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AS
NOVAS
ARTESÃS
DO
CAFÉ
COOPERATIVAS DE MULHERES,
CONSÓRCIOS AGROFLORESTAIS
E PEQUENOS AGRICULTORES
APOSTAM EM PRÁTICAS
SUSTENTÁVEIS E AMPLIAM O
CULTIVO DE GRÃOS DE ALTA
QUALIDADE NO PAÍS
ENTREVISTA BRUNO LUPERI LEVA O CACAU AO HORÁRIO NOBRE EM ‘RENASCER’ CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL APROXIMADA 4,65%
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FEVEREIRO 2024
44
A ARTE CAFEEIRA
46 CONECTIVIDADE 68 ANÁLISE
48 SUSTENTABILIDADE 71 FUTURO
globorural.globo.com Globo+
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MIA E NEGÓCIOS: Maria Fernanda Delmas drade, Juliana Fernandes, Renata Ritzmann, DAS - INDÚSTRIA - SAÚDE), Darlene Bastos
EDITOR EXECUTIVO: Cassiano Ribeiro Selma Teixeira da Costa e Simone Puglisi. Campos Machado (VAREJO) e Monica Mon-
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EDITORES-ASSISTENTES: Camila Souza DIRETORA DE NEGÓCIOS: Lilian Cassamas- Ramos, Beatriz dos Santos Alves, Claudia
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COLABORADORES: Carolina Mainardes, João • TURISMO • PUERICULTURA • ALIMENTO E BE- Valentin (PUBLICIDADE LEGAL).
Mathias, Luiz Josahkian, Marcelo Belede- BIDAS • OUTROS COORDENADOR GERAL DE PME E NOVOS NE-
li, Mauricio Lopes e Nadiara Pereira (texto); DIRETORA DE NEGÓCIOS: Olivia Cipolla Bolo- GÓCIOS: Fabio Paz Lago COORDENADORES
Bruno Carvalho, Carolina Pedrosa e Henry nha COORDENADORA DE NEGÓCIOS (DECORA- DE ÁREA: Cyro Marçal e Jorge Guaiacy CO-
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(ilustração); Diego Cardoso (revisão) RA DE NEGÓCIOS (ENTRETENIMENTO SAÚDE Brasil EXECUTIVO DE NEGÓCIOS (CORRETO-
E TURISMO): Barbara Roberta Ferreira Con- RES): Miguel Fernandes
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Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa - Ano
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O
s caminhos que os produtores de cacau do sul paginados” e um protagonista com relevante consciência
da Bahia trilharam na batalha contra a vassoura ecológica. José Inocêncio, interpretado por Humberto Car-
de bruxa, uma praga que devastou os cacaueiros rão na primeira fase e por Marcos Palmeira na segunda,
entre as décadas de 80 e 90, é um dos principais é apresentado como produtor de cacau engajado em boas
temas da nova novela das nove da TV Globo. Bruno Luperi práticas agrícolas. Na entrevista a seguir, Bruno Luperi
é o autor da nova versão de "Renascer", uma adaptação da fala da sua pesquisa de campo, da presença da agricultu-
obra original de 1993, assinada por seu avô, Benedito Ruy ra em suas outras obras mais recentes e que foram sucesso
Barbosa. Trinta anos depois, a agroecologia e a sustentabi- de audiência ("Velho Chico" e "Pantanal") e da importância
lidade serão tão relevantes quanto as histórias de amor e de se valorizar o homem que cuida da natureza. Confira os
conflitos tradicionais de uma novela, com personagens “re- principais trechos da conversa a seguir.
GLOBO RURAL_ Trinta anos depois da pri- LUPERI_ Eu enxergo a presença da agri- coisa muito viva no imaginário das pes-
meira versão da novela, veremos uma cultura nas minhas obras sempre com soas para a gente simplesmente arran-
produção agrícola mais sustentável? novas propostas e modelos que são ca- car fora. E o João Pedro [personagem
BRUNO LUPERI_ Nós vamos explorar racterísticos do Brasil, um país de po- que é um dos filhos de José Inocêncio]
muito mais a cultura do cacau com o vos originários muito relacionados com vem no outro sentido, que não existia
advento da vassoura de bruxa, que na o meio ambiente. A relação do homem 30 anos atrás, que é o cacau de qualida-
versão original chega somente na se- com o meio ambiente é pautada no res- de. Ele não pisa mais no cacau, ele não
gunda fase da novela, dando a promes- peito, na dignidade, na honestidade. É põe o pé na comida. A novela é muito
sa de um futuro complicado. Na nova uma via de mão dupla, em que o homem feliz de chegar nesse momento em que
versão, ela já está estabelecida na re- cuida da natureza e a natureza provê a a cultura do cacau está falando sobre
gião logo na primeira fase, limitando a ele o alimento e o sustento. Não tenho qualidade. Você recebe um preço justo
possibilidade de futuro para quem lida aquela visão do agronegócio convencio- por isso, planta um cacau bom que atin-
com o cacau. Isso implica em um José nal, no qual o homem é o minerador da ge uma qualidade maior e vai dar um
Inocêncio repaginado, com uma nova terra e apenas extrai o que precisa. chocolate melhor. Os valores do pai ele
consciência. O protagonista chega com aprendeu e assimilou, mas ele traduz
uma nova filosofia e conceitos básicos GR_ Que elemento da novela original, de esse valor em novas práticas, o que eu
da agroecologia que ele acaba difun- 1993, do seu avô, você vai manter e qual acho muito importante.
dindo. Enquanto estava todo mundo será totalmente modificado?
queimando os cacaueiros, tentando se LUPERI_ Hoje em dia, nós temos uma no- GR_ A primeira fase da novela fala sobre
libertar da doença, ele enxergava a vas- ção de que não se pisa mais no cacau, a devastação da vassoura de bruxa. A
soura de bruxa como uma condição e a porque isso traz alguns malefícios para segunda fase, que se passa nos dias atu-
necessidade de um novo manejo para a amêndoa: essa ação pode deixar a fer- ais, vai abordar novas ameaças, como
lidar com aquela nova realidade. mentação mais intensa e trazer fungos a monilíase?
e outras coisas que não são necessaria- LUPERI_ A gente fala da monilíase como
GR_ Das quatro últimas novelas das mente boas. Mas há 30 anos esse era o uma possível nova ameaça, que é o que
nove, essa é a terceira com temática ru- padrão. Eu não quis tirar isso, porque está acontecendo hoje, um risco muito
ral. Como você avalia esse movimento? é uma imagem muito marcada, é uma grande para a região. E ela se apresen-
C U LT U R A I E N T R E V I S T A
C U LT U R A I E N T R E V I S T A
A G R I C U LT U R A | C A F É
A NOVA
GEOG
DO CA
por CAROLINA MAINARDES, de Pinhalão (PR), CIBELLE BOUÇAS, de Serra do Cabral (MG),
e ISADORA CAMARGO, de São Paulo (SP)
fotos BRUNO CARVALHO, de Cacoal (RO), e HENRY MILLEO, de Pinhalão (PR)
RAFIA
AFÉ
globorural.globo.com FEVEREIRO 2024 GLOBO RURAL I 15
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A G R I C U LT U R A | C A F É
A
Ana Karoliny Calleri, de 23
AGRICULTORA a melhoria dos resultados financeiros não depende ne-
anos, apostou em um café exclusivo, que cessariamente de mais lavouras: nos últimos 20 anos, a
ela produz em um sistema agroflorestal área de plantio de café em Rondônia diminuiu 70%, mas,
com cupuaçu na Reserva Indígena Rapo- com a disseminação de práticas regenerativas, a produ-
sa Serra do Sol, em Roraima. Também na tividade cresceu 500%, o que fez com que a produção ti-
Região Norte do país, em Rondônia, Juan vesse um salto de 60% nesse período.
Travian lidera uma cooperativa de produtores de ro- Travian é um dos 17 mil produtores do grão em Ron-
busta amazônico, que desperta a atenção internacio- dônia, estado que foi o primeiro do mundo a obter uma
nal. A 3.500 quilômetros dali, no Paraná, mulheres Indicação Geográfica do tipo Denominação de Origem
se uniram para produzir grãos especiais e recuperar para os robustas amazônicos. Ao todo, 15 municípios
o selo de qualidade do Norte Pioneiro do estado. E em fazem parte da Indicação Geográfica. Neles, 80% da
Minas Gerais, cafeicultores redesenham as fronteiras produção ocorre em áreas de até 4 hectares, nas quais a
da produção do café de qualidade. colheita é manual e a agricultura, familiar.
Esses diferentes personagens não se conhecem, mas Travian e seus quatro irmãos cuidam de 140 hectares
têm um desafio em comum: traçar novos roteiros para de café nas Matas de Rondônia, como a região é conheci-
o cultivo do grão no Brasil, o maior produtor do mun- da. Eles já exportaram para 13 países e, entre 2022 e 2023,
do. Durante muito tempo, a cafeicultura brasileira tiveram produtividade média de 150 sacas por hectare, o
concentrou-se em poucos polos de cultivo, mas o qua- equivalente a 7.000 sacas de 60 quilos. Travian investe
dro começou a mudar a partir do início dos anos 2000: em rastreabilidade e maquinário e aposta em “atitudes
agora, a cultura está em 37 diferentes áreas do territó- ambientais” – como o uso de biológicos e de plantas de
rio nacional, o que inclui estados dominados pela soja cobertura – para valorizar seu café. Ele está há sete anos
nas últimas décadas, como Goiás. no ramo e hoje abre a propriedade para visitas técnicas.
A nova geografia do grão não tem se estabelecido a
partir de um aumento expressivo da área de plantio,
mas a reboque, principalmente, de pesquisas sobre o
plantio em espaços que tenham potencial de receber
lavouras que fiquem em sintonia com a preservação
ambiental. O crescimento da demanda global por pro-
dutos com essas características, que usualmente ofe-
recem remuneração mais alta aos produtores do que o
grão commodity, tem puxado a transformação.
Um dos lugares em que o café surge de forma artesa-
nal e autoral é no Norte do país. Em Rondônia, em par-
ticular, um tipo específico do grão tem sido um agente
de mudança da economia local. “O robusta amazônico é
único, de genética criada a partir do cruzamento entre “O robusta amazônico é único.
o conilon do Espírito Santo e o robusta que a Embrapa A bebida lembra chocolate ou
trouxe para a região. O grão híbrido gerou uma bebida
encorpada, com doçura e acidez equilibradas. Você toma o aroma do vinho bourbon"
e lembra do chocolate ou sente o aroma do vinho bour-
bon”, detalha Juan Travian, um dos principais produto-
res de Cacoal, cidade de cerca de 85 mil habitantes que é
o coração do plantio dessa variedade no estado. JUAN TRAVIAN,
No estado, o desenvolvimento da cultura mostra como produtor da variedade em Cacoal (RO)
A CHAVE É O EQUILÍBRIO
O agricultor Juan Travian: a área de
produção de café em Rondônia diminuiu
70% nos últimos 20 anos, mas as práticas
regenerativas fizeram com que a produção
crescesse 60% nesse período
A G R I C U LT U R A | C A F É
XXXXX | CLIMA
PRODUÇÃO DE CAFÉ OO Brasil
cas
Brasildeve
de
deverá
café
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produzir
produzir
beneficiado
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no ciclo
na
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safra
de 58
de café milhões
2024/25
2024/2025,
2023/2024,
maisde
de acordo
ou
milhões de sacas do grão beneficiado, 5,5% a mais do que a
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5,5%
58
CICLO
DO FRUTO
ANATOMIA
DO GRÃO
semente pergaminho
casca
polpa
flor
cereja verde
CAÇAAOS
CAÇA AOSCAFÉS
CAFÉS
“Cada café
“Cada café éé uma
uma viagem
viagem diferente”,
diferente”, relata
descre-
ve Hugo Wolff, empreendedor que junto
Hugo Wolff, empreendedor e fundador fundou
com o irmão, Henrique, de uma
com o irmão, Henrique, uma torrefadora em torrefadora
em fase de
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São mesmo quenomelevadaofamília, localizada
sobrenome da emfamí-
amadurecimento
São Paulo. Eles trabalham apenas com
lia. Eles trabalham apenas com grãos de alta grãos
de alta qualidade
qualidade de pequenos
de pequenos produtores.
produtores.
fruto OsOsirmãos estãoque
no ramo há cinco anos,háfazem
irmãos, estão no ramo cinco
maduro viagensfazem
anos, em busca de cafés
viagens em ebusca
criam deperfis de e
cafés
torras para
criam perfiscada
de lote encontrado.
torras para cada “Nalote
caçaqueporen-
contram. “Na caça mulheres
cafés, descobrimos aos cafés, quedescobrimos
fazem a
mulheres que
diferença. Foi fazem
então que a diferença.a relacio-
começamos Foi então
que
nar acomeçamos a relacionar
compra à inclusão de quema faz
compra
isso aoà in-
clusão
mercado”, dessas pessoas
explicou Hugo no mercado”,
Wolff. Foi quando conta
TRANSFORMAÇÕES
TRANSFORMAÇÕES E EVOLUÇÃO
E EVOLUÇÃO
DADA PRODUÇÃO
PRODUÇÃO CAFEEIRA
CAFEEIRA NO BRASIL
NO BRASIL
Até 2000, o café tinha endereço limitado a 5 regiões - Minas Gerais, São Paulo,
Até 2000, as lavouras de café estavam restritas a cinco regiões: Minas Ge-
Paraná, Espírito Santo e Bahia. Hoje, são 37. O 'desbravar' da cafeicultura está
rais, São Paulo, Paraná, Espírito Santo e Bahia. Hoje, são 37. A expansão
associado ao espaço dos cafés especiais de regiões, como Rondônia ou do Acre,
territorial da cafeicultura é resultado direto do avanço dos cafés especiais BA
lugares que destacam-se pelos cuidados do plantio à pós-colheita, dando ao café
em regiões como Rondônia e Acre, lugares que se destacam pelos cuida-
o tratamento premium que o vinho recebe. “O Brasil vive o (re)nascimento e
dos que adotam do plantio à pós-colheita e que dão ao café tratamento MG ES
evolução
similar ao que de um canéfora dea qualidade
se dispensa vinhos de- primeira
bebida que refugava
linha. na boca
As novas e agora
geografias SP
do desperta experiências sensoriais",
café se estabelecem quando uma fala Bressani.
produçãoCom rotas do romper
consegue café desenhadas
barreiras PR
a partir de produções que conseguem romper barreiras
climáticas e também de precificação. Como os desafios não são poucos, climáticas e de precifi-
cação, fica na cultura quem se “desdobra para ter qualidade
"fica na cultura quem se desdobra para ter qualidade e ser sustentável am- e ser sustentável
ambiental
biental e financeiramente”,
e financeiramente”, reitera.
afirma o especialista Edgard Bressani.
CAFÉ NO BRASIL
EM 2023
CE
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BA
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MG
decidiram
Hugo. Foi assimoferecer
que cursos a produtores
eles decidiram que
ofere- ES
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produtores que encontram.
Henrique, responsável
Henrique, que administrapela a empresa, ressalta
administração SP
da que os grãosafirma
empresa, são únicos
que eosque, provavelmente,
grãos são úni-
RJ
cosserão frutos
e que, de um lote só. De
provavelmente, olho frutos
serão nos núme-
de
um ros,
loteele
só.prevê fortalecimento
Ele acredita que odo consumode
consumo de
PR
cafés
cafés especiais,
especiais vaioseque vai abrir oespaço
fortalecer, que devepara
abrirnovos
espaço para novos cafeicultores.
cafeicultores. área de plantio
Os Wolff investiram
Eles investiram R$1,5 R$1,5 milhão
milhão para para criar
a empresa
a empresa, que torra
sair do papel e, hoje,30compram
toneladas de de
café café
20
por mulheres,
ano. Hoje,seeles compram café de 20
relacionam indiretamente com mu-
lheres, têm relação
mais de 200 e pagam indireta com outras
de quatro 200
a seis vezes
produtoras
mais do eque pagam pelo grão
o mercado até seis vezes
convencional para
mais do que o mercado convencional.
torrar 30 toneladas do grão por ano. Fonte: INPI, IBGE, CONAB, BSCA, Cecafé
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tado, que fica 775 metros acima do nível do mar, um pa- de cafés com classificação acima de 83 pontos na avalia-
tamar inferior ao mínimo de 800 metros de altitude que ção SCA (Specialty Coffee Association, ou Associação de
se recomenda para a variedade. Ana e a mãe, Nerci, se- Cafés Especiais, em tradução livre). A pontuação indica
lecionam os grãos maduros, fazem a secagem de forma que a bebida oferece atributos sensoriais superiores aos
natural e torram o café em panelas comuns, para, em se- do café tradicional, incluindo acidez, corpo e aroma.
guida, embalar e enviar a cafeterias da capital, Boa Vista. “A altitude e a latitude influenciam, mas a atitude é
“O Imeru foi o primeiro café especial do tipo arábica fundamental”, diz Cíntia Mara Lopes, economista do-
catalogado em Roraima. Todo mundo estranha como méstica do IDR-PR e coordenadora do projeto. As par-
o grão pode ter dado certo no extremo norte do país e ticipantes da iniciativa aprendem a desenvolver o ne-
se espanta com o sabor único, cítrico e com alto teor de gócio e a olhar a lavoura como um tesouro, de onde sai
doçura", conta a agricultora. O cafezal tem 800 plan- uma bebida cheia de história e experiência.
tas, mas a família já pensa em aumentar o número para As integrantes do projeto vivem em 14 diferentes mu-
2.000. Para diversificar a renda, os Calleri investiram nicípios do Norte Pioneiro e em outros quatro do Vale
mais de R$ 40 mil nos últimos três anos e criaram uma do Ivaí. O senso coletivo do grupo reforça a conexão de
rota turística na comunidade. consumidores de todo o Brasil com a aura secular da
Ainda tímida, a cadeia cafeeira de Roraima está em cafeicultura local, que havia sido dizimada pela "geada
três polos: além do plantio da comunidade Kauwê, há negra" de 1975. O fenômeno é considerado o principal
produção no assentamento Caju, no município de Bon- responsável pelo fim do cultivo de café no Estado.
fim, com 44 famílias, e na comunidade indígena Man-
gueira, em Alto Alegre, com 45 famílias. Antes da "geada negra", o Paraná chegou a liderar
a colheita nacional, na década de 1960. Mas, com o fe-
Na Região Sul do país, os esforços de um grupo de nômeno, a área de plantio do grão caiu de 942 mil para
mulheres dialoga com o trabalho dos produtores de Ro-
raima e Rondônia: elas querem devolver ao Norte Pio-
neiro Paranaense o status de região que cultiva café de
qualidade. “Hoje, a mulher compra, vende, prova e co-
nhece o seu café. Antes, eu nem sabia por quanto meu
marido tinha vendido a produção”, conta Maria Apare-
cida Maciel, produtora rural de Japira, no Paraná. Ela
integra o projeto Mulheres do Café do Norte Pioneiro,
que pretende estimular o protagonismo feminino e in-
centivar as cafeicultoras a produzir grãos especiais.
O grupo, de mais de 250 mulheres, compartilha o en-
tusiasmo de Maria Aparecida. O resultado aparece na
xícara, com uma bebida de sabor e aroma reconhecidos
por dezenas de premiações regionais, estaduais e na- “Hoje, a mulher compra, vende,
cionais. O produto tem gerado renda e mudado a vida prova e conhece o café que produz.
das pequenas propriedades de agricultura familiar, que
vendem uma saca de 30 quilos de café especial por um Antes, nem sabia por quanto
valor até 70% maior do que o do grão tradicional. meu marido vendia a produção"
Coordenado pelo Instituto de Desenvolvimento Rural
do Paraná (IDR-PR), o projeto completou, no ano pas-
sado, uma década de criação. Em 2022, as agricultoras MARIA APARECIDA MACIEL,
produziram 8,2 toneladas – ou 137 sacas de 60 quilos – produtora rural de Japira (PR)
A G R I C U LT U R A | C A F É
MARCA DA CASA
A agricultora Solange Braga, uma das
integrantes do projeto de cafeicultoras
paranaenses: grupo criou seu próprio
rótulo, o Café das Mulheres
A G R I C U LT U R A | C A F É
UNIÃO FEMININA
A economista Cintia Lopes de Souza, que
coordena o projeto Mulheres do Café: grupo
quer colocar o Norte Pioneiro Paranaense
mais uma vez no papel de protagonista
na produção de cafés especiais
Felício e Lassance, na Serra Geral, há espaço para au- O gerente-geral da fazenda, João Emílio Duarte, conta
mentar a produção do café commodity. Para aproveitar a que a produção recebe irrigação por gotejamento, méto-
possibilidade, a Cedro Agro investiu R$ 500 milhões no do eficiente para o uso racional da água. “Pesquisamos e
plantio de 4.100 hectares de lavouras irrigadas. descobrimos que, de cada dez cafés vencedores de con-
Em Lassance, o plantio começará ainda neste ano, e cursos, nove fazem irrigação por gotejamento, então
em Joaquim Felício, em 2025. O projeto mais avançado existe uma relação direta entre irrigar só por baixo e
é o da Fazenda Cedro I, em Francisco Dumont, que já a qualidade do café. Além disso, esse tipo de irrigação
plantou 900 hectares e prevê chegar a 1.550 até 2025. A gasta 30% menos água que o pivô central e gera uma
propriedade produz café arábica das variedades arara, economia de 30% a 40%”, descreve Duarte.
catucaí 137, catucaí 2SL, paraíso MG2 e guará. A propriedade valoriza também outras estratégias. Ao
Na Cedro I, parte da lavoura completou dois anos, e todo, 80% do adubo é orgânico, por exemplo, e o contro-
a colheita da primeira safra comercial, ainda neste ano, le de pragas é feito com inseticidas biológicos. Entre os
deve chegar a 5.000 sacas de 60 quilos, com produtivi- talhões de café se faz o plantio de braquiárias, nabo for-
dade em torno de 35 sacas por hectare. “Este ano será rageiro e milheto, que servem de cobertura para o solo e
de teste. Uma parte da colheita será mecanizada, e par- de alimento aos insetos. A expansão do café se percebe
te será manual. Para o ano que vem, a expectativa é de no viveiro de mudas da Cedro I, onde há 4,2 milhões de
uma produtividade de 50 a 55 sacas por hectare”, afirma unidades produzidas, com 700 mil prontas para plantio.
Casim. O executivo estima uma colheita de 50 mil sacas A pouco mais de 50 quilômetros dali, em Rio Par-
até 2026. Para garantir a qualidade da produção, a em- do de Minas, na Serra do Espinhaço, o produtor Car-
presa construiu dois reservatórios no local. As estrutu- los Otone Pena alcançou a maior produtividade média
ras têm capacidade de 1,4 bilhão de litros de água, volu- do país em 2023, colhendo 84 sacas por hectare. O café
me suficiente para irrigar as lavouras por até 90 dias. atinge seu melhor desempenho a 900 metros de altitu-
de e com irrigação – o rendimento médio em outras re-
giões cafeeiras é de 40 sacas por hectare.
Água é assunto crucial para o cafeicultor, que cons-
truiu quatro pequenas barragens na propriedade. Com
as estruturas, Otone Pena coleta as chuvas e usa essa
água para irrigar os 300 hectares de café, em especial
nas épocas secas de Rio Pardo de Minas, onde o índice
de chuvas é de 819 milímetros por ano.
O produtor utiliza esterco de gado e de galinha, bagaço
de cana e a palha do próprio café para fazer a adubação
na Fazenda Natanael. A propriedade tem um histórico de
produção de 21 mil sacas do grão de alta qualidade, que
abastecem os mercados nacional e internacional.
“Altitude e latitude influenciam [o Segundo a Conab, a região que engloba o Norte de Mi-
bom resultado das mulheres do nas e os Vales do Jequitinhonha e do Mucuri terá 29,6
mil hectares de café na temporada 2024/2025, ou 4,7%
Norte Pioneiro Paranaense], mas a mais do que no ciclo 2023/2024. A produção deverá
a atitude também é fundamental” aumentar 14,7%, para 1,01 milhão de sacas, de acordo
com os cálculos da estatal. “Essa promete ser a maior
região produtora de café do Brasil. Por dia, temos duas
CÍNTIA MARA LOPES, horas de sol a mais do que o sul de Minas", diz o produ-
coordenadora do projeto Mulheres do Café tor. "E isso ajuda muito na produtividade.”
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OGUARDIÃO
28 I GLOBO RURAL FEVEREIRO 2024 globorural.globo.com
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O
que eu vou fazer com um castelo?” Essa foi "Esse é um patrimônio
a reação do produtor rural e advogado Luiz
Carlos Segat, de 57 anos, quando, em 2021, histórico e cultural que
seu genro informou a ele sobre a possibili- precisa ser preservado”
dade de compra de uma propriedade de 360 hectares
para o plantio de soja. A área ficava em um município
gaúcho de pouco mais de 2.000 habitantes próximo à
LUIZ CARLOS SEGAT,
fronteira com o Uruguai, o que inclui um trajeto de 20 presidente da Associação do
quilômetros de estrada de terra. Castelo de Pedras Altas
Segat não sabia, mas a oferta o transformaria, tempos
depois, no guardião de um dos maiores patrimônios da
história da agropecuária e da política brasileira: o Cas-
telo de Pedras Altas. “Meus filhos [Rafael, Gabriela e
Kamilla, também advogados] tinham vendido uma pro-
priedade em São Francisco de Assis e buscavam com-
prar outra área para plantar soja. Meu genro comentou
sobre uma oferta em Pedras Altas, que vinha com um
castelo. Mas eu nem sabia que isso aqui existia. A ima-
gem que vinha na minha cabeça eram ruínas, um prédio
abandonado, nada interessante”, conta ele.
O prédio “nada interessante” oferecido aos Segat foi
a morada do político e diplomata Joaquim Francisco de
Assis Brasil (1857-1938). Inaugurado em 24 de junho to da agropecuária brasileira. Apresentando-se em suas
de 1912, o edifício em granito rosa havia sido uma pro- campanhas políticas como “agricultor”, ele não aceitava
messa de Assis Brasil à sua segunda esposa, Lídia Pe- que o Brasil da época fosse um importador de alimen-
reira Felício de São Mamede, filha de um conde portu- tos, reclamação que deixou clara em seu livro Cultura dos
guês, de que construiria para ela um castelo parecido Campos, de 1897: “O feijão chegamos ao aperfeiçoamen-
com os que a mulher visitava em Portugal. to de receber do México e do Chile… Recebemos arroz da
Com 44 cômodos, 12 lareiras e cinco banheiros, o Índia, que nos fica do lado oposto do planeta e não tem
castelo conta com mobília importada de Nova York e terras melhores do que as nossas. Um amigo meu, goia-
Paris, obras de arte e uma biblioteca com 15 mil livros. no, revelou-me que é muito comum comer-se em Goiás
Muitos deles são extremamente raros, como os 22 vo- banha americana! Tal situação é, nos termos mais claros,
lumes da primeira edição da primeira enciclopédia do a ruína econômica e política”.
mundo, publicada por Diderot e D’Alembert, em 1751. Uma de suas grandes preocupações era provar que
O prédio também marcou a história por ter sido o lo- um pequeno pedaço de terra poderia ser tão produtivo
cal em que ocorreu a assinatura do tratado de paz que quanto uma grande propriedade se os agricultores ado-
encerrou a Revolução de 1923, guerra civil em que os tassem técnicas modernas e racionais. Ele acreditava,
opositores do então governador do Rio Grande do Sul além disso, que o produtor rural não precisava ser um
Borges de Medeiros (conhecidos como maragatos) en- “bruto”, isolado da busca por conhecimento e cultura.
frentaram os governistas (chimangos) para tentar im-
pedir o mandatário de se reeleger pela quinta vez. "Assis Brasil sempre foi um homem da lida no cam-
Embora tenha dedicado boa parte da vida à política e à po. Ele continuamente juntou as culturas, a do intelecto e
diplomacia, Assis Brasil buscou fazer de sua proprieda- a da terra”, afirma Cláudia Petry, professora da Faculda-
de em Pedras Altas um modelo para o desenvolvimen- de de Agronomia e Medicina Veterinária da Universida-
MEMÓRIA DO AGRO
Acima, detalhe do quarto principal;
ao lado, antigo piano de cauda; e,
abaixo, fachada norte do castelo
PERSONAGEM | MEMÓRIA
PERSONAGEM | MEMÓRIA
CENÁRIOS I UVAS
VINHO
DO CHILE,
FOTO_ GETTYIMAGES
MÃOS
DO BRASIL
por MARCOS FANTIN, de Casablanca (Chile)*
ilustração DAVI AUGUSTO
CENÁRIOS I UVAS
FOTO_ DIVULGAÇÃO
CENÁRIOS I U VAS
é uma indústria. Somos pessoas cultivando videiras em Grande parte da zona central e o sul do país tiveram
um sistema orgânico totalmente conectado com a nature- excedente de chuva em 2023, segundo dados da Direção
za, e muita gente valoriza isso”, diz Angela, com orgulho. Meteorológica do Chile (DMC). Em consequência, espe-
O frio e a névoa densa das manhãs dá lugar, à tarde, a ra-se uma “colheita abundante” em 2024, segundo Pedro
um sol escaldante, que brilha até as 20h. Depois, o frio Solar, gerente global de marketing da Wines of Chile.
retorna, na oscilação de temperaturas de que as uvas da Ainda que se trate de boa notícia, Solar prefere ser co-
região tanto precisam para se tornar especiais. medido ao fazer projeções. “A primavera de 2023, que
Além da amplitude térmica, que chega a até 23ºC, foi mais fria que a média, pode reduzir nossa estimativa,
as uvas da região de Casablanca — e de todo o Chile — já que baixas temperaturas nessa época afetam o peso
também precisam de estabilidade no regime de chuvas. dos cachos. Vamos observar as condições do verão, que
No entanto, como o país passou a enfrentar uma crise também vão afetar a colheita de 2024”, pondera.
hídrica, essas condições escassearam nos últimos anos. Na região de Casablanca, a média histórica de chuva
Como resultado da diminuição das chuvas, a produ- era de 400 milímetros por ano, de acordo com produ-
ção de vinhos do Chile, que viveu um boom a partir do tores locais. Nos últimos dez anos, no entanto, as pre-
fim dos anos 1990, é hoje menor que a de 2012. No ano cipitações caíram à metade, para perto de 200 milí-
passado, o país produziu 1,1 bilhão de litros da bebi- metros anuais. Mas 2023 trouxe esperança: o El Niño
da, o que representou uma queda de 11,4% em relação aumentou as chuvas entre os meses de maio e agosto e
a 2022, segundo dados do Serviço Agrícola e Pecuário fez o volume chegar a cerca de 330 milímetros ao ano.
do Chile. A produção em 2013 foi 16% maior que a atu- “Estamos pulando de alegria”, diz Angela Mochi.
al. O número de garrafas produzidas também caiu. Em Para ela, o principal desafio é a falta de água, e é nesse
2023, os chilenos fabricaram 11 milhões de unidades; ponto que os agricultores brasileiros mais percebem o
no ano anterior, o volume foi de 12,4 milhões. contraste com a realidade no Brasil. “Aqui no Chile, nós
Mas, para este ano, as perspectivas são mais ani- pagamos pela água. Você só pode usar água para agri-
madoras. A razão é que, com a ação do El Niño, 2023 cultura ou comercial se comprar esse direito”, conta.
marcou o fim de um intervalo de dez anos de chuvas Uma empresa privada é responsável por comerciali-
irrisórias entre o centro e o sul do território chileno. zar cotas de água, o que encarece a produção. Angela
Caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano exemplifica que, assim como as terras no Chile, a água
Pacífico, o fenômeno levou mais precipitações a algu- também é registrada em cartório. É um recurso que
mas regiões de vitivinicultura do país andino. tem a mesma figura jurídica da terra, ela explica.
Para encarar os períodos de seca dos últimos anos, in-
clusive na região de Valparaíso, os viticultores passa-
ram a adotar técnicas de irrigação mais eficientes. Se-
gundo Ivo Sandoval, diretor regional da ProChile em
Valparaíso, a recomendação também é plantar castas
mais resistentes ao calor e ajustar as práticas de cultivo.
“A tecnologia tem sido usada para monitorar e prever
“Isso não é uma indústria. as condições meteorológicas e do solo, o que ajuda os pro-
Somos pessoas cultivando dutores a tomar decisões sobre quando regar, fertilizar e
colher as uvas”, detalha o diretor da ProChile, entidade
videiras em um sistema vinculada ao Ministério das Relações Exteriores do país.
conectado com a natureza" Mario Agliati, presidente da Casablanca Valley, asso-
ciação de empresários e viticultores de Casablanca, con-
ta que a cidade tem se destacado cada vez mais no enotu-
ANGELA MOCHI, rismo, realçando os vinhos de clima frio, principalmente
produtora de uvas viníferas os brancos. “Todo o trabalho que foi e continua a ser feito
2013
1,2 BILHÃO
DE LITROS 1998
5,2 BILHÕES
DE LITROS
13,4
12,8 12,8 12,8 (2021)
(2013) (2015) (2018) 12,4
11,9 (2022)
(2019)
11
10,3 (2023)
9,8 10,1 (2020)
(2014) (2016) 9,4
CHILE (2017)
VALPARAÍSO
2023
SANTIAGO
1,1 BILHÃO
DE LITROS
VALE DE CASABLANCA
543,9 MILHÕES
DE LITROS DE VINHO
FOI O VOLUME QUE A REGIÃO
DE BERNARDO O'HIGGINS
ENGARRAFOU EM 2023
CENÁRIOS I UVAS
*
O jornalista viajou a convite do ProChile
Biotecnologia e alimentação
EMBORA A APLICAÇÃO DA TRANSGENIA FAÇA PARTE DO NOSSO COTIDIANO, AS
DISCUSSÕES E OS TABUS SOBRE O TEMA NUNCA DEIXARAM DE EXISTIR
P
aul Berg, Nobel de Química, na irrigação artificial de desertos e na castanha-de-caju, e não pelo fato de
pegou o mundo de surpresa em drenagem de pântanos, já que nós já ser um transgênico). Mesmo assim,
1972, ao realizar, pela primei- utilizamos quase todas as áreas agri- o projeto foi abandonado, porque não
ra vez, a transferência de um gene de cultáveis do planeta. passaria pelas rígidas regras de apro-
um ser vivo para outro. Era o início da Aumentar a produtividade é a al- vação de um alimento transgênico.
biotecnologia, que 50 anos mais tar- ternativa mais sensata. Do ponto de Em média, entre concepção, desen-
de estaria presente em novas terapias vista do consumo humano, após 25 volvimento, testes e aprovação, a libe-
gênicas, nos alimentos geneticamente anos de uso de sementes transgêni- ração de um transgênico demora 15
modificados e na produção de vacinas cas, não há um único relato de caso anos. Esse processo caro e demorado
contra doenças como a Covid-19. prejudicial à saúde. Tudo bem, não é só pode andar com o suporte de gran-
Embora a aplicação da transgenia um horizonte tão vasto assim, mas o des empresas. Isso gera outra sarai-
esteja presente em nosso cotidiano vada de críticas por parte de setores
(no Brasil, 92% da soja, 90% do mi- da sociedade que ressaltam a concen-
lho e 47% do algodão são transgêni- tração de poder em poucas mãos, mas
cos, segundo dados da Embrapa), as essa é mais uma questão que precisa
discussões e até mesmo tabus sobre o ser analisada sob outros ângulos.
tema nunca deixaram de existir. O fato é que as biotecnologias são
Se nós driblamos a teoria malthu- um assunto recente no mundo e ain-
siana no século XX com a introdução da carecem de análises jurídicas, éti-
dos adubos nitrogenados, ao que tudo cas e sociais. Infelizmente, a oposição
indica só vamos manter o vaticínio de mais forte ocorre nos países de maior
Malthus no terreno da ficção no sécu- necessidade alimentar, instigados
lo 21 com o uso de novas tecnologias, a pelo ativismo dos países desenvolvi-
exemplo da transgenia. dos. Como bem salientou a pesqui-
Em 2050, seremos 9 bilhões de sadora queniana Florence Wambu-
pessoas no planeta. Se os padrões gu, ativista que defende o aumento
tecnológicos adotados até a década fato é que existem casos em que ali- da produção de alimentos na Áfri-
de 1960 se mantiverem, será neces- mentos geneticamente modificados ca, "vocês, pessoas do mundo desen-
sário duplicar as áreas de produção foram abandonados ao longo do ca- volvido, certamente são livres para
para a manutenção dos níveis atu- minho por não terem passado pelos debater os méritos dos alimentos
ais de acesso aos alimentos. Isso se- severos crivos dos órgãos de contro- geneticamente modificados. Mas po-
ria um motivo mais do que razoável le. Isso reforça sua confiabilidade. demos comer primeiro?"
para que avessos às tecnologias e de- É o caso do feijão enriquecido com
FOTO_GETTY IMAGES
TECNOLOGIA I CONECTIVIDADE
HORIZONTE
AUTÔNOMO
MÁQUINAS AGRÍCOLAS CONTROLADAS À DISTÂNCIA
FORAM DESTAQUE EM UMA DAS MAIORES FEIRAS
DE ELETRÔNICOS DE CONSUMO DO MUNDO
C
erca de 2.000 quilômetros separavam um conjunto robusto de dados para aprimorar o modelo e
trator da John Deere, localizado em Aus- torná-lo apto a reagir em ambientes diversos.
tin, no estado americano do Texas, do ce- No futuro, essas máquinas serão capazes de fazer boa
lular usado para controlá-lo, que estava em parte do trabalho de campo sozinhas. Caberá aos huma-
Las Vegas, Nevada. Em meio a carros voa- nos traçar os planos de trabalho na lavoura e tomar deci-
dores, televisores transparentes e outras tecnologias fu- sões quando algo inesperado ocorrer, como o surgimento
turísticas, curiosos de diferentes partes do planeta para- de um animal na frente da máquina. A expectativa é que,
ram para entender como a tecnologia funciona. com isso, os custos da operação caiam e que o produtor
Em janeiro, durante a CES, uma das maiores feiras tenha mais tempo para outras obrigações.
de eletrônicos de consumo de todo o mundo, a fabri- Maya Sripadam, gerente sênior de produtos autôno-
cante americana de máquinas agrícolas demonstrou a mos da John Deere, afirma que há centenas de profissio-
novidade: um clique no aplicativo fazia o trator inter- nais envolvidos no desenvolvimento da tecnologia, tan-
romper ou retomar o percurso traçado sobre o mapa da to no Meio-Oeste, a principal região produtora de grãos
lavoura, em um trabalho de arar a terra. dos Estados Unidos, quanto no Vale do Silício, berço dos
A John Deere acelerou o desenvolvimento dessa tec- gigantes globais de tecnologia. A expectativa da empre-
FOTOS_ DIVULGAÇÃO
nologia após comprar, em 2017, por cerca de US$ 300 sa é ter máquinas autônomas em campo até 2030, aten-
milhões, a startup Blue River. Hoje, os testes envolvem dendo o produtor do plantio à colheita.
dezenas de máquinas em sete estados do país. Com es- No ano passado, a AGCO acirrou a disputa pelo pri-
sas experiências, o objetivo da companhia é reunir um meiro lugar na corrida pela autonomia ao anunciar a
MÁQUINAS AO LONGE
Em demonstração na
CES, um celular no estado
americano de Nevada
controlou o andamento de
um trator no Texas, a 2.000
quilômetros de distância
compra de uma fatia da Trimble, um negócio de US$ 2 Para resolver a questão, a John Deere trabalha em
bilhões, e a criação de uma joint venture, que facilitará projetos com operadoras de telefonia para instalar tor-
o acesso da AGCO às tecnologias de automação e tele- res nos rincões do país. A companhia também anun-
metria da Trimble. Dona de marcas como Fendt e Mas- ciou uma parceria com a SpaceX, do bilionário Elon
sey Ferguson, a AGCO é uma das três maiores fabri- Musk, para usar o serviço de internet por satélite Star-
cantes de máquinas agrícolas do mundo. link e assim conectar as áreas em que é inviável insta-
Segundo o diretor de tecnologia da John Deere, Jahmy lar as torres. Para colocar a ideia em prática, as con-
Hindman, as concorrentes buscam uma integração verti- cessionárias da John Deere no Brasil vão instalar um
cal que sua empresa tem há mais tempo. “Já produzimos terminal Starlink em máquinas compatíveis, testado
nosso próprio sistema de orientação, hardware e softwa- para condições agrícolas severas, e um modem para co-
re, o que nos permite agregar valor para os clientes de nectar as máquinas ao John Deere Operations Center.
uma forma que é difícil para quem não é integrado”, diz. A companhia americana participou pelo segundo ano
Em algum momento, as máquinas autônomas desen- consecutivo da CES para mostrar que produz máquinas
volvidas nos EUA chegarão aos outros mercados em agrícolas duráveis e tecnologia de alto valor. “É uma for-
que a John Deere atua, como o brasileiro. No entanto, a ma de demonstrar como estamos ajudando nossos clien-
falta de conectividade no campo no Brasil será um de- tes a enfrentar os desafios de baixa oferta de mão de obra
safio adicional para a adoção dessa tecnologia, assim qualificada e a fazer mais com os recursos de que já dis-
como já tem sido para o funcionamento pleno de solu- põem”, afirma Aaron Wetzel, vice-presidente de sistemas
ções de agricultura de precisão que já existem. de produção e agricultura de precisão da John Deere.
TECNOLOGIA I CONECTIVIDADE
S U S T E N TA B I L I D A D E I M A D E I R A
ÁRVORES EM
ANÁLISE
ESTIMAR O RETORNO FINANCEIRO DA INTEGRAÇÃO
LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA PASSA NECESSARIAMENTE
PELA AVALIAÇÃO SOBRE O MERCADO DE MADEIRA
O
produtorruralDanielWolfestáanimadocom do pai, Mário Wolf Filho, na gestão da Gamada e de ou-
osresultadosdaintegraçãolavoura-pecuária- tras duas fazendas em Mato Grosso – Fortuna e Fortu-
floresta (ILPF), que adotou na Fazenda Ga- na do Tapaiuna. Somadas, as propriedades têm 18 mil
mada, em Nova Canaã do Norte, em Mato hectares, com 50% de reserva legal.
Grosso. A propriedade foi a primeira uni- Na agricultura, a família produz milho, soja e arroz e,
dade de referência tecnológica da Embrapa no estado a na pecuária, atua na cria, recria e engorda. A atividade
adotar o componente florestal no sistema de integração: agrícola inclui ainda armazenamento de grãos, genética
no ano passado, ela comemorou, com um dia de campo, o de gado nelore puro de origem e uma fábrica de produtos
fim do primeiro ciclo das espécies de árvores, plantadas em de nutrição para gado de corte. A ILPF já garante oferta
2009, numa área de 80 hectares. de madeira de reflorestamento para venda. “Além da fi-
“Vale a pena, mas cada fazenda tem que avaliar quais xação de carbono no solo e do gado que se produz nesse
as suas necessidades e se existe demanda para a madei- sistema – criado e engordado com sombra e água fresca
ra”, afirma Wolf, membro da segunda geração a estar à –, há o benefício da madeira, que também utilizamos nas
frente da Gamada, propriedade que é pioneira do siste- propriedades. O balanço é positivo”, resume Daniel.
ma ILPF também no bioma amazônico. De acordo com o produtor, a diversificação das ativida-
Das quatro espécies cultivadas na área, as exóticas des torna a gestão da propriedade rural mais complexa e
eucalipto e teca tiveram bons resultados, enquanto as mais dependente da capacidade humana. Isso aumenta a
nativas paricá (ou pinho cuiabano) e pau-de-balsa não importância da boa gestão, que precisa tomar decisões de
deram certo. Com isso, os proprietários plantaram eu- acordo com as necessidades de todo o negócio. “O traba-
calipto e teca em diferentes arranjos. Depois, a partir lho exige estruturação e conhecimento”, afirma ele.
de 2018, a fazenda ampliou a área de ILPF, usando teca Maurel Behling, pesquisador da Embrapa Agrossilvi-
em linha simples e alterando, assim, o sentido das ár- pastoril, em Sinop (MT), diz que, no estado, já se adota a
vores e o espaçamento. integração lavoura-pecuária (ILP) em mais de 2 milhões
O sucesso da iniciativa tem levado muitos visitantes de hectares, o que representa pouco mais de 5% da área
à propriedade, que organiza eventos periódicos para destinada à agropecuária em Mato Grosso. Já os siste-
divulgar informações e tratar do desafio da adoção do mas silviagrícolas, ou silvipastoris, estão presentes em
componente florestal. “Nosso objetivo é contribuir, tro- apenas 150 mil hectares do território mato-grossense.
car experiências para multiplicar resultados, pensar Segundo ele, a familiaridade com os componentes la-
coletivamente”, comenta o produtor, que atua ao lado voura e pecuária, assim como a estrutura de armazena-
PIONEIRA_ A Gamada foi a primeira unidade de referência tecnológica da Embrapa a incluir a floresta na integração em Mato Grosso
S U S T E N TA B I L I D A D E I M A D E I R A
FOTO_ EMBRAPA
NOVAS OPORTUNIDADES_ A abertura de usinas de etanol de milho em Mato Grosso elevou a demanda de madeira para biomassa
S U S T E N TA B I L I D A D E I M A D E I R A
FOTO_ EMBRAPA
EXCEÇÃO_ Componente florestal ainda tem baixa presença nos sistemas de integração no país, de acordo com a Rede ILPF
S TA R T U P S I C R É D I T O E I N V E S T I M E N T O
EM BUSCA DE
MAIS APORTES
RELATÓRIO MOSTRA QUE STARTUPS DE BIOTECNOLOGIA
LIGADAS AO AGRO AINDA TÊM DIFICULDADE PARA ATRAIR
INVESTIMENTOS NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA
A
s startups de biotecnologia ligadas ao agronegó- No ano passado, as dificuldades para levantar recur-
cio estão entre as mais inovadoras desse estrato sos foram um dos fenômenos mais evidentes do univer-
da economia, mas ainda penam para atrair re- so das startups do agro – de biotecnologia e também dos
cursos para seus projetos de pesquisa e estra- demais segmentos – da América Latina. Segundo o re-
tégias de expansão. O quadro não é exclusividade bra- latório, que a Liga Ventures elaborou em parceria com o
sileira: as dificuldades desse grupo de empresas para centro de inovação CNA Digital e a Bunge, as chamadas
conseguir encorpar seu grupo de financiadores são um agtechs receberam R$ 1,23 bilhão em investimentos em
fenômeno que se observa em toda a América Latina. 2023, o que representou um declínio de 32,8% em rela-
A rede de inovação aberta Liga Ventures compilou da- ção ao ano anterior, quando elas atraíram R$ 1,83 bilhão.
dos públicos das empresas iniciantes de base tecnológi- O número de rodadas de investimento caiu 24,2% de um
ca para apresentar um retrato sobre as startups do agro ano para outro, passando de 66 para 50. Grossi relata
na região. De acordo com o relatório, nos últimos quatro que, em 2022, as rodadas terminaram, em muitos casos,
anos, o segmento de biotecnologia foi o que mais se ex- com a assinatura de cheques mais polpudos, com valo-
pandiu na América Latina: havia 99 startups de biotec- res acima de R$ 100 milhões, e concentração de grandes
nologia no agronegócio latino-americano em 2023, um volumes de recursos em poucas startups.
contingente 11% maior que o de quatro anos antes. As companhias brasileiras abocanharam R$ 882 mi-
Daniel Grossi, cofundador da Liga Ventures e dire- lhões do montante total, ou quase R$ 360 milhões a
tor de risco da rede, afirma que a alta deveu-se ao au- menos do que em 2022, quando os aportes chegaram a
mento da participação ativa de universidades e incu- R$ 1,24 bilhão. O levantamento informa que as startups
badoras no apoio a essas empresas, já que boa parte de serviços financeiros receberam 26% do volume de in-
dos produtos nasce do trabalho em polos de pesqui- vestimentos. Depois, na sequência, ficaram as empresas
sa do agronegócio. Ele reconhece, no entanto, que as de tecnologia para agricultura de baixo carbono (22%), de
startups de biotecnologia do agro, também conhecidas máquinas e equipamentos (19%), que lidam com resíduos
como biotechs, ainda têm dificuldade para obter in- da produção (13%), e com as plataformas de comerciali-
vestimentos. “O mercado de venture capital está mais zação de produtos (5%); outras 17 categorias, o que inclui
acostumado com as soluções digitais”, diz ele. bioinsumos, dividiram os 15% restantes.
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
A
nova lei de defensivos agrícolas, que o Congres-
Registro de produtos
so Nacional aprovou no fim do ano passado e o genéricos, destinados à
presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou agricultura orgânica e de
com vetos, modifica as regras para aprovação e comer- defensivos biológicos
cialização de agroquímicos no país. As principais mu- Como ficaram: ATÉ 1 ANO
danças são a redução do tempo máximo para a conces-
são dos registros de novos defensivos – hoje, o prazo
médio para a aprovação das moléculas no Brasil é de
Pesquisa, produção,
sete anos – e a adoção dos critérios de análise de risco exportação, importação,
no processo de liberação desses produtos. comercialização e uso
Com 66 artigos, a lei 14.785 é “autoaplicável”, de acor- Como era: SEM PREVISÃO EM
do com especialistas. Isso significa que o texto poderá ser LEI; DECRETO ESTIPULAVA
DE 6 MESES A 3 ANOS
colocado em prática sem a necessidade de seguir diver-
sas regulamentações infralegais, que poderiam atrasar a Liberação de produtos novos,
entrada plena em vigor dos novos dispositivos. técnicos ou formulados
O texto foi um elemento de divergência entre rura- Como era: SEM PREVISÃO EM Como era:
LEI; DECRETO ESTIPULAVA A AVALIAÇÃO E
listas e ambientalistas por décadas. Os vetos presiden- DE 6 MESES A 3 ANOS REGISTRO DOS
ciais deixaram 17 itens de fora, mas eles ainda podem DEFENSIVOS
entrar na lei por meio de votação no Congresso. Registro especial temporário BASEAVA-SE NO
para produtos destinados à DANO POTENCIAL
Por ano, os agricultores brasileiros aplicam 1,2 mi- pesquisa e experimentação DESSES PRODUTOS
lhão de toneladas de defensivos nas lavouras, o que cor- Como era: SEM PREVISÃO EM À SAÚDE HUMANA E
responde a um movimento de mais de US$ 20 bilhões LEI; DECRETO ESTIPULAVA AO MEIO AMBIENTE
REGISTRO AUTOMÁTICO
anuais. Cerca de 50% do volume corresponde a herbici-
das, de acordo com o Sindicato Nacional das Indústrias Registro de produtos
de Defesa Vegetal (Sindiveg). Fungicidas (21%) e inse- genéricos, destinados à
agricultura orgânica e de
ticidas (20%) aparecem na sequência. A soja responde defensivos biológicos
por 54% da área tratada de aplicação de agroquímicos, Como era: SEM PREVISÃO EM
seguida por milho (18%), algodão (7%), pastagem (6%), LEI; DECRETO ESTIPULAVA
cana (4%), trigo (3%), feijão (2%), batata, cebola e frutas DE 6 MESES A 3 ANOS
(2%), arroz (1%), café (1%), citros (1%) e outras (1%).
Como ficou:
O MINISTÉRIO DA Como ficou:
AGRICULTURA EM VEZ DE
DEVERÁ REGISTRO DO Como ficou:
Como ficou:
REAVALIAR OS PRODUTO, A A PARTIR DA
O REGISTRO DO Como ficou:
RISCOS QUANDO EMPRESA TERÁ EMISSÃO DO
AGROTÓXICO NÃO HAVERÁ PENA
ORGANIZAÇÕES DE INFORMAR AO REGISTRO, A
SERÁ PROIBIDO DE RECLUSÃO
INTERNACIONAIS MINISTÉRIO DA EMPRESA TERÁ
APENAS QUANDO Como ficou: PARA CASOS DE
DAS QUAIS O AGRICULTURA ATÉ DOIS ANOS
O PRODUTO TETO DAS MULTAS TRANSPORTE,
BRASIL SEJA QUE A PRODUÇÃO PARA COMEÇAR
REPRESENTAR VAI DE R$ 2.000 A APLICAÇÃO OU
MEMBRO DESTINA-SE A PRODUZIR
“RISCO R$ 2 MILHÕES PRESTAÇÃO
ALERTAREM AO MERCADO E VENDER O
INACEITÁVEL”, DE SERVIÇO
PARA POTENCIAIS EXTERNO E PRODUTO,
MESMO COM RELACIONADOS
PROBLEMAS. A COMUNICAR SOB PENA DE
MEDIDAS DE ÀS EMBALAGENS
REANÁLISE VAI PREVIAMENTE CANCELAMENTO
GESTÃO DE RISCO
CONSIDERAR A O VOLUME DOS DO REGISTRO
POSSIBILIDADE DE EMBARQUES E
USO DE PRODUTOS SEUS DESTINOS
SUBSTITUTOS
Como era:
ENTIDADES DE
Como era: CLASSE OU
A LEI ANTERIOR DE DEFESA DO
PREVIA PROIBIÇÕES CONSUMIDOR, DO
Como era:
RELACIONADAS MEIO AMBIENTE Como era: Como era:
POSSIBILIDADE
AO CONCEITO DE E DE RECURSOS A LEI EXIGIA Como era: O VALOR MÁXIMO
DE PRISÃO POR
“PERIGO”, COMO A NATURAIS, E REGISTRO DE SEM PREVISÃO DAS MULTAS POR
DOIS ANOS POR
POSSIBILIDADE DE TAMBÉM PARTIDOS DEFENSIVOS PARA EM LEI DESRESPEITO À LEI
DESCUMPRIMENTO
DESENVOLVIMENTO POLÍTICOS, PODIAM EXPORTAÇÃO ERA DE R$ 20 MIL
DA LEI
DE CÂNCER REQUERER O
OU A FALTA DE CANCELAMENTO
ANTÍDOTOS DO REGISTRO DE
UM DEFENSIVO
AGRÍCOLA
BIOINSUMOS | INOVAÇÃO
SOLUÇÃO BRASILEIRA
O inseto Doryctobracon
areolatus é um inimigo
natural da mosca-da-fruta
PREDADOR
DO BEM
BONS RESULTADOS NO USO DE INSETOS
PARASITOIDES PARA O CONTROLE DA MOSCA-DA-FRUTA
MULTIPLICAM-SE EM LAVOURAS DE TODO O PAÍS
Por CLEYTON VILARINO
N
ATIVA DO BRASIL, A VESPA Doryctobracon areola-
tus pode fazer pelos pomares de frutas do país
o que nenhum outro pesticida químico ou bio-
lógico consegue: ela detecta pelo cheiro a pre-
sença das larvas da mosca-da-fruta e faz a postura dos
seus ovos diretamente na praga, que morre dias depois,
antes de se tornar adulta e contaminar outras árvores.
“A verdade é que, quando falamos de controle biológi-
co, não são todas as culturas em que se consegue fazer
esse trabalho com microrganismos. Tem certas cultu-
ras em que é melhor usar um inseto parasitoide”, afirma
FOTOS PAULO LANZETTA-EMBRAPA CLIMA TEMPERADO / DIVULGAÇÃO
BIOINSUMOS | INOVAÇÃO
PEQUENAS ALIADAS_ Uso da vespa Cotesia flavipes reforçou as ações de combate à broca-da-cana nas lavouras brasileiras
Além de a logística ser mais complexa, o custo de pro- “O fato de estar publicado e de qualquer empresa poder
dução dos insetos também é maior, já que precisa de pedir o registro do produto não garante que ela vai conse-
muito mais mão de obra do que a multiplicação in vitro guir produzir. Esse é o nosso diferencial tecnológico para
de fungos e bactérias. O pesquisador estima que a mão negociar com uma empresa parceira”, afirma Sandro Nör-
de obra represente cerca de 70% do custo de produção nberg, diretor e um dos fundadores da Partamon. Ele es-
de insetos parasitários. A reprodução dos insetos exige tima que haja cerca de 5 milhões de hectares com culturas
a criação tanto do predador ou parasita desejado quan- suscetíveis à mosca-da-fruta. A despeito do nome, a praga
to da praga a ser combatida e que será usada na alimen- ataca também o café, causando prejuízo anual ao Brasil de
tação dos parasitoides, tarefas que necessariamente têm R$ 180 milhões, segundo estimativas da CropLife.
de ficar com trabalhadores especializados. Na cultura de citros, outro inseto tem feito contri-
buições milionárias aos produtores, mas também sem
Foi a esse ponto do trabalho que a startup Partamon registro comercial: a Tamarixia radiata. Embora seja
passou a se dedicar. A empresa desenvolveu, em parceria exótica, a vespa foi encontrada por pesquisadores da
FOTOS FUNDECITRUS / KOPPERT / DIVULGAÇÃO
com a Embrapa, uma dieta artificial para criação da larva Esalq-USP no Brasil anos após serem registrados os
da mosca-da-fruta que serve de alimento para a vespa primeiros casos de greening nos pomares paulistas e
Doryctobracon areolatus, que recebeu o nome comercial de terem sido iniciadas as tratativas para sua importação.
Biolatus. O Ministério da Agricultura já publicou as espe-
cificações de referência da tecnologia, desenvolvida após Hoje professor de agronomia da Unesp, o engenhei-
12 anos de pesquisas, o que abre espaço para que qual- ro agrônomo Alexandre José Ferreira Diniz dedicou-se,
quer empresa faça o seu registro para venda comercial durante seu pós-doutorado na Esalq, a estudos para
como bioinsumo – algo que a Partamon ainda não faz, tornar possível o uso em campo da Tamarixia radiata.
mas que tampouco preocupa os criadores da startup. Na primeira fase, entre 2011 e 2012, os testes ocorreram
VESPA CONTRA BESOURO_ A Trichogramma galloi parasita os ovos da broca, uma das pragas que mais causam perdas em canaviais
em seis regiões de São Paulo, nas quais ocorreu a libe- "O maior benefício do uso
ração de 500 vespas por hectare. “O que vimos naque-
le momento foi uma redução de quatro vezes e meia na de insetos parasitoides é
quantidade de ninfas da praga”, relata. que eles matam"
Em 2013/2014, os pesquisadores aumentaram a escala
do estudo, e a produção no campus da Esalq em Piracica-
ba (SP) chegou a 20 mil insetos parasitoides por dia. Os in- VINICIUS LOPES,
setos eram entregues ao Fundo de Defesa da Citricultura gerente de cana da Koppert
(Fundecitrus), um dos financiadores do projeto. A entida-
de, mantida por citricultores e indústrias de suco, passou
a aplicar o controle no método de manejo externo, quando
os insetos são liberados nas áreas ao redor dos pomares. disseminada, alcança 4 milhões de hectares, segundo Vi-
A técnica evita que a mosca vetor da bactéria causadora nicius Lopes, gerente de cana-de-açúcar da Koppert, em-
do greening, o psilídeo Diaphorina citri, ataque a produção. presa que vende tanto a vespa Cotesia flavipes, que parasita
“Isso foi a cereja do bolo, porque o maior problema para as larvas da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), quanto o
o greening tem sido as áreas abandonadas, e o parasitoide Trichogramma galloi, que parasita os ovos da praga.
não conhece cerca. Ele vai até a área do vizinho e controla “O maior benefício do uso de insetos parasitoides é
o psilídeo lá dentro”, comenta Diniz. O Fundecitrus já não que eles matam exatamente o alvo que se quer. Com o
produz a Tamarixia radiata para controle da mosca vetor defensivo químico, você corre o risco de matar insetos
do greening, mas usinas e programas estaduais de comba- que poderiam ajudar no controle da própria broca”,
te à doença têm feito o trabalho de maneira individual. pontua Lopes. Usados em conjunto, os dois insetos aju-
Já na cana, a aplicação de insetos parasitoides, bastante dam a evitar perdas anuais de R$ 5 bilhões no Brasil.
PR ÊM IO | FA Z E NDA S U S T E N TÁV E L
PRÊMIO PARA A
SUA FAZENDA
OITAVA EDIÇÃO DO FAZENDA SUSTENTÁVEL, INICIATIVA DA GLOBO
RURAL, VAI RECONHECER AS BOAS PRÁTICAS DE PEQUENAS,
MÉDIAS E GRANDES PROPRIEDADES DE TODO O PAÍS
A
tenção, produtores: estão abertas as inscrições a veracidade das informações que os proprietários en-
para a 8a edição do Prêmio Fazenda Sustentável, viaram. Essas visitas servem de base para a produção
que reconhece as boas práticas sociais, ambien- de relatórios a serem analisados por uma comissão jul-
tais e financeiras das propriedades rurais. Fazendas de gadora independente, que elegerá os campeões.
todos os tamanhos podem concorrer à premiação, uma O anúncio dos nomes dos grandes vencedores acon-
iniciativa da GLOBO RURAL com patrocínio da Cargill e tecerá em um evento especial de premiação, a ser rea-
apoio metodológico do Rabobank e do Imaflora. lizado em São Paulo, e as histórias dos ganhadores se-
Os formulários de inscrição estarão disponíveis no rão contadas em uma edição especial da revista GLOBO
site www.fazendasustentavel.com.br até o dia 10 de março. RURAL, além dos jornais O Globo e Valor Econômico, da
Na primeira fase do concurso, os produtores submetem rádio CBN e do site e das redes sociais da GR.
para avaliação informações como a situação trabalhista No ano passado, o Fazenda Sustentável avaliou 44
dos funcionários, a regularização do Cadastro Ambien- fazendas de diferentes tamanhos e premiou nove pro-
tal Rural (CAR) e sobre a adoção de técnicas de mane- dutores – 1o, 2o e 3o colocados nas categorias Pequena,
jo de baixo impacto ambiental. A segunda etapa envolve Média e Grande Propriedade. Os vencedores da edição
uma análise mais detalhada, como a informação sobre o 2023 da premiação estão nas regiões Nordeste, Sudes-
volume de insumos que o produtor usa em cada cultivo. te e Centro-Oeste e trabalham com atividades diversas,
Em seguida, as fazendas classificadas passam por como o cultivo de café, soja, milho, cana-de-açúcar, ca-
uma análise de crédito, que avalia a situação financeira cau, frutas e hortigranjeiros.
das propriedades. As visitas técnicas às fazendas ocor- Acompanhe as próximas novidades sobre o prêmio
rem na terceira e última etapa, um trabalho que atesta no site www.globorural.globo.com.
GALERIA DE CAMPEÕES
No alto, uma das vencedoras
do prêmio em 2023; acima,
a capa da edição da GLOBO
RURAL sobre os ganhadores; e,
ao lado, cenas do evento de
anúncio das fazendas eleitas
TOQUE MAIS
FEMININO
MULHERES JÁ REPRESENTAM
QUASE 50% DA FORÇA DE
TRABALHO NO MERCADO
DE FLORES E PLANTAS
por NAYARA FIGUEIREDO
fotos CAROLINA PEDROSA
B
UQUÊ DE FLORES PARA PRESENTEAR, uma plan-
tinha para embelezar a casa. Um segmento
que lida diretamente com as emoções das
pessoas e tem nas mulheres seu maior con-
sumidor final também assiste ao crescimen-
to da presença feminina em todos os elos da cadeia – e
isso é, principalmente, uma estratégia de negócios.
Segundo levantamento que o Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e o Instituto
Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) elaboraram em par-
ceria, em 2022, o mercado de trabalho de flores e plantas
ornamentais tinha 48% de participação feminina, uma
fatia superior à média nacional, de 43%, que considera dedora continuou na produção durante a gestação. "Co-
todos os ramos de atividade. O contraste é ainda maior meçamos com três pessoas e hoje estamos em 12, porque
quando se faz a comparação com o universo da agrope- boa parte da produção é automatizada", diz.
cuária, em que as mulheres ocupavam somente 19,6% Ao longo do tempo, a companhia também percebeu
das vagas de trabalho naquele ano. que havia um diferencial entre o trabalho feminino e o
Neta de pecuarista, Raíssa Teresani Scian personifi- masculino na lida com as suculentas, plantas que são a
ca a força feminina nesse setor: ela cultiva plantas orna- especialidade da Swalmen."Naturalmente percebemos
mentais junto com o marido em Holambra (SP), a cidade que o manuseio feito pelas mulheres era melhor. Por ser
das flores, desde que, há oito anos, o casal decidiu apos- uma planta muito pequena, a suculenta precisa de uma
tar na produção e criou a Swalmen Plantas. "Meu mari- delicadeza que as mulheres têm mais. Hoje, elas com-
do já trabalhava com flores e plantas na área comercial, põem 90% da nossa equipe", afirma.
ele era atacadista, mas o negócio dele nunca foi escritó- Associada à cooperativa Veiling Holambra, a Swal-
rio. Eu sou formada em propaganda e marketing e sem- men Plantas trabalha com 148 variedades de suculen-
pre trabalhei no agro, inclusive na área de eventos, até tas e lança, em média, outras dez espécies por ano. O
que decidimos montar a empresa", conta. carro-chefe, conhecido como p11, é vendido em autos-
Quando a Swalmen Plantas nasceu, Raíssa e o ma- serviços, floriculturas e a colecionadores. Segundo Ra-
rido eram as únicas pessoas na operação. Três meses íssa, em 2023 foram comercializados 1 milhão de vasos
depois, ela descobriu que estava grávida. A empreen- de suculenta p11. Mas o ano de maior faturamento foi
MÃOS NA MASSA
Raíssa Scian, da Swalmen Plantas:
"As mulheres têm mais delicadeza
para manusear as suculentas"
2020, quando a pandemia de Covid-19 manteve as pes- Holambra. Ela diz que, nesse trabalho, tem percebido que
soas dentro de suas casas e o cuidado com flores e plan- o público feminino tem participado cada vez mais do ramo
tas tornou-se algo até com objetivos terapêuticos. Em de flores e plantas ornamentais, e cada vez mais cedo, seja
consequência, a demanda aumentou. via sucessão familiar ou com iniciativas para oferecer ino-
"As pessoas viram benefícios e criaram esse hábito de vações tecnológicas para a cadeia produtiva.
ter plantas em casa. Hoje, o volume pode não ser o mesmo Dentro da Veiling Holambra, a gerente de marketing
daquele ano, mas o conceito se perpetuou e segue cres- e produtos Thamara D’Angieri é uma das mulheres que
cente", avalia. "Acredito que esse setor vai voltar a ter atestam a força da mão de obra feminina nesse mercado.
uma expansão em flores, por exemplo, com a valorização A executiva está na cooperativa desde 2006, onde co-
dos eventos mais uma vez ganhando força", acrescenta. meçou como assistente de marketing. Nesse período, ela
Raíssa conta que, quando atuava no segmento de even- assistiu ao forte crescimento da Veiling, cujo faturamen-
tos voltados ao agronegócio, como profissional de marke- to dobrou nos últimos 15 anos, passando de R$ 500 mi-
ting, percebia um preconceito muito maior pelo fato de lhões para a casa do R$ 1 bilhão – e com a ajuda de estra-
ser mulher. "Eu fingia que não via e seguia em frente. No tégias que a profissional ajudou a desenhar.
setor de flores e plantas, não sinto nenhum preconceito. "Éramos uma empresa pequena em Holambra. A gen-
As mulheres se fazem muito presentes", comenta. te foi evoluindo tanto da porteira para dentro, com o pro-
Além de suas atividades na Swalmen Plantas, a agricul- dutor mostrando a importância da inovação, tecnologia e
tora também se dedica a um comitê de mulheres da Veiling sustentabilidade, quanto da cooperativa para fora, até o
ROTA ASCENDENTE_ Thamara D'Angieri ajudou a criar estratégias que levaram a receita da Veiling Holambra à casa de R$ 1 bilhão
consumidor final", diz. No início, afirma Thamara, o ma- tégias de negócio mais adequadas para a cooperativa. "A
rketing não tinha nem orçamento dentro da cooperativa. facilidade que a mulher tem de enxergar oportunidade de
"Comecei a entender o que significavam as flores e plan- negócios é muito alta, somos muito resilientes. Na pande-
tas na vida das pessoas e falei que precisávamos entender mia, conseguimos levar nossa estratégia a outro patamar,
o mercado de consumo para aumentar a capilaridade do com a venda de flores nos supermercados", comenta.
nosso produto. E o marketing foi crescendo aos poucos", O ano de 2023 foi mais difícil para o segmento por-
lembra ela, que hoje lidera uma equipe de 20 pessoas. que, passado o período de isolamento social, as pesso-
A executiva conta que, em 2014, representantes da as voltaram a sair e passaram a repensar a importância
cooperativa foram aos Países Baixos em busca de ideias de ter flores em casa. Ainda assim, a executiva diz que
para inovar no mercado brasileiro. Depois disso, algu- a Veiling continuou em ritmo acelerado. "Nosso fatura-
mas práticas, como a abertura para que clientes de menor mento cresceu 10% em comparação com 2022, e esta-
porte pudessem comprar da Veiling, foram uma grande mos prevendo um crescimento de 8% em 2024", diz.
virada de chave para a empresa. A cooperativa vende flo- Além do retorno dos eventos, uma via de expansão
res para outras empresas, como supermercados e garden para o segmento pode estar nos autosserviços, avalia a
centers, atuando no chamado B2B, mas a pequena flori- executiva. "Na Holanda, já tem flores em postos de ga-
cultura também se tornou cliente da central. solina, por exemplo. Podemos ver onde ainda há opor-
"Passamos a adotar uma estratégia diferente em tunidades para negócios aqui no Brasil", afirma ela.
2019, com parcerias com grandes influenciadoras, que A cooperativa também faz planos de crescer em diferen-
mostraram a importância das flores, o bem-estar e a tes regiões do país, com base nas culturas locais e religiões.
emoção que a flor leva para a vida das pessoas. Come- É o caso das festas de Iemanjá, que ocorrem em fevereiro
çou a dar muito resultado", afirma. e que demandam flores brancas, entregues pelos pratican-
Ela ressalta que o mercado comprador no segmento tes das religiões de matriz africana como oferenda. "O foco
B2B é composto de muitos homens, mas que ser mulher do marketing para 2024 é entender e levar ao consumidor
certamente contribuiu no momento de encontrar as estra- aquilo que faz parte da cultura dele”, acrescenta.
M E R C A D O I A N Á L I S E I Scot Consultoria
E
m Campinas (SP), o preço médio da saca de milho subiu 3,5% até meados de SUÍNO / EXPORTAÇÃO DE CARNE SUÍNA
janeiro em comparação com a média de dezembro do ano passado. Segundo Em 2023, o Brasil exportou 1,08
levantamento da Scot Consultoria, a referência está em R$ 67 a saca de 60 kg. milhão de toneladas de carne su-
Apesar do aumento das cotações na comparação mês a mês, os preços do cereal ína in natura, ou 7,4% a mais do
vêm caindo desde o início de janeiro. A colheita da safra de verão e a diminuição que no ano anterior. O preço mé-
da demanda neste início de ano pressionaram as cotações do grão. dio pago por tonelada da carne
Para a primeira safra, a previsão é de que a produção vai diminuir 10,9% em subiu 1,8% no mesmo compara-
relação ao ciclo 2022/2023. Estima-se colheita de 24,4 milhões de toneladas. As tivo, fechando o ano passado em
condições climáticas desfavoráveis na maior parte do país, principalmente no US$ 2,42 mil por tonelada.
Sul, a principal região produtora, afetaram a produtividade.
Nov. 125,8 Dez. 132,9 Jan.* 130,4
Apesar de quase finalizada, a semeadura da safra de verão está atrasada, um
PREÇO MÉDIO DO SUÍNO TERMINADO,
reflexo dos efeitos do clima. Até 14 de janeiro, a área de cultivo de milho no país EM SAO PAULO, EM R$/ARROBA *ATÉ O DIA 18/1
56,88
55,21
55,25
146,68
146,89
144,53
143,57
136,17
133,38
Ago. 126,92 Set. 125,82 Out.* 126,77
COTAÇÃO MÉDIA MENSAL* DO ALGODÃO EM PLUMA
EM R$/ARROBA *ATÉ O DIA 16/1
MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN*
FONTE: SCOT CONSULTORIA LTDA. *ATÉ O DIA 18/01
ARROZ / AUMENTO DE PRODUÇÃO
Com expectativa de aumento de
ANA PAULA OLIVEIRA, MÉDICA-VETERINÁRIA E ZOOTECNISTA – CAFÉ E BOI GORDO; EDUARDO ABE, ZOOTECNISTA – AÇÚCAR, ARROZ, FRANGO E
Nov. 888,00 Dez. 974,46 Jan.* 982,61
SUÍNO; JULIANA PILA, ZOOTECNISTA – LEITE, SOJA E MILHO; MARIANA GUIMARÃES, MÉDICA-VETERINÁRIA – ALGODÃO; COORDENAÇÃO: ALCIDES INDICADOR CEPEA/ESALQ MERCADO FÍSICO CAFÉ ARÁBICA
TORRES – SCOTCONSULTORIA.COM.BR, TEL. (17) 3343-5111 EM R$ POR SACA DE 60 KG LÍQUIDO *ATÉ 17/1
M E R C A D O I A N Á L I S E I Scot Consultoria
A
cotação média da arroba do boi em São Paulo estava em
R$ 238,81 até meados de janeiro, o que representou uma
>PREÇOS DO BOI GORDO
queda de 0,3% em relação ao mês anterior. EM ARAÇATUBA (SP)
A diminuição do consumo de carne bovina no mercado do- (EM R$/ARROBA, A PRAZO)
méstico entre um mês e outro elevou os estoques da proteína. •2023 •2024
Com isso, a quantidade de negócios no mercado atacadista e
275,13
274,45
271,20
também o interesse dos compradores de boiadas caíram.
254,50
O volume das exportações bateu recorde em 2023, superan-
do as expectativas do mercado. O ritmo de vendas ao exterior
239,95
239,60
238,70
238,81
232,25
229,75
segue firme e, até meados de janeiro, o país embarcou 86,8 mil
215,48
toneladas – a média diária foi 32,5% maior que a de janeiro de
204,85
2023. O preço médio está em US$ 4.500 por tonelada, o que re-
presenta uma queda de 6,5% nessa mesma base de comparação.
O consumo no mercado interno deve continuar retraído, e os
preços, sob pressão no curto prazo. Essa época do ano concen- FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN*
tra o pagamento de impostos como IPTU e gastos com material
FONTE: SCOT CONSULTORIA LTDA. *ESTIMATIVA MÉDIA NACIONAL PONDERADA *ATÉ O DIA 18/1
escolar, o que diminui o poder de compra da população.
D
epois de seis meses consecutivos de quedas, o preço
>PREÇO DO LEITE PAGO do leite pago ao produtor aumentou no país no pa-
AO PRODUTOR gamento de dezembro, referente ao leite entregue no
(EM R$/LITRO)
mês anterior. A alta foi de 0,9% em relação a novembro, ou o
•2024 equivalente a R$ 0,02 por litro. Na média nacional, a cotação
do litro de leite chegou a R$ 2,086.
2,560
2,510
2,471
2,440
2,427
2,274
2,068
2,086
O
solo, muitas vezes considera- minhocas e sobre as propriedades do
do apenas a "terra sob nossos solo, o manejo agrícola e a produção
pés", é, na verdade, um uni- agrícola para estimar a contribuição
verso complexo, dinâmico e crítico desses organismos para a agricultura
para a vida na Terra. Ele garante ali- e os ecossistemas em âmbito global.
mento, sequestro de carbono, reten- O estudo estimou que as minhocas
ção e purificação de água, ciclagem de contribuem diretamente para cerca
nutrientes e manutenção da biodiver- de 6,5% da produção global de ce-
sidade, funções essenciais para nós reais (milho, arroz, trigo, cevada) e
humanos e para os ecossistemas. 2,3% da produção de leguminosas, o
Nesse universo subterrâneo, um equivalente a mais de 140 milhões de
grupo de organismos invertebrados, toneladas métricas anuais. A conclu-
que conhecemos como minhocas, são é que precisamos entender me-
cumpre funções vitais. As minho- lhor o papel das minhocas nos ecos-
cas são consideradas verdadeiras en- cionam, aeram, fragmentam e aumen- sistemas e valorizar sua contribuição
genheiras do ecossistema graças ao tam a área superficial da matéria orgâ- para a agricultura, em especial no
papel que elas cumprem na orques- nica para a ação microbiana. Hemisfério Sul, onde as condições
tração de processos que impactam a A contribuição das minhocas para de clima e solo favorecem a atividade
estrutura, a saúde e a produtividade a melhoria da disponibilidade de nu- desses organismos.
do solo em todo o planeta. trientes, como nitrogênio, fósforo e Esse estudo pioneiro oferece uma
A contribuição desses organismos potássio, se dá não só por meio da de- visão reveladora da magnitude do im-
decorre de um trabalho meticuloso composição da matéria orgânica, mas pacto das minhocas, sublinhando sua
que transforma o solo em um am- também da liberação de excrementos relevância para a agricultura e a sus-
biente propício ao florescimento da ricos em nutrientes. Daí sua influên- tentabilidade dos ecossistemas em
vida. Ao promoverem a formação de cia direta na fertilidade e na saúde do todo o mundo. À medida que desven-
agregados, as minhocas aprimoram solo – e, por consequência, no equilí- damos os segredos do solo, é inques-
a estrutura do solo, aumentando a brio dos sistemas agrícolas e naturais. tionável a necessidade de se valorizar
infiltração de água e a aeração e re- Apesar de as minhocas cumprirem e promover essas incansáveis tra-
duzindo a compactação. funções tão essenciais no ecossiste- balhadoras subterrâneas, reconhe-
A participação delas é ativa na cicla- ma, a contribuição desses organis- cendo-as como aliadas essenciais na
gem de matéria orgânica, já que conso- mos para a produção agrícola global busca por uma agricultura verdadei-
mem folhas e restos de plantas e trans- permanece pouco conhecida e disse- ramente equilibrada e sustentável.
formam esses resíduos em húmus, um minada. Essa é a conclusão de um es-
FOTO_GETTY IMAGES
O T e R c E i R o e ú Lt I m O v O l U m E d A
s É r I e b E sT- s E l L e R d E L a U r E n T i N o G o M e S
A TrIlOgIa
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A N Á L I S E I T E M P O I Nadiara Pereira/Climatempo
O
mês de fevereiro deve ser marcado por chuvas frequentes e acima ais são decorrentes do excesso
da média no Sul do país. Já no Centro-Oeste, a irregularidade deve de umidade – um quadro bem di-
predominar em algumas regiões. Em Mato Grosso e Mato Grosso do ferente da situação das três safras
Sul, as atividades de colheita podem se beneficiar de períodos mais longos anteriores, que foram marcadas
de tempo aberto, mas, por outro lado, pode faltar umidade nesses dois esta- por perdas expressivas de produ-
dos para instalação e desenvolvimento das lavouras de milho segunda safra. tividade devido à estiagem seve-
ra. A tendência para esse ciclo é
de ocorrência de chuvas regula-
Sul_ Não há previsão de chuvas em volume tão expressivo como ocor- res, com volumes acima da média
reu na primavera. Ainda assim, as precipitações volumosas podem na maior parte das áreas produto-
ocorrer na forma de tempestades e provocar transtornos. ras, mas sem tantos extremos, o
que deve ajudar a elevar a produ-
Sudeste_ A maior parte do Sudeste deve ter precipitações acima da mé- tividade nos 17,3 milhões de hec-
dia. Minas Gerais deve ser, mais uma vez, o estado com o maior volume tares projetados para a safra atual.
de chuvas. Não se descarta a ocorrência de períodos de invernada, que Na fase de colheita, os produtores
podem ter impacto principalmente sobre a fase inicial da colheita de soja. podem enfrentar problemas com o
excesso de umidade.
Centro-Oeste_ No Centro-Oeste, as chuvas vão continuar irregula-
res. A tendência é que Goiás enfrente chuvas acima da média, espe- AUSTRÁLIA_ A Austrália, que en-
cialmente no leste do estado, onde os períodos chuvosos prolongados frentou um início de temporada
podem afetar as atividades no campo. A maior parte de Mato Grosso muito seco e quente devido aos
do Sul e Mato Grosso deve registrar chuvas abaixo da média. Isso não efeitos do El Niño e de uma osci-
significa ausência de chuvas, mas que os episódios serão mais isola- lação no Oceano Índico, conheci-
dos, o que não assegura um quadro de umidade homogênea. da como Dipolo do Oceano Índi-
co, que está em sua fase positiva,
Nordeste_ A expectativa é de chuva acima da média em grande parte do voltou a receber chuvas expressi-
Nordeste, especialmente na Bahia. As condições serão favoráveis ao de- vas nas últimas semanas, o que
senvolvimento das lavouras, mas o excesso de chuva também pode au- tem garantido boas condições de
mentar o risco de ocorrência de doenças. Entre o Piauí e o Maranhão, as umidade para o desenvolvimento
precipitações serão mais mal distribuídas, mas as áreas produtoras do dos cultivos de verão no meio les-
centro-sul dos dois estados devem registrar volumes mais expressivos. te do país. Para os próximos me-
ses, porém, a tendência é de chu-
Norte_ O Norte do país, que costuma ter mais chuvas no mês de feverei- vas irregulares e abaixo da média,
ro, deve registrar volumes abaixo da média em grande parte dos estados, o que pode impactar o início da
com exceção do leste do Pará e de partes de Tocantins, que devem rece- safra de inverno e prejudicar a
ber chuvas mais volumosas e acima da média para essa época. produtividade do trigo no país.
-500 -300 -200 -100 -50 -25 0 25 50 100 200 300 500
C O M O P L A N TA R I A L A M A N D A I J o ã o M a t h i a s
Exuberância pendente
A
amarela é a mais comum entre de muita exposição direta ao sol, o que, cessário o uso de luvas nos tratos cul-
as cores da alamanda (Alla- no Brasil, é possível aproveitar de ja- turais. Também em razão disso, deve-
manda spp.), flor que muitas neiro a dezembro em regiões inteiras. se manter a alamanda – cujas folhas
vezes cresce de maneira espontânea Para a alamanda se manter em servem de insumo para o preparo de
em muitos cercados de áreas rurais e florada por longos períodos, bas- uma receita que combate cochonilhas
também urbanas de todo o país. Mas, ta ao produtor contar com suporte, e pulgões no controle preventivo dos
se cultivada com esmero, é planta como um pergolado, terra fértil e lo- insetos-praga – longe do alcance de
ornamental e de valor para compor cal com boa incidência de raios sola- crianças e animais.
projetos de paisagismo de jardins em res. No cultivo em canteiros com uti- Embora perigosa, ela é popularmen-
casas, fazendas, praças públicas e es- lização de adubos, aplicação de podas te considerada uma planta medicinal,
tabelecimentos comerciais. de formação ou condução no inverno por ser rica em antioxidantes que com-
Como trepadeira ou pendente em tu- – quando necessárias – e regas fre- batem os radicais livres, responsáveis
toramento, a alamanda embeleza am- quentes, também é possível obter pelo aumento de inflamações no orga-
bientes também com tons de rosa, ver- toda a exuberância da floração. nismo. O chá da flor tem ainda ação
melho, lilás e branco, oferecendo uma Apesar de fácil, o manejo da cultu- antifúngica, ao fortalecer o sistema
ampla variedade ao mercado – o que, ra precisa ocorrer com cuidado, já que, imunológico, além de aliviar infecções
FOTO_GETTY IMAGES
para o produtor, representa uma fonte quando a planta é cortada ou danifica- quando aplicado por meio de compres-
de renda o ano inteiro. O verão concen- da, ela libera látex – uma seiva branca sas. Na composição de loções e cremes,
tra a maior parte do florescimento da e tóxica que causa dermatite ao entrar produz efeitos benéficos para tratar fe-
espécie, mas essa planta tropical gosta em contato com a pele, o que torna ne- ridas cutâneas causadas por bactérias.
Arbustiva, a alamanda tem ramos tantos outros nomes. Rústica e mar- comendada para o plantio em vasos,
longos e flexíveis, que podem ser le- cante, ela está entre as preferidas de cujo espaço é insuficiente para o cres-
nhosos e semilenhosos, e quatro fo- muitos jardineiros, sobretudo para a cimento adequado do sistema radicu-
lhas ovadas e oblongas. O formato de instalação de cercas-vivas e cobertu- lar da planta. Sem um bom desenvolvi-
funil com 7 centímetros de diâmetro ras de muros e grades. mento das raízes, que, nos vasos, ficam
faz com que a flor também seja co- Com possibilidade de chegar a 3,5 limitadas às paredes do recipiente, a
nhecida como dedal-de-dama, entre metros de altura, a alamanda não é re- floração da espécie é prejudicada.
MÃOS À OBRA
CONSULTORIA_ FÁBIO PADILHA É DOUTOR EM AGRONOMIA, ESPECIALIZADO EM PAISAGISMO E FLORICULTURA, SÓCIO DA PLANTAS & PLANOS ASSESSORIA E CONSULTORIA EM AGRICULTURA, MEIO AM-
BIENTE E SUSTENTABILIDADE, TEL. (61) 98601-8619, FABIOAPVIANA25@GMAIL.COM ONDE COMPRAR_ EM VIVEIROS DE PLANTAS E MERCADOS DE FLORES E FOLHAGENS MAIS INFORMAÇÕES_ PODEM
SER OBTIDAS COM TÉCNICOS DAS AGÊNCIAS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA DOS ESTADOS
E
mbora ainda não seja tão popu- nas duas últimas décadas, tornando-se pecial dos cortes de pernil, lombo e
lar nas refeições da população fonte de renda e exigindo pouco inves- paleta, a carne de capivara oferece
quanto outras carnes, a de ca- timento. A maior parte das instalações benefícios à saúde. Ela é fonte de vi-
pivara já não causa tanta estranheza fica nos estados das regiões Sudeste e taminas do complexo B, que têm fun-
ao consumidor quando ele a encon- Centro-Oeste. Elas necessitam de um ção importante para evitar a ocorrên-
tra em balcões refrigerados no varejo cercamento telado e de brete de baixo cia de anemia, e tem poucas calorias,
de produtos alimentícios. Antes mais custo, já que a estrutura precisa ser rús- sendo uma ótima opção para quem
restrita a restaurantes e churrasca- tica, para replicar as condições do hábi- quer controlar o peso.
rias com opções exóticas em seus tat natural do roedor, incluindo tanques Embora seja fornecedor de proteína
cardápios, a carne do mamífero vem ou pequenos açudes em piquetes. magra – em especial o exemplar que
conseguindo, 20 anos depois de sua A existência de aguadas na proprie- vai para o abate com 10 a 12 meses de
chegada ao mercado, ocupar espaço dade é uma vantagem, o que permite vida –, o animal possui gordura que
em diferentes pontos de venda, gra- ainda uma criação consorciada com a serve de matéria-prima para obtenção
ças à expansão e à profissionalização piscicultura. Outra oportunidade eco- de óleo utilizado por empresas que
da atividade de criação no país. nômica atraente para o criador é a pos- produzem itens medicinais. Por ser
Desde que o manejo e as instalações sibilidade de combinação dos tratos resistente e, ao mesmo tempo, elástico
sejam adequados, a capivara é uma es- rotineiros da capivara com bois, vacas e macio, o couro é outro insumo ren-
pécie que se adapta bem à vida em ca- e até aves, como galinhas, emas e espé- tável da criação, sobretudo porque é
FOTO_ RAWPIXEL
tiveiro e tem lida fácil, apresentando cies do segmento aquático. apreciado por compradores interna-
boa reprodução. Por isso, ela atraiu o Além da maciez e da textura que cionais, em especial os japoneses. O
interesse de produtores de todo o país agradam os consumidores, em es- material tem uso na elaboração de di-
versos artefatos, com destaque para a bém gera rendimentos para o criador. aprovada e autorização concedida
fabricação de casacos, bolsas, sapatos O comércio do animal para a forma- pelo Estado para manejar o mamífe-
e luvas para golfe e beisebol. ção de plantéis tem mercado promis- ro, a dedicação do produtor completa
A venda de matrizes para outros sor, já que a atividade mostra bom po- o que é necessário para alcançar uma
criatórios é uma alternativa que tam- tencial no país. Com documentação criação bem-sucedida.
INÍCIO_ Como é preciso a doenças, a capivara é arame farpado na parte CUSTO_ em média,
o investimento inicial
autorização para criar mais ativa pela manhã e de cima. No local também é de R$ 15 mil. Cada
capivara – o pedido tem de no fim da tarde, gosta de é importante ter mato, capivara custa R$ 1.000
ser feito ao órgão gestor nadar e tem o hábito de cerrado, capoeira ou ainda
da fauna do estado –, a viver em grupos familiares. um abrigo, além de brete RETORNO_ 2 anos e meio
CONSULTORIA_ FABIO MORAIS HOSKEN É ZOOTECNISTA, DOUTOR EM PRODUÇÃO ANIMAL E CONSULTOR PARA CRIAÇÃO E MANEJO DE ANIMAIS SILVESTRES E PROJETOS, TEL. (31) 98417-4312, FABIO@
ZOOASSESSORIA.COM.BR ONDE ADQUIRIR_ COM CRIADORES DE MATRIZES REGISTRADOS MAIS INFORMAÇÕES_ COM O ÓRGÃO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE
V I DA N A FA Z E N DA I G L O B O R U R A L R E S P O N D E I J o ã o M a t h i a s
Vigor às pitangas
Antes graúdos e bonitos, ficaram
secos e murchos os frutos da
minha pitangueira, que sempre
está florida, mas não segura a
carga. O que devo fazer, se nem
torta de mamona curou a planta?
Verônica Martins
via Facebook
plantas de crescimento rápido que exi- relacionado à falta de irrigação no pe- PAULO, AV. RUI BARBOSA, S/NO, CP 35, COLINA (SP), CEP
14770-000, TEL. (17) 3341-1332, JOASILVA@SP.GOV.BR
gem quantidades adequadas de nu- ríodo de florescimento e crescimento
trientes disponíveis no solo. Embora
o próprio solo possa suprir parte das
necessidades nutricionais, na maioria
das vezes é necessário aplicar calcário
e fertilizantes para se obter uma pro-
dução economicamente viável. Estudo
Gravioleira no interior da copa. É preciso apli-
car um tratamento para o controle de
feito no litoral sul da Bahia, no primei-
ro ciclo do plátano, mostrou que os ma-
sem carga pulgões e cochonilhas, caso eles este-
jam presentes nas flores sugadas pe-
cronutrientes que as plantas mais ab- O que fazer com o pé de graviola las pragas. Aliás, sobretudo no pe-
sorveram foram potássio e nitrogênio, que dá flor, mas não frutos? ríodo de florescimento, mantenha a
FOTOS PEXELS / PIXABAY / DIVULGAÇÃO / ARQUIVO PESSOAL
seguidos por magnésio, cálcio, enxofre Patrícia Santos gravioleira irrigada. Outro trato cul-
e fósforo, e os micronutrientes foram via Facebook tural importante é a adubação orgâ-
cloro e ferro. Assim, para fertilizar cor- nica, com uso de 20 quilos de esterco
retamente o plantio, é essencial consi- curtido, e química, com aplicação da
derar os teores de nutrientes na plan- A FALTA DE POLINIZAÇÃO pode ser a fórmula NPK 10-10-10 ou 20-05-20
ta e a disponibilidade deles no local, o causa provável para a ausência de na dose de 400 gramas, e boa distri-
que é possível saber por meio da aná- frutos na gravioleira. Para enfren- buição no solo em volta da planta.
lise química e granulométrica do solo. tar o problema, um dos caminhos é
CONSULTOR_ JOSÉ ANTONIO ALBERTO DA SILVA, PESQUISA-
melhorar as condições de plantio da DOR DA AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONE-
CONSULTORA_ ANA LÚCIA BORGES, PESQUISADORA DA EMBRA- fruteira, que deve estar a pleno sol. GÓCIOS (APTA), DA SECRETARIA DE AGRICULTURA, AV. RUI
PA MANDIOCA E FRUTICULTURA, RUA EMBRAPA S/Nº, CP 007, BARBOSA, S/NO, CAIXA POSTAL 35, COLINA (SP), CEP 14770-
CEP 44380-000, CRUZ DAS ALMAS (BA)
Faça a poda dos ramos internos para 000, TEL. (17) 3341-1332, JOASILVA@SP.GOV.BR
tornar possível a entrada de mais luz
O conhecimento transforma
U
ma sucessão familiar bem-sucedida é um desafio comum aos jovens do cam-
po, mas assumir o comando de uma propriedade aos 16 anos de idade não é
algo que se vê todo dia – e foi esse o teste de maturidade que José Eduardo Ca-
miloti Orsini, de Barra do Jacaré, no norte do Paraná, enfrentou.
Quando o pai dele precisou trabalhar com a administração de uma cooperativa, coube
ao jovem tocar as lavouras e dois dos cinco aviários da propriedade de 80 hectares. “Eu
tinha que tomar decisões, lidar com funcionários e empresas para quem a gente entre-
ga a produção. Mas meu pai auxiliou no começo e teve paciência quando tomei decisões
erradas”, lembra Orsini, hoje com 22 anos.
Na época, ele tinha pouca experiência prática e muitas dúvidas sobre a própria capaci-
dade. Essa condição começou a mudar com a busca por conhecimento. O jovem entrou em
um curso universitário de agronomia e fez capacitações do Sicredi e do Senar-PR.
Uma das suas primeiras missões foi aumentar a produtividade da lavoura de soja.
“Aprendi uma palavra bonita, 'diagnóstico', e trago isso para melhorar tanto como pessoa
quanto como produtor. Analisar os problemas para pensar em soluções”, ressalta.
Com medidas de correção de solo e adubação adequada, José Eduardo conseguiu au-
mentar a produtividade da lavoura de 42 para 62 sacas por hectare já na primeira safra
sob seu comando. Depois vieram outros avanços, como a substituição dos fertilizantes
químicos pela cama de aviário e a redução das aplicações de inseticidas a partir da uti-
lização de conhecimentos do manejo integrado de pragas.
Hoje considerado um “conselheiro” para os produtores da região, José Eduardo segue
com planos de expandir a propriedade. “Nós planejamos outras fontes de renda. Tenho
FOTO_ SENAR/PR