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23/07/2020 O PAI DE ARIANO SUASSUNA – QUEM FOI JOÃO SUASSUNA, COMO SE DEU A SUA MORTE E COMO ESTE FATO

STE FATO INFLUE…

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COMO ESTE FATO INFLUENCIOU A VIDA E A OBRA DO SEU FILHO ARIANO

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O PAI DE ARIANO SUASSUNA – QUEM FOI


JOÃO SUASSUNA, COMO SE DEU A SUA
MORTE E COMO ESTE FATO
INFLUENCIOU A VIDA E A OBRA DO SEU
FILHO ARIANO
Publicado: Terça, 11 de Setembro de 2018, 09h12 | Última atualização em Quinta, 20 de Dezembro de 2018, 21h34 | Acessos: 21722

https://tokdehistoria.com.br/tag/anayde-beiriz/

02/08/2014

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João Suassuna, pai de Ariano

Rostand Medeiros – Escritor e pesquisador

Diante da recente morte do escritor Ariano Suassuna, muito de sua vida foi trazida ao conhecimento de milhares de
brasileiros. Entre os muitos aspectos da biografia deste paraibano que marcou a história do Nordeste, um dos
principais pontos abordados foi a importância da figura de seu pai, João Suassuna, em sua vida.

Ariano Suassuna 1927 – 2014


Em inúmeros textos foi comentado, normalmente de maneira bem básica, que João Suassuna havia sido governador
da Paraíba e que ele foi assassinado no ano de 1930, em meio às repercussões ocasionadas pela morte de João
Pessoa e os acontecimentos políticos daquele período tumultuado da história do Brasil. Mas ao observamos com mais

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detalhes a figura do pai do grande escritor, que morreu quando Ariano tinha apenas três anos de idade, descobrimos
uma história muito intensa, interessante e trágica!
O BACHAREL SERTANEJO
Há dez anos eu dei início a uma inacabada pesquisa por quatro estados nordestinos sobre a vida e morte do
cangaceiro paraibano Chico Pereira. Esta motivação vinha do fato de ser imputado a este cangaceiro e seu bando, em
fevereiro de 1927, o assalto a fazenda Rajada, em Acari, na região do Seridó Potiguar. Na época esta fazenda
pertencia a Joaquim Paulino de Medeiros, meu bisavô e durante grande parte da minha juventude escutei inúmeras
vezes os relatos deste episódio através de vários parentes queridos.
No desenrolar das pesquisas vi que a história de Francisco Pereira Dantas, o verdadeiro nome de Chico Pereira,
possuía ligações com a trajetória política de João Suassuna. Até mesmo a sua morte, ocorrida em 1928 na zona rural
de Currais Novos, em um rumoroso caso de violência estatal, que manchou a biografia do então governador potiguar
Juvenal Lamartine de Farias, também possui ligações com o pai de Ariano.
Mas de maneira totalmente independente do fato de João Suassuna ser pai do autor de “Auto da Compadecida”,
busquei conhecer mais sobre sua vida.

João Suassuna no início de sua carreira


Nascido João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, veio ao mundo em Catolé do Rocha, Paraíba, no dia 16 de
janeiro de 1886. Anos depois estudou na conceituada e tradicional Faculdade de Direito de Recife, onde se bacharelou
em 1909. O início de sua carreira como advogado foi em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Depois João Suassuna
assumiu o posto de juiz nas cidades de Umbuzeiro e Campina Grande, ambas na Paraíba. Na sequência foi
Procurador da Fazenda Nacional no seu estado natal.
Em 1 de dezembro de 1913, quando tinha 27 anos, casou com Rita de Cássia Vilar Suassuna, então com 17 anos, a
quem chamava carinhosamente de Ritinha. Quando Castro Pinto esteve a frente do executivo paraibano (1912-1915),
João Suassuna assumiu cargos de importância na máquina governamental.

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Em 1917, após este período de governo, voltou a ser juiz, desta vez na cidade de Monteiro (PB). Foi nesta época que
João Suassuna adquiriu uma propriedade chamada “Malhada da onça”, pra onde seguia ocasionalmente. A fazenda
ficava em Desterro, local de nascimento de sua mulher, na época uma comunidade pertencente à cidade paraibana de
Teixeira. Em 1919 deixou a magistratura e foi trabalhar no antigo Instituto Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS
e nesta época adquiriu a Fazenda Acauã, na época localizada na zona rural de cidade de Sousa[1].

Fazenda Acauã na atualidade – Fonte – http://artenapedrapolida.blogspot.com.br/


No começo da década de 1920, João Suassuna foi convidado pelo então governador Sólon de Lucena para assumir a
Inspetoria do Tesouro do Estado, depois foi eleito deputado federal. Estava no exercício do mandato parlamentar no
Rio de Janeiro, então Capital Federal, quando foi eleito “Presidente da Parahyba”, o que corresponde hoje ao cargo de
governador.
O mandato de João Suassuna se caracterizou em grande parte por uma valorização das ações desenvolvidas pelos
grandes latifundiários de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na
pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do
mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados, da conivência com grupos de cangaceiros e outras ações.
Foi nesta época, no palácio do governo da Paraíba, que servia de residência oficial do chefe do executivo daquele
estado, mais precisamente no dia 16 de junho de 1927, que nasceu um dos nove filhos do casal João e Rita. Foi
batizado como Ariano.

João Pessoa
João Suassuna entregou o cargo em 22 de outubro de 1928 a João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque e assumiu
novamente uma das vagas de deputado federal pela Paraíba.
PROBLEMAS À VISTA!
João Pessoa discordava da forma como o grupo político que o elegera conduzia a política do seu estado e logo
surgiram sérias divergências com os latifundiários. Um dos maiores embates estava na cobrança de taxas de
exportação do algodão. Por esta época os coronéis exportavam o produto principalmente através do porto de Recife,
provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e
efetivamente cobrar os coronéis, João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba,
irritando de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente passaram a chamar o governador de “João Cancela”.

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Os embates políticos entre o governador e os coronéis foram crescendo. A maior liderança entre estes poderosos foi
sem dúvida o coronel José Pereira Lima. Verdadeiro imperador da região oeste da Paraíba, na área da fronteira com
Pernambuco, tendo como base, a cidade de Princesa e este discordava com veemência das ações de João Pessoa.
Do embate entre estes dois homens, resultou um dos maiores conflitos armados do Brasil Republicano.

Foto de 1930 – Sentado vemos Marcolino Florentino Diniz (conhecido como Marcolino Pereira Diniz, um dos líderes de
Princesa, que era sobrinho e cunhado do coronel José Pereira. Em pé, da esquerda para direita, temos Pedro Inácio
(proprietário de terras em Pernambuco), João Pereira e Pacífico Lopes (proprietários rurais), Joaquim Inácio (grande
proprietário de terras no município pernambucano de Triunfo) e Chôcho (proprietário rural na localidade de Irerê,
município de Princesa). Agradeço a atenção e participação de Natércia Suassuna Dutra, sobrinha-neta de João
Suassuna, que enviou as informações aqui colocadas.
A contenda teve início em 28 de fevereiro de 1930, quando ocorreu a invasão da cidade de Teixeira por parte da polícia
paraibana, com o aprisionamento dos membros da conceituada família Dantas, ligada por profundos laços de
parentescos e interesses ao coronel José Pereira. Apesar de governador João Pessoa não contar com o apoio do
Palácio do Catete, onde o titular, Washington Luís não viabilizou uma efetiva ajuda às forças policiais paraibanas, o
governador paraibano foi à luta.
Em meio aos conflitos da chamada “Guerra de Princesa”, no dia 26 de julho de 1930, um sábado, João Pessoa estava
na Confeitaria Glória, em Recife, quando foi atingido por dois disparos desfechados pelo advogado paraibano João
Duarte Dantas.
Da mesma família Dantas da região de Teixeira, consta que após realizar uma viagem João Dantas encontrou seu
escritório na capital paraibana violado. Entre os objetos roubados estavam cartas e poemas eróticos, além de
fotografias sensuais, trocados com a sua amante, a poetisa Anayde Beiriz. Estes materiais teriam sido roubados por
membros da polícia paraibana, sob as ordens de João Pessoa, sendo publicados e colocados em locais públicos.
Diante dessa exibição João Dantas foi à confeitaria vingar a sua privacidade violada[2].

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João Duarte Dantas


Após o crime, João Pessoa se tornou um grande herói para o povo paraibano e seu assassinato foi o estopim da
conhecida Revolução de 1930. Neste meio tempo cresceu descontroladamente o radicalismo na Paraíba e muito
sangue correu[3].
A PARTIDA
Por ser João Suassuna casado com uma prima de João Dantas, ter sido eleito deputado federal com o apoio dos
Dantas da cidade de Teixeira e do coronel José Pereira, o pai de Ariano ficou na mira dos familiares, amigos e
correligionários do falecido João Pessoa.
No dia da morte do então governador paraibano na Confeitaria Gloria, João Suassuna se encontrava no Recife. Já sua
família, inclusive o menino Ariano de três anos, estava na capital paraibana, em uma casa alugada ao Dr. Mariano
Falcão, na Rua das Trincheiras. Diante do aumento da tensão na capital, Rita Suassuna e seus nove filhos vão se
refugiar no 22º Batalhão de Caçadores, ou 22º BC, atual 15º Batalhão de Infantaria Motorizada. Em pouco tempo João
Suassuna conseguiu apoio do rico empresário Frederico João Lundgren e consegue apoio do Exército para trazer sua
família para uma casa mobiliada, pertencente a este empresário e localizada na cidade pernambucana de Paulista. Um
dado interessante foi que a escolta da família Suassuna era comandada pelo tenente Agildo Barata[4].

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João Pessoa morto


O deputado João Suassuna recebeu a comunicação que havia sido denunciado como cúmplice no assassinato de
João Pessoa e teria que ir ao Rio de Janeiro para se defender na Câmara dos Deputados. No Porto do Recife ele
embarcou no paquete “Zelândia” e lá estava toda a sua família para as despedidas. Mesmo tendo naquela ocasião
apenas três anos de idade, Ariano Vilar Suassuna sempre relatou ao longo de sua vida que jamais esqueceu a partida
do seu pai para a Capital Federal, pois aquela foi a última ocasião que o viu com vida.
João Suassuna chegou a Capital Federal no dia 22 de outubro de 1930, se apresentou a Câmara Federal. Lá soube
que tramitava na comissão de constituição e justiça um pedido do deputado estadual pernambucano João Paes de
Carvalho Barros, para que fosse concedida uma licença para abrir uma investigação sobre a participação de Suassuna
como cúmplice no assassinato de João Pessoa. Logo o pedido foi indeferido pelo presidente da casa, o deputado
federal João Santos[5].
TEMPO DE REVOLTA

Não tarda e a convulsão política eclode. A conhecida Revolução de 1930 teve seu início em 03 de outubro de 1930,
uma sexta feira, com movimentos sincronizados que foram levados a efeito no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas
Gerais e Paraíba.

João Suassuna (com papéis e na mão), tendo ao seu lado esquerdo Washington Luís no Porto de Cabedelo, Paraíba
Mesmo diante desta situação, o deputado João Suassuna se coloca ao lado do presidente Washington Luís, junto com
mais de uma centena de políticos. Todos se encontraram na tarde do dia 4 de outubro no Palácio da Guanabara, atual
sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, onde morava o mandatário que em breve seria deposto[6].
Os dias seguiam com mais notícias preocupantes vindas da Paraíba e de Pernambuco. Na capital paraibana, na
madrugada do dia 4 de outubro, poucas horas após o movimento ter-se iniciado, os revolucionários atacaram o 22º BC
e ali morreu o general legalista Alberto Lavenère Wanderley, comandante da 7ª Região Militar. Já o 23º BC da cidade

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de Sousa, opôs resistência aos revolucionários. Logo em seguida sublevaram-se o 25º BC de Teresina, o 24º BC de
São Luís e o 29º BC de Natal.

Revolucionário de 1930 – Fonte – ultimosegundo.ig.com.br

Em Recife o movimento encontrou uma resistência maior por parte das forças legalistas, que haviam se colocado de
prontidão ao surgirem notícias da revolução. A vitória dos revolucionários, contudo, foi garantida pelo apoio popular à
insurreição, tendo ocorrido, inclusive, distribuição de armas aos populares. Já na manhã do dia 5 de outubro, o
movimento havia triunfado em Pernambuco, antes mesmo que os reforços provenientes da Paraíba chegassem a
Recife. No dia seguinte a posição dos revoltosos se consolidou quando o presidente do estado, Estácio Coimbra,
abandonou o governo[7].
TIRO MORTAL
Enquanto as notícias das sublevações e lutas pelo Brasil afora preocupavam os cariocas e o governo Washington Luís
seguia para seus últimos dias, João Suassuna se dividia entre saber notícias de sua família e a atividade parlamentar.
Nesta época o deputado paraibano morava no quarto 63, do Novo Hotel Belo Horizonte, localizado na Rua Riachuelo,
130, no bairro da Lapa.

Rua Riachuelo, em Botafogo, Rio de Janeiro – Fonte – http://www.rioquepassou.com.br

Suassuna tinha o hábito de sempre descer ao “hall” principal para ler os jornais ainda pela manhã. Naquela quinta
feira, 9 de outubro de 1930, ele estava nesta atividade quando apareceu uma visita. Era o farmacêutico paraibano Caio
Gusmão, que há quatro meses residia no Rio. Eram cerca de oito e quarenta da manhã, quando o deputado decidiu

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seguir junto com seu visitante para o Palácio Tiradentes, sede da Câmara Federal. Estava vestido de paletó de
casimira cinza e sapatos pretos.
Os dois caminharam um bom trecho pela Rua Riachuelo, quando Suassuna olhou para o céu e comentou…
– Parece que vai chover e vou buscar minha capa no hotel!
Deu meia volta, avançou alguns passos, mas nesse momento foi atingido por um disparo de arma de fogo. Suassuna
tentou sacar um revólver “Colt” que conduzia, mas caiu no chão já morto por apenas aquele único tiro. O fato ocorreu
na altura do número 111, próximo a esquina com a Rua dos Inválidos[9].
Caio Gusmão nada pode fazer, o corpo ficou em decúbito dorsal, com o revólver do falecido ao lado e a sua mão
manchada de sangue[10].
Logo encheu de gente. Rapidinho se espalhou a notícia sobre quem havia sofrido aquele atentado e o espanto dos
transeuntes foi geral. Populares chamaram a “Assistência”, o SAMU da época, que logo chegou, mas nada puderam
fazer em favor de João Suassuna.

Em pouco tempo o delegado do 12º Distrito Policial, o Dr. Eunápio Hardman Castello Branco, em companhia do
comissário Antônio Pizarro de Morais, chegou ao local e depois vieram várias outras autoridades policiais. Das
primeiras investigações descobriram que o assassino fugiu pela Rua Paula Matos, em direção ao Morro de Santa
Tereza. Foi comentado aos policiais que o atirador possuía estatura mediana, vestia paletó branco, usava boné de
casimira negra e calçava “tennis”[11].
Desde os primeiros momentos que os jornais cariocas apontavam que a razão do assassinato de João Suassuna era
vingança pela morte de Joao Pessoa e mesmo com revoltas pipocando no país, os revolucionários de 1930 ainda não
tinham conquistado a Capital Federal. Começou então a caçada ao assassino.
Inicialmente em uma vila, um policial encontrou um revólver de grosso calibre do tipo “buldogue” e uma pistola modelo
“Liberty”. Além de toda a roupa utilizada pelo pistoleiro na hora do crime. Logo os investigadores perceberam pelas
pistas deixadas que um cúmplice estava dando apoio ao matador.
Fosse pela importância de João Suassuna, ou por eficiência (ou uma soma destes dois fatores), o certo é que ás onze
e meia da noite do dia 9 de outubro, policiais da 2ª Delegacia Auxiliar capturaram o assassino.

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Este se chamava Miguel Alves de Souza e havia sido preso no grande sobrado que pertencia ao engenheiro Joaquim
de Souza Leão, localizado na Rua São Clemente, 261, bairro de Botafogo, a poucos metros da tradicional Igreja e
Colégio Santo Inácio. Assim foi preso Miguel Alves confessou o crime[12].
Este era paraibano de Alagoa Grande, tinha 30 anos, havia chegado ao Rio pelo vapor “Itapuy” no dia 18 de julho de
1929, trabalhava como tratador de cavalos de cavalos e depois se tornou empregado do engenheiro Joaquim de
Souza Leão.

Em uma entrevista concedida ao jornalista Ricardo Farias, publicada no caderno especial do jornal paraibano “A
União”, edição de 12 de fevereiro de 2013, página 3, Ariano Suassuna comentou que o assassino de seu pai foi preso
na casa do concunhado de João Pessoa[13].
Provavelmente os algozes de João Suassuna tinham a ideia que a polícia carioca jamais concluiria que na casa de
gente tão graúda, como a Dr. Joaquim de Souza Leão, encontrariam um elemento que havia matado covardemente um
homem pelas costas.
TRAMA ASSASSINA
No dia 10 de outubro, enquanto as autoridades “apertavam” Miguel para ele dar conta do assassinato, no Senado
Federal, para onde seguiu o corpo de João Suassuna, ocorreram várias homenagens.
O ex-governador potiguar, então senador, José Augusto Bezerra de Medeiros, proferiu um interessante discurso sobre
a vida do falecido político paraibano. Houve uma missa de corpo presente, várias autoridades estiveram no velório e
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foram colocadas muitas coroas de flores. João Suassuna foi enterrado no tumulo número 611, no cemitério São João
Batista, em Botafogo. Mas nem sua mulher e nenhum de seus nove filhos estiveram presentes!

Enquanto isso na delegacia, Miguel Alves de Souza confessou que recebeu o apoio de outro paraibano chamado
Antônio Granjeiro. Este era carteiro dos Correios e Telégrafos no Rio, lhe forneceu as armas e apoiou na sua fuga.
Granjeiro foi logo preso[14].
Os dois comparsas entregaram então Otcacílio de Lucena Montenegro, um funcionário do Tribunal de Contas, como a
pessoa que procurou Granjeiro, lhe deu o dinheiro para a compra das armas do crime e a ordem para procurar alguém
disposto a apertar o gatilho.
E quem era Octacílio de Lucena Montenegro?
Na mesma entrevista concedida ao jornalista Ricardo Farias, do jornal paraibano “A União”, em fevereiro de 2013,
Ariano Suassuna comentou que foi Octacílio quem intermediou junto a Granjeiro o assassinato de seu pai e que
Octacílio era sobrinho do então coronel do Exército Aristarco Pessoa, irmão de João Pessoa[15].
Demorou mais alguns dias para prenderem Octacílio, mas ele foi finalmente detido na Tijuca. Para dirimir dúvidas, o
investigador Silvio Terra fez uma acareação na 2ª Delegacia Auxiliar entre Octacílio, Granjeiro e Miguel Alves e para o
policial ficou patente a participação de Octacílio. Mas este negou peremptoriamente sua participação.
Para os policiais Antônio Granjeiro, homem pobre e com numerosa família (tinha onze filhos), era considerado “doentio
e muito sugestionável” e as preleções de Octacílio, que entre outras coisas dizia “-Será que não existe um paraibano
que seja capaz de vingar a morte de João Pessoa?” surtiram efeito desejado. Granjeiro foi atrás de Miguel e o crime
ocorreu.
Entre outras acusações Granjeiro foi apontado como o homem que seguiu João Suassuna, conheceu sua rotina,
comprou as duas armas usadas no crime e chegou a enviá-las para um armeiro quando foram detectadas defeitos
nelas. Foi ele quem adquiriu a munição e no dia 7 de outubro, dois dias antes do crime, foi com Miguel Alves praticar
tiro ao alvo nas margens da hoje superpovoada lagoa Rodrigo de Freitas, próximo ao Jóquei Clube do Rio.

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Os três acusados, entre estes um carteiro e um tratador de animais, foram defendidos pelo ninguém menos que
advogado Clóvis Dunshee de Abranches, considerado um dos maiores criminalistas do Brasil na época e famoso pelo
rumoroso caso Sylvia Seraphin Thibau[16].
Mas nesta época nem foi tão necessário a participação de um jurista tão renomado para defender estes homens, pois
logo os revolucionários chegaram ao Rio de Janeiro, depuseram o presidente e assumiram o poder. No vácuo
institucional, em meio às alegrias da vitória, os três homens responsáveis pela morte de João Suassuna foram
soltos[17].
EM BUSCA DE JUSTIÇA
Foi Rita Suassuna que não deixou a morte de seu marido cair no esquecimento.
Tempos depois ela enviou uma carta extremamente intensa e emocionada ao então Presidente Getúlio Vargas e este
mandou reabrir o caso. Em pouco tempo a morte de João Suassuna voltou às páginas dos periódicos cariocas.

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Antônio Granjeiro, esposa e filhos em 1933

Foram decretadas as prisões de Antônio Granjeiro e Miguel Alves. O primeiro foi preso em casa, no Rio. O segundo foi
capturado na Paraíba e recambiado de navio para a Capital Federal[18].
Já os autos do processo simplesmente haviam sumido. Para completar o quadro os jornais noticiaram que novos
depoimentos alteraram a situação de Octacílio de Lucena Montenegro e ele sequer prestou mais algum
depoimento[19].
O promotor Francisco Belizário Velloso Rabello se preparou para o julgamento acusando os réus de “assassinato
premeditado e sem direito a defesa”. Apoiando a promotoria, a pedido de Rita Suassuna, estava o advogado e ex-
senador paraibano José Gaudêncio[20].
Já o advogado Clóvis Dunshee de Abranches apresentou em favor dos réus a alegação que o crime por eles cometido
“ocorreu em um período de intensa perturbação política devido à morte de João Pessoa” e isso gerou nos assassinos
de João Suassuna “uma forte perturbação dos sentidos e da inteligência”[21].

O advogado Clóvis Dunshee de Abranches

Visando reforçar a defesa, o advogado Dunshee de Abranches conseguiu do “Centro Paraybano” no Rio de Janeiro,
entidade de apoio aos paraibanos que viviam na Capital Federal, mas também servia de local de encontros políticos,
uma carta em defesa dos réus. Produzida por Arthur Victor, presidente da instituição, a carta é uma longa peça
acusatória contra João Suassuna, que mostra bem os processos da política radical daqueles tempos.
Entre outras coisas está descrito que Irineu José do Nascimento, padrasto de Miguel Alves, e um 1º sargento
reformado da polícia paraibana, havia sido fuzilado “por ordem de João Suassuna”, deixando sua mãe e três irmãos no
desamparo. Sua família foi obrigada a fugir para Pernambuco, onde sofreram “sérias perseguições” por parte de
Estácio Coimbra, então governador daquele estado.
Já Antônio Granjeiro nasceu em 1888, chegou ao Rio em 1912, entrou nos Correios e Telégrafos e foi transferido para
Diamantina (MG). Depois de retornar para o Rio começou a participar das atividades do “Centro Paraybano” e na
época que iniciou os movimentos políticos contra o governo Washington Luís, o destemido Granjeiro era uma espécie
de segurança e forte entusiasta pela causa liberal.

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