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Irmãos Flor,
Romão (esq.)
e Sebastião
sucesso calcado em
tecnologia.
70 DBO abril de 2011
Mitos vivos da pecuária nacional, proprietários
S
de 100 mil cabeças, eles atribuem o seu êxito à capacidade
de se atualizar, sem tirar os pés do chão.
e a pecuária tem seu panteão de
mitos, os irmãos Sebastião e Ro-
mão Flor nele ocupam um lugar
de destaque, ao lado de Tião
Maia e Tonico Toqueiro, pecuaristas le-
gendários. Poucos personagens na história
da atividade suscitaram tanta curiosidade
entre seus pares e deram origem a tantos
relatos fantasiosos, como o de um supos-
to pacto que teriam feito, ainda jovens, de
jamais se casarem para não colocar em ris-
co sua parceria. “Doidices dessa gente. Eu
me casei e tenho dois filhos”, retruca Ro-
mão Flor, soltando uma gargalhada gostosa.
A origem de tanto folclore é a singular
trajetória de vida dos dois irmãos, que so-
breviveram a uma infância pobre, em Pre-
sidente Olegário, MG; trabalharam duro
desde criança; demonstraram invejável
habilidade comercial e se tornaram gran-
des pecuaristas, donos de um rebanho su-
perior a 100.000 cabeças. Aos 76 e 73 anos,
respectivamente, Sebastião e Romão con-
tinuam empresários ativos, destituídos do
perfil tradicionalista, comum a muitos de
sua geração. Souberam, a seu modo, acom-
panhar a modernização do setor e eleger as
tecnologias adequadas a cada um de seus
projetos pecuários.
A despeito de terem testemunhado
muitas crises econômicas nacionais, não
desistem de sonhar grande. Hoje, seu
principal objetivo é produzir carne de qua-
lidade, com remuneração diferenciada. No
ano passado, terminaram, em confina-
mento, 5.800 novilhos e novilhas super-
Fazenda em números
Canabrava precoces Nelore-Angus, abatidos com
17-18@, aos 14 meses. Todos produtos de
inseminação, convencional e por tempo
Nome: Fazenda Rio Preto fixo-IATF. Neste ano, serão terminados
Localização: Canabrava, MT. 9.800 e, no próximo, 11.200. Para chegar
MT
Área total: 141.830 ha a esse último número, 25.000 matrizes es-
Área de pastagem: 70.000 ha tão sendo submetidas aos protocolos du-
Rebanho: 100.000 cabeças rante a estação de monta, que termina em
Matrizes em reprodução: 30.000 abril, na Fazenda Rio Preto, em Canabra-
Cuiabá
à página 78).
nheira. “Graças a essa infraestrutura, con- uma equipe fixa enxuta, de 1 homem para
PERSPICÁCIA – Assim como tudo o que diz seguimos mudar rapidamente de 3.000 ma- cada 1.200 cabeças, afirma.
respeito à adoção de inovações, os Flor não trizes inseminadas convencionalmente A eficiência operacional da Rio Pre-
aderiram à IATF por modismo. Já reali- para 25.000 em tempo fixo”, informa Ri- to tem-lhe propiciado resultados inéditos.
zavam inseminação artificial convencio- cardo César dos Passos, diretor da empre- São seis retiros de vacas, que abrigam, em
nal na Rio Preto há 10 anos, utilizando vá- sa goiana Criafértil, responsável pela exe- média, 5.000 cabeças, e cada retiro está
rias raças, entre elas a norte-americana cução do serviço. Os irmãos Flor terceiri- sob responsabilidade de um inseminador
Shorthorn, que Romão conheceu em uma zam a IATF, porque ela demanda mão de da Criafértil. No ano passado, quatro
viagem aos Estados Unidos, em 1998. Esse obra sazonal e especializada, difícil de for- desses técnicos inseminaram 2.712 ma-
trabalho lhe valeu uma visita, em 2000, do mar. Fica mais econômico contratar espe- trizes em apenas dois dias, média de 678
governador do Estado de Ohio e de auto- cialistas e trabalhar ao longo do ano com vacas/homem. Na estação 2010/2011,
ridades agropecuárias do Texas. Quando planejava-se realizar 4.000 inseminações
se consolidou no Brasil, a IATF passou a em igual período, mas a seca atrapalhou
ser testada na fazenda com Angus, tendo os planos da equipe, e a meta foi adiada
por base vacas Nelore. O bom desempe- Saga em causos para o ano que vem.
nho dos produtos 1/2 sangue no confina- Romão Flor, que cuida da Fazenda Rio
mento, tanto em precocidade quanto em Preto, enquanto seu irmão administra os ne-
qualidade de carcaça, e a perspicácia co- Conta-se, em rodas de gócios de Goiás, faz questão de acompa-
mercial dos Flor, que identificaram de- pecuaristas do Centro-Oeste, nhar a rotina da IATF. Conversa com os
manda crescente pela carne da raça no mer- que os irmãos Sebastião e peões, observa detalhes e faz anotações rá-
cado, fortaleceram tal escolha. Na estação Romão Flor fizeram um pacto pidas em pequenas folhas de papel, que
de monta 2011/2012, cerca de 30.000 de sangue, quando mantém permanentemente no bolso da
matrizes serão fertilizadas exclusivamen- meninotes, para jamais se camisa. “Registro algumas coisas, para não
te com sêmen de Angus. casarem, porque as mulheres esquecer, mas minha cabeça é meu com-
A fácil transição da inseminação con- gostam de muito dinheiro e putador”, brinca o megafazendeiro, cuja cu-
vencional para a IATF deveu-se ao bom ní- dão palpite em tudo, o que riosidade tem-lhe servido de bússola no de-
vel de organização da fazenda, que, por sua atrapalharia a sua sociedade. safio de acompanhar a evolução do setor.
grande extensão, está estruturada em 12 re- Os Flor acham graça dessa
tiros, subdivididos em 700 pastos com cer- história, cuja origem CONTROLE E SINTONIA – O processo de
ca de 100 ha cada, todos convergindo para desconhecem. IATF é controlado por fichas, das quais
FALSO
corredores, o que facilita a movimentação constam os números dos lotes submetidos
do gado. Cada retiro possui seu curral, seu ao serviço, dos retiros e pastos onde esta-
refeitório e uma equipe composta por vam alojados, a raça dos animais, sua ca-
quatro vaqueiros, um capataz e uma cozi- tegoria (primíparas, secundíparas, multí-
paras), o ano de nascimento de cada fêmea, to o diagnóstico precoce de prenhez por ul- ralmente, e o índice de concepção por re-
a data dos partos anteriores, seu escore cor- trassom, que possibilita avaliar perdas passe com touro aumenta. Apesar de ter
poral de 1 a 5, o tipo de protocolo aplica- embrionárias e tomar medidas corretivas. sido invernista boa parte da vida, Romão
do, o número de vezes em que o implante Segundo o diretor da Criafértil, Ricar- Flor gosta de cria. “Cheguei a engordar
intravaginal foi utilizado, se houve perda do César, a IATF aumentou a produção de 80.000 bois na Rio Preto, mas sempre tive
desse dispositivo, a data da inseminação, bezerros da Rio Preto em 8,98%. No ano um pouco de vaca. Quando o mercado me
o touro escolhido, a partida do sêmen (data passado, o índice geral de prenhez chegou indicou que era hora de mudar de rumo, não
de coleta) e o nome do inseminador. “Tra- a 92,75%, pois, mesmo quando as vacas tive medo. Estacionar é sentença de mor-
ta-se de um relatório que possibilita a ava- não enxertam com a aplicação do protocolo, te, em qualquer negócio”, ensina. Hoje, a
liação detalhada de nosso trabalho”, explica seu organismo é estimulado a ciclar natu- fazenda é um grande berçário a céu aber-
Cléverson Machado, coordenador da equi- to e conta somente com 20.000 animais de
pe de inseminadores da Criafértil que engorda. Em 2012, abrigará 47.000 ma-
atende a Fazenda Rio Preto. trizes em reprodução.
Normalmente, os procedimentos da Saga em causos
IATF são concentrados na primeira quin- BAQUE INESPERADO – Um dos principais
zena do mês, ficando a segunda quinzena Certa vez, Romão teve motivos que levaram os irmãos Flor a re-
para serviços de manejo reprodutivo, como problemas com seu carro formular o projeto pecuário da Rio Preto
diagnóstico de gestação, repasse das vacas e foi obrigado a voltar a pé foi a necessidade de reduzir sua depen-
com touro, desmame etc. “A sintonia en- para a sede. No caminho, dência dos frigoríficos. “Com um leque
tre nossa equipe de inseminadores e os va- pediu carona a um mais amplo de produtos – bezerros, novi-
queiros é perfeita. O trabalho flui tão bem caminhoneiro da empresa, lhas, vacas -, podemos vender para vários
que, em 2010, ninguém trabalhou no do- que não o reconheceu e tipos de compradores e não colocar todos
mingo ou deixou de ir à cidade no dia do pediu que embarcasse na os ovos em uma única cesta”, explica Ro-
pagamento”, diz Machado. carroceria. “Subi sem mão. Como terminador especializado, ele
Graças a essa interação, os resultados pestanejar. Não tenho luxo, sofreu um grande baque financeiro em mar-
da IATF na fazenda têm melhorado. No ano não”, diz ele. O caminhoneiro, ço de 2009. Havia acabado de vender 6.000
passado, o percentual de produtos cruza- quando soube tratar-se do bois e 1.200 vacas por R$ 11,2 milhões ao
dos desmamados colocados no confina- patrão, ficou vários dias Frigorífico Independência, quando este
mento, que, para Romão Flor, é o princi- encabulado. pediu recuperação judicial. “Dias antes, ins-
VERDADEIRO
pal critério econômico no emprego da tituições financeiras me haviam garantido
técnica, foi de 45%. Mas esse índice ten- que a situação da empresa era sólida.
de a melhorar, pois a estação de monta está Levei um choque. Da noite para o dia, me
sendo ajustada. Também começa a ser fei- vi sem dinheiro para pagar as contas. Tive
abril de 2011 DBO 73
Relações de
trabalho nota dez
Para fazer funcionar esse pequeno
império de 141.830 ha, com 3.000 km de
cercas, 350 km de corredores e 56 pontes,
Sebastião e Romão Flor contam com o
apoio de 192 funcionários fixos, todos
com carteira assinada. Eles moram numa
pequena vila, composta por 23 casas se-
melhantes à dos proprietários, distribuídas
ao longo de ruas largas e bem cuidadas,
com canteiros centrais floridos. A vila dis-
põe ainda de três alojamentos para soltei-
ros, um refeitório, nove galpões, um escri-
tório, uma oficina, uma escola, um posto de Da esq. para a dir: Pedro Pires e Paulo Dias, da Gestão Agropecuária; Cléverson Machado e
saúde, um hangar com pista de pouso, um Ricardo César, da Criafértil; Romão Flor e a sobrinha Janaína; o zootecnista Renato Cortez e
armazém e um açougue, que desossa o gerente geral, João dos Reis.
cinco carcaças bovinas e 10 suínas por se-
to da dívida, antigos projetos deverão ser o manejo da fazenda é simples, mas dá-
Lima, responsável pelo estabelecimento. MANEJO DO GADO –
ção de pastagens. “Já plantei mais de rio e à suplementação mineral. Todo o re-
mentos de proteção individual, como botas,
6.000 hectares de soja aqui, por isso sei banho recebe sal proteinado, processado
óculos e luvas, dependendo da atividade.
para 300.000 cabeças”, diz. Atento às no- em seis silos. Os irmãos Flor estimam ter
os meses, um médico e um dentista aten-
colha das tecnologias. “Gosto de ser pu- seca passada, mas, em compensação, não
também contam com assistência diária
Sua intuição lhe diz que a produção ver- dizer que rapadura
tica. “O acesso à internet facilitou nosso tra-
sumidor. “Até que ponto o preço da carne para obter burros de lida.
vai poder subir? Responder essa pergunta Não teve dúvidas: comprou
é fundamental para dosarmos o nível de in- uma carga inteira de
tensificação da fazenda. Se andarmos mui- rapaduras para dar aos
to à frente do mercado, poderemos ser atro-
animais. Mas, como os
pelados”, pondera. A produção de carne de
peões também gostavam de
qualidade ainda é, a seu ver, uma equação
rapadura, o produto não
mal resolvida. “O frigorífico continua
pouco disposto a remunerar adequada- chegava direito ao cocho.
mente o pecuarista, e o consumidor pou- Desistiu da experiência.
VERDADEIRO
co disposto a pagar mais pelo produto. Fal-
ta maturidade ao segmento. Mas as pers-
A professora Maria Marta Rodrigues
FALSO
alastra principalmente após períodos de ra semelhante também para o gado adulto.
seca intensa e precisa ser controlado re- Animais debilitados ou vítimas de acidentes
gularmente com herbicidas. são encaminhados para um pequeno con-
Para evitar o estresse provocado pela finamento, onde recebem ração diária e
disputa no cocho, a fazenda trabalha com acompanhamento adequado. Na seca do
lotes pequenos, de no máximo 200 cabe- mães, para permitir contato visual, e rece- ano passado, esse confinamento recebeu
ças. Logo após a desmama, efetuada aos bem ajuda de vaca-madrinhas, para se adap- cerca de 600 animais. Com medidas triviais
oito meses, os bezerros são mantidos du- tar à nova condição. Concluído esse pro- como essas, os irmãos Flor garantem bom
rante dois dias em piquete contíguo ao das cesso, são separados por sexo, data de nas- retorno a seu negócio.
“
Uma história de extremos
Eu tinha de
andar seis
quilômetros para
chegar à escola,
descalço, sem
merenda”.
mantém um grande pomar atrás da sede, 1938. Sou o quinto de oito filhos. Éramos
com inúmeras espécies frutíferas; e, nas muito pobres. Meu pai trabalhava como la-
visitas aos retiros da fazenda, leva consi- vrador num pequeno sítio, mas a comida
Quando vocês se mudaram para
go um saco de laranjas ou maçãs para dis- era pouca, e a gente ainda tinha de ajudar No começo dos anos 70. Eu e o Se-
Goiás?
tribuir aos peões. Mineiro de nascimento na roça, moer cana, ralar mandioca. Nem bastião fomos a Goiás comprar um carro
e goiano de coração, ele mescla gestos arroz tinha. Nosso prato principal era fei- Volkswagen e acabamos gostando da re-
mansos com agilidade mental. “Tenho 73 jão com abóbora. Eu era franzino, demo- gião. Decidimos, então, alugar uma fa-
anos para trabalhar e 18 para namorar”, rei a crescer. Fui estudar tarde e só cursei zenda e engordar bois. Mais tarde, ven-
diz, rindo. três anos. Era muito difícil. Eu tinha de an- demos tudo o que tínhamos e compramos
Considera-se um homem simples, dar seis quilômetros para chegar à escola, uma propriedade em Anicuns, a Califór-
mas não humilde. “Humildade demais é descalço, cabeça raspada para não pegar nia, que temos até hoje. Compramos essa
ruim, apanha-se muito”, justifica. Romão piolho, sem merenda. terra para tocar roça e fomos muito feli-
veste roupas de corte tradicional, usa bo- Parei de estudar aos 14 anos, quando zes. Na safra 74/75, colhemos 25.000 sa-
tinas durante o trabalho e mantém o cos- meu pai morreu de repente e tive de aju- cos de feijão roxo e 150.000 sacos de mi-
tume dos homens de sua geração de le- dar o Sebastião a sustentar minha mãe e lho. Com o dinheiro da lavoura, compra-
var papel e caneta no bolso da camisa; ca- meus três irmãos menores. Os mais velhos mos muito gado.
nivete, pente e lenço, nos da calça. Seu jei- já haviam se casado, ficou tudo com a gen-
to comunicativo contrasta com o caráter re- te. Criamos uma aliança muito forte, de
servado do irmão Sebastião, que fala parceria e confiança. Comecei a tocar roça
Foi nessa época que se associaram
pouco. Em entrevista à repórter Mariste- à meia com os vizinhos, comprei bezerros Sim. Não tínhamos pasto, e ele era
ao Tonico Toqueiro?
la Franco, Romão Flor emociona-se ao re- para treinar como bois de carro. Carreei du- dono de muita terra, lá em Ceres, GO. Nos
associamos em 7.200 bois. Ele entrou com pernoita no escuro. O ex-governador Blai- beiros de Cuiabá, que chamei para ajudar,
o pasto e nós com o trato (sal mineral). O ro Maggi adotou essa frase como slogan, disseram que estávamos mais preparados
Tonico era um sujeito muito ativo, nego- mas até hoje estou esperando pelo térmi- para fazer o serviço do que eles. Mas os
ciava muito bem. O que o atrapalhou foi no do asfalto da BR 158, que batizei de ro- órgãos ambientais não reconhecem nos-
o carteado. Com o dinheiro dessa socie- dovia da promessa. Quando tomei posse so trabalho.
dade, compramos a primeira fazenda no da Fazenda Rio Preto, era tudo mato. Mon- No ano passado, a Secretaria de Con-
Mato Grosso, em São José do Xingu, que tei um ranchinho, desses de plástico, que trole Externo do Mato Grosso, braço re-
meu irmão Antônio, o caçula da família, eu chamava de cinco estrelas, porque tinha gional do TCU-Tribunal de Contas da
“
começou a tocar. Meu pai queria que cinco buracos no teto, e vivi nele por mui- União, abriu um processo contra o Incra
pelo menos um de nós se formasse, e nós to tempo. Nunca refuguei trabalho. Se for por omissão nas ações relacionadas à nos-
decidimos realizar o sonho dele. O Antô- para morrer, morro em pé, não deitado. sa fazenda, pois, na visão deles, trata-se
nio formou-se engenheiro, pela Universi- Contratei gente de Goiás para abrir pica- de propriedade improdutiva, que não
dade de Frankfurt, na Alemanha. Ficou lá da e formar os pastos. Hoje, nada disso se- atende sua função social. O Incra fez novo
12 anos, mas decidiu voltar e trabalhar com ria possível, porque o produtor sofre mui- laudo de inspeção e emitiu um parecer a
a gente. Depois, comprou sua própria fa- ta perseguição. nosso favor, dizendo que não paira dúvi-
zenda. No começo dos anos 90, decidimos das sobre a legitimidade e autenticidade
participar do leilão da do domínio e que ele cumpre
Agip Petroli, multina- indiscutivelmente sua função
O progresso
cional italiana perten- social, pois o grau de utili-
cente ao grupo ENI-Ente zação da terra e eficiência da
não anda
Nazionale Idrocarburi, exploração estão bem acima
ex-dona da Liquigás, que dos padrões mínimos esta-
em estrada
queria vender 256.000 belecidos para a região. Te-
ha na região de Cana- nho um rebanho de 100.000
de chão,
brava do Norte, MT, e cabeças, pastagens total-
fomos vitoriosos. mente formadas, infraestru-
nem
tura completa, quase 200
funcionários. Como o TCU
pernoita no
pode dizer que essa fazenda
Como conseguiram
escuro”
ravelo, dono do extinto
Consórcio Garavelo, en-
tramos fortes na concor-
Como o senhor vê o con-
nossa parte com o dinheiro da venda da fa- placa de sinalização nas ruelas da vila. Se rar a LAO-Licença Ambiental de Opera-
zenda no Xingu e de 24.000 bois. Na épo- cai um raio no pasto, eles falam que nós ção, tudo isso enquanto o Congresso de-
ca, boi valia dinheiro, era reserva de va- colocamos fogo. Se o satélite detecta uma bate o Código Florestal. Nossas terras es-
lor contra a inflação, que chegava a 30% fumacinha, dizem que é na nossa mata, tão em uma área de transição, basta veri-
ao mês. Com o tempo, fomos comprando quando o incêndio foi no vizinho. O pe- ficar a vegetação nativa, que é tipicamente
glebas do Garavelo, até formar uma pro- cuarista sofre muito preconceito. Ao de cerrado. O pecuarista vive em meio a
priedade de 171.000, dos quais o Incra de- contrário do industrial, que é visto de for- um fogo cruzado, pode levar uma bala per-
sapropriou 30.000 ha, em 1998, ao preço ma positiva, devido a pesadas campanhas dida a qualquer momento ou se salvar. Não
de R$ 100/ha, e não pagou até hoje. de marketing, nós, produtores, somos vis- sabemos. Enquanto isso, estou tomando
tos como bandidos. No ano passado, algumas providências, como a recompo-
passamos 42 dias apagando fogo em fa- sição de alguns pontos da mata ciliar. Nes-
Difícil, pois a região não tinha infra- zendas vizinhas, para impedir que as te ano, pretendo plantar 50.000 mudas de
Como foi a abertura da fazenda?
estrutura. A estrada que passava pela fa- chamas chegassem às nossas terras. Mon- espécies nativas como o landim, o pequi,
zenda virava um grande atoleiro na épo- tamos uma brigada de incêndio equipa- o angazinho e o genipapo em beiras de
ca das chuvas. Costumo dizer que o pro- da com máquinas pesadas e pessoal trei- córregos e nascentes. Estou fazendo a mi-
gresso não anda em estrada de chão, nem nado. Até os homens do Corpo de Bom- nha parte.