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29 de março de 2024

CAPITAL DA ARTE
À frente da maior feira da América do Sul, que completa 20 anos, a diretora
Fernanda Feitosa e grande equipe abrem na quinta (4) as portas da SP-Arte
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CARTA AO LEITOR

São Paulo pulsa


sta edição revela a força cultural de

E São Paulo. Mostra a tração da cidade

GAÇÃO
para empreender. Criada em 2004 pe-

JOSÉ DE HOLANDA/DIVUL
la diretora Fernanda Feitosa, que aban-
donou a advocacia para se dedicar ao
mercado e ao universo da arte, a SP-Arte
está completando 20 anos, com mais de
50 000 obras exibidas ao longo dessa tra-
jetória no histórico Pavilhão da Bienal.
Antes que abrissem as portas, o fotógra-
fo Masao Goto Filho esteve lá nos espa-
ços e acompanhou a equipe de trabalha-
dores ferrenhos que produzia tudo para
receber um coletivo imenso de obras e
pessoas a partir de quinta-feira (4), quan-
do começa. Fez belos retratos da equipe
e da diretora, que estampam a capa da
Vejinha e nossa reportagem.
Se abrimos assim, fechamos a edição
FOTOS MASAO GOTO FILHO

com mais uma chave de ouro. Ninguém me-


nos que Arnaldo Antunes assina a coluna de
estreia da revista, chamada Mural SP. Arnal-
do vibrou com o convite e fez uma caligrafia
com gravetos intitulada Nossos Ossos. “Fi-
quei muito feliz com o convite para estrear
essa coluna”, disse, entusiasmado. “São Pau-
lo merece!” Isso tudo enquanto se preparava
para fazer a última apresentação da turnê
Encontro, com os Titãs, no Lollapalooza —
que foi pura emoção —, e visitava seu pri-
meiro netinho,
Tao, que acaba
de nascer. Arnal-
do não para e ele
é a cara de São
Paulo. A Mural
SP está aberta
para nossos con-
vidados escreve-
rem, desenha-
rem, fotografa-
CATARINA RIBEIRO

rem, grafitarem.
Queremos que a
Vejinha acompanhou o trabalho de produção e montagem da SP-Arte, que abre
página tenha a na semana que vem, comemorando seus 20 anos de estrada. As imagens acima
Alice Granato, energia pulsante são de Masao Goto Filho. No alto da página, o músico, poeta e artista visual
redatora-chefe da cidade. Arnaldo Antunes, que fez uma caligrafia para a nova coluna da revista, Mural SP

Foto da capa: Masao Goto Filho


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Fundada em 1950

VICTOR CIVITA ROBERTO CIVITA


(1907-1990) (1936-2013)

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Diretor de Redação: Mauricio Lima

Circula semanalmente com a revista VEJA, na Grande São Paulo, Litoral e nas cidades até 100 km da capital

Redatora-chefe: Alice Granato

Editor-executivo: Arnaldo Lorençato Editor-sênior Fabio Codeço Editora-assistente: Débora Lopes


Repórteres: Humberto Abdo de Lima, Mattheus Goto, Saulo Yassuda,
Sérgio Quintella e Tomás Novaes Designers: Juliana Bueno e Marta Teixeira
Estagiários: Ana Mércia Brandão, Beatriz Imagure, Laura Lima e Luana Machado

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NO DIGITAL
vejasp.
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Arte engajada
Desde 2020 o Masp — Museu de Arte
de São Paulo Assis Chateaubriand man-

FELIPE BERNDT/CORTESIA CASA TRIÂNGULO/DIVULGAÇÃO


tém o projeto Edição de Arte em parce-
ria com artistas para arrecadar doações.
Nesta SP-Arte, a colaboração acontece
entre Sandra Cinto e a Casa do Cora-
ção. A artista criou uma obra inédita,
Um Oceano de Gratidão, série compos-
ta por 25 bordados numerados e assi-
nados, juntamente com as mães das
crianças atendidas pela instituição.

Show histórico
Em 30 de março de 1974, o pri-
meiro grande show de rock in-
ternacional aconteceu no Brasil.
Há cinquenta anos, o norte-a-
mericano Alice Cooper subia ao
palco do Anhembi com sua ma-
quiagem e visual únicos. “O Bra-
sil não fazia parte da rota de
DIVULGAÇÃO

shows de artistas internacionais.


Tinha a questão da distância, a
EM DEFESA DOS MARES incerteza do retorno financeiro”,
O CCBB — Centro Cultural Banco do Brasil, no Centro histó- diz o historiador Daniel Sevillano. DIVULGAÇÃO

rico da capital, abre suas portas para Década dos Oceanos Leia mais no blog Na Memória.
— I Mostra Nacional de Criptoarte. A exposição apresen-
ta uma coleção de obras de arte que fundem tecnologia,
história da arte e experiências interativas para ressaltar a
importância dos oceanos no ecossistema. Até 3/6.

EIS A QUESTÃO
AENA/DIVULGAÇÃO

Idealizado por Eugênia Thereza de Andrade em 2007, o projeto 7 Leituras


completa dezoito anos e encena obras de William Shakespeare no
Sesc Bom Retiro. As leituras apostam em figurinos, música, luzes e
elementos cenográficos. A próxima apresentação é Hamlet, no dia 30
de abril. Saiba mais no blog Na Plateia. Nova área em Congonhas
EDSON KUMASKA/SDIVULGAÇÃO

O Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul, ganhará um novo


terminal de passageiros até junho de 2028. Ele será destinado
para o embarque, deixando o atual para desembarque. A con-
cessionária Aena promete investir 2 bilhões de reais em me-
lhorias com a expectativa de que as mudanças aumentem a
capacidade para atender 29,5 milhões de passageiros por ano.

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AMARELINHAS | JANAÍNA TORRES

“O maior aprendizado sobre


sustentabilidade é na cozinha
de qualquer comunidade”
Escolhida a melhor chef mulher do mundo pelo júri do ranking The World’s 50 Best,
a profissional autodidata desenha agora o projeto de um restaurante autoral Arnaldo Lorençato
ividida entre as cozinhas do Bar

D da Dona Onça e d’A Casa do Por-


co, décimo segundo melhor res-
taurante do planeta pelo ranking
50 Best, que acaba de consagrá-la a chef
número 1 do mundo depois de ter lhe da-
do o mesmo prêmio pela lista da Améri-
ca Latina no ano passado, Janaína Torres,
49, não para. Em 2023, a cozinheira, que
não assina mais Rueda (sobrenome do
ex-marido e sócio, o chef Jefferson Rue-
da), fez 21 viagens a países tão diferentes
quanto Japão, Turquia e Espanha levando
a bandeira culinária do Brasil. Só no pri-
meiro trimestre de 2024, foram mais oito
destinos internacionais. O próximo menu
d’A Casa do Porco, um fine dining a um
preço razoável sempre com filas na porta,
volta a ser de Jefferson. Com a divisão de
tarefas, a chef desenha agora um restau-
rante autoral, o À Brasileira por Janaína
Torres. Claro, também no Centro.

Qual o peso dos prêmios nacionais


e internacionais em seu trabalho?
Os prêmios tornaram meu trabalho mais leve. Esse
reconhecimento deixa a gente mais livre para fazer
o que acredita, o que precisa ser feito. É preciso
voltar lá atrás. Quando abri o Bar da Dona Onça,
em 2008, o impacto era a VEJA SÃO PAULO. A Veji-
nha foi a primeira revista a me premiar como chef
e liderança feminina. As pessoas vinham com a A cozinheira sem
revista debaixo do braço. Ganhei como melhor fronteiras: divulgação
cozinha de bar várias vezes (cinco no total). Desde da culinária brasileira e
a abertura desse meu projeto antigo de fazer comi- restaurante autoral
da de panela de pressão, sinto que estou no cami- LIGIA SKOWRONSKI

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nho certo. Depois, outros lugares começa- Aqui no Brasil, conto com a Maria Vargas. Na Achei importante ele trabalhar em outra
ram a ganhar o COMER & BEBER e não houve Espanha, a Susana Nieto faz a ponte de co- empresa e com uma mulher que admiro
impacto no negócio porque o Dona Onça municação com a Europa. Existe uma de- tanto, que foi minha inspiração.
ficou consagrado pelo público. Recebemos manda internacional e é ela quem cuida. Ela
em média 15 000 pessoas por mês, o mesmo conhece bastante os espanhóis e me ajudou Quando você virou a imagem
número d’A Casa do Porco. a fazer uma curadoria de chefs para o (even- d’A Casa do Porco?
to) Porco Mundi Espanha, em janeiro. Foi É uma pergunta interessante. Acho que em
Como o reconhecimento do 50 Best uma chave importante para trazer os chefs. 2018, quando entrei para criar o primeiro
impacta no negócio? menu, o “Porco É”. A partir dele, a gente
É difícil falar sobre o impacto. Quando recebi “Quando ganho começou a fazer menus temáticos. O pri-
a premiação de melhor chef do mundo no meiro chegou a demorar duas horas e meia
dia 21, estava num voo para a Guatemala. E
na própria quinta tinha uma fila surreal no
a premiação, para ser servido. Aí batalhei, batalhei para
que os outros menus pudessem ser servi-
Bar da Dona Onça e n’A Casa do Porco. Eram comemoro, dos em uma hora e meia. Foi um grande
pessoas querendo conhecer a melhor chef aprendizado. Foi uma luta bem grande nos-
do mundo. Queriam conhecer quem era es- vibro. Mas não sa. O Jefferson está de volta e já assumiu a
sa mulher. Estar entre 1 e 50 acho que não vai espero nada. cozinha. Agora, terei mais liberdade para
fazer muita diferença. tocar meus projetos pessoais.
A Casa do Porco está na décima
Sempre acho que Como são seus novos projetos?
segunda colocação na lista mundial, não vou ganhar” Comecei a desenhar um projeto sobre o Bra-
mas caiu cinco posições em relação a sil, desde a nossa parte originária até os dias
2022. Por que houve essa queda? Seus restaurantes poderiam estar de hoje. É um projeto de pesquisa e estudo
Gosto muito de ganhar a premiação, come- em qualquer lugar da cidade. e se chama À Brasileira por Janaína Torres,
moro, vibro. Mas não espero nada. Sempre Por que a preferência pelo Centro? inicialmente com pop ups de jantares. O pri-
acho que não vou ganhar (risos). É cíclico. Nasci no Centro de São Paulo. Minha casa é meiro deles vai ser em 9 de abril no Tangará,
Os restaurantes sobem e descem. Tudo no Centro de São Paulo. Não poderia ser em um evento corporativo, sobre a imigração
depende dos visitantes dentro dos países. outro lugar. Minha avó morou uma época na francesa no Brasil e sua influência. Em 2025,
É uma roleta russa quem são esses jurados, Vila Prudente. Eu tinha 16 para 17 anos e tra- vai se tornar um projeto maior, de um res-
se eles escolheram estar no Brasil. São balhei na padaria Cepam na produção de taurante autoral e um mercado de comida
1 080 jurados e 3 000 pessoas que ficam no panetone. Antes, fazia beirute, iogurte e co- brasileira. A gente vai falar não só sobre o
radar (do ranking) que podem ser troca- xinha para vender na rua. Quando criança, alimento para matar a fome mas também
das. Desconfiam que algumas pessoas po- eu era muito pobre e minha família não ti- sobre a relação dele com outras disciplinas
dem ser juradas, inclusive você. nha como desperdiçar nada. Por isso, as que aprendemos na escola. A história é a
minhas técnicas de cozinha hoje são muito primeira, porque vamos contar a história da
As visitas constantes a restaurantes diferentes das francesas. A técnica brasileira nossa cozinha. Matemática, porque é preciso
de chefs-votantes de outros popular não perde nada. Não se desperdiça calcular receitas, tempo de preparo. Quando
países ajudam no resultado? o que é escasso. Quando se quer saber so- atuei nas escolas públicas com a merenda,
Espero que sim. Não dá para saber porque o bre sustentabilidade, nosso maior aprendi- me perguntei por que as escolas não têm a
voto é anônimo. O intercâmbio ajuda muito zado é a cozinha dentro de qualquer comu- matéria alimentação. Isso fez com que me
porque, quando viajo e estou cozinhando nidade. Aí se aprende o que é aproveita- tornasse uma mulher mais política. Era um
num lugar, geralmente, estou sem a minha mento total dos alimentos. Falo sempre isso pouco alienada com as políticas públicas.
equipe e é muito mais difícil. Quando al- para os alunos de gastronomia.
guém vem para o meu restaurante, também Onde será o novo restaurante?
vejo essa pessoa cozinhar. Descubro com Seu filho mais velho, o João Pedro, Ai, ai, ai. Me dá até um negócio no estômago.
quem me identifico. Mas viajar também po- quer ser chef? Como é isso? Não posso falar porque ainda não assinei o
de ser um tiro no pé (risos). O João Pedro está estagiando no Maní com contrato. Vai ser muito perto da Casa do Por-
a Helena Rizzo. Ele me perguntou onde co, muito perto mesmo. É um prédio grande,
Qual a importância de ter um serviço poderia aprender antes de ir estudar no um retrofit do (arquiteto Gustavo) Cedroni.
de relações públicas internacional? Basque Culinary Center (na Espanha). Nunca vou sair do Centro.

Veja
VejaSão Paulo 29xxde
SãoPaulo demarço,
xxxxx, 2020
2024 7
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TERRAÇO PAULISTANO
Humberto Abdo

Novos trajetos
Sem falar nada, Thainá Duarte, 28, roubou a cena. Ao interpretar
Dilvânia em Cangaço Novo, série do Prime Video, a paulistana pôde
se reconectar com seu primeiro trabalho como atriz. “Lembro da pri-
meira vez que fui fazer teste na Globo: saía com minha mãe de São
Paulo à noite, de ônibus, para conseguir voltar logo do Rio e ela não
perder mais que um dia de trabalho”, relembra, emocionada. As duas
repetiram o trajeto diversas vezes, sem nenhum resultado. “Aos 17
anos, eu ainda não tinha sido chamada para nada e comecei a achar
que aquela não era a profissão certa. Quando passei a cursar enge-
nharia, fiz o que seria meu último teste e assim entrei em Mundo Cão.”
Assim como Dilvânia, sua personagem no filme era deficiente auditiva,
um desafio a mais no processo de atuação. Agora, enquanto se pre-
para para as gravações da segunda temporada de Cangaço, ela será
destaque em várias produções neste ano: no novo filme Barba Enso-
pada de Sangue, como par do ator Gabriel Leone, e no elenco do se-
riado Maria Bonita, do Star+, baseado na história do casal de canga-
ceiros Lampião e Maria Bonita. “O mais curioso para mim foi retornar
ao universo da caatinga e poder interpretar alguém que já existiu.” CAMILA VIEIRA/DIVULGAÇÃO

Abertura sinfônica
Prestes a completar seis anos, a marca Aluf abrirá a
temporada de desfiles da próxima SPFW. Assinada
pela paraense Ana Luisa Fernandes, 28, a nova co-
leção, Prosopopéia, será revelada no espaço de even-
tos do JK Iguatemi, em 9 de abril. “Investi em fibras de
viscose e dourado, com esse drama barroco dentro
da temática, e teremos uma estampa floral em 3D”,
descreve. Com direito a participação da Orquestra
Sinfônica de Heliópolis, bailarinas e a cantora lírica
Maria Gerk, o desfile marca a ascensão da estilista
em São Paulo — em maio, ela inaugura sua terceira
loja, também no shopping JK. “Uma versão bem me-
nor que a nossa flagship dos Jardins”, conta ela, que
FABIO AUDI/DIVULGAÇÃO

se mudou para a capital paulista em 2013 e transfor-


mou o TCC da faculdade em uma grife de sucesso.
“Não queria que esse projeto acabasse após aqueles
quarenta minutos de apresentação final.”

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ESCAPADA ANTIESTRESSE
Após largar a faculdade de educação xas sempre envolvem excesso de
física e se dedicar à ioga, o terapeuta trabalho ou questões relacionais.”
holístico Magni, 34, tem atraído cada Meditações, terapia com som e até
vez mais paulistanos para retiros de imersão no gelo estão entre as técni-
relaxamento organizados na região cas usadas para ensinar formas de li-
de Ubatuba. Com pacotes de quatro dar melhor com sintomas da ansieda-
dias que custam cerca de 4 000 reais de. A próxima edição, feita em grupo,
por pessoa, Magni conduz dinâmicas acontece em maio no feriado de Cor-

ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO
na natureza voltadas para amenizar o pus Christi — mas, com a alta procura,
estresse típico da cidade grande. ele já planeja ampliar a agenda com
“Muita gente na capital anda estres- encontros rápidos de fim de semana.
sada”, garante. “A procura vem de “Já tive participantes que se organiza-
pessoas entre 30 e 60 anos, e as quei- ram para passar um mês inteiro!”

MUSICAL COMPLETO
Pedras que pintam Com dez anos de história no Rio de Janeiro, o Centro de Estudos
Convidado a expor no próximo Salão do Móvel de Milão, e Formação em Teatro Musical acaba de ganhar sua primeira uni-
Nikko Kali, 66, se reveza entre São Paulo e Paris, onde man- dade paulistana. Em uma casa próxima ao Parque da Aclimação,
tém seus ateliês. Usando uma técnica de pigmentos feitos o local tem capacidade para cerca de 150 alunos e aulas de técni-
com pedras preciosas, ele leva cerca de três a quatro meses cas como palhaçaria, canto, dança e sapateado. “Depois da pan-
para completar uma única obra. “O resultado traz luminosi- demia, percebi que é necessário mais que um bom material
dade e relevo. Sempre me perguntam por que não uso tinta técnico para ser ator. O aluno precisa ser investigado como um
a óleo, muito mais fácil. E realmente é, mas o que me atrai é todo e provocado a se conhecer”, diz o fundador e diretor Reiner
o processo artesanal”, diz. Com criações a partir de 35 000 Tenente, 44. “Hoje em dia existem instituições que se utili-
euros, seu trabalho de maior destaque foi um quadro ven- zam do glamour do
dido por 100 000 euros, segundo ele. “Hoje ele está em Sin- teatro musical e fi-
gapura, mas foi uma encomenda bem específica feita para cam só no brilho,
cobrir a parede de uma cobertura”, conta. Além de uma que vem como
exposição anual realizada no oeste da França, ele prepara consequência
uma mostra individual com quarenta obras na Praia Grande, de muito tra-
prevista para o segundo semestre. balho.” Não
“Gosto muito do abstrato e de tem falta-
utilizar o lápis-lazúli. E a mi- do traba-
nha matéria-prima encontro lho ao ator
no Brasil mesmo, onde con- e cantor mi-
sigo praticamente todas as neiro, que atual-
cores do arco-íris.” mente integra o elenco do
espetáculo Tarsila, a Brasileira
ao lado de Claudia Raia — e é
ela quem será a madrinha e
“garota-propaganda” da no-
ÃO
ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO

LGAÇ

va escola. “Não é um lugar


/DIVU

só para quem quer seguir a


B O SA

profissão, mas tratamos


S BAR

todos com esse olhar


OSEIA

por respeito ao ofício.”


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ARTE

LOCOMOTIVA DA ARTE
Pavilhão da Bienal se prepara para receber a 20ª edição da SP-Arte,
com 190 expositores e mais de 3 000 obras
Humberto Abdo, Laura Pereira Lima, Mattheus Goto e Sérgio Quintella

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om mais de 50 000 obras


GRANDES
C expostas ao longo de
duas décadas, a SP-Arte
chega à 20ª edição man-
tendo a busca por tendências e
novidades do cenário artístico
DIMENSÕES
Os números
superlativos da feira
nacional. De 4 a 7 de abril, o
Pavilhão da Bienal vai reunir
galerias, estúdios de design,
editoras e artistas de várias re-
giões do Brasil e de países co-
500 000 VISITANTES
mo Uruguai, México e Argenti- já passaram pela
na. Dos 41 expositores que in- SP-Arte em vinte anos
tegraram o primeiro ano da
feira, criada em 2005, desta vez
serão mais de 190 representan-
tes, todos com obras à venda
nos estandes. De jovens ex-
15
PAÍSES,
poentes a grandes nomes da em média, já participaram
arte brasileira, a feira traz um de edições passadas,
panorama de artistas. entre eles Costa Rica,
“O esforço e o frio na barri- França e República Tcheca
ga continuam os mesmos, com
o desafio de manter a voz do
Brasil no exterior, trazer novas
galerias e atrair um público cor-
respondente à expectativa de-
31 000 PESSOAS
las”, afirma a fundadora e dire-
tora, Fernanda Feitosa. Para visitaram a última edição
criar esse formato, ela se inspi- da feira, em 2023
rou nas feiras de arte europeias
(leia mais na próxima página).

Montagem do espaço
A SP-Arte é tida como uma
grande vitrine para projetar
obras e artistas e contribui pa-
3 200OBRAS
de 22 000 metros ra a formação do acervo de é o número estimado
quadrados: evento de peças em exposição
espera receber mais museus e coleções particula-
de 30 000 pessoas res. É importante, contudo, nesta 20ª edição
ponderar que só estão ali os
artistas que têm representação
comercial das galerias; os que
não têm, não estão.
“A feira é bem abrangente,
mas é impossível dar conta de
22 000 METROS
toda produção existente”, ob- QUADRADOS
serva Regina Teixeira de Bar- serão ocupados
FOTOS MASAO GOTO FILHO

ros, curadora coordenadora do nesta 20ª edição


Masp. “Ainda assim, funciona
como uma locomotiva e dá um
impulso no mercado. Quando

Veja São Paulo 29 de março, 2024 11


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há momentos de crise, ela tem


o papel da estabilidade e movi-
menta vendas, pessoas, encon-
tros, artistas e todo o sistema.”
Para os artistas, é a hora de
se apresentar ao público e criar
conexões. “O repertório de
obras bastante nacional é uma
característica dessa feira”, opi-
na Tálisson Melo, curador e
professor de sociologia da arte
na USP. “Por meio dela, é pos-
sível ver como o mercado rea-
ge às mudanças do campo ar-
tístico, esse olhar que se altera
de tempos em tempos. Agora
podem surgir novos olhares so-
bre questões ambientais, por
exemplo. A renovação da últi-
ma Bienal de São Paulo e a
participação de um curador
brasileiro na Bienal de Veneza
também criam novas possibili-
dades de intercâmbio.”
“A arte vive de símbolos, e
a SP-Arte se tornou um deles”,
define Daniel Rangel, curador
do Museu de Arte Contemporâ-
nea da Bahia. Mesmo a 2 000
quilômetros de distância da ca-
Vinte anos de
pital paulista, o museu baiano trabalho: foco
MASAO GOTO FILHO

decidiu aproveitar a data da fei- na repercussão


ra para inaugurar a mostra co- internacional
letiva Iniciadas: Ancestralida-

LINHA DO TEMPO 2005


Primeira
2012
Início do Laboratório
2014
Primeira edição do programa Solo
Os marcos do evento em edição Curatorial Concebido por Consistia em exposições individuais
duas décadas de história Com 41 galerias Adriano Pedrosa, curador de artistas selecionados por curadores
e cerca de 600 da Bienal de Veneza 2024, convidados, como Rodrigo Moura e
obras, a edição o projeto estimulava jovens Alexia Tala. Olga de Amaral e Voluspa
de 2005 marcou curadores a desenvolver Jarpa foram duas das artistas que
FOTOS ACERVO SP-ARTE/DIVULGAÇÃO

a inauguração projetos expositivos, protagonizaram exposições no programa,


da SP-Arte, como uma plataforma de que durou até a edição de 2019.
atraindo um profissionalização. De 2012 a
público de 2014, o programa selecionou
mais de 7 000 nomes como Bernardo
pessoas. Mosqueira e Marta Mestre.

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PASSOS INTERNACIONAIS
Após vinte anos de trajetória da feira, Fernanda Feitosa busca a cada edição
aumentar a diversidade de participantes e atrair o mercado internacional

epois de encerrar a carreira de advoga- aproximar todos, a SP-Arte acabou propi- mercado da arte e da sociedade. Já é o má-
D da e se mudar para a Argentina com a
família, Fernanda Feitosa, 57, nascida no
ciando trocas de galerias veteranas para as
galerias mais jovens. Passou a ser uma plata-
ximo do que podemos alcançar? Não. Te-
mos apenas uma galeria cuja dona é uma
Rio de Janeiro, passou três anos sabáticos forma de formação profissional.” artista negra, a Igi Lola Ayedun, da HOA, e
até idealizar seu novo projeto: a SP-Arte. Maior e mais abrangente, hoje o even- neste ano virá também a Nosco, de um
Inspirada pelas feiras de arte europeias, ela to também é um termômetro para as no- galerista negro da Inglaterra. Caminhamos
lançou a primeira edição em 2005, com 41 vidades e transformações no cenário artís- um longo caminho, mas ainda temos mui-
galerias e cerca de 600 obras. “Àquela altu- tico. “Muita coisa mudou e outras não to a continuar.”
ra, já gostava de frequentar o circuito das mudaram nada… Antigamente, eu fazia Em sua coleção pessoal, o recorte é mais
artes e achava muito rica a convivência pes- toda a comunicação por carta”, diverte-se. específico. “Tenho apreço pela arte do pós-
soal com essa área”, relembra. “Por isso, “Hoje em dia preciso trazer representantes guerra dos anos 1950 e 1960, uma expressão
quando voltamos ao Brasil, quis investir em da sociedade atual, com galerias e artistas que chamamos de art pop brasileira, e tam-
algo diferente, que fizesse parte do campo que lidam com temas próprios do Norte bém me interesso por fotografia”, conta.
do empreendedorismo.” Vinte anos depois, ou Nordeste, artistas indígenas, mulheres “Todo colecionador é muito compulsivo.
um dos focos da empresária continua sen- e questões LGBTQIA+. Tudo para traduzir Quase toda semana recebo ofertas de obras,
do atrair a atenção (e visitação) de novos a contemporaneidade.” as pessoas ligam dizendo ‘sei que você gosta
galeristas e colecionadores. “Na América do Na abertura da última edição, a orga- desse artista’.”
Sul, ainda temos desvantagem em relação nização foi pega de surpresa com a inter- Para os próximos anos, ela sonha em
ao calendário tão concorrido dos eventos venção artística de Negro M.I.A., que ques- reconquistar a presença de galerias interna-
de arte na Europa”, observa. tionou uma possível falta de diversidade cionais. “Chegamos a ter 58 do exterior
Para contemplar artistas cada vez mais ao escrever, com uma lata de spray, em participando entre 2012 e 2016, auge. Desde
diversos, Fernanda conta com a ajuda de um um painel livre: “cadê a arte preta?”. “A então, essa participação vem decrescendo”,
comitê composto por cerca de quinze pes- feira acaba sendo palco para essas mani- diz. “O Brasil deixou de estar na rota dessas
soas. “Passamos o ano todo muito antena- festações. Não vejo como crítica à SP-Arte, galerias internacionais e agora há uma
dos com o que está acontecendo para acom- mas uma crítica social que cabe a todos quantidade maior de feiras em locais onde
panhar uma galeria nova que possa abrir lá nós”, opina. “Acho que a seleção reflete o mercado da arte antes não era tão pro-
em Goiânia ou São Luís”, exemplifica. “Ao cada vez mais a riqueza e pluralidade do missor, como Hong Kong e Dubai.”

2015 2017 2019 2020


Inauguração dos Primeira edição Recorde Primeira edição
setores Performance de Repertório de público do SP-Arte
e Open Plan Em vigor entre 2017 presencial Viewing Room
Ayrson Heráclito e Carla e 2019, o projeto Foram 36 000 Em 2020 e 2021, a feira
Borba foram dois que buscou estabelecer visitantes. foi realizada de forma
se apresentaram no um diálogo entre A edição on-line. Na estreia
Performance, dedicado a artistas internacionais também bateu do formato, foram
movimentos e práticas pouco conhecidos recorde com mais de 56 000
corporais. No mesmo ano, no Brasil e nomes seu programa visitantes, dos quais
Open Plan abriu espaço historicamente de doações, com 15% eram estrangeiros
para grandes esculturas relevantes para cerca de setenta e 40% de fora do eixo
e instalações, até 2016. a arte brasileira. obras doadas. São Paulo-Rio de Janeiro.

Veja São Paulo 29 de março, 2024 13


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des Contemporâneas, composta


por seis jovens. “Queremos fa-
zer parte desse ecossistema que
a SP-Arte produz.”
A feira também estimula o
processo de doações de obras
para grandes instituições de ar-
te do país, com pessoas físicas
e jurídicas, que compram e des-
tinam esses trabalhos a locais
consagrados como o Masp, o

EWELY BRANCO SANDRIN/DVULGAÇÃO


GUILHERME GALLÉ/DIVULGAÇÃO

Museu de Arte Moderna de São


Paulo (MAM) e a Pinacoteca de
São Paulo. “Nossas aquisições
seguem uma certa política para
acompanhar a produção de ar-
tistas jovens e cobrir lacunas
Pintura A Mulher
que o acervo demonstra histo- Inventa a Mulher
ricamente”, explica Jochen (2022), de José
Volz, diretor-geral da Pinacote- Roberto Aguilar:
ca. “Nós mesmos já indicamos destaque da
aos nossos parceiros e apoiado- DAN Galeria
res algumas opções de obras
que nos interessam.”
Em sintonia com essa tradi-
ção, o próprio MAM terá no pa-
vilhão uma exposição do Clube
de Colecionadores, um conjunto
de obras de tiragem limitada
criadas por artistas brasileiros.
“A SP-Arte é importante para

› Dee
NOVA PALETA Lazzerini
Esculturas
Talentos que o público vai
cravejadas
conhecer nesta edição
FOTOS ANA PIGOSSO/DIVULGAÇÃO

são marca
registrada
› Allan Weber do artista
O artista nascido e criado mineiro que
na comunidade Cinco expõe duas
Bocas, Zona Norte do Rio obras no
de Janeiro, trabalhou como › David Almeida estande da
RAFAEL SALIM/GALATEA/DIVULGAÇÃO

entregador e começou a Formado em artes plásticas pela DAN Galeria.


produzir fotografias sobre Universidade de Brasília (UnB), “Costumo
o cotidiano dos motoboys. utiliza tela, linho, madeira, falar que
Suas obras investigam cerâmica e gravura para discutir as o alfinete
elementos da favela, como problemáticas do espaço, a cidade é minha
o baile funk e o tráfico. e a paisagem regional brasileira. tinta.”

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Glovetrotter
(2010),
de Cildo
Meireles:
destaque no
estande de
Luisa Strina

EDOUARD FRAIPONT/DIVULGAÇÃO
Aviador
(1986), de
Claudio
Tozzi: artista
representado
pela
Referência
Galeria de Arte Azulejão (2018), de Adriana Varejão: à
venda pela primeira vez na Almeida & Dale
Fotografia Blue
Tango (1984), de
Miguel Rio Branco:
na Millan
GALERIA RAQUEL ARNAUD/DIVULGAÇÃO

FOTOS SERGIO GUERINI/CORTESIA ALMEIDA & DALE GALERIA DE ARTE


MILLAN/MIGUEL RIO BRANCO/DIVULGAÇÃO

Sem título,
da série Livro
do Tempo
(1965), de Série Um & Outro II (2000),
Lygia Pape: de Anna Maria Maiolino:
obra inédita parte da história da Galeria
na Almeida Raquel Arnaud
& Dale

› Diambe Artista trabalha › Sallisa Rosa A artista indígena


com diversidade de materiais e usa fotografia, vídeo, performance e
formatos, desde coreografias e instalação para discutir temas como
desenhos de fogo até esculturas memória, ancestralidade, paisagem e
de bronze. Participou da exposição erosão da terra. Sua instalação, Sallisa
Carolina Maria de Jesus: Um Brasil Rosa: Topografia da Memória, estará
para os Brasileiros, no Instituto na Pina Contemporânea até 28 de julho.
Moreira Salles, entre 2021 e 2022. › Marina Woisky
Artista visual paulistana questiona
AUDEMARS PIGUET CONTEMPORAY/DIVULGAÇÃO

em sua produção os limites


entre a bidimensionalidade e o
mundo 3D. Usa técnicas como
EDSON KUMASAKA/DIVULGAÇÃO

o preenchimento de tecidos
ERIK ASSOGBA/DIVULGAÇÃO

impressos com cimento e a


justaposição de materiais para
criar imagens que misturam
fotografia, pintura e escultura.

Veja São Paulo 29 de março, 2024 15


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reforçar o mercado nacional,


pois tem gente que vai ao exte-
FAROL DO MERCADO A SP-Arte
rior para comprar obras brasilei- Protagonistas do evento, as galerias
potencializa
ras, o que é bem estranho”, pon- cresceram em número ao longo das
tua Cauê Alves, curador-chefe e dá
duas décadas. Dez delas, de veteranas
do museu. “É uma feira forte por visibilidade
a estreantes, revelam suas impressões
aqui e também atrai coleciona- para as artes,
dores internacionais.”
sobre a feira e o que estão preparando
galerias e
Em vinte anos, a SP-Arte já para esta edição histórica.
artistas”
expôs estrangeiros como o Ulisses Cohn, sócio-
› Almeida & Dale Presente desde a
chinês Ai Weiwei, a colombia- diretor da DAN
primeira edição, a galeria de Antônio
na Olga de Amaral e o ameri-
Almeida e Carlos Dale apresenta peças

MARIA PETRUCCI/DIVULGAÇÃO
cano Jeff Koons, além de ter
inéditas de titãs da arte moderna e
recebido criações de brasilei-
contemporânea brasileira, como Adriana
ros célebres como Tarsila do
Varejão, Portinari, Di Cavalcanti, Lygia Pape
Amaral, Di Cavalcanti e Can-
e Tunga. “Existe um mercado antes e
dido Portinari. Atraídas pela
depois da SP-Arte”, afirma Antônio.
seleção anual de obras e cria-
tivos, celebridades internacio- › Carmo Johnson Projects › Galatea A estreia da galeria de
nais como Cher, Kate Moss e Em sua terceira participação, a galeria exibe Antonia Bergamin, Conrado Mesquita
Sharon Stone também já visi- novamente obras do coletivo indígena e Tomás Toledo, três grandes nomes
taram os corredores de edi- MAHKU, do Acre, que fez uma individual do mercado, foi no Rotas Brasileiras
ções passadas. no Masp em 2023 e foi convidado para de 2022. “Foi um sucesso em todos os
“Um dos nossos maiores de- criar um painel na Bienal de Veneza deste sentidos, tivemos uma resposta muito
safios é a formação de público e ano , mas ainda vê pouco interesse pelas entusiasmada dos colecionadores”,
a luta contra a percepção de que peças. “A SP-Arte abre as portas, mas conta Toledo. “A feira possibilitou a
galerias são lugares elitistas e o mercado nacional não acompanha profissionalização do mercado e o
pessoas não são bem-vindas. A o sucesso internacional”, afirma Carmo acesso a galerias do Brasil e de fora”,
atuação da feira vai contra isso”, completa. O destaque será uma
› Cerrado Estreante, a galeria foi criada peça especial de Maria Martins.
opina Ian Duarte, sócio da Ver- em 2023 por Lucio Albuquerque, da Casa
ve, uma das participantes deste Albuquerque (Brasília), e a dupla Antônio
ano. “A feira modificou o cená- Almeida e Carlos Dale, da Almeida &
rio de artes visuais em São Pau- Dale, com a proposta de contemplar a
lo e toda a forma de pensarmos produção artística e o público do Centro-
todo o processo”, acredita Ulis- Oeste. “Reunimos artistas diversos,
ses Cohn, sócio-diretor da DAN de modernistas, passando por
Galeria. “Esse é um dos grandes contemporâneos consagrados, até
eventos que colocam arte e cul- talentos promissores”, explica Júlia
tura em pauta sem deixar de ir Mazzutti, diretora da equipe de Goiânia.
além do circuito de arte”, com-
pleta Jochen. › DAN Galeria Desde a primeira
edição na SP-Arte. Para o sócio-diretor
Parque Ibirapuera, portão 3, Ulisses Cohn, a feira potencializou O público tinha
Ibirapuera, 3077-2880. e deu visibilidade para galerias, medo de entrar na galeria,
→ Quinta (4) e sexta (5), artistas e o cenário das artes em geral.
achava que era elitista
BOB WOLFEMSON/DIVULGAÇÃO

13h/20h. Sáb. (6) e dom. (7), “Era um mercado pulverizado, com


11h/19h (abertura só para pouca movimentação e relacionamento. demais. A feira ajudou
convidados em 3/4). R$ 80,00. A grande qualidade do evento é a desmistificar isso”
Vendas pelo site: bilheteria. concentrar todo esse mercado e Luisa Strina
sp-arte.com. atingir um público maior”, diz.

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Participar de feiras
é essencial, e a SP-Arte é a
primeira que vem à mente”
Julia Mazzutti, da estreante Cerrado Galeria

DANILO SORRINO/DIVULGAÇÃO
ARQUIVO PESSOAL

MARKUS AVALONI/DIVULGAÇÃO

Aos 20 anos, a feira


se consolida como uma das
Rangel e Glicéria Tupinambá
mais importantes para o (acima): mostra paralela
mercado de arte brasileiro” no MAC Bahia
Tálisson Melo, curador e professor
de sociologia da arte da USP › Paulo Darzé Galeria De Salvador, a
galeria participa desde a primeira edição do

FERNANDO BARBOSA/DIVULGAÇÃO
evento. “A finalidade é mostrar o que a Bahia
produz. Metade dos nossos clientes foi
conquistada na feira”, diz o proprietário,
Paulo Darzé, que neste ano levará obras
de J Cunha. “A feira vem numa crescente
DENISE ANDRADE/DIVULGAÇÃO

de diversidade. Quebrou a barreira que


existia no início contra artistas nordestinos, › Daniel Rangel,
contemporaneizou”, acrescenta. curador do Museu de Arte
› Raquel Arnaud A veterana traz Contemporânea da Bahia.
para esta edição um recorte da exposição “A SP-Arte é um espaço
Muitas pessoas que não comemorativa dos seus 50 anos, com fundamental, não só no cenário
frequentam galerias vão à feira e curadoria de Jacopo Crivelli Visconti — que nacional como no internacional,
começam a se apaixonar por arte já representou o país na Bienal de Veneza —, se tornando um hub de
Myra Arnaud Babenco, da galeria Raquel Arnaud apresentando uma linha do tempo de sua comunicação muito forte.
história a partir de obras de artistas como A arte vive de símbolos,
› Luisa Strina Vai mostrar obras de artistas Amilcar de Castro, Mira Schendel, Waltercio e a feira se tornou um deles.
como Alexandre da Cunha, Alfredo Jaar, Caldas e Iole de Freitas. “Tomo cuidado Abriremos uma exposição em
Anna Maria Maiolino, Bernardo Ortiz, Cildo para continuar o legado da minha mãe, Salvador no dia 2 para pegar
Meireles, Jarbas Lopes e Olafur Eliasson. “É que sempre colocou os artistas em primeiro um rebatimento do evento
uma importante vitrine de nosso portfólio para lugar”, afirma Myra Arnaud Babenco. de São Paulo. Ela se chamará
colecionadores de todos os estados e fora do Iniciadas: Ancestralidades
país”, diz Luisa. Segundo a galerista, o evento › Verve Em seu sexto ano de SP-Arte, Contemporâneas. É um trabalho
foi fundamental para desenvolver o mercado. vai expor obras pautadas pelo tema coletivo de seis jovens baianos,
“Corpo habitat”. O projeto coletivo busca como Glicéria Tupinambá.
› Millan Mais de trinta artistas vão ocupar refletir sobre a relação do ser humano com A gente quer estar dentro
uma área de 100 metros. “O time é eclético; a natureza, a linguagem e as plataformas. desse ecossistema que a SP-Arte
sou de uma geração em que a arte não era O destaque será a escultura em bronze produz, mesmo estando a
considerada nem branca, nem preta, nem de Marco Paulo Rolla. “É importante para 2 000 quilômetros de distância.
amarela, nem vermelha”, crava André Millan, nós ter a ideia de um projeto, para que o Como não sou consumidor
64. “O que me interessa é a qualidade e a visitante possa se conectar de maneira nem colecionador, a feira
ferramenta que usam.” Um exemplo é mais profunda”, afirma Ian Duarte, é para mim uma pesquisa,
a artista visual Marina Woisky. sócio da galeria junto de Allann Seabra. uma pesquisa primária. ■

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EXPOSIÇÃO

FOTOS PARIS MUSÉES/PETIT PALAIS/GAUTIER DEBLONDE/DIVULGAÇÃO


Obra A Cuca (detalhe), ao lado de
Modigliani, no Museu de Belas Artes

Na vanguarda
Em Paris, Tarsila do Amaral integra exposição com grandes
nomes do modernismo e ganha individual em outubro
Oswaldo Carvalho, de Paris
arsila do Amaral (1886- Fã declarada da pintora, Juliette em que, mais do que nunca, a Cida-

T 1973) passou a década de


1920 entre Paris e a fazenda
de sua família, no interior
paulista. Um século depois, o Mu-
seu de Luxemburgo, na capital
adora a cena artística paulistana
atual. “Como a Paris do início do
século XX, hoje talvez seja São
Paulo o lugar onde a arte é mais
ativa no mundo. É uma cidade esti-
de Luz foi um polo exportador de
cultura para o mundo. Mas Juliette
Singer reconhece que a influência
entre Europa e América Latina se
deu em via de mão dupla. “A cultu-
francesa, prepara para outubro mulante, com ótimos museus e ar- ra brasileira teve impacto na obra
uma grande mostra retrospectiva tistas incríveis”, afirma. Para a de grandes artistas, como o poeta
de sua obra. Uma prévia já pode curadora, as temporadas parisienses suíço Blaise Cendrars, radicado na
ser conferida: a tela A Cuca, pin- de Tarsila a conectaram ainda mais França e amigo de Tarsila.”
tada pela artista em 1924, integra com suas raízes: “Quanto mais lon- Além da pintora, outros símbolos
a exposição Le Paris de la Moder- ge ela estava de casa, mais seu co- da cultura brasileira integram a mos-
nité (A Paris da Modernidade), em ração se aproximava da cultura po- tra Le Paris de la Modernité. Santos
cartaz no Museu de Belas Artes da pular brasileira”, observa. A rein- Dumont é lembrado como o primei-
cidade, abrigado no Petit Palais, terpretação do personagem folcló- ro homem a rasgar o céu da cidade
até 14 de abril. rico em A Cuca ilustra esse vínculo. com o seu 14-bis em 1906. A MPB
Juliette Singer, curadora-chefe “A tela é quase naïf, primitiva, mas é citada como inspiração para o no-
do Petit Palais, conta ter batalhado ao mesmo tempo inquietante e me do cabaré mais concorrido na
para incluir a brasileira na exposi- completamente revolucionária. A Paris dos “années folles” (ou anos
ção, que resgata as escolas moder- arte de Tarsila é perturbadora, sem loucos), o Le Bœuf sur le Toit (O
nistas da Paris de 1905 a 1925 e já ser agressiva”, define Juliette. Boi no Telhado). E o percurso ter-
recebeu mais de 230 000 visitantes: A exposição resgata um tempo mina com uma miniatura do Cristo
“Conheci sua obra na Pinacoteca de Redentor, identificado como a maior
São Paulo em 2008 e foi uma reve- escultura art déco do mundo. “Gran-
lação”, relata. A escolha foi acerta- Juliette: des personalidades brasileiras vie-
da: as cores tropicais de Tarsila primeiro ram à França no período e, ao re-
trazem frescor em meio a quadros encontro com gressar, se apropriaram dessa efer-
obra de
de ícones das vanguardas artísticas Tarsila foi na vescência e criaram, no continente
da Europa, como Pablo Picasso e Pinacoteca americano, outras formas de moder-
Amedeo Modigliani. de São Paulo nidade”, conclui Juliette Singer. ß

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BOEMIA

25 metros
de histórias
Após ameaça de fechamento, o bar Balcão, queridinho de
artistas e intelectuais e conhecido pela bancada em ziguezague,
celebra 30 anos, com renovação de público Saulo Yassuda
peça de design de madeira an- design que, toda vez que precisa vir

A gelim-pedra, com 25 metros de


comprimento e formato inusi-
tado (uns dizem que é de uma
borboleta, outros, de um avião), va-
gueia pelo salão de 81 metros quadra-
à capital paulista, dá um pulo lá.
Ex-dono de bares já extintos (o Roy-
al e o Oceania), Millan passava pelo que
chama de “período sabático” quando
resolveu montar a casa, incentivado pe-
dos e batiza o bar Balcão. Fundado em la companheira, Ticha Gregori. Ele ti-
1994 na Rua Doutor Melo Alves, 150, nha 35 anos, ela, 30. A premissa era que
nos Jardins, é um caso raro de estabe- o lugar tivesse uma grande bancada.
lecimento boêmio que alcançou a ma- Durante a obra, Ticha olhou os conduí- O casal Ticha Gregori
turidade sem sair de moda, se é que tes no chão e, de forma lúdica (“fui pro- e Chico Millan mais o
um dia já esteve nela. A celebração de fessora de criança”), “desenhou” o for- garçom José Adão Vieira:
30 anos de existência está marcada mato, em seguida aprimorado pelos tradição nos Jardins
para a segunda-feira (1º), a partir das arquitetos Fernando Millan e Paulo
18h, com apresentação do projeto Fecarotta. Nascia, assim, o balcão do
O Bom e o Velho, de Mario Manga e Balcão. O bar demorou um par de me-
Ana Deriggi, com entrada livre. ses para “pegar”. Parte do público estra-
Aberto de segunda a segunda, o nhava ter que se sentar lado a lado, vol-
espaço de iluminação amarelada, de- tado para um “buraco”, onde ficavam os
corado com móbiles e trabalhos co- garçons. “Quando decidiram colocar
mo a gravura do americano Roy banquetas dos dois lados, resolveram o
Lichtenstein (1923-1997) de quase 4 problema”, relembra o artista Artur Les-
metros de comprimento, foi cenário cher, cliente desde os primórdios.
de celebrações e de inícios (e térmi- Além de gente ligada às artes vi-
nos) de relações. Acolhe um público suais, o endereço segue sendo um ímã
fiel que, entre coquetéis clássicos, de arquitetos, jornalistas, escritores e
chopes e sanduíches dos bons, inte- atores. “Até hoje, ouço muito uma
rage entre si enquanto divide a ban- frase: ‘tem sempre alguém conhecido
cada com grupos ou pessoas que nem no Balcão’”, confidencia Chico. O
sempre conhece. “Em uma época em escritor Mario Prata, que passou 22
que as individualidades estão exacer- anos fora de São Paulo e retornou em
badas, o Balcão entra com a ideia do 2023 à cidade — e também ao Balcão
coletivo e da convivência”, teoriza o —, não raro aparece só. “Lancei um
sócio Chico Millan. “Aqui, você ao livro no ano passado e levava sempre
FOTOS LEO MARTINS

O salão visto
mesmo tempo tem privacidade e um uns dois exemplares, porque sempre do mezanino:
ambiente social”, define a francesa havia amigos para presentear, alguns freguesia assídua
Anne-France Berthelon, crítica de que eu não via há 22 anos”, conta.

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O que eles dizem


Clientes ilustres contam o que encontram na casa
RVO PES SOA L
AC E
Vira e mexe, quando você
quer encontrar alguém da velha
guarda e passa lá, vê quem
não via há um tempão.”
Artur Lescher, artista plástico
e cliente fiel (tal qual os filhos)
PES SOAL
RVO
Até chegar ao meu lugar, AC
E

vejo sempre três conhecidos


diferentes. Sempre tem alguém
para conversar.”
Mario Prata, escritor, de volta à cidade
(e ao bar) após duas décadas
GAÇÃO
/D IV U L
Ali ficamos frente a A SÁ
A ND
E RN
frente e ao lado de gente

F
que nem conhecemos,
mas acabamos puxando
conversa, batendo papo
e fazendo novos amigos.”
Sandra Annenberg, que frequenta
a casa com o marido, o também
jornalista Ernesto Paglia

Entre os habitués, certos clientes Nos últimos anos, circulou a notícia


até receberam homenagens no menu de que o Balcão fecharia em definitivo.
(o jornalista Ernesto Paglia, por Tanto no início da pandemia quanto em
exemplo, “virou” um filé à milanesa 2023, quando uma incorporadora pre-
aperitivo). Boa parte dos que povoam tendia adquirir imóveis na área. Uma
as tábuas de madeira (mais as mesi- comoção tomou conta das redes so-
nhas do mezanino) passa dos 50 anos. ciais, com a hashtag #salveobarbalcão.
“O público envelheceu e está mais A empresa acabou desistindo de subir
surdo, como eu (risos)”, brinca Prata. o edifício no local (a razão, não oficial,
Por outro lado, uma galera mais jo- seria um problema com a documenta-
vem tem aparecido. Às vezes, são ção em um apartamento). Os anfitriões
filhos de antigos fregueses, outras, do bar conseguiram ver alguma vanta-
novatos mesmo. “Eles se encantam”, gem no susto: o aumento de interesse
acredita Chico. “Por isso que estamos dos paulistanos pelo estabelecimento.
sobrevivendo”, opina Ticha. Na últi- “Ajudou as pessoas a voltarem a fre-
ma segunda (25), a arquiteta Tali Li- quentar a casa em massa”, acredita
berman, 28, uma das neofrequenta- Chico. “Teve gente que brincava que
doras do local, bebericava ali com era peça de marketing.” Mudar de en-
dois colegas, ainda mais jovens. dereço estava fora de cogitação. “Se
“Aqui tem um nicho bem ‘artistas da reabrisse em outro lugar, seria outra
Zona Oeste’”, define. “E já encontrei coisa, não Balcão”, acredita Ticha. É
meus pais aqui sem querer.” um bar com vida própria. ■

Veja São Paulo 29 de março, 2024 21


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PATRIMÔNIO

Console com cinco teclados, 305 teclas


e 32 pedais (ao lado) aciona mais
de 10 000 tubos instalados ao redor
do altar-mor (acima e abaixo)

FOTOS LEO MARTINS

Gigante
adormecido Q uase oculto por detrás das
enormes colunas no interior
do templo no marco zero de
São Paulo, o órgão de tubos
da Catedral da Sé vislumbra dias me-
Órgão de tubos da Catedral da Sé, danificado há mais lhores. Danificado e sem uso há mais
de vinte anos, será restaurado e ampliado para se tornar de duas décadas, o gigante vê, final-
mente, o seu plano de restauro cami-
o maior instrumento musical da América Latina Tomás Novaes nhar: viabilizado pela Lei Rouanet,

22 Veja São Paulo 29 de março, 2024


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o projeto deve entrar na fase de sa Rigatto & Filhos. A ideia é que o que dificultam a fruição do som,
execução entre junho e julho e está instrumento seja desmembrado e para que ele consiga se espalhar da
em pré-produção. suas partes recuperadas num edifí- melhor forma possível. Estamos
Fabricado sob encomenda na Itá- cio próximo à catedral. O valor ar- falando de uma catedral neogótica
lia, em 1953, o instrumento foi recadado até o momento, cerca de que tem uma cúpula, o que é bas-
construído pela firma Balbiani 3,2 milhões de reais, equivale a pou- tante incomum. No próprio proces-
Vegezzi- Bosi em Milão e Turim, co mais da metade do necessário so de construção, existiam muitas
chegou ao Brasil pelo porto de San- para deixar o colosso novo em folha, dúvidas sobre onde o órgão deveria
tos e foi instalado em 1954, ano de e é resultado de doações de pessoas ficar”, explica o produtor. O proje-
inauguração da catedral, no entorno físicas e aportes de empresas priva- to também prevê modernizações,
do altar-mor, onde permanece até das. “O cenário da captação nos úl- como a inserção de sistemas de
hoje. Em seus setenta anos de his- timos meses tem sido bastante inte- programação e um segundo conso-
tória, só esteve em plena atividade ressante. Imagino que até o meio le na nave da catedral, onde será
por apenas três décadas. “Nos anos deste ano a gente comece concreta- possível ver o organista em ação
80, ele parou de funcionar. Foi feito mente o reparo”, detalha Cassoli. O — o teclado original fica nos fun-
um reparo que lhe permitiu operar montante atual permite o início dos dos do altar-mor, no 1º andar.
até 2002, mas não plenamente. É trabalhos, mas a arrecadação segue O plano é que o instrumento ga-
como um organismo vivo: extrema- aberta para completar o valor. nhe destaque em programações cul-
mente desafiador manter cada parte Além da desmontagem, do res- turais, como concertos solo, de câ-
e o todo funcionando bem”, diz Ca- tauro completo do sistema pneumá- mara e com orquestra. “Existem
milo Cassoli, produtor cultural que tico, da limpeza e requalificação de outros locais onde a música clássi-
dirige o projeto de restauro. Segun- cada tubo, da troca de 6 500 mem- ca é oferecida na cidade, como o
do ele, o que explica o estado atual branas, da descupinização das ma- Theatro Municipal e a Sala São
do órgão é, principalmente, a falta deiras e do recondicionamento da Paulo, mas ambos requerem um in-
de manutenção. “Se você precisa parte elétrica, o instrumento ganha- vestimento. Na catedral, cujo pú-
levar um carro todo ano no mecâni- rá uma nova seção. Somados aos blico é majoritariamente de classe
co, imagina um instrumento desse mais de 10 000 tubos atuais, serão baixa, o órgão soará gratuitamente
tamanho”, compara. fabricados e instalados aproximada- para a população”, afirma o padre
Enquadrada no início de 2020 na mente outros 2 000. As adições, que Luiz Eduardo Pinheiro Baronto,
lei federal de incentivo à cultura, a ocuparão o coro sobre a porta prin- cura da Sé. Enquanto o órgão não
proposta inicial previa a desmonta- cipal da igreja, farão dele o maior volta a ressoar, estão previstas
gem e o envio do órgão para a Itália, instrumento musical da América ações como a campanha Adote um
empreitada que previa um custo de Latina, superando os 11 130 tubos Tubo, através da qual pessoas físi-
9 milhões de reais. Após a pande- do órgão da Basílica de Nossa Se- cas e jurídicas podem fazer doações
mia, com dificuldades de captação, nhora Auxiliadora, no município de e viabilizar o conserto de cada pe-
o projeto foi redesenhado para ser Niterói, no Rio de Janeiro. “Uma ça, com benefícios que incluem ter
feito na capital mesmo, pela empre- das funções será preencher lacunas o nome gravado em uma placa per-
manente na basílica. Além disso,
tanto a oficina quanto o espaço on-
de ele será reinstalado funcionarão
como um “canteiro aberto”, com
visitas guiadas e outras atividades.
“Todas as grandes catedrais do
mundo têm o seu órgão, porque é o
instrumento musical que está na
história da música litúrgica desde
os primórdios. Ele tem, por exce-
O interior da catedral: lência, a capacidade sonora de pro-
ao fundo, o altar-mor, duzir uma música que eleva a al-
onde está o órgão ma”, conclui o padre. ß

Veja São Paulo 29 de março, 2024 23


INÊS 249
BELEZA

Tecidos
usados
na análise
cromática no
escritório de
Bruna Cavassa
(à esq.)
e a consultora
atendendo
uma cliente
(abaixo):
aumento
da procura

Com que cor


eu vou?
GEISI ABONDANZA/DIVULGAÇÃO

Entenda como funciona a coloração pessoal,


técnica que identifica os tons que realçam a beleza
e está em alta em São Paulo Júlia Rodrigues
ocê já deve ter notado: de- brir o que lhes cai bem através da A técnica remonta às teorias da

V terminadas cores de roupa


são capazes de te conferir
uma aparência solar, a pon-
to de arrancar elogios. Já outras
parecem te apagar. Não se trata de
análise cromática. Durante a ses-
são, o consultor posiciona tecidos
de cores diferentes abaixo do rosto
do cliente, diante de um espelho.
O objetivo é identificar quais valo-
cor desenvolvidas na icônica Es-
cola de Arte Bauhaus, na Alema-
nha, e se popularizou na moda na
década de 80, com a publicação de
Color Me Beautiful, best-seller da
mero acaso e não funciona da mes- rizam o rosto, diminuindo olheiras estilista Carole Jackson, que clas-
ma forma para todos. É o que ex- e manchas na pele, por exemplo. sificava as pessoas de acordo com
plica a coloração pessoal, técnica “Analisamos pele, pelos, lábios, as estações do ano: primavera
que identifica os melhores tons olhos e veias para indicar as me- (tons quentes e alegres), verão
para cada pessoa a partir de carac- lhores escolhas para roupa, cabelo, (frios e sutis), outono (quentes e
terísticas faciais, como cor da pele maquiagem, acessórios e até es- terrosos) e inverno (frios e vivos).
e do cabelo. Hit no Instagram e no malte”, explica Manu Carvalho, Na década de 90, a consultora bri-
TikTok, a prática atrai cada vez personal stylist que tem no portfó- tânica Mary Spillane evoluiu a téc-
mais interessados na capital, que lio clientes como Ivete Sangalo e nica ao considerar outros aspectos
buscam profissionais para desco- Alessandra Negrini. além da temperatura da pele, como

24 Veja São Paulo 29 de março, 2024


INÊS 249

Paleta exclusiva
A americana Jean Patton
desenvolveu um método
específico para peles
negras, das mais claras
até as retintas. Considera
seis cartelas: Nilo, Jazz e
Blues (frias), Saara e Spice
LGAÇÃO

(quentes) e Calipso (neutra).


PAPELÍCIA/DIVU

MICHEL SANTANA/STUDIO IMMAGINE/DIVULGAÇÃO


intensidade e profundidade. Bati-
zado de método sazonal expandi-
O método sazonal
do, é o mais utilizado hoje e “diag- Cartelas se baseiam no colorido
nostica” as pessoas em doze pale- das diferentes estações do ano
tas (veja o quadro à dir.).
Bruna Cavassa, que trabalha na
FOTOS WIRESTOCK/FREEPIK

área há oito anos e atende clientes Luciana Ulrich, do Studio Immagine: mais de
em um escritório no Morumbi, viu a 9 000 alunos formados com método autoral
demanda pelo serviço aumentar nos
últimos tempos. “Depois da pande- zia-se que a pele negra só possuía
mia, as pessoas começaram a buscar contraste médio, mas existem pes-
autoconhecimento e a gastar com
Primavera Se divide entre brilhante, soas negras com contraste baixo e
mais consciência”, diz. A bancária
quente ou clara e traz cores alegres. alto”, diz Luciana Ulrich, fundado-
Deborah Silva, 31, procurou Bruna ra da escola que tem unidades em
durante um momento de transforma- Fortaleza e Portugal e já formou
ção pessoal. “Minha imagem já não mais de 9 000 alunos.
estava refletindo o que eu sentia”, Nos seus atendimentos, a con-
conta. Acostumada com o estilo bá- sultora de imagem Marcela Lemos,
sico, descobriu, no mês passado, que especializada em peles negras, pre-
sua cartela é a primavera brilhante, Verão Com colorações sutis, fere utilizar a fórmula desenvolvi-
com tons quentes e chamativos, co- se define como claro, frio ou suave. da pela americana Jean Patton,
mo o laranja e o amarelo. “Fiquei que, em seu livro Color to Color,
espantada com a diferença. Não pre- apresenta seis cartelas elaboradas
cisei mudar meu guarda-roupa, só especificamente para esse público,
aprendi a inserir as cores que mais com nomes inspirados na cultura
JPLENIO1/FREEPIK

me valorizam”, comemora ela, que africana e afrodescendente: Nilo,


tem apostado nos acessórios. Saara, Spice, Calipso, Jazz e
Um dos maiores centros de for- Blues. “O resultado é muito mais
Outono Traz tons terrosos, podendo
mação em coloração pessoal do assertivo”, garante a profissional,
ser suaves, quentes ou escuros.
país, o Studio Immagine, no Jar- que também faz atendimentos on-
dins, foi além ao adaptar o método line com tecidos digitais.
à miscigenação e à diversidade de Independentemente do método,
peles no Brasil. Lá, além dos teci- os especialistas concordam: nin-
dos tradicionais, são usadas estam- guém precisa banir do guarda-rou-
pas de diferentes contrastes, práti- pa uma peça que não se enquadre
ca depois adotada pelo mercado. na sua cartela. “A ideia não é deixar
“O sazonal expandido era muito Inverno Escuro, frio ou brilhante: de usar as cores, mas sim aprender
pautado na beleza caucasiana. Di- esta cartela se destaca pelas cores vivas. a usá-las”, resume Luciana. ß

Veja São Paulo 29 de março, 2024 25


INÊS 249
CULTURA

Manifestação no
Theatro Municipal

ANA MÉRCIA BRANDÃO


(acima) e Ruy Cortez
(abaixo): para o diretor,
decisão será revertida

Legado

RENATO DOMINGOS/DIVULGAÇÃO
ameaçado
Decreto do governo estadual que extinguiu
as Oficinas Culturais gera protestos da
classe artística Ana Mércia Brandão
a sexta-feira (22), um decreto ampliação do programa”, diz Maria nome e foco na qualificação no se-

N publicado no Diário Oficial


do Estado extinguiu as Ofi-
cinas Culturais, pondo fim
em um dos mais exitosos programas
culturais de São Paulo. O ato já pa-
Izabel Casanovas, superintendente
interina do programa na Poiesis, OS
responsável por gerir o projeto des-
de 2010. “Fomos pegos de surpresa.
Seremos 42 funcionários em aviso
tor da indústria criativa. “O prédio
da Oswald de Andrade será a sede
e o teatro continuará sendo ocupado
pela classe artística”, disse Marton.
A secretaria afirma ainda que, du-
recia se desenhar desde o dia 14 de prévio a partir do dia 1º de abril.” rante a reformulação do programa,
março, quando o edital que escolhe- Pelo decreto, que mobilizou a a unidade Juan Serrano contará com
ria a Organização Social para tocar classe artística em protestos, as Ofi- ateliês e trilhas formativas, desen-
o projeto em 2024 foi repentina- cinas deixam de existir para dar lu- volvidas pelas Fábricas de Cultura
mente cancelado. “Nós sabíamos gar a um novo programa, o CultSP da Brasilândia. A Poiesis, no entan-
que o Governo do Estado queria Pro — Escolas de Profissionais e de to, diz que não foi consultada para
fazer uma alteração, tanto que havia Empreendedores da Cultura, que, “passar os espaços”.
um item de diagnóstico no chama- segundo a secretária de Cultura, Há quase 38 anos, as Oficinas
mento. Colocamos na nossa propos- Economia e Indústria Criativas do têm sido responsáveis por promover
ta uma pesquisa para ouvir o inte- Estado, Marilia Marton, será um atividades pedagógicas e culturais
rior, pensando que haveria uma resgate do anterior com um novo gratuitas, como cursos de artesana-

26 Veja São Paulo 29 de março, 2024


INÊS 249

to, gastronomia, dança e teatro, de- uma conversa na Câmara. É um em São Paulo. Eles sempre tentam
bates, exposições e performances desmonte de um programa exitoso”, fazer esse tipo de ação, mas a cida-
em três unidades na capital: Juan afirma. de resiste bravamente. Se precisar,
Serrano, em Taipas, Alfredo Volpi, A atriz e produtora teatral Caro- vamos ocupar e fazer o possível e
em Itaquera, e Oswald de Andrade, lina Gonzalez, que ministra cursos o impossível, mas eles não vão
no Bom Retiro. No interior, também pelo programa desde a década de conseguir avançar.”
promove iniciativas como o Festival 1990, traz outro ponto. Ela conta Cacá Toledo completa: “Com a
Literário do Vale do Ribeira (FLI) e que em 2022 comandou um projeto mudança, há um perigo de que esse
o Programa de Qualificação em Ar- voltado para mulheres com mais de fio não consiga ser retomado. É blo-
tes em Dança e Teatro. Segundo a 60 anos, que contavam suas expe- quear o senso de identidade de uma
Poiesis, só em 2023 foram 373 mu- riências em depoimentos transfor- comunidade”, se emociona o diretor,
nicípios atendidos, com 1 292 ativi- mados em um espetáculo encenado que há dois anos comandou a peça
dades promovidas em todo o estado por elas depois de participarem de A Morta, de Oswald de Andrade, na
(810 na capital), atingindo um pú- aulas de interpretação, improvisação unidade do Bom Retiro, um espetá-
blico de 290 000 pessoas e mobili- e expressão corporal. “O programa culo montado por membros de di-
zando 1 324 colaboradores. também tem um impacto na socie- versos cursos da Oficina. “Várias
O chamamento público para o dade, não só para um núcleo fecha- pessoas que entraram sem nenhuma
CultSP Pro será aberto nos próxi- do de artistas. Essas mulheres flo- experiência agora estão fazendo cur-
mos dias e a previsão de início das resceram no projeto e vinham de sos de artes cênicas em faculdades
atividades é em agosto, com oferta todas as classes sociais. Algumas como a Unicamp”, frisa ele.
inicial de 100 turmas e 20 diferentes não teriam condições de praticar is- A peça, seus bastidores e depoi-
cursos, um investimento previsto de so sem o programa”, ressalta. mentos dos envolvidos vão virar um
10 milhões de reais. Rafael Presto, O diretor Ruy Cortez, que con- documentário, com direção de Pa-
do Bom Retiro É o Mundo, coletivo tou com a sede do Bom Retiro para trícia Miranda e produção da Quie-
responsável por organizar o protes- as pesquisas e ensaios de seu pro- ta Coisa e da Cia Aberta de Teatro.
to no sábado (23), em frente à Ofi- jeto mais recente, As Três Irmãs e Um processo que não foi planejado,
cina Oswald de Andrade, tem res- a Semente da Romã, classifica o mas que ganha outro significado
salvas. “Antes do que está sendo espaço como “um santuário artís- com os últimos acontecimentos. “Se
proposto, é a forma como esse des- tico e cultural da cidade” e acredi- torna um grande ato pela importân-
ligamento acontece. É suspeito não ta que a decisão será revertida. “A cia da Oficina, que não pode acabar
haver nenhuma avaliação institucio- classe teatral, os sindicatos, todas neste último registro de uma inicia-
nal sobre o impacto das Oficinas ou essas instituições são muito fortes tiva do próprio espaço.” ß
Van Campos/diVulgação

Cena de A Morta, de
Oswald de Andrade:
encenada no espaço que
leva seu nome, peça vai
virar documentário

Veja São Paulo 29 de março, 2024 27


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Veja São Paulo 29 de março, 2024 29


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Benê Souza: carreira-solo no
Virado SP com pratos como
crudo de carne, linguado à belle
meunière (acima), beterraba
Talento revelado
se algo desaponta no Virado SP é o fato zidas por imigrantes, não sem dar pitacos em
tostada e salada de tomates de o restaurante, que ocupa parte do térreo do quase todas elas. entre os exemplos está a língua
Hotel san Raphael, no centro, ainda não ter no tonnato, variação do original italiano feito de vite-
cardápio o prato que lhe dá nome: o virado à lo, ao molho de maionese de atum com picles e
paulista, assim como o cuscuz paulista, bolo sal- alcaparra mais avelã e salsa (R$ 32,00). também
gado de farinhas de milho e mandioca com pes- vem da itália o crudo, miolo de alcatra picado em
cados como sardinha e camarão, preparação cubos com alcaparra, queijo tulha, limão-siciliano
sincrética que simboliza o melhor da culinária e azeite de manjericão com pastel de vento
paulista. titular dos fogões, benê souza promete (R$ 40,00), que me fez lembrar a carne de onça
resolver esse impasse quando começar a abrir a dos curitibanos. duas opções vegetarianas são
casa também para o almoço, a partir da segunda igualmente encantadoras: a aromática salada de
semana de abril. o chef de 26 anos é um talento tomates com ameixa, maracujá e mel de abelha
dos mais promissores e está em seu primeiro nativa uruçu boca de renda (R$ 29,00) e a equili-
trabalho-solo. Vale conhecer a carreira dele antes brada beterraba tostada com pistache caramela-
de criar o cardápio do hotel setentão que do, hortelã, jalapeño, alho-poró e um toque de
nasceu como lord, depois transformado iogurte produzido lá mesmo (R$ 36,00). Clássico
em san Raphael, e que em sua primeira francês que era imperativo três décadas atrás nos
fase recebeu estrelas para shows na co- endereços de menu internacional, o linguado (o
bertura como uma Hebe Camargo em come- peixe pode variar) à belle meunière está de volta
ço de carreira e Édith Piaf, talvez a maior cantora com batata confitada, cogumelo-de-paris e a oni-
francesa de todos os tempos, além de nomes da presente alcaparra (R$ 57,00). os arrozes variam.
música instrumental, entre eles o pianista ameri- Provei uma espécie de galinhada moderna com
cano Carmen Cavallaro. o cozinheiro, de sumaré, tulipinha de frango grelhada e generosas quanti-
no interior de são Paulo, estreou na capital na dades de coentro e pimenta-de-cheiro (R$ 62,00).
brigada do maní, no qual permaneceu por cinco Chamada de revirada (R$ 29,00), a refrescante
anos com Helena Rizzo. teve ainda uma breve sobremesa vem com doce de leite, mascarpone,
passagem pelo taraz com o consultor Felipe calda de frutas vermelhas e cobertura de massa
bronze e Carol albuquerque, hoje titular do Refú- filo. Largo do Arouche, 130 (Hotel San Raphael),
gio. Reunindo ensinamentos recebidos e a inspi- centro, ☎ 3334-6100 (80 lugares). 19h/23h (fecha
ração de fazer sugestões para partilhar com a dom.). ⑥(R$ 40,00) → @virado.sp. Aberto
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30 Veja São Paulo 29 de março, 2024


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Rota fervilhante

FOTOS LIGIA SKOWRONSKI


Endereços badalados para comer e beber Ping Yang: estreia do ano
(ou fazer uma pausa) durante a maratona da SP-Arte pelo COMER & BEBER

ALMOÇO OU JANTAR
> CUIA RESTAURANTE E BAR
No térreo do Edifício Copan, o
endereço da chef Bel Coelho di-
vide o espaço com a livraria Me-
gafauna. O cardápio de culinária
nacional sugere o peixe do dia
ao molho de tucupi com salada
de feijão-manteiguinha e farinha-
-d’água (R$ 93,00). Avenida Ipi-
ranga, 200, loja 48 (Edifício Co-

RICARDO DANGELO
pan), centro, ☎ e 95981- Cuia: salão junto Matiz: agito em
8555. @cuia_cafe. $$ de livraria edifício no Centro

> PING YANG THAI Álvares Cabral, 1301, 8º andar


BAR & FOOD (MAC-USP), Ibirapuera, ☎ e
A culinária da Tailândia dá o tom 2658-3188. → vistasaopaulo.com.
ao menu da pequena casa, a es- br. $$$
treia do ano pelo COMER & BE-
BER 2023. Tem cozinha sob a li- PARA BRINDAR
derança de Maurício Santi, que > BAR DOS ARCOS
prepara opções como gaeng Com costumeiras filas, o bar está
kiaw wan hed (R$ 86,00), curry instalado nas fundações do Thea-
verde que banha os cogumelos tro Municipal, com seus arcos, pa- Bar dos Arcos:
CLAYTON VIEIRA

eryngui, portobello e shiitake. É redes de tijolo e balcões ilumina- homenagem a


Lygia Clark
recomendável fazer reserva. Rua dos. A carta de drinques recém-
Doutor Melo Alves, 767, Jardim -renovada homenageia a artista
Paulista, ☎ 3086-3785. → Lygia Clark. São opções como invariavelmente enfrenta algu- puera, o lugar levou o prêmio de
@pingyangsp. $$ geometria sagrada (gim, redução ma espera para entrar. DJs to- melhor doceria pelo guia VEJA
de jabuticaba, xarope de açúcar, cam diferentes matizes de ele- SÃO PAULO COMER & BEBER
> VISTA suco de limão e aquafaba), que trônica, jazz, soul e brasilida- 2023. A confeiteira Aya Tamaki faz
A unidade pioneira fica na cober- custa R$ 37,00. Praça Ramos de des. Para beber, há drinques ótimos doces com a ausência de
tura do MAC-USP e tem vista para Azevedo, s/nº, centro, ① Anhan- como o matita perê (uísque glúten e com alguma influência
diferentes pontos da cidade. De gabaú, ☎ 98456-8732. → escocês, gengibre, tucupi preto japonesa. A charlotte de frutas
prato principal, uma sugestão é a @bardosarcos. $ e coentro; R$ 42,00). Rua Mar- (R$ 27,50) é uma delas. Recebe
picanha de cordeiro grelhada, que tins Fontes, 91, 11º andar (Edifí- creme bavaroise da fruta cítrica
vem cortada em medalhões com > MATIZ cio Carlos Rusca), centro, ① yuzu, cobertura de frutas verme-
purê de castanha-de-caju, ervas, Em um prédio antigo no centro, República, 91570-0444. → lhas e biscoitos que lembram o
vagem-holandesa e picles de ce- o lugar tem terraço ao ar livre e @matizbarsp. champanhe no entorno. Rua
bola (R$ 125,00). Pertence aos um salão de boa acústica que Cubatão, 305, Paraíso, ☎3887-
mesmos donos do Selvagem, um acaba virando uma pistinha PAUSA NO MEIO DA TARDE 7966. @amay.doces. $
dos bons espaços para comer no animada. O bar recebe um pú- > AMAY
Parque Ibirapuera. Avenida Pedro blico entre 25 e 40 anos que Não muito longe do Parque Ibira- (Com Saulo Yassuda)

Veja São Paulo 29 de março, 2024 31


INÊS 249
RESTAURANTES

BAIANEIRA BAR
Aos poucos, a chef Manuelle Ferraz,
que fez fama com o premiado brasilei-
ro A Baianeira Masp, vai ocupando
mais pontos da Barra Funda, onde o
estabelecimento nasceu. Durante as
obras do restaurante Corina, colado ao
hoje chamado Baianeirinha, a cozinhei-
ra descobriu um antigo prédio de es-
ELVIS FERNANDES/DIVULGAÇÃO

quina onde inaugura na sexta (5) o

PAULO ZAFFALÃO/DIVULGAÇÃO
Balcão do Azur: Boteco da Manu. “Foi o imóvel que
pescados escolhidos me chamou, aquele de toda esquina Manuelle
na peixaria
do interior, das esquinas das cidades, Ferraz: boteco
das beiras de estradas... De repente, é na Barra Funda
PEIXES NO MERCADO hora de abrir as portas”, conta ela e
emenda: “É um lugar simples, sem pre- (mistura de cachaça, rapadura, gengi-
Não ficou vago por muito tempo o ponto do tensão, a convidar gente de todo can- bre, vinagre de maçã, abacaxi, capim-
extinto Comedoria Gonzales, que operou no to, um ponto de encontro para comer -santo e canela) e as deliciosas coxi-
Mercado Municipal de Pinheiros por nove petiscos e tomar uma cerveja”. Não nhas. A conferir. Rua do Lavradio, 235,
anos. No dia 25, foi aberto ali o Azur do Mar, devem faltar por lá o goró de mainha Barra Funda. @abaianeira.
uma casa de pescados que tem como sócia a
empresária Ana Paula Sater e cozinha de Fabio
Sinbo (ex-Vila Anália) e Mariane Adania (Man-
duque). “Como trabalhamos com a peixaria Pedidas turcas em outro endereço
Nossa Senhora de Fátima (no box vizinho ao
restaurante), pensamos em maximizar o sabor Pela terceira vez, o Kebab Salonu, restau-
e a qualidade dos pescados, utilizando somen- rante expresso de culinária turca tocado pelo
te sal e brasa”, explica Sinbo. “Os clientes terão chef e professor de gastronomia da Universi-
a oportunidade de escolher na vitrine, para dade Mackenzie Rodrigo Libbos, vai mudar
prepararmos na hora”. Uma das receitas é um de endereço. O atual ponto, num pequeno
prato da família de um dos sócios, Alexandre mall da Rua Heitor Penteado, funciona só até
dos Santos, um dos donos da peixaria. É o pei- este domingo (31). A partir de sexta (5), a ca-
xe recheado de farofa de camarão com limão sa, que originalmente funcionou na Rua Au-
grelhado (R$ 180,00, para até três pessoas). gusta, vai ocupar o imóvel centenário em
Entre as opções do menu, está um choripolvo Perdizes que pertenceu ao extinto e saudoso
(R$ 56,00, duas unidades), sanduíche que é Casa Cury, onde serão servidas receitas co-
BÁRBARA OLIVEIRA/DIVULGAÇÃO

uma versão do choripan com um tentáculo mo o quibe de tomate com pepino, folhas,
grelhado do molusco no lugar da linguiça com ervas, melaço de romã, castanhas e nozes
chimichurri e aïoli. A conferir. Rua Pedro Cristi, Projeção da fachada:
junto de almôndegas, frango ou faláfel mais
89 (Mercado Municipal de Pinheiros), box 85, no antigo Casa Cury pão. A conferir. Rua Apinajés, 597, Perdizes,
☎ 9889-2667. → @azur.do.mar. ☎ 2373-9258. ② kebabsalonu.com.br.

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32 Veja São Paulo 29 de março, 2024
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VINHOS
Marcelo Copello

Brunello di Montalcino
com força total
Entre as muitas listas e rankings de vinhos, talvez a de maior im- 1978. A partir do trabalho da Banfi nos EUA, de marketing, de
pacto no mercado seja o top 100 da revista americana Wine Spec- qualidade e de estilo (adaptado ao gosto americano), esses tin-
tator. O vinho que ocupa o lugar mais alto desse pódio é chama- tos ganharam o mundo.
do de Wine of the Year e costuma ter seu preço e vendas cata- Hoje, o nome Brunello di Montalcino é um dos mais impor-
pultados por ele. Em sua edição mais recente, divulgada no fim tantes entre os vinhos italianos e com um estilo definido — com
de 2023, a posição foi ocupada pelo Brunello di Montalcino 2018 boa estrutura de taninos e acidez, encorpado e complexo. Por
da vinícola Argiano (R$ 1 030,00 pelo 3623-2280), que per- lei, chegam ao mercado não antes de quatro anos após a safra
tence ao carioca André Esteves, sócio do banco de investimentos (hoje no mercado os mais jovens são os 2020) e mesmo os sim-
BTG Pactual. Tenho acompanhado a Argiano, representada no ples alcançam seus dez anos de guarda. Alguns dos melhores
Brasil pela importadora Inovini, e, desde que foi comprada por exemplares, de mais raça e das safras superiores, podem viver
Esteves, em 2013, a ascensão na qualidade tem sido notável. bem por trinta anos, em alguns casos até mais.
Os Brunello di Montalcino são um fenômeno relativamente Este tipo de vinho precisa ser colocado em um decanter ao
recente. Regulamentados como DOC em 1966, esses rótulos vi- menos uma hora antes de ser servido, para que o líquido respire
riam finalmente a ser elevados à categoria de DOCG em 1980 e os aromas se mostrem. Pelo mesmo motivo, taças de tamanho
(denominação de origem controlada e garantida). As vendas da grande são bem-vindas. Para acompanhá-los, o indicado são as
região, então, decolaram nos anos 80, e foi graças ao mercado carnes vermelhas com molhos intensos. Cogumelos e trufas são
americano. A fama destes tintos na América do Norte foi capita- boas escolhas, assim como caças como javali. Uma harmoniza-
neada pela vinícola Banfi, uma das maiores da região e que foi ção clássica seria um Brunello di Montalcino com o prato mais
adquirida por John e Harry Mariani, dois irmãos americanos, em emblemático da Toscana, a bistecca alla fiorentina.

San Crispino Brunello di Montalcino 2018


Do produtor Castellani, que elabora vinhos por toda a Itália. Fei-
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carvalho. Rubi-granada entre claro e escuro. Aroma de médio
ataque, com frutas vermelhas maduras, alcatrão, couro, balsâ-
mico, notas terrosas. Paladar de médio corpo, 14% de álcool. Um
Brunello para o dia a dia. R$ 299,90 na Evino. S DIV
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claro e escuro. Aroma complexo, elegante e intenso, com frutas
maduras, couro, tabaco, anis, balsâmicos, defumados, alcaçuz.
Paladar encorpado e elegante, taninos estruturados e finos, óti-
ma acidez. 14,5% de álcool. Um grande Brunello, com estrutura
e finesse, para guarda. Bom para a bisteca. R$ 499,90 na Evino.

34 Veja São Paulo 29 de março, 2024


INÊS 249
BARES
Saulo Yassuda

3 perguntas para

FOTOS LIGIA SKOWRONSKI


Joaquim Lopes O espaço verde em frente
ao La Tambouille: duas
Formado em gastronomia, o ator e versões de negroni
apresentador toca, no Ipiranga, seu
primeiro empreendimento gastro-
nômico, o bar-restaurante Oripi,
que tinha a previsão de ser aberto
ao público no último dia 27.
Burburinho
O que é um “boteco de chef”,
como vocês se
no deque
autodenominam? Temos Foram necessárias cerca de duas dé- negroni swizzle (R$ 49,00), com gim, vermute
pratos como o bolovo, só que a cadas para que a família Bolla conseguisse a tinto, Campari, xarope de cereja, bitter de la-
gente faz um bolovinho, com ovo autorização da prefeitura para usar comer- ranja, limão-taiti e muito gelo. O cardápio é
de codorna e maionese de (molho cialmente a pracinha de frente ao restaurante exclusivo do deque, ainda que os itens mas-
picante) sriracha e apresentação do clã, o tradicionalíssimo La Tambouille. A tigáveis sejam preparados na cozinha do res-
diferenciada. É pegar essa comida espera valeu a pena. Contíguo ao estaciona- taurante. O crocante de gamberi ao molho
de boteco e elevar o prato em si, mento, o espaço foi transformado em feverei- tártaro (R$ 125,00, quatro unidades) é um
ser mais gourmet. ro em Bar Bolla, um agradável deque com apetitoso canapezinho de base de “pururuca”
sofás, poltronas, mesas e ombrelones. Duas de tapioca com camarão. Se você esperar um
O público vai te ver no falsas-seringueiras e muitas plantas comple- disco de carne moída ao pedir o minihambur-
estabelecimento? Não tenho tam o visual do lugar, um sucesso nas noites guer de cordeiro (R$ 115,00, quatro), infeliz-
como estar aqui todos os dias, até e tardes secas. Sim, a área, ainda sem cober- mente, estará enganado. Receberá, no lugar,
por conta de agenda. Mas, quando tura, não opera quando chove. Caso contrá- um minibrioche com ragu da carne, pesto de
puder, estarei no restaurante. Esse rio, deixaria encharcados os casais e grupos hortelã, folhas da erva e mostarda em grão.
mês estou direto, treinando a acima dos 40 anos (e alguns mais jovens Recado amigo: não vá com o apetite nas altu-
equipe da cozinha. também) que frequentam a casa. Enfeitados ras, já que as porções são delicadamente
para a visita, fumam charuto e/ou bebericam comedidas, e os preços, sem medo de serem
É mais difícil decorar um long necks (a partir de R$ 24,00) e coquetéis imponentes. Avenida Nove de Julho, 5913,
texto longo, apresentar clássicos. Pode ser o dry martini (R$ 69,00), Itaim Bibi, ☎ 3079-6277, 93365-4968 (78
um programa ou criar um infelizmente um pouco acima da temperatu- lugares). 17h/23h (sex. e sáb. a partir das 12h;
cardápio? São situações ra ideal na visita, e o negroni (R$ 69,00), que dom. 12h/17h; fecha seg.). → @bar-
diferentes. Se na apresentação ou também surge em versão mais refrescante, o bollaoficial. Aberto em 2024.
atuação você está meio que
emprestando sua experiência de
vida para contar outra história, na
cozinha, quanto mais você for fiel a TRANSIÇÃO GRADUAL
você mesmo, melhor o resultado. O Barouche, depois de um hiato, ressurgiu como uma unidade
de rua em agosto passado. Além do novo bairro, a Vila Madale-
Oripi. Rua Cipriano Barata, 2640, na, o endereço uniu as vocações de livraria e café à de bar. Uma
Ipiranga. @oripiboteco. segunda fase de mudanças começa a rolar por ali. Antes mais
básico, o capítulo de comes passou por uma consultoria do chef
GUILHERME BERTOLDO/DIVULGAÇÃO

Rodrigo Felicio, do extinto Capivara. A partir das 18h, podem ser


FABIANA KOCUBEY/DIVULGAÇÃO

provados petisquetes como a rillette de carapau com guanciale


(bochecha suína) e erva-doce com pão (foto; R$ 48,00). Para o
próximo mês, está prometida uma nova carta de drinques, das
mãos de Danilo Nakamura. A conferir. Rua Medeiros de Albu-
querque, 401, Vila Madalena. → @barouche.sp.

Veja São Paulo 29 de março, 2024 35


INÊS 249
COMIDINHAS
Beatriz Imagure

Tempo de colombas
Nesta época do ano, padarias e empórios
produzem a pedida aparentada do Versão tradicional com
laranja-baía: da Oli Pães &
panetone. Confira sete endereços Pizzas Artesanais
com opções para a sua Páscoa TALES HIDEQUI/DIVULGAÇÃO

> CASA SANTA LUZIA A con- Jardim Paulista, ☎ 3896-4300. tache (R$ 120,00, 550 gramas)
feitaria do supermercado pre- →② fasano.com.br. coberta por camada de choco-
para cinco versões de colom- late branco e o fruto seco em
bas. Um dos sabores é limão e > IZA PADARIA ARTESANAL pedaços. Rua Ministro Jesuíno
l ev a a f r u t a c o n f i t a d a A padaria vencedora de VEJA Cardoso, 104, Itaim Bibi, ☎
(R$ 172,00, 650 gramas), de- SÃO PAULO COMER & BEBER 93933-3906. →② @
senvolvido em parceria com o 2023 prepara a pedida reche- olipizza.sp.
padeiro-consultor italiano Ra- ada de laranja cristalizada ar-
ffaele Mostaccioli. Outra op- tesanalmente e uva-passa > ZESTZING PADARIA ARTE-
ção, autoral da casa, é a co- branca marinada em mel de SANAL Claudia Rezende pre-
lomba clássica com laranja abelha nativa jataí. É finalizada para na padaria campeã por
confitada (R$ 189,00, 750 gra- com uma casquinha de amên- COMER & BEBER 2021 e 2022 a
mas). Alameda Lorena, 1471, doas laminadas e vem com colomba de fermentação na-
Jardim Paulista, ☎ 3897-5000. u m b o r r i f a d o r d e m e l tural com recheio de laranja
LUCAS TERRIBILI/DIVULGAÇÃO → ② santaluzia.com.br. (R$ 135,00, 500 gramas). Rua confitada e cobertura de
De laranja confit com Wisard, 602, Vila Madalena, amêndoa e avelã (R$ 125,00,
chocolate (acima) e de doce de > DELI GARAGE A novidade ☎ 3819-1757. → ② izapa- 550 gramas). Alameda Tietê,
caju com cobertura de no cardápio da padaria fecha- dariaartesanal.com.br. 496, Jardim Paulista, ☎ e
castanha da fruta: da Le Jazz da da chef e sócia Fernanda 94340-9515. → ② @zest-
Boulangerie e da Deli Garage Valdívia é a colomba com doce > LE JAZZ BOULANGERIE De- zing_ padaria_artesanal.
de caju confitado, calda de ca- senvolvida pelo chef Chico Fer-
ju e castanha-de-caju carame- reira e equipe, a colomba da Sugestão da Zestzing
lada (R$ 120,00, 550 gramas). padaria com inspiração pari- Padaria Artesanal: recheio
Ganha ainda raspas de limão e siense leva no recheio uma de laranja e cobertura de
laranja. Rua Medeiros de Albu- combinação de laranja confit, amêndoa e avelã
querque, 325, Vila Madalena, chocolate e amêndoa
☎ 98288-7792. → ② (R$ 98,00, 750 gramas). Rua
@deli_garage. Joaquim Antunes, 501, Pinhei-
ros, 99814-4483. →②
> EMPORIO FASANO Com du- @lejazzboulangerie.
as receitas do chef Luca Gozza-
ni, a confeitaria do Grupo Fasa- > OLI PÃES & PIZZAS ARTE-
no serve a colomba tradicional SANAIS A chef Olivia Maita
com recheio de uva-passa e prepara quatro versões de co-
outra opção recheada de gotas lombas como a tradicional (R$
de chocolate belga. Ambas sa- 93,00, 550 gramas) finalizada
em por R$ 99,00 com 500 gra- com calda de farinha de amên-
FABIANA KOCUBEY/DIVULGAÇÃO
mas. Rua Bela Cintra, 2245, doa e laranja-baía ou a de pis- MICHELE MINERBO/DIVULGAÇÃO

36 Veja São Paulo 29 de março, 2024


FOTOS LIGIA SKOWRONSKI
INÊS 249

Coda di aragosta (à esq.) e


a torta belíssima: misto
de padaria, doceria e
sorveteria na Vila Mariana

Sotaque italiano
Padaria, confeitaria ou sorveteria? O a torta belíssima (R$ 22,90 a fatia), pão de ló produzidos à moda italiana (a partir de R$
Tre Bimbi é um misto desses três tipos de entremeado de creme e massa de carolina 16,50, um sabor), orgulhos da dona, em sabo-
estabelecimento, e com um particular sota- com chantili, que ficaria ainda melhor se a res como pistache e doce de abóbora, sazo-
que italiano, instalado não muito longe do camada de fios de caramelo por cima estives- nal. Da seleção de padaria, o torcidinho folha-
Parque Ibirapuera, sede da mostra SP–Arte. A se mais sequinha. Esta última sobremesa do de parmesão (R$ 7,00) e um prosaico pão
maioria do público se esparrama pelos sofás lembra a torta regina, sucesso da tradicional francês na chapa com manteiga (R$ 7,50)
da varanda, com paredes revestidas de pe- confeitaria Di Cunto, onde a proprietária do costumam agradar à clientela. Para o fim do
dra, depois de bisbilhotar as vitrines apinha- Tre Bimbi, a engenheira de alimentos Fernan- mês de abril, está prometida a abertura de
das. A depender do dia e da hora, pode estar da Jimenez, trabalhou com controle de quali- uma filial no Shopping Anália Franco. Rua
presente a coda di aragosta (ou cauda de la- dade por três anos. Ainda na linha de bolos, Tumiaru, 66, Vila Mariana, ☎ 3051-2221 (30
gosta; R$ 30,90), massa choux recheada de a versão de brigadeiro (R$ 14,90, 100 gramas) lugares). 11h/19h (sáb. e dom. a partir das 10h;
creme de confeiteiro misturado a chantili e agrada por não ser doce demais. Carregam fecha seg.). → ② @tre.bimbi. Aberto em
enrolada em massa folhada mais crocante, e esse mesmo atributo os sorvetes cremosos 2022. (Saulo Yassuda)
FELIPE CARDOSO/DIVULGAÇÃO
P2W/DIVULGAÇÃO

Do outro lado da cidade Bombons no quiosque


Desde o fim de 2023 sem casa, após ficar quase quatro A entrada principal do Shopping Iguatemi ganhou uma novidade
anos no Tatuapé, a Hanami Confeitaria se mudou no multicolorida. É o quiosque da Mica Chocolates, que, apesar de
começo de março para o outro lado da cidade: Pinhei- branco, expõe bombons pintados a mão em diferentes cores. A
ros. Em um ambiente maior (foto), Cesar Yukio incluiu fundadora Mica Kallas (foto) serve toda a linha da marca disponível
novidades como o purin de baunilha (parecido com um também na matriz, em Pinheiros, como a versáo de maracujá com
pudim) com calda de frutas vermelhas e em formato de coco (R$ 7,00). A barra meio amarga com pipoca caramelada na
gatinho (R$ 30,00). A conferir. Rua Mourato Coelho, manteiga sai a R$ 37,00. A conferir. Shopping Iguatemi, ☎ 94744-
505, Pinheiros, ☎ 2675-9300, 93082-2782. ② ha- 5968. → ② micachocolates.com.br.
namiconfeitaria.com.br.

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FILMES E SÉRIES
Mattheus Goto

FOTOS IMAGEM FILMES/DIVULGAÇÃO


Theo (Eamon Patrick
O’Connell) com Celine
(Anne Hathaway):
maternidade em crise

Amor de mãe
Anne Hathaway e Jessica Esse tempo de maturação da
Nem tão perfeitas Chastain estão de volta às telo- história, desde o lançamento da
assim: Jessica
Chastain e Hathaway nas com o suspense Instinto obra original até o remake holly-
num retrato de Materno. Elas dão vida a Celine woodiano, fica perceptível, com
famílias dos anos 60 e Alice, respectivamente, vizi- algumas cenas truncadas. As
nhas cuja amizade é colocada à atrizes principais dão o seu me-
prova quando o filho de uma lhor para tentar fazer o roteiro
delas sofre um acidente fatal. fluir e se entregam à violência e
Esse acontecimento desequili- à loucura das personagens. A
bra o convívio das famílias, que trama alcança proporções ines-
acreditavam ter vidas perfeitas, peradas, de uma forma tão ex-
em um retrato tipicamente nor- tremas que cria situações invo-
te-americano dos anos 60. Uma luntariamente cômicas. O final
sequência de conflitos envol- chega até a ser irônico de tanta
vendo ego, morte e maternida- coincidência. Tudo isso é, justa-
de mostra que se tratava de um mente, a definição da filósofa
castelo de cartas. O filme, inspi- americana Susan Sontag (1933-
rado em livro homônimo da es- 2004) para a palavra “camp”,
critora belga Barbara Abel, lan- estilo exagerado e irônico, que
çado em 2002, marca a estreia ela definiu como “uma serieda-
na direção do francês Benoît de que falha”. Anne Hathaway é
Delhomme, conhecido por seu a que mais se destaca por trazer
trabalho como diretor de foto- essa conotação ao longa. A dire-
grafia em A Teoria de Tudo e Os ção e a trilha sonora poderiam
Infratores. A obra original foi ter bebido um pouco mais des-
adaptada pela primeira vez para sa água, sem se levar tão a sério,
o cinema pelo diretor belga Oli- para tornar a experiência do es-
vier Masset-DePasse, em 2018. pectador mais divertida.

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FOTOS PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO


Uma personagem, poucos cenários:
Maria Fernanda Cândido como G.H.

DELEITE POÉTICO
Um clássico da literatura transfor- vida ao se deparar com uma barata morta.
mado em filme. Com estreia marcada para O longa convida o espectador a mergulhar
11 de abril, A Paixão Segundo G.H. é pura nos escritos de Clarice, com um roteiro que
poesia. A obra de Clarice Lispector ganhou faz jus à obra, um design de som imersivo
sua versão audiovisual pelas mãos do dire- e uma atriz principal estupenda, que envol-
tor Luiz Fernando Carvalho, que já havia ve com o olhar penetrante e a linguagem
realizado o mesmo feito, com Lavoura Ar- não verbal. O resultado pode não agradar
caica (2001). A protagonista é por Maria o grande público, afinal se trata de um flu-
Fernanda Cândido. A personagem, uma xo de consciência, mas há de atrair os
mulher branca e privilegiada, passa por amantes do livro, graças ao evidente pre-
uma epifania e se dá conta da grandeza da ciosismo da equipe.

Adam (Andrew
Scott) e Harry
(Paul Mescal): par
romântico
DIVULGAÇÃO

Delicado e profundo
Esnobado pelo Oscar deste a florescer. À medida que os dois se
ano, Todos Nós Desconhecidos toca aproximam, Adam vê a necessidade de
em questões profundas com delicade- revisitar o trauma da infância como
za. No filme em cartaz nos cinemas, adulto, graças a uma habilidade meta-
Adam (Andrew Scott) é um roteirista física. Além dos ótimos desempenhos,
que sofre com fantasmas do passado, merece atenção o roteiro cuidadoso e
desde um roteiro abandonado até a perspicaz de Andrew Haigh, que tam-
morte de seus pais em um acidente de bém assina a direção do longa, adapta-
carro. Ele conhece Harry (Paul Mescal, do do livro Strangers (1987), do escri-
indicado ao Oscar de melhor ator pela tor japonês Taichi Yamada. Há toques
atuação em Aftersun), seu vizinho mis- pessoais do cineasta, como o uso da
terioso, e um relacionamento começa casa real de sua infância para as cenas.
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FILMES E SÉRIES

MÁRCIA LANCELLOTTI/DIVULGAÇÃO
Programação do festival: em sentido horário, cenas
de documentário sobre Fernanda Young, Luiz
Melodia, filme Improvável encontro (retrato sobre
Farkas) e Women make film (dirigido por Cousins)

FOTOS DIVULGAÇÃO
Só documentários
Maior evento do país dedicado ao fazer do- sado no Festival Telluride, no Colorado sicos. Um ponto alto é Fernanda Young —
cumental, o festival É Tudo Verdade retorna (EUA). Para celebrar o legado de Farkas, se- Foge-me ao Controle, ensaio poético sobre a
na quinta-feira (4) para sua 29ª edição. Neste rão exibidos seus quatro documentários e vida da escritora, apresentadora e roteirista,
ano, a programação apresenta 77 longas, dois retratos dirigidos por Walter Lima Jr. e dirigido por Susanna Lira. Os filmes vencedo-
médias e curtas-metragens em cinco salas Lauro Escorel. Quem também ganha desta- res dos prêmios dos júris nas Competições
da capital paulista (Espaço Itaú de Cinema - que na programação é o protagonismo femi- Brasileiras e Internacionais de Longas/Mé-
Augusta, Cinemateca Brasileira, Sesc 24 de nino na frente e atrás das câmeras. Em São dias e de Curtas Metragens estarão automa-
Maio, Instituto Moreira Salles e Centro Cultu- Paulo, a sessão de abertura terá O Competi- ticamente classificados para apreciação à
ral São Paulo) e simultaneamente no Rio de dor, dirigido pela britânica Clair Titley, exibi- disputa pelo Oscar do ano que vem. A pro-
Janeiro, até 14 de abril, com entrada gratuita. do no Festival de Toronto. Conta-se a história gramação inclui ainda uma série de ativida-
A seleção homenageia Mark Cousins, cineas- de Tomoaki Hamatsu, comediante japonês des de formação, como a 21ª Conferência
ta britânico que vem pela primeira vez ao que passou quinze meses preso num peque- Internacional do Documentário, em parceria
Brasil, para o evento, e Thomaz Farkas (1924- no apartamento, nu, com estoque limitado com a Cinemateca Brasileira, e o ciclo de pa-
2011), um dos pioneiros da fotografia moder- de comida e sem poder se comunicar com o lestras “Da Ideia à Tela”, em parceria com a
na brasileira, no ano do centenário de seu mundo externo nem saber que estava em Secretaria de Estado da Cultura e da Econo-
nascimento. A retrospectiva Cousins destaca um reality show. Como de praxe, haverá mia Criativa do Estado de São Paulo e do
oito obras, incluindo a mais recente, Cinema também mostras competitivas (nacional e Desenvolve SP. O encerramento fica por con-
Tem Sido Meu Verdadeiro Amor: O Trabalho internacional, de diferentes metragens), não- ta de Luiz Melodia — No Coração do Brasil,
e A Vida de Lynda Myles, lançada no ano pas- -competitivas, programas especiais e de clás- de Alessandra Dorgan.

40 Veja São Paulo 29 de março, 2024


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CRIANÇAS
Beatriz Imagure

Wendy, Peter Pan e Sininho:


um novo enredo

ERIK ALMEIDA/DIVULGAÇÃO
Nostalgia
atual
A clássica história de Peter Pan ganha nova versão em Peter
Pan — Crescer é Preciso, dirigida por Luccas Papp, com estreia
em 6 de abril, um sábado. No enredo, os personagens estão
mais velhos, como Wendy que acaba de entrar na faculdade.
Mas a turma sofre uma resistência em crescer e se tornar adul-
ta, principalmente Peter. Em paralelo aos dilemas emocionais,
eles se deparam com a urgência de preservar a Terra do Nunca
e, consequentemente, cuidar do futuro, em uma referência ao
mundo real. A adaptação da peça traz a nostalgia do conto ori-
RONNIE STEIN/DIVULGAÇÃO

ginal de Peter Pan misturado com uma linguagem mais atual,


através de músicas inéditas, como Magia no Ar (75 min). Livre. Marcos Casuo:
Teatro das Artes. Shopping Eldorado, ☎ 3034-0075. → Sáb. e interprete de Clown
dom., 15h. A partir de R$ 40,00. Até 26/5. @peterpan.crescer.

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STRANGER THINGS EXPERIENCE/DIVULGAÇÃO
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Pizzas da Surfer Boy:


atração da experiência
SERIADO OU VIDA REAL?
A Stranger Things: The Experien- -tape, a ideia é aproveitar comes e
ce, exposição interativa da série bebes que aparecem no seriado
Stranger Things, da Netflix, chega a como o sundae da Scoops Ahoy e
São Paulo na sexta, 12 de abril, no fatias de pizza da Surfer Boy Pizza. 4.
estacionamento do Shopping Eldo- O Palace Arcade, fliperama de Ha-
rado. Conheça cinco atrações que wkins, está na mostra para os visi-
os fãs poderão encontrar na mos- tantes jogarem e tentarem bater o
tra: 1. A experiência começa pelo si- recorde da série. 5. O assustador
nistro Laboratório Nacional de Ha- Vecna, personagem que representa
wkins, onde os visitantes serão co- o vilão-monstro também é uma das
baias de uma experiência. 2. O atrações que ficará cara a cara com
ANDRÉA PAGNOTA/DIVULGAÇÃO

mundo invertido é a segunda para- quem passar por lá. Rec. a partir de
da desta viagem, onde o público 5 anos. Shopping Eldorado → Ter. a
poderá conhecer e interagir com dom., 10h /22h. A partir de R$ 42,50.
alguns personagens. 3. Na sala mix- @strangerthings.experience.

MOSTRA EDUCATIVA
Os insetos, considerados o grupo de seres vivos
A volta do palhaço mais numeroso e diverso do planeta, ganharam
uma mostra no Shopping Pátio Paulista que fica
Apresentada pela primeira vez em 2011, a peça Grand Spectacle em cartaz até 30 de abril. Parte da exposição
Du Cirque, do grupo circense Universo Casuo, ganha duas novas Planeta Inseto do Museu do Instituto Biológi-
apresentações no sábado (30) e no domingo (31). A companhia co foi cedida ao shopping e conta com insetos
é liderada por Marcos Casuo, que já protagonizou o espetáculo vivos como bicho-pau, bicho-da-seda (foto),
Alegria, do Cirque Du Soleil, e também interpreta o personagem formigueiro, além de caixas entomológicas que
principal desta peça, o palhaço Clown. No enredo, Clown vive em contemplam o estudo desses seres vivos. A
um universo paralelo, cheio de magia e onde tudo é possível. Até mostra conta com ambientes que apresentam
o dia em que percebe que a Terra, lugar que antigamente esban- e explicam os bichos e sua importância para o
java cores, está desbotada. Ele decide então atravessar um portal meio ambiente. Os visitantes também podem
para o planeta e levar sonhos e fantasias para tornar tudo colori- ser guiados por monitores e obter informações
do outra vez (90 min). Livre. Rua Josef Kryss, 318, Parque Indus- por meio de itens com interação pelo celular.
trial Tomas Edson (Teatro J. Safra), ☎ 3611-3042. → 30 e 31/3, 20h Livre. Shopping Pátio Paulista, ☎ 5990-2441. →
e 17h. A partir de R$ 50,00. universocasuo.com.br. Ter. a sáb. 12h/21h; dom. e feriados 14h/20h. Grá-
tis. Até 30/4. shoppingpatiopaulista.com.br.

Veja São Paulo 29 de março, 2024 43


INÊS 249
TEATRO
Laura Pereira Lima

Cai a chuva
O musical Cantando na Chuva, que estreia na
quinta (4), leva mais que a tradicional a garoa
paulistana para o interior do Teatro Sérgio Car-
doso. O diretor da Broadway John Stefaniuk,
que cuida dessa nova adaptação teatral do fil-
me de 1952, encara o desafio técnico de fazer
chover em cena durante a performance da mú-
sica Singin’ in the Rain. O enredo se passa em
Hollywood no final da década de 1920 e acom-
panha as estrelas do cinema mudo Don Lo-
ckwood (Rodrigo Garcia) e Lina Lamont (Fefe
Muniz), que vivenciam a transição para o cine-
ma falado. A nova tecnologia impõe alguns de-
safios, em particular a Lina, que, por causa da
voz estridente, passa a ser dublada por uma
corista (Gigi Debei), por quem Don se apaixona.
O elenco principal conta ainda com Mateus Ri-
beiro. Com doses de comédia e romance, o es-
petáculo repleto de dança e sapateado tem
produção do Instituto Artium de Cultura e do
Atelier de Cultura (140min). Livre. Teatro Sérgio
Cardoso. Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista, ☎

JOÃO CALDAS/DIVULGAÇÃO
Fefe, Rodrigo,
3882-8080. → Qua. a sex., 20h. Sáb. e dom., 15h Gigi e Mateus no
e 19h30. R$ 39,60 a R$ 400,00. Até 16/6. teatro- elenco: adaptação
sergiocardoso.org.br. de um clássico

Os personagens
Nise e Graciliano: ENCONTRO NA PRISÃO
alagoanos no Entre 1936 e 1937, o escritor Graciliano Ramos e a psi-
cárcere quiatra Nise da Silveira estiveram encarcerados ao
mesmo tempo no Complexo Presidiário Frei Caneca,
no Rio de Janeiro. Ambos alagoanos, os dois iniciaram
uma amizade, que foi narrada posteriormente no livro
Memórias do Cárcere, de Graciliano. A peça Chego até
a Janela e Não Vejo o Mundo, que estreou na quinta
(28) no Itaú Cultural, ficcionaliza o encontro enquanto
narra o horror da perseguição política e a cumplicidade
na dor. Protagonizado por Simone Iliescu e Erom Cor-
deiro, o espetáculo gratuito tem direção e dramaturgia
GIORGIO D’ONOFRIO/DIVULGAÇÃO

da dupla Gabriela Mellão e João Wady Cury, que foi um


dos primeiros jornalistas a assinar o Terraço Paulistano,
de VEJA SÃO PAULO (70min). 16 anos. Itaú Cultural.
Avenida Paulista, 149, ☎ 2168-1777. → Qui. a sáb., 20h.
Dom., 19h. Grátis. Até 14/4. itaucultural.org.br.

44 Veja São Paulo 29 de março, 2024


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HISTORIAS À BEIRA-MAR
Livremente inspirado no romance O Filho de Mil Homens, de
Valter Hugo Mãe, Coisas Estranhas que o Mar Traz acom-
panha os encontros, sonhos e trajetória de uma população
que vive em uma cidade à beira-mar. O espetáculo do Grupo
Folias conta pequenas histórias que ilustram o cotidiano dos
solitários cidadãos em clima de fábula, com o uso de másca-
ras, bonecos e sombras. A dramaturgia e direção são de
Cleber Laguna e Marcia Fernandes (60min). 12 anos. Galpão
do Folias. Rua Ana Cintra, 213, Campos Elíseos, ☎ 3361-2223.

RONALDO GUTIERREZ/DIVULGAÇÃO
→ Sex. e sáb., 20h. Dom. e seg., 19h. R$ 40,00. Até 13/5. galpa-
odofolias.com. O ator Jorge de
Paula: procura
pelas raízes
Sombras e
bonecos:
animação BUSCA DAS ORIGENS
O Ninho, um Recado da Raiz, nista, propõe uma reflexão sobre
em cartaz no Sesc Bom Retiro, a cultura do esquecimento que
narra a jornada de um jovem (in- permeia a história do Brasil. O
terpretado por Jorge de Paula) elenco traz ainda Paulo de Pontes,
que busca conhecer suas origens Tay Lopez, Kátia Daher, Badu Mo-
e o passado de sua família. Com rais e Rebeca Jamir (90min). 16
direção e texto de Newton More- anos. Sesc Bom Retiro. Alameda
MARIANA CHAMA/DIVULGAÇÃO

no e trilha sonora original de Zeca Nothmann, 185, Bom Retiro, ☎


Baleiro e André Bedurê, a peça 3332-3600. → Sex. e sáb., 20h
aborda intolerância e ódio no car- (não haversã sessão em 29/3).
naval pernambucano. A partir da Dom., 18h. R$ 50,00. Até 21/4.
busca por identidade do protago- sescsp.org.br.

Questões de uma vida


Uma professora de português (interpretada por Luciana
Schwinden), internada por causa de uma doença desco-
nhecida, é visitada por uma aluna e admiradora (papel
de Julia Terron). Esse é o ponto de partida de Corpo In-
truso, suspense psicológico em cartaz no Teatro Alfredo
Mesquita até este domingo (31). A partir do encontro, a
docente questiona sua relação com o marido (Sílvio Res-
tiffe) e a própria maneira de lidar com a vida. A peça tem
direção de Pedro Granato e texto de Samir Yazbek. Uma
nova temporada está prometida para as segundas de
junho na Biblioteca Mário de Andrade (90min). 14 anos.
NADJA KOUCHI/DIVULGAÇÃO

Teatro Alfredo Mesquita, Avenida Santos Dumont, 1770,


Julia, Luciana e Sílvio: Santana, ☎ 2221-3657. → Sex. e sáb., 21h. Dom., 19h.
drama de uma professora R$ 20,00. Até 31/3 . @teatroalfredomesquita.

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SHOWS
Tomás Novaes

Todas as fases
Jaloo: 3 eras é o nome do novo show da artista paraense, que
estreia em São Paulo, na Audio, no dia 5. Seguindo a mesma ideia
de outras turnês que estão fazendo sucesso internacional, co-
mo a The Eras Tour, da americana Taylor Swift, o projeto reu-
nirá o repertório de todos os discos da cantora — do estrean-
te #1 (2015) ao mais recente MAU (2023), passando por ft (pt.
1) (2019). No palco, cada uma das três fases será reproduzi-
da com cores e cenários respectivos e os repertórios toca-
dos na íntegra. A compositora, cuja sonoridade mescla
influências pop, indie e da música eletrônica, será acom-
panhada por uma banda composta por George Costa, Bia
Chantal e Michele Cordeiro, além das bailarinas Yorra-
na Soares, Vinnycias Silva, Luiza Magalhães e Thainá
Souza. 18 anos. Audio. Avenida Francisco Matara-
zzo, 694, Água Branca, ☎ 3675-1991. → Sex. (5), 21h.
R$ 96,00 a R$ 168,00. audiosp.com.br.
3 perguntas para Jaloo:
Qual foi a inspiração para esse show?
A ideia veio de uma amiga, que me mostrou o
flyer da turnê dos Jonas Brothers, em que
eles tocam todos os seus cinco discos.
Acho que é o momento certo para eu
fazer alguma coisa do tipo,
porque eu só tenho três
álbuns, então dá para to-
car todos na íntegra. Reparei
que, juntando todas as faixas, é um show longo, mas não a ponto de ser cansativo.

Como o álbum MAU (2023) se encaixa na sua discografia?


É o meu disco mais eletrônico, sendo que o primeiro já era bastante. Foi feito
inteiramente dentro do computador, desenhando e criando texturas. Acho que
ele tem muito o espírito desse tempo, às vezes acho até que está um pouquinho
à frente, mas isso é querer se achar demais (risos). Mas é porque eu percebo
que o público ainda está processando. Me deu uma energia boa, de estar real-
mente conectada com o agora.
O disco caminhou junto com sua identificação com o gênero fluído?
É doido, porque as pessoas colocam sempre em um lugar de ser antinatural,
sendo que, para mim, foi muito natural. Viver aquela criança quase sem sexo,
com nada tão definido, que está no primeiro disco, e depois viver a minha mas-
CAIA RAMALHO/DIVULGAÇÃO

culinidade de uma forma até caricata, quase um drag king, no segundo. E ago-
ra, no terceiro, mostro o feminino, que caminha junto com meu momento de
vida. Estou em um processo de transição mesmo, adotando os pronomes fe-
mininos, já troquei meu RG e meu nome, o que me deixa muito feliz.

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NOITE DE GRAVAÇÃO
Os Paralamas do Sucesso voltam à cidade no dia 6 para um
show especial da turnê de quarenta anos da banda. A data será
a noite de gravação do DVD do projeto, intitulado Paralamas
Clássicos, que reúne os maiores êxitos da carreira do grupo ca-
rioca. Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone irão agitar o Espa-
ço Unimed com canções como Lanterna dos Afogados, Meu
Erro e Aonde Quer Que Eu Vá. Em 8 de junho, a banda volta ao

KAUPO KIKKAS/DIVULGAÇÃO
estado para tocar no festival João Rock, em Ribeirão Preto. Res-
tam poucos ingressos para o show na capital paulista. 18 anos. Bi, Barone e Herbert: trio grava
Espaço Unimed. Rua Tagipuru, 795, Barra Funda, ☎ 3868-5860. novo DVD em São Paulo
→ Sáb. (6), 22h. R$ 180,00 a R$ 380,00. espaçounimed.com.br.

CONCERTO
Sonatas austríacas
O Festival Schubert começa no final do 7/4, 13/10 e 20/10. Nos dias 4, 5 e 6, o ins-
mês e se estende até outubro com onze trumentista também sobe ao palco junto
concertos sinfônicos, recitais de câmara e da Osesp para executar, além da Sinfonia
solo na Sala São Paulo. A obra do compo- nº 9 em Dó maior, D. 944 – A Grande de
sitor austríaco Franz Schubert (1797-1828), Schubert, peças de Mozart e Olga Neuwir-
que está entre os maiores nomes do perí- th. A regência do alemão Alexander Lie-
odo clássico-romântico, é um dos eixos breich. Depois, a programação do festival
artísticos da Temporada 2024 da Osesp. só retorna em setembro. Livre. Sala São
No domingo (31), acontece o primeiro de Paulo. Praça Júlio Prestes, 16, Campos Elí-
KAUPO KIKKAS/DIVULGAÇÃO

quatro recitais de piano solo do inglês seos, ☎ 3367-9500. → Dom. (31 e 7), 18h.
Paul Lewis dedicados às sonatas do autor Qui. (4) e sex. (5), 20h30. Sáb (6), 16h30.
O pianista Paul Lewis: sete
concertos na Sala São Paulo — as demais apresentações são nos dias R$ 47,52 a R$ 158,40. salasaopaulo.art.br.

Encontro potente
Juliana Linhares e Josyara dividem o palco
da Casa de Francisca nos dias 9 e 10. As can-
toras e compositoras potiguar e baiana,
respectivamente, se juntam pela primeira
vez em um show com canções de suas car-
reiras e também músicas que marcaram
suas vidas. Em 2023, as artistas se reuniram
para lançar o single Não Tem Lua, parte do
repertório, assim como Bombinha, gravada
por Juliana, e Rota de Colisão, de Josyara. As
duas serão acompanhadas do multi-instru-
ELISA MENDES/DIVULGAÇÃO

mentista Elísio Freitas. 16 anos. Casa de


Francisca. Rua Quintino Bocaiuva, 22, Sé, ☎ Juliana e Josyara: juntas
3052-0547. → Ter. (9) e qua. (10), 21h30. R$ pela primeira vez no palco
62,00 a R$ 80,00. casadefrancisca.art.br.

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EXPOSIÇÕES
Mattheus Goto

FOTOS ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES/DIVULGAÇÃO


Cenas registradas
durante ditadura
militar por Jorge
Bodanzky: a Rodovia
Rio-Bahia em 1970,
o voo de helicóptero
sobre o centro de São
Paulo (ambas acima)
e a paisagem rural com
um incêndio de um
ônibus em uma estrada
no interior de Minas
Gerais (ao lado)

Anos de chumbo
O Instituto Moreira Salles propõe uma refle- campo e a devastação ambiental causadas dos do nazismo. Cursou arquitetura na Uni-
xão sobre os 60 anos do golpe militar pelas pelas políticas desenvolvimentistas do go- versidade de Brasília, o que lhe proporcio-
lentes do fotógrafo e cineasta Jorge Bodan- verno autoritário. Entre os sete longa-metra- nou um convívio com intelectuais e artistas,
zky. Com curadoria de Thyago Nogueira, a gens produzidos por Bodanzky no período como Athos Bulcão e Amélia Toledo. Com o
exposição Que país é este? A câmera de estão Iracema: uma transa amazônica cerco da ditadura militar, em 1966, mudou-
Jorge Bodanzky durante a ditadura brasi- (1974), com codireção de Orlando Senna, -se para a Alemanha para estudar na Escola
leira, 1964-1985 exibe fotografias, trechos Jari (1979) e Terceiro milênio (1980), dirigidos de Design de Ulm, sob orientação do cineas-
de filmes, projeções em super-8 e reporta- em parceria com Wolf Gauer. O artista teve ta Alexander Kluge. De volta ao Brasil dois
gens televisivas. O profissional registrou ce- que enfrentar a censura e a falta de financia- anos depois, começou a trabalhar para as
nas em viagens por todo o país, em especial mento para conceber as obras, que questio- revistas Manchete e Realidade e a produzir
no Norte e Nordeste. As fotografias jogam navam a ideia do progresso disseminada no as obras em exposição. IMS Paulista. Ave-
luz não só sobre os centros urbanos, mas período. Bodanzky nasceu em São Paulo em nida Paulista, 2424, ☎ 2842-9120. → Ter. a
mostram outra realidade: a violência no 1942, em uma família de austríacos refugia- dom., 10h/20h. Grátis. Até 28/7. ims.com.br.

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EXPRESSÃO
INTERNACIONAL
O Instituto Artium de Cultura recebe Lam-
pejar, do artista carioca José Bechara, com
mais de trinta anos de carreira e obras em
acervos de museus da França e Estados Uni-
dos. A mostra ocupa as áreas externa e inter-
DING MUSA/DIVULGAÇÃO

na do Palacete Stahl, no Higienópolis, com


um recorte da produção recente de Bechara,
conhecido pelo experimentalismo no uso de
métodos e materiais. É o caso de Sem título
ENTRE O FIGURATIVO E O ABSTRATO (2023, foto abaixo), de tinta acrílica e oxida-
ção sobre lona. A obra integra a série Dan-
A Luciana Brito Galeria abre na terça (2) a ma), utilizadas como um diário de bordo cing in My Room, com peças pequenas em
maior exposição da carreira da catarinen- de viagens e residências artísticas, no cores sólidas. Instituto Artium de Cultura.
se Gabriela Machado. Cadê o Abre Alas? Brasil, Estados Unidos e Europa. Luciana Rua Piauí, 874, Higienópolis, ☎ 3660-0130.
tem curadoria de Oswaldo Corrêa da Cos- Brito Galeria. Avenida Nove de Julho, → Qua. a sex., 12h/18h. Sáb. e dom., 10h/18h.
ta e reúne mais de 100 pinturas e escultu- 5162, ☎ 3842-0634. → Seg., 10h/18h. Ter. Grátis. Até 19/5. institutoartium.com.
ras de porcelana. O destaque são as telas a sex., 10h/19h. Sáb., 11h/17h. Grátis. Até
pequenas, como Boipeba (2017, foto aci- 4/5. lucianabritogaleria.com.br.
LOURENÇO PARENTE/DIVULGAÇÃO

Afeto e intimidade
Corações à Desmedida celebra a gaúcha Rochelle Costi (1961-2022) na Casa
do Povo, em uma iniciativa da instituição carioca Solar dos Abacaxis. Com cura-
doria de Catarina Duncan, a mostra tem como destaque Coleção de Artista
(1993-2022), série criada por Rochelle com 200 objetos representando cora-
FILIPE BERNDT/DIVULGAÇÃO

ções, obtidos em viagens, ao acaso ou como presente (foto). Foram convidados


artistas de todo o país, como Rosângela Rennó e Diambe, para elaborar outras
peças, totalizando 400 corações. Casa do Povo. Rua Três Rios, 252, Bom Retiro,
☎ 95309-4766. → Ter. a sáb., 10h/19h. Até 6/4. Grátis. casadopovo.org.br.

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MURAL SP
Arnaldo Antunes
YAN DORNELLES

Arnaldo Antunes é músico, poeta e artista visual. Nasceu em São Paulo, em 1960. Integrou os grupos Titãs e Tribalistas.
Em carreira solo desde 1992, já lançou vinte álbuns. Tem vários livros publicados no Brasil e em Portugal, Espanha, Argentina e Uruguai.
DAR

Nossos Ossos, caligrafia com gravetos, 2024

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