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Aquilo que na clínica psicanalítica está sob a alçada da perversão pode manifestar-se
fenomenologicamente de maneiras distintas. Assim, sintomas comumente atribuídos a
perversos podem ser agrupados em categorias diversas, entre elas, exibicionismo,
fetichismo, masoquismo, sadismo e voyeurismo. Enumeração semelhante é encontrada
nos manuais diagnósticos psiquiátricos. No DSM-IV, cada um desses nomes atribui-se a
um transtorno distinto, e esses transtornos estão agrupados na categoria de Parafilias,
que por sua vez constituem uma das categorias de transtornos sexuais.
Lacan apontara que não há, na verdade, como erradicar o sintoma ou simplesmente não
desenvolvê-lo. Esse pode ser deslocado, mas não deixa de existir, o que novamente
traça uma fronteira entre a noção psiquiátrica, que considera o sintoma passível de cura,
e a noção psicanalítica de sintoma. Como coloca Meira (2004): ³Cabe ao sujeito
construir os caminhos que o levarão a uma existência onde estar em sintonia com seu
sintoma seja possível. Na medida em que a angústia, motor de sua criação, transborda,
encontramos o sintoma psicopatológico, frente ao qual a clínica se desvela como
possibilidade de intervenção. Não para erradicá-lo, mas para dar lugar às palavras que o
marcam.´ Ao que parece, a distinção entre sintoma clínico e estruturante se dá de forma
tênue, principalmente no que diz respeito à neurose.
Uma vez que esteja identificada a estrutura comum da perversão, resta a indagação
acerca do porque da pluralidade sintomática que essa apresenta. Freud, no artigo
"Fetichismo", de 1927, aponta a relação entre a experiência infantil de um jovem e seu
sintoma fetichista: "o fetiche, originado de sua primeira infância , tinha de ser entendido
em inglês, não em alemão. O µbrilho do nariz¶ [em alemão µGlanz auf der Naseµ] era na
realidade um µvislumbre (glance) do nariz¶. O nariz constituía assim o fetiche, que
incidentalmente, ele dotara, à sua vontade, do brilho luminoso que não era perceptível a
outros." No mesmo texto, Freud cita o caso do rapaz que elegera como fetiche um
suporte atlético capaz de cobrir e tornar indistintos os órgãos genitais masculino e
feminino (renegação ou desmentida da castração). O objeto remeteria à folha de parreira
em uma estátua, elemento presente na infância do paciente.
A escolha do sintoma perverso pode também ser analisada a partir dos pontos de fixação
do desenvolvimento da libido do sujeito. O desenvolvimento da libido se divide em
estádios (oral, anal, fálica, genital), e os pontos de fixação são os momentos em que esse
processo de desenvolvimento pode ser detido e aos quais uma regressão poderá ocorrer,
caso posteriormente sejam enfrentadas dificuldades. A fixação ocorre quando um
instinto ou componente instintual deixa de acompanhar os demais na seqüência normal
de desenvolvimento, ficando assim num estádio mais infantil e comportando-se como
uma corrente libidinal reprimida. O sujeito que entrasse em processo de
desenvolvimento de uma perversão teria, portanto, o sintoma designado pela fase de
desenvolvimento em que está fixado.
A partir disso, poderíamos também supor que o sintoma perverso dependa do ponto de
fixação do desenvolvimento sexual do sujeito. É importante lembrar, entretanto, que
Freud, no mesmo texto, fez uma ressalva, alertando que pela multiplicidade de
mecanismos de repressão e de formação de sintomas, podemos concluir que apenas a
história desenvolvimental da libido não será suficiente para explicar tanta diversidade.
Como pode ser visto muitos fatores influenciam na escolha do sintoma perverso, assim
como no neurótico e no psicótico, e essa questão ainda carece de análise.
Referências:
Freud, S. (1913). A disposição à neurose obsessiva - uma contribuição ao problema da
escolha da neurose Em: Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago.