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Introduo
Longe de ser apenas um simples cenrio onde se desenrola
a vida privada ou uma peculiar juno de arte e tcnica, o
projeto habitacional traz em si implicaes profundas
sobre as pessoas e atividades que vai abrigar. A moradia
elemento da organizao social, que ao longo do tempo
incorpora significados diversos (CORREIA, 2004, p. 47).
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vizinhos. "Na janela, sempre ladeada por assentos (as conversadeiras), sentavamse as mulheres, luz natural, para costurar, bordar, tricotar, descascar os legumes e
conversar com as vizinhas" (MATOS, 2002, p. 45).
Ao falar dos bairros tipicamente operrios da capital paulista, como Brs,
Moca, Cambuci, Barra Funda, Bexiga e outros, Marins apresenta esse
rompimento entre pblico e privado como fomentador de solidariedades
Alinhadas diretamente com as caladas, as habitaes
populares formaram a paisagem marcante dos bairros de
imigrantes, em cujas janelas debruadas sobre as ruas
rompia-se a desejada diferenciao espacial das elites
empenhadas em discernir fronteiras entre espaos
pblicos e privados. De espao previsto para a circulao
viria, os logradouros, com escasso movimento
automotivo, transformavam-se em extenso das pequenas
salas de estar, e rodas de cadeiras espalhavam-se pelas
caladas, metamorfoseando a sociabilidade dos vilarejos
rurais europeus. As msicas, o vozerio alto e acalorado
rompiam os tnues limites de paredes e vidraas, fundindo
experincias e fomentando solidariedades (SEVCENKO,
1998, p. 173).
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Por mais que esta diviso no tenha sido rgida, no deixou de se caracterizar como
empecilho para as atividades populares, naquele primeiro momento.
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Vilas: Condomnios moda antiga. Jornal Tribuna de Minas. Juiz de Fora, 24 out.
2004. Loc. cit.
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