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(24/12/2000)
Era um homem tmido e solitrio mas no triste, de jeito algum. E tinha fascnio pelo
Natal. Dizem que as pessoas sozinhas tm horror a essa poca, quando a solido se faz sentir
de forma mais aguda. Mas ele no. Adorava as festas de fim de ano. Vivia s num
apartamento antigo, cercado de prdios modernos que tinham crescido em torno como
cogumelos, mas da janela da sala tinha a viso de um bom pedao do espelho dgua da
Lagoa. E o melhor pedao de todos pois era bem ali que a prefeitura armava a rvore de
Natal.
Quando chegava novembro, ele que j passava dos 60 acompanhava a construo
da rvore como uma excitao infantil. A imensa estrutura metlica levava semanas sendo
armada e, depois de pronta, era deslocada at o meio da Lagoa, felizmente ainda dentro de seu
campo de viso. Ali ficaria, toda iluminada, at o Dia de Reis.
Este ano, a estrutura da rvore parecia ainda maior do que nos anos anteriores. Alm
disso, o homem lera no jornal que ela teria uma iluminao ainda mais espetacular, com
vrios padres de luzes controlados por computador. Foi tambm atravs do jornal que ficou
sabendo a data em que a rvore seria acesa, em meio a uma chuva de fogos de artifcio. E
esperou, ansioso.
No dia marcado, acordou cedo e foi espiar para ver se a rvore j fora rebocada at seu
lugar definitivo. E ento percebeu, com um choque, que ela havia desaparecido. Encostou-se
ao parapeito da janela, os olhos varrendo o espelho dgua em busca de uma explicao,
algum sinal. Nada. O que teria acontecido?
Aps algum tempo, concluiu: com certeza este ano tinham decidido coloc-la um
pouco mais para l, perto do Cantagalo, onde ele ouvira dizer que fora montado um palco,
para um show. Se fosse isso, no haveria jeito. Teria de se conformar. Mas sentia-se ofendido,
perplexo. Aquele sumio o atingia pessoalmente. Tinham roubado sua rvore de Natal.