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QUARTA-FEIRA
– “Jesus nos poda para que demos mais fruto”. Sentido da dor e da mortificação.
Pela sua ingratidão, o Povo eleito havia sido comparado com frequência a
uma vinha; assim, fala-se da ruína e restauração da vinha arrancada do
Egipto e plantada em outra terra2; e Isaías manifesta a queixa do Senhor
porque a sua vinha, depois de inúmeros cuidados, contando que lhe daria
uma colheita de uvas, deu agraço, uvas amargas3. Jesus também utilizou a
imagem da vinha para significar a rejeição do Messias por parte dos judeus e
a chamada dirigida aos gentios4.
Mas aqui o Senhor emprega a imagem da videira e dos ramos num sentido
totalmente novo. Cristo é a verdadeira videira, que comunica a sua própria
vida aos ramos. É a vida da graça que flui de Cristo e se comunica a todos os
membros do seu Corpo, que é a Igreja: sem essa seiva nova, esses membros
não produzem fruto algum, pois estão secos, mortos.
É uma vida de valor tão alto que Jesus derramou até a última gota do seu
sangue para que pudéssemos recebê-la. Todas as suas palavras, acções e
milagres nos introduzem progressivamente nessa vida, ensinando-nos como
nasce e cresce em nós, como morre e como nos é restituída se a perdemos 5.
Eu vim, diz-nos Ele, para que tenham vida e a tenham em abundância6.
Permanecei em mim e eu permanecerei em vós7.
Jesus Cristo quer que os seus irmãos participem dessa vida que Ele tem
em plenitude. “A vida que da adorável Trindade se derramou sobre a santa
Humanidade do Senhor transborda novamente, estende-se e propaga-se. Da
cabeça desce aos membros [...]. O tronco e os ramos formam um único ser,
nutrem-se e actuam conjuntamente, produzindo os mesmos frutos porque são
alimentados pela mesma seiva”9.
Eu vos escrevo isto, diz-nos São João depois de nos ter narrado inúmeras
maravilhas, para que saibais que tendes a vida eterna 10. Esta vida nova
chega até nós ou se fortalece especialmente pelos sacramentos, que o
Senhor quis instituir para que a Redenção pudesse chegar a todos os homens
de uma maneira simples e acessível. Nesses sete sinais eficazes da graça
encontramos Cristo, o manancial de todas as graças. “Neles o Senhor fala
connosco, perdoa-nos, conforta-nos; neles nos santifica, neles nos dá o
ósculo da reconciliação e da amizade; neles nos comunica os seus próprios
méritos e o seu próprio poder; neles se nos dá Ele mesmo”11.
II. TODO O RAMO que não der fruto em mim, ele o cortará; e todo aquele
que der fruto, ele o podará para que dê mais fruto12.
O cristão que inutiliza os canais pelos quais lhe chega a graça – a oração e
os sacramentos – fica sem alimento para a sua alma, e “esta morre às mãos
do pecado mortal, porque as suas reservas se esgotaram e chega um
momento em que nem sequer é necessária uma forte tentação para que caia:
cai por si própria, porque já não tem forças para manter-se de pé. Morre
porque a sua vida acabou. E se os canais da graça não estiverem bem
desimpedidos, porque uma montanha de apatias, negligências, preguiças,
comodismos, respeitos humanos, influências do ambiente, pressas e outros
afazeres [...] os obstrui, então a vida da alma vai elanguescendo e agoniza
até que acaba por morrer. E, naturalmente, a sua esterilidade é total, pois não
dá nenhum fruto”13.
III. ASSIM COMO O RAMO não pode dar fruto por si mesmo, se não
permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim18.
Os frutos que o Senhor espera de nós são muito diversos, mas tudo seria
inútil – como se tentássemos colher bons cachos de uvas de um ramo que se
desprendeu da cepa – se não tivéssemos vida de oração, se não
estivéssemos unidos ao Senhor. “Olhemos para esses sarmentos, repletos
por participarem da seiva do tronco: só assim aqueles minúsculos rebentos de
alguns meses atrás puderam converter-se em polpa doce e madura, que
cumulará de alegria a vista e o coração (cfr. Ps CIII, 15). No chão talvez
tenham ficado alguns gravetos soltos, meio enterrados. Eram sarmentos
também, mas secos, crestados. São o símbolo mais expressivo da
esterilidade”20.
(1) Jo 15, 1-8; (2) cfr. Sl 79; (3) cfr. Is 5, 1-5; (4) cfr. Mt 21, 33-34; (5) cfr. P. M. de la Croix,
Testimonio espiritual del Evangelio de San Juan, Rialp, Madrid, 1966, pág. 141; (6) Jo 10, 10;
(7) Jo 15, 4; (8) cfr. Missal Romano, Prefácio dos defuntos I; (9) M. V. Bernadot, Da Eucaristia
à Trindade; (10) 1 Jo 5, 13; (11) E. Boylan, Amor Sublime; (12) Jo 15, 2; (13) F. Suarez, La
vid y los sarmientos, 2ª ed., Rialp, Madrid, 1980, págs. 41-42; (14) cfr. Jo 15, 8; (15) Jo 15, 3;
(16) cfr. nota a Jo 15, 2, em Santos Evangelhos; (17) São Josemaría Escrivá, Caminho, n.
701; (18) Jo 15, 4-6; (19) Santo Agostinho, Comentário ao Salmo 30, II, 1, 4; (20) São
Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 254; (21) ib., n. 239; (22) Conc. Vat. II, Decr.
Apostolicam actuositatem, 4; (23) Santo Agostinho, Trat. Evangelho de São João, 81, 3; (24)
Eclo 24, 23; (25) Prov 8, 35.