
estrategicamente, em equipe. COPEL Telecomunicações, Curitiba, 2009, 207pp.

Quebrando os paradigmas computacionais: a Computação em Nuvem 147


18 Desenvolvendo produtos
inovadores através do BEL-i9
1
Aloivo Bringel Guerra Junior

COPEL – Companhia Paranaense de Energia


aloivo.guerra@copel.com

1 Introdução

Entende-se que o BEL-i9 usará o modelo de incubadora que nascerá com a missão de inovar e,
como consequência, desenvolver o Paraná, reunindo a academia e a COPEL em torno de uma
mesma missão e usando como meio as tecnologias de telecomunicações, o que parece ser de fato
um modelo bastante inovador de desenvolvimento e empreendedorismo dentro do nosso estado.

Este novo modelo vem acompanhado da necessidade da COPEL em atuar no segmento


competitivo e promissor de banda larga, onde a inovação de base tecnológica com foco no
mercado poderá ser uma das estratégias para atender as exigências dos acionistas da empresa e
do mercado quanto à sua futura performance no segmento de telecomunicações. O trinômio
tecnologia, produto e mercado é muito bem tratado em [2] e merece grande atenção no contexto
do BEL-i9, pois poderá fazer a diferença para o seu sucesso.

Uma incubadora com foco na produção de produtos deverá ter muita preocupação com a
avaliação inicial dos projetos e com a qualidade dos produtos que serão gerados para o mercado.
O rigor na seleção e acompanhamento dos projetos potencializará uma maior probabilidade de
sucesso dos empreendedores incubados, pois serão os melhores projetos na visão dos gestores
dos processos da incubadora.

Dentro deste contexto, deve-se entender que apesar do estímulo ao empreendedorismo, que é
uma das funções de uma incubadora, a inovação tecnológica no aspecto de geração de novos
produtos passa a compor uma estratégia empresarial de renovação de competências e de visão
empresarial, onde o estreitamento das relações entre os profissionais da COPEL e a academia
passa a ter, nos projetos incubados, um novo estímulo a novas formas de conduzir projetos e
também de produzir produtos.

1
Aloivo Bringel Guerra Junior é Engenheiro de Computação pela Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Pós-Graduado
em Telecomunicações (UFPR) e com MBA em Gestão Empresarial/Planejamento Estratégico (FGV). Mestrando em Gestão
Empresarial (FGV/EBAPE). Atualmente é gerente da área de Engenharia de Produtos da COPEL Telecomunicações.

Desenvolvendo produtos inovadores através do BEL-i9 149


Seguindo o que foi previamente citado para as próximas décadas por [3], no caso do BEL-i9, a
COPEL passa a fomentar um empreendedorismo tecnológico genuíno em nosso estado,
envolvendo geração de ideias e lançamento de iniciativas sustentadas por produtos de base
tecnológica num modelo de negócio atraente no segmento de telecomunicações.

Mais do que a geração de empresas de base tecnológica, o BEL-i9 poderá criar um ambiente
inovador e prático, no aspecto de agregar toda uma infraestrutura de telecomunicações de última
geração aos participantes dos projetos incubados, tratando cada um dos inovadores como um
potencial participante das suas estratégias de diferenciação de mercado.

Um grande desafio que deverá ser muito bem planejado é o de como o resultado do produto
incubado será comercializado e operado, uma vez que ele sairá da incubadora e deverá chegar
até os clientes da COPEL.

Através do modelo da incubadora BEL-i9, a possibilidade de uma nova empresa se estabelecer no


mercado, seja ancorada pela oferta de novos produtos com a marca COPEL ou pela sustentação
de uma infraestrutura que propicie a inovação no segmento de telecomunicações com um apoio
estratégico para novos negócios, poderá reduzir os terríveis índices apontados em [3], onde 56%
das pequenas e médias empresas fecham as suas portas até o terceiro ano.

Ainda, segundo [3], no Sul, especificamente no Paraná, há 8 incubadoras, sendo a maioria delas
idealizadas com a missão de reduzir a taxa de mortalidade das pequenas empresas, fornecendo
algumas facilidades para os empreendedores a um custo bem menor do que no mercado. Este
modelo tradicional parece não garantir de forma satisfatória a longevidade das novas organizações
incubadas, posto que ele carece de uma melhor visão de mercado para os produtos incubados.

Figura 1: Distribuição das incubadoras no Brasil

150 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


A grande diferença do BEL-i9 para o modelo tradicional das incubadoras, como aquelas
apresentadas na figura 1, está na finalidade da incubadora. No caso da COPEL, pode-se definir a
incubadora, como sendo de produtos e serviços de valor adicionado de telecomunicações, que
serão ofertados em parceria. Ao serem definidas 9 (ou mais) potenciais parcerias, seria como criar
parceiros de novos negócios através de uma infraestrutura de última geração, onde o fim será a
oferta de produtos e serviços inovadores para um mercado previamente avaliado.

2 Classificação das incubadoras

Conforme apresentado por [3], as incubadoras podem ser assim classificadas: Incubadora
Tecnológica Fechada, Incubadora Tecnológica Mista, Incubadora Tradicional Fechada, Incubadora
Tradicional Aberta.

No caso do BEL-i9 a incubadora é tecnológica e o autor entende que no início de seu


funcionamento ela se aproximará mais do modelo fechado, mas ela possuirá alguns recursos que
poderão caracterizá-la futuramente como aberta.

O mais correto seria classificá-la num novo modelo, que poderia ser chamado de incubadora
tecnológica de negócios ou de produtos e serviços de valor adicionado de telecomunicações.

3 Apoio tecnológico para geração de produtos

O modelo da incubadora BEL-i9 é voltado à oferta de novos produtos e serviços, sendo que o
sucesso de cada projeto acompanha o de alguns recursos mínimos.

Segundo [3], recursos como infraestrutura, serviços básicos, assessoria, qualificação e networking
são comuns a todas as incubadoras.

Descrevendo um pouco mais cada item apresentado, tem-se:

• Infraestrutura: salas individuais e coletivas, laboratórios, biblioteca, salas de reunião,


recepção, copa cozinha, estacionamento.

• Serviços Básicos: telefonia e acesso web, recepcionista, segurança, xerox.

• Assessoria: apoio gerencial, contábil, Jurídica, apuração e controle de custo, gestão


financeira, comercialização, exportação para o desenvolvimento do negócio.

• Qualificação: treinamento, cursos, assinaturas de periódicos, jornais e publicações.

• Networking: contatos de nível com entidades governamentais e investidores, participação


em eventos de divulgação das empresas, fóruns e outros.

A visão apresentada acima está mais voltada para as atuais incubadoras, mas como a COPEL
busca um novo modelo que garanta a inovação, para isto ela também deverá ofertar alguns
diferenciais em relação aos modelos tradicionais.

Desenvolvendo produtos inovadores através do BEL-i9 151


A COPEL poderá disponibilizar todos os recursos tecnológicos para que os incubados possam
desenvolver os seus produtos e serviços sobre os recursos da COPEL, desta maneira a produção
de novos produtos e serviços será uma consequência imediata dos projetos incubados sobre os
recursos disponibilizados.

Alguns recursos que a COPEL poderá disponibilizar para os nove incubados, são:

• Sistemas de Telecomunicações.

• Plataforma de usuários do BEL.

• Rede IP/MPLS de última geração.

• Rede Ethernet para desenvolvimento de soluções Metropolitanas.

• Sistemas de Transmissão diversos (SDH/DWDM).

• Sistemas de Acesso Diversos (GPON/Wireless/PLC).

• Soluções de gerência de telecomunicações.

• Interfaces para sistemas de TI de apoio a uma operadora de telecomunicações.

• Serviços de Multicomunicação (VoIP e Videoconferência).

• Servidores e sistemas.

• Plataformas de virtualização de sistemas.

A COPEL poderá colocar todos os seus recursos de última geração no segmento de


telecomunicações a favor dos incubados, para que eles possam criar projetos inovadores que
resultem em novos produtos para o mercado ou em melhorias de processos para organização.

A questão do apoio na forma de assessoria poderá ter o foco na comercialização de produtos da


COPEL em parceria com os incubados; desta maneira, a força da marca COPEL e dos seus
recursos de gestão ficarão à disposição da incubadora. É um novo modo de aproximar a academia
a uma empresa pública, com finalidade comercial.

Além dos recursos acima apresentados, que são recursos de uma operadora de telecomunicações
que atua no mercado competitivo de banda larga, outros itens também poderão ter importância,
para que o resultado seja o melhor possível, como:

• Ferramenta de colaboração coorporativa.

• Ferramenta de gestão de projetos para transparência no acompanhamento do


cronograma e desembolso dos projetos.

• Escritório virtual: possibilitar que o ambiente se reconfigure de acordo com as


necessidades de cada projeto.

152 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Escritório Móvel: permitir a integração com a incubadora dos profissionais que atuem no
projeto ou dos consultores externos a partir de qualquer lugar onde exista uma conexão a
Internet. Desta maneira, qualquer participante poderá estar conectado e trabalhando para
incubadora à distância, de forma virtual com os principais recursos a sua disposição.

• Estúdio IP: disponibilizar um ambiente que permita uma reunião em tempo real e tamanho
real, um pronunciamento, apresentação ou palestra que possa ser armazenada
compondo o portfólio de documentação e biblioteca virtual com os projetos da incubadora
servindo como apoio a novos projetos.

4 Certificação de produtos e serviços BEL-i9

Além da gestão dos projetos, o resultado que o incubado irá produzir que será um produto ou
serviço inovador para o mercado ou uma inovação para os processo internos da organização,
merecem a aplicação de um modelo gestão especial por parte da COPEL.

O processo poderá passar pela idealização de um novo produto com acompanhamento de todas
as suas fases, desde a elaboração até a implantação e análise do ciclo de vida de um novo
produto ou serviço. Um produto ou serviço originado na incubadora poderá retornar para sofrer
pequenas correções ou melhorias ou para ser reformulado.

Por atuar diretamente no mercado, tanto a fase de testes como de implantação final de um produto
ou serviço devem ter um tratamento diferenciado na incubadora.

A implantação de um Certificado ou Selo de Qualidade (“Produto BEL-i9” ou “Serviço BEL-i9”) para


cada produto ou serviço que será comercializado ou implantado poderá ser uma preciosa
vantagem adicional.

Todo incubado deverá ter bem claro que não basta possuir um bom projeto, ele deve conseguir
extrair um ou mais resultados deste projeto, que no caso do BEL-i9, são produtos, serviços ou
melhorias de processos organizacionais.

5 Modelo de acompanhamento

A gestão com planejamento da incubadora e dos seus participantes é crítica para a COPEL e foi
citada em [3] como fator de deficiência do empreendedorismo de base tecnológica. Já o foco
tecnológico e mercadológico que os incubados dão para os produtos, onde a gestão e
desenvolvimento de produtos possui um papel estratégico no desenvolvimento do negócio é
fundamental para sobrevivência dos incubados. Portanto, neste aspecto, a preocupação com o
acompanhamento com foco no resultado atrelado à produção de produtos e serviços inovadores
voltados ao market pull deverá ser um dos principais papéis da COPEL enquanto gestora do BEL-
i9.

O modelo de acompanhamento da incubadora poderá ser totalmente on-line; desta maneira,


qualquer gestor ou membro importante para incubadora poderá acompanhar qualquer projeto em
qualquer instante, inclusive a incubadora deverá conseguir acompanhar o desempenho dos seus

Desenvolvendo produtos inovadores através do BEL-i9 153


produtos no mercado. Desta maneira, os gestores do BEL-i9 poderão sempre promover melhorias
no seu modelo de gestão e nos seus processos.

A transparência no projeto de gestão com uso de ferramentas inovadoras, poderá promover um


aprendizado direto para COPEL Telecomunicações, aprendendo outras maneiras de realizar
gestão dos seus recursos. Desta maneira, concretiza-se a troca de experiências entre os modelos
de gestão adotados no BEL-i9 e COPEL, voltados para tecnologia e mercado.

Assim como o modelo da composição de um comitê para seleção dos projetos para o BEL-i9 vem
sendo discutido, um modelo de acompanhamento do resultado dos projetos, mais especificamente
dos produtos e serviços, poderia ser criado e conduzido pela atual área de Engenharia de
Produtos da COPEL Telecomunicações ou, futuramente, por outra área.

Com este modelo de acompanhamento, será possível alcançar alguns objetivos, como:

• Os produtos terão acompanhamentos constantes, ampliando o êxito de um produto pronto


e adequado ao mercado.

• Transferência de tecnologia, onde os profissionais da COPEL conhecerão a fundo a


tecnologia utilizada.

• Implantação mais precisa de um produto para área operacional.

• Inclusão dos novos produtos no portfólio de produtos, facilitando a área comercial para
ofertar os novos produtos.

• Elevação do nível técnico dos profissionais da COPEL com a aproximação junto a


academia.

No trabalho apresentado por [1] no VII REINC (Encontro da Rede de Incubadoras), fica bastante
clara a importância de parcerias para o desenvolvimento tecnológico,. Deixa-se um alerta para que
além dos recursos disponibilizados pela COPEL, o novo modelo de inovação crie mecanismos
para que os incubados possam ter acesso aos possíveis parceiros que a COPEL está buscando.
Sempre com objetivo de inovação tecnológica, com foco em geração de produtos e serviços
inovadores, com aceitação do mercado.

Das melhores práticas para gestão de uma incubadora, conforme o texto apresentado por Amaral
[1], foram aqui selecionadas apenas algumas, que merecem reflexão e muita atenção no contexto
do BEL-i9. São elas:

• Uma estrutura com áreas de referência dedicas para inovação de negócios, inovação de
produtos, inovação de processos e tecnologias avançadas.

• Acompanhamento estruturado das empresas incubadas.

• Projetos geridos através da metodologia de gestão de projetos do PMI.

• Adoção de documentos institucionais importantes, como a política de apropriação do


conhecimento.

154 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Apoio na busca de financiamentos, na participação em feiras, na orientação fiscal e
jurídica.

• Parceria com empresas parceiras para apoio ou desenvolvimento técnico.

• Entendimento e acompanhamento de todo processo nas fases de pré-incubação,


incubação (interna e externa) e pós-incubação.

6 Conclusão

Vários são os desafios do BEL-i9, sendo que os projetos devem ter um planejamento detalhado,
com planos de negócios muito bem definidos, onde o sucesso na gestão dos incubados terá êxito
em função do nível de integração entre tecnologia, produto e mercado.

O resultado do BEL-i9 poderá ser mensurado pelos produtos e serviços de base tecnológica dos
incubados, que terão que ser inovadores e de grande aceitação no mercado.

A concretização de um novo modelo de gestão de uma incubadora com índices de


acompanhamento eficientes e transparentes, juntamente com o acompanhamento do desempenho
no mercado dos “Podutos BEL-i9”, parece apontar para um novo caminho de integração entre
COPEL Telecomunicações e Incubadora. Esta integração permitirá a identificação de melhorias na
produção dos resultados da incubadora e poderão elevar a atual COPEL Telecomunicações para
um novo modelo de organização extremamente competitiva e sustentável no segmento de
telecomunicações do futuro, onde as principais vantagens competitivas poderão estar apoiadas
nas estratégias de produtos inovadores.

7 Referências
[1] AMARAL, Marcelo. Estudo Benchmarking de Modelos de Gestão de Parques Tecnlógicos.
http://www.redetec.org.br/publique/media/MarceloAmaral.pdf. Acesso em 01/12/2009.

[2] CHENG, L.C.; DRUMMOND, P.H.F.; MATTOS, P. A Integração do trinômio tecnologia, produto e
mercado na pré-incubação de uma empresa de base tecnológica. Anais da 3ª Conferência
Internacional de Pesquisa em Empreendedorismo na América Latina (CIPEAL), Rio de Janeiro,
nov/04.

[3] eComerceOrg. Incubadoras de Empresas apóiam o empreendedorismo. http://www.e-


commerce.org.br/incubadoras.php. Acesso em 30/11/2009.

Desenvolvendo produtos inovadores através do BEL-i9 155


19
Incubadoras: necessidade e
modelos que podem ser usados no
projeto BEL-i9
1
Ricardo Mendes Junior
2
Maria do Carmo Duarte Freitas
3
Sergio Scheer

Universidade Federal do Paraná


1
mendesjr@ufpr.br
2
mcf@ufpr.br
3
scheer@ufpr.br

1 Introdução

Vive-se num ambiente de mudança acelerada provocada pela globalização e pelo crescimento do
uso da Internet nas relações de negócios entre países, empresas e pessoas. A ciência, tecnologia
e a inovação são vistas como diferenciais competitivos para quem delas dispõe e usufrui os
resultados proporcionados. No ambiente universitário, a meta é estimular os jovens a
desenvolverem seu potencial criativo e apoiar os que desejam enveredar no mercado profissional

1
Ricardo Mendes Junior é formado em Eng. Civil (UFPR), com Mestrado em Eng. Civil (UFRGS) e Doutorado em Engenharia
de Produção e Sistemas (UFSC). Prof. Adjunto do Curso de Eng. de Produção (UFPR), onde leciona desde 1981. Já foi Diretor
e Vice-diretor do Centro de Estudos de Engenharia Civil (UFPR). Foi também Coordenador do Curso de Pós-graduação em
Construção de Obras Públicas e Chefe do Dep. de Constr. Civil (UFPR). Atualmente é Coordenador do Programa de Pós-
graduação em Eng. de Produção (UFPR). Coordenador do Projeto Gestão Estratégica de Empreendimentos Tecnológicos
Sustentáveis, Programa Pró-Engenharias da CAPES, desde 2008. Coordenador do grupo de pesquisas em Tecnologia da
Informação e Comunicação - GRUPOTIC, desde 2000.
2
Maria do Carmo Duarte Freitas é Eng. Civil (UNIFOR, Fortaleza), com Mestrado em Eng. de Produção (UFSC), Doutorado
em Eng. de Produção (UFSC). Professora e Pesquisadora do setor de Educação à Distância (UNESC). Atualmente é Prof. Adj.
(UFPR), desde 2004. Professora e Pesquisadora do Grupo TIC e Coordena o Lab. de Mídias na Educação – LABMIDI e o
Centro de Estudos em Realidade Virtual Aumentada - CERVA.
3
Sergio Scheer é Eng. Civil (UFPR), com mestrado em Eng. Civil (UFRGS) e doutorado em Informática, área de Computação
Gráfica (PUC-RIO). Foi Membro, Secretario e Presidente da Comissão Central de Informática (UFPR) de 1989 a 2002. Diretor
do Centro de Computação (UFPR) de 1994 a 1998. Coordenador do Ponto de Presença da RNP-PR de 1994 a 1998.
Integrante e coordenador de tecnologia do Núcleo de Educação a Distância (NEAD/UFPR) de 1998 a 2002. Membro Suplente
do Conselho de Planejamento e Administração (UFPR) de 1999 a 2001. Membro Titular do Conselho de Planej. e Admin.
(UFPR) de 2001 a 2003. Diretor do Centro de Estudos de Eng. Civil. Vice-Coordenador do Programa de Pós-Grad. em
Métodos Numéricos em Engenharia de 2004 a 2006. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Métodos Numéricos
em Engenharia, de 2006 a 2008. Atualmente é Prof. Associado 2 do Depto. de Constr. Civil (UFPR), docente na UFPR desde
1981, ocupando hoje a função de Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. Também é o atual Diretor Executivo da Agência
de Inovação da UFPR, posição que ocupa desde janeiro de 2009.

Incubadoras: necessidade e modelos que podem ser usados no projeto BEL-i9 157
como empresário. Para tanto, deve-se estimular nos jovens a capacidade de aprender e de
desenvolver novas habilidades, aspecto fundamental no novo cenário de difusão e uso intenso das
tecnologias de informação e comunicação. De outro lado, ações governamentais de incentivo à
criação de incubadoras e de fomento para viabilização das novas ideias, aproveitando os
mecanismos de apoio oferecidos pelo governo, tais como: subvenção econômica, projetos em
parceria academia/empresa e o aporte financeiro das empresas na formação de joint-ventures.
Uns dos vetores destas ações são as incubadoras, objeto deste texto.

2 Conceitos

As incubadoras surgem para assegurar funções vitais às empresas com problemas de qualquer
origem. Na sua gênese dão vitalidade à organização com consultorias especializadas,
capacitações gerenciais, espaço físico e infraestrutura operacional, administrativa e técnica [1].

O Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos – PNI – [2]


conceitua incubadora como um mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micro e
pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, de base tecnológica ou de
manufaturas leves por meio da formação complementar do empreendedor em seus aspectos
técnicos e gerenciais. Além disso, agiliza e facilita o processo de inovação tecnológica nas micro e
pequenas empresas.

Um destaque especial é dado às incubadoras de empresas que surgem como um arranjo


institucional/empresarial que viabiliza a transformação do conhecimento em produtos, processos e
serviços. Normalmente surgem da participação ativa da comunidade que realiza pesquisas e
atividades tecnológicas, nas universidades e em outras instituições de cunho tecnológico. Em um
contexto onde o conhecimento, a eficiência e a rapidez no processo de inovação passam a ser
reconhecidamente os elementos decisivos para a competitividade das economias, o processo de
incubação é crucial para que a inovação se concretize em tempo hábil para suprir as demandas do
mercado. Em vista disso, é factível afirmar que a incubadora de empresas pode cumprir com
eficácia e eficiência o papel nucleador do processo de criação de empresas.

Para tanto, oferecem um espaço físico especialmente construído ou adaptado para alojar
temporariamente micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços e que,
necessariamente, dispõem de uma série de serviços e facilidades (tabela 1).

158 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Tabela 1 – Apoio oferecido na incubadora. Fonte: adaptado de Moraes [2],
Apoio Oferecido Descrição
Infraestrutura Individualizada Escritórios e laboratórios especialistas.

Coletiva Sala de reunião, auditórios, showroom,


secretaria, estacionamentos e
instalações laboratoriais.
Assessoria Humanos e serviços Em atividades de gestão empresarial,
gestão da inovação tecnológica,
comercialização de produtos e serviços
no mercado doméstico e externo,
contabilidade, marketing, assistência
jurídica, captação de recursos, contratos
com financiadores, engenharia de
produção e propriedade intelectual, entre
outros.
Serviços Básicos Telefonia, informática, acesso à Internet,
fax, impressora, material de secretaria
em geral, manutenção de equipamentos,
endereço postal, endereço de e-mail,
segurança e fotocópias.
Capacitação Humana Treinamento, cursos, participação em
eventos, assinatura de revistas, jornais e
publicações.
Network Contatos de nível com entidades
governamentais e investidores,
participação em eventos de divulgação
das empresas e fóruns.

Stainsack [4] destaca que o sucesso de uma empresa assenta-se em dez fatores-chave e
relevantes no processo de incubação:

i. localização e infraestrutura física;

ii. planejamento e gestão;

iii. empreendedorismo;

iv. marketing;

v. processo de seleção;

vi. capitalização;

vii. equipe gerencial;

viii. oferta de serviços especializados;

Incubadoras: necessidade e modelos que podem ser usados no projeto BEL-i9 159
ix. redes de relacionamento e

x. influências políticas e econômicas.

3 A necessidade das incubadoras

O modelo das incubadoras vigentes no séc. XXI configurou-se na década de 70, nos Estados
Unidos da América. Em meados da década de 80, as instituições financeiras, o governo e as
universidades se reuniram para alavancar o processo de industrialização de regiões pouco
desenvolvidas ou em fase de declínio, decorrente da recessão dos anos 70 e 80 [1].

Em 1980, os EUA possuíam 12 incubadoras e, 19 anos depois, contam com mais de 800
empreendimentos. De 80 para cá, as empresas graduadas criaram aproximadamente meio milhão
de empregos, sendo essa uma estimativa da National Business Incubation Association – NBIA. O
foco residia nas empresas de alta tecnologia que se associavam e surgiam acompanhadas por
instituições de ensino e pesquisa. Dados estatísticos de incubadoras americanas e europeias
indicam que a taxa de mortalidade entre empresas nascidas fora do ambiente de incubação é de
70% e 20% para aquelas que passam pelo processo de incubação.

Este dado é um dos principais motivadores para as empresas iniciarem nas incubadoras. As
empresas novas enfrentam inúmeros problemas que ocasionam elevada taxa de mortalidade. A
mais recorrente é a incapacidade gerencial dos empreendedores. As patologias passam pelas
dificuldades e custos da burocracia, a necessidade de captação de recursos financeiros, elevadas
taxas de juros, as exigências dos agentes de financiamento, a falta de habilidade para lidar com a
concorrência, baixo acesso a tecnologia para inovação e tecnologia da informação e comunicação.

No ambiente universitário, as incubadoras despertam a curiosidade dos estudantes e incentivam a


criação de empresas de base tecnológica. Estas são consideradas importantes na promoção dos
países em desenvolvimento, por gerarem inovação. O risco de investir e incubar empresas de
conteúdo tecnológico tornou-se um importante meio para transformação da criatividade gerada no
ambiente acadêmico em invenções inovadoras.

Cresce no âmbito da universidade a busca de novos talentos para pesquisa e inovação, em


especial as incrementais. Os pesquisadores exploram oportunidades para formação e
desenvolvimento de habilidades para atividades de adaptação, aperfeiçoamento e difusão de
tecnologia no âmbito do ensino técnico e tecnológico. Acrescente-se especial atenção à formação
e treinamento de recursos humanos qualificados para o segmento de pequenas e médias
empresas, cuja capacitação tecnológica é essencial para assegurar sua competitividade e
sustentabilidade.

Fato que, no Brasil, promoveu mudanças na proposta da Lei de Inovação, ao permitir maior
flexibilidade e mobilidade de cientistas e engenheiros entre universidades e empresas. Isso
contribuirá para o aumento do fluxo de experiências e competências geradas nesses segmentos.
Acrescentem-se ainda os benefícios diretos pela mobilidade, que certamente contribuirão para a
formação dos pesquisadores nas empresas e universidades. A dimensão do país e a necessária
dispersão geográfica dos recursos, o uso das redes de articulação e cooperação é importante meio
de congregação de esforços e difusão de informação tecnológica, necessários à inovação.

160 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


4 O modelo das incubadoras

Há uma diversificação de tipos de incubadoras, entre os quais, as de bases tecnológicas, cujos


produtos, processos ou serviços resultam de pesquisa científica, para os quais a tecnologia
representa alto valor agregado. Atualmente há inúmeras políticas de estímulo a atuação nas áreas
de informática, biotecnologia, química fina, mecânica de precisão e novos materiais. Cabe
referenciar a proposta da incubadora BEL-i9 para atuar em telecomunicações com apoio da
COPEL. Além destas citadas, também existem incubadoras sociais, culturais, agroindustriais,
cooperativas, de negócios para economia solidária, entre outras.

Para cada tipo de empresa que precisa de abrigo e ajuda há diferentes tipos de incubadoras. Os
cuidados oferecidos passam pela orientação do novo negócio, desde o projeto, montagem,
instalação do empreendimento e preparação gerencial para as dificuldades oriundas da inserção
no mercado (tabela 2) [1].

Tabela 2 – Tipos de incubação


Empresa Incubação
Externa (a distância) A empresa recebe suporte, mas sem instalação
física na incubadora.
Pré-incubação Estimula o empreendedorismo e a prepara os
projetos que tenham potencial de negócios em
empresas, durante um curto período (de 6 meses a
2 anos no máximo)
Incubada Desenvolve produtos ou serviços inovadores, que
está abrigada em incubadoras de empresas e
passa por processos de seleção, recebendo todo o
apoio técnico, gerencial e financeiro da rede de
instituições constituída especialmente para criar e
acelerar o desenvolvimento de pequenos negócios.
Graduada Passa pelo processo de incubação e alcança
desenvolvimento suficiente para ser habilitada a
sair da incubadora devido ao seu conhecimento e
gerenciamento consolidados, estando, por isso,
apta a desenvolver suas atividades sem a
necessidade de apoio direto da incubadora.
Associada Empresas existentes no mercado e interessadas
em estabelecer parceria estratégica com a
incubadora, em seu âmbito de atuação. Ao se
associar, as empresas usufruem das possibilidades
de gerar negócios com as empresas incubadas,
ampliando o acesso a esses empreendimentos
inovadores.

Na pré-incubação a empresa passa por todos os processos internos com ênfase no plano de
negócios, na pesquisa de mercado e na formação do gestor de negócios. Visa preparar os
empreendimentos para ingresso na incubadora e assim serem consideradas “empresas

Incubadoras: necessidade e modelos que podem ser usados no projeto BEL-i9 161
residentes”. Normalmente recebem o nome de Hotel de Projetos, Hotel de Ideias, Hotel
Tecnológico, entre outros.

As incubadoras possuem regras estabelecidas para admissão e saída das empresas. Estas são
divulgadas publicamente, normalmente na forma de editais de seleção. Estes editais explicitam os
objetivos e condições do programa de incubação, o número máximo de vagas, critérios para
candidaturas, documentos exigidos, compromissos de ambas as partes, processo de seleção,
taxas e prazos.

Os critérios de admissão que definem a elegibilidade de um empreendimento para incubação


estão vinculados ao perfil ou vocação da incubadora. Este perfil restringe de alguma forma a área
de atuação das empresas incubadas. As restrições podem ser de indústrias ou empresas de
serviços, empreendimentos de base tecnológica ou gerais, empresas novas ou já formadas por
pessoas físicas empresam já existentes que farão incubação de novos produtos ou
departamentos, etc.

Para participar do processo de seleção o empreendedor deve apresentar uma proposta, nos
moldes pedidos pela incubadora. No Brasil, a maioria das incubadoras não exige um Plano de
Negócios, como é comum em outros países. A seleção é realizada em uma série de entrevistas, a
partir de uma proposta preliminar com o objetivo da incubação. Nesta primeira fase são pré-
selecionados empreendimentos, que em seguida recebem orientação para elaboração do Plano de
Negócios. Depois de concluído este plano, é então analisado, e, caso aprovado, a incubação
inicia-se de fato. As incubadoras denominam esta fase de pré-incubação, que dura de seis meses
até dois anos.

As incubadoras podem oferecer cursos preparatórios para os potenciais empreendedores,


usualmente cursos de noções de empreendedorismo (para o perfil da incubadora) e planos de
negócios. Estes cursos funcionam mais como um processo de conscientização do empreendedor.
E também são oferecidos por instituições parceiras de incubadoras, como o SENAI, o SEBRAE e
as Universidades.

As incubadoras também têm regras de como a empresa incubada estará sujeita à revisão regular
de seu desempenho. Algumas incubadoras estipulam que as empresas que não conseguem atingir
as metas acordadas e registradas em seus planos de negócios estarão sujeitas à intervenção da
incubadora em seus procedimentos gerencias, ou então devem deixar a incubadora.

5 Conclusão

Levantamento elaborado anualmente pela ANPROTEC indicava em 2006 a existência de 377


incubadoras de empresas no Brasil, com um crescimento de 20% em relação a 2005. A taxa de
mortalidade verificada nas empresas instaladas nas incubadoras é de 20%. Cerca de 70% dos
negócios gerados pelas empresas são de base tecnológica. O faturamento em 2004 das empresas
graduadas foi de R$ 1.200 milhão, subindo para R$ 1.500 milhão em 2005. Entre 2004 e 2005, 213
novas empresas foram incubadas no Brasil.

Constata-se, assim, que o estímulo de governos e empresas, quanto a demanda por incubação de
empresas, e o número de incubadoras no Brasil, é crescente. Isso é importante para o processo de

162 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


desenvolvimento, principalmente para as empresas de base tecnológica, que necessitam de
pesquisa e inovação para produzirem novos e melhores produtos e processos, afim de poderem
competir no mercado globalizado.

O maior número de incubadoras no país e no mundo é uma clara demonstração dos benefícios
que ela gera.

Conclui-se, portanto, que a COPEL Telecomunicações optou por caminho adequado ao propor
uma incubadora (BEL-i9) de produtos e serviços voltados para o seu nicho específico de atuação.
Além dos benefícios à própria empresa, a incubadora deverá beneficiar sobremaneira a população
do Paraná, com as inúmeras inovações que certamente deverá produzir.

6 Referências
[1] MENDES JUNIOR, R., FREITAS, M. C. D. Incubação de empresas. In: Empreendedorismo tecnológico.
R. Gregório da Silva Junior organizador, Curitiba: IEP, 2009. 206 p. Disponível em
http://www.iep.org.br/media/6/20090722-e%20t.pdf

[2] MCT. Manual para implantação de incubadoras de empresas. Brasília: 2000. disponível em
http://www.mct.gov.br/setec/setec.htm. Acessado em 13 de junho de 2009.

[3] MORAIS, E. F. C. A Incubadora de Empresas como Fator de Inovação Tecnológica em Pequenos


Empreendimentos. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade de Brasília, 1997.

[4] STAINSACK, C.. Estruturação, Organização e Gestão de Incubadoras Tecnológicas. Curitiba:


CEFET-PR, 2003. p. 70-75.

Incubadoras: necessidade e modelos que podem ser usados no projeto BEL-i9 163
20
Habitats de inovação: o modelo do
Tecnoparque da PUCPR e a atração
de iniciativas inovadoras
1
Luiz Márcio Spinosa
2
Mauro Fonseca
3
Mauro Nagashima

Agência PUC de Ciência, Tecnologia e Inovação da PUCPR


1
m.spinosa@pucpr.br
2
mauro.fonseca@ppgia.pucpr.br
3
m.nagashima@pucpr.br

1 Introdução

Os parques científicos ou tecnológicos, ou ainda, as tecnópoles, são organizações administradas


por profissionais especializados que têm por objetivo proporcionar para a sua comunidade a
promoção da cultura da inovação e competitividade de suas empresas e instituições de pesquisa.
Para alcançar estes objetivos, um parque deve estimular e gerenciar o fluxo de conhecimento e
tecnologia entre as universidades, centros de P&D, empresas e seus mercados, facilitando a
criação e consolidação de Empresas de Base tecnológica (EBTs) através da incubação e processo
de spin-off, além de prover outros valores agregados com espaço de qualidade e infraestrutura. Os

1
Luiz Márcio Spinosa é Bacharel em Ciências Estatísticas e da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina
(1986), Mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina (1991), D.E.A (equivalente a Mestrado)
em Informática, Automação e Produtrônica pela Université d'Aix-Marseille III (1992), Doutor em Informática, Automação e
Produtrônica pela Université d'Aix-Marseille III (1996) e Especialista em Gestão da Inovação pela Simon Fraiser University e
Texas University (2001). Foi Coordenador Geral do Programa Paraná Classe Mundial em Software (W Class) junto à Secretaria
de Estado da C&T e Tecpar (1999-2002). Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Diretor
Executivo da Agência PUC de Ciência, Tecnologia e Inovação da PUCPR. Diretor do Instituto de Ciências Exatas e de
Tecnologias da PUCPR. Membro do Conselho Universitário da PUCPR.
2
Mauro S. P. Fonseca possui graduação em Engenharia da Computação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(1994), mestrado em Engenharia Elétrica e Informática Industrial pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1997) e
doutorado em Redes de informática - Universite de Paris VI (Pierre et Marie Curie) (2003). Atualmente é professor /
pesquisador / coordenador do Programa de Pós-graduação em Informática da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e
pesquisador associado - Laboratoire d'Informatique de Paris 6.
3
Mauro Nagashima é formado em Engenharia Mecânica (UFPR, 1982), pós-graduado em Engenharia da Qualidade (PUCPR,
1991) e Computer Integrated Manufacturing System (NEC Japan, 1986). Foi Diretor Técnico do Instituto Brasileiro da
Qualidade e Produtividade no Paraná - IBQP, Diretor Técnico e Diretor Presidente do Tecpar e Assessor de Projetos Especiais
da Reitoria da PUCPR. Atualmente é colaborador da Agência PUC de Ciência, Tecnologia e Inovação da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná.

Habitats de inovação: o modelo do Tecnoparque da PUCPR e a atração de iniciativas inovadoras 165


parques também devem gerar sinergia entre os diversos atores, identificando as vocações locais e
regionais, buscando viabilidade econômica e tecnológica.

O sistema de parques científicos e tecnológicos já se consolidou em muitos países, principalmente


naqueles com uma economia mais desenvolvida, e é atualmente uma tendência mundial
inexorável. Ao reunir empresas, centros de P&D e universidades em espaços planejados e
organizados de modo a permitir o uso de serviços compartilhados, os parques são ambientes
altamente favoráveis à sinergia e ao desenvolvimento de atividades de alto valor agregado e
propício ao surgimento de empresas de base tecnológica.

Concebidos como um empreendimento a ser desenvolvido em parceria entre a iniciativa privada e o


poder público, seu êxito depende do comprometimento de um leque de parceiros que vão das
universidades e centros de P&D ao setor empresarial, terceiro setor e aos governos municipal,
estadual e federal. Os projetos, em geral, preveem uma área corporativa destinada à implantação de
empreendimentos de base tecnológica com investimento do Estado e uma segunda área de uso
compartilhado e investimento privado, que inclui, além de lazer, comércio e serviços, um setor de uso
residencial.

Dentro desse contexto e objetivando mobilizar a Cidade de Curitiba como Metrópole Tecnológica,
iniciou-se em 2000 as primeiras iniciativas para a criação de um importante “ativo de inovação” no
contexto de um habitat de inovação urbana, que veio a consolidar-se mais recentemente com a
implantação do Tecnoparque Curitiba. Em 2009, a PUCPR, implantou o seu Tecnoparque, um
espaço destinado à inovação e ao desenvolvimento de parcerias universidade-empresa, inserido no
coração desse novo arranjo da Cidade de Curitiba, e apto a receber empresas e empreendimentos
de base tecnológica.

2 A Agência PUC de Inovação

2.1 Criação da Agência

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná sempre tem participado ativamente na implantação


de arranjos inovadores para apoio ao desenvolvimento tecnológico e industrial paranaense e
nacional, cujas propostas a têm transformado em um dos principais ativos dessas configurações
inovadoras e respondido aos novos desafios que se apresentam. Por longos anos vem investindo
intensivamente na qualificação de seu pessoal, contando atualmente com 1350 professores, dos
quais cerca de 75% são mestres ou doutores. Investiu também em seus ativos tecnológicos,
constituindo hoje uma das melhores infraestruturas tecnológicas para o ensino, pesquisa e
extensão do país. Com o objetivo de fortalecer as suas áreas de Ensino, Pesquisa e Extensão
ampliou ao longo da última década suas alianças e parcerias estratégicas, gerando uma
experiência notável nas relações com a comunidade.

Com esse propósito, a PUCPR, em cooperação com a sua Mantenedora, a Associação


Paranaense de Cultura – APC implantou em 2008 um novo arranjo institucional para incrementar a
sua atuação como Agente de Promoção do Desenvolvimento Socioeconômico e intensificar sua
Sintonia Social com os diversos atores da sociedade. Esse novo arranjo, denominado Agência
PUC de Ciência, Tecnologia e Inovação vem propugnar para a agregação de valor às múltiplas

166 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


competências disponíveis na instituição e sua colocação à disposição dos diversos segmentos da
economia paranaense, brasileira e internacional. Trata-se também de um singular espaço para a
inovação, criatividade e de cooperação com a comunidade, onde integram-se esforços para
viabilizar infraestrutura adequada para a atração de projetos, iniciativas e empresas de base
tecnológica, o qual tornou-se viável com a recente implantação do PUCPR TECNOPARQUE,
conforme mencionado anteriormente, constituindo-se atualmente num importante ativo de
inovação para o Paraná.

2.2 Missão e atuação

A Agência PUC tem como Missão “Ser instrumento de promoção da qualidade e da excelência no
Ensino, na Pesquisa e na Extensão (E&P&E), por meio da integração de “ativos” de inovação e do
conhecimento que adicionem valor a essas atividades, ao mesmo tempo em que contribui para o
desenvolvimento socioeconômico da região de atuação da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná”, e atua desde a produção de conhecimento científico e tecnológico até a sua transferência
para o setor produtivo, mediante alianças e parcerias estratégicas entre a Universidade e as
Empresas. Beneficiam-se as Empresas pela obtenção de inovações tecnológicas, organizacionais
e sociais a menor custo, decorrentes de investimentos conjuntos. Beneficiam-se a PUCPR e a
APC pela intensificação da Sintonia Social com os diversos atores da sociedade, ou seja, pela
formação de profissionais mais capacitados e atualizados e pela produção de pesquisas alinhadas
às necessidades de desenvolvimento paranaense e nacional.

Com tais pressupostos, a Agência atua prioritariamente nos seguintes setores portadores de
futuro:

Agronegócio, Alimentos, Automação Industrial, Biotecnologia, Design, Energia,


Fármacos, Logística, Microtecnologia, Tecnologia da Informação e Comunicação,
Tecnologias Socioambientais e Humanas, Tecnologias Educacionais, Tecnologias
de Gestão, Tecnologia de Segurança e Saúde.

3 PUCPR Tecnoparque

O PUCPR Tecnoparque, além do incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos, oferece


oportunidade real de aproveitamento de mão-de-obra qualificada que sai ou que ainda está na
Universidade. Também amplia o desenvolvimento econômico e social, promovendo a melhoria da
qualidade de vida da população. Esse, aliás, é o principal benefício do programa: a sintonia social
da PUCPR.

O PUCPR Tecnoparque constitui um dos ativos fundamentais no âmbito dos denominados


“Habitats de Inovação”, e desde a sua implantação pela APC/PUCPR vem buscando atender
uma grande demanda de empresas e empreendimentos de base tecnológica que desejam se
instalar no Tecnoparque de Curitiba.

A infraestrutura do Tecnoparque atualmente disponível já atende a diversas empresas e iniciativas


de base tecnológica, que nela encontram as facilidades de um ambiente de inovação tecnológica e
a sua proximidade com a Universidade permite uma grande interação com a Academia, e acesso a

Habitats de inovação: o modelo do Tecnoparque da PUCPR e a atração de iniciativas inovadoras 167


capital humano altamente qualificado, professores, pesquisadores e alunos, além de outros ativos
tecnológicos como laboratórios de pesquisa, desenvolvimento e serviços em diversas áreas do
conhecimento, que tornam este espaço privilegiado ao desenvolvimento de iniciativas inovadoras.

No modelo de atuação do Tecnoparque procura-se priorizar a parceria estratégica com os diversos


segmentos portadores de futuro anteriormente citados, de forma a incentivar a criatividade e a
geração de novos conhecimentos pela Academia e imprimindo a velocidade necessária ao
desenvolvimento de novos produtos e serviços para a sociedade.

No campo das novas tecnologias da informação e comunicação – TIC, o Tecnoparque conta com a
parceria do Programa de Pós-Graduação em Informática – PPGIa, com os seus programas de
mestrado e doutorado, que disponibilizam suporte integral nas parcerias com empresas ou
empreendimentos nas áreas de sua competência, compostas pelas diversas linhas de pesquisa e
desenvolvimento, dentre elas a de Redes de Computadores e de Telecomunicações,
especialmente de interesse para o desenvolvimento da parceria com os Projetos BEL e BEL-i9 da
COPEL Telecomunicações, contribuindo com o desenvolvimento de novos produtos e serviços
para Redes na Plataforma Tecnológica GPON e outras de componente estratégica aos citados
projetos.

4 PUCPR Tecnoparque e a parceria com o Projeto BEL-i9

Conforme descrito anteriormente, o PUCPR Tecnoparque foi criado para atender a novas
demandas por atração de empreendimentos inovadores e de base tecnológica, na nova Sociedade
do Conhecimento. Com esse pressuposto, o modelo de desenvolvimento de parcerias e alianças
estratégicas do Tecnoparque com a iniciativa privada, não incentiva somente a atração de novas
empresas de base tecnológica, mas sobretudo de iniciativas de empreendedorismo inovador
nascentes na Universidade que atendam às demandas crescentes do mercado por novos produtos
e serviços.

Esse modelo vai de encontro ao Projeto BEL-i9 da COPEL Telecomunicações, que objetiva apoiar
iniciativas de incubação de empreendimentos inovadores de base tecnológica em temas de
interesse e convergência com o componente tecnológico em que a corporação estrategicamente
induz com o propósito de desenvolver um leque de opções de novos produtos e serviços
agregados.

Podem-se considerar como iniciativas complementares, visto que, por um lado o Projeto BEL-i9
procura apoiar o empreendedorismo inovador em plataformas tecnológicas estratégicas para a
empresa, e por outro, o Tecnoparque tem por objetivo oferecer e acolher iniciativas inovadoras em
ambiente adequado para o desenvolvimento e sucesso das mesmas.

Dentro desse contexto, podem-se visualizar duas principais propostas da PUCPR, que podem
contribuir com o BEL-i9:

Proposta 01 – A parceria entre o PUCPR Tecnoparque e o BEL-i9, para o acolhimento do


empreendedorismo inovador emergente na comunidade acadêmica na PUCPR junto ao
Tecnoparque, mediante apoio técnico e financeiro da COPEL Telecomunicações, e suporte
acadêmico de P&D do Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGIa) da PUCPR, e em

168 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


especial do Grupo de Pesquisa em Redes de Computadores e de Telecomunicações do PPGIa,
bem como de outras competências multidisciplinares da universidade, que possibilitaria a indução
na geração de novos negócios (produtos e serviços) intensivos em tecnologia nas áreas de
interesse estratégico do BEL-i9. A seleção das iniciativas inovadoras a serem acolhidas no
Tecnoparque seria efetivada a partir de propostas a serem encaminhadas pelo PPGIa e discutidas
previamente junto ao GT BEL-i9, da qual a PUCPR é integrante.
Proposta 02 – A implantação de novos espaços físicos para acolher empreendimentos de base
tecnológica e iniciativas inovadoras nas áreas da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC)
de interesse do BEL-i9, por exemplo uma incubadora de empreendedorismo inovador em redes de
telecomunicações, podendo a mesma ser implementada junto ao Tecnoparque da PUCPR,
mediante investimentos em infraestrutura física, predial e tecnológica por parte da COPEL
Telecomunicações e contrapartida da PUCPR na destinação de áreas disponíveis junto ao seu
Tecnoparque, para a construção desses novos espaços de inovação. Nesta modalidade de
colaboração, configurar-se-iam alianças e parcerias estratégicas de médio e longo prazos, onde a
empresa patrocinadora disporia de espaços no Tecnoparque para investir em novos negócios e
empreendimentos nascentes e spin-offs emergentes na universidade, de natureza estratégica ao
plano de negócios da corporação.

Ressaltam-se que as propostas encontram-se em estágio inicial, carecendo de maiores de


entendimentos e devidas ratificações por parte da PUCPR e da COPEL Telecomunicações.

5 Conclusão

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná com seus 50 anos de história, com mais de 30 mil
alunos e 1.300 docentes, 75% dos quais com titulação de mestres e doutores, é a maior Instituição
de Ensino Privado do Paraná. Oferece mais de 60 cursos de graduação, 21 programas de pós-
graduação stricto sensu, dentre eles o seu Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGIa),
com Mestrado e Doutorado que completou 13 anos de existência em 2009, e mais de duas décadas
de experiência em parcerias e alianças estratégicas, que vão das universidades e centros de P&D
ao setor empresarial, terceiro setor e aos governos municipal, estadual e federal.

As alianças e parcerias estratégicas a serem construídas entre a Universidade e as Empresas


mostram-se plenamente viáveis para o apoio a iniciativas e empreendimentos inovadores, cujo
êxito depende do comprometimento das partes envolvidas e a mobilização dos seus respectivos
“Ativos de Inovação Tecnológica” em prol da indução e do desenvolvimento de novos negócios,
produtos e serviços demandados pelo mercado.

Conforme descrito anteriormente, o modelo de operação do PUCPR Tecnoparque para contribuir


com o Projeto BEL-i9 da COPEL Telecomunicações demonstra que é possível conceber e
implementar uma notável cadeia de inovação, através de um modelo “não-tradicional” de
incubação, onde o empreendedorismo inovador originado no ambiente da academia poderá ser
induzido e apoiado pela parceria, e ser acolhido no espaço do Tecnoparque. Beneficiam-se ambas
as partes nesse processo, a COPEL pela obtenção de inovações tecnológicas de qualidade a
menor custo, e a PUCPR pela intensificação de sua sintonia social com os diversos atores da
sociedade, ou seja, pela formação de profissionais mais capacitados e atualizados e pela produção
de pesquisas alinhadas às necessidades de desenvolvimento socioeconômico paranaense e

Habitats de inovação: o modelo do Tecnoparque da PUCPR e a atração de iniciativas inovadoras 169


nacional. Com o PUCPR Tecnoparque, a Universidade concretiza essa idealização e contribui para
o desenvolvimento maior da cidade, do estado e do país.

6 Referências
[1] Agência PUC - http://www.agenciapuc.pucpr.br

[2] SPINOSA, Luiz Márcio, Artigo Habitats de Inovação Tecnológica, 2009.

170 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


21
Modelo de incubação estruturada
em rede e orientada por demandas
de um agente de inovação regional
1
Roberto Candido
2
José Reinaldo Silva
3
Sebastião Dambroski

1,3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
1
Rede Paranaense de Incubadoras e Parques Tecnológicos - REPARTE
1
rcandido@superig.com.br
3
sedambroski@gmail.com

2
Universidade de São Paulo
reinaldosilva@gmail.com

1 Revisão Bibliográfica

1.1 Inovação

O entendimento do que é inovação pode ser muito difuso e particular, portanto estabelecer um
entendimento comum é fundamental para qualquer discussão neste campo, uma das definições
aceitas mundialmente é encontrada na página 32 do Manual de Oslo [10], que diz:

1
Roberto Candido possui graduação em Engenharia Elétrica pela UFPR (1985), graduação em Curso de Formação de
Professores pela UTFPR (1987), Cursos de Especialização em Automação Industrial (UTFPR), Gestão de
Manutenção(UTFPR) e Ensino à Distância(UNB) e Mestrado em Engenharia Naval e Oceânica (USP) - Pesquisa em
Modelagem de Negócios com Gestão de Projetos. Atualmente faz Doutorado na USP. É professor da UTFPR, tendo sido
diretor dos Campi de Campo Mourão e Pato Branco; atualmente, no Campus de Curitiba, é responsável pela Incubadora
Tecnológica local. Realiza avaliação de cursos de capacitação no projeto FORMARE. Desenvolve consultorias na área de
Inovação Tecnológica, Modelagem de Negócios e Desenvolvimento Regional, principais projetos em que atua são: Curitiba
Tecnoparque e Sistema Regional de Inovação, no sudoeste do Paraná. Vice-Presidente da REPARTE - Rede Paranaense de
Incubadoras e Parques Tecnológicos no biênio de 2010/2011.
2
José Reinaldo Silva é Bacharel em Física pela Universidade Federal da Bahia (1980), Mestre em Física pela Universidade
Federal de Pernambuco (1985), Mestrado Profissional em Interdisciplinary Computer Science, Mills College, USA, Doutorado
em Engenharia de Computação pela USP (1992). Pós-doutorado em Ciência da Computação e em Engenharia de Sistemas,
ambos pela University of Waterloo, Canadá. Atualmente é professor associado da Poli/USP.
3
Sebastião Dambroski é Especialista em Gestão Estratégica da Produção pela UTFPR (2004), Licenciatura Plena em
Matemática pela UTFPR (2003), graduado em Administração pela FAE (2001), Técnico em Edificações pela UTFPR (1996).

Modelo de incubação estruturada em rede e orientada por demandas de um agente de inovação regional 171
“A inovação está no cerne da mudança econômica. Nas palavras de
Schumpeter, inovações radicais provocam grandes mudanças no mundo,
enquanto inovações ‘incrementais’ preenchem continuamente o processo de
mudança. Schumpeter propôs uma relação de vários tipos de inovações:
introdução de um novo produto ou mudança qualitativa em produto existente;
inovação de processo que seja novidade para uma indústria; abertura de um
novo mercado; desenvolvimento de novas fontes de suprimento de matéria-
prima ou outros insumos e mudanças na organização industrial”.

Segundo afirmam McAdan e McClelland [11], a inovação acontece de forma sequencial e continua,
sendo um processo distinto dentro do desenvolvimento de produto ou projeto, com diversas etapas
entre a ideia e a execução, sendo a criatividade a célula “tronco” do processo, conforme ilustra a
figura 1.

Geração de
Desenvolvimento
Idéias de idéias

Avaliar compatibilidade
Busca de objetivos

Avaliar viabilidade
Viabilidade técnica e comercial

Comercialização
Implementação

Figura 1 – Processo de inovação [11]

172 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Ao final do processo de inovação deve-se gerar riqueza conforme lembra Hamel [7]:

“novas ideias podem atrair novos investimentos e novas empresas a uma


região, como verificadas no Vale do Silício, criando novas fontes de riqueza,
frisa ainda que novas ideias não são exclusivas de novos empreendimentos,
estando presentes como elemento de revitalização de empresas mais
antigas.”

Reforçam a importância da criatividade no contexto de novas ideias voltadas à inovação as três


componentes apresentadas por Amabile [3], são elas: Conhecimento, Pensamento Criativo e
Motivação.

Hamel [7] lembra da importância da Gestão da Inovação, pois ela orientará a abordagem a ser
empregada pela organização para inovar em seus produtos ou serviços, ou seja, Inovações de
ruptura ou incrementais. Desta maneira apresenta como funções da Gestão da Inovação:

• Definir metas e planos.

• Motivar e alinhar esforços.

• Coordenar e controlar atividades.

• Alocar de recursos.

• Adquirir e aplicar conhecimentos.

• Construir e fortalecer relaciona-mentos.

• Identificar e desenvolver talentos.

• Compreender e equilibrar as demandas.

Contribui Rizova [12], indicando que em média, a cada 10 projetos de inovação, 5 são descartados
antecipadamente, 3 durante o desenvolvimento e apenas 2 são conduzidos ao mercado com
chance de sucesso. A participação do cliente é de extrema importância para que o produto tenha
sucesso, seja no desenvolvimento ou no feedback para adequações e customização.

Sendo assim, é de esperar-se que inovação não seja, na maioria das vezes um processo fácil e
natural, necessitando, portanto, de mecanismos que auxiliem na sua ocorrência nas empresas e
nos produtos. Os processos de incubação são mecanismos que visam aumentar o número de
empreendimentos de sucesso.

1.2 Empreendedorismo

Não existe com desvincular a Inovação tecnológica de atitudes empreendedoras, existe uma
estreita ligação ambos, segundo Dolabella [5], à página 44:

Modelo de incubação estruturada em rede e orientada por demandas de um agente de inovação regional 173
“O empreendedor é alguém capaz de desenvolver uma visão, mas não só.
Deve saber persuadir terceiros, sócios, colaboradores, investidores,
convencê-los de que sua visão poderá levar todos a uma situação confortável
no futuro. Além de energia e perseverança, uma grande dose de paixão é
necessária pra construir algo a partir do nada e continuar em frente, apesar
de obstáculos, armadilhas e da solidão. O empreendedor é alguém que
acredita que pode colocar a sorte a seu favor, por entender que ela é produto
do trabalho duro.

Um dos principais atributos do empreendedor é identificar oportunidades,


agarrá-las e buscar os recursos para transformá-la em negócio lucrativo. Não
é indispensável que ele possua os meios necessários à criação de sua
empresa. Mas deve ser capaz de atrair tais recursos, demonstrando o valor
de seu projeto e comprovando que tem condições de torná-lo realidade”.

1.3 Incubação

Incubadoras de negócios são estruturas que se destinam a dar suporte a projetos que apresentam
Inovação Tecnológica com intuito de gerar riqueza através de novas empresas.

Segundo definição encontrada no site da ANPROTEC [1]:

“Incubadora é um mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de


micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, de base
tecnológica ou de manufaturas leves por meio da formação complementar do
empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais. Facilita e agiliza o
processo de inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas”.

Para Spolidoro [13], à página 21:

“Uma incubadora de empresas é um ambiente que favorece a criação e o


desenvolvimento de empresas e de produtos, m especial os inovadores e
intensivos em conhecimento. Esse ambiente oferece, a empresas
emergentes e a equipes de pesquisa, por custos inferiores aos de mercado,
elementos como área física e infraestrutura, vizinhos comprometidos com a
inovação, serviços de apoio e serviços de promoção da sinergia”.

1.4 Redes de Interação

Cada vez mais a inovação e o empreendedorismo, juntos, proporcionaram um novo modelo de


ralações, mediante o estabelecimento de redes de interação, que permitem somar esforços no
intuito de acelerar os resultados dos empreendimentos, Segundo Ghemawat [6] à página 134:

“As alianças estratégicas podem proporcionar acesso a conhecimentos locais


que seriam difíceis de comprar, a conexões na rede local de valores que não
seriam acessíveis de outra maneira ou a contatos locais, incluindo os
contatos políticos e seus benefícios associados. Essas alianças são usadas

174 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


especialmente ara entrar em mercados distantes do país de origem. Alem
disso, podem reduzir certos tipos de riscos ao permitir uma aquisição em
etapas”.

Com a globalização mundial, no ano de 2000 foi criada a REPARTE – Rede Paranaense de
Incubadoras e Parques Tecnológicos, uma associação civil sem fins lucrativos, que tem por
finalidade: Integrar, coordenar, promover e consolidar as incubadoras e parques
tecnológicos do Paraná, buscando promover a geração de riquezas e bem-estar social no
Estado.

Atualmente com mais de 30 incubadoras associadas, presentes em 14 cidades do Paraná


desenvolvem em rede, com a criação de novos empreendimentos de sucesso, alguns dos quais de
referência nacional.

O detalhamento desta Rede pode ser observado no site www.reparte.org.br, enquanto a figura 2
mostra a capilaridade encontrada nesta forma de relacionamento no Estado do Paraná.

Figura 2 – Localização das Incubadoras no Estado do Paraná (Fonte: REPARTE)

Esta estrutura permite ao Estado do Paraná uma posição de vanguarda no cenário nacional em
processos de Inovação, Incubação e Empreendedorismo, oferecendo oportunidades de
desenvolvimento a Empresas Nascentes e Incubadoras que de forma isolada não teria condições
de serem alcançadas.

Modelo de incubação estruturada em rede e orientada por demandas de um agente de inovação regional 175
1.5 Um novo tempo

A Internet tem mudado definitivamente o comportamento da humanidade em toda a gama de


atividades, que vai do relacionamento pessoal ao comercial, da pesquisa à publicação, da leitura
ao filme. Nesta nova realidade houve grande alteração no campo dos serviços, abrindo um novo
horizonte para empresas inovadoras. Segundo Tigre [2] à página 84:

“A maioria das compras internacionais é feita em sites americanos. Mas no


Brasil a Internet está progressivamente se tornando também uma ferramenta
de comunicação doméstica. Em 1995 mais de 95% do fluxo da Internet no
Brasil era internacional (usuários brasileiros se conectando com endereços
estrangeiros), enquanto em 1997 mais de 40% do tráfico era doméstico, à
medida que mais sites locais se tornaram disponíveis. As informações sobre
o valor das transações eletrônicas são difíceis de obter.

As telecomunicações constituem a infraestrutura crítica para a difusão do


comércio eletrônico. O acesso a linhas digitais de qualidade e cabos óticos de
alta velocidade, interligando pontos de acessos urbanos com o resto do
mundo, condiciona o potencial de expansão da Internet, juntamente com
novas formas de acesso através de redes de TV a cabo e redes privativas
alternativas à rede telefônica pública.”

2 Um modelo inovador de incubação

As empresas quando ingressam em uma incubadora podem ser qualificadas na maioria absoluta
dos casos como micro empresas, necessitando de toda a espécie de apoio para ultrapassarem o
prazo crítico de mortalidade, corrobora com esta observação Dolabella [5] à página 30, dizendo:

“Uma das características da PME é sua dependência da comunidade local,


que poderá ou não estar dotada de fatores importantes de aceleração do
desenvolvimento, como ambiente favorável ao empreendedorismo, vontade
comunitária de implementação de uma rede de negócios, instituições de
apoio, facilidades para obtenção de financiamentos etc. Assim, o nível local é
entendido como o meio ambiente imediato das PME.”

Nesta conjuntura, pode-se prever que não existe um modelo ideal e único para cada todos os
ambientes de Inovação, e cabe aos agentes envolvidos criar e customizar um modelo customizado
de incubação que proporcione resultados econômicos e de crescimento à sua região de
abrangência.

2.1 Ambiente estadual de inovação

A COPEL – Companhia Paraense de Energia tem prestado relevante trabalho ao Estado do


Paraná como um agente indutor de desenvolvimento, modelo que vem sendo reproduzido pela sua
subsidiaria COPEL Telecomunicações.

176 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


A demonstração deste alinhamento pode facilmente ser observada no Projeto BEL [14], de
extrema ousadia e grande desafio tecnológico, com o objetivo proporcionar a oferta de conteúdo,
produtos e serviços através de uma rede inovadora (aberta e neutra).

Reforçam esta proposição os delineamentos estruturados para a consolidação e criação do


ambiente de inovação BEL-i9, cuja principal meta é: incubar novos produtos, serviços e
negócios na infraestrutura BEL, com o apoio diferenciado e robusto da COPEL
Telecomunicações. Esta visão de futuro permitira em médio prazo consolidar a transferência de
novas tecnologias a produtos, gerando riquezas e desenvolvimento ao Estado do Paraná.

Nesta óptica, a estrutura pensada para este novo ambiente dever reforçar as ações já vivenciadas
no Estado, colocando a COPEL Telecomunicações como um agente que orienta o
desenvolvimento tecnológico em todo o Estado, permitindo crescimento indistinto às regiões, que
serão apenas limitadas pela competência tecnológica de seus atores.

2.2 Modelo proposto de relacionamento

O modelo de interação proposto neste capítulo está embasado em seis pontos fundamentais para
o sucesso de um processo inovador de incubação. São eles:

• Tornar a COPEL Telecomunicações o mais importante agente de incentivo a


empreendimentos inovadores de serviços ou produtos vinculados ao projeto BEL, no
Estado do Paraná.

• Dar à Incubadora BEL-i9, uma estruturação inovadora e única, que garanta


permeabilidade a todos os pontos do Estado do Paraná.

• Otimizar os recursos físicos e financeiros, aproveitando as estruturas existentes em mais


de 30 Incubadoras vinculadas à REPARTE.

• Garantir que as empresas vinculadas à incubadora BEL-i9 estejam próximas às


Universidades e Centros de Pesquisa, facilitando a utilização de equipamentos e acesso
a Pesquisadores Orientadores.

• Proporcionar facilitação aos órgãos financiadores de P&D às empresas e incubadoras


parceiras, em função do lastro oferecido pelo nome COPEL.

• Criar condições para formação de equipes de especialistas pertencentes a diversas


instituições do Estado, atuando num mesmo projeto numa concepção moderna de
trabalho em rede e de gestão de projetos.

O modelo proposto é bastante simples, e está representada na figura 3, de maneira que a COPEL
Telecomunicações poderá atuar como agente indutor, levantando demandas e possibilidades de
novos negócios, estruturados na base BEL. Destas orientações estratégicas parte-se para a
análise de viabilidade econômica e se cria uma Demanda Orientada, que será direcionada á
REPARTE.

Modelo de incubação estruturada em rede e orientada por demandas de um agente de inovação regional 177
Em conjunto, REPARTE e COPEL Telecomunicações poderão elaborar um Edital de Seleção, que
será consolidado com abertura em todas as Incubadoras do Estado do Paraná. Desta maneira,
empresas nascentes de todo o Estado poderão submeter-se ao Edital, apresentando projetos em
suas regiões. Esta forma de atuação multiplicará o número de empresas envolvidas na base BEL,
garantindo projetos compartilhados e distribuídos por regiões, inclusive customizando situações
regionais futuramente.

Evidentemente que, nesta proposta, extremamente ousada, toda a questão contratual,


participações, patentes e demais itens deverão ser discutidos caso a caso, aproveitando-se do
know-how de cada um dos atores, principalmente da COPEL Telecomunicações.

Empresa
incubada
Incubadora Estadual
i9

Demanda
Incubadora 1 Orientada Incubadora N

Incubadora 2 REPARTE Incubadora A


Editais Editais

Editais
Incubadora 3 Incubadora 5

Incubadora 4

Figura 3 – Modelo de relacionamento do ambiente BEL.

3 Resultado Esperados

Este capítulo buscou apresentar uma alternativa única e inovadora para implantação de um
Ambiente de Inovação, e dele se espera como resultados:

178 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


• Integração e interação das incubadoras do Estado do Paraná, para em conjunto criarem
empresas de sucesso no segmento proposto pelo BEL-i9.

• Consolidar a COPEL Telecomunicações como principal agente motivador de novos


empreendimentos de alta tecnologia voltados ao projeto BEL.

• Praticar o relacionamento em Rede de Interação entre Incubadoras, Universidades,


Institutos de Pesquisas e Empresas de Alta Tecnologia.

• Potencializar o número de empresas incubadas com sucesso no mercado, tendo como


meta 30 empresas, ao final de dois anos (uma por incubadora instalada), voltadas á
plataforma BEL.

• Otimizar a aplicação de recursos para criação de novos empreendimentos de sucesso em


todo o Estado do Paraná.

4 Referências
[1] ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades promotoras de Empreendimentos Inovadores –
www.anprotec.org.br.

[2] TIGRE, PAULO BASTOS - Comércio Eletrônico e Globalização:Desafios para o Brasil1999, Editora
Campus Ltda. A Qualidade da Informação - Rua Sete de Setembro, 111 - 16º andar - 20050-002 Rio
de Janeiro RJ Brasil – consulta ao site http://www.liinc.ufrj.br/fr/atta-
chments/055_saritalivro.pdf#page=84

[3] AMABILE, TERESA - How to Kill Creativity - (1998) Harvard Business Review, September, 77–87.

[4] CLARK E WHEELWRIGHT - Revolutionizing product development - New York. - Free Press – 1992

[5] DOLABELA, FERNANDO – Oficina do Empreendedor – A metodologia de ensino que ajuda a


transformar conhecimento em riqueza. 1990, Cultura Editores Associados – São Paulo Brasil.

[6] GHEMAWAT, PANKAJ – Redefinindo Estratégia Global – Cruzando Fronteiras em um mundo de


diferenças que ainda importam. 2008 – Bookman – Porto Alegre

[7] HAMEL, GARI - Bringing Silicon Valley Inside. (Statistical Data Included). Harvard Business Review 77.5
(Sept-Oct 1999): p71.

[8] HAMEL, GARI - The Why, What, and How of Management Innovation - Harvard Business Review
http://harvardbusinessonline.hbsp.harvard.edu/hbsp/hbr/articles/article.jsp?articleID= R0602

[9] LOPES, MARCOS AURÉLIO; SANTOS, GLAUBER DSO; AMADO GUILHERME BIEL – Depto. de Eng.
de Produção - Universidade Federal de São Carlos – Retirada no endereço
http://www.geneticasysid.com.br/artigo12.pdf, em 28.12.2008

[10] MANUAL DE OSLO – Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação
Tecnológica – OECD – FINEP – 2004 – Brasília.

[11] MCADAM, RODNEY e MCCLELLAND,JOHN - Sources of new product ideas and creativity practices
in the UK textile industry - University of Ulster, School of Management, Jordanstown Campus,

Modelo de incubação estruturada em rede e orientada por demandas de um agente de inovação regional 179
Shore Road, Newtownabey, Co. Antrim BT37 0QB, UK - 0166-4972/01/$ - see front matter. Crown
Copyright 2001 Published by Elsevier Science Ltd. All rights reserved. PII: S0166-4972(01)00002

[12] RIZOVA, POLLY - Are You Networked for Successful Innovation? – Mit Sloan Management Review
Spring 2006 Vol.47 No.3 Reprint Number 47310

[13] SPOLIDORO, ROBERTO – A sociedade do Conhecimento e seus Impactos no Meio Urbano –


Parques Tecnológicos e Meio Ambiente Artigos e Debates - 1997 – Amprotec – Brasília.

[14] PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada
estrategicamente, em equipe. COPEL Telecomunicações, Curitiba, 2009, 207pp.

180 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


22 A COPEL na era da interatividade
1
Rita de Cássia Laporte

COPEL – Companhia Paranaense de Energia


rita.laporte@copel.com

1 Introdução

O mundo está de pernas para o ar!

Num tempo em que coisas velhas morrem sem que novas existam e paradigmas – sociais,
culturais e econômicos são destruídos, faz-se necessário o repensar.

No mercado, o cenário aponta para uma reorganização emocional, social e econômica e para o
aumento na complexidade e na interdependência entre empresas, indivíduo, família, escola e
sociedade.

O Brasil é importante neste novo contexto mundial. São 50 milhões de brasileiros on-line, 23 horas
por mês. Vive-se a democratização dos meios de produção de conteúdo. Uma pessoa com apenas
um celular com câmera na mão é uma produtora de conteúdo em potencial. Os brasileiros estão
entre os recordistas mundiais no uso das redes sociais.

O Paraná e os paranaenses têm na COPEL uma empresa fomentadora de desenvolvimento


socioeconômico através da distribuição de energia barata à população do estado. Agora a
empresa, considerando um novo tempo e dentro deste contexto de hiperevolução pretende inovar,
democratizando o acesso à informação.

Os Projetos BEL (Banda Extra Larga no modelo inovador de rede aberta e neutra), COPEL.org
(acesso sem fio às populações de mais baixa renda) e BEL-i9 (incubadora fomentadora do
empreendedorismo em telemática) oferecerão, a todos os 3,5 milhões de consumidores de
energia, conteúdos, produtos e serviços através de uma rede Internet inovadora.

1
Rita de Cássia Laporte possui Graduação em Administração de Empresas pela FADEPS (1996), MBA em Marketing
Executivo pela ISAE/FGV (2001). Experiência no mercado comercial, em negociações, em treinamento de equipes de
pesquisas científicas e de mercado, qualitativas e quantitativas. Trabalha na COPEL desde 1997 onde, atualmente, exerce
atividades como Analista de Gestão/Marketing.

A COPEL na era da interatividade 181


2 O novo marketing social

Walter Longo, evangelista da maior agência de publicidade brasileira e empreeendedor digital, diz
que o novo marketing se baseará no tripé informação, interatividade e entretenimento [3].

Antes o marketing utilizava dados passivos, implícitos, hoje as pessoas on-line contribuem
ativamente, oferecem, compartilham dados pessoais, situações que vivem, interesses,
relacionamentos, e isto vale ouro porque expressa o que realmente querem.

Estes dados podem ser captados, medidos pelas empresas e conectados para o desenvolvimento
de novos produtos e serviços.

No campo do marketing o cliente geralmente não sabe o que quer, porque não sabe tudo o que
pode querer.

O desafio para as empresas chama-se criatividade!

Criatividade para se manter no mercado e criar algo novo, para ser revolucionário, e para
despertar a atenção do cliente, estudando o comportamento dos consumidores on-line.

Para criar o novo, as empresas precisam basicamente de quatro perfis profissionais: o sujeito
especialista em entretenimento, o da informação, o da interatividade e o nexialista. Este último não
é de fato especialista em nada, mas faz o papel de integrador, promovendo a sinergia para que as
três primeiras partes tenham nexo.

A COPEL, através do Projeto BEL-i9 vai ao encontro do futuro com empreendedorismo e busca
parceiros para este desenvolvimento, que combinem ideias acadêmicas com as demandas do
mercado.

O projeto compreende uma parceria entre a COPEL e outras empresas e instituições (de ensino
superior, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, fomento, etc) promovendo interação entre
academia, tecnologia e novos negócios, criando oportunidades para os egressos dessas
academias. Estes indivíduos estão atentos ao que acontece em vários cantos do mundo, abertos
às novidades e funcionam como antenas capazes de capturar algumas das transformações em
curso na sociedade.

3 Conclusão

Para empresas promotoras de desenvolvimento socioeconômico e visionárias, como a COPEL,


impulsionar novos negócios e desenvolver produtos e serviços fundamentados em tendências
emergentes é fazer parte da história deste tempo, de repensar.

Cabe então, a um time multidisciplinar, encontrar pontos de convergência e aparentemente


incongruentes dos dados captados nas redes sociais, construindo um mosaico, interpretando as
informações e produzindo o novo.

182 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


4 Referências
[1] D’ANGELO, André Cauduro. O consumidor que vê o futuro. Revista AMANHÃ, Agosto de 2009, Nº 256,
Ano 23. www.amanha.com.br

[2] WEIGEND, Andreas. O marketing das redes sociais. Negócios/HSM Management, TAM nas Nuvens,
Anova Alemanha, Ano 02, Nº 23, Novembro de 2009. www.tam.com.br

[3] LONGO, Walter. Inovação e renovação quebrando paradigmas do marketing. Fórum de Marketing.
Curitiba 2008.

A COPEL na era da interatividade 183


23
BEL-i9: a possibilidade de inovar e
comercializar sobre uma rede telemática
com significativo potencial de consumo
1
Gilberto Krieger

Digiquest Pesquisa de Mercado


gilberto@digiquest.com.br

1 Introdução

O projeto BEL tem como objetivo disponibilizar uma rede IP de altíssima velocidade, inovadora em
conteúdo, produtos e serviços para ser disponibilizada, até 2020, aos 3,5 milhões de consumidores
da COPEL (energia), em todas as regiões do Paraná, com variados perfis sócio demográficos,
gerando amplas possibilidades de negócios e novas experiências de consumo.

Este capítulo tem por objetivo fazer uma análise do potencial de consumo e de oportunidades que
esta rede deve gerar para as empresas interessadas em ofertar produtos e serviços para os
usuários finais conectados à rede BEL.

Um dos objetivos mais significativos do projeto é o da universalização das telecomunicações,


permitindo a uma gama maior de usuários o acesso a redes de alta velocidade, hoje mais restrita
ao público das classes AB.

Além das implicações já descritas no próprio conceito do projeto BEL [1], será avaliado o impacto
adicional e os benefícios que isto pode trazer para o projeto, seus usuários e parceiros de
negócios.

O capítulo inicia pela análise de duas situações que alteraram profundamente a estrutura
socioeconômica até então estabelecida: a expansão da classe C no Brasil e o crescimento
exponencial da Internet e mais especificamente da área de comércio eletrônico.

1
Gilberto Krieger é formado em Engenharia Civil pela UFPR, com cursos em Marketing pela Business School Ohio University
e LDP pela Columbia University. Foi Supervisor, Diretor, Gerente Regional, Vice Presidente e membro do board da McCann
Brasil e General Manager da Universal Publicidade entre 1986 e 1999. Diretor de Marketing do Grupo Lorenzetti entre 1990 e
1992. Atualmente é Sócio Diretor da AG1/Great Comunicação, o que exerce desde 2000, e Sócio Diretor Digiquest Pesquisa
de Mercado, função exercida desde 2005.

BEL-i9: a possibilidade de inovar e comercializar sobre uma rede telemática com significativo potencial de consumo 185
2 Nada será como antes

A partir de 2008, a classe média passou a ser maioria no Brasil. São hoje 52% da população (eram
44% em 2002) – ou 100 milhões de brasileiros, segundo a FGV. Hoje, define-se como classe
média, ou classe C, as famílias com renda mensal entre R$ 1.860 e R$ 4.650.

Em todos os países que alcançaram um alto grau de desenvolvimento econômico e social, a


maioria dos habitantes pertence à classe média.

O que significa pertencer à classe média? “É ter filhos estudando em boas escolas particulares, um
carro e dinheiro para uma pequena viagem de fim de semana uma vez por mês”, afirma um dos
emergentes.

De acordo com o Data Popular, consultoria especializada em consumo da população de baixa


renda, entre 2002 e 2006 a massa de renda em poder da classe C cresceu R$ 80 bilhões. “Até os
anos 90, havia a ideia de que só valia a pena produzir para as classes A e B [...]..Agora, as
empresas estudam e desenvolvem produtos específicos para as classes C e D.”

Impulsionado pelo consumo da classe média, o Brasil tornou-se um dos maiores fabricantes de
computadores do mundo São 60 milhões de computadores em uso no Brasil, segundo estudos da
FGV, devendo chegar a 100 milhões em 2012.

Atualmente observa-se um crescimento de cerca de 41% na utilização da Internet pela classe C;


além disso, faixas etárias que antes não possuíam acesso à rede hoje estão tendo. No ano
passado, por exemplo, houve um incremento de 23% no acesso de pessoas com 65 anos ou mais,
salienta o estudo da FGV.

Este maior acesso aos computadores e consequentemente à Internet, são fatores diretamente
ligados ao aumento do comércio on-line.

3 O universo da Internet no Brasil

Os números da Internet no Brasil impressionam:

Já são 64,8 milhões de internautas no Brasil. Segundo o Ibope Nielsen Online, em julho de 2009
houve um aumento de 2,5 milhões de pessoas em relação ao mês anterior.

Nas áreas urbanas, 44% da população está conectada à Internet.

97% das empresas e 23,8% dos domicílios brasileiros estão conectados à Internet.

27,5 milhões acessam regularmente a Internet de casa, número que sobe para 36,4 milhões se
considerados também os acesso do trabalho (jul/2009).

38% das pessoas acessam à web diariamente;

87% dos internautas brasileiros entram na Internet semanalmente.

186 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Segundo o Ibope//NetRatings, o ritmo de crescimento da Internet brasileira é intenso. A entrada da
classe C para o clube dos internautas deve continuar a manter esse mesmo compasso forte de
aumento no número de usuários residenciais.

4 O universo do comércio eletrônico

De acordo com dados da E-bit (empresa que é referência em informações sobre o segmento), no
primeiro semestre deste ano as vendas on-line cresceram 27% em comparação com o mesmo
período do ano passado e esse mercado de e-commerce movimentou R$ 4,8 bilhões. O valor
médio das compras é de R$ 323 reais. A previsão é que o ano feche em R$ 10,6 bilhões.

Só neste ano foram 2 milhões de novos consumidores que passaram a comprar pela Internet e
esse número tende a crescer cada vez mais dentro de um universo de 60 milhões de internautas
do Brasil, segundo a E-bit.

Com o crescimento vertiginoso do setor, torna-se cada vez mais importante que as empresas
busquem seu espaço na rede mundial de computadores para vender seus produtos.

Há cerca de dez anos, bastava que a empresa tivesse seu espaço na web, mas hoje isso mudou e
a Internet tornou-se uma ferramenta indispensável para realização de negócios.

Uma pesquisa realizada com 109 empresas do país pela Consultoria Deloitte revela que, para 69%
dos entrevistados, as relações via Internet foram o meio de comunicação mais eficiente para a
promoção de vendas nos últimos 12 meses.

A Internet se tornou o terceiro veículo de maior alcance no Brasil, atrás apenas de rádio e TV. 87%
dos internautas utilizam a rede para pesquisar produtos e serviços. Antes de comprar, 90% dos
consumidores ouvem sugestões de pessoas conhecidas, enquanto 70% confiam em opiniões
expressas on-line.

5 O Potencial da Rede BEL

O BEL vai gerar uma rede com potencial para atingir a 3,5 milhões de usuários, que terão
disponibilidade de rede com alta velocidade, usuários estes com perfil, padrões e comportamento
de consumo de internautas. Terão acesso aos bundles, pacotes de serviços que agregam
telefonia, Internet, TV por assinatura, video on demand, etc.

Mas muito mais que isso, formarão um clube de usuários com características bastante definidas e
conhecidas. Para este clube de usuários poderá se ofertar:

• A criação de um “Shopping BEL” com todos os tipos de lojas virtuais ofertando serviços e
produtos, desde os mais comercializados atualmente on–line, como livros, revistas e
assinaturas, saúde, beleza e medicamentos, informática, eletrodomésticos e eletrônicos.

• Fomento do pequeno comércio regional/local que pode anunciar e oferecer produtos e


serviços por regiões geográficas específicas. (Ex: lavanderias, padarias, farmácias,
sapatarias, deliveries, mercados, escolas, floriculturas, presentes, etc)

BEL-i9: a possibilidade de inovar e comercializar sobre uma rede telemática com significativo potencial de consumo 187
• Atração dos grandes anunciantes de mídia on-line (setor financeiro, seguros, veículos,
telecomunicações) que podem oferecer produtos para perfis específicos dos usuários
BEL.

• Portais com conteúdos dirigidos com informações, notícias, trânsito, clima, segurança,
cursos de educação à distância, games,etc.

Baseando-se no atual perfil de consumo e tíquete médio no Brasil, pode-se afirmar que os
usuários da Rede BEL gerarão um potencial de consumo acima de R$ 1 bilhão de reais/ano.

Com todas essas frentes, a COPEL ainda estará oferecendo, a jovens empreendedores, a
possibilidade de incubarem novos negócios na plataforma BEL. Com o projeto BEL-i9, será aberta
uma gama enorme de perspectivas parao desenvolvimento de produtos e serviços digitais
inovadores, que poderão vir ao mercado por meio da própria plataforma BEL, o que é uma enorme
vantagem nos contextos de facilidade de inovação e de comercialização.

6 Conclusão

O desenvolvimento tecnológico deu início a uma nova era de novas experiências de consumo e
infinitas possibilidades de negócios. Estamos apenas no início desta revolução que começa alterar
a ordem econômica e as empresas que não estiverem acompanhando esta tendência correm
sérios riscos de ficar no meio do caminho. A rede BEL é um ótimo exemplo das possibilidades e
oportunidades que irão surgir nos próximos anos com criação de mercados e de potenciais de
consumo e vendas acima de R$ 1 bilhão.

7 Referências
[1] PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada
estrategicamente, em equipe. COPEL Telecomunicações, Curitiba, 2009, 207pp.

[2] www.deloitte.com.br Publicação Mundo Corporativo outubro-dezembro 2009.

[3] www.latinpanel.com TNS.

[4] www.idgnow.com.br.

[5] Noticias publicadas estudo consumidor Classe C – Data Popular 2009

[6] Noticias Publicadas Estudo Consumidor Classe C-Fundação Getulio Vargas (FGV) 2009

[7] Estudos IBOPE/Nielsen OnLine e IBOPE/NetRatings – comportamento Internet 2009

[8] Noticias publicadas E-bit empresas www.ebitempresa.com.br

[9] Estatísticas dados e projeções sobre a Internet no Brasil


http://www.tobeguarany.com/internet_no_brasil.php

188 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


24 Dois monólogos não fazem um
diálogo
1
Marcos Miguel Ferigotti

COPEL – Companhia Paranaense de Energia


marcos.ferigotti@copel.com

1 Introdução

O novo posicionamento estratégico da COPEL Telecomunicações como integradora de soluções


de telemática, em um novo modelo de rede aberta e neutra (BEL), preconiza uma relação sinérgica
com terceiros, não somente pela proposta inovadora do modelo em si, mas, fundamentalmente,
para acompanhar e processar as mudanças e transformações das (tele)comunicações na mesma
velocidade que elas acontecem. Já o conceito de incubadora deve aqui ser percebido como um
ambiente de cooperação e colaboração para fomentar o empreendedorismo e o desenvolvimento
de projetos inovadores a partir da pesquisa científica e do desenvolvimento da telemática como
insumos para a concepção de novos negócios alinhados aos objetivos estratégicos da
organização, dentro do ambiente BEL, e que reflitam na sustentabilidade das ações e no altruísmo
da empresa, sem que se esqueça a necessária rentabilidade, sempre de acordo com a sua nova
Missão e Visão:

Missão

Promover o desenvolvimento do Paraná através das telecomunicações, contribuindo para


a cooperação e a integração entre governos, academia, iniciativa privada e terceiro setor.

Visão

Ser reconhecida, até 2020, como a melhor integradora de soluções de telemática do


Paraná.

1
Marcos Ferigotti é formado em Engenharia Mecânica (UFPR), com MBA em Gestão Estratégica em Marketing e Vendas
(IMEC) e Gestão de Empresas (CEC), com experiência profissional e de gestão em empresas de pequeno, médio e grande
porte. É autor do livro Inteligência Consultiva – Qualidade a Serviço do Cliente pela editora Protexto e atualmente trabalha no
Departamento de Novos Negócios da COPEL Telecomunicações.

Dois monólogos não fazem um diálogo 189


Diante do novo cenário que a COPEL Telecomunicações está se inserindo, e do desafio
empreendedor-inovador subjacente às mais diversas competências exigidas para a implementação
eficiente e eficaz do modelo adotado, faz-se necessário estimular uma maior cooperação e
interatividade com a academia e com outros setores da sociedade, destacando a contribuição do
conhecimento como matéria-prima para a produção de novas tecnologias, novos produtos e novos
serviços de valor adicionado.

2 Um diálogo difícil

A Era do Conhecimento, que se vive hoje, é caracterizada por uma nova ordem econômica e
social, pelos grandes avanços científicos e tecnológicos e por um crescente processo de
globalização que demanda a criação de uma cultura de inovação nas organizações.

Neste novo ambiente, altamente competitivo, o lançamento de novos produtos e serviços, sejam
estes completamente novos ou evoluções de produtos já existentes, passou a ser fundamental
para um bom desempenho e sobrevivência de muitas empresas no mercado. Para Brisolla [1], “o
processo de inovação, talvez mais do que qualquer outra atividade econômica, depende do
conhecimento. Assim sendo, é imperativo buscar a inter-relação entre universidade e empresa,
uma vez que a importância da informação e do conhecimento nas economias e nos processos
produtivos está reposicionando o papel desempenhado pelas universidades, não somente pela
transmissão dos conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos por esta relação, mas,
essencialmente, pela maior utilização socioeconômica destes, traduzidos em aplicações
mercadológicas que contribuam efetivamente para a geração e o desenvolvimento sustentado de
empreendimentos.

Como instituições produtoras de conhecimento, responsáveis pela formação do cidadão e do


profissional que promove as transformações sociais, as universidades têm papel importante no
sistema econômico de uma região. As empresas, por outro lado, impulsionam o desenvolvimento
pelos produtos e serviços que disponibilizam à sociedade. Porém, em termos concretos, a
interação entre os segmentos acadêmico e empresarial precisa ainda ser melhorada. Muitas
vezes, a conversa entre esses importantes setores acabam resultando em benefícios menores do
que o que se esperaria, por possuírem objetivos, estruturas organizacionais, culturas e interesses
que precisam ser superados para que haja efetivas contribuições à sociedade. Ao passo que as
universidades são regidas pela racionalidade científica, as empresas estão focadas na
produtividade e geração de lucro enfocado na racionalidade econômica. A natureza distinta desses
dois tipos de instituições e o curto tempo de resposta que o mercado exige para atender a
crescentes demandas, criam um descompasso pelos diferentes ciclos de tempo destinados para a
inovação em suas atividades, dificultando assim uma maior cooperação entre ambos que, por sua
vez, pode ser amplamente potencializada pela pré-disposição para que cada um ouça o outro e,,
mutuamente, se adaptem para um objetivo comum.

A existência de elementos mediadores do processo, a proximidade entre gerador e usuário da


informação e a transferência de tecnologia com valor agregado para quem vai utilizá-la, são
exemplos de mecanismos facilitadores para integrar e realizar projetos em conjunto. Nesse
contexto, o BEL-i9 pode colaborar, promovendo um melhor diálogo e facilitando a cooperação
entre universidade e empresa. O ponto convergente de tais elementos concentra-se na busca de

190 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


um ambiente que favoreça experimentos, cuja meta consiste na transformação do conhecimento
ou da experiência em um produto ou serviço inovador, que solucione uma necessidade do
mercado e que seja, portanto, comercializável. Consoante tal contexto, o conceito de incubadora
proposto pela COPEL Telecomunicações consiste em uma solução eficiente para a intensificação
desta relação por meio dos benefícios que podem ser obtidos através da cooperação universidade-
empresa. A relação com o setor produtivo pode propiciar aos professores pesquisadores das
instituições de pesquisa em ensino superior um maior contato com a realidade de mercado. Aos
egressos, sejam eles da graduação ou da pós-graduação, uma maior sintonia com atividades do
mundo empresarial onde deverão desenvolver suas atividades e, para a universidade como um
todo, estes projetos se caracterizam como um meio importante para dar um retorno palpável à
sociedade do muito que é produzido pelos seus pesquisadores e, também, para a maior
divulgação e utilização prática de sua produção.

Tendo em vista as inúmeras oportunidades para a geração de projetos inovadores de pesquisa


científica e desenvolvimento tecnológico que o BEL propicia, particularmente pela disponibilização,
à sociedade, de conteúdos ou “produtos digitais” em altas taxas de transmissão, o projeto
contempla a implementação de incubadoras tecnológicas (BEL-i9) para a geração de novos
produtos, serviços e negócios a serem realizados em parceria com a rede de pesquisa e ensino
superior do estado do Paraná e de outras localidades. Os incubados deverão ser egressos de
cursos de graduação ou pós-graduação, sendo supervisionados por um professor universitário em
conjunto com um profissional da área técnica da COPEL Telecomunicações, gerando uma série de
benefícios específicos para os diversos atores envolvidos nesta relação, como os citados por
Pessoa [5].

3 A importância da capacitação multidisciplinar no contexto de gestão empresarial

Por acreditar na alta relevância de se proporcionar aos incubados egressos das academias uma
formação complementar, para apoiar não somente o início de um empreendimento, mas também,
a consolidação de empresas tecnologicamente inovadoras e competitivas, é preciso que a
incubadora oportunize, de forma continuada, consultoria e assessoria agregada para proporcionar
uma visão abrangente e integrada de gestão empresarial para capacitar estas empresas a entrar
de forma competitiva no mercado e transformá-las em potencias geradoras de emprego e renda.
Além disto, é possível elencar demais vantagens e benefícios resultantes desta dinâmica em
outros aspectos, tais como:

3.1 Em termos de conhecimento

• Enfocar a gestão empresarial no contexto dos modernos modelos de gestão, tendo em


vista as dimensões estratégicas e tático-operacionais.

• Discutir conceitos, princípios, técnicas e processos dessa gestão, nos multicenários


econômicos.

• Utilizar o ambiente acadêmico como um fórum para discussão e troca de experiências


decorrentes de multiplicidade e das peculiaridades das organizações voltadas para
produtos, serviços e negócios.

Dois monólogos não fazem um diálogo 191


• Instrumentalizar os profissionais participantes para que os conceitos e aspectos teóricos
apresentados atinjam a máxima eficiência desejada.

3.2 Em termos sociais

• Identificar empreendedores nas diversas regiões do estado.

• Estimular a criação de empresas tecnologicamente avançadas, bem como desenvolver o


espírito empreendedor;

• Possibilitar às empresas o uso dos serviços, da infraestrutura e do espaço da Incubadora


de forma compartilhada.

• Facilitar o acesso das empresas à inovações tecnológicas e gerenciais.

• Estimular o associativismo entre as empresas e entre estas e os parceiros que apoiam as


Incubadoras.

3.3 Em termos de tecnologia

• Identificar e divulgar as contribuições trazidas pelas empresas incubadas, apoiando a


constituição de uma massa crítica acadêmica sobre essa temática de modo a mantê-las
atualizadas.

• Tornar pública, disseminar e discutir de forma consciente, através de reflexão crítica, a


atual produção de conhecimentos e suas relações multidisciplinares.

• Estimular o universo acadêmico a promover o ensino, a pesquisa e a extensão acerca da


relação entre universidade e empresa.

• Examinar as dificuldades desta relação de forma a identificar uma agenda de temas-


chave prioritários para discussão.

4 Conclusão

A relação universidade-empresa é altamente recomendada para o desenvolvimento de produtos e


serviços inovadores que alcancem o mercado, mas o diálogo nem sempre é fácil. A dificuldade
reside em vários aspectos, incluindo os culturais, de formação, de objetivos e de tempo de entrega
do que cada um produz. O BEL-i9, neste contexto, pode vir a se constituir em uma importante
ponte entre os dois setores, facilitando o diálogo entre ambos, compatibilizando interesses e
produzindo, assim, bens e serviços de alto conteúdo inovador, que beneficiarão a sociedade e
promoverão o desenvolvimento econômico. São dois setores de grande produção e que, juntos,
podem maximizar os benefícios para toda a sociedade, daquilo que produzem. Numa época em
que o desenvolvimento precisa ocorrer de forma eficaz, eficiente e sustentável, não se admite mais
o que o autor chama de “conversa de surdos”, em que cada setor prioriza seus próprios interesses
e reluta em se adaptar aos requisitos de outros. A solução está, no entendimento do autor, em

192 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


colocar a sociedade usuária como foco principal, acima dos objetivos particulares de setores
específicos. Só assim poderá haver o diálogo produtivo de que tanto a sociedade necessita!

5 Referências
[1] BRISOLLA, Sandra Negraes. O projeto universidade e empresa, ciência e tecnologia. Extraído do site
http://www.cedes.unicamp.br/revista/ver/pesq56/pesq562.html em 26/11/2009.

[2] CARVALHO, J.L.M., TOLEDO, J.C. As motivações para projetos de interação universidade-
empresa:o caso da UFSCar. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Departamento
de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.

[3] MELO, P.A, Conjecturas sobre a cooperação universidade/empresa em universidades brasileiras. II


Coloquio Internacional de Gestión Universitaria em America del Sur, Universidade de Santa Catarina.

[4] MOTA, T.L.N, Cooperando para inovar. Extraído do site http://read.adm.ufrgs.br/read09/art/artigo4.html


em 24/11/2009.

[5] PESSOA, Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada
estrategicamente, em equipe. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2009. 207pp.

Dois monólogos não fazem um diálogo 193


25
A tecnologia da informação e
comunicação e a promoção do
desenvolvimento sustentável
1
Eduardo Manoel Araujo

COPEL – Companhia Paranaense de Energia


edu@copel.com

1 Introdução

Encontrar caminhos para o desenvolvimento sustentável com qualidade de vida para a nossa e as
próximas gerações é um dos maiores desafios do nosso tempo. E a pergunta que nos vem à
mente é como conseguir que o avanço das tecnologias de informação e comunicação possa estar
a serviço deste grande desafio? Como dar acesso às comunidades aos conhecimentos e práticas
produzidos globalmente, às ferramentas e soluções computacionais, aos mercados, às plataformas
de cooperação e aos recursos para realização de projetos?

Para iniciar esta abordagem queremos nos valer da Carta da Terra [12], este instrumento de
reflexão e inspiração para a ação, resultado de uma década de diálogo intercultural, em torno de
objetivos comuns e valores compartilhados. Ela é uma declaração de princípios éticos
fundamentais para a construção, no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e
pacífica, endossado por mais de 4500 organizações governamentais e não governamentais. Em
seu preâmbulo a Carta da Terra declara: “Estamos diante de um momento crítico na história da
Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo
torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo
e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica
diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre
com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global
fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa
cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos

1
Eduardo Manoel Araujo é Engenheiro Civil pela UFPR, Mestre em Ciência da Computação pela UNICAMP, Especialista em
Gestão e Qualidade pela JUSE - Japanese Union Of Scientists and Engineers, em Estratégia pela University of Michigan, em
Valores Humanos pela Fundação Peirópolis, em Investigação Apreciativa pela Weatherhead School of Management da Case
Western Reserve University. Autor do livro “Um Sonho Possível – do materialismo não sustentável a uma vida holística
sustentável” publicado em 2003 pela Willis Harman House, Presidente do Instituto Arayara de Educação para a
Sustentabilidade, Consultor de Desenvolvimento Regional Sustentável na Diretoria de Meio Ambiente e Cidadania Empresarial
da Companhia Paranaense de Energia – COPEL, Articulista da revista Atitude Sustentável, Articulador da Rede da
Sustentabilidade e da Universidade Aberta para a Sustentabilidade.

A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do desenvolvimento sustentável 195


nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as
futuras gerações.”

E como estamos falando de desenvolvimento sustentável gostaria de lembrar uma definição


amplamente aceita que foi publicada no Relatório Brundtland – Nosso Futuro Comum [13]: é o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Ou seja, é permitir o desenvolvimento da
geração atual sem tirar este direito das gerações futuras.

Estamos falando basicamente de vida e de uma conversa entre gerações. Para tanto precisamos
compreender algumas regras básicas da vida que assim como a lei da gravidade e do
eletromagnetismo nos foram dadas e fazem parte intrínseca do viver.

Agrupamos esta reflexão de base a seguir em uma abordagem para o desenvolvimento


sustentável e depois sobre ela iremos construir uma reflexão específica do papel da tecnologia da
informação e comunicação na promoção do desenvolvimento sustentável.

2 Uma abordagem para o desenvolvimento sustentável

As questões levantadas, a Carta da Terra e a definição de Desenvolvimento Sustentável nos


motivaram a ordenar algumas ideias em uma abordagem de base para esta reflexão que, por
motivos práticos, estamos dividindo em três partes: uma primeira que diz respeito a vida, uma
segunda que diz respeito ao ser humano integral e uma terceira que diz respeito a prática do
planejamento e da gestão participativa.

Com relação a vida e sua compreensão vou me basear na Ética do Cuidado de Leonardo Boff e na
Alfabetização Ecológica de Fritjof Capra. No que diz respeito ao ser humano e o processo de
aprendizagem me inspirarei na Pedagogia Waldorf [11], na Pedagogia da Integração, e em Rubem
Alves [1]. Na dimensão da gestão me servirei da evolução das abordagens de planejamento, de
estratégia e dos programas de qualidade nas organizações.

2.1 A vida – alfabetização ecológica e ética do cuidado

2.1.1 Alfabetização ecológica

Fritjof Capra através da Alfabetização Ecológica [5] nos mostra que existem alguns princípios
2
básicos da vida expressos na ecologia profunda que incluem: a diversidade, as redes, o equilíbrio
dinâmico, os ciclos, o aprendizado e o desenvolvimento.

2
Ecologia Profunda é um conceito filosófico que vê a humanidade como mais um fio na teia da vida. Cada elemento da
natureza, inclusive a humanidade, deve ser preservado e respeitado para garantir o equilíbrio do sistema da biosfera. Vê o
mundo como uma teia de fenômenos essencialmente inter-relacionados e interdependentes. Ela reconhece que estamos todos
inseridos nos processos cíclicos da natureza e somos dependentes deles.

196 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Diversidade

A diversidade é uma destas primeiras compreensões necessárias e uma das mais poderosas
fontes de aprendizado que a humanidade possui. A diversidade biológica, social, cultural, artística,
de tradições, emocional e espiritual são perspectivas amplas e diferentes na abordagem da
evolução. Ele nos mostra a diversidade como sendo uma das bases da vida, e um importante fator
de contribuição com a propriedade da resiliência. Que nada mais é do que a capacidade de
adaptação e sobrevivência no longo prazo.

Dentro desta perspectiva, quando uma organização ou um grupo de pessoas está trabalhando em
um projeto ou construindo alguma coisa, o melhor é termos a maior diversidade possível neste
processo. Não por pena de algum grupo minoritário, mas porque necessitamos estas perspectivas
completamente diferentes para termos um projeto ou construção mais rica, com mais vida, e
também para evitar os percalços que não seriam percebidos mais cedo se o grupo não tivesse
grande diversidade. Para termos a melhor criação possível devemos ter a maior diversidade
possível participando. Para ter o melhor precisamos de todos!

Redes – a teia da vida

Outro principio da ecologia profunda e tema importante da alfabetização ecológica é a


compreensão da grande rede que é teia da vida. Tanto no nível quântico, que é o nível subjacente
da realidade material, quando no nível biológico e físico das interações estamos todas as espécies
e elementos materiais intimamente ligados em uma rede de interligações, inter-relacionamentos e
interdependências em um processo de cooperação altamente complexo chamada vida.

A vida se desenvolve segundo uma rede colaborativa de espécies. A resiliência é uma propriedade
que esta teia da vida apresenta a partir da diversidade de espécies e de indivíduos dentro destas
espécies. Esta propriedade nada mais é que a capacidade de adaptação e sobrevivência à longo
prazo. Quando uma nova situação surge alguns indivíduos cooperando nesta complexa rede de
espécies tem a capacidade de se adaptar e manter a teia da vida.

Ela nos mostra que quanto maior for a diversidade tanto de espécies quanto de indivíduos uma
mesma espécie e quanto maior for a quantidade e a qualidade dos relacionamentos entre os
indivíduos e espécies, maior será esta capacidade adaptação e sobrevivência às diferentes
mudanças do ambiente. O que é fácil de constatar, porque diante de uma nova situação, de um
evento ou de uma mudança qualquer, que represente ameaça a vida, quanto maior for a
diversidade de indivíduos e de espécies, maior será a possibilidade de, apesar de muitos
morrerem, algumas espécies e alguns indivíduos não serem afetados e seguirem em frente. Por
outro lado quando maiores e mais complexos forem os relacionamentos entre os indivíduos e as
espécies maiores as possibilidades de cooperação para manutenção da vida. O que resumindo
nos diz que a vida é mais forte quanto maior a qualidade e a quantidade das relações entre
indivíduos da mesma espécie e entre indivíduos de diferentes espécies. De repente descobrimos o
quão dependente somos uns dos outros enquanto indivíduos e enquanto espécies.

A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do desenvolvimento sustentável 197


Equilibrio dinâmico e energia

Einstein nos provou cientificamente que a matéria nada mais é que energia condensada. No nível
quântico da realidade somos um grande mar de energia.

O equilíbrio dinâmico é mais um dos princípios da ecologia profunda e tema básico da


Alfabetização Ecológica. Ele nos mostra que cada pessoa e cada elemento da natureza é um
sistema aberto, vivemos em uma constante de troca de energia, cada sistema busca o seu
equilíbrio sem nunca alcançá-lo, pois todo o universo está em movimento e em transformação. É a
enunciação do principio de Lavoisier: na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

Fritjof Capra mostra como este processo acontece. Sempre que temos alguma situação onde
existe um desequilíbrio de energia, o processo tende a trazer o conjunto para o equilíbrio. Assim,
se em uma organização de pessoas temos a supremacia de um tipo de energia, o seu processo
tende a ser mais controlador, centralizador e baseado em poder. Quanto mais isto se reforça, mais
as ações da organização precisam de mais energia para serem implementadas. Chega-se a um
ponto onde uma energia absurdamente grande é necessária até para fazer pequenas ações. De
outro lado, à medida que este processo avança, outro conjunto de forças começa a mostrar para a
organização outro jeito de fazer as coisas, mais baseado na energia oposta. Incentivando a
descentralização e a cooperação.

Temos duas formas de nos relacionarmos com estas energias aparentemente opostas e
frequentemente polarizadas. Ou entramos no mundo das aparências e passamos a lutar contra
posições aparentemente antagônicas. Criamos argumentos e os defendemos. Ou percebemos as
coisas desde um ponto de vista energético e vamos observando o quanto de energia de uma
polaridade e de outra tem dentro de cada pequena ação ou decisão. E buscamos sempre olhar
para cada situação e nos perguntamos qual o balanço ideal entre estes polos de energia para esta
situação? O conflito na realidade é apenas uma ilusão, pois não existem dois lados. Temos um
conjunto que ora está com a energia de um polo ou de outro em excesso.

Como tudo tende ao equilíbrio, não existe certo e errado, esta dualidade é apenas uma ilusão. O
que temos é apenas energias que devemos constantemente analisar para sentir quando estamos
aplicando exageradamente uma ou outra. Assim, podemos até por curiosidade fazer exercícios de
como uma determinada ação seria feita com um pouco mais de uma energia ou da outra.

Considerando esta propriedade da vida fica mais fácil compreender situações de desequilíbrio,
porque elas acontecem e o que fazer para trazê-las mais para o equilíbrio. Fica também mais fácil
de prever consequências de determinadas ações que tendem a trazer um desequilíbrio para os
sistemas.

Como já vimos se centralizamos demais determinada organização fatalmente enfrentaremos uma


força de descentralização porque o sistema tende a um equilíbrio entre a centralização e a
descentralização. Isto explica a estória de muitas empresas e até mesmo de países que sofreram
os efeitos naturais de um exagero de força em um destes sentidos. Autocratas cujos sistemas
desmoronaram e libertadores cujos excessos também não funcionaram.

Assim, modelos hierárquicos podem funcionar em harmonia com modelos de rede. A hierarquia
organizacional estruturando e definindo um conjunto básico de processos, projetos e controles. E a

198 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


rede organizacional - representada pelas redes formais e informais, pelos projetos matriciais e
pelas conexões com outras organizações - cultivando a experimentação, a criatividade e a auto-
organização. Desta forma a organização possui um controle mínimo e mantém a sua capacidade
de experimentação, de criação, de inovação e de adaptação.

Outra forma de abordar estas questões, porém sem falar em energia, é para cada situação trazer
uma diversidade e olhares para, a partir deles, definir ações e decisões. O efeito de múltiplos
olhares, com a maior diversidade possível, tende a fazer com que nos orientemos para definições
com um equilíbrio maior entre estas energias. Como nossas percepções individuais são muito
limitadas, quando trabalhamos com várias percepções e com maior diversidade passamos a
construir, no encontro das percepções individuais, uma percepção coletiva bem mais ampliada.

A energia de uma organização de pessoas pode também ser percebida pela qualidade da
conversa que ali ocorre. O conjunto destas conversas pode apontar mais para o passado, para o
presente ou para o futuro. Ele pode apresentar mais elementos de medo ou de esperança, de
potencial e de possibilidades. Este conjunto pode ser mais positivo e afirmativo ou negativo,
inibidor e paralisante. Ele pode mostrar uma grande quantidade e conversas ou uma pequena
quantidade delas. Quanto mais apreciativas, vibrantes e inspiradoras as conversas tanto mais
positiva a energia da organização e consequentemente o seu potencial.

Ciclos

Cada indivíduo, cada espécie, cada elemento da natureza é um sistema aberto em constante
interação com o meio. Assim dependemos de alguns insumos para viver e devolvemos estes
insumos transformados que serão por sua vez insumo para outras espécies. E neste circular de
matéria e energia as coisas voltam a ser o que eram. A água limpa que é poluída, utilizada,
descartada volta a ser água limpa num ciclo de evaporação-transpiração, condensação, transporte
e precipitação. Os elementos que compõe a estrutura de uma maçã em algum momento se
dispersam, participam de outros ciclos até se tornarem disponíveis para fazer parte de outra maçã.
Como na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, precisamos estar atentos para
entender de que ciclos vêm os insumos para nosso viver e para que ciclos devolvemos estes
insumos por nós transformados.

Como devolvemos todos os nossos rejeitos e descartes para os ciclos naturais da vida. Quanto
mais curtos forem estes ciclos para aquilo que não queremos, mais rapidamente eles podem se
tornar insumos para nossa vida novamente. Quanto mais longos forem estes ciclos mais
estaremos aprisionando matéria e energia em ciclos longos que estarão indisponíveis para o ser
humano por um longo período de tempo. Como os recursos do planeta são finitos esta matéria e
esta energia podem fazer falta para as gerações futuras.

Aprendizado e desenvolvimento

Ao abordamos a diversidade social percebemos as diferenças de perspectivas de aprendizado em


que cada um de nós se encontra. E isto nos dá muitas razões para aprendermos a cada dia e a
cada momento deste universo totalmente único que é cada um de nós. Nós somos uma
combinação única de memórias, experiências e aprendizados através do espaço e do tempo.

A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do desenvolvimento sustentável 199


Assim, se considerarmos a posição e experiência única que somos e que os outros são, a melhor
forma de encarar a evolução é sermos curiosos sobre todos e sobre tudo para aprendermos
destas diferentes e únicas perspectivas de vida e de aquisição de conhecimento.

Assim, o aprendizado parece ser algo ligado a nossa forma de abordar as experiências da vida e
nossa abertura e desejo de aprender uns com os outros, com a natureza e com o movimento de
criação do universo.

Na rede da vida a autonomia e a criatividade permitem que cada indivíduo aprenda, se desenvolva
e contribua com o todo o seu potencial. Observando a vida também é possível se notar um fluxo
de transformação que tem um movimento próprio ao longo do tempo. Também na espécie humana
cada indivíduo tem o seu tempo interno para realizar novas aprendizagens. Na teia da vida os
indivíduos aprendem por diferentes meios segundo suas capacidades. Exploraremos este tema um
pouco mais adiante no quando explorarmos a ser humano integral.

2.1.2 Ética do cuidado

Com Leonardo Boff aprendemos uma forma muito simples de entender a Ética do Cuidado [4]:
ninguém cuida daquilo que não ama e ninguém ama aquilo que não conhece. Assim é preciso que
ampliemos o nosso conhecimento da vida em todas as suas nuances e dimensões. Para que
pouco a pouco, por conhecer nos maravilhemos com a complexidade, com a sabedoria, com a
beleza do que encontramos e com isto passemos a respeitar, reconhecer e amar. E por amar cada
pequeno pedacinho da criação passemos a expressar este amor através do cuidado com todas as
formas com que ela nos presenteia. Todo esforço de aprender, de conhecer ou de ensinar, de
tornar conhecido qualquer aspecto da vida é uma grande contribuição em direção a valorização da
vida e consequentemente da sustentabilidade das espécies e do planeta.

2.2 O ser humano integral

Somos um ser integral complexo composto de nosso corpo, nossa mente e nossa essência. No
aspecto físico nos conhecermos enquanto um ser biológico, capaz de raciocinar e de se emocionar
e de expressar sentimentos. Através de nossos sentidos captamos alguns aspectos da realidade
que nos envolve e através de nossa mente formamos uma percepção do que apreendemos. O
conjunto destas percepções acaba formando nossos modelos mentais, nossas formas de
interpretar a realidade e nossos paradigmas. E em nossa essência estão nossos valores, nossos
princípios, nossa cosmovisão, nossa ética diante da vida. Através do filtro de nossa percepção e
interpretação conhecemos uma parte da realidade e, considerando nossos valores e princípios,
escolhemos nossas ações e reações.

Na vida estamos em um relacionamento constante com as demais pessoas – que são seres
integrais como nós, com as demais espécies e elementos da natureza. Existe então uma dimensão
do desenvolvimento sustentável que é a sustentabilidade das nossas relações. O quanto estamos
sendo capazes de criar e manter diálogos, trabalhos em grupo e relacionamentos inspiradores.
Que envolvam nossa dimensão humana integral, que permitam o desenvolvimento de nossos
valores, de nossa percepção do mundo e da vida, da qualidade de nossas escolhas, de nosso
conhecimento e de nossa sabedoria de vida.

200 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


No diagrama abaixo, encontrado em [2], vemos representado quatro elementos referentes ao
comportamento humano que são: a motivação, o aprendizado, a realização, o reconhecimento e a
auto-estima. E vemos que todos estes elementos afetam e são afetados uns pelos outros. Cada
um deles pode ser uma porta de entrada para se estabelecer um ciclo virtuoso onde possa haver
se instalado um ciclo vicioso envolvendo estes elementos. Um exemplo de ciclo vicioso é: por não
se estar motivado, não se buscar o aprendizado. Em consequência, por não se aprender não se
realiza, não se concretizam projetos. Como não se concretizam projetos não há reconhecimento a
fazer e com isto a auto-estima não é reforçada. E como não há reconhecimento não há motivação.
Este é um caso clássico de ciclo vicioso e quase que um padrão encontrado em muitas
comunidades carentes.

Figura 1: Uma perspectiva sistêmica da motivação

A motivação pode ser trabalhada de diversas maneiras. Segundo Rubem Alves, se observarmos
uma criança vemos uma curiosidade natural e um gostar de brincar e criar brinquedos que se
alimentada se transforma num processo natural e empolgante de aprendizagem e de criação.
Despertar e alimentar esta curiosidade e esta vontade de brincar adormecidas nos adultos, latente
nos jovens e existentes nas crianças é um mecanismo muito eficaz e natural de motivação. Trazer
um pouco do novo, do inesperado, do desconhecido, da novidade e do desafiador desperta e
alimenta nossa curiosidade. O lúdico, a arte, o teatro, o contar de estórias e a música entre outras
coisas reavivam nossa vontade de brincar, de imaginar e de criar brinquedos. Quando penso no
potencial das tecnologias de informação e comunicação neste segmento chego a me arrepiar.
Imaginem se colocarmos toda nossa capacidade para criar novas formas de despertar nas
pessoas esta curiosidade e esta vontade de brincar? Despertar esta motivação que está latente e
é natural em todas as pessoas! Resgatar o brilho nos olhos, o se permitir sonhar, o contar das
estórias, a vontade de mudar o mundo!

O aprendizado nos desafia a criar espaços e ambientes que possam aguçar nossos aprendizados,
desde os formais como escolas, faculdades e universidades até os informais. Espaços e

A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do desenvolvimento sustentável 201


ambientes e formas de aprendizagem que estejam impregnados da essência do brincar, do
descobrir, do desvendar, do desafiar, do sonhar e do co-criar.

Nestes espaços de aprendizagem nascem as ideias, as concepções, as possibilidades que pedem


para tomar forma e acontecer no mundo através de nossas realizações. Assim também é de igual
importância que existam espaços inspiradores para a concepção e realização de projetos. Estes
espaços são ambientes presenciais ou virtuais que permitam este encontro de pessoas, de
aprendizados, de vontades e de recursos para a concepção e realização colaborativa de projetos.

Por fim o reconhecimento virtual ou presencial, local, nacional ou mundial, simples ou cerimonioso
é outro combustível para alimentar a auto-estima das pessoas e consequentemente a sua
motivação. Para tanto colocar nossa criatividade a serviço de formas de dar visibilidade ao que
existe e de realizar eventos e mobilizações, presenciais ou virtuais, de reconhecimento público é
um serviço importante em prol da motivação das pessoas e portanto da qualidade da energia do
processo de desenvolvimento sustentável.

2.3 O planejamento e a gestão participativa

É clássico, se representar os elementos do planejamento e da gestão através de um triângulo


como o abaixo. Onde temos num primeiro vértice a visão, num segundo vértice as pessoas e num
terceiro vértice os processos. Junto com a visão foi incluído um elemento essencial que é a
identidade de uma comunidade. No segmento das pessoas foi ressaltado a importância dos
processos de articulação, educação e capacitação. Desta forma, pensando em comunidades, a
gestão começa com o reconhecimento e reconstrução conjunta da sua história e da sua identidade
para, a partir dela se realizar o desenvolvimento de uma visão compartilhada a partir de um
processo de planejamento participativo que realmente envolva as pessoas e permita a criação de
um senso de propriedade do que foi visualizado e sistematizado. Ao longo desta etapa e na sua
sequência é preciso desenvolver um processo de educação que venha impregnado dos elementos
potenciais de transformação da realidade e também desenvolver as capacidades necessárias ao
alcance da visão. Principalmente as capacidades de articulação em rede, de trabalho em grupo, de
elaboração de projetos e de gestão. Para que elas possam com estas capacidades desenvolvidas
criar redes e grupos de interesse e aprendizagem, desenvolver políticas públicas, realizar projetos
e as mudanças nos processos para garantir o alcance da visão.

202 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


VISÃO

Identidade e Visão de Futuro

PESSOAS PROCESSOS

Educação, Articulação e Capacitação Processos, Projetos e Políticas

Figura 2: Um modelo de gestão participativa

Pensando em comunidades, desde as pequenas até um município inteiro, vemos que este
processo, numa visão de pensamento complexo, deve reunir de forma participativa grande parte
dos atores com sua diversidade de saberes para em primeiro lugar reconhecer o contexto local.
Reconhecer a história, os valores e a identidade da comunidade. Para em seguida realizar um
processo amplo de mobilização, de articulação, de educação e de capacitação que permita que os
atores locais encontrem um sentido que lhes motive e desperte a vontade de ser um agente
transformador da história e também tenham acesso ao conhecimento necessário para melhor
atuar. Com esta vontade e o conhecimento apreendido são criados e melhorados os processos, os
projetos e as políticas públicas.

3 O papel da tecnologia da informação e comunicação na promoção do desenvolvimento


sustentável

O que procuraremos explorar neste capítulo são formas através das quais a tecnologia da
informação e da comunicação pode ajudar nos processos de mobilização, de sensibilização, de
motivação, de articulação, de aprendizagem, de promoção da diversidade, de resgate da história e
dos valores, de construção da visão de futuro compartilhada, de elaboração de projetos
colaborativos, de viabilização de recursos e de gestão participativa. Para tanto estamos
organizando esta abordagem nos três grupos mostrados no processo de planejamento e gestão
participativa:

• Identidade e Visão de Futuro;

• Educação, Capacitação e Articulação;

• Processos, Projetos e Políticas.

A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do desenvolvimento sustentável 203


3.1 Identidade e visão de futuro

Para o desenvolvimento da identidade há a necessidade de se realizar um processo envolvente e


amplo com a maioria dos atores locais. Um resgate das histórias do lugar, dos seus valores, dos
seus heróis, da sua arte, da sua cultura, das suas tradições, da sua diversidade, dos seus talentos,
das suas belezas, das suas capacidades, da sua natureza e dos seus animais. A
3
educomunicação é uma ferramenta essencial ao longo de todo este processo, já que ela coloca
nas mãos dos atores, dos alunos, dos professores o potencial de realização da comunicação local.
Criando pautas, realizando entrevistas, fazendo matérias, gravando vídeos, editando e publicando
em blogs, comunidades, sites, montando boletins, informativos e cartilhas, enviando releases para
agências de notícias, enfim fazendo uma produção local de interesse da comunidade e que a torna
visível para o mundo.

Aqui entra o papel de ferramentas interativas de comunicação e informática que permitam de


forma colaborativa o desenvolvimento deste processo de criação coletiva tanto de forma síncrona
e presencial quanto de forma assíncrona, à distância utilizando a Internet. Aprimorando os
processos de aprendizagem, os processos criativos, a colaboração entre as pessoas da
comunidade, a interação e colaboração das pessoas da comunidade com outras pessoas do Brasil
e do mundo. Encurtando distâncias e permitindo o acesso a outros saberes, a outras
comunidades, a outras pessoas, a outras línguas, a outras culturas, num processo dialógico que
potencializa as trocas de sonhos, de saberes, de projetos, de práticas e de recursos.

A geocartografia é uma ferramenta fundamental de aprendizagem e registro destes fatos. As


ferramentas interativas de geoprocessamento podem ser um grande aliado neste mapeamento de
atores, iniciativas, situações, diagnósticos e projetos. Uma linha do tempo interativa, disponível na
Internet, pode ajudar a reconstrução dos fatos de forma participativa. Eventos podem ser
realizados com o reviver das histórias e o seu registro fazer parte de um acervo disponível na
Internet. A realidade virtual pode também permitir um passeio virtual por todos estes elementos
representados de forma pictórica no cenário de sua realidade geográfica tridimensional dando
visibilidade a toda a comunidade, ao país e ao mundo das características e potencialidades da
região. Finalmente tudo isto pode ser disponibilizado na Internet em um sitio que mostra Minha
Comunidade parte do Mundo. Onde a diversidade por ser valorizada reforça a resiliência da vida.

Para o desenvolvimento da visão de futuro podemos contar com um processo de criação coletiva
que passa por momentos presenciais e por registros em uma ferramenta georeferenciada e
interativa num crescente de compreensão da realidade, de suas variáveis críticas, de seus
relacionamentos e de escolhas de prioridades, de estratégias e de projetos. O registro de eventos,
de apresentações e de representações artísticas novamente pode garantir não só uma mobilização
entusiasmante como também um conjunto rico de vídeos e matérias a serem trabalhados num
espaço virtual para mostrar de forma viva e profunda o sonho de futuro e as escolhas da
comunidade para sua realização.

3
Educomunicação é um conceito associado a construção de ecossistemas comunicativos abertos, dialógicos e criativos, nos
espaços educativos, quebrando a hierarquia na distribuição do saber, justamente pelo reconhecimento de que todos as
pessoas envolvidas no fluxo da informação são produtoras de cultura, independentemente de sua função operacional no
ambiente escolar.

204 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Não podemos esquecer que tanto para o desenvolvimento da identidade quanto da visão de futuro
a comunicação através de blogs e comunidades pode garantir uma rede vibrante de atores co-
construindo estes processos de forma interativa mesmo a distância. Também a existência de um
espaço físico pode se tornar um centro de desenvolvimento comunitário onde todos estes recursos
possam estar visíveis e acessíveis para toda a população. É neste local que deve se buscar a
convergência da infraestrutura, dos equipamentos, das ferramentas, dos recursos disponíveis e
dos espaços de encontro presencial. Este passa a ser um ponto onde a comunidade se encontra,
revive suas histórias, sonha o seu futuro, realiza seus projetos e melhora a sua gestão. Este
espaço pode ser estendido através de um ambiente virtual para ter vida também de forma
colaborativa pela Internet.

3.2 Educação, capacitação e articulação

Uma das bases de todo processo de transformação é a educação. A educação que reconhece a
história, que está aberta ao aprendizado, que rompe paradigmas, que cria novas possibilidades,
que coopera globalmente na construção do conhecimento da humanidade, que compartilha seus
aprendizados de forma ampla e irrestrita, que é inclusiva, que tem na diversidade das pessoas a
sua sabedoria, que acolhe todos os saberes sem dar-lhes distinção especial, que está atenta as
mudanças do mundo, que busca novas perguntas, que estimula a criatividade e a criação, que
brinca de aprender e aprende brincando, que permite que o potencial latente em cada ser humano
se desenvolva e dê frutos. Neste processo educacional amplo e aberto a tecnologia da informação
e comunicação pode emprestar o seu melhor para despertar a curiosidade dos aprendizes, para
ajudar a conhecer o mundo, para facilitar a relação e a cooperação entre as pessoas do lugar e
com as pessoas de outros lugares, para criar jogos educativos cooperativos e interativos, para
promover a educação à distância, para criar ambientes de aprendizagem interativos, para facilitar o
autoaprendizado de línguas e culturas.

A educação e a capacitação à distância têm o papel de permitir às comunidades mais remotas o


acesso a uma educação e capacitação moderna e atualizada, reduzindo a separação que as
distâncias e dificuldades de acesso natural impõem. Assim, é possível se montar escolas técnicas
virtuais, faculdades e universidades virtuais.

A educomunicação tem um papel essencial na criação de um ambiente de aprendizagem vibrante


onde os atores, os alunos e os professores juntos são protagonistas da forma de comunicar e
registrar a sua história. Eles se tornam artífices do seu processo de aprendizagem e o direcionam
conforme sua curiosidade e vontade. Ele permite que a criatividade flua num processo cooperativo
de fazer comunicação e de informar. Aqui uma formação básica em educomunicação, os
equipamentos e as ferramentas de comunicação, bem como capacidade de sua utilização são os
diferenciais necessários para se colocar nas mãos dos atores, dos alunos e dos professores todo
este potencial educacional a serviço da comunidade. É um jeito alegre, vibrante e envolvente de
criar e aprender. Tem ainda alguns benefícios adicionais, como: enriquecer a interação, a
articulação e a relação entre os atores, reforçar a identidade e a diversidade local, conectar esta
diversidade local com o restante do mundo. O que como vimos são princípios fundamentais do
processo da vida. Ou seja, com a educomunicação trazemos mais vida para uma comunidade.

A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do desenvolvimento sustentável 205


Ainda com relação à articulação, a tecnologia de informação e comunicação tem o papel de
integrar mundos. Quando uma comunidade passa a mostrar sua identidade e diversidade únicas e
passa ter acesso ao processo de criação, cooperação e articulação com outros atores no mundo
que tem interesses comuns ou mesmo que divergem do pensamento local. Ela passa a fazer parte
ativa do processo de criação que está ocorrendo a cada momento, tendo não apenas acesso a
todas as informações, conhecimentos e oportunidades, como também podendo contribuir com esta
produção num processo de co-criação. Aqui escolas podem se conectar a outras escolas do
mundo. A comunidade pode se ligar a outras comunidades no mundo ampliando seu processo de
trocas. Os movimentos e os projetos globais passam a ficar ao alcance das mãos. A comunidade
enriquece o processo de co-criação destes movimentos e projetos globais pela maior diversidade
que passam a ter. Assim a articulação local e global passam a ser mais uma forma de os atores
locais fazerem parte da teia da vida, se fortalecerem e enriquecerem a vida do planeta por terem
acesso ao direito de co-criar.

O espaço aberto – open space, é uma tecnologia social que também pode ser potencializada pelo
uso da tecnologia de informação e comunicação. A ideia é simplesmente dar publicidade para as
agendas de temas de diálogo que as pessoas gostariam de propor e com isto facilitar os encontros
de pessoas que tem o mesmo interesse e disposição para levar adiante uma conversa, um projeto
ou mesmo uma realização.

3.3 Processos, projetos e políticas

Como vimos anteriormente o processo e planejamento e gestão participativa se completa quando


a partir da identidade da comunidade e considerando a visão de futuro, as pessoas imersas em um
processo de educação, capacitação e articulação passam a fazer mudanças em seus processos
de educação, de organização, de trabalho, de produção e de vida. Passam a criar projetos
transformadores e a melhorar a qualidade de suas políticas públicas.

Aqui a tecnologia de informação e comunicação também tem uma importância fundamental para
que os projetos, as políticas e os processos possam ser transformados eles precisam em primeiro
lugar existir, estar documentados, de forma compreensível, acessível e de preferência em
processo contínuo de atualização. Tudo isto envolvendo os atores e saberes fundamentais para a
qualidade do processo e em um ambiente de co-criação permanente que permite uma capacidade
de adaptação mais ágil e eficaz diante das transformações dos atores, do local e do mundo.
Assim, as ferramentas de documentação, de criação cooperativa e de utilização aberta que
possam ser compartilhadas por múltiplos atores, a publicidade, a visibilidade e o acesso que se dá
aos processos, aos projetos e às políticas são elementos de alavancagem do sucesso desta
criação. Outro ponto importante aqui é o acesso ao estado da arte naquele assunto no mundo.
Plataformas que permitam uma ampla troca de experiências na criação, na implementação e na
coordenação destes processos, projetos e políticas no mundo são um elemento importante.

Em processos, como por exemplo o orçamento participativo, entender como as tecnologias de


informação e comunicação podem apoiar as tecnologias sociais no desenvolvimento de
plataformas com alto grau de participação e cooperação para dar mais representatividade e massa
crítica ao seu desenvolvimento, aumentando assim a qualidade final e o próprio controle social.

206 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


Ampliar o acesso ao conhecimento das políticas públicas que estão permitindo que o
desenvolvimento sustentável avance a passos largos, o acesso aos atores que as estão criando e
às informações sobre o contexto onde estão sendo aplicadas e as transformações que estão
acontecendo a partir da sua implantação. Com isto cada ator local pode ter acesso ao ambiente
onde, de forma crítica e consciente, se pode gerar o conhecimento e a interação necessários a
criação e melhoria das políticas públicas locais levando em conta o contexto local e o melhor da
experiência mundial no assunto.

Em projetos temos além da possibilidade de desenvolvimento compartilhado também uma maior


possibilidade de acesso a este desenvolvimento e a ferramentas de melhor qualidade e
produtividade cooperativa. A possibilidade de se criar incubadoras de projetos e negócios apoiadas
por ferramentas interativas. A ligação dos projetos e dos negócios com as bolsas de valores e os
mercados do mundo, possibilitando uma melhor análise da cadeia de valor, da cooperação
internacional e da competitividade. Sistemas de moeda local que possam ser implementados
utilizando ferramentas interativas para registro das trocas e dos créditos, fazendo com que a
riqueza tenha maior possibilidade de giro e circulação local antes de ser mandada para fora da
comunidade. A implantação de bancos de trocas onde a moeda é o tempo das pessoas e são
registradas suas ações, seus créditos e débitos, aumentando assim o voluntariado e a cooperação
entre as pessoas independentemente da moeda. Neste caso uma consulta com um advogado,
com um engenheiro ou com um médico tem o mesmo valor que um corte e cabelo, o cuidar de
uma criança, de uma pessoa idosa ou portadora de deficiência, ou a confecção de um artesanato
ou de uma pequena obra de arte.

Outra possibilidade é a alvancagem dos negócios com a base da pirâmide como enunciado por
C.K. Prahalad [10]. Ele nos mostra que para se dar acesso a este imenso contingente de pessoas
que tem um pequeno poder de compra aos produtos e serviços que elas necessitam é preciso
inverter o raciocínio usual que é o de se utilizar tecnologias e projetos que já tem seus custos
amortizados e aplicá-las nestes projetos como forma de baratear os custos. Prahalad nos desafia a
pensar radicalmente diferente. Ele nos mostra através de inúmeros exemplos que para as pessoas
que estão nesta camada eu tenho que ter o produto de menor custo possível e com uma
possibilidade de tê-lo disponível em grande escala. Assim, se deve investir muito em pesquisa e
desenvolvimento para que com a melhor tecnologia possível se consiga este alcance e esta
redução de preços. Em muitos dos exemplos citados por ele a tecnologia da informação e
comunicação nas mãos destas pessoas e com aplicativos que as conectam com o mundo é o que
lhes dá poder de entrar na rede mundial com seus produtos e serviços. Ao vender um produto local
estar sabendo a cotação nas bolsas do mundo daquela mercadoria. Ao tomar um crédito poder
negociar a sua amortização e juros sabendo os valores que o mundo está praticando. Diante de
um novo estímulo existente no mundo estar em condições de colocar a sua possibilidade como
parte do rol de possíveis alternativas.

4 Conclusão

O que procuramos neste capítulo foi ressaltar o papel da tecnologia de informação e comunicação
como instrumento do desenvolvimento sustentável das comunidades. Para tanto qualificamos o
termo desenvolvimento sustentável e percebemos a sua ligação com a vida e o ser humano
integral como agente. Com o auxilio da Alfabetização Ecológica e da Ética do Cuidado revisamos

A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do desenvolvimento sustentável 207


alguns princípios básicos da vida e exploramos a sua dimensão energética no nível da realidade
quântica. Inserimos também um aspecto prático da vida que é a nossa capacidade de
planejamento e gestão dos processos, dos projetos e das políticas como organizadores de nossa
capacidade de articulação e realização.

Neste processo de co-criação da vida percebermos que a tecnologia da informação e comunicação


pode catalizar os processos de:

• resgate e reconhecimento da identidade, dos valores e da cultura local;

• elaboração de uma visão de futuro compartilhada pelos atores;

• educação, capacitação e articulação para o desenvolvimento sustentável;

• desenvolvimento dos processos, dos projetos e das políticas públicas.

Reduzindo distâncias com relação a informação, ao conhecimento, às práticas, ao mercado e aos


recursos. Criando ambientes de aprendizagem e cooperação entre os atores locais e dos atores
locais com outros atores no mundo. Ampliando a visibilidade e a interação do mundo para a
comunidade e da comunidade para o mundo.

Para tanto é fundamental que se tenha na comunidade uma infraestrutura que seja adequada ao
volume deste potencial, que as pessoas tenham facilidade de acesso a estas tecnologias e que se
trabalhe muito bem a dinâmica dos grupos no desenvolvimento destas tecnologias sociais.

Encerramos nossa participação com uma citação do Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis [9] que diz: “Somos todos aprendizes e educadores”. É a partir desta
posição que nos coloca no mesmo ponto e nas mesmas condições que esta uma das maiores
forças deste processo de resgate da simplicidade e da beleza da vida.

5 Referências
[1] ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Campinas: Papirus,
2002.

[2] ARAUJO, Eduardo M. Um sonho possível – do materialismo não sustentável a uma vida holística
sustentável. São Paulo: Willis Harman House, 2003.

[3] ARAUJO, Eduardo M. Vida e sustentabilidade. Artigo publicado na revista Atitude Sustentável, ano I
número 1, Curitiba: MundoGeo, 2009.

[4] BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terrra. São Paulo: Editora Vozes,
1999.

[5] CAPRA, Fritjof e outros. Alfabetização Ecológica – a educação das crianças para um mundo
sustentável. São Paulo: Editora Cultrix, 2007.

[6] CAPRA, Fritjof . Conexões Ocultas – ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Editora Cultrix,
2001.

208 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


[7] CAPRA, Fritjof . A teia da vida – uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo:
Editora Cultrix, 1996.

[8] DUALIBI, Miriam e outros. Manual de Metodologias participativas para o desenvolvimento


comunitário. Arquivo PDF, Instituto Ecoar, www.ecoar.org.br/website/publicacoes.asp. Acesso em
21/12/2009.

[9] ECO92. Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global.
Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho das Organizações Não-Governamentais, reunido para
este fim, no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992.
http://www.vitaecivilis.org.br/anexos/EDUCACAO_AMBIENTAL_35.PDF, acesso em 21/12/2009.

[10] PRAHALAD, C. K. e HAMMOND, A. What Works: serving the poor, profitability.


http://pdf.wri.org/whatworks_serving_profitably.pdf, acesso em 21/12/2009

[11] STEINER, Rudolf. A Arte da Educação – volume I. São Paulo: Antroposófica, 2003.

[12] Carta da Terra. http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/text.html, acesso em 21/12/2009

[13] Brundtland, Gro H. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.
http://www.scribd.com/doc/12906958/Relatorio-Brundtland-Nosso-Futuro-Comum-Em-Portugues e
em inglês em http://www.un-documents.net/wced Comportamento do Consumidor. São Paulo:
Editora Atlas, 2004.

A tecnologia da informação e comunicação e a promoção do desenvolvimento sustentável 209


26 Novos serviços e a web semântica
1
Norberto Alves Ferreira
2
Fernando Basseto

CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações


1
norb@cpqd.com.br
2
basseto@cpqd.com.br

1 Introdução

Uma das mudanças mais marcantes ocorridas no passado recente, sem dúvida, é o surgimento da
Internet. E ainda que no Brasil o índice de penetração domiciliar de microcomputadores seja
relativamente baixo, há mais de 60 milhões de usuários da rede mundial, sendo que estes estão
entre os que a utilizam mais intensivamente no mundo.

Dentre os diversos meios utilizados para se conectar a Internet destaca-se o acesso em alta
velocidade, comumente denominado banda larga. O que torna o acesso banda larga tão atraente
não é um fator único. De fato, por ser mais veloz, a banda larga permite a fruição de conteúdo
mais rico, que certamente está relacionada ao crescimento pungente da adesão de novos usuários
no último biênio. Além disso, as empresas se beneficiam desse ambiente, propício à expansão de
seus negócios. Finalmente, o Estado, em suas diversas esferas, aprimora processos, melhorando
as formas de interação com a sociedade ao mesmo tempo em que torna mais eficientes
mecanismos de arrecadação. Tudo somado, todos os atores ganham.

Contudo, a despeito de sua inegável importância, a própria definição de banda larga não é
consensual. Ao contrário, as definições existentes usualmente se baseiam na velocidade do
acesso em si, porém não se estabelece qual velocidade é adequada. Isso advém em grande parte
da própria característica inovadora da Internet: novos serviços e aplicações demandam maior
velocidade, ao mesmo tempo em que criam novos hábitos no universo de usuários, que por sua

1
Formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com pós-graduação em Marketing
pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Em 1999, assumiu a função de gerente de desenvolvimento na área
de terminais da Fundação CPqD e, desde 2006, coordena a área de serviços e aplicações multimídia da instituição.
2
Formado em Engenharia Elétrica pela USP, mestre em engenharia pela UNICAMP, onde também se especializou em Gestão
e Estratégia de Empresas. Possui dez anos de experiência na indústria de Telecomunicações, notadamente em inteligência
regulatória, modelagem de negócios, planejamento estratégico e planejamento de redes. Antes de se juntar ao CPqD, atuou na
Telefonica. Atua como Consultor na Fundação CPqD.

Novos serviços e a web semântica 211


vez impulsionam o mecanismo de oferta e demanda por largura de banda novamente, e o ciclo se
repete.

Essa (in)definição se faz tão presente que o Ministério das Comunicações, em documento
divulgado recentemente [1], oferece uma definição aberta para a banda larga, com o objetivo de
ser robusta frente às constantes mudanças enfrentadas no setor de telecomunicações, transcrita a
seguir:

“Acesso banda larga: um acesso com escoamento de tráfego tal que permita
aos consumidores finais, individuais ou corporativos, fixos ou móveis,
usufruírem, com qualidade, de uma cesta de serviços e aplicações baseada
em voz, dados e vídeo.”

Em outras palavras, muda-se o foco da infraestrutura para o indivíduo, e o que é adequado é


aquilo que permite que o usuário usufrua de maneira satisfatória dos serviços e aplicações
disponíveis na rede mundial.

Nesse sentido, a iniciativa da COPEL, pioneira no Estado do Paraná na oferta de serviço de Banda
Extra Larga – BEL, é oportuna e alinhada às disposições do Governo Federal no que diz respeito à
evolução da infraestrutura de telecomunicações do Brasil.

Todavia, tornar disponível infraestrutura essencial é condição necessária, mas não suficiente no
provimento de serviços e aplicações, as quais devem ser desenvolvidas em tempos cada vez mais
curtos a fim de se atender às demandas de usuários cada vez mais exigentes.

Assim, uma plataforma para o desenvolvimento de serviços e aplicações que seja flexível,
permitindo um time-to-market curto, aderente às necessidades dos provedores de serviços, é
extremamente bem vinda.

O objetivo desse capítulo é apresentar um modelo para tal plataforma, agregando conceitos de
web semântica. Essa se apresenta como uma tecnologia que vai permitir enriquecer a experiência
de navegação dos usuários pelos serviços e aplicações disponíveis na rede, agregando significado
aos dados existentes, anteriormente não valorados.

O presente capítulo encontra-se estruturado da seguinte forma: a seção 2 apresenta as


perspectivas futuras de evolução da demanda por serviços e aplicações na Internet, ao passo que
a seção 3 apresenta o conceito e a importância de uma plataforma para a distribuição de serviços
em uma operadora de telecomunicações. Na seção 4 são apresentados os principais conceitos e
tecnologias da web semântica, e finalmente a seção 5 traz as considerações finais.

2 Um novo paradigma no desenvolvimento de serviços

A relação entre provedores de conteúdo e aplicações e consumidores finais, surgida nos últimos
anos, é fundamentalmente simbiótica, advinda da evolução da Internet e o surgimento da Web 2.0.
Fortemente baseada nas sinergias proporcionadas pela inteligência coletiva, essa nova forma de
desenvolvimento de conteúdo tem permitido a criação de novas formas de interação entre
provedores e consumidores, os quais passam a assumir parte importante do papel de criação de
conteúdo.

212 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


De fato, a proliferação desse tipo de serviços, enquadrados no arcabouço regulatório brasileiro
como serviços de valor adicionado, subvertem as relações tradicionais entre provedores de serviço
e usuários, uma vez que o foco tende a mudar na direção de usuários e provedores de conteúdo.
Além disso, esses novos serviços de valor adicionado têm requisitos próprios de qualidade, que
muitas vezes acabam por precipitar em novos requisitos de infraestrutura. Um exemplo do que foi
exposto reside no sucesso inquestionável do YouTube.

Outrossim, a demanda de tráfego crescente é impulsionada pelo aumento na resolução de


conteúdos como fotos e vídeo, pelo aumento na capacidade de processamento dos dispositivos
terminais – sejam fixos, portáteis ou móveis – e pela digitalização cada vez maior de conteúdos.
Não obstante, do lado da oferta, a consolidação do IP permitiu que se atingisse uma infraestrutura
transparente, capaz de acomodar os mais variados serviços e aplicações que nela trafegam.

Essas mudanças permitem inferir como será a cesta de serviços e aplicações utilizada pelos
usuários em um futuro próximo. Tal cesta incluirá, mas não se limitará em:

• Navegação na web e envio e recebimento de e-mails;

• Compartilhamento de arquivos por meio de protocolo P2P;

• Uso de jogos on-line;

• Comunicação de voz pela Internet;

• Comunicação em vídeo pela Internet;

• Assistir a vídeos pela Internet.

Vale destacar que o aumento constante na demanda por serviços de vídeo, bem como aplicações
em tempo real, impactam a infraestrutura de telecomunicações, que deve garantir não somente a
largura de banda necessária à fruição de conteúdos, mas também outros requisitos como latência,
jitter e taxa de perda de pacotes.

Some-se ao que foi exposto que o entendimento do que vem a ser a qualidade dos serviços e
aplicações oferecidos também tem sofrido alterações de foco, deixando esta de ser associada à
qualidade mensurável por meio de parâmetros de rede – Quality of Service (QoS) – passando para
a mensuração da experiência do usuário – Quality of Experience (QoE).

Em resumo, em um ambiente dinâmico como o atual, o desenvolvimento de novos serviços e


aplicações deve ser rápido e eficiente, sem negligenciar as singularidades no que diz respeito a
seus requisitos – tanto de capacidade quanto de qualidade – que devem ser tratados de forma
eficaz. Para essa finalidade surge o conceito de Service Delivery Platform – SDP, explorado
adiante.

3 Service Delivery Platform

A demanda por plataformas que permitam que serviços e aplicações sejam desenvolvidos e
ofertados de forma rápida levou ao desenvolvimento do conceito de Service Delivery Platform

Novos serviços e a web semântica 213


(SDP) [2]. Em uma simplificada descrição, uma plataforma de entrega de serviços [3] permite que
serviços e conteúdos criados e desenvolvidos por terceiros possam ser ofertados aos clientes de
uma operadora de forma padronizada e organizada sem significativos esforços por parte dos
desenvolvedores e sem que a operadora precise entrar a fundo nos processos de autorização e
aprovisionamento ligados a cada serviço. O SDP é a plataforma que padroniza a “conexão” de
serviços de terceiros de forma transparente aos sistemas e redes de uma operadora, permitindo o
uso de diferentes conteúdos para a oferta de serviços complexos e personalizados. Assim, o uso
de SDP passa a ser obrigatório assim como os sistemas de suporte a operação e negócio para
viabilizar uma oferta fim a fim.

Tendo esse cenário como pano de fundo, pretende-se aqui chamar a atenção para o potencial da
introdução dos conceitos de web semântica em uma plataforma de entrega de serviços,
materializando assim a figura de um “broker semântico” de serviços e aplicações.

4 Web semântica

Segundo as ideias de Berners-Lee [4], a web semântica é uma extensão da web atual, mas
apresentando estruturas que possibilitarão a compreensão e o gerenciamento dos conteúdos
armazenados na web, independente de contexto (seja texto, som, imagem e gráficos), a partir da
valoração semântica desses conteúdos e através de agentes coletores de conteúdo advindo de
diferentes fontes capazes de processar as informações e permutar resultados com outros
programas.

Destarte, essas ideias apregoadas por Berners-Lee e outros induzem à apresentação da web
semântica como a panaceia para ordenar o caos informacional existente na web, trazendo à rede
global uma estrutura e significado, permitindo sua evolução de uma rede de documentos para uma
rede de dados na qual toda a informação tem um significado bem definido, podendo ser
interpretada e processada por humanos e máquinas [4].

Mas para isso, faz-se necessária a adoção de novas tecnologias, como por exemplo, XML
(Extensible Markup Language) [5] e RDF (Resource Description Language) [6]. Através do uso de
XML é possível criar campos de texto (tags) que podem ser utilizados de diversas formas pelos
programas e scripts que são executados na web. No entanto, os programadores não sabem o
significado de cada tag, ou, dito de outra forma, XML permite que o usuário adicione estruturas
arbitrárias a seus documentos, mas não permite representar o significado de cada estrutura. É aí
que surge o papel do RDF: expressar significado às estruturas. O RDF provê um modelo de dados
para se referir a objetos (“resources”) e como eles são relacionados.

Esta nova estruturação de dados (metadados) descrevendo o significado dos recursos permite o
desenvolvimento de agentes inteligentes que podem usar essas descrições para auxiliar usuários
na localização e manipulação desses recursos, aumentando a usabilidade e a funcionalidade da
web e proporcionando uma experiência mais rica ao usuário.

A incorporação à plataforma de entrega de serviços de um elemento capaz de conter a sua


descrição semântica e também o acesso aos mesmos se apresenta como uma solução viável e
inovadora para a navegação em uma rede de serviços semanticamente relacionados, os quais
podem ser os mais diversos possíveis, desde serviços corporativos até aqueles de redes sociais

214 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


ou financeiros. A descrição semântica de cada serviço é um documento “human and machine
readable” que descreve como o serviço, seus relacionamentos com outros serviços e como o
conjunto deve ser oferecido para os usuários. Pode-se referenciar a este novo elemento
simplesmente como “broker de serviços”, ou, melhor ainda, em função de seu conteúdo semântico,
“broker semântico de serviços” (figura 1).

B2C B2B
Redes
Jogos Sociais Vídeo

Broker Semântico
de Serviços

SDP

Elementos de Rede

Figura 1: Broker semântico

Agentes inteligentes são, então, desenvolvidos para, a partir do acesso ao broker de serviços,
criarem interfaces de usuário a partir das descrições semânticas de cada serviço. Dessa relação
entre broker e agentes um mashup dinâmico de serviços poderá ser criado abrindo uma série de
possibilidades de correlações e ampliando a experiência de navegação entre os serviços pelos
usuários. Serviços desenvolvidos de forma estanque poderão ter suas interfaces compartilhadas
com outros serviços, sem que essa interação tenha sido pensada à época do seu
desenvolvimento. Como exemplo, ordens de serviços geradas por um sistema de gestão de força
de trabalho (serviço 1) são correlacionadas com mapas (serviço 2) gerando para um técnico de
campo informações adicionais de localização que, em seguida, pode ser convidado a tirar uma foto
do trabalho realizado (serviço 3) imediatamente enviada para um servidor corporativo.

Novos serviços e a web semântica 215


5 Considerações finais

A Internet representa uma das mudanças mais marcantes ocorridas no passado recente. Em
constante evolução, o surgimento da Web 2.0, fundamentalmente simbiótica, baseada nas
sinergias provenientes da inteligência coletiva, tem permitido a criação de novas formas de
interação entre provedores e usuários, que agora têm parte importante no processo de criação de
conteúdo. Acompanhando essa mudança de paradigma vêm inúmeros serviços inovadores.

A web está se tornando, além de uma “web de dados”, uma “web de serviços”. Isto quer dizer que
esforços estão sendo realizados para que se tenha acesso a serviços a partir de qualquer
dispositivo independente da rede de acesso ou dos tipos de dados que forem transportados por
estes serviços. Com isso, cresce também a preocupação em tornar a navegação web inteligente,
capaz de relacionar conceitos e serviços, tarefa que os conceitos trazidos pela web semântica vão
ajudar a concretizar. Através da estruturação de dados aqui vislumbrada, será possível uma
navegação mais rica para os usuários, tanto na web de dados como na web de serviços.

Daí a importância de se adicionar a uma plataforma de entrega de serviços (SDP) elementos


semânticos que possam ampliar as potencialidades de geração de novos serviços e aplicações,
correlacionando-os entre si.

6 Referências
[1] SOUTO, Átila A., CAVALCANTI, Daniel B. e MARTINS, Roberto P. O Brasil em Alta Velocidade.
Ministério das Comunicações. Brasília, 2009, disponível em http://www.mc.gov.br/wp-
content/uploads/2009/11/o-brasil-em-alta-velocidade1.pdf, acesso em 18/12/2009.

[2] GUERRA JR., Aloivo B. e MARTINS, Júlio. BEL e a plataforma de entrega de serviços. In: PESSOA,
Marcos de Lacerda et al. Projeto BEL: a COPEL Telecomunicações pensada estrategicamente, em
equipe. Curitiba: COPEL Telecomunicações, 2009. 207pp.

[3] ANDERSSON, Christoffer; FREEMAN, Daniel; JAMES, Ian; JOHNSTON, Andy e LJUNG, Staffan. Mobile
Media and Applications – from Concept to Cash: Succesfull Service Creation and Launch,
John Wiley & Sons Ltd., England, 2006.

[4] BERNERS-LEE, Tim; HENDLER, James; LASSILA, Ora. The Semantic Web – A new form of Web
content that is meaningful to computers will unleash a revolution of new possibilities,
http://www.sciam.com/article.cfm?articleID=00048144-10D2-1C70-84A9809EC588EF21&catID=2,
Maio, 2001.

[5] Extensible Markup Language (XML) Activity. http://www.w3.org/XML.

[6] Resource Description Framework (RDF) Model and Sintax Specification. W3C Recommendation.
http://www.w3.org/TR/2000/CR-rdf-schema-20000327.

[7] D´MELLO, Demian A.; KAUR, Ivneet e RAM, Namratha. Semantic Web Service Based Selection on
Business Offering. Second UKSIM European Symposium on Computer Modeling and Simulation.
Liverpool, UK. 2008.

216 BEL-i9: empreendendo e inovando em rede para o desenvolvimento sustentável


DIAGRAMAÇÃO
Cristiane Garbin Langner

CAPA
Breno Afonso Soares Magalhães
Fernanda Lianna Will

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