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REVISTA DA ACADEMIA SERGIPANA DE LETRAS

LAMPIÃO EM DORES: 1929 e 1930



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José Lima Santana*

1930. O mundo tentava reerguer-se, economicamente, da


derrocada do ano anterior: a quebra da Bolsa de Valores de Nova
York, que, com ela, arrastou o mundo para a débâcle, ou seja, o
desastre causado pela especulação financeira desmedida.
Em 24 de outubro de 1929, uma grande venda de ações não
encontrou compradores, fazendo explodir a crise, nos Estados Unidos
da América, alastrando-se, incontinenti, pelo mundo capitalista.
Naquele momento fatídico, os “investidores, atemorizados, tentaram
livrar-se dos papéis, originando uma verdadeira avalanche de oferta
de ações, que derrubaram velozmente os preços, arruinando a todos”
(VINCENTINO, 2000, p. 374).
Provocando um efeito dominó, a crise econômica nova-iorquina
e estadunidense abalou as estruturas econômico-financeiras do
mundo, quando os países da Europa ainda tentavam se recuperar
da catástrofe que fora a Primeira Guerra Mundial. Era a grande
depressão, que geraria retração na produção e na comercialização de
bens, ruína dos investidores, dos grandes aos pequenos, e os temíveis
espectros do desemprego e da hiperinflação.
Em 1930, o Brasil, ainda abalado com a quebradeira mundial,
passava por novas convulsões políticas. O presidente Washington
Luiz, eleito para o quadriênio 1926-1930, “projetou e iniciou uma
reforma financeira, que não pôde ser integralmente aplicada em
consequência da grande crise econômica internacional de 1929, que
no Brasil produziu sérios efeitos, como, por exemplo, vertiginosa
queda nos preços do café, nosso principal produto de exportação”
(VIANNA, 1975, p. 572). Assim, além da baixa do café, a crise mundial
provocaria o malogro da política brasileira de valorização econômica,
que se assentava na “tentativa de estabilização cambial, mediante a
formação de depósitos de ouro, inicialmente obtido por empréstimos”
(VIANNA, 1975, p. 590).
Rompida a chamada política do “café com leite”, orquestrada
entre paulistas e mineiros, a “sucessão presidencial apresentou,
novamente, em 1929, aspecto de verdadeira crise nacional, por ser
oficialmente patrocinada a candidatura do presidente de São Paulo,
Júlio Prestes de Albuquerque, contra a qual as forças políticas de
Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, articuladas com as
oposições dos outros Estados, na chamada Aliança Liberal, por
iniciativa do presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada,
22 *
José Lima Santana ocupa a cadeira nº 1 da Academia Sergipana de
Letras.

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apresentavam a do presidente do Rio Grande do Sul, Getúlio Dorneles


Vargas” (VIANNA, 1975, p. 573). O candidato a Vice-presidente de
Getúlio era o governador da Paraíba, João Pessoa, enquanto o de Júlio
Prestes era o presidente da Bahia, Vital Henrique Batista Soares, que
vinha de ser censurado por alguns e aplaudido por outros, pelo fato
de instituir um prêmio de 50:000$000 (cinquenta contos de réis) “ao
civil ou militar que capturar ou entregar de qualquer modo à Polícia,
o famigerado bandido Virgolino Ferreira, vulgo Lampeão”, conforme
fac-símile do cartaz distribuído pelo governo baiano no sertão, em
meados de 1930 (MELLO, 1993, p. 95).
No embate eleitoral travado em 1° de março de 1930, a grande
vedete, mais uma vez, foi a fraude eleitoral, de lado a lado. Nesse
quadro, com a apuração dos resultados, “a chapa da situação
composta por Júlio Prestes e Vital Soares foi proclamada vitoriosa”
(PENNA, 1989, p. 181). Como foi dito, a fraude eleitoral campeou de
lado a lado, como era comum. Comentando o assunto, diz PENNA:

Ambos os lados utilizaram-na da forma a mais


ostensiva possível, indiferentes à profunda
condenação da opinião pública. No Rio Grande do
Sul, o comparecimento “oficial” alcançou 99% do
eleitorado, contingente que sufragou Getúlio Vargas
com 699.627 votos contra minguados 982 votos
atribuídos ao candidato Júlio Prestes! São Paulo não
fez por menos, o que mudou foi apenas o resultado,
com a inversão dessa proporção a favor do candidato
paulista (1989, p. 181).

Os aliancistas não se conformaram com a derrota. A partir da


proclamação final dos resultados eleitorais, o caldeirão ferveria até
explodir em outubro.
Em Sergipe, a maior parte das oligarquias políticas apoiou
o candidato situacionista, Júlio Prestes. O presidente Manuel
Dantas concedeu apoio ao “Marechal José Joaquim Pereira Lobo
para o Senado e Humberto Dantas, Leandro Maciel, Gildo Amado
e Graccho Cardoso para a Câmara Federal”, nas eleições de 1º
de março (FIGUEIREDO, 1989, p. 160). No Estado, os aliancistas
tinham o comando do almirante Amintas José Jorge “já reformado,
sergipano, desde muito radicado em Sergipe, sempre voltado para
os torneios atléticos e movimentos cívicos e sem entrosamento nos
meios políticos” (WYNNE, 1973, p. 16).
Proclamados os resultados da eleição presidencial em Sergipe,
Júlio Prestes obteve 16.347 votos contra apenas 830 votos dados a
Getúlio Vargas. Em Nossa Senhora das Dores, Prestes recebeu 255
votos contra 18 de Vargas (FIGUEIREDO, 1989, p. 161).
Nessa fase de agitação da política nacional, deu-se a eleição
para a presidência do Estado, a 26 de julho de 1930. Candidato único,

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o deputado Francisco de Souza Porto, tido e havido – como, aliás, ele


próprio se intitulava – por filho de Nossa Senhora das Dores, embora
nascido – apenas nascido, é bem verdade – no engenho Canabrava,
em Siriri, é eleito com “17.038 votos em todo o Estado, muito pouco
para candidato único e a população total do Estado, da ordem de
527.130 habitantes” (FIGUEIREDO, 1989, p. 187).
Diante do quadro de crescente instabilidade política, o
Presidente Washington Luiz declarou feriado nacional de 7 a 21 de
outubro. Na verdade, estado de sítio. Na edição de 15 de outubro
de 1930, o Sergipe Jornal publicou declaração contundente do
Presidente da República, àquela altura um morto-vivo político, contra
a sublevação que se alastrava por todo o país, desde o último dia 3.
No Nordeste do país, as tropas revolucionárias controlavam desde o
Rio Grande do Norte até Pernambuco, pressionando Alagoas para,
então, virem em direção a Sergipe. Manuel Dantas tentou esboçar
uma reação, deslocando tropas para as margens do rio São Francisco.
Em meio a esse furor revolucionário, Nossa Senhora das Dores
esperava, confiante, a posse de Francisco Porto na chefia do governo
estadual, o que se daria em 24 de outubro. O bairrismo era, em
Dores, nota dominante: depois de um presidente com base capelense
(Dantas), Sergipe seria governado por um dorense (Porto). Assim, os
dorenses não ficariam “por baixo” dos desafetos capelenses, uma
vez que sempre houve grande rivalidade entre os de Dores e os de
Capela, muito embora não sejam poucas as famílias que foram
geradas a partir do casamento entre pessoas de ambas as cidades.
Mas, rivalidade é sempre rivalidade. “Dorense nascido em Siriri?” –
zombavam os capelenses.
Evidentemente, num momento de agitação e incertezas político-
administrativas, o cangaceiro Lampião sentia-se à vontade para agir
com maior audácia, em Sergipe. A propósito, afirma WYNNE:

Lampião, que aparecera já em Sergipe, de novo


voltara, cometendo atrocidades, aproveitando-se
em outubro, do deslocamento de tropas policiais do
Estado para pontos estratégicos, à margem do São
Francisco (1973, p. 33).

Lampião entrara em Sergipe, pela primeira vez, em 1929. Mas,


recuando um pouco no tempo, vamos encontrar cangaceiros de outros
Estados invadindo Sergipe há alguns anos. Em 7 de setembro de
1921, por exemplo, o presidente do Estado, Pereira Lobo, informava,
em Mensagem à Assembleia Legislativa:

No interior observa-se a mesma situação, salvo

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fatos isolados, muitas vezes oriundos de questões


particulares, como o ocorrido na vila de Aquidabã,
na manhã de março do corrente ano.
Um grupo de cangaceiros, chefiado por Elias
Barbosa, conhecido facínora que, de alguns anos
a esta parte, vem praticando assaltos pelos sertões
do norte de Pernambuco, Alagoas e deste Estado,
surpreendeu na manhã daquele dia, a pacata
e laboriosa população daquela vila sergipana,
praticando roubos e depredações e fugindo em
seguida para o sertão de Pernambuco.
Fiz seguir imediatamente para a vila de Aquidabã
um contingente de força do Batalhão policial,
comandado pelo capitão Geminiano Muniz Barreto,
que ali exerce atualmente as funções de delegado
de Polícia.
A polícia do nosso Estado, de acordo com as dos
Estados de Alagoas e Pernambuco, tem agido no
sentido de dissolver, pela captura, os perigosos
bandidos de Elias Barbosa (1921, p. 54).

Em fevereiro de 1929, a imprensa aracajuana entrou em


reboliço com as informações de que Lampião se aproximava de
Sergipe, vindo da Bahia (Gazeta de Sergipe, 28 de fevereiro). Em
março, aproximava-se de Anápolis, ou seja, Simão Dias (Gazeta de
Sergipe, 1° de março). Na edição de 07 de março, o mesmo jornal
disse que “o terrível bandoleiro Lampião” estaria “operando entre os
municípios de Itabaiana e Dores tendo estado distante do povoado
Saco do Ribeiro (Ribeirópolis), ontem à noite, três léguas apenas”.
Finalizou a matéria: “Em face das medidas tomadas pelo Governo
é de crer que o terrível bandido não consiga penetrar em nenhuma
dessas localidades, com o seu fito criminoso de saqueá-las”.
Lampião provocava acirradas discussões na imprensa
situacionista e oposicionista. De um lado, a Gazeta e o Sergipe Jornal
defendiam as providências do Governo; do outro, o Diário da Manhã,
que seguia a orientação de Graccho Cardoso, atacava o Governo.
Em abril, informações de que ele estava, novamente, prestes a
penetrar nas fronteiras do Estado levaram as autoridades a entregar
o comando de um destacamento de 50 soldados ao tenente Elesbão,
a fim de perseguir o cangaceiro e seus asseclas nas margens do rio
São Francisco. Naquele mesmo mês, o cangaceiro esteve em Canindé,
Poço Redondo, Glória e Ribeirópolis (Sergipe Jornal, 21.04.29).
Diante da audácia do bandido, o governo do Estado formou outros
destacamentos, comandados pelos tenentes Luiz, Amintas, Batalha e
Afonso. Todavia, o primeiro tiroteio de Lampião em Sergipe dar-se-ia
no povoado Pinhão contra a força do tenente Menezes, da Bahia.
Em 07 de agosto, o Sergipe Jornal, que era ligado ao partido

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governista, como já se disse, noticiou em manchete de primeira


página: “Lampião marcha para Sergipe”. E dizia: “Estamos informados
de que o Exmo. Sr. Dr. Júlio Leite, digno chefe de Polícia do Estado,
recebeu comunicação oficial do seu colega da Bahia de que o grupo do
bandoleiro Lampião passara por Geremoabo com destino a Sergipe”.
Em 17 do mesmo mês, o citado jornal deu a seguinte notícia: “O
temível bandoleiro Lampião, segundo informações recebidas pelo Dr.
Chefe de Polícia, encontra-se em Monte Alegre, distante seis léguas
de Nossa Senhora da Glória. Existe força sergipana nas imediações
do local, bem como noutros pontos da fronteira do Estado”. Por
que será que as tropas sergipanas, de 1929 a 1938, quando ele foi
abatido pela polícia alagoana, em terras de Sergipe, estavam sempre
no encalço de Lampião, mas quase nunca o encontravam?
Enfim, em 25 de novembro de 1929, Lampião entrou em
Nossa Senhora das Dores, para uma “visita de cortesia”, entre as
14 e as 15 horas. Era o dia da feira semanal da cidade. Ao todo, o
bando compunha-se de 9 cabras, além do chefe. Fora guiado por um
vaqueiro que aprisionara. Segundo Pedro Vieira Teles o vaqueiro era
conhecido em Dores, onde fazia suas compras habituais. Dirigiram-
se, de pronto, para o quartel de polícia, onde dois soldados não lhe
opuseram resistência, e para a estação telegráfica, ali ficando um dos
bandoleiros, de prontidão.
De acordo com o depoimento prestado ao autor por Afonso
Rodrigues Vieira (27.03.1903-20.10.1985), em 7 de maio de 1981,
os cangaceiros dirigiram-se à Intendência Municipal, onde foram
recebidos pelo Intendente Manoel Leônidas Bonfim. Lampião exigiu
os nomes dos homens mais ricos para que eles fizessem uma
“bolsa”. Pretendia arrecadar 50:000$000 (cinquenta contos de réis).
Recebendo os nomes solicitados, mandou chamar numa sala da
própria Intendência, Cecílio Vieira (mas em seu lugar, pois ele estava
doente, foi o seu filho Afonso, que prestara o depoimento ao autor),
Otacílio José de Menezes, Francisco Pedro do Nascimento (Ioiô de
Dominguinhos), Tertuliano Pereira de Azevedo e Plácido Almeida. O
chefe do bando teria exigido dez contos de réis de cada um. Porém,
após diversas argumentações, contentar-se-ia com 3 contos de réis
por cabeça. Como exigisse mais dinheiro, segundo Afonso Vieira, o
Intendente Manoel Leônidas Bonfim e o Padre João Marinho fizeram
uma coleta, entre outras pessoas da cidade, para arrecadar mais
dinheiro, a fim de completar a “bolsa” exigida, que teria sido negociada
em 25:000$000 (vinte e cinco contos de réis), ou seja, a metade da
quantia inicialmente exigida.
Alguns cangaceiros apanharam meias na loja de Pedro Vieira
Teles, o popular mestre Pedrinho (04.10.1901-06.02.2000), alfaiate e
desportista, que depois viria a ser secretário da Prefeitura Municipal,
e que sempre gozou do respeito dos seus concidadãos, além de
cortes de tecido e frascos de perfume na loja de Manoel Leônidas, o

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Intendente, segundo o depoimento do mestre Pedrinho, prestado ao


autor, em 25 de julho de 1993. Ainda pegaram outros produtos na
casa comercial de Manoel José de Jesus, onde fizeram algazarras,
até que Lampião os conteve. Não resta dúvida que ele era um chefe
respeitado pelos seus.
De acordo com o mestre Pedrinho, Lampião escreve impropérios
no rótulo de uma garrafa de vermute contra o Tenente Elesbão, que,
como foi citado, comandava um grupo da Volante. O bando bebeu
em demasia. Aliás, em entrevista ao Sergipe Jornal, publicada em 29
de novembro daquele ano, o Cel. Vicente Figueiredo Porto, próspero
fazendeiro local, se disse espantado com o consumo de bebidas
alcoólicas pelo bando de celerados, naquela “visita”.
Diz Ranulfo Prata que tendo os cabras visto “algumas moças
bonitas, pediu ao chefe para armar um baile” (s/d, p. 85). Mas o
escrivão, que era Cotias, pai de algumas das moças, alarmou-se com
a notícia e pediu ao cangaceiro-mor que não consentisse na realização
do baile. Afirmou o Cel. Figueiredo que ele próprio intercedeu para
que o tal baile não se realizasse. Já o mestre Pedrinho relatou que
o cabra que propôs o baile era Volta Seca, espécie de mascote do
bando, pois contava com apenas 14 ou 15 anos de idade. E segundo o
depoente, Lampião determinou que Volta Seca entrasse na marinete
de “seu” Joia e dali não saísse, recusando, assim, a proposta do baile.
Se o baile tivesse se realizado, teria sido uma perdição para as moças.
Consta que Lampião distribuiu bolachões e moedas entre os
meninos que faziam aglomeração em torno dele, conforme depoimento
prestado ao autor por Otoniel Soares dos Santos, nascido a 15
de setembro de 1916, e falecido no início de 2013. Otoniel, então
com treze anos, estava no meio daqueles meninos. Afonso Vieira
afirmou que os bolachões saíram da padaria de Álvaro Brito, que fora
intendente e deputado estadual.
Lampião foi para Capela no automóvel de Otacílio José de
Menezes, enquanto o bando seguiu na marinete de Joel Barreto de
Souza, “seu” Joia. Dita marinete era, na verdade, uma improvisação
sobre o chassi de um caminhão Ford, modelo 1924, que fazia a
linha regular entre Dores e Capela, após a inauguração da estrada
de rodagem entre as duas cidades, em 1926, como afirmou, no
depoimento alhures referido, Pedro Vieira Teles. Alguns autores falam
em dois (FERREIRA et AMAURY, 1999, p.175), três (MACIEL, 1987,
p. 38; FERREIRA et AMAURY, 1997, p. 135) e até quatro veículos
(CHANDLER, 1980, p. 136; FONTES, 1996, p. 122-123). Mas é
corrente em Dores que foram dois veículos, como já relatado: o de
Otacílio e a marinete.
Montado no seu cavalo, o Cel. Figueiredo escoltou os
bandoleiros até a saída da cidade, como disse Otoniel Soares dos
Santos, em seu depoimento. Isto, contudo, o próprio coronel não
relatou em sua entrevista. Nem precisava. Afinal, é curioso que ele,

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sendo um dos fazendeiros mais ricos da cidade, não estava no rol


dos homens que foram forçados a contribuir para formar a “bolsa”
exigida pelo cangaceiro-chefe.
De Capela, o bando de Lampião seguiu para Aquidabã. Em
Dores, os celerados fizeram uma boa “arrecadação”. Fala-se que a
extorsão rendera uma considerável quantia, que, segundo os mais
diversos depoimentos, varia entre 3:000$000 (três contos de réis) e
25:000$000 (vinte e cinco contos de réis), como já foi dito. São dizeres
dos populares, sem comprovação.
O acadêmico José Anderson Nascimento, por exemplo,
que muito conversou com um dorense, Rivadávia Brito Bonfim
(08.02.1920-18.09.1991), que, à época, era uma criança de 9 anos
de idade e, como outras crianças, estivera no cenário da “visita” de
Lampião, e, mais ainda, era filho do Intendente Manoel Leônidas,
diz que a “coleta” rendera “dois contos, cento e oitenta e hum
mil réis” (1996, p. 205). Vera Ferreira, neta legítima de Lampião,
e Antônio Amaury afirmam, sem, contudo, citar fontes, que a
extorsão em Dores rendera “quatro contos e quinhentos mil réis,
num procedimento que alguém chamou de ‘saque elegante’” (1999,
p. 174). Como visto, há quem fale em dois, três, quatro, cinco, dez
contos de réis e por aí afora. Os valores citados são os mais díspares
possíveis. Quem irá saber?
No depoimento anteriormente referido, Afonso Rodrigues
Vieira, que fora, durante muitas décadas, um dos mais prósperos
e probos comerciantes dorenses, no ramo de tecidos, e, em 1929,
contava com 26 anos de idade, disse ao autor deste artigo, o seguinte:
“Cada um dos cinco homens chamados por Lampião teve de dar três
contos de réis, enquanto o Padre Marinho e o Intendente, de posse
de uma lista, arrecadaram outros dez contos de réis”. A forma das
coletas foi confirmada por Pedro Vieira Teles, que, contudo, não
soube precisar o numerário. Tomando a versão de Afonso, teriam
sido coletados, então, vinte e cinco contos de réis. Parece uma
quantia por demais vultosa, para ser extorquida numa cidade como
Dores, naquela época, embora ela fosse uma cidade próspera, com
muitas usinas de beneficiar algodão, além de ser um dos Municípios
que produzia o melhor algodão de Sergipe, como atestam os mais
diversos escritos, em livros e jornais, desde o fim do século XIX até a
década de 1940, quando o algodão definharia para dar lugar ao gado
bovino, que voltaria a ser a base da economia dorense, até os dias de
hoje. Acima de tudo, era dia de feira e estava-se no meio da tarde, o
que teria facilitado a extorsão. E como não havia Bancos na cidade, o
dinheiro era guardado no cofre caseiro ou no colchão.
Entretanto, o que deve ser analisado, de antemão, é o seguinte:
considerando que Lampião surrupiou três contos de réis, como disse
o Cel. Figueiredo, sendo esta a menor quantia de que ainda hoje
se fala em Dores, ressalvada a quantia citada por José Anderson

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Nascimento, ele roubou do povo dorense, no mínimo, o equivalente


a quase 10% (dez por cento) da receita orçamentária da Intendência
Municipal de Nossa Senhora das Dores daquele ano, estimada em
pouco mais de 30:000$000 (trinta contos de réis). Era, de qualquer
forma, muito dinheiro, até mesmo para uma cidade que possuía mais
de uma dezena de usinas de beneficiar algodão. E era famosa pelo
algodão de boa qualidade que plantava e colhia. Para ter uma ideia
mais nítida da força do algodão dorense, em matéria publicada em
16/07/1930, a Gazeta de Sergipe afirmava:

Há muito que a reputação do município de Dores


se há firmado nos mercados algodoeiros do sul,
por seu produto de ter ali tornado merecedor das
benemerências de um tipo à parte – “Tipo DORES’”.

Adiante, fez uma avaliação da safra dorense, constatando


que a mesma renderia 845:385$000 (oitocentos e quarenta e cinco
contos, trezentos e oitenta e cinco mil réis) aos produtores, dentre os
quais um merecia destaque especial: “Louvamos, portanto, o êxito de
Dores e, dentro desse município, a vanguarda desassombrada do Sr.
Otacílio José de Menezes”. Ou seja: referia-se ao condutor ocasional
de Lampião, no trajeto Dores/Capela. A matéria, muito mais extensa,
foi assinada por Heitor Airlie Tavares, agente governamental da Seção
de Classificação de Algodão.
Em Capela, segundo Ranulfo Prata (s/d, p. 87) Lampião, ao
fazer um pagamento, deixara à mostra “várias notas de 500$000
(quinhentos mil réis), gabando-se que com ele levava três coisas:
coragem, dinheiro e bala. Mas também na “Princesa dos Tabuleiros”
o bandoleiro exigira a sua “bolsa”, inicialmente estipulada em 20
contos de réis, mas “contentando-se depois com o que foi conseguido,
5 contos e pouco” (PRATA, s/d, p. 86). Fala-se também em seis contos
de réis, arrecadados em Capela.
Um dos crimes recorrentes de Lampião era exatamente
o saque. Ranulfo Prata afirma que o bandoleiro costumava
carregar o produto dos saques numa mochila “papo de ema”,
onde só guardava “dinheiro em cédulas de números graúdos, bem
acamadas, cabedal que atinge, nos tempos de boas colheitas, 70
a 80 contos” (s/d, p. 29).
Passada a “visita” de Lampião, a Intendência Municipal de
Nossa Senhora das Dores (Prefeitura) contratou homens armados para
fazer a defesa da cidade, que se postavam nas principais entradas.
Eram as “trincheiras”, assim chamadas. Uma delas ficava na esquina
da atual Rua Edézio Vieira de Melo (antiga Rua de Sucupira) com
a Rua Benjamin Constant (antiga Rua da Tapagem), comandada
por um sujeito de nome Batista. E o chefe de outra delas era José

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Raimundo, pai de Elpídio sobre quem se falara adiante.


Há, inclusive, registros de folhas de pagamento de algumas
dessas pessoas, embora datadas de 1932, quando já era Intendente
Municipal Raul Silveira. Numa dessas folhas encontradas no arquivo
da Prefeitura Municipal de Nossa Senhora das Dores, datada de
8 de agosto daquele ano, constam os nomes de Enock Menezes
Campos, Pedro Francisco Dantas, Antônio Pedro Santos, Brasilino
Vieira, Ludugero, João Andrade e Arnaldo Gomes, como “pessoal
no serviço de defesa da cidade, em repressão ao banditismo nesta
semana finda”. Cada um ganhava diária de 1$500 (mil e quinhentos
réis), exceto Ludugero, que recebia diária de 3$000 (três mil réis),
devendo ser, à época, o chefe. Noutra folha, de 14 de novembro de
1932, consta apenas o nome de Zeca de Bem Dona, como “pessoal
da patrulha em auxílio à força aqui aquartelada nesta semana finda”.
Pelo teor do escrito na folha, é de supor que havia outros nomes, pois
se faz menção “ao pessoal da patrulha”. Claro, não que seria apenas
uma pessoa a formar a patrulha aludida.
Outras folhas de pagamento não foram encontradas,
lamentavelmente. Todavia, registra-se, em 10 de agosto de 1932, a
autorização de pagamento da quantia de 188$000 (cento e oitenta e
oito mil réis), referente a “passagens desta cidade a de Capela para
a Força Pública do Estado e para o 28 BC”. Estariam essas forças
militares dando caça aos cangaceiros? Na época, entretanto, não se
teve notícias de Lampião por estas bandas.
Voltemos, agora, a 1930, ou seja, à segunda passagem de
Lampião por Dores, quando ele matou José Elpídio dos Santos, daí
resultando o único processo criminal aberto contra Lampião em
Sergipe. Era 15 de outubro. Desta feita, Lampião fizera o caminho
inverso: Aquidabã, Capela e Dores. A segunda passagem do bando de
facínoras não seria mais pacífica.
Batido por populares em Capela, após várias atrocidades
cometidas em terras de Aquidabã e propriedades encontradas pelo
caminho, incluindo-se alguns assassinatos, como relata Ranulfo Prata
(s/d, p. 94-95), Lampião tomara o rumo de Dores, onde as trincheiras
o aguardavam. Precisa deve ter sido a mensagem do telégrafo enviada
de Capela, relatando os sucessos daquele dia. Disso ele sabia muito
bem, pois tinha uma eficiente rede de informações. E tanto assim
era que, chegando ao subúrbio Cruzeiro das Moças, por volta das
oito horas da noite, e temendo reação idêntica à de Capela, dirigiu-
se à casa de Elpídio, perguntando-lhe: “Você não é Elpídio, filho de
José Raimundo das trincheiras? Vamos já, me mostre onde ele está e
quanta gente tem nas trincheiras”. É de notar que Lampião fora direto
para a casa do filho de um dos chefes dos guardiões da cidade, José
Raimundo, também conhecido por “Zé Fateiro”, pois vendia fato de boi
fresco na feira da cidade, conforme depoimento de Pedro Vieira Teles.
Como Lampião soubera que ali residia quem lhe interessava? Por isso

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foi dito que a rede de informações de que ele dispunha era eficiente. A
conversa de Lampião acima transcrita consta do depoimento prestado
pela viúva de Elpídio, Maria da Conceição, também conhecida por
Clemência, nos autos do processo mencionado. Pelo que consta do
citado processo, o bando de Lampião, desta vez, dobrara, em relação
ao que estivera em Dores no ano anterior: eram 18 cangaceiros.
A partir daquele momento, os fatos que se seguiriam foram,
em resumo, os seguintes, como constam do processo:
1 Sequestrou Elpídio, amarrando-o em um dos cavalos que
serviam de montaria ao bando.
2 Adiante, rumando pelas cercanias da cidade, sequestrou
Antônio da Silva Leite, que encontraram no caminho, temendo, claro,
que ele delatasse o bando. Antônio escapou das garras dos bandidos
na bodega de Santo.
3 Saqueou a bodega de Manoel Martins Xavier (Santo
Bodegueiro), que não se encontrava em casa, e sequestrou sua mulher,
Sergina Maria de Jesus, também conhecida por Constância, deixando
os seus filhos pequenos sozinhos, sem os cuidados maternos.
4 Sequestrou Pompílio da Silva, que se dirigia à cidade para
comprar querosene, mas que conseguiu fugir, na fazenda Candeal,
enquanto o bando ali dormia.
5 Dormiu com a mulher de Santo (o braço dela amarrado na
perna dele). Lampião e Sergina dormiram no mandiocal, enquanto os
cabras dormiram na beira da estrada, segundo depoimento dela.
6 Na madrugada de 16 de outubro, matou Elpídio e mandou
Sergina voltar para casa.
No laudo de corpo cadavérico, consta que o corpo da vítima estava
perfurado a balas, e havia, ainda, um “rendilhado” de punhal. Os
dedos das mãos, sob as unhas, estavam perfurados e a barba estava
queimada. Ou seja, Lampião e o seu bando sinistro torturaram Elpídio,
antes de matá-lo, com requintes da maior crueldade e covardia.
A vítima morreu, mas não delatou o pai e os que se encontravam
com ele, na defesa da cidade. Um homem de coragem. Coragem
que Lampião não demonstrou, pois não teve tutano para entrar na
cidade, preferindo, assim, assassinar o pobre Elpídio, num ato típico
dos covardes, que, contudo, se mostram cruéis. Aliás, no depoimento
prestado por Pompílio da Silva, nos autos do processo, foi dito que
“a vítima deste processo ia à frente do grupo sinistro, sendo que a
vítima ia amarrada pelo pescoço do cavalo em que ia montado um
dos cabras” e que “ia calado, nu da cintura para cima, com a cabeça
descoberta, parecendo com um mártir”.
7 Sequestrou o vaqueiro Jason Teixeira de Vasconcelos, na
fazenda Candeal, para mostrar ao bando a casa de um tal Janjão,
no caminho para o povoado Taboca. Jason foi solto logo depois, a
pedido. E Janjão conduziu o bando ao povoado. Depoimento dele
no processo.

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8 Saqueou, na Taboca, as bodegas de José Gomes e da viúva


do finado Cezário, espancando-a, pois esta não tinha dinheiro para
lhe dar.
9 Matou um pobre rapaz, que era alienado mental, na saída
da Taboca. Dito rapaz teria mexido com o cavalo de Lampião,
segundo dizem. No processo, há menção a essa morte, mas não
se abriu inquérito por conta desse outro bárbaro assassinato. Por
quê? Por tratar-se de um pobre alienado mental, morador de um
pequeno povoado?
10 Castrou Pedro José dos Santos, vulgo Pedro Batatinha,
que vinha da Malhada dos Negros, a fim de arrancar um dente, em
Dores, que não lhe deixava trabalhar há vários dias. Chegando ao
povoado Taboca, Batatinha ouvira dois disparos. Era o assassinato
do alienado mental.
Ranulfo Prata relata o ocorrido, segundo depoimento que lhe
prestara o próprio Pedro Batatinha:

Prosseguindo, encontrou o bando de Lampião


cercando o cadáver de um homem que acabava de
ser assassinado naquela horinha. Foi logo cercado e
revistado, tomando-lhe a quantia de 20$000, único
dinheiro que trazia. Obrigaram-no, em seguida, a
voltar com eles, e ao chegarem ao povoado “Cachoeira
do Tambory” [na verdade, o nome do povoado é Lagoa
dos Tamboris], apearam-se todos, dispersando-se
pelas casas da povoação e ficando ele, Batatinha,
preso entre dois do bando, no terreiro da casa de
Sinhosinho, casado com uma sua prima, onde fora
Lampião sentar-se em um tamborete, na saleta da
frente, à espera de um café que mandara fazer. Os
dois bandidos começaram, então a surrá-lo a chicote
de três pernas, ambos ao mesmo tempo, sem motivo,
sem quê nem pr’a quê.
Empolgou-se de tamanho terror que não
sentiu dores.
Após a sova, eis que chega um terceiro, de apelido
“Cordão de Ouro”. Ordena-lhe que descesse as calças
e, segurando-lhe os dois testículos, cortou-os de um
só golpe, atirando-os fora, debaixo das gargalhadas
e chacotas dos companheiros.
Disse-lhe o facínora:
- Quem lhe fez isto foi “Cordão de Ouro”, é a lei que
manda e tenho feito em muitos.
Lampião, calado, assistiu à cena, perguntando,
depois, ao castrador:
- Corto tudo?
Não, respondeu-lhe este. Deixe o resto porque o
rapaz é novo (s/d, p. 97-98).

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Encurtando a história, que é longa, os bandidos ainda deram


pontapés e pranchadas de punhal em Batatinha. Lampião ao montar,
aproximou-se dele, sacou do punhal e cortou-lhe um pedaço da
orelha esquerda, acrescentando:

- É um garoto que precisa sê marcado, p’ra eu


conhecê quando encontrá.
E voltando-se para as pessoas presentes, preveniu-
lhes: “— Vocês trate do rapais senão quando eu
passá aqui arrazo cum vocêis todo” (PRATA, s/d.,
p. 98).

Batatinha, enfim, fora socorrido pelo Dr. Belmiro Leite, em


Aracaju. Escapou e, segundo informações colhidas, morreu, na
década de 1990, em São Paulo. Além de Ranulfo Prata, alguns
autores que escreveram sobre Lampião registraram o fato da
capação de Batatinha. O autor fecha o episódio narrado em seu
livro da seguinte maneira:

Ao lado de todas estas tragédias, a nota burlesca:


Depois de ouvirmos o pobre Pedro e fotografá-lo,
conversamos também com um dos seus irmãos,
que nos informou na sua linguagem pitoresca de
tabaréu malicioso:
— Pedro casou, ta gordinho que nem “bicho de
dicuri”, e sem bigode. Penso que ele não dá conta
do matrimonho; regula duas muié numa cama...
(s/d, p. 98).

Foi apenas isso que Lampião praticou em Dores, entre 15 e


16 de outubro de 1930. Ou seja, pouquinha coisa... Quase nada...
Sujeito bom, Lampião, hein? De finíssimo trato!
Com relação ao processo, o mesmo foi resultado do inquérito
policial instaurado pela Portaria de 16 de outubro de 1930, a cargo
do delegado Antônio Paes de Araújo Costa. Funcionou como escrivão
Petronilho Menezes Cotias; como promotor adjunto, atuou Artur Dias
de Andrade, genitor de José Barreto de Andrade, antigo e conceituado
comerciante em Aracaju, já falecido. O promotor adjunto apresentou
a respectiva denúncia em 19 de dezembro de 1931; como juiz
municipal do Termo de Nossa Senhora das Dores, funcionou Nicanor
Oliveira Leal, que seria, tempos depois, desembargador, e que tinha
larga parentela em Dores. Mais tarde, funcionaria no processo, como
promotor público, Joel Macieira Aguiar, que também se tornaria
desembargador, e que às fls. 37 dos autos deixou esta mensagem:

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Seja-me, pois, permitido, como Promotor Público


da 6ª Comarca, com sede em Capela, deixar nestes
autos os meus aplausos à justiça do termo de Dores
por ter instaurado processo contra o grande bandido
Virgulino Ferreira.

Não será custoso lembrar que, pela organização judiciária de


Sergipe, na década de 1930, Dores era Termo da Comarca de Capela.
E formidável, sem dúvida, é a certidão passada pelo Oficial de Justiça
Januário Bispo de Menezes, em 26 de dezembro de 1931, que diz:

Certifico que, em cumprimento do mandado retro,


fui ao Sítio Assenço, deste termo e, nesta cidade,
intimei todas as testemunhas constantes do mesmo
mandado. Ficaram todas bem cientes, deixando de
intimar o denunciado de folhas, Virgulino Ferreira,
conhecido por Lampião, por não ter, graças a Deus,
visitado esta cidade aquela indesejável fera. O
referido é verdade, do que dou fé.

Enquanto em Nossa Senhora das Dores a população amanhecia


estarrecida com a morte brutal de Elpídio, na manhã daquele dia 16
de outubro de 1930, a situação política fervia em Aracaju.
Ariosvaldo Figueiredo relata: “Às 6 horas da manhã de
16/10/1930 avião sobrevoa Aracaju, deixa cair Manifesto de Juarez
Távora, intitulado ‘Aos briosos camaradas do 28 BC e ao heróico povo
da nobre terra de Tobias Barreto’” (1989, p. 205).
Ibarê Dantas registra:

Depois que um avião, na manhã do dia 16.10.30,


distribuiu em Aracaju manifestos dando conta do
avanço das forças revolucionárias, provenientes
do Norte, em direção à capital, o Presidente do
Estado fugiu e o capitão Aristides Prado, de acordo
com Juarez Távora, empossava o tenente-médico
Eronides de Carvalho como Governador Provisório
do Estado de Sergipe (1983, p. 46).

Nossa Senhora das Dores perderia a oportunidade de ter um


dos seus filhos, Chico Porto, governando os destinos de Sergipe. E
ficaria, naquele fatídico 16 de outubro, de enterrar outros dois dos
seus filhos, José Elpídio dos Santos e o rapaz da Taboca – cujo nome
não se registra –, barbaramente assassinados pelo “capitão” Virgulino
Ferreira da Silva, vulgo Lampião, o decantado “rei do cangaço”, e seu
bando sinistro. Mas, capitão ou rei, cangaceiro é cangaceiro, bandido

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é bandido. Mesmo que seja romanticamente denominado de bandido


social. Bandido social...?
É uma pena que não se tenha dado a uma rua do, hoje,
bairro Cruzeiro das Moças, o nome de Elpídio, que morreu sem trair
a sua cidade. Há pessoa mais digna do que ele para ser lembrado
para sempre pelos dorenses? Mas, é bem verdade que Elpídio não
era doutor, nem um homem ilustrado ou rico. Não era morador
da Praça da Matriz. Alguém o conhecia? Era apenas um homem
simples do povo. E um homem simples do povo, na visão caolha
das chamadas “elites dominantes” (o que é isso?), não é merecedor
de ter o seu nome gravado numa rua. A hipocrisia das pessoas é de
uma estupidez sem tamanho!

Referências bibliográficas
1 CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião, O Rei dos Cangaceiros.
Tradução de Sarita Linhares Barsted. São Paulo: Paz e Terra, 1980.
2 DANTAS, José Ibarê da Costa. Revolução de 1930 em Sergipe – Dos
Tenentes aos Coronéis. São Paulo: Cortez Editora/UFS, 1983.
3 FERREIRA, Vera et AMAURY , Antônio. O Espinho do Quipá –
Lampião, a História. São Paulo: Oficina Cultural Mônica Buonfiglio,
1997.
4 __________ De Virgolino a Lampião. São Paulo: Idéia Visual Editora,
1999.
5 FIGUEIREDO, Ariosvaldo. História Política de Sergipe. 2° Vol.
Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1989.
6 FONTES, Oleone Colho. Lampião na Bahia. 2 ed. Petrópolis: Editora
Vozes, 1996.
7 MACIEL, Frederico Bezerra. Lampião, Seu Tempo e Seu Reinado.
Volume IV – A Campanha da Bahia. Petrópolis: Editora Vozes, 1987.
8 MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem Foi Lampião. Recife/
Zürich: Editora Stähli, 1993.
9 NASCIMENTO, José Anderson. Cangaceiros, Coiteiros e Volantes.
Aracaju: Academia Sergipana de Letras, 1996.
10 PENNA, Lincoln de Abreu. Uma História da República. Rio de
Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1989.
11 PRATA, Ranulfo. Lampião. São Paulo: Traço Editora, s/d.
12 VIANNA, Hélio. História do Brasil. 12 ed. São Paulo: Edições
Melhoramentos/Editora da USP, 1975.
13 VINCENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo: Editora Scipione,
2000.
14 WYNNE, J. Pires. História de Sergipe (1930-1972). Vol. II. Rio de
Janeiro: Editora Pongetti, 1973.

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