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Feito esse trabalho, que agora concluo, vou postá-lo nas redes
sociais, a fim de que todos tenham a ele acesso.
Aldo Torquato
BIOGRAFIA ALDO TORQUATO
SÉCULO XIX (ainda no Brasil Império) - Formação dos primeiros povoados: Baixa-Verde (atual
Assunção), Amarelão e Cauaçu
1915 – Construção da Capela Nossa Senhora Mãe dos Homens pelo Dr. Antônio Proença e sua
esposa D. Malvina (atual capela Nossa Senhora de Fátima)
1º de janeiro de 1929 – Posse do primeiro Prefeito, João Severiano da Câmara, e dos primeiros
Intendentes (vereadores)
19 de novembro de 1953 - Mudança do nome do município para João Câmara – Lei Estadual
nº 899.
15 de novembro de 1976 – Eleição, aos 25 anos de idade, do advogado Aldo Torquato da Silva,
o primeiro prefeito filho da terra e até então o mais novo a se eleger prefeito.
01 de janeiro de 2005 – Toma posse, como primeira prefeita eleita do município, a senhora
Maria Gorete Leite, que vencera as eleições municipais de 03 de outubro de 2004
Desde os meados do século XIX, ainda quando o Brasil era império, já havia
registros da existência de uma pequena povoação no interior do município de Ceará-
Mirim com o bucólico nome de Baixa-Verde, localizado à oeste, adentrando ao sertão.
Em 12 de outubro de 1910 ocorre um fato que muda por completo a vida da antiga
Baixa-Verde. É que naquela data houve a inauguração dos trilhos da rede ferroviária e a
população da antiga Baixa-Verde, que, popularmente passou a se denominar Baixa-
Verde Velha e depois Assunção, mudou-se para a nova localidade, a três quilômetros da
antiga povoação, mais precisamente em um lugar onde só havia matas e casas distantes
umas das outras, conforme relatos dos antigos.
João Maria Furtado, nascido na localidade, afirma em sua obra Vertentes, que nunca
entendeu porque os trilhos passaram a três quilômetros ao sul da comunidade. O certo é
que esse fato, ainda hoje não esclarecido, fez surgir a nova Baixa-Verde, para onde se
deslocaram quase todos os comerciantes da tradicional localidade, provocando o seu
mais completo esvaziamento. Ninguém queria morar longe da estação do trem.
No período que vai de 1910 a 1928, merecem destaque as figuras de Antônio Proença
e João Severiano da Câmara. O primeiro, por ser o responsável pela construção da
estrada de ferro, provavelmente um dos sócios da empresa Proença & Gouveia,
concessionária da estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, cujo projeto inicial
pretendia chegar a Caicó.
Não demorou pra que o jovem empreendedor entrasse para a política. Em Taipu, sede
do município até então, João Câmara foi escolhido Intendente, cargo que correspondia
ao de Prefeito na atualidade. E foi nessa condição que ele, João Câmara, capitaneou a
emancipação do distrito de Baixa-Verde, em 29 de outubro de 1928, pela Lei Estadual
697, deixando o município-mãe e passando a governar o novo município na condição de
primeiro Intendente (prefeito).
O Juiz da comarca, dr. João Maria Furtado e o Promotor de Justiça, dr. José Siqueira de
Medeiros não se encontravam na cidade, mas foram convocados a comparecer,
recebendo a instrução de que não deveriam tomar atitudes contrárias ao movimento.
Por conta desse episódio, logo após a expulsão dos revolucionários, o dr. João Maria
Furtado foi duramente perseguido por João Câmara, de quem era desafeto, chegando a
ser preso e afastado do cargo de juiz.
Por esse período, o nosso comércio já era muito desenvolvido, a FEIRA LIVRE era
uma das maiores do estado e várias indústrias de beneficiamento de algodão e sisal, tais
como JOÃO CÂMARA & IRMÃOS, ANDERSON CLAYTON, COOK, SISAF E
SACRAFT, em Zabelê, possibilitaram uma situação de praticamente “pleno emprego”
em nossa cidade.
É certo que os TERREMOTOS, cujo ápice foi em 30 de novembro de 1986, mas que
perdurou por mais alguns anos, fizeram com que milhares de camarenses deixassem a
cidade, criando um clima de extremo pessimismo entre as pessoas. Com a redução dos
eventos sísmicos, muitos voltaram e outros ocuparam os espaços vazios deixados pelos
que se foram.
Certo é que, graças à sua posição geográfica privilegiada (é o centro de uma grande
região, o Mato Grande, com 12 municípios e em influência sobre municípios de outras
regiões, como a Central e o Litoral, até a região salineira) João Câmara se reergueu e
hoje, graças ao seu comércio e serviços cada vez mais crescentes, é uma das maiores
cidades do Rio Grande do Norte.
Não se pode negar, também, que a instalação dos Parques Eólicos, principalmente por
ocasião da construção, empregam muitas pessoas e graças aos tributos de pagam ao
Município, elevam em muito as suas receitas, o que possibilita aos gestores, não apenas
de João Câmara, como nos diversos municípios onde estão instalados, a realização de
importantes obras.
Não existe hoje qualquer dúvida sobre quem foi o verdadeiro fundador da nova Baixa-
Verde (a Baixa-Verde Velha, como ficou conhecida popularmente, é a atual Assunção). Durante
muitos e muitos anos, atribuiu-se o privilégio ao ex-senador e empresário João Severiano da
Câmara. De fato, João Câmara foi durante anos a figura mais proeminente do município e dizer
que teria sido o fundador da cidade era até mesmo motivo de orgulho para os seus habitantes.
O próprio nome da cidade, João Câmara, impelia as pessoas a pensarem ter sido aquela figura
o seu fundador inconteste.
Pois bem. Assim relatou-me o velho Melcíades, do alto dos seus noventa e cinco anos,
em depoimento gravado por mim em sua residência na rua João Furtado, na manhã do
domingo, 17 de fevereiro do ano de 2008: “engana-se quem pensa que João Câmara foi o
fundador de Baixa-Verde. Quando João Câmara chegou nesta terra, no ano de 1914, já
existiam cinqüenta ou sessenta casas. O verdadeiro fundador de Baixa-Verde foi Antônio
Proença, que chegou aqui em 1909, e construiu quatro casas, sendo uma delas para ele
mesmo morar com a sua esposa, Dona Malvina”.
Caso ainda paire alguma dúvida sobre a identidade do verdadeiro fundador da nova
Baixa-Verde, eis o relato insuspeito do grande historiador e folclorista Câmara Cascudo, em
sua obra História de um homem (João Severiano da Câmara – página 31, edição de 1954 –
Departamento de Imprensa Estadual): em 12 de outubro de 1910 inaugurava-se Baixa-Verde.
Uma locomotiva deixou um vagão com o aparelho telegráfico e servia de estação. Ao redor os
ranchos surgiram da terra, a 83.952 metros de Natal. Nem havia no local nome certo. Diziam
“Matas”. Eram capoeirões baixos, moitas na várzea verde e tranquila. O nome passou ao ponto
terminal da Estrada dos Proenças, quando Antônio Proença veio, alto, gordo, lento, imenso,
residir na casa que construiu, confortável e abrigadora. Chamou-se então Baixa-Verde. Era esse
Antônio Proença o denominador comum da estrada. Representava o trabalho. Discutiram-no
muito no choque de interesses em que ele próprio seria o maior. Devemos-lhe Baixa-Verde no
plano real. Escolheu o local, riscou as ruas, ergueu as casas, cavou cacimbas, construiu a capela
dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens. Lembro-me da sua figura imponente, da
amplidão do vulto nédio, o traje de branco, o chapéu do Chile, os bigodes negros, o toutiço de
zebu, a fala grossa, o gesto sereno, a simplicidade completa, a bondade útil, oportuna
inesgotável.Tinha o hábito do conforto, da mesa farta, variada, aberta, fácil, da conversa
gostosa, da pilhéria de sal grosso, os costume do banho diário, as roupas asseadas, o
tratamento fidalgo. Incapaz de uma grosseria, cordato, amável, ia desarmando a todos com
uma grandeza tranqüila de paciência, tenacidade e disciplina. Era o Dr. Proença de Baixa-
Verde, plantando também algodão, criando gado de raça, vacas de lei estrangeiras, que
assombravam pela quantidade do líquido esguichando cada manhã e cada tarde. E cavalos
robusto, com selas inglesas. E armas reluzentes, disparando sem parar para as breves caçadas
senhoriais. Deixou uma lembrança viva e há muita gente que ainda o enxerga, vagaroso,
imenso, cumprimentador, inventando Baixa-Verde e organizando bailes intermináveis. Para
essa Baixa-Verde recém nascida, de vida indecisa, Vanvão deliberara fixar destino, vida esforço
e futuro”.
Resta, então apenas uma indagação a esclarecer: por qual razão Antônio Proença caiu
no quase completo esquecimento, sendo apenas o nome de uma rua na cidade que fundou?
Algumas razões contribuíram para a volta de Antônio Proença para Minas Gerais: a) o
encerramento do contrato feito com o governo federal para a construção da rede ferroviária,
em 1921; b) a morte do seu irmão, João Proença, presidente e maior acionista da empresa, em
1923; 3) a saúde debilitada e a idade já avançada; e 4) como não deixou herdeiros, sempre
houve dificuldades de elucidação sobre o resto da sua vida até a sua morte. Quantos anos
viveu? Onde está sepultado?
Não satisfeito com o emprego, que pouco lhe rendia, a não ser um mísero salário,
suficiente apenas para cobrir os custos de manutenção, João Câmara retornou à casa paterna
no início do ano de 1914.
Estabelecida a discussão sobre o que estaria reservado ao jovem ávido por melhores
dias, veio à baila a possibilidade do mesmo instalar-se num lugar chamado Baixa-Verde,
situado a vinte e sete quilômetros da sede do município de Taipu, onde desde 1910 os trilhos
da rede ferroviária já haviam chegado. Corria de boca em boca que o lugar prosperava com
uma rapidez impressionante, visto situar-se estrategicamente na porta de entrada de uma
vasta região ainda inexplorada, mas de grande potencial agrícola.
Constitui, porém, ledo engano imaginar-se que o consenso em torno do político, João
Câmara, refletia a mesma opinião sobre o homem. Poucas pessoas, no seu tempo,
despertaram tantas paixões dos admiradores e tantos ódios dos que lhe eram adversários.
O apego excessivo aos negócios, quase uma obsessão, levou João Câmara a tomar
posse no cargo de senador da república, para o qual fora eleito em 19 de janeiro de 1947, -
com mandato de apenas quatro anos -, porém não exerceu seu cargo, não havendo registro de
nenhum projeto ou requerimento seu no senado federal. Não lhe interessava deixar seus
negócios, para ir ao Rio de Janeiro, exercer o mandato de senador. Com o seu falecimento em
12 de dezembro de 1948, , assumiu a vaga o suplente Kerginaldo Cavalcante de Albuquerque.
De nada valeu a luta insana por bens materiais. Poucos anos depois da sua morte,
dizem que por despreparo dos seus sucessores, o imenso patrimônio da firma João Câmara &
Irmãos foi adjudicado ao Banco do Brasil em pagamentos de débitos contraídos e não pagos.
Conta o monsenhor Luis Lucena, vigário de Baixa-Verde desde os idos de 1958, que,
por ocasião do sepultamento de João Câmara, quando o féretro se aproximava do cemitério
do Alecrim, já subindo a ladeira do Baldo, João Urbano de Araújo, comerciante em Baixa-Verde
e extremamente ligado à Igreja Católica, devoto de Nossa Senhora de Fátima, perguntou
preocupado ao monsenhor Vicente Freitas, então pároco daquela freguesia: e agora,
monsenhor Freitas, o que será de Baixa-Verde? Ao que o monsenhor respondeu: João, Baixa-
Verde nasceu hoje, porque infeliz é a terra em que só um homem manda!
João Câmara era casado com dona Maria Rodrigues da Câmara, uma santa senhora, que
lhe deu vinte filhos (segundo informa o escritor Câmara Cascudo), dos quais apenas cinco
sobreviveram (Edson, Wilson, Elza, Teresinha e Joãozinho). Esta senhora tida e havida por
todos que a conheceram, inclusive pelos mais ferrenhos adversários do seu marido, como uma
alma generosa, humilde, afável, conheceu os píncaros da gloria e as profundezas do ostracismo
e da pobreza. Depois de ter sido esposa de um dos homens mais ricos do estado, prefeito,
deputado e senador da república, residindo em uma mansão no bairro do Tirol, à avenida
Hermes da Fonseca, em frente a Escola Domestica de Natal, cercada de empregados e amigos,
viveu seus últimos dias na humilde rua Meira e Sá, bairro Vermelho, em Natal, morando em
uma casinha simples, de poucos cômodos e sobrevivendo graças a uma pensão especial que lhe
foi concedida pelo governo do estado.
GUMERCINDO SARAIVA, FOLCLORISTA E MUSICISTA
Quando estava prestes a completar 73 anos de vida, Gumercindo foi fulminado por um
infarto do miocárdio, que o pegou traiçoeiramente na noite do dia 20 de maio de 1988, uma
sexta-feira, por volta das 23 horas. Naquele nefasto momento, fazia o que mais gostava: tocar
violino. A morte o pegou em plena ribalta, no Salão dos Grandes Atos da Fundação José
Augusto.
Numa justa homenagem àquele homem simples, comunicativo, que em vida foi
expoente das letras e da música, dignificando a cidade em que nasceu, foi aprovado,
recentemente, pela Câmara Municipal de João Câmara, um projeto de lei de autoria do
vereador Luiz Gameleira do Rego, que tive a honra de redigir, instituindo o dia 02 de junho,
data do seu nascimento, como o Dia da Cultura local. Foi-se o homem, fica a fama.
A SAGA DE JOÃO MARIA FURTADO
João Maria Furtado, filho de João Batista Furtado e Dorotéia Justino de Oliveira, que
depois do casamento passou a chamar-se Dorotéia Furtado, nasceu na pequena localidade de
Baixa-Verde, atual Assunção, quando esta comunidade ainda pertencia ao município de Taipu.
Transcorria o ano de 1903.
A história de João Maria é algo que merece registro. Ainda muito moço, casou-se com
Jacyra Brandão Furtado, nascida em Salvador/Bahia, em 04/09/1912, com quem conviveu na
mais perfeita harmonia durante 60 anos ininterruptos. Da união nasceram três filhos: Roberto,
Dora e Harilda, havendo sido o primeiro, deputado estadual, vice-prefeito de Natal, advogado
e Presidente da seção estadual da OAB, além de haver exercido diversas outras funções de
destaque, desempenhadas sempre com brilhantismo.
Pouco tempo estava no exercício das suas funções, quando veio a Intentona
Comunista de novembro de 1935, na qual foi envolvido, gratuitamente, por ser desafeto de
João Severiano da Câmara, que o acusou de colaborar com os revoltosos. Apesar de provar
que se encontrava veraneando na praia de Cajueiros, com seus familiares, foi preso e
processado, sendo transferido para uma cadeia em Natal, onde ficou por 55 dias, sendo solto
graças a uma ordem de Habeas Corpus.
Mesmo assim, foi afastado das suas funções de magistrado, o que o obrigou a ficar na
praia da redinha, em Natal, aguardando o resultado do julgamento do processo que contra si
tramitava.
Informado que uma nova ordem de prisão, tão arbitrária quanto a primeira, estava em
vias de se concretizar, passou a dormir no mato, mais precisamente numa colina, donde via os
movimentos nas proximidades da sua casa. Foi ali, na solidão, que recebeu a informação de
que deveria fugir ou seria preso imediatamente pois o cerco já se fechara.
Como fugitivo sem culpa, João Maria caminhou noite a dentro, a pé, até Ceará-Mirim,
ficando alojado na Usina São Francisco. De lá, após alguns dias de repouso, com cavalos
emprestados, ao lado do companheiro de infortúnio, José Aguinaldo, rumou para a Barra do
Maxaranguape e dali em um bote a velas partiu para o Ceará. Antes, porém, foi obrigado a
fazer uma leve parada para reabastecimento na praia de Caiçara, ainda no Rio Grande do
Norte. No terceiro dia de viagem, já com os nomes trocados para não serem descobertos, os
dois fugitivos desembarcaram em praias cearenses. O bote que os conduzia foi liberado e a
viagem continuou a pé até a cidade de Aracati, de onde partiram, de ônibus, com destino a
Fortaleza. Continuando a fuga, verdadeira saga, passaram a viver em fazendas de gado,
situadas nas proximidades da cidade de Mamanguape.
Receoso de ser descoberto, e já sem o amigo que fora preso ao tentar retornar a
Fortaleza, João Maria recomeçou sua odisséia, partindo depois de alguns meses, para o sertão
paraibano. Seu objetivo era Catolé do Rocha. No caminho, passou de passagem por Russas,
interior do Ceará, e Pau dos Ferros, no alto oeste do Rio Grande do Norte.
Visitando Campina Grande, onde morava um seu cunhado, veio ao seu encontro a sua
esposa, Jacyra, depois de meses de abrupta e sofrida separação. Ainda na cidade de Campina
Grande, tomou conhecimento, através de um telegrama do deputado Café Filho, que o
Tribunal de Segurança Nacional, por decisão unânime, o excluíra da denúncia.
João Maria Furtado foi o ícone das letras jurídicas dentre os filhos de Baixa-Verde,
porém as suas posições contestatórias e desafiadoras em relação ao Senador João Câmara, lhe
valeram o mais completo ostracismo na terra que lhe serviu de berço. Somente em minha
administração à frente do executivo municipal (1977/1983) veio o resgate tão merecido:
construímos uma escola na localidade que lhe serviu de berço (Assunção) e instalamos um
Fórum Municipal, dando a ambos o nome de “Desembargador João Maria Furtado”.
João Maria Furtado faleceu em Natal, no dia 04 de fevereiro de 1996, aos 93 anos de
idade, sete anos após o passamento da sua amantíssima esposa, Jacyra (16/02/1989). Um
grande homem e uma grande mulher!
FRANCISCO BITTENCOURT, UM EXEMPLO
Bittencourt foi um autodidata, não teve oportunidade de cursar sequer o antigo curso
primário, já que os afazeres diários tomavam todo o seu tempo e à noite não havia nenhum
curso à sua disposição. Para não ficar isolado do mundo e do conhecimento, estudava sozinho
nas caladas da noite, à luz de lamparina ou candeeiros. Conta o seu filho, Dr. José Bittencourt,
uma das figuraras mais estimadas de Natal, que o seu gosto refinado conduzia-o a ler obras de
Machado de Assis, Monteiro Lobato, Humberto de Campos, Bernardo Guimarães, Eça de
Queiroz, Dostoievsky, Stendhal, Tolstoi, Flaubert e Balzac, as quais mantinha em sua biblioteca
particular. Tais obras, de todo aparentemente estranhas em um ambiente tão árido, foram
doadas pelos seus herdeiros à biblioteca do Baixa-Verde Futebol Clube, após a sua morte,
ocorrida em Natal no dia 29 de setembro de 1979.
Na vida pública, foi Prefeito de Baixa-Verde por quatro vezes: as duas primeiras por
nomeação e curto prazo, nos meados da década de quarenta. Era o tempo das interventorias,
que nomeavam e exoneravam os prefeitos municipais ao seu bel prazer. Depois, com a
redemocratização do Brasil e as eleições diretas de 1946, já com a constituição federal
democrática, Bittencourt elegeu-se pelo voto direto dos seus concidadãos por duas vezes,
exercendo os mandatos de 9 de abril de 1948 a 31 de março de 1953, tendo como vice-
Prefeito João Rabelo Torres e de 31 de março de 1958 a 31 de março de 1963, tendo como
vice-prefeito José Severiano da Câmara.
Bittencourt era casado com a senhora Elisa Henriques Bittencourt, que lhe deu seis
filhos: Paulo (médico, ex-diretor da Casa de Saúde São Lucas); José (engenheiro civil, professor
aposentado da UFRN e um dos proprietários do Colégio Dinâmico, casado com a senhora
Ivanilda Miranda); Maria Antonieta (membro da Academia Feminina de Letras do RN, casada
com o médico Vicente Dutra); Maria da Paz (casada com o funcionário público federal
aposentado Zenon de Souza Leite); Francisco (médico, casado com Zezinha Ferreira) e
Margarida (viúva do médico, pesquisador da UFRN e pintor Leopoldo Nelson).
Os avós de Bittencourt, como o próprio nome indica, eram franceses que emigraram
para o Brasil ainda na época do Império, radicando-se no Nordeste.
MONSENHOR LUIZ LUCENA: O GRANDE BENFEITOR
Chegando à capital, o pequeno Luiz foi matriculado no Grupo Escolar Izabel Gondim,
situado nos limites do bairro da Ribeira com as Rocas, onde concluiu o curso primário. Dando
seqüência aos estudos, e já encaminhado na via sacerdotal, cursou o ginasial e o colegial no
seminário de São Pedro. Em seguida, deslocou-se para o seminário da Prainha, em Fortaleza,
onde cursou Filosofia e Teologia, ordenando-se padre a 08 de fevereiro de 1955. Sua formação
intelectual foi concluída com os cursos de Licenciatura Curta em Letras pela UFRN, Licenciatura
em Filosofia, pela PUC de Recife e Estágio em Sagrada Escritura, pelo Centro Bíblico de
Jerusalém. Em 13 de outubro de 1979 recebeu o título de Monsenhor.
A obra durou mais de dez anos para ser concluída, mas logo em junho de 1961, mesmo
sem ter as condições ideais de funcionamento, passou a abrigar a Escola Comercial, logo
depois transformada em Ginásio João XXIII. O passo seguinte foi a implantação do segundo
grau, o que ocorreu no ano de 1975, passando o ginásio a ter a denominação de Colégio. A
partir daí, jovens nascidos de famílias pobres puderam tornar realidade o sonho de sair de
João Câmara diretamente para uma universidade, como de fato ocorreu com dezenas deles,
hoje médicos, advogados, engenheiros, pedagogos.
Relevante também foi a construção da Maternidade que, anos depois, passou a ter o
nome da sua mãe, Noêmia Lucena, preenchendo uma grande lacuna que havia na cidade. Esta
maternidade foi construída nos aposentos da antiga Casa Paroquial, cedendo o pároco o seu
conforto em benefício dos mais pobres.
O monsenhor Luiz Lucena Dias faleceu em 29 de dezembro de 2017 e seu corpo está
sepultado na Igreja Matriz da cidade de João Câmara.
BREVE HISTÓRIA DA ESCOLA CAPITÃO JOSÉ DA PENHA
A Escola Estadual Capitão José da Penha é a mais antiga instituição de ensino de Baixa-
Verde. Sua trajetória começa como simples escola rudimentar, dirigida pela professora Maria
Henriques Maia, logo elevada à condição de Grupo Escolar pelo Decreto nº 350, de 15 de
outubro de 1927, devido à necessidade crescente de atendimento às dezenas de jovens que
acorriam à procura dos seus préstimos. A jacente Baixa-Verde, vivendo o esplendor dos
primeiros anos, fervilhava de gente chegando em busca do eldorado potiguar. Surgiu daí a
necessidade de construção de um prédio moderno e amplo, para os padrões da época, que
pudesse abrigar em seu seio toda aquela gama de jovens ansiosos por ter acesso ao
conhecimento. Assim é que as autoridades da época reivindicaram e conseguiram junto ao
presidente do estado, Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros a construção do prédio onde
ainda hoje funciona, com algumas modificações, a tradicional escola. A inauguração deu-se a
26 de dezembro de 1927, pelas dezesseis horas e contou com a presença de dezenas de
autoridades e populares. A ata de fundação registra a presença, dentre outras, das seguintes
pessoas: Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros, João Câmara, João Gomes da Costa, Paulo
Viveiros, José Gomes da Costa, Alexandre Rodrigues da Câmara, Miguel Monteiro, Pedro
Gomes Baião, Elisa Henriques Bittencourt, Francisco Teixeira Sobrinho, Joaquim Soares de
Miranda, João Ignácio Filho, Barnabé Justino de Souza, José Martins de Sá Benevides, Joaquim
de Castro e Silva, Severino Benfica, Sinval Lima e Fausto Lima, Francisco de Assis Bittencourt,
Antônio Justino de Souza, Áurea Varela de França e Genésio de Oliveira.
Ao longo de sua trajetória de mais de noventa anos, dezenas de pessoas passaram pela
sua direção, com destaque para o professor Sebastião Diniz Henriques, o primeiro diretor,
seguido pelas professoras Adélia Soares Teixeira, Adélia Brandão, Maria Guimarães e Leonor
Maciel do Amaral. Nos últimos cinqüenta anos, assumiram a direção do estabelecimento as
pessoas de Salete Ferreira, Sônia Varela, Joana D`arc Rocha da Câmara, Gino Miranda Santos,
Aldo Torquato da Silva, Dilma Leonardo, Lygia Torquato, Marta Geruza, Professor Quirino e
outros.
De minha parte, estudei no José da Penha nos anos de 1958 a 1961, onde fiz o
primário. Minha primeira professora foi Pretinha. Depois, vieram Elma Gouveia e
Raimundinha. Dos meus contemporâneos, lembro apenas de alguns: Esteferson Vieira Lopes
(Gôda), Francisquinho Doutor, Jacyra Celestino (hoje viúva de João Batista Ataliba), e Virgínia,
filha de Miguel França, que dividia a carteira comigo na segunda série.
A partir do ano de 1943, funcionou provisoriamente no mesmo prédio, a Escola Darcy
Vargas, mantida pela Legião Brasileira de Assistência – LBA, entidade assistencialista, criada e
dirigida pela esposa do presidente da república, Getúlio Vargas. Ao que nos é dado conhecer,
poucos anos durou a Escola Darcy Vargas, certamente perdendo-se no tempo com a derrocada
da ditadura e a volta à democracia ao final da segunda guerra mundial (1945).
Durante o período que vai de setembro de 1959 a 1961, o prédio da Escola Capitão
José da Penha abrigou a Escola Comercial, atual Colégio João XXIII e durante os anos de 1976 e
1977 funcionou também como escola de 2º grau, depois transferida para a Escola Estadual
Antônio Gomes.
Foi no grupo escolar Capitão José da Penha que aconteceu a solenidade de instalação
do município de Baixa-Verde, com a posse dos intendentes e do Prefeito João Câmara, em 1º
de janeiro de 1929, além de inúmeras solenidades e muitas festas, inclusive carnavais.
Os comunistas entraram na cidade pela praça da matriz, que à época era apenas um
largo onde existia o campo de jogos do Baixa-Verde Futebol Clube. Dali seguiram pela rua
Padre João Maria, até alcançar a praça do mercado. Eram aproximadamente oitenta homens,
armados de fuzis e uma metralhadora, transportados em três caminhões. Chegando à praça do
mercado, a metralhadora foi instalada em frente à loja da firma de João Câmara, que teve as
portas destruídas por seguidas rajadas. Os revoltosos trataram de prender o delegado de
polícia, Antônio de Brito, e os soldados, tendo o cuidado, evidentemente, de desarmá-los. O
padre recebeu a recomendação de não deixar sua residência. O Prefeito Odilon Cabral de
Macedo não foi encontrado, pois afastara-se da cidade às pressas temendo ser preso.
Àquela altura dos acontecimentos as pessoas ligadas a João Câmara já haviam deixado
a cidade. O prefeito Odilon Cabral de Macedo e Alexandre Câmara (Xandu), fugiram em
cavalos selados para a fazenda de Zezinho do Cravo, situada a aproximadamente doze
quilômetros da cidade, fazendo no percurso uma ligeira parada na fazenda Santa Rosa, de
Pedro Torquato. Loló Câmara, Costa Leitão e José Olímpio refugiaram-se na fazenda Boágua,
de propriedade de Apolônio Bilro.
Na tarde do dia 27 de novembro, pelas quatro horas, meu pai, Abdon Torquato,
retornava da cidade, para onde tinha ido fazer compras a pedido de Dona Mariquinha, esposa
de Xandu, quando deu de cara com o inesperado: João Câmara ia a pé, fardado de capitão do
exército, armado de fuzil, à frente de mais de cento e cinqüenta soldados, esperando
surpreender os comunistas. O trem que os transportara havia ficado a uns dois quilômetros de
distância. Depois de um breve diálogo, em que João Câmara perguntou pelos irmãos e pelo
prefeito e recebeu as devidas informações, o grupo seguiu na direção da cidade. Antes, porém,
João Câmara perguntou pelos comunistas, tendo meu pai respondido que os mesmos haviam
destruído a sua loja, mas já tinham partido, pois haviam tomado conhecimento que o
movimento não prosperara. João Câmara entrou na cidade sem disparar um só tiro.
Outra espécie rara, conhecida vulgarmente como Lagarto Rex, de tamanho pouco
superior a uma lagartixa e menor que um Tejuaçu, também é encontrada no local ,e somente
nele, em toda a região do Mato Grande.
AS LENDAS QUE ENVOLVEM A SERRA DO TORREAO
Muitas pessoas diziam também que os estrondos que davam em Baixa-Verde eram por
conta de uma cama de baleia que havia debaixo da serra. Segundo a crendice popular, o local,
muito antigamente, fora mar e um grande reservatório de água se escondia por sob a serra.
Nesse reservatório, morava uma baleia gigante que, quando se movia, provocava os
estrondos.
COMO A ÁGUA ENCANADA CHEGOU A JOÃO CÂMARA
Luiz da Câmara Cascudo diz em seu livro História de Um Homem, que quando o jovem
João Severiano da Câmara disse ao seu pai que iria para Baixa-Verde montar uma bodega, o
velho teria lhe dito: pra onde você vai, meu filho? Baixa-Verde não tem futuro, é um lugar
onde não tem nem água pra se beber!
O fato serve para demonstrar que esse sempre foi o principal problema de Baixa-
Verde, atual João Câmara. E, aliás, continua sendo!
Passados já três anos do seu governo, embora fossem muitos os benefícios levados,
faltava a obra definitiva, imorredoura, ansiada por várias gerações de João Câmara, desde os
tempos em que a cidade ainda era chamada de Baixa-Verde. Todos os governadores haviam-
na prometido. Lavoisier, para não fugir à regra, também prometera desde o dia da sua posse,
quando sussurrei no seu ouvido bom: governador, não esqueça a água de João Câmara!
Pedido esse repetido em dezenas de outras oportunidades, até que faltando exatamente um
ano para as eleições de 1982, já impaciente, e de certa forma desgastado com as constantes
cobranças da parte de certos setores da sociedade local, que diziam que o governador estava
apenas me “enrolando”, tomei uma decisão corajosa: em plena praça Baixa-Verde, com o sol a
pino, em um dia de sábado, feira-livre a pleno vapor, quando entregávamos os títulos de posse
das fazendas anteriormente pertencentes ao senador João Câmara, fiz o seguinte desafio:
governador, o senhor já fez muito por João Câmara, porém a grande obra que este povo
precisa, obra que vem sendo reivindicada há muitos anos e prometida por todos os governos,
que não a fizeram, e que o senhor prometeu e até hoje não fez, não existe nem projeto
elaborado, é o abastecimento d’água. Conclui dizendo que só apoiaria o candidato do governo
se a obra prometida estivesse inaugurada até o dia 29 de outubro do ano 1982, data do 54º
aniversário de emancipação do município.Coloquei, como se diz popularmente, a faca nos
peitos de Lavô.
Sentindo o golpe, Lavô fez cara feia, torceu o beiço, mas prometeu no mesmo
instante, para delírio dos presentes, que no dia aprazado pelo prefeito a água seria inaugurada
em João Câmara. E assim foi feito, com a construção de uma adutora desde a fonte de Pureza,
a mais de 36 quilômetros de distância.
A partir daquele dia, projetos foram elaborados às pressas, a obra foi licitada e
iniciados os trabalhos poucos meses depois. Exatamente na data-limite por mim fixada em um
momento de desespero, em meio a grande concentração popular na praça Antônio Justino, a
água encanada chegou a todas as casas da cidade de João Câmara. Poço Branco e Taipu
também foram beneficiadas, sem que nenhuma liderança desses municípios tenha lutado por
tal benefício.
Os moradores mais antigos da cidade, muitas vezes relataram que abalos sísmicos
foram sentidos pela população nas décadas de trinta e quarenta do século passado. No ano de
1952, o fenômeno voltou com maior intensidade, chegando a deixar a cidade quase vazia, tal o
temor que se apoderou dos seus moradores. O pavor tomou conta da população, todos
temendo o fim do mundo, pedindo perdão a Deus e ao próximo pelos pecados cometidos.
Nunca, porém, houve uma concentração de abalos sísmicos tão grande quanto no
período que vai de agosto de 1986 a março do ano seguinte, quando chegaram a ocorrer mais
de 200 abalos em determinados dias. Segundo o Boletim Informativo nº 12, do Departamento
de Física da UFRN, assinado pelo professor Mário Takeya, naquele período aconteceram 8.802
sismos, sem contar os ocorridos de 29 de novembro a 12 de dezembro, que na época estavam
sendo analisados pelas Universidades de Brasília – UNB, e São Paulo – USP, justamente por
envolver o espaço de tempo em que ocorreram os mais significativos abalos.
Nem um só prédio em toda a região dos sismos ficou imune aos seus efeitos. Todos
racharam, mas somente uma casa caiu, na localidade Samambaia, situada no município de
Poço Branco, onde ocorreu o epicentro do maior tremor. A igreja matriz também foi
danificada, com rachaduras nas torres e paredes, além do piso que ficou cheio de lombadas.
Em conseqüência da visita presidencial, centenas de casas de tijolos foram derrubadas e
substituídas por outras de taipa, que se acreditava mais seguras. Vários prédios públicos foram
recuperados. Outros foram construídos em lugar dos que haviam sido danificados.
Por ocasião dos grandes abalos sísmicos, era prefeito do município o senhor José
Ribamar Leite, que teimou em ficar no lugar, mesmo diante das ameaças de possíveis tremores
maiores, de conseqüências imprevisíveis. O Monsenhor Luiz Lucena, pároco da cidade, foi
outro que não arredou pé, respondendo a quem perguntava que só deixaria Baixa-Verde
depois que o último habitante saísse. Por razões diferentes, é verdade, os dois permaneceram
no lugar.
Somente depois de alguns anos, é que aquelas pessoas mais medrosas tiveram
coragem de retornar plenamente ao aconchego dos seus lares. Pouco a pouco a situação
voltou à normalidade, até que a fúria dos deuses que habitam o interior da terra novamente se
manifeste.
OS MENDONÇAS DO AMARELÃO:
Certo é que milhares de anos antes da chegada dos Mendonças ao local, já existiam
habitantes por ali. Inscrições rupestres, existentes a aproximadamente três quilômetros do
povoado, denominadas simplesmente de “mãos de sangue” pelos nativos, denunciam a
existência de seres humanos muito antes da chegada do homem europeu em nosso
continente. Tratam-se tais inscrições rupestres de verdadeiras relíquias, que muito bem
podem ser aproveitadas para desenvolver a comunidade através da sua utilização como
atração turística, desde que se faça a mínima divulgação e construção de infra-estrutura
básica, como, por exemplo, estrada até as proximidades. As próprias inscrições rupestres
precisam ser protegidas, sob pena de correrem o risco de depredação.
UM TRISTE EPISÓDIO
Até aí, nenhuma surpresa, pois a intervenção era tida como certa. O que causou
estranheza e até perplexidade foi o nome do interventor. No caso, uma interventora, a
senhora Mônica Dantas, ex-deputada estadual e ex-prefeita de Macaíba, por várias vezes. Diz-
se que a decisão de nomear Dona Mônica surgiu numa reunião da cúpula política, quando
vários nomes foram analisados e descartados por um ou outro motivo, até que alguém disse:
já que nenhum cargo demos a Dona Mônica e Seráfico, por que não nomeá-la interventora em
João Câmara? Rapidamente a “luminosa” idéia foi aprovada e comunicada a decisão à
sorteada, que aceitou.