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III Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental – Niterói/RJ - 2008

MESA – REDONDA:
ENSINO DE PSICOPATOLOGIA EM CURSOS DE PSICOLOGIA II

<http://www.fundamentalpsychopathology.org/8_cong_anais/MR_3102c.pdf>
Visualizado em 29-04-2010.

Por uma desinstitucionalização médico-psicológica no ensino de psicopatologia:


possibilidades, limites e desafios

Patrícia Regina da Matta Silva

Resumo
A difusão da Psicopatologia dos Códigos (CIDs, DSMs) como modo de regulação do
cotidiano cria desafios a enfrentar na docência em Psicopatologia; bem como cria a
necessidade de articular espaços coletivos de interlocução sobre as estratégias de
enfrentamento para quando a Psicopatologia é tomada pelo que tem de regulação, e não
de tempo (história) e de subjetividade do sofrer e/ou do adoecer psíquico, tal como
preocupação pressuposta nos princípios que sustentam as propostas da Psicopatologia
Fundamental. O objetivo deste trabalho consiste em coletivizar reflexões sobre uma
perspectiva política e clínica no ensino de Psicopatologia, visando compartilhar a
discussão sobre os limites e as possibilidades deste exercício docente. Para tanto,
apresentaremos a sistematização de uma experiência no ensino de Psicopatologia em
Cursos de Graduação de Psicologia. O material de análise será constituído por planos de
curso, roteiro/textos preparatórios para as aulas, recursos didáticos utilizados (mídia
impressa e televisiva, documentários, filmes de ficção, literatura), produção
bibliográfica e caderno de anotações (“diário de campo”). Na sistematização dos dados,
foram estabelecidos os seguintes eixos de análise: leitura institucional para demarcar a
difusão do discurso psicopatológico classificatório (CIDs, DSMs) para além dos muros
acadêmico-profissionais, e a sua circulação em diversos espaços de comunicação; e,
configuração de algumas das cenas discursivas produzidas em sala de aula (demanda
classificatória, problematização e diálogo) produzido nas cenografias em sala de aula. A
partir deste estudo, foi possível criar subsídios para discutir coletivamente sobre

1
estratégias de enfrentamento aos novos desafios no ensino em Psicopatologia em nossos
tempos psicopatologizantes!

Introdução: delimitação de alguns dos desafios da docência em psicopatologia


Não é preciso ser um estudioso sobre as relações entre subjetividade, mídia e
cotidiano, para observar o quanto o domínio do universo médico-psicológico está cada
vez mais presente em uma multiplicidade de cenários sociais, cujo foco das cenas seja a
relação normalidade-anormalidade, respectivamente identificadas como estado de saúde
e de doença/patologia. Mas, talvez, seja preciso ser um estudioso sobre o assunto para
estranhar este movimento e atentar para o fato de o discurso psicopatológico
classificatório dos Manuais de Classificação (CIDs, DSMs1), sustentar estratégias de
regulação (normalidade-anormalidade) do cotidiano na atualidade ao codificar
diferentes modos e níveis de sofrer, distribuídos por uma multiplicidade de categorias
psicopatológicas2.
Temos uma infinidade de especialistas psi (psicólogos, psicanalistas e
psiquiatras) protagonizando cenas em diversos espaços de comunicação no cotidiano
sobre o que iremos ensinar. O aluno mais ou menos informado tem acesso à mídia
impressa, televisiva e eletrônica que, por sua vez, é totalmente marcada pela formação
discursiva médico-psicológica, tanto pela presença de personagens reais ou ficcionais
em programas reais ou ficcionais, que encarnam as (psico)patologias ou falam sobre
elas (diagnósticos, tratamentos), como até mesmo pela apropriação social do discurso
psi. Encontramos em sala de aula um senso comum já psicopatologizado! (SILVA et al,
2006).
Dentre muitas reflexões decorrentes da presença da formação discursiva médico-
psicológica no cotidiano, em nosso caso, ressaltamos a concepção que os alunos do
Curso de Psicologia chegam às salas de aula da disciplina de Psicopatologia; e, em
especial, o posicionamento ético-político a ser assumido pelo professor neste contexto:
o lugar de um especialista, no sentido atribuído pela Análise Institucional
(BAREMBLIT, 1992), que vai discursar sobre o domínio do conhecimento e da
1
APA. Associação de Psiquiatria Americana. Manual de diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais: DSM-IV. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994; OMS. Organização Mundial de Saúde.
Classificação de Transtornos mentais e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
2
Segundo a diferenciação de abordagens em psicopatologia (DALGALARRONDO, 2000), o conjunto da
perspectiva pragmática, descritiva, comportamental e médica se tornaria hegemônico principalmente a
partir da década de 1980, tendo como contraposição o conjunto da perspectiva dinâmica, psicanalítica,
existencial e sociocultural, tal como já apontado por (ROUDINESCO, 2005; RUSSO, VENÂNCIO,
2006; SILVA et al, 2006; SILVA, 2006).

2
intervenção sobre um determinado objeto, re-afirmando o discurso psicopatológico
difuso no cotidiano; e/ou mesmo deste lugar de especialista, problematizar a noção
deste objeto; de seu especialismo; e, da relação que este especialista estabelece com o
seu objeto.
Considerando a polissemia do termo desinstitucionalização, destacamos aqui a
importância deste para o movimento institucionalista (BAREMBLIT, 1992); articulado
com a discussão de seu duplo sentido, tal como impresso pela Reforma Psiquiátrica
brasileira, em sintonia com a Psiquiatria Democrática italiana (ROTELLI,
LEONARDIS, MAURI, 2001). Em um primeiro plano, a desinstitucionalização do
atendimento ao doente mental, foca a abertura dos muros dos hospícios, inserindo os
usuários na rede de atendimento comunitário em seu território; sendo o conceito de
instituição tomado como estabelecimento e/ou organização. Mas, em um segundo plano,
na radicalidade da proposta e aproximação com o movimento institucionalista
(BAREMBLIT, 1992), desinstitucionalizar a doença mental não seria somente tirar o
louco do hospício e continuar concebendo a loucura a partir da perspectiva da doença
(mental), mas também pela multiplicidade possível de entendimentos sobre o fenômeno
do enlouquecimento, por exemplo, pela perspectiva da cultura e da história.
Eis o nosso compromisso ético-político macro e micro-institucional e o percurso
metodológico escolhido durante cinco anos de docência: desinstitucionalizar a
Psicopatologia, tendo como recurso metodológico inserir a história do passado e do
presente para pensar a relação entre a política, a clínica e o sofrimento psíquico.
Se, por um lado, tal perspectiva mostrou possibilidades, também apresentou
limites. E, por isso, como se pretende neste trabalho, torna-se importante articular
espaços coletivos de interlocução sobre as estratégias de enfrentamento da
Psicopatologia tomada pelo que tem de regulação (classificação), e não de tempo
(história) e de subjetividade do sofrer e/ou do adoecer humano, tal como preocupação
pressuposta nos princípios que sustentam as propostas da Psicopatologia Fundamental
(BERLINCK, 2000; QUEIROZ, SILVA, 2002).
O objetivo deste trabalho consiste em coletivizar reflexões sobre uma
perspectiva política e clínica no ensino de Psicopatologia, visando compartilhar a
discussão sobre os limites e as possibilidades neste exercício docente.
Para tanto, apresentaremos a sistematização de uma experiência como professora
da disciplina de Psicopatologia em Cursos de Graduação de Psicologia (2003-2008). O
material de análise será constituído por planos de curso, roteiro/textos preparatórios

3
para as aulas, recursos didáticos utilizados (mídia impressa e televisiva, documentários,
filmes de ficção, literatura), produção bibliográfica (SILVA et al, 2006; SILVA, 2006)
e caderno de anotações (“diário de campo”).
Os dados foram trabalhados segundo a Análise Institucional do Discurso
(GUIRADO, 1995, 2000, 2007) no sentido de localizar os atores e as cenas
institucionais na produção discursiva em sala de aula de Psicopatologia; em diálogo,
com a noção de produção da demanda da Análise Institucional (BAREMBLIT, 1992),
no sentido de detalhar o modo como as relações entre agentes e clientela institucionais
são – e podem vir a ser – estabelecidas.
Na sistematização dos dados, foram estabelecidos eixos temáticos como modo
de organização inicial do corpus discursivo em questão. Em primeiro lugar, será
apresentada uma leitura institucional para demarcar a difusão do discurso
psicopatológico classificatório (CIDs, DSMs) para além dos muros acadêmico-
profissionais; mas também, do discurso da desinstitucionalização médico-psicológica do
cotidiano, utilizando referências multimídias enunciadas pela professora e/ou os alunos
em sala de aula, tomando a mídia impressa como material de análise privilegiado. E, em
segundo lugar, será apresentada a análise da configuração das cenas discursivas
produzidas em sala de aula: desde a produção de uma demanda classificatória por parte
dos alunos que pressupõem um cotidiano (psico)patologizado; a proposta de
problematização por parte da professora; e, os conjuntos de questionamentos por parte
dos alunos que sustentam o diálogo produzido nas cenografias em sala de aula,
utilizando a análise das observações e dos recursos didáticos utilizados.

A psicopatologia dos códigos multimídia como “historia do presente”


Se em trabalho anterior privilegiamos a mídia televisiva como corpus discursivo
para o estudo sobre a difusão do pensamento psicopatológico no cotidiano (SILVA et
al, 2006), neste momento optamos por: (1) apresentar um cenário multimídia
protagonizado pelas categorias psicopatológicas, seus portadores e/ou pelos seus
especialistas, destacados das cenas discursivas produzidas em sala de aula e recortadas
pela professora; (2) para, em alguns momentos, destacar também os muitos recortes da
mídia impressa, coletados ao estilo clippagem regular (Folha de São Paulo, 1996-2005)
e irregular (Estado de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e jornais regionais, 1996 e
2008). Considerando o objetivo deste estudo, foram selecionados somente os títulos e
subtítulos dos recortes de jornal, colocados em diálogo com as categorias diagnósticas,

4
sua dispersão e sua crítica; sem detalhamento de sua análise discursiva, das imagens e
de outros textos3. Tal delimitação justificava-se por cumprir nosso objetivo de
compreender o modo como o discurso psicopatológico circula na mídia, ou seja, o modo
como a notícia “psi” era apresentada.
Com isto, foi possível demonstrar a multiplicidade das categorizações
psicopatológicas e sua dispersão no cotidiano, mas também os recortes que tendiam a
uma desinstitucionalização deste discurso psicopatológico midiático no próprio
universo na mídia.

Sobre os transtornos psicóticos4: da loucura do fora de si intra e extra-muros


Sobre as psicoses, falávamos da História da Loucura de Michael Foucault
(2000) ao O que é Loucura de João Fraize (1985). De como a Psiquiatria construiu a
doença mental no século XIX até as últimas décadas do século XX, inaugurou uma
teorização sobre a loucura do fora de si, identificada à “psicose e a perda da razão, do
eu e da interioridade” (BIRMAN, 2001, p.190); e como, nas últimas décadas, esta
loucura do fora de si deixou de ser identificada à alienação mental, concebida
parcialmente como positiva, pois associada com a “exterioridade da performance teatral,
enfeitado que é o cenário da existência pelas lantejoulas e coturnos que evidenciam o
autocentramento da subjetividade” (p.198).
Com Fernando Diniz, em Imagens do Inconsciente I – Em busca do espaço
cotidiano (Leon Hirszman, 1986), documentário que trata sobre o trabalho terapêutico
com o recurso da expressão plástica desenvolvido por Nise da Silveira, no Hospital
Pedro II (RJ), na década de 1940, podíamos nos deparar com a esquizofrenia para além
das patologias tomadas exclusivamente como morbidades. Mas sim, deparávamos com
o relato do conflito constante de uma existência caótica, impossibilitada de se
comunicar racional e linearmente, mas que conseguia ser delineada no momento em que
Fernando se expressava por meio de sua pintura e escultura. Desta forma, era possível
mostrar o diálogo do diagnóstico (de esquizofrenia) com as possibilidades de escuta

3
No material didático utilizado em sala de aula, incluímos a apresentação das imagens e dos artigos; bem
como consideramos importante ampliação da análise articulada a pesquisas que tomam a mídia como
corpus discursivo.
4
Embora não seja trabalhado no ponto de vista conceitual, o parâmetro para a leitura da multiplicidade
diagnóstica dos manuais, for realizada a partir das estruturas clínicas da psicose, neurose e perversão da
psicanálise lacaniana; em diálogo sobre as novas configurações subjetivas da atualidade que demandam o
entendimento de sua historicidade, tal como apontada por Birman (2001); em especial quando
discutirmos a dispersão e mapeamento das compulsões, relacionadas ou não às perversões, e os
transtornos do humor.

5
clínica e a diversidade de recursos possíveis, concebida por um viés relacional, mesmo
que dentro dos muros do hospital psiquiátrico.
Já com Estamira, no documentário homônimo (Marcos Prado, 2007) sobre sua
vida no Lixão, podíamos assistir as alucinações e os delírios em ato, ao mesmo tempo
em que podíamos verificar sua lucidez ao falar sobre a vida e o atendimento no CAPS;
e, seus comentários sobre o fato de os “médicos copiarem as receitas dos remédios”.
Se com Fernando Diniz, podíamos falar de uma “Psicoterapia Institucional”
abrasileirada, no sentido de acabar por instituir a humanização do atendimento ao
paciente internado, “sobrevivendo ao inferno”, tal como análise de Rodrigues (2007)
sobre a tentativa da Psicoterapia Institucional francesa instituir a função terapêutica do
estabelecimento psiquiátrico, “mediante uma democratização das relações entre técnico
e enfermos” (p.517), mesmo que intra-muros hospitalares. Já com Estamira, podíamos
falar da importância da abertura dos muros dos manicômios da Reforma Psiquiátrica
brasileira, da desospitalização da doença mental e a implantação dos serviços de atenção
diária em saúde mental, da rede comunitária e territorializada; mas também, da
necessidade de atentar para os novos mecanismos de regulação e de controle, e as novas
estratégias de assujeitamento, procurando apontar uma perspectiva clínica a partir da
desinstitucionalização médico-psicológica da loucura.
Este movimento da Reforma Psiquiátrica também pode ser mapeado, e com mais
detalhes, pelos recortes selecionados da mídia impressa. Do movimento de abertura dos
muros, destacamos desde o fechamento de serviços de internação psiquiátrica (“Serviço
psiquiátrico será suspenso”; “Sanatório Jesus sofre grave crise financeira”), a
denúncia sobre a sua permanência (“100 anos do Juquery”; “Doente mental vive
situação de caos”); a desospitalização (“De volta pra casa”), a criação de serviços
substitutivos ao manicômio como a residência terapêutica (“Brasil quer criar república
de loucos”) e o CAPS (“Centro dá prioridade à ressocialização”) e a busca pela
integração interdisciplinar (“Psiquiatria quer integrar tratamento”). Mas, também,
destacamos a abertura conceitual (“Avanço de doenças mentais assusta OMS”);
imprecisão entre as delimitações psicopatológicas (“... dizem que a fronteira entre a
insanidade total e a parcial é tênue, atacam decisão”); e, a normalização da
psicopatologia (“Somos ‘um pouco’ loucos, diz Lula”).
Posto o campo de problematizações, destacava-se o modo como as psicoses e
seus tratamentos surgiam nos recortes da mídia impressa: ainda de dentro do hospício;
e, de fora na rede de atendimento e no cotidiano. Enquanto isto, nos manuais de

6
classificação em Psicopatologia, o Transtorno Esquizofrênico é definido a partir de seus
subtipos (paranóide, catatônico, desorganizado, indiferenciado) e tem sua extensão
capilar modulada pelos outros Transtornos Psicóticos de menor duração e/ou gravidade
dos sintomas (Esquizofreniforme, Breve, Delirante, Esquizoafetivo, Compartilhado,
Substâncias, Condição Médica Geral, Sem outra especificação).

Sobre os transtornos de personalidade: sua condição limítrofe como patologia da


cultura
Podemos traçar as relações da Psiquiatria e a Justiça desde Pierre Rivière, que
matou a mãe, degolou o irmão e a irmã (FOUCAULT, 1997), dos Os anormais
(FOUCAULT, 2001) aos Os carreiristas da indisciplina: um estudo sobre a psiquiatria
e seus “anti-sociais” (PEREIRA, 1981). E, com isto, acompanhar o modo como a
Psiquiatria construiu a Monomania, a Psicopatia e, atualmente, o Transtorno de
Personalidade Anti-social; e, ainda, como veio a sub-categorizar os desvios de conduta
como doença ou transtorno mental, caracterizando-se como uma patologia da moral
e/ou da cultura.
Não existe categoria psicopatológica mais paradoxal do que os Transtornos de
Personalidade. Definido como um transtorno em que a conduta da pessoa é uma
resposta mal-adaptativa às expectativas da cultura (APA, 2002). Desta forma, expressa
o viés normativo e adaptativo da Psicopatologia, deixando em aberto reflexões éticas no
que se refere à (falta) de demanda e/ou viabilidade de tratamento.
Quanto a esta categoria de transtornos, tínhamos toda uma filmografia e seriados
policiais norte-americanos disponíveis; e, também, uma multiplicidade de sugestões de
análise feitas pelos alunos sobre personagens da televisão, do cinema e/ou da literatura,
mais ou menos sanguinários, com a necessidade de afirmá-los como patológicos.
Tínhamos também um vasto material da mídia impressa, do qual destacamos os
casos de pessoas que cometeram crimes inexplicáveis e tornaram-se personagens
midiáticos históricos pela associação e/ou discussão sobre a determinação
psicopatológica de seu ato criminoso (e não o conjunto de fatores envolvidos nas cenas
do crime). Passavam a constituir casos midiáticos que traziam para o debate público a
determinação de uma patologia diagnosticada pelo ato de um indivíduo. Por exemplo,
histórias de crimes inexplicáveis de mortes em família (Gustavo Pissardo, 1994; Suzane
Richthofen, 2002); de mortes em massa (Matador do Cinema, Mateus da Costa Meira,

7
1999); e de crimes sexuais em série (Maníaco do Parque, Francisco de Assis Pereira,
1998; Eugênio Chipkevitch, 2002).
Além de todo este material multimídia que surgia nas salas de aula e era
recortado da mídia impressa, foi uma série editorial curiosa, de um híbrido entre história
e jornalismo, que alimentou meus argumentos desinstitucionalizantes sobre os
Transtornos de Personalidade.
Em 2004, foram publicados os livros: Os mais perversos da história, As mais
perversas da história, Os ditadores mais perversos da história; e, em 2007, As
sociedades secretas mais perversas da história. A título de ilustração, destacamos a
primeira publicação em que consta uma vasta descrição de muitas atrocidades
cometidas por personagens históricos: de Calígula, Nero, Stalin a Hitler, entre outros.
Seriam todos estes psicopatas, monoaníacos ou perversos, tal como concebido pela
psicopatologia? Teriam todos estes personagens Transtornos de Personalidade
Antisocial? Nota-se aí a difusão acentuada da patologização da crueldade humana, pois
a perversão torna-se a-histórica quando passa a reunir personagens históricos de
diversos períodos e locais, sob o mesmo domínio universalizante da perversão, sob o
âmbito individual e coletivo.
Enquanto isso, nos manuais de classificação, os Transtornos de Personalidade
constituem-se como uma condição limítrofe por excelência. Com os perversos, tal como
representado no universo multimídia, mostrando uma intensificação desta condição de
fronteira em seu grupamento caracterizado por pessoas “dramáticas, emotivas ou
erráticas” (Histriônico, Boderline, Narcisista, Anti-social). Mas estende suas fronteiras
para outras direções: as psicoses, em seu grupamento caracterizado por pessoas
“esquisitas e excêntricas” (Esquizóide, Esquizotípico, Paranóide), demarcada a
diferença pela preservação do juízo da realidade; as neuroses, em seu grupamento
caracterizado por pessoas “ansiosas ou medrosas” (Obsessivo-Compulsivo, Dependente,
Esquiva), demarcada a diferença pela sintomatologia ser caracterizada por uma
egosintonia (quando os sintomas se apresentam sem problematização para o sujeito).
Vale acrescentar ainda um desmembramento dos transtornos de personalidade se
considerarmos que em versões anteriores estes contemplavam as perversões sexuais
(parafilias) e a drogadição que, desde o DSM-III, passaram a constituírem-se como
categorias diagnósticas distintas (RUSSO, VENÂNCIO, 2006, p.470)

8
Podíamos falar então que a definição de Transtornos de Personalidade
comportava um modo psicopatológico para falar de todo tipo de esquisitisse humana e,
em especial, do Transtorno de Personalidade Anti-social, da crueldade humana.

Sobre os transtornos neuróticos: sua dispersão como patologia do sofrimento


As neuroses surgem como categorias clínico-diagnósticas na produção do corpo
teórico e da clínica da Psicanálise, no final do século XIX e início do XX, sendo as
histéricas e obsessivos de Freud já configurados como uma referência histórica. Com
“Freud Além da Alma” (Roteiro, J.P. Sartre; Direção de John Huston, 1962), podíamos
assistir o que Freud acabava de construir: a patologia com viés psíquico. E, da neurose
como patologia era mais fácil ainda mostrar a sua difusão para a neurose nossa de cada
dia de uma psicopatologia cotidiana.
A partir da década de 1980, o conceito de neurose deixa o arcabouço
classificatório da Psicopatologia, da terceira versão do DSM, tendo inaugurado uma
nova “arquitetura e lógica” de classificação dos manuais, quando “forjou não apenas
novas concepções sobre o normal e o patológico, mas também participou do
engendramento de grupos identitários” (RUSSO, VENÂNCIO, 2006, p.465). Em
compensação, a ausência do conceito de neurose é marcada por uma difusão desta em
subtipos (Ansiedade, Somatoforme, Dissociativo, Ajustamento) e uma outra sub-
tipificação que se aproxima das patologias da vontade, ou seja, das compulsões.
Encontramos, então, este novo conjunto extensivo de transtornos psíquicos na
“arquitetura e lógica” dos manuais de classificação em Psicopatologia, de modo mais ou
menos explícito, nos recortes da mídia impressa selecionados.
Desde algumas das categorias e sub-categorias psicopatológicas que surgem nos
recortes tal como codificadas nos manuais (“Casos graves de somatização: Transtorno
de Somatização, Transtorno Somatoforme Indiferenciado; Hipocondria; Disfunção
Autonômica Somatoforme; Doloroso Somatoforme”5). Da especificação sobre dados da
“cultura, idade e gênero”, como evidenciado com os Transtornos de Ansiedade:
relacionado a atividade ocupacional (“Crianças com fobia escolar precisam de
tratamento”; “Fobia social limita vida pessoa e profissional”); de circulação
(“Terapia para dirigir atrai 350 motoristas”); a situações de violência (“Estresse pós-
traumático impede que pessoas que sofreram ou presenciaram crime retomem vida
5
Apesar de neste artigo adotar a análise do DSM, considerando a sua hegemonia na produção científica
em Psicopatologia (RUSSO, VENÂNCIO, 2006), a codificação de categorias psicopatológicas
apresentada neste recorte refere-se ao CID-10.

9
normal”); de geração (“Voltas às aulas pode gerar síndrome do pânico de escola”; “O
domínio do medo: sensação de insegurança e excesso de ansiedade estimulam
distúrbios como a síndrome do pânico” [Folhateen]); e de gênero (“Mulheres são as
maiores vítimas”). Até mesmo uma categoria diagnóstica especial Sem Outra
Especificação” (SOE)6 aparece já especificada no que se refere ao Transtorno de
Ansiedade (“Ansiedade e depressão podem ser simultâneas”).
Assinalamos também momentos em que o núcleo temático é dispersivo,
associando um sintoma e/ou transtorno ao comportamento humano individual (“Muitas
vezes confundido com timidez, esse distúrbio provoca problemas físicos e emocionais”)
e/ou coletivo (“Pesquisa mostra que no Rio a violência urbana, a crise econômica, os
engarrafamentos e a superlotação das áreas de lazer transformam os cariocas numa
população que recorre a uma nova medicina para tratar sua ansiedade crônica”); para
chegar, então, no auto-diagnóstico (“Qual é a sua fobia?”; “Você tem algum tipo de
fobia?”).
Como nosso propósito era também apontar para os caminhos da
desinstitucionalização médico-psicológica, destacamos desde aqueles que questionavam
a produção contemporânea de uma cultura do medo, pela análise social e histórica sobre
a questão (“Sensação da violência supera dados reais”, “‘Pânico frio’ substituiu
Guerra Fria, diz Virilio”, “O medo como arma”), até aqueles que exploravam a
questão do medo a partir da perspectiva do sentimento (afetação) de modo literário por
personagens da cultura e da arte (“Você tem medo de quê? A convite do Mais!, dois
escritores, um cineasta e uma historiadora ficcionalizam e debatem seus temores
íntimos e objetivos”).
Enquanto isso, nos manuais de classificação, o Transtorno de Adaptação ou de
Ajustamento e seus sintomas de ansiedade, depressão e/ou de conduta, mostra um dos
pontos máximos da dispersão psicopatológica sobre o sofrimento psíquico.
Por um lado, os Transtornos de Ajustamento apresentam uma semelhança
primária com os Transtornos de Ansiedade traumáticos (estresse pós-traumático,
estresse agudo): a presença de um evento estressor. Mas, por outro, também apresenta
uma diferença primária: este evento estressor deixa de ter um reconhecimento social
6
Tal categoria especial está presente pelo menos uma vez em cada classe diagnóstica e contempla os
índices de indeterminação no modo de classificar a psicopatologia, aplicada nas seguintes situações: (1)
apresentações atípicas ou mistas; (2) o quadro não corresponde a um padrão sintomático, mas causa
“sofrimento ou prejuízo psíquico significativo”, (3) incerteza quanto à etiologia (primário, induzido por
substância ou devido a uma condição médica geral); e, ainda, se o tempo e/ou conjunto de informações
não são suficientes para afirmar uma diagnóstico de modo preciso (APA, 2002, p. 37).

10
catastrófico e toma como pressuposto o conceito de crise nos ciclos da vida (gestação,
nascimento, infância, adolescência, adulto, velhice) e em determinadas situações
concretas (família, escola, trabalho, lazer) (APA, 2002).
Propositadamente, deixamos de analisar o Transtorno de Ansiedade Obsessivo-
Compulsivo, pois este será discutido com o mapeamento das compulsões nos manuais
que será apresentado a seguir.

Um mapeamento das compulsões: TOC, substâncias, alimentares/facticios, sexuais e


outros
As compulsões não se apresentam como uma estrutura clínica ou diagnóstica,
mas tomada como uma sintomatologia presente em vários transtornos destacados dos
manuais de classificação (DSMs, CIDs). O modo peculiar de como os sintomas
compulsivos aparecem nos manuais de classificação fez com que fornecêssemos um
tratamento diferenciado a estes, com um mapeamento da dispersão de tais sintomas7,
por vezes, identificados aos transtornos; e, também, devido a multiplicidade de material
existente na mídia sobre tal temática, optamos por apresentar somente alguns dos
recortes ilustrativos da mídia impressa e alguns dos recursos utilizados em sala de aula.
Desde o próprio Transtorno de Ansiedade Obsessivo Compulsivo (TOC), o que
mais se aproximaria da clássica Neurose Obsessivo-Compulsiva de Freud, a definição
de seus sintomas primários já apontam para este descolamento, quando o critério de
inclusão diagnóstica exige a presença de obsessões ou compulsões (APA, 2002).
Neste contexto de dispersão, as compulsões se descolam de seu sentido
complementar à obsessão, com a função de neutralizar um pensamento obsessivo
moralmente inconcebível. Compulsão8 é, então, tomada como um hábito mal adaptativo
executado inúmeras vezes e de modo automático, dependente, chamado também de um
conjunto de adições (o que para a Psicanálise se aproximaria no máximo do conceito de
“compulsão à repetição”).
O TOC surge na mídia impressa pelas características diagnóstica de geração
(“HC estuda crianças compulsivas: 2% dos adultos e 1,6% das crianças sofrem de
7
Próximo ao que uma psicopatologia dimensional pressupõe com a noção de espectros sintomáticos,
quando se contrapõe à psicopatologia categorial (KAPLAN,SADOCK, GREEB, 1997).
8
Compulsões - “comportamentos repetitivos (por ex. lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais
(por ex. orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que a pessoa se sente compelida a executar em
resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas; os
comportamentos ou atos mentais visam a prevenir ou reduzir o sofrimento ou evitar algum evento ou
situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o
que visam a neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.” [grifos nossos] (APA, 2002, p.448).

11
doença caracterizada pela necessidade de repetir rituais”); e as estratégias de
tratamento (“Terapia sem remédio pode curar obsessão”; “Cirurgia psiquiátrica é
feita sem controle. Médicos defendem técnicas psicocirúrgicas”).
Enquanto isso, nos manuais de classificação, temos o Transtorno de
Personalidade Obsessivo-compulsivo que vai se diferenciar das “neuroses” pela
sintomatologia e se aproximar das “perversões” por sua egosintonia (vivência
harmônica do sujeito com a sua sintomatologia, sem implicar sofrimento decorrente
desta).
Os Transtornos Alimentares surgem na mídia impressa como uma categoria
diagnóstica de um modo de adoecer (“Anorexia: quando a magreza é doença”;
“Impossível comer um só. Distúrbio alimentar provoca ‘orgias’ seguidas de culpa e
depressão”); a partir das características específicas da “cultura, idade e gênero” como
um modo de criar os filhos (“Hábito sinaliza distúrbio alimentar na infância”; “Busca
pelo corpo perfeito atinge as crianças”). No âmbito da dispersão psicopatológica, tais
transtornos também surgem como um modo de vida (“Sites pró-anorexia”; “Sites na
Internet induzem garotas à anorexia e bulimia”) e um modo de morrer (“Estudante de
21 anos morre de anorexia em Araraquara”). Mas, no âmbito da
desinstitucionalização, surge também a cultura corpo em questão (“Carne e osso.
Padrões da moda contradizem gosto nacional e se opõem à beleza da vida real”).
Enquanto as subcategorias dos Transtornos Alimentares dos manuais de
classificação, (Anorexia, Bulimia e SOE) são eram amplamente (re)conhecidas na
mídia impressa, os Transtornos Factícios dos manuais mostra outro nível de dispersão
das compulsões.
Tal transtorno é definido como a produção de um sintoma físico e/ou
psicológico, diferenciando-se dos transtornos somatoformes (histerias) pela produção
consciente (e não inconsciente) dos sintomas; dos transtornos psicóticos pela
preservação da consciência, percepção e do pensamento; das perversões por
caracterizar-se por um “sofrimento clínico significativo” e diferenciar-se da simulação,
configurando-se como uma patologia da vontade.
Dos Transtornos Sexuais, além de se constituírem como categoria diagnóstica
específica, subdividem-se ainda em três grupamentos: as Parafilias (Exibicionismo,
Fetichismo, Frotteurismo, Pedofilia, Masoquismo, Sadismo, Fetichismo transvéstico,
Voyeurismo, SOE) que seriam a perversões sexuais; as Disfunções Sexuais que seriam
os desvios da “normalidade sexual” (desejo, excitação, orgasmo, dor sexual), quando o

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intercurso sexual é demarcado pelas categorias psicopatológicas para cada uma das
passagens disfuncionais; e de Identidade de Gênero quando a opção sexual é vivenciada
de modo egodistônica (implicando sofrimento). Apesar da importância de detalhar as
reflexões sobre tais transtornos e sua difusão nos manuais, na mídia e no cotidiano, para
não fugir à proposta panorâmica de apresentar e discutir os arranjos classificatórios da
Psicopatologia dos Códigos, destacamos dois recortes ilustrativos somente das
Parafilias, pela sua relação com a compulsão e perversão.
A Pedofilia, uma patologia sexual que protagoniza, com cada vez mais
constância e freqüência, as cenas midiáticas (“Pedofilia. Como a ciência explica o
desejo sexual por crianças? Qual é o perfil de quem abusa de menores? Por que o
erotismo infantil atrai tanta gente?”), sendo identificada de modo indiscriminado com
uma prática criminosa, e não somente psicopatológica (por exemplo, quando o sujeito
não chega ao ato, mas tem fantasias recorrentes); até, a difusão do Fetichismo, uma
outra patologia sexual tomada como algo comum ao humano (“Todos têm, em algum
grau, o seu fetiche: O cultuo a um objeto inanimado ou a uma parte do corpo pode ser
saudável para o relacionamento sexual do casal ou virar doença”).
Sobre os Transtornos relacionados a substâncias foi preciso refinar ainda mais a
seleção do material, por constituir-se como uma temática atravessada pela questão da
Saúde Pública e Justiça Criminal. Nos manuais de classificação são apresentados de
acordo com a relação que a pessoa estabelece com o consumo da substância: (1)
presença da compulsão pelo uso dependente e/ou induzido por abstinência; (2) extensão
da patologia da vontade pelo uso abusivo e/ou induzido por intoxicação
Diante da diversidade de questões relativas a este tema, focamos uma
perspectiva que problematiza não somente o usuário, dependente ou portador de um
transtorno relacionado a substâncias, mas sim, a nossa paradoxal sociedade que
recrimina, mas também incentiva o seu consumo (VARGAS, 1998), com o apoio do
vídeo de um Café Filosófico (TV Cultura) que contou com a participação da
Psicanalista Maria Rita Khel para falar das Toxicomanias, que muito nos auxilia na
promoção de uma discussão docente da clínica e da política relacionada ao uso de
substâncias. Entre muitas reflexões, destacamos aqui o momento em que a psicanalista
aponta como o modo de apresentação do sujeito na clínica como “eu sou um drogado”,
destacando a de-subjetivação deste consumo de substância pelo sujeito, podendo ser
apontado como uma das possibilidades de desinstitucionalização médico-psicológica
para pensar tais transtornos.

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O nível de dispersão das compulsões nos manuais de classificação é tamanho
que já tem uma categoria que contemple as indeterminações genéricas quanto ao
controle/patologia da vontade: os Transtornos do controle dos impulsos não
diagnosticado em outro local, que mostra seu caráter descritivo na própria extensão de
seu título. Verifica-se que este nível de dispersão já começa a circular na mídia: quando
o pavio curto vira Transtorno Explosivo Intermitente (“Motorista com síndrome do
‘pavio curto’ vai para o divã. Hospital das Clínica de SP vai atender descontrolados
com o foco no trânsito”).
Enquanto isso encontramos nos manuais de classificação uma nova lista de
patologias da vontade em termos de: hetero-agressividade (Explosivo Intermitente,
Piromania, Cleptomania): auto-agressividade (Jogo Patológico, Tricotilomania); e,
ainda aqueles outros sem outra especificação que já conseguem ser categorizados em
alguns escritos: atividade física, trabalho, sexo e consumo.
Com este mapeamento capilar das compulsões, é possível desenhar e entender
um pouco da “lógica e da arquitetura” da multiplicidade das classificações
psicopatológicas da atualidade o que possibilitava criar campos de problematizações
atuais sobre a questão das substâncias na relação com a Saúde e Justiça; do corpo e da
sexualidade; bem como sua dispersão nas múltiplas categorias diagnósticas das
patologias da vontade. Perguntávamos, então, como o modo de produção de
subjetividade que marca a cultura contemporânea estaria contribuindo para a dispersão
das patologias da vontade, no seu trânsito com as perversões, na clínica
contemporânea?

Sobre as depressões: a doença da alma


Os Transtornos de Humor que para a Psicanálise não são consideradas uma
estrutura clínico-diagnóstica especifica, são assim reconhecidos nos manuais de
classificação.
Destaca-se a presença significativa de tais transtornos mais ou menos
delimitados pelas subcategorizações na mídia impressa. Também surgem características
segundo a geração (“Depressão leva criança ao suicídio. Doença pode afetar 20% dos
estudantes.”; “Depressão em jovem tem feições próprias”; “Depressão atinge 2% dos
idosos.”); gênero (“A depressão é o mal que mais ataca as mulheres e cresce entre os
homens, mas já pode ser tratada com sucesso pela medicina.”); e especificadores
sazonais (“Festa de Natal pode trazer depressão à tona”).

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Quanto a presença dispersiva, encontramos novamente situações em que um
transtorno se confunde com um traço de personalidade (“Mau humor eterno. Ele surge
na adolescência, é confundido com traço de personalidade, mas é uma doença que tem
tratamento” [Distimia]) e pode ser auto-diagnosticada (“Você está deprimido?”).
A melancolia é diluída nas depressões (BERLINK, 2000), difundidas a partir de
uma interpretação médica da tristeza, do mau humor, da existência. Mas por outro lado,
encontramos recortes que desinstitucionalizam a medicalização da tristeza quando
questionam a patologização do sofrimento (“O valor da tristeza. Um estudo questiona a
eficácia dos antidepressivos. E novas pesquisas mostram que a infelicidade pode ser
boa entre nós”; “Uma existência sem sujeito.”; “Uma afronta à sociedade
depressiva.”).
Enquanto isto, nos manuais, os Transtornos de Humor são divididos entre dois
grupamentos, que se tornam a serem especificados: os Depressivos (Depressivo Maior,
Distimia, SOE) e os Bipolares (Bipolar I, II, Ciclotimia, SOE).
Eis a possibilidade de inventar “novas armas” como estratégia de enfrentamento
dos modos refinados de regulação da Sociedade de Controle (DELEUZE, 1992),
modulada pela Psicopatologia dos Códigos (SILVA et al, 2006): demarcação da novas
estratégias de regulação psicopatológica na atualidade (manicomiais intra e extra-muros,
intra e extra-especiliastas); com o destaque sobre os questionamentos que apontam para
a desinstitucionalização, mesmo que - e porque - minoritário na atualidade.

Das cenografias em sala de aula: demanda classificatória e problematizações


Para a tarefa proposta de desinstitucionalizar o ensino em Psicopatologia era
preciso, então, entender o campo de forças que se estabelecia nesta prática institucional
concreta: sala de aula de Psicopatologia. Podemos demarcar a configuração de alguns
elementos para análise institucional concreta (GUIRADO, 1995). Um mandatário: a
ementa curricular predominantemente classificatória, com referência básica no CID-10
ou DSM-IV. Um agente privilegiado: a professora que trabalhava a partir de uma
perspectiva histórica (passada e presente) da psicopatologia, que articulava a política
para pensar a clínica. Seu objeto: o ensino de Psicopatologia, campo do conhecimento
responsável pela articulação conceitual das práticas médico-psicológicas em termos de
saúde mental. A clientela: os alunos que chegavam com uma certa demanda por
aprender aquilo que pensavam ser Psicopatologia.

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Tais cenas discursivas podem ser entendidas a partir de sua tipologia
pedagógica, articulada à especificidade de tal prática quando o seu objeto-foco é o
ensino de Psicopatologia. Considerando a prática pedagógica em geral, pode-se dizer
que são constituídas por uma cena genérica caracterizada por uma assimetria legitimada
de poder (MAINGUENEAU, 2000): de um lado, o professor é responsável pela
transmissão de conhecimento de um determinado assunto; e, por outro, os alunos têm a
responsabilidade de apreendê-lo. Todavia, mesmo analisando em termos de cena
genérica da prática institucional de ensino (quando pressuposta a legitimação das
assimetrias de poder), este modelo de aula é “moderno” demais para sobreviver na
atualidade – “pós e/ou hiper-moderna” – em nossa sociedade da informação9.
E quando falamos especificamente do ensino em Psicopatologia na atualidade?
É um assunto que está na boca do povo, tal como demonstrado no item anterior,
marcado por uma perspectiva classificatória de identificação de patologias no cotidiano
e, de modo somente minoritário, por uma perspectiva reflexiva sobre o sofrimento
humano e o modo como lidar com ele, com ou sem ajuda profissional.
A produção da demanda dirigida ao professor de Psicopatologia, em especial, no
Curso de Psicologia, era marcada ainda pelo desejo de aproximação com as ciências
médicas em um percurso de formação profissional, com mais ou menos ênfase, mas
sempre predominante, nas ciências humanas. O encontro com a Psicopatologia era
esperado como o momento em que os alunos acreditavam poder decifrar o que o
imaginário sobre a disciplina disponibilizava: os instigantes e confusos limites entre
normalidade e anormalidade; os enigmas da loucura, fundidos ou não com crueldade
humana; mas também de um comportamento humano patologizado!
Com isto, alguns dos encargos na construção da demanda dos alunos nas salas
de aula de Psicopatologia eram delimitados; ou seja, era evidenciada uma multiplicidade
de pedidos que os alunos pretendiam legitimar a partir do aval de um especialista-
professor (BAREMBLIT, 1992).
Ao identificar, então, o predomínio da produção de uma demanda classificatória
por parte dos alunos, como analisar a oferta do professor, mantendo o compromisso
ético-político com a desinstitucionalização médico-psicológica da loucura e/ou dos

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Se a modernidade criou os especialistas, com ideologias fundamentadas por uma certa
cientificidade; a pós ou hiper-modernidade criou os especialistas não formados, com
videologias (BUCCI, KEHL, 2004) fundamentadas em uma sociedade da difusão da
informação, sendo a mídia televisiva um campo privilegiado de ilustração e reflexão para tais
questões.

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limites entre anormalidade e normalidade humana? Como dizer que o que os alunos
esperavam - que o professor legitimasse o que eles já sabiam de um senso comum
(psico)patologizado - era somente uma construção histórica?
Evidentemente que não é tarefa fácil ensinar alunos, aspirantes a especialistas, a
não serem especialistas, no sentido de não se apropriarem exclusivamente sobre o
domínio do conhecimento sobre algo (doenças mentais/anormalidades); colocado no
lugar de objeto (doentes mentais/anormais); e, de compartilharem este domínio sobre a
intervenção (tratamento intra ou extra-muros) com os demais profissionais e com os
próprios usuários/pacientes.
Se a cena genérica das aulas de Psicopatologia determinava a transmissão do
conhecimento em classificação, desejo confirmado pelos nossos alunos interlocutores,
não era preciso negá-la, mas sim, apresentá-la a partir de um campo de
problematizações, nas cenografias inventadas em sala de aula, recontando histórias do
passado e do presente para colocar em questão o posicionamento ético-político na
clínica contemporânea.
Se toda demanda tem uma história, a demanda classificatória instituída pelos
alunos podia ser problematizada, por exemplo, a partir da literatura de Machado de
Assis, com o protagonista de O Alienista, Dr. Bacamarte, um personagem do contexto
do final do século XIX, que se tornou emblemático para as reflexões políticas sobre a
psicopatologia e as práticas em saúde mental.
Lembrávamos como o furor classificatório de Dr. Bacamarte fez com que este
concebesse quase toda a população da pequena Vila de Itaguaí (RJ) a partir da
perspectiva da doença-anormalidade, acabando o próprio (Dr. Bacamarte) internado na
Casa Verde, local de abrigo para os alienados. Até o final da história, toda a população
tinha passado pelo hospício! O próprio especialista sobre a alienação mental virou
alienado.
Apesar dos avanços em termos de Políticas de Saúde Mental, depois de um
século do contexto histórico do Alienista de Machado de Assis, pode-se dizer que o
furor classificatório deste personagem literário não é estranho ao quadro da produção
de conhecimento em Psicopatologia neste início de século XXI, embora, sem dúvida,
seja preciso demarcar as diferenças.
O furor classificatório contemporâneo muda a direção dos “diagnósticos” e dos
“tratamentos”. Dr. Bacamarte de hoje não é necessariamente aquele que levaria os
“usuários” direto para o hospício; e também não necessariamente aquele que está na

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rede (pública, conveniada ou particular) de atenção diária em saúde mental, por
consultas periódicas mais ou menos freqüentes (ambulatório e consultório privado) e/ou
acompanhamento do cotidiano (Centro de Atenção Psicossocial/CAPS,
Acompanhamento Terapêutico etc.). Mas sim, o furor classificatório de Dr. Bacamarte
permanece quando levamos o “hospício” para fora dos “muros”, estendemos nossos
conceitos da psicopatologia (doença e/ou transtorno mental) inscrevendo um modo de
pensar psicopatológico sobre o psiquismo, comportamento ou subjetividade no
cotidiano.
Com o Dr. Bacamarte de ontem e de hoje, é importante apontar como que, a
partir da década de 1980, os muros dos hospícios foram refinados, quando as estratégias
de exclusão e/ou de segregação não aconteciam somente no confinamento intra muros
hospitalares e dos centros de atenção diária; mas passou a modular a subjetividade
normal-anormal-patológica extra-muros que marcam o nosso universo de sociabilidade,
produzido e reproduzido cotidianamente pela mídia, lugar privilegiado de circulação da
produção do conhecimento também em Psicopatologia.
Desta forma, além da abertura dos muros dos hospícios, tivemos também a
abertura conceitual e deveríamos apontar para os cuidados da de-subjetivização das
pessoas de seus diagnósticos. Neste sentido, tal como diferenciação apontada por Castel
(1987), se existe alguma operatividade que valida clinicamente um diagnóstico, ela se
perde quando dissociada da perspectiva sobre o tratamento. Quando a perspectiva
classificatória de um diagnóstico é exclusiva e predominante, este acaba por
caracterizar-se pela ênfase em sua função de codificação e de controle; e, pela
negligencia de sua função de cuidado clínico (tratamento).
Mas se o diagnóstico psicopatológico virou continente reconfortante para a dor
de existir, como especialistas-professora desta matéria, com um projeto ético-político e
clínico de pensar o ensino em Psicopatologia, destacávamos os movimentos de
desinstitucionalização médico-psicológica da loucura, anormalidade ou sofrimento
psíquico nas cenografias produzidas em sala de aula. Estas serão apresentadas aqui por
alguns diálogos decorrentes de questionamentos dos alunos, destacados pela
regularidade com que surgiam; mas, também, por uma irregularidade que era
demonstrativa de algum aspecto significativo.
Um primeiro eixo de perguntas se destacava: as indagações pela etiologia. Uma
perspectiva predominantemente determinista, com mais ou menos ênfase nos fatores
biológicos, sociais ou psicológicos era pressuposta nos questionamentos. Era o

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momento de apontar a complexidade do fenômeno psicopatológico, desde sua
historicidade até a perspectiva clínica de seu sofrimento. Faz-se necessário destacar que
tal eixo de perguntas reaparecia ao longo de todo o curso, configurando-se quase que
como um imperativo determinista predominante no discurso dos alunos.
Um segundo eixo de questionamentos, relacionado de certa forma ao anterior,
sobre a eficiência e a eficácia do tratamento farmacológico e psicoterapêutico também
esteve sempre presente ao longo do curso. Era o momento de apontar a medicalização
do sofrimento psíquico e a tendência de indicação indiscriminada de psicoterapia como
modo de solução de conflitos humanos genéricos, com uma perspectiva reducionista
(médico-psicológica) para o trato com a subjetividade. Mostrava-se a necessidade de
extrapolar não somente os muros dos hospícios, mas sim, os muros dos especialismos
(GUATTARI, 1985). Observávamos o quanto a farmacologia auxiliou em um outro
modo de contenção que liberou os pacientes dos muros, embora apontássemos os riscos
de aprisionar estes mesmos pacientes em outros muros: de uma anestesia do cotidiano.
Observávamos o quanto a psicologia (os psicólogos em conjunto com outros
trabalhadores de saúde mental) auxiliou em um outro modo de tratamento na rede
comunitária territorializada, embora apontássemos os riscos de outros aprisionamentos:
de uma perspectiva psicopatológica do sofrimento humano. Enfim, de especialista a
especialista, todo mundo podia avançar na medida de forças, embora já estivesse posta
uma escolha ética-política na clínica.
Um terceiro eixo de indagações sobre a cura, principalmente quando falávamos
das psicoses, surgia com certa regularidade. É possível retornar depois de um surto?
Existe cura para esquizofrenia? A cura seria a remissão dos sintomas? Eis o momento
de apontar a diferença entre um referencial normativo e adaptativo em Psicopatologia,
quando pensa o trabalho com a loucura a partir da perspectiva médica de doença a ser
curada; e, um referencial clínico (ético, estético e político) que tem a direção do
atendimento marcada pela perspectiva trágica do entendimento da loucura, em que as
histórias serão afetadas nos encontros. Enfim, discutia-se uma contextualização das
(psico)patologias, implicando o sofrimento psíquico singular em questão.
Reunimos, por fim, dentre outros que poderíamos enumerar, um quarto eixo de
indagações enunciadas pelos nossos interlocutores alunos que nos auxiliavam no
processo de desinstitucionalização médico-psicológica da Psicopatologia. Quando
definíamos o objeto da disciplina a partir da noção de transtorno/doença mental e
apresentávamos as estratégias e os parâmetros normativos de codificação dos Manuais

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de Classificação (CIDs, DSMs), algumas vezes, um certo estranhamento era provocado
e posto em questão na sala de aula. Mas, então, tudo é transtorno? Onde fica o sujeito?
Momento de encontro discursivo entre professor-aluno, pois a pergunta virava a própria
resposta, pois permanecia como questão à Psicopatologia dos Códigos.

Considerações finais
Uma demonstração de alguns dos arranjos da Psicopatologia dos Códigos
(DSMs, CIDs) e de sua circulação mais ou menos explícita na produção midiática
provoca uma impressão de extensão totalitária do domínio médico-psicológico sobre o
cotidiano. Temos “Loucura, loucura, loucura” nas tardes de sábado como tantos outros
excessos propagados de uma institucionalização do no limits (SILVA et al, 2006). De
outro, um viver na cidade com ansiedade crônica, o pânico dos filmes e da urbanidade.
A motivação psicológica ou patológica das mentes criminosas. O Chato vira TOC
(Transtorno Obsessivo-Compulsivo); o Tímido, Fóbico Social; “Bebo mesmo que
raramente”, dependendo, pode ser um Transtorno induzido por substância
(intoxicação); o Pavio Curto, TEI (Transtorno Explosivo Intermitente); o Mal
humorado, Distímico. E, ainda, TPM (Tensão Pré-menstrual), Disfórico menstrual ou
Depressivo Sem Outra Especificação. Falta de educação, TDAH (Transtorno de
Atenção e Hiperatividade); Superproteção, Ansiedade de separação. Uma lista que não
tem fim. Parece que todo e qualquer comportamento está codificado em algum modo
(ir)regular de funcionamento comportamental dos Manuais (CIDs, DSMs).
Verificava-se, então, que apesar de presentes, atualmente não é somente o
enigma da loucura que instiga o desejo pela disciplina de Psicopatologia, de uma
loucura do fora de si (BIRMAN, 2001), que a Psiquiatria transformou em doença
mental (esquizofrenia e outros transtornos psicóticos); ou, o enigma da crueldade, que a
Psiquiatria transformou em monomania, psicopatia e atualmente em transtorno de
personalidade anti-social. Agora, o desejo pela disciplina é norteado pela tentativa de
entender quase que todo o comportamento humano, tomado pela oposição entre
patologia-anormalidade versus normalidade-ideal, de uma loucura do controle de si
(BIRMAN, 2001).
Como argumentar e fundamentar tais afirmações com os alunos para além dos
estudos e pesquisas que tratam sobre o tema? O uso da própria produção midiática era
um caminho didático possível para o estabelecimento de um diálogo sobre a atualidade

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do furor classificatório de Dr. Bacamarte, no trânsito intra e extra-muros manicomiais e
comunitários.
O desafio no ensino em Psicopatologia consistia no fato de, justamente, os
alunos chegarem em sala de aula com este furor classificatório de um cotidiano
psicopatologizado. Como aproveitar o furor necessário às relações estabelecidas no
exercício docente com os alunos, sem atender à demanda classificatória? Como mostrar
a política sem perder o encanto? Restava-nos encantar a política com a história e a
clínica do presente! Pela apresentação dos modos de regulação psicopatológica e sua
historização, sua desinstitucionalização médico-psicológica, sua relação com a cultura e
com os diferentes modos de existir e de sofrer, liberando-nos para pensar uma clínica
sem um viés da espetacularização da subjetividade ou das codificações universais, mas
a partir do diálogo estabelecido com aquele que fala de um sofrimento.
E, por fim, a sistematização de algumas cenas discursivas produzidas em sala de
aula, possibilitou um trabalho de síntese desenvolvido ao longo dos cursos que está
posto para diálogo e discussão de estratégias de enfrentamento aos novos desafios no
ensino em Psicopatologia, em nossos tempos psicopatologizantes! Mas, antes mesmo da
discussão coletiva, já é possível analisar uma produção efeito desta escrita, produzindo a
demanda de novas sistematizações, com ênfase nesta perspectiva política de pensar a
clínica a partir de atividades a serem elaboradas e desenvolvidas nos Cursos. Eis o
resultado-demanda produzido por este trabalho.

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