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Perfil - Os municípios de nossa região Ano 2, nº 8, julho 2001

Agronegócio é a alma
de Descalvado Publicação oficial

“Aves, carne bovina e suína, leite e de-


rivados, milho, cana, café, laranja... O
Garcia, à frente de 680 empregados.
Antes do frango, o leite dividia
Lição de casa: o Agronegócio
agronegócio é a alma de Descalvado”, de- com o café a zona rural do municí-
fine o prefeito José Carlos Calza, desta pio. A Agrindus está lá desde 1945. A coordenadora da oficina peda-
cidade de 29 mil habitantes, fundada em Hoje, o rebanho de 900 vacas ho- gógica da Diretoria de Ensino de
1832, em torno da capela de Nossa Senho- landesas dá 10 milhões de litros por Jaboticabal, Maria Noda Bechara, diz
ra do Belém, nas terras dos índios ano, transformados em uma linha que em 25 anos de magistério não viu
caingangues, na sesmaria do bandeirante de derivados em parceria com a nada igual ao “Programa Educacional
Amador Bueno da Veiga. O agronegócio, marca Salute. A meta é ampliar o – O Agronegócio na Escola”, desen-
volvido em parceria com a Associa-
como em quase toda a extensão da Via “kochër”, com leite “A”, light e io-
ção Brasileira do Agronegócio da Re-
Anhangüera, começou a chegar com o gurte, para abastecer a colônia ju-
gião de Ribeirão Preto (ABAG/RP).
café, levado por mineiros. Teve um peque- daica, segundo o diretor Roberto
“Nossos alunos e professores jamais
no ciclo do algodão, que alimentou algu- Jank Jr.. Na pecuária de corte, a
tiveram essa oportunidade, de conhe- Valéria Ribeiro

mas tecelagens, nos anos 40. Mas nos 60, empresa abate por ano 1.500 cabe- Professores conhecem a importância do agronegócio na região
cer a importância sócio-econômica da
tudo mudou, com a família Fregonezzi, de ças das cinco mil da criação. Ela
Divulgação
realidade que os cerca, com todo o apoio logístico para ferência seguida de debate, na qual alertou a platéia para
Poços de Caldas, implantando a avicultura. Mesmo de- mantém o sistema de transferência de 600 embriões anu-
levá-los da escola ao campo, e com essa disposição e con- essa atividade, que começa na prancheta dos pesquisado-
pois de muita dificuldade, essa criação ainda marca a ci- ais mais 400 que ela vende no mercado, a partir de 120
dições de ensino”. res e termina na gôndola dos supermercados, mobilizan-
dade e se recupera, para que não perca o título de “Capi- doadoras de criadores de todo o País. E cria frangos: 75
A segunda etapa do programa foi lançada pela direto- do trabalhadores de todas as qualificações antes, dentro e
tal do Frango de Corte” do Estado de São Paulo. mil aves alojadas no sistema de integração com a
ra-executiva Mônika Bergamaschi e pelo conselheiro depois da porteira. “A agricultura e a pecuária estão no
“Quem mora em Descalvado tem de ter granja” era o Coperfrango e o frigorífico Hildebrand, de São Carlos. Wellington de Castro Caiado, da ABAG/RP, para cerca de nosso dia-a-dia e poucos percebem. Quando um anúncio
bordão, lembrado até hoje por Carlos Roberto Garcia, Em 1993, a agroindústria de Descalvado deu outro sal- 70 professores de dois mil alunos do primeiro colegial de de cerveja aparece na TV, quem sabe que na origem está
presidente da renovada Cooperativa Agrícola Mista do to, com a recuperação da Usina Ipiranga. É uma das maio- sete escolas de Jaboticabal, Guariba, Monte Alto e Pradó- o produtor da cevada e até do algodão do paletó do gar-
Vale do Mogi Guaçu, dona da marca Coperfrango. Eram res empregadoras da cidade: 502 funcionários dão conta da polis. Eles receberam o vídeo que mostra a dimensão do çom que serve a bebida?” E concluiu: “Para os ricos, 10%
centenas de granjeiros, há 40 anos, seduzidos pelos safra que, este ano, deve chegar a 690 mil toneladas de cana agronegócio na região e a apostila de capacitação, que ori- da humanidade, a comida tem pouca importância, por-
Fregonezzi, que instalaram a avicultura ali. Depois, os para produzir 47 mil toneladas de açúcar e 32 milhões de enta como o agronegócio pode chegar aos alunos por meio que se o preço do ovo ou do leite dobrar, não mexerá com
estados do Sul e seus frigoríficos, estimulados por subsí- litros de álcool, calcula seu diretor Leopoldo Titoto. do ensino de Português, Matemática, Geografia, História... o orçamento dele; mas para o pobre, significará a dife-
dios aos insumos jamais conseguidos por São Paulo, pas- As francesas Socil, Royal Canin e SPF também forta- O presidente da ABAG/Nacional e da Aliança Coo- rença entre a sobrevivência e a fome. A agricultura valo-
saram à frente. “Antes da ‘vaca louca’, o frango deles era lecem o agronegócio de Descalvado, fabricando ração para perativa Internacional, Roberto Rodrigues, fez uma con- rizada é instrumento da paz.”
vendido aqui em Descalvado mais barato do que o nosso. aves, pequenos animais e insumos úmidos para ração.
Agora, exportam tudo e o mercado está favorável de A Prefeitura acabou de criar o Conselho Municipal Editorial
novo”, desabafa. “Só uma reforma tri- de Desenvolvimento Rural, “para acelerar a in-
butária vai resolver”, espera o pre-
feito. A cooperativa chegou a ter Cana-de-açúcar: 22 mil hectares
corporação de 85% dos mil produtores e cria-
dores às novas tecnologias — esses têm até
A reforma da reforma
Milho: 4 mil hectares Na época em que foi instituído o Estatuto da Terra,
1.300 associados (150 avicul- O Estatuto da Terra (Lei n° 4.504), na forma como
Laranja: 3 milhões de pés 50 hectares”, conta o diretor da Casa da Agri-
tores). Hoje são 35, que for- Café: 1,1 milhão de pés cultura, José Paggiaro. Têm à disposição é conhecido, foi promulgado no início do regime mili- as tecnologias de produção disponíveis eram ainda
necem 1,5 milhão de fran-
Avicultura: 5 milhões de aves
tratamento fitossanitário e uma patrulha tar, em novembro de 1964, pelo presidente Castello incipientes. Sua estrutura arcaica carrega o viés do es-
Pecuária de leite: 12 mil cabeças
gos por mês. Estão in- Produção de leite: 75 mil litros/dia agrícola que consideram a melhor do Es- Branco. Recentemente, o deputado federal Xico Gra- tabelecimento da relação direta entre tamanho de área
vestindo R$ 12 mi- Pecuária de corte: 15 mil cabeças tado, formada por 25 implementos, de ziano (PSDB/SP) apresentou uma proposta para insti- e rentabilidade. Hoje é sabido que a renda rural é de-
Gado misto: 5 mil cabeças tuir o “Novo Estatuto da Terra”, que compatibiliza as corrente da produtividade, do emprego de tecnologia,
lhões na automação Pasto: 20.500 hectare niveladoras a colhedo-
e, em 90 dias, calculam abater 2 mi- ras, plantadoras e cin- políticas agrícola e agrária. do gerenciamento, da coordenação das cadeias produ-
lhões e ocupar toda a estrutura da granja de ma- co tratores. O objetivo é O deputado argumenta que o maior defeito da le- tivas, da dinâmica dos mercados e dos instrumentos
trizes, incubatório, fábrica de ração, túnel de estimular o plantio de milho, gislação agrária brasileira reside no conceito de módulo de política agrícola.
resfriamento e congelamento e os postos de Pontal, de olho numa nova era para a rural, um tamanho “ideal” de propriedade suficiente Nestes 37 anos foram notáveis as mudanças e os
Americana, Bauru, Sorocaba e São José dos Cam- avicultura e livrá-la da importação do para garantir a subsistência e propiciar o progresso avanços tecnológicos em todos os setores, entretanto
pos. Aí, o Coperfrango estará em outros estados, produto que hoje vem quase todo de econômico do agricultor e sua família. Variável de re- decisões que podem afetar a competitividade, a gera-
acompanhado de uma variedade de embutidos, prevê Goiás. gião para região, foi definido nos anos 60 em função ção de renda, empregos e divisas continuam sendo to-
Teresa Flora da área média dos municípios brasileiros, da ocupação madas com base em leis ultrapassadas. Eis a oportuni-
histórica e das características da agropecuária local. dade de rediscutir a ética da terra, os direitos e as obri-
é uma publicação oficial, mensal, da Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto -
ABAG/RP, av. Senador César Vergueiro, 540, sala 1, CEP 14020-510, Ribeirão Preto-SP. Fone: (16) 3916-1906. E-mail:
Coluna dorsal do Estatuto da Terra, ainda é usado pelo gações dos homens que nela trabalham.
abag.rp@netsite.com.br. Diretora-executiva: Mônika Bergamaschi. Jornalista responsável: Valéria Ribeiro, MTb 15.626. INCRA para determinar o tamanho dos lotes a serem
Editoração eletrônica: Fernando Braga. Impressão e fotolito: Gráfica São Francisco. Tiragem: 2.500 exemplares distribuídos às famílias nos assentamentos. Mônika Bergamaschi
Novas tendências do cooperativismo
Direção compartilhada entre cooperados e profissionais especializados; fusão de pequenas, médias e grandes cooperativas e
investimento maciço em tecnologia e na educação dos produtores marcam o novo perfil do cooperativismo na região
O presidente da Cooperativa dos Antônio Toniello, presidente da O diretor comercial da Coopera- Na Cooperativa dos Plantadores A meta da Cooperativa Nacional Para Leopoldo Pinto Uchôa, pre-
Agricultores da Região de Orlândia Cooperativa dos Plantadores de tiva de Cafeicultores e Agropecua- de Cana da Zona de Guariba (Co- Agroindustrial (Coonai), de Ribei- sidente da cooperativa de consumo
(Carol), José Oswaldo Galvão Jun- Cana do Oeste do Estado de São ristas (Cocapec), de Franca, Maurí- plana), o presidente Francisco Bara- rão Preto, segundo seu presidente Cooperativa dos Cafeicultores e
queira, diz que nada promove a me- Paulo (Copercana), de Sertãozinho, cio Miarelli, diz que a fase de tutela tella, diz que a educação do coope- Daniel Felipe, é fazer com que o co- Citricultores de São Paulo (Cooper-
lhor globalização e a mais justa dis- concorda com a fusão. “A coopera- oficial, que fazia cooperativas nas- rado começa com a equipe de sete operado, cada vez mais, entenda que citrus), de Bebedouro, atualmente, o
tribuição de renda e riqueza para a tiva precisa ter tamanho para inves- cer de cima para baixo, acabou. agrônomos de campo, “obrigada a o lucro ou parte dele reverta para a problema do crédito rural “bem en-
comunidade do que o cooperativis- tir e competir. Por isso a integração “Elas não são mais meros instrumen- tomar o café da manhã na cozinha cooperativa. “Ela precisa de uma es- caminhado”, com o Banco Central
mo. “Essa realidade é uma tendência é necessária – só assim, o pequeno tos de repasse de crédito. Agora, para da propriedade do produtor”, para trutura industrial eficaz como a de dando boa cobertura aos cooperados.
e mostra que sem a cooperativa, o produtor conseguirá para o seu pro- fortalecê-las, é preciso profissiona- que ele se sinta seguro e acredite na uma fábrica. Aí entram o trabalho de Segundo ele, as cooperativas preci-
produtor, principalmente o pequeno, duto o mesmo valor obtido pelo lizar a direção e incentivar os cursos entidade. O pequeno produtor é o educação e conscientização para que sam encontrar um caminho que li-
por falta de condições de acesso ao grande.”. Toniello observa que a co- universitários de cooperativismo. É mais visado, “porque é acanhado, um produtor médio, de 130 litros de vre seus associados dos tropeços da
financiamento, corre o risco de se tor- operativa iguala, “é o lado humano o caminho para assumirem respon- tem família grande e se julga ‘sem leite por dia, com ganho mensal de oscilação da economia. “Hoje, por
nar um excluído.”. Para José Oswal- da globalização”. E além do acesso sabilidade social, alcançarem o lu- lastro’ para ser cooperado, sem sa- R$ 1.400, não se assuste quando se exemplo, há otimismo para os pro-
do, a globalização induz à fusão no ao financiamento, garante ao produ- cro e serem geridas como empresa”, ber que a maioria é como ele”, com- vê parte de uma cooperativa cuja in- dutores de cana, laranja e milho. As
sistema. A incorporação é inevitável, tor assistência técnica e jurídica e aposta. Para Maurício, o cooperati- para. O produtor menor só terá aces- dústria fatura R$ 10 milhões por entidades da região estão melhor
para superar a dificuldade de crédito; condições favoráveis de compra e vismo vai crescer porque o próprio so à tecnologia de ponta disponível mês.”. Apesar das transformações, estruturadas e vimos que as turbu-
conseguir redução de custos e propi- venda. produtor que estiver fora das coope- hoje na agricultura – aquela que ele Daniel diz que ainda há quem veja a lências da economia extinguiram vá-
ciar a economia de escala. Ele faz suas recomendações para rativas perceberá que o cooperado é vê na Agrishow – se for cooperado. cooperativa como um cabide de em- rias cooperativas, mas elas afetaram
Para o bom desempenho do coo- o futuro baseado em exemplos de tecnologicamente mais avançado; “Na cooperativa, ele dispõe de labo- prego: “isso é falta de credibilida- muito menos as da nossa região. Isso
perativismo nessa nova realidade, quem está há trinta anos no setor: sua produtividade é mais alta; a si- ratórios de análises químicas: solo, de”. Para se fortalecer como insti- porque o profissionalismo marca a
ele recomenda: tuação econômica é melhor; é mais fertilizantes, qualitativas do leite, e tuição e melhorar as condições de administração delas.”, observa.
protegido financeiramente e sofre de detecções de doenças, mesmo que seus produtores, a Coonai criou co- Hoje, o cooperado pode dizer que a
menos com a crise e com a es- ela não trabalhe com leite; dispõe de mitês educativos para ensinar os cooperativa só é notada quando não
peculação. Ele reco- zootecnista e de um bom supri- princípios do cooperativismo e aju- existe, avalia Leopoldo. “Portanto,
menda: mento de ração para o reba- dar a resolver problemas específicos ela já é fundamental na vida do pro-
nho”, avalia o presidente da de cooperados em suas bases de cap- dutor.”.
Coplana. Para o futuro, tação. Hoje, a adesão é maior do que Para o futuro, ele de-
Francisco Baratella a desistência e a maioria dos fende:
1. A adesão de novos cooperados tem observa: que saem deixa a ati-
de passar por triagem rigorosa. 1. O cooperado tem de se sen- vidade. Daniel reco-
2. O corpo de funcionários tem de tir, a um tempo, sócio e freguês da menda:
ser competente, a ponto de ensinar o entidade, porque, de um lado, ele
produtor a administrar a própria fa- quer vender caro e, de outro, com-
zenda, e antenado, para responder na prar barato.
hora a todas as necessidades do co- 2. Precisa investir na cooperativa, se 1. Será cada vez mais fácil fazer do
operado. 1. O cooperativismo faz o coopera- quiser serviço de qualidade. produtor um cooperado. Para con- 1. A cooperativa tem de crescer sem
3. O presidente precisa ter compe- do crescer. Produtor que fornecia 3. O reflexo do cooperativismo será quistá-lo, é preciso aumentar o su- se distanciar do cooperado, ao con- 1. A existência de concorrência leal
tência para escolher executivos me- 500 toneladas de cana, hoje, forne- na comunidade, onde é sensível a me- porte da cooperativa de crédito, para trário da indústria, que cresce só entre as cooperativas e entre elas e
lhores do que ele. ce 100 mil. lhor distribuição de renda. livrá-lo do banco de uma vez. pensando nela. Ele se sente sozinho. as empresas convencionais.
4. O cooperado deve saber que na 2. Cerca de 70% dos nossos coope- 4. Só o pequeno produtor cooperado 2. Falta educação até para ensinar 2. Uma das saídas é abrir a coope- 2. Cada vez mais, o crédito rural será
cooperativa ele sempre terá um re- rados são pequenos. Sem a coopera- não terá vergonha de entrar no ban- que cada um deve ganhar o mesmo rativa e seu cofre para o cooperado. o grande instrumento de alívio para
lacionamento melhor do que com tiva, a maioria teria desaparecido. co, porque confia na estrutura que pelo produto. Isso dá credibilidade, coisa que a in- os preços desfavoráveis.
uma empresa e que por maior que 3. A Copercana só trabalha com há por trás dele e sabe que se o ban- 3. As propriedades têm de ser uma dústria não faz com seu fornecedor. 3. Sem o cooperativismo de educa-
seja, a cooperativa é como uma ci- cana-de-açúcar, mas nossos coope- co não ajudá-lo, a cooperativa vai extensão da cooperativa, informati- 3. Incentivar a união das cooperati- ção e de trabalho, não há como ga-
dade pequena, onde uma mão lava a rados também aprenderam a culti- resolver. E o banco sabe disso. zadas, estar com on line com ela. vas para restaurar as centrais. No nhar adesão de novos produtores e
outra. var amendoim, soja e milho, e a cri- 5. Mergulhar no grande desafio de 4. Precisa acabar a vaidade, se não, caso das de produção de leite, havia sem cooperativismo, os produtores fi-
5. Destruir o maior obstáculo da fu- ar bois e carneiros graças ao apoio educar, educar, educar... Quem é edu- o cooperado vai parecer aqueles dois nove centrais, compradas por multi- carão reféns do juro alto, da falta de
são: a vaidade. da cooperativa. cado no cooperativismo é solidário. burros brigando pelo fardo de feno. nacionais – só restam duas. assistência e de maus comerciantes.

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