Nas Atas da Loja

Piratininga, e a
Revolução de 32

r'"""n-~I o Golpe de 1930

Em 1932, vivia, o Brasil,

sob o regime implantado pelo
golpe de 1930. Neste ano,
~~~;11)j~Z"'~~1 o país já enfrentara uma
conturbada situação político-
social, quando a oposição ao
Trincheira
montada pelos
governo da República já vinha
paulistas na se movimentando desde as
Revolução
Constitucionalista eleições de março - vencida
para resistir às
tropas do governo
pelo candidato oficial, Júlio
Prestes de Albuquerque -
conspirando, para promover
__ J_o_se_' C_as_t_ella_n_i * ----! o levante armado contra o
governo.
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4S
1999
 o estopim da revolta fora o assassinato de
João Pessoa, governador da Paraíba, o qual fora
candidato a vice-presidente na chapa de oposição,
encabeçada por Getúlio Vargas. Pessoa foi morto a
tiros, por João Duarte Dantas, por simples questões
familiares da Paraíba - muito comuns, na região
Nordeste, na época - e sem qualquer motivo
político, mas o fato foi, matreiramente, aproveitado
pela oposição. A revolta ocorreria a 3 de outubro,
partindo dos três Estados ligados pela Aliança
Liberal: do Rio Grande do Sul, partiam as tropas
do Exército e da Polícia, comandadas pelo tenente-
coronel Góis Monteiro; partindo da Paraíba, o
capitão Juarez Távora conseguia dominar todos
os Estados do Norte e do Nordeste; e, em Minas
Gerais, eram dominados os focos fiéis ao governo
federal e as tropas ameaçavam os governos do Rio
de Janeiro e do Espírito Santo.
Na Loja Piratininga - fundada a 28-8-1850
- uma das mais tradicionais de S. Paulo, a 15 de
outubro de 1930, o Venerável Mestre comunicava
que, devido à situação anormal que atravessava o
país, aquela sessão fora marcada para as 16,45 hs.
e fora, também, resolvido suspender as sessões até
novo aviso. Na mesma ocasião, por proposta de
Alfredo Pacheco, considerando o fechamento dos
bancos e a situação de crise institucional, com o
estado de sítio, era aprovado um auxílio a todos
os Irmãos do quadro, na medida do possível.
Posteriormente esse auxílio seria aprovado e
fixado em 500 mil réis, por resolução da Diretoria
da Loja.
Durou pouco, porém, a resolução de
suspender os trabalhos, pois, a 12 de novembro, o
Venerável comunicava que a Loja reencetava os
seus trabalhos, porque "dado o golpe de Estado
de 24 do p.p. mês de outubro, tambem de
accôrdo com a circ.: aos oobr.: deste quadr.:,
enceta hoje ella novamente os seus trabalhos,
fazendo votos pela pacificação da familia
brasileira". 24 de outubro, foi o dia em que o
presidente constitucional, o maçom Washington
Luís, foi deposto, assumindo uma junta militar, que
apenas esquentaria o lugar para o caudilho Getúlio
Vargas, chefe civil do movimento.
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A Revolução Constitucionalista
Em 1932, já voltara a ser tensa a situação
político-social do país, pela demora do Governo
Provisório, do caudilho Getúlio Vargas, em
providenciar uma nova Constituição ao Brasil. À
euforia dos primeiros momentos após o golpe, sucedia
o desencanto, seguido da inquietação, que acabaria
envolvendo os meios maçônicos. E essa inquietação,
com a conseqüente agitação dos meios sociais, ::,a
mais forte em São Paulo, levando à extrema irritação
os que, anteriormente, eram os mais fervorosos
adeptos do levante, ou seja, os membros do Partido
Democrático, os quais se sentiam esbulhados do poder,
por interventores militares e estranhos ao Estado de
São Paulo. Já a partir do início de 1931, da pena do
advogado, jornalista e tribuno Ibrahim Nobre, maçom
originário da Loja Fraternidade de Santos, saiam
críticas mordazes contra o golpe e a situação social,
publicadas no jornal paulista "A Gazeta".
No início de 1932, então, o pensamento da
população de São Paulo seria cristalizado na expressão
"Civil e Paulista", repetida pelos meios de
comunicação, externando o desejo de ter um interventor
federal que não fosse militar e que fosse de São Paulo.
A 3 de março, ouvindo o clamor dos paulistas, o ditador
nomeava, para o cargo, o embaixador Pedro de Toledo,
ex-Grão-Mestre do Grande Oriente Estadual (1908-
1914), o qual assumiria no dia 7. Essa indicação,
todavia, não serviu para aliviar o mal-estar e a tensão
reinantes em diversos pontos do país, começando, dessa
maneira, a fermentar a revolta.
As reuniões preparatórias do movimento foram
levadas a efeito na sede dojornal "O Estado de S. Paulo",
fundado, em 1875,com idéias republicanas, pelos maçons
Américo de Campos (Loja América), Francisco Rangel
Pestana (LojaAmérica ), Manoel Ferraz de Campos Salles
(Loja Sete de Setembro) e José Maria Lisboa (Loja
Amizade). Nessa época, o jornal já era dirigido por Júlio
de Mesquita Filho (Loja União Paulista lI), que era um
dos principais líderes do movimento.
O estopim da revolta já havia sido aceso a 23
de maio de 1932, quando, durante uma manifestação,
na praça da República, alguns jovens - Mário
MARTINS de Almeida, Amadeu MARTINS, Euclides
 MIRAGAIA, DRÀUSIO Marcondes de Sousa e levante aconteceria no dia 20, sob o comando de
Antônio Américo de CAMARGO, cujos nomes deram Isidoro e do coronel Euclides Figueiredo.Pedro de
origem ao M.M.D.C. (1) - foram mortos pela polícia Toledo ainda tentou evitar a revolta, mandando seu
política da ditadura, entrincheirada nos altos de um genro ao Rio de Janeiro, no dia 8, para conferenciar
prédio da rua Barão de Itapetininga. No mesmo dia, com Vargas. Todavia, em nova reunião, nesse dia,
era reorganizado o secretariado do governo paulista. resolveu-se deflagrar o movimento no dia 10, antes
Estranhamente, em sessão de 25 de maio, da que chegasse a S. Paulo o gal. Pereira de Vasconcellos,
Loja Piratininga, para a eleição da administração, no para assumir o comando da Região Militar.
período 1931-1932, nada se comentou sobre esse fato No dia 6 de julho, aparentemente, os obreiros
marcante, preferindo, os obreiros, deter-se sobre uma da Piratininga ainda não se tinham dado conta da
crise no Grande Oriente do Brasil, onde rebeldes grave situação, embora o Grão-Mestre estadual,
contestavam a autoridade do Grão-Mestre, Octávio Marrey Júnior, um dos líderes do Partido Democrático,
Kelly, ao qual a Piratininga apoiava, totalmente, na estivesse a par de todo o movimento, como a maioria
Assembléia Geral. de seus companheiros de partido.
Júlio de Mesquita Filho, depois de ter A 9 de julho, um sábado, a revolta
conseguido organizar uma frente única dos partidos constitucionalista estava nas ruas. Embora algumas
de S. Paulo, entrou em entendimento com líderes da obras didáticas situem o início do movimento às 24
Frente Única Sulriograndense, nas pessoas de João horas desse dia, ele eclodiu às 11,40 hs., sob o
Neves da Fontoura e Glicério Alves. Pelo Rio Grande comando de Euclydes Figueiredo, com a tomada do
do Sul, com concordância do interventor, Flores da Q.G. da 2a Região Militar. No mesmo dia, às 23,15
Cunha, foi firmado um pacto entre paulistas e hs., as sociedades de rádio eram tomadas por civis e,
riograndenses, o qual os obrigava a recorrer às armas, a partir das 24 horas - daí a confusão de alguns
caso o interventor de um dos dois Estados fosse autores - começava a ser repetida a seguinte
destituído, ou se houvesse a substituição do mensagem:
gal. Andrade Neves do comando da região militar do De accordo com a Frente Unica Paulista e
Rio Grande do Sul, ou do gal. Bertholdo Klinger, da com a unanime aspiração do povo de São Paulo e
guarnição de Mato Grosso. O governo ditatorial reagia por determinação do general Izidoro Dias Lopes, o
ao movimento, tentando asfixiar o Estado de S. Paulo coronel Euclydes Figueiredo acaba de assumir o
e, enquanto o governo paulista prevenia-se, para não comando da 2"Região Militar tendo como Chefe do
sofrer um golpe de surpresa, na Capital Federal, vários Estado Maior o coronel Palimercio de Rezende. A
fatos políticos e militares levavam à exoneração do oficialidade da Região assistiu incorporada no QG
ministro da Guerra, a 28 de junho, com a nomeação à posse do coronel, nada havendo occorrido de
do general Espírito Santo Cardoso, há muito tempo anormal. Reina em toda a cidade intenso jubilo
reformado e afastado da tropa. Isso suscitou a revolta popular e o povo se dirige em massa aos quartéis,
de Klinger, externada num agressivo ofício, datado pedindo armas para a defesa de São Paulo.
de 1 de junho, dando conhecimento do que resolvera,
0

a Pedro de Toledo. Exonerado, por isso, estava criado No dia 10, o interventor Pedro de Toledo era
o motivo suficiente, que fora exigido por Flores da aclamado, pelo povo, pelo Exército e pela Força
Cunha, para que o Rio Grande entrasse na luta. Ele, Pública, governador de S. Paulo. No dia 12, o general
todavia, além de não cumprir o acordo, ainda enviaria Bertholdo Klinger desembarcava na Estação da Luz
tropas contra São Paulo. e, no QG da 2a. R.M., na rua Conselheiro Crispiniano,
Em reunião realizada no dia 7 de julho, com a diante do microfone da Rádio Educadora Paulista,
presença de Francisco Morato, Ataliba Leonel, Sílvio recebia o comando da região de S. Paulo, transmitido
de Campos, coronel Júlio Marcondes Salgado e por Euclydes, que, na tarde do mesmo dia, iria para
general Isidoro Dias Lopes, ficou decidido que o Cruzeiro, onde assumiria o comando da vanguarda
das tropas constitucionalistas.
No dia 13 de julho, o Venerável Mestre da
Piratininga comunicava, aos obreiros do quadro, que,
devido à situação anormal que atravessava o país,
aquela sessão era realizada às 16 horas, assim como
seriam as seguintes, até que tudo se normalizasse.
Nessa ocasião, João José Vaz de Oliveira, um dos mais
antigos obreiros do quadro, depois de dizer que a Loja,
que sempre aplaudira os grandes feitos e, quando
oportuno, para eles sempre concorrera, não podia
deixar de mencionar, em ata, os seus votos pela
pacificação da família brasileira, referia-se "àsituação
anormal em que está todo o Brasil, à tradicional
coragem e acção deste Estado, cujos filhos sempre
vibraram de patriotismo". Referia-se, também, "aos
boatos de ser intenção dos riograndenses o a próxima sessão seria realizada a 14 de setembro.
bombardeio desta capital, intenção essa que,
afiança, não pode se aninhar no coração daquelles
nossos patricios". Só que a intenção das tropas
enviadas por Flores da Cunha era essa mesma!
A 14 de julho, convocada pelo Grão-Mestre
estadual de S. Paulo, José Adriano Marrey Júnior,
houve uma reunião dos Veneráveis das Lojas da
Capital, à qual o Venerável Mestre, Custódio Pereira,
não pôde comparecer, enviando, como representante
da Piratininga, o capitão Alfredo Pacheco. Nessa
reunião, foi solicitado o apoio das Lojas à causa
paulista, o auxílio às famílias dos maçons, que tivessem
seguido para as frentes de batalha, e a colaboração de
todos os maçons, que pudessem tomar parte, de
alguma maneira, nessa luta de São Paulo.
Diante disso, em sessão da Piratininga, a 20
de julho, Manoel da Silva Mattos informava que tinha
dois filhos na frente de batalha, sendo, um deles, o
obreiro do quadro, Roberto; Vaz de Oliveira
comunicava que os Irmãos Felippe de Godoy Vaz de
Oliveira (seu filho) e Gonzaga Chaves prestavam
serviços no policiamento da capital, assim como os
filhos de Ramon Roca Dordal e Manoel Antônio de
Carvalho, também membros do quadro; Esteves de
Moura e Garcia Terra Jr. comunicavam que já haviam
se alistado nos batalhões que estavam sendo formados;
Alfredo Pacheco dava conta de que seu filho e membro
do quadro, Pacheco Jr. , havia seguido para a frente
de batalha logo no início da movimentação de tropas,
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como membro do Batalhão Universitário 14 de Julho;
Adolpho Eisele de Carvalho encontrava-se na frente
de batalha. E Benedicto Pinheiro Machado Tolosa -
professor de Obstetrícia e futuro fundador da Pro-
Matre Paulista - com sua mulher, Dna. Clara, atuava
nos hospitais de sangue, no apoio médico às tropas
constitucionalistas.
Resolvia, também, a Loja, participar das
campanhas para angariar donativos, que mantivessem
o movimento, organizadas pelo Grande Oriente
Estadual e pelas Classes Laboriosas.
No início de setembro, aparentemente, a Loja
teve que interromper, abruptamente, os seus trabalhos,
diante dos acontecimentos no Estado, pois, em sessão
de 31 de agosto, o Venerável Mestre comunicava que
Mas, a ata seguinte é de 3 de novembro, depois de
encerrado o movimento revoltoso.
Deixados sozinhos, na luta pela Constituição e
pelo Brasil, os combatentes de S. Paulo, sem recursos,
iriam resistir durante três meses. Sem o esperado apoio
de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, as tropas
paulistas, que ocuparam o vale do Paraíba, ao longo
da Estrada de Ferro Central do Brasil, não
conseguiram avançar além da divisa com o Estado do
Rio. O bloqueio do porto de Santos e a grande
concentração de forças federais, vindas de todos os
Estados, venceram a resistência dos soldados paulistas,
graças ao esgotamento de seus recursos.
A 28 de setembro, a luta chegava ao fim. Sem
que o governo civil fosse consultado, Klinger enviou
emissários aos adversários, com propostas de paz e
um telegrama a Vargas propondo suspensão do
conflito. Fracassados os entendimentos, porque os
termos do annistício eram humilhantes para São Paulo,
elementos do comando geral da Força Pública - seu
comandante, Júlio Marcondes Salgado, extraordinário
defensor da causa paulista, havia falecido num estúpido
acidente com uma granada - sob o comando do
coronel Herculano Silva, assinaram a vexatória
rendição, na noite de 1 para 2 de outubro,
0
submetendo-se ao governo ditatorial, em troca de
vantagens para os seus oficiais. Herculano foi indicado
- prêmio? - para assumir o governo e, no dia 2, às
15,30 hs, mandava três oficiais seus, ao palácio dos
 Campos Elíseos, para depor Pedro de Toledo (2).
A voltar, a Piratininga, à atividade, a 3 de
novembro, o Venerável Mestre comunicava que,
embora tivesse, a Loja, deixado de funcionar por
determinação superior - do Grande Oriente de S.
Paulo, dirigi da a todas as suas Lojas - mas que a sua
diretoria havia continuado a se reunir, semanalmente,
para tomar conhecimento do expediente e para
resolver os assuntos mais urgentes. E Vaz de Oliveira,
interpretando o pensamento da Piratininga e de todo
o povo paulista, dizia que "não pode deixar de saudar
ao povo paulista pela dedicação, patriotismo e
heroísmo, que tão fortemente demonstrou na guerra
em que se empenhou, heroísmo que igual, quanto
mais maior, em nenhuma guerra aponta a história,
mesmo na mundial, bem como não pode ser
apontada maior traição do que a sofrida pelos
paulistas, para cujos traidores deve todo maçom
conscio dos seus deveres, evitar convivio, votando-
lhes desprezo".
A Constituinte de 1934
Em novembro de 1933, diante da instalação da
Assembléia Nacional Constituinte, que era a aspiração
dos paulistas, no movimento de 1932, a notícia era
saudada pelos obreiros da Loja. E o Orador, Ramon
Roca Dordal, propunha a inserção, em ata, de um voto
de louvor e aplauso, por aquela instalação. Aprovada,
unanimemente, a proposta, Alexandre de Albuquerque
dizia que havia votado como paulista de coração e na
qualidade de ex-combatente, mas propunha um adendo
àquela resolução: que o voto de louvor e aplauso fosse
extensivo ao fato da volta, a São Paulo, do Irmão
Pedro de Toledo, que havia sido exilado.
Em 1934, no dia 23 de maio, emblemático para
a alma paulista, depois de cumprimentos ao Irmão do
quadro, Alexandre de Albuquerque, pela homenagem
que recebera do Instituto de Engenharia, como um
importante engenheiro civil de S. Paulo e pela sua
atuação na Revolução Constitucionalista, Guilherme
de Carvalho, dizendo que aquela era a "data
anniversaria da libertação paulista", pedia que a
sessão fosse encerrada, em homenagem a ela e aos
jovens mortos em 32. E Roca Dordal, inflamado,
li
referia-se "à posição injusta em que, por todos os
meios, procurava a dictadura collocar S. Paulo, que,
muito embora vencido nos seus altos desideratuns
pela eventualidade de circunstancias ligadas àforça,
assim não se considerava; devido a nobreza da causa
que defendera, e graças a sua força moral, ao
progresso a que soube elevar-se, conseguio o fim
que almejava, e mantem-se firme e admiravel na
conquista do justo e do direito, não só para o seu
bem, mas para o do Brasil- não discrepou do lugar
de destaque em que o collocaram os seus
antepassados; antes mesmo continuou o seu traçado
de lucta e de gloria, impondo-se à admiração
mundial". Poderia, até, ter terminado sua fala, com a
citação de um pequeno trecho do vibrante "Minha
Terra", oração de bandeirantismo do Irmão Ibrahim
Nobre, o tribuno de São Paulo (3). Fazendo jus ao
seu título distintivo, na São Paulo de Piratininga, a
Loja firmava-se como a Piratininga de São Paulo.
Em julho, promulgada a nova Constituição
brasileira, pela qual lutara S. Paulo, em 32, Roca
Dordal tecia comentários sobre a instituição maçônica
e a luta de São Paulo:
"A reunião de quatro confrarias, em Londres,
em 1717, dá origem á Maçonaria - que um grupo
de homens destemidos, fortes, cançados da tyrania
e da escravidão, que envolvia a nação e, podemos
dizer, a Europa, resolveram traçar novos principios
regeneradores dos costumes da Humanidade
sofredora. É a Maçonaria - que em breve seria
forte bastante para pôr um dique ao despotismo
universal. Mas essa seita, essa reunião de homens
de ideaes e de vontades inquebrantaveis, teve de
preparar sua lucta sem treguas ao obscurantismo e
à oppressão. Agrupados esses homens de costumes
puros, de energia e coragem para os mais duros
sacrificios, entraram a pregar no meio da sociedade
com o mais absoluto sigilo, escolhendo os homens,
que dedicados até ao sacriJicio, desejavam uma
Humanidade melhor. E o sacrificio é necessario!
Não ha na historia da Humanidade uma conquista
que não custasse rios de sangue e sacrificios sem
conta, àquelles que primeiro se opuzerão ao arbitrio
e à tyrania. São Paulo recolhe os beneficios de
uma Constituição, pelo sacrificio dos que não se
submefteram ao capricho de uma dictadura, de um
poder discricionario e tyranico. É o fim que
almejavam os sinceros maçons, cujos sacrificios
serão pequenos, em face da vitoria alcançada".
NOTAS
1. O MMDC foi organizado como sociedade secreta,
na Capital de S. Paulo, a 24 de maio de 1932, tendo
sido projetado durante um jantar no Restaurante
Posilipo, por Aureliano Leite, Joaquim de Abreu
Sampaio Vidal, Paulo Nogueira e Prudente de
Moraes Neto, aos quais se juntaram, em reunião
posterior, no Clube Comercial, Cesário Coimbra,
Antônio Carlos Pacheco e Silva, Francisco Mesquita,
Edgard Batista Pereira, Francisco A. Santos Filho,
Bernardo Antônio de Moraes, Alberto Americano,
Roberto Victor Cordeiro, Carlos de Souza Nazaré,
capitão Antônio Pietcher, Bueno Ferraz, José A.
TeUes de Mattos, Gastão Grossé Saraiva, Herman
de Moraes Barros, Flávio B. Costa, Moacyr Barbosa
Ferraz, Bráulio Santos, Waldemar Silva, Jorge
Rezende, e Thiago Mazagão Filho. Inicialmente, a
sociedade foi chamada "Guarda Paulista", mas,
depois, foi fixada em MMDC, em homenagem aos
jovens mortos a 23 de maio. Na fase de conspiração,
que levaria ao movimento de 9 de julho, organizou
pelotões de voluntários, distribuídos por toda a
Capital. Durante o desenrolar da luta, a 10 de agosto,
pelo Decreto n° 5627-A, o governo do Estado
ofícíalizou o MMDC, cuja direção foi entregue a
um decenvirato, presidido por Waldemar Martins
Ferreira, secretário da Justiça, e tendo, como
superintendente, Luís Piza Sobrinho. Inicialmente
instalado na Faculdade de Direito, foi, depois, para
o antigo Fórum, na rua do Tesouro, e para o prédio
da Escola de Comércio Álvares Penteado. Durante
o movimento constitucionalista, cuidou da
intendência geral, das finanças, da direção geral do
abastecimento, dos departamentos de engenharia,
de saúde, de propaganda e militar, do correio militar
e dos serviços auxiliares. (do Arquivo do Estado) .
Mai··••.••
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Infelizmente, a frágil Constituição de 1934, não
garantiria a continuidade de um regime realmente
democrático, como viria a comprovar o golpe de 1O
de novembro de 1937.
2. O extraordinário paulista, Pedro de Toledo, nesse
dia, recebia, com extrema dignidade e serenidade,
a desgraça que se abatia sobre si e sobre S. Paulo,
dizendo, apenas: "São Paulo não foi derrotado!
Fomos traídos e vencidos no campo das armas! Os
ideais que nos levaram à luta, porém, serão
vitoriosos". Por volta das 18 horas do dia 2, quando
se preparava para deixar os Campos Elíseos, ele
ouvia a voz do tenente Cândido Bravo, rompendo o
pesado silêncio, que cercava o fim de um sonho:
- Senhor governador, estaremos sempre
juntos.
Emocionado, ele respondia:
- Nem poderia ser de outra forma!
Estamos com São Paulo!
(segundo reportagem de Silveira Peixoto, em A
Gazeta, de 3-10-1932)
3. "Terra Paulista! Da tua carne, massapé e honesta,
do teu ventre de Mãe, fecundo e são, veio a alma
que realizou a nacionalidade, imprimindo-lhe o
sentido da Independência e os rumos católicos da
Civilização. De ti proveio o homem que defrontou a
natureza peito a peito e que a venceu e a dominou a
facão e a fé! Tu deste geografia ao Brasil! Essa terra
toda, que aí se estende e se esparrama e se perde
por esse mundo grande de Deus, tudo isso tem os
seus limites demarcados, não apenas pelos rios que
se vadearam, pelas grimpas transpostas, pelas
florestas vencidas! Mas, sobretudo, pelas sepulturas
dos teus filhos, Minha Terra! Balisas! Picadas!
Cruzes! Pau listas, paulistas, paulistas"!
mRAHIM NOBRE - 1931.