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Organização
ISBN 978-85-7650-264-7
Revisão
Helô Castro
Imagem de capa
urbancow
N11
Na trilha do disco : relatos sobre a indústria fonográfica no Brasil/
organização Irineu Guerrini Jr. e Eduardo Vicente. - Rio de Janeiro : E-papers,
2010.
184p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7650-264-7
1. Registros sonoros - Indústria - Brasil - História. 2. Rádio - Brasil - História.
3. Música popular - Brasil. I. Guerrini Junior, Irineu. II. Vicente, Eduardo. III.
Título: Relatos sobre a indústria fonográfica no Brasil.
5 APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO 5
to musical do público e os rumos do mercado fonográfico nacional. A
SomZoom, apresentada por Andréa Pinheiro e Flávio Paiva, praticamen-
te criou e manteve sob seu domínio, por longo tempo, o chamado Forró
Eletrificado de Fortaleza – demonstrando que o cenário independente
também pode comportar forte concentração econômica e rígido con-
trole sobre a produção cultural. O selo paulistano Evocação, analisado
aqui por Marta Regina Maia, ilustra as possibilidades para a ação indi-
vidual abertas pelo uso das novas tecnologias digitais, que permitiram
a um aficcionado recuperar e distribuir as gravações originais de seus
grandes ídolos.
Os dois próximos textos dão conta da grande segmentação regional
da indústria. O primeiro deles, produzido pelas pesquisadoras Ângela
de Moura, Nair Prata, Sonia Pessoa, Waldiane Fialho e Wanir Campelo,
oferece um panorama atualizado da cena de Minas Gerais. Já Ayêska
Paulafreitas, com seu brilhante relato, oferece-nos a trajetória das em-
presas baianas de publicidade que responderam pelas primeiras pro-
duções de artistas locais como Antonio Carlos & Jocafe, Sarajane e Luiz
Caldas, entre muitos outros, que posteriormente alcançaram grande
sucesso nacional através de grandes gravadoras.
No texto seguinte, Eduardo Vicente e Marcos Júlio Sergl apresentam
um importante relato histórico sobre as últimas décadas da indústria
do disco no país, detendo-se especialmente no modo pelo qual um seg-
mento de menor peso mercadológico – no caso, o da produção erudita
– tem enfrentado as agruras de um cenário marcado por crises e dese-
quilíbrios. A seguir, Irineu Guerrini Jr. nos oferece um relato bastante
abrangente sobre o modo pelo qual as bancas de jornais tornaram-se
um importante espaço de distribuição tanto para selos independentes e
artistas autônomos quanto para grandes grupos de comunicação.
O rádio, que não poderia estar ausente desse cenário, é enfocado
na sequência através da Continental AM, emissora de Porto Alegre que,
além de promover importantes artistas gaúchos dos anos 70 e 80 (como
Hermes Aquino e Almôndegas), envolveu-se também na atividade de
produção fonográfica. O texto é assinado por Sérgio Francisco Endler.
Fechando o livro, Micael Herschman discute o cenário atual, onde os
shows ao vivo parecem estar se tornando mais centrais para os artistas
do que a gravação e venda de seus discos.
Como organizadores da obra, gostaríamos de expressar nosso pro-
fundo agradecimento aos autores acima citados, tanto pela confian-
6 APRESENTAÇÃO
ça depositada em nosso trabalho como pelo compromisso assumido
– dentre os múltiplos que suas carreiras acadêmicas certamente lhes
impõe – com a produção dos textos aqui apresentados. Agradecemos
ainda aos integrantes do Núcleo de Rádio e Mídia Sonora da Intercom
que acompanharam nossas mesas e, muito especialmente, a Luiz Artur
Ferraretto que, na condição de coordenador do Núcleo, apoiou esse pro-
jeto de publicação desde o seu início.
APRESENTAÇÃO 7
VACINADO COM AGULHA DE VITROLA:
os anos dourados da Gravadora RGE
7. Idem.
8. Idem.
9. Idem.
10. Idem.
11. Idem.
12. Sérgio Lara Campos teve uma intensa atuação como engenheiro de som na Columbia
e em projetos da TVE.
13. Entrevista concedida por José Scatena, em 18/11/2005.
14. Apesar de mencionado em diversas entrevistas por José Scatena, este disco não consta
entre o catálogo da gravadora RGE disponível no site www. jornalmusical.com.br. O pri-
meiro disco do catálogo RGE é um 78 RPM, número 10.000-a, constando como Orquestra
e Coro RGE/Hernani Franco, contando com as faixas “Leão do Mar” (Maugéri Neto/Maugeri
Sobrinho) e “Falam Os Campeões-Santos FC” – 1955.
15. Entrevista concedida por José Scatena, em 18/11/2005.
16. Conforme Sérgio Cabral.“Os primeiros long-plays de 33 rotações, tinham 10 polegadas
e ofereciam o máximo de 8 faixas” in CABRAL, Sérgio. A MPB na era do rádio. SP, Moderna,
1996.
23. Idem.
24. Maysa registrou, na RGE, 21 de 78 RPM, 2 LPs de 10 polegadas e 10 LPs, entre materiais
originais e coletâneas.
25. Walter Silva, com Maysa, “correu todas as rádios do Rio e conseguiu junto a Henrique
Pongetti um artigo de página na revista Manchete, cujo título era “Quando Canta um
Matarazzo”, in http://www.waltersilvapicapau.com/radio.html, consulta em 14/04/2007.
26. Entrevista concedida por Valter Silva em 11/04/2007.
27. Os discos da RGE lançados neste período realmente possuem uma sonoridade bastan-
te destacada em relação aos outros, principalmente por uma maior definição e transpa-
rência dos instrumentos e vozes.
28. As restrições alfandegárias à importação de equipamentos vigorou até o início dos
anos 90.
29. Entrevista concedida por Valter Silva em 11/04/2007.
30. In http://www.answers.com/topic/multitrack, consultado em 21/04/2007.
31. Como curiosidade, no filme Ray, sobre Ray Charles, a cena do que talvez tenha sido a
primeira utilização de um gravador de oito canais em uma gravação comercial é recriada,
quando o cantor faz todos os backing vocals de uma canção.
33. http://www.memoriamusical.com.br/jm/gridGravadora.asp
34. Também diretor artístico da Columbia.
35. SOUZA, T. “Som Livre lança RGE Clássicos”. Clube do Jazz, 21/09/2006.
Referências bibliográficas
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com/topic/multitrack. Acesso em 21 abr. 2007.
CABRAL, Sérgio. A MPB na era do rádio. São Paulo: Moderna, 1996.
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memoriamusical.com.br/jm/gridGravadora.asp. Acesso em: 20 abr. 2007.
LISBOA JUNIOR, Luiz Américo. Juca Chaves As Duas Faces de Juca Chaves
1961. Disponível em: http://www.luizamerico.com.br/fundamentais-juca-cha-
ves.php. Acesso em: 2 maio 2006.
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em http://discomentando.vilabol.uol.com.br/sim.htm. Acesso em 20 abr. 2007.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1991.
SILVA, Walter. Radio, 2006. Disponível em: http://www.waltersilvapicapau.com/
radio.html. Acesso em: 14 abr. 2007.
SOUZA, Tarik. Som Livre lança RGE Clássicos. Clube do Jazz, 21 set. 2006.
Disponível em: http://www.clubedejazz.com.br/noticias. Acesso em: 3 maio
2007.
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Disponível em: http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/bitstre-
am/1904/4609/1/NP6SILVA.pdf. Acesso em: 3 abr. 2007.
VICENTE, Eduardo. Organização, crescimento e crise: a indústria fonográfica brasi-
leira nas décadas de 60 e 70. Disponível em: http://www.eptic.com.br/Revista%20
EPTIC%20VIII-3_EduardoVicente.pdf. Acesso em: 2 maio 2006.
Discos
40 ANOS DE MÚSICA 1961. São Paulo: Comercial Fonográfica RGE, 1996. CD
Áudio.
40 ANOS DE MÚSICA 1965. São Paulo: Comercial Fonográfica RGE, 1996. CD
Áudio.
43. É comum entre alguns pesquisadores e, sobretudo, entre os profissionais que atuam
neste segmento, a distinção entre trilhas sonoras e trilhas musicais. Trilha sonora englo-
baria também, além do fundo musical, todos os ruídos, falas e a sonoplastia da cena. As
trilhas musicais, por sua vez, diria respeito somente às músicas utilizadas como tema. No
caso deste artigo, as duas serão usadas indistintamente.
44. E que dominam também o mercado mundial de música. À exceção da Som Livre,
todas as grandes gravadoras atuantes no Brasil são multinacionais: Sony, EMI, Warner
e Universal.
45. Este é, certamente, um dos pontos centrais da crítica de Adorno à indústria cultural.
Cf.: Theodor Adorno. A indústria cultural. São Paulo: Ática, 1984 (col. Grandes Cientistas
Sociais).
46. De acordo com dados do IFPI (International Federation of the Phonografic Industry),
no ano de 2004, a indústria fonográfica mundial movimentou US$ 33,6 bilhões (áudio e
vídeo). No Brasil, contando apenas as grandes gravadoras, foram R$ 706 milhões, o que
dá uma média de 66 milhões de unidades de discos vendidas. Dados da ABPD. Fonte:
www.ifpi.org e www.abpd.org.br. Acesso em julho/2006.
47. O Grupo Globo, pertencente à família Marinho, atua em diversos segmentos extrarra-
mos, porém, intrassetoriais: rádios, jornais, revistas, internet, cinema, televisão (aberta
e paga), fonográfica, multiplicando, dessa forma, sua capacidade de ação, numa atitude
análoga aos grandes oligopólios de mídia do mundo. A atual configuração do grupo é a
reunião da TV Globo, da holding Globopar e do portal de internet Globo.com numa única
empresa: Globo Participação e Comunicações. A Globosat, Editora Globo e a gravadora
Som Livre atuam como suas subsidiárias integrais. Além delas, fazem parte do grupo o
Sistema Globo de Rádio e o Infoglobo.
48. Trata-se da novela O Cafona. Antes disso, a TV Globo produzia suas trilhas sonoras des-
de 1969 – novela Véu de Noiva – em parceria com a gravadora Phillips. Cf. Trilha Sonora,
disponível em www.teledramaturgia.com.br. Acesso em 17/05/2007.
49. Desde 1985, a única contratada da Som Livre é a apresentadora de programas infantis
Xuxa Meneghel, uma das artistas com maior número de vendagens de discos no mercado
brasileiro.
50. A média de audiência da novela foi de 50 pontos. Em sua reprise no sessão Vale a pena
ver de novo, a novela alcançou 35 pontos, num horário em que a média da Rede Globo
costuma ser a metade disso. Cf.: Cláudia Croitor. “Sem grandes mistérios ‘Laços’ tem o
maior ibope do ano”. Folha de São Paulo, 4/02/2001; Daniel Castro. “Maior ibope de 2001
foi de novela de 2000”. Folha de São Paulo, 28/12/2001.
51. Os dados são da ABPD – Associação Brasileira de Produtores de Discos e podem ser
consultados na página da associação na Internet: http://www.abpd.org.br.
52. Nopem – Nelson Oliveira Pesquisa de Mercado – é uma empresa voltada à análise das
vendagens da indústria fonográfica. Agradeço a Eduardo Vicente a disponibilização dos
dados.
53. ECAD – Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais – é responsável pela
medição dos valores referentes às execuções de obras musicais e o cálculo dos direitos
autorais que dela decorrem.
54. A banda Kaoma teve duas músicas entre as mais executadas pelas rádios.
O “lugar” da música na TV
A trilha sonora da novela, desde seu surgimento no final da década de
1960, é um dos produtos de maior repercussão da indústria fonográfica
brasileira. Não há dúvidas de que isso está intimamente relacionado à
importância que a televisão, no plano geral, e a novela, especificamen-
te, têm entre nós. Divulgar a música através da cena é uma estratégia
que acaba por permitir que seu consumo seja potencializado através
de sua associação com personagens ou situações propostos por deter-
minado enredo. Ademais, ter uma canção como tema de uma novela da
Rede Globo significa adentrar diariamente e por meses em milhões de
lares brasileiros.55
A eficácia de tal estratégia, do ponto de vista do consumo, fica in-
questionável quando atentamos para o fato da posição privilegiada em
que se encontra a gravadora Som Livre. A gravadora, a única brasileira
entre as cinco transnacionais que dominam 85% do mercado de dis-
cos no Brasil, foi criada quase que exclusivamente para lançar as tri-
lhas sonoras nacionais e internacionais das telenovelas e minisséries
produzidas pela Rede Globo. Historicamente, sua criação coincide com
um processo de mudança do lugar ocupado pela música no conjun-
to da programação televisiva: de atração principal para coadjuvante.
Evidentemente, a canção ainda continua a desempenhar um papel im-
portante enquanto parte da narrativa. Mas, o espaço destinado à divul-
gação das canções na televisão ficou circunscrito quase que totalmente
ao fundo musical da novela. Assim, o músico Luiz Tatit faz uma obser-
vação muito interessante sobre este ponto:
55. Alguns pesquisadores apontam à contínua queda de audiência que as novelas globais
sofreram especialmente na última década. Mesmo assim, ela continua sendo um dos pro-
gramas mais vistos no Brasil. Cf.: Silvia Borelli e Gabriel Priolli (Orgs.). A deusa ferida. São
Paulo: Summus, 2000.
56. É o caso dos programas musicais criados para serem comandados por artistas oriun-
dos destes festivais como, por exemplo, O Fino da Bossa, Bossaudade e Jovem Guarda.
Sobre isso, cf.: Marcos Napolitano. Seguindo a canção: engajamento político e indústria
cultural na MBP (1959-1969). São Paulo: Annablume, 2001.
57. Sílvia Borelli e Gabriel Priolli, op.cit. Embora a Globo tenha se consolidado como maior
produtora de telenovela no país e uma das maiores do mundo, ela não é a pioneira na
produção deste gênero. Em 1951, a TV Tupi colocou no ar a primeira novela Sua vida me
pertence.
58. Já fizeram parte do cast fixo da Som Livre artistas como: Francis Hime, Oswaldo
Montenegro, Elisete Cardoso, Quarteto em Cy, Jorge Ben e Alceu Valença, Rita Lee, Cazuza,
Moraes Moreira. Desde o final da década de 1980, a única artista contratada é a apresen-
tadora infantil Xuxa Meneghel.
59. A Copacabana deixou de funcionar em 1991; seu cast de artistas passou a ser divulga-
do pela Sony. A Continental foi adquirida pela Warner em 1993.
60. “Para de reclamar, João”. Veja. São Paulo, p. 36, 2/08/2000. Caetano Veloso, aliás, e Gal
Costa são os campeões de participação em trilhas sonoras das novelas globais: cada um
já participou de quase 50.
À guisa de conclusão
No início dos anos 90, descontente com o valor dos royalties pagos pela
TV Globo para usar suas músicas e canções e impedindo a gravadora
Som Livre de comercializar nos EUA o LP em espanhol da dupla serta-
neja Chitãozinho e Xororó, a gravadora Universal (na época Polygram)
viu seu cast de artistas ser impedido de participar de qualquer pro-
grama veiculado pela TV Globo. A decisão partiu de José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho, então vice-presidente da Globo – e vetou a partici-
pação, na grade de programação da emissora da família Marinho, de
qualquer artista ou canção que fosse vinculado com a Universal, entre
eles Caetano Veloso, Tom Jobim, João Gilberto, Maria Bethânia, além de
U2, Elton John, Sting, Luciano Pavarotti e Faith No More, além de outros
(Cezimbra, 11/08/1991). As duas empresas voltariam a se acertar for-
mando inclusive um selo musical – Globo/Polydor – dois anos depois.
A situação mostra, de certa forma, o que significava perder o espaço de
difusão na maior emissora de TV do país num mercado altamente com-
petitivo e concentrado. Tendo como principal vitrine as trilhas sonoras
de suas novelas, a TV Globo possibilitou ao mercado produtor de discos
no Brasil condições muitos particulares de divulgação: associação da
61. “Resgatando as origens”. Revista do Nopem, nº 26, abr/2001. Confira também Os CDs
e DVDs mais vendidos em 2003. Disponível em http://www. universomusical.com.br.
Acesso em 25/07/2005. Dados semelhantes foram divulgados pela ABPD.
62. Nos últimos dois anos, a gravadora Som Livre, por meio de um selo próprio, Slap (Som
Livre Apresenta) voltou a gerenciar e divulgar discos individuais de artistas, além das
trilhas sonoras, depois de ter desistido de seu cast fixo de artistas há mais de 20 anos. A
estratégia que vem a reboque da troca de toda a diretoria da gravadora parece coadunar
com esses novos tempos.
Referências bibliográficas
ABPD. Estatísticas e dados do mercado. Disponível em: http://www.abpd.org.br.
ADORNO, Theodor. A indústria cultural. In: Theodor Adorno. São Paulo: Ática,
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28 dez. 2001.
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CROITOR, Cláudia. Sem grandes mistérios “Laços” tem o maior ibope do ano.
Folha de São Paulo, 4 fev. 2001.
DIAS, Márcia Tosta. Os donos da voz. São Paulo: Boitempo, 2000.
—. Rede Globo e Indústria Fonográfica: um negócio de sucesso. In: BRITTOS,
Valério; BOLAÑO, César. Rede Globo: 40 anos de poder e hegemonia. São Paulo:
Paulus, 2005. p. 307-324.
GRAVADORAS FAZEM AJUSTE e apostam em aumento de consumo de discos.
Folha de São Paulo, 30 mar. 1990.
NAPOLITANO, Marcos. Seguindo a canção: engajamento político e indústria cultu-
ral na MPB (1959-1969). São Paulo: Annablume, 2001.
O MAESTRO das trilhas na TV. Época, São Paulo: Globo, 9 abr. 2001.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 2001.
PARA DE RECLAMAR, JOÃO. Veja, São Paulo: Abril, p. 36, 2 ago. 2000.
RESGATANDO AS ORIGENS. Revista do Nopem, n. 26, abr. 2001.
SANCHES, Pedro Alexandre. Heroínas e bandidos. Folha de São Paulo, 17 abr.
2001.
TOLEDO, Heloísa Maria dos Santos. Produção independente de música. 1971-2001.
Araraquara, SP: Unesp, Faculdade de Ciências e Letras, 2005. (Dissertação de
mestrado.)
THOMPSON, John. Ideologia e cultura moderna. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. p.
290.
Andréa Pinheiro
Flávio Paiva
Introdução
No início dos anos 90 pouco se ouvia no rádio a tradicional música
nordestina brasileira. No campo do entretenimento, o balanço do fri-
cote baiano ganhara destacada dimensão mercadológica, passando a
ser chamado de “axé music” e extrapolando o calendário carnavalesco
em sua propagação pelo País. No entanto, os ritmos que compõem o
forró continuavam praticamente restritos aos períodos das festas juni-
nas e a feiras populares como a de Caruaru, em Pernambuco, e de São
Cristóvão, no Rio de Janeiro.
Mesmo nas rádios do Nordeste, via de regra, as músicas de forró
eram consideradas “bregas” e “cafonas” e estavam ausentes da progra-
mação das emissoras. Somente as rádios comprometidas com a difusão
da autêntica música nordestina não se renderam ao poder dessas ad-
jetivações.
Porém, a partir da primeira metade dos anos 90, a despeito da baixa
qualidade artística, a sonoridade nordestina ganhou novas feições comer-
ciais e passou a tomar conta do Brasil com os sucessos da banda Mastruz
com Leite. É a estratégia comercial empreendida pelo grupo SomZoom,
proprietário da Mastruz com Leite, que discutiremos em seguida.
Antes, contudo, convém lembrar que o conceito de forró, enquanto
sinônimo de festa, é anterior à criação do “baião” (Humberto Teixeira /
Luiz Gonzaga), nos anos 40. O Dicionário do Folclore Brasileiro (1972),
de Câmara Cascudo, conceitua forró como sendo uma corruptela de for-
robodó, que “caracteriza uma festança em que tomam parte indivíduos
de baixa esfera social, a ralé”, também definido como “festança, diver-
SOMZOOM 41
timento, pagodeiro”. O autor considera ainda que forró é o mesmo que
arrasta-pé, sinônimo para designar “baile reles”(1972). Quer dizer, não
diz respeito a um ritmo, mas designa um tipo de diversão popular.
Intuição empreendedora
A observação de que os salões que frequentava ficavam cheios quando
as bandas tocavam uma sequência de xote e baião foi o que despertou
o empresário Emanoel Gurgel para a criação da banda Mastruz com
Leite, em 1992. Com esse achado, oriundo da intuição e não de qualquer
conhecimento mercadológico da indústria da música, ele partiu para
produzir uma inflexão no setor.
A cena do entretenimento ganhou uma banda com nome que ex-
pressa uma inusitada mistura nordestina. A palavra mastruz é uma
derivação de mastruço, planta medicinal muito conhecida no Nordeste
e que misturada ao leite tem efeitos curativos para gripes e doenças
respiratórias.
No mundo do “axé music” a combinação de nomes estranhos como
nome de grupo musical já estava presente no mercado de bailes com
a banda Chiclete com Banana, nome adotado pela banda Scorpius, a
partir de uma história que os músicos inventaram, segundo a qual um
dia, depois de um show, eles chegaram em uma barraca para comer e
só tinha chiclete com banana.
O nome Mastruz com Leite, da SomZoom, também segue a linha
mercadológica do humor na construção da diversão. Diferentemente da
expressão “Chiclete com Banana” de Gordurinha, popularizada pelo rit-
mista paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982), que tinha um cunho
mais político, além de maior significado artístico: “Eu só ponho bebop
no meu samba / quando o Tio Sam pegar o tamborim / quando ele
pegar no pandeiro e no zabumba / quando ele aprender que o samba
não é rumba / Aí eu vou misturar Miami com Copacabana / Chiclete eu
misturo com banana”.
A forma que o empresário concebeu para organizar a Mastruz com
Leite foi completamente diferente da que estava estabelecida no merca-
do. Ao forró tradicional de triângulo, zabumba e sanfona, foram incor-
porados outros instrumentos como sax, teclados e guitarra, nascendo
aí o que inicialmente se convencionou chamar de “oxente music”, em
uma referência à música comercial baiana.
42 SOMZOOM
O modelo sonoro formatado pela SomZoom passou a ser identifi-
cado posteriormente como “forró eletrônico” e, da mesma forma que
incentivou o surgimento de um sem-número de bandas clonadas da
Mastruz com Leite, contribuiu fortemente para que houvesse uma rea-
ção dos defensores e amantes do “forró de raiz”, com a propagação de
apresentações do tradicional forró pé-de-serra, e o nascimento do “for-
ró universitário”, caracterizado pela participação de jovens de classe
média, que passaram a formar grupos musicais inspirados em clássi-
cos da música nordestina como Zé do Norte, Jackson do Pandeiro, Luiz
Gonzaga, Anastácia, Marinês, Trio Nordestino e Dominguinhos, entre
outros.
Essa movimentação generalizada em torno dos mais genuínos dos
gêneros musicais nordestinos intensificou o processo de fusão de signi-
ficados da palavra forró, no sentido de festa, como anteriormente havia
sido identificado por Câmara Cascudo. E mais, o termo forró passou
também a denominar uma síntese de ritmos nordestinos, ocultando as
variantes de marcação de tempo próprias de gêneros musicais como
o xote, o coco, o xaxado e o baião, que originalmente compõem o am-
biente do forró.
Na sua condição de festeiro e de empresário, Gurgel percebeu que
os intervalos esfriavam as festas e passou a realizar shows onde sua
banda tocava quatro ou cinco horas sem parar. Para viabilizar esse tipo
de jornada, desenvolveu uma estrutura interna de grupo, que não dava
destaque ao vocalista, como era comum até então. Desse modo, a estra-
tégia era formar grupos musicais, cujos membros pudessem ser substi-
tuídos sem qualquer prejuízo para a festa.
Como grupos de mercado e não grupos artísticos, as bandas da
SomZoom são na verdade marcas musicais direcionadas ao entreteni-
mento. Não interessa quem é o cantor nem quem são os músicos, o que
interessa é vender diversão.
SOMZOOM 43
comercial, vem o cachê, movimenta-se uma quantidade
absurda de valores, gerada por uma música.63
44 SOMZOOM
sinal de que era preciso ter uma estrutura que tocasse forró o ano todo
e em todo lugar. Assim, nasceu a rede SomZoom Sat, da qual falaremos
mais adiante.
Razões da gravadora
Reportagem da revista Exame, publicada na edição de 22 de março de
2000, revela que em 1999, a gravadora SomZoom vendeu 2,5 milhões
de CDs. Gurgel confirma que chegou a ter 8% do mercado brasileiro de
venda de CDs, mas que hoje nem aparece nos índices de participação
de mercado. Diz, com orgulho saudoso, que todas as multinacionais do
disco o procuraram para comprar a sua empresa. Isso, antes de a pira-
taria tomar conta do mercado, espalhando CDs a baixo custo pelas fei-
ras populares do Brasil. Ele declara que, de 1999 a 2006, perdeu muito
dinheiro com a pirataria e a falsificação e que, praticamente, teve que
começar tudo de novo.
A SomZoom chegou a fazer até 3 CDs por ano da Mastruz com Leite.
Era a forma encontrada para neutralizar as ações de falsificação. Gurgel
explica que os chineses levavam cerca de quatro meses para pegar um
disco no Brasil, levar para falsificar na China e trazer de volta para co-
mercializar nas diversas regiões brasileiras.
Com essa estratégia ele neutralizava o efeito da falsificação, pois no
momento em que o disco falsificado chegava ao mercado ele já estava
fazendo o marketing de um novo produto. Além de muito cara, a mesma
estratégia não serviu para evitar os efeitos da pirataria interna, que era
muito mais ágil e, diferentemente da falsificação feita na China, não se
preocupava com a reprodução do material de capa e encarte, “os chine-
ses copiavam até o código de barras”, reclama.
O primeiro trabalho fonográfico da Mastruz com Leite foi lançado
pela Continental, mas, segundo Gurgel, a gravadora não cumpriu o que
havia sido acordado, então ele resolveu montar uma estrutura própria
para editar, gravar e distribuir os trabalhos da banda.
A longo de 15 anos foram 39 discos gravados. Com o sucesso da
música “Meu vaqueiro, meu peão”, o empresário conta que pagou o
investimento de cerca de US$ 150 mil que havia feito para montar um
moderno estúdio de gravação.
Com a popularização e o sucesso comercial da Mastruz com Leite
novas bandas foram criadas, seguindo sempre o mesmo modelo. Assim
SOMZOOM 45
nasceu Mel com Terra, Rabo de Saia, Cavalo de Pau, Catuaba com
Amendoim e mais outras tantas, ao ponto da SomZoom chegar a ter 11
bandas em seu portfólio.
A pirataria, segundo Emanoel Gurgel, foi responsável pela redução
na produção dos CDs das bandas do grupo SomZoom. Na verdade, esse
fenômeno teve grandes repercussões em todas as gravadoras, não só no
Brasil, mas em todo o mundo. O estímulo massivo ao consumo da música
comercial encontrou, nas altas margens de lucro, praticadas no mercado
fonográfico pelas multinacionais do disco, uma barreira para a grande
maioria das pessoas que se motivaram a adquirir CDs e DVDs nas lojas
de disco. Essa demanda reprimida contou com as facilidades dos recur-
sos tecnológicos para gravações caseiras, criando, assim, uma excelente
oportunidade para o surgimento da pirataria e da falsificação.
A venda ilegal de produtos musicais já assustava quando, em 1997,
de cada 19 fitas cassetes vendidas no Brasil, só uma era fabricada legal-
mente.65 O que começou com as fitas cassetes, rapidamente chegou ao
CD e em 1998, o Brasil era o sexto maior mercado do mundo em pirata-
ria, com vendas calculadas em US$ 1,4 bilhão.
No site da Associação Brasileira de Produtores de Discos(ABPD), gru-
po que reúne as maiores gravadoras com atuação no país, os dados
sobre o comércio ilegal de CDs são alarmantes. De acordo com os le-
vantamentos, publicados no site pela Associação Protetora dos Direitos
Intelectuais Fonográficos, em 2005, no período de janeiro a dezembro,
“mais de 31 milhões de unidades de CDs ilegais foram apreendidas no
país, entre gravadas e virgens”.66
Mais do que com a ação da pirataria e das falsificações, o merca-
do da música passou a contar com o fenômeno da disponibilização de
fonogramas em arquivos MP3. Pesquisa feita pela ABPD no primeiro
semestre de 2006 com 1.209 pessoas, em 10 regiões metropolitanas do
Brasil – São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Porto
Alegre, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Recife e Brasília – “revelou que
8,2% da população pesquisada, baixara música na internet no ano de
2005, contabilizando quase 1,1 bilhão de canções sendo baixadas da
rede mundial de computadores”.67
46 SOMZOOM
O perfil dos internautas também é apresentado pela pesquisa. A
maioria é jovem, tem entre 15 e 34 anos e tem ensino superior comple-
to ou colegial completo/superior incompleto.
“A indústria fonográfica está morta”, sentencia o crítico de música,
João Marcos Coelho, em artigo publicado no dia 27/5/2007 no jornal O
Estado de São Paulo. Segundo ele, a tecnologia e a internet são respon-
sáveis pelo fim do ciclo da música gravada e “não há nada que se possa
fazer sobre isso”, conclui.
Emanoel Gurgel, tendo essa mesma visão, desistiu da venda de CD
como impulsionadora dos negócios da SomZoom. “O CD hoje é cartão
de visita. A Mastruz está lançando o Arrocha o Nó II. São 100 mil cópias,
dessas, 50 mil são para dar para as pessoas”, explica. As mudanças no
mercado fonográfico fizeram com que o CD, que já foi a principal fonte
de ganho da SomZoom, passasse a servir basicamente de peça promo-
cional da empresa.
SOMZOOM 47
terceiros, o empresário possui duas casas próprias, a Casa do Forró, o
Parque do Vaqueiro e a Fazenda Mastruz com Leite, onde promove cir-
cuitos de vaquejada.
Editora da casa
A Editora Passaré, de propriedade de Emanoel Gurgel, tem atualmente
11.500 músicas editadas. A maioria delas, bem como os maiores suces-
sos, são dos compositores cearenses Rita de Cássia e Luís Fidélis que
cresceram junto com a SomZoom e suas bandas.
A opção por ter uma estrutura própria para editar as músicas gra-
vadas pelas bandas nasceu da necessidade de ficar independente dos
crivos estéticos para a obtenção das liberações para gravação e do valor
cobrado pelas editoras. Segundo Gurgel, muitas editoras não liberavam
as músicas para serem gravadas em ritmo de forró por mero preconcei-
to. Para ele, a qualidade artística não interessa, o que vale no mercado
é o produto ser bom ou não para fazer sucesso.
No começo, os sucessos das bandas foram as regravações de músi-
cas conhecidas. Assim, Mastruz com Leite, gravou Teixeirinha, Roberto
Carlos e músicas sertanejas em ritmo de forró, além de clássicos da
música nordestina como Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga.
Gurgel explica que percebeu que gravar “música inédita era muito
mais forte do que gravar sucesso dos outros”. Sendo o dono do reper-
tório ele poderia fazer o que quisesse com as músicas. Embora já tendo
passado a administração dos negócios para os filhos, ainda hoje ele é o
responsável pela escolha do repertório das bandas.
48 SOMZOOM
“Eu estava aqui na fazenda, ia visitar uma irrigação, e o cara estava
aqui comigo, cantou um pedacinho e eu disse: esse é boa, pode gravar.
Essa as mulheres vão gostar por causa dos maridos e os veados também
porque vai diminuir a concorrência”, conta ele rindo.
A estratégia usada por Emanoel Gurgel é conhecida no mundo
dos negócios como “a lógica das emoções”, conceito bem recente de-
senvolvido por Clotaire Rapaille, mestre em Psicologia e doutor em
Antropologia Médica. O especialista francês desenvolveu uma técnica
para pesquisa de mercado a partir da sua atuação nas áreas de psiquia-
tria, psicologia e antropologia cultural.
Em entrevista a revista SuperVarejo (abril/2007), o especialista expli-
ca que o cérebro registra marcas e impressões inconscientes que serão
utilizadas para o resto da vida e que essas “impressões não existem
sem emoção. Sem emoção, não há produção de neurotransmissores,
portanto, não há memória”, afirma. O pesquisador esclarece ainda que
o código que possibilita acesso a esse sistema de referência do cérebro,
é a cultura. “A cultura não é somente a linguagem, mas as estruturas de
aprendizagem na escola, nos supermercados, no cinema”, explica.
O pensamento de Rapaille aplica-se bem na prática empresarial
intuitiva de Emanoel Gurgel, considerando-se que ele trabalha com o
produto música e com o serviço festa, menos por ser um conhecedor
de qualquer modelo de excelência em gestão desse mercado e mais por
ter no seu gosto pela dança, como diversão, um ponto de relevância
cultural determinante em sua vida.
SOMZOOM 49
forró. Hoje, são 51, mas cada afiliada tem que ter cinco
ou seis horas de programação local.71
50 SOMZOOM
também cultural. (...) A emissora, além da proposta de
uma identidade tipicamente nordestina – ressaltando
em sua programação a cultura segmentada e industrial
do Nordeste, através do forró, – também aponta para
o cenário nacional, mas carregando uma programação
tipicamente regional. No Brasil, não há condições de
grupos regionais virem a apresentar uma dimensão
nacional, enquanto formato, conteúdo, aceitação, dis-
tribuição. Grupos regionais possuem alcance nacional,
enquanto presença física em algumas partes do territó-
rio, mas buscam comunidades específicas que os iden-
tifiquem. (...) Neste ponto, o rádio é o meio através do
qual o empresário Emanoel Gurgel promove seus ne-
gócios: venda de discos, promoção de shows, produção
(LIMA, 2005: 4/8).
SOMZOOM 51
como seu espaço principal de negócios, o rádio passou a ser um instru-
mento de mediação entre o público e os elementos da diversão nordes-
tina, transmitidos sob o guarda-chuva da linguagem musical.
No entendimento do pesquisador Expedito Leandro Silva, para compre-
ender a expansão do forró Brasil afora é preciso relacionar a música com a
questão do fluxo migratório dos nordestinos para o centro-sul do país.
73. Informação disponível no folder feito pela Associação Cearense de Emissora de Rádio
e Televisão(ACERT), em 2005, a partir de pesquisa realizada pelo IBOPE.
52 SOMZOOM
audiência do rádio, entre 9h e 10h, Fortaleza alcança o maior índice do
país com 43% da população ligada a esse meio de comunicação.
Uma informação relevante para as reflexões que vem sendo feitas
ao longo desse trabalho, diz respeito ao crescimento, em Fortaleza, da
audiência das emissoras de rádio associadas ao “gênero” musical forró.
Nos últimos anos, assim como a SomZoom Sat, muitas rádios estão
diretamente associadas ao mercado musical das bandas de forró, como
a Tropical FM e a Liderança FM, em cuja programação predomina a di-
vulgação das músicas de forró, muitas vezes, transmitindo os progra-
mas diretamente das casas de shows onde acontecem as apresentações
das bandas.
Segundo dados do Ibope/Easy Media 3, de março de 2007, as rádios
classificadas como do segmento popular, respondem juntas por 69% da
participação de mercado das emissoras de Fortaleza, onde estão incluí-
das as rádios alinhadas à divulgação do forró, como a SomZoom (90,7
FM). Só para termos um elemento de comparação, as rádios religiosas,
segundo lugar em termos de participação, respondem por 13% da pre-
ferência, seguidas pelos segmentos jovem, 11% e adulto, 6%.
Considerações finais
A SomZoom é uma experiência de negócio ancorada na música, que
tem em sua trajetória a valorização da intuição, da inovação e do senso
de oportunidade. Emanoel Gurgel montou o seu grupo empresarial ins-
pirado na sua própria diversão, que é gostar de dançar, independente
da qualidade artística da música executada. Em 15 anos de atividades,
considerando a criação da banda Mastruz com Leite como o marco ini-
cial do seu sucesso, ele comandou a empresa, acreditando que o que
funciona é o que o coração sente e não o que podem dizer as pesquisas
e os planejamentos estratégicos.
A gestão dos seus negócios é baseada na adaptabilidade das evidên-
cias. Cada passo da montagem da indústria do forró no Brasil puxou o
seguinte, até chegar no foco atual da empresa que é ganhar dinheiro
com festa. Gurgel tem em suas mãos todos os elos da cadeia produtiva
da música. Não para cuidar de música, mas para poder monitorar e
garantir a geração de valor em todo o processo que culmina com a
realização da festa.
SOMZOOM 53
Depois de sofrer os efeitos da pirataria e da falsificação no mercado
fonográfico, migrou para o conceito de que as bandas são marcas de
diversão e passou a investir, normalmente em parceria com emissoras
de rádio, para conquistar a fidelidade dos consumidores dos produtos
(CDs/DVDs) e serviços (festas) de suas bandas. Pela imagem que pro-
duziu nos últimos 15 anos, a banda Mastruz com Leite tornou-se um
produto de grandes eventos públicos. Gurgel encerra a sua argumen-
tação a respeito dessa dimensão atingida por sua banda mais famosa,
relatando que na festa de 150 anos da forrozeira cidade de Caruaru,
entre as bandas contratadas para arrebanhar uma multidão de pessoas
estava a Mastruz com Leite. “Um grande forró tem que ter Mastruz com
Leite”, proclama envaidecido.
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SOMZOOM 55
SELO EVOCAÇÃO:
o pequeno notável
Introdução
Desde o período inicial da gravação mecânica, passando pela elétrica e
agora com os mecanismos digitais de reprodução, além da distribuição
aberta pela web, a história da indústria fonográfica no mundo passa por
alterações relevantes e o Brasil acompanha estas mudanças. Esta evolu-
ção tecnológica, entretanto, pelo menos no caso brasileiro, não é dire-
tamente proporcional a democratização do acervo musical acumulado
desde que Frederico Figner criou a Casa Edison que, a partir de 1902,74
iniciou o trabalho de divulgação de artistas nacionais.
Se no começo do século XXI há mais possibilidades tecnológicas,
tanto para a produção quanto para a preservação da memória musi-
cal brasileira, paradoxalmente alguns aspectos cruciais dificultam esta
realidade em potencial: o direito de reprodução das obras e o direito
autoral, tais como são definidos no Brasil,75 além da falta de vontade
das transnacionais que detêm as matrizes da produção fonográfica da
época de ouro da música brasileira e ainda a ausência de uma política
pública de acervo mais consistente.
74. Ver Humberto M. FRANCESCHI. Registro sonoro por meios mecânicos no Brasil. Nesta
obra, o autor prova que o primeiro catálogo brasileiro da Casa Edison surgiu em 1900,
mas este não apresenta tantos detalhes como o de 1902.
75. O Ministério da Cultura colocou como uma de suas prioridades a discussão sobre o
direito autoral, assunto polêmico que já foi motivo de seminário em dezembro de 2006 e
contará com uma série de atividades durante 2007 com o intuito de equilibrar os diversos
interesses em jogo. Ver site www. http://www.cultura.gov.br.
SELO EVOCAÇÃO 57
Da história da música popular brasileira, por exemplo, é possível
focar na época em que o disco e o rádio representavam elementos sig-
nificativos da cartografia cultural, que são as décadas de 1930 a 1950
do século XX. A produção musical do período foi bastante expressiva e
eclética, com o surgimento de compositores, arranjadores e intérpretes
portadores de uma tradição simbólica reverenciada até os dias de hoje,
ainda que de maneira restrita. Esta demanda musical conseguiu, inclu-
sive, abrir algumas brechas no interior da própria indústria cultural,
que já começava a se desenhar naquela época. Muitas destas produções
participaram da construção de um projeto de identidade nacional, mas
muitas também foram tidas como “vozes dissonantes” a uma perspec-
tiva de homogeneização, mesmo durante a vigência do Estado Novo
(1937-1945).76
Um suporte essencial para a disseminação das produções musicais
são as gravadoras. Afinal, em paralelo ao aspecto subjetivo da com-
posição musical, há a necessidade material de gravação, reprodução e
distribuição da mesma. No Brasil, a evolução histórica das gravadoras
comprova que somente algumas destas detêm o controle do processo
produtivo musical, dificultando a proliferação de pequenas gravadoras
que poderiam, por exemplo, contribuir para a produção e relançamen-
tos de compositores e intérpretes brasileiros que passam pelo crivo do
esquecimento cultural.77 No caso da história da indústria fonográfica
em São Paulo, nota-se que não há muita diferença com a história dos de-
mais estados brasileiros, pois as grandes gravadoras, ligadas ao capital
internacional, sempre tiveram mais infraestrutura para garantir a sua
permanência no mercado, já que a falta de condições materiais de al-
guns selos que tentaram ingressar neste mercado impediram a sua per-
manência, como é o caso do selo Evocação, criado em 1987 na capital do
Estado de São Paulo, e que terá sua história contada neste artigo.
O que se observa, no cenário atual, é o vínculo cada vez mais es-
treito entre a cultura e o comércio transnacional. Ao analisar os des-
dobramentos da indústria fonográfica, a partir do processo econômico
mais geral, Eduardo Vicente observa que “no caso específico da indús-
tria musical, o processo não só reduziu para apenas 5 o número de
76. Ver Adalberto PARANHOS. “Vozes dissonantes ao regime de ordem unida”, 2002.
77. Vale destacar o empenho de colecionadores que criaram os selos Revivendo, Moto
Discos, Filigranas Musicais e Collector’s, que contribuíram e ainda contribuem com a
divulgação da música brasileira da época em foco.
58 SELO EVOCAÇÃO
grandes gravadoras transnacionais que controlam o mercado mundial
como associou praticamente todas elas a gigantescos conglomerados
de comunicação”.78
78. Eduardo VICENTE. Música e disco no Brasil: a trajetória da indústria nas décadas de 80
e 90, p. 18.
79. Renato ORTIZ. A moderna tradição brasileira. Os dados citados neste parágrafo foram
extraídos deste livro.
80. Márcia Tosta DIAS. Os donos da voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da
cultura, 2000.
SELO EVOCAÇÃO 59
muito limitada de produção, pois realizava a pesquisa para a definição
do repertório e informações que acompanhavam os discos, as próprias
gravações, criava as ilustrações ou fotografias das capas e contracapas
e até a embalagem, de maneira artesanal.
Este pequeno selo, durante os cinco anos de existência, lançou
nove LPs, com uma tiragem média de 1.500 discos por edição. O pri-
meiro disco lançado, com o título Lágrimas de rosa, foi o do “cantor das
multidões” Orlando Silva, seguido do álbum Saudades de minha terra,
com intérpretes notadamente paulistanos; o terceiro, Sempre presente,
retoma as interpretações de Orlando Silva. O quarto LP, denominado
Antigamente era assim, trouxe Carlos Galhardo e Sylvinha Mello, segui-
do de Sou um namorado errante, com canções interpretadas por Sylvio
Caldas e marchinhas cantadas por Januário de Oliveira. O sexto disco,
Tanger do coração, veiculou músicas interpretadas por seis cantores,
entre eles Nelson Gonçalves e Gilda de Abreu. Um disco louvado pela
crítica,81 O Bando da Lua trouxe sambas de H. Cordovil, Assis Valente,
entre outros. Os dois últimos LPs seguem outro rumo ao divulgar a mú-
sica estrangeira da velha guarda, sendo o oitavo intitulado A severa – de
filme homônimo, com fados portugueses cantados por Dina Tereza – e o
último denominado Movie Stars, com músicas emblemáticas do cinema
das décadas de 1930 a 1950.
Além do pagamento dos direitos de reprodução fonográfica das
grandes gravadoras e dos direitos autorais, Paulo Iabutti ainda tinha
uma outra batalha: a busca pela matriz original das músicas escolhidas.
Ele não conseguiu localizar nenhuma matriz de todos os discos produ-
zidos. Se o próprio Estado brasileiro não tem uma política pública de
acervo eficaz, não é de se estranhar que as grandes gravadoras multi-
nacionais não tivessem esse material arquivado.82
No processo de garimpagem, o produtor recorria ao seu acervo par-
ticular e aos de outros colecionadores paulistanos. Ao encontrar um
disco em ótimo estado de conservação, viajava para o Rio de Janeiro
e, com a ajuda de um profissional da área, passava para a fita de rolo
81. Na coluna “Artes e Espetáculos” do Jornal da Tarde, s/d, há uma referência a alguns
lançamentos do Evocação e da Revivendo, sendo o LP Bando da Lua definido pela coluna
como “um dos melhores de toda a MPB”.
82. Matéria veiculada pela revista Carta Capital (http://www.cartacapital.com.br/edico-
es/2004/09/307/1678/) exemplifica bem esta questão. Ela relata que a EMI foi obrigada a
recorrer ao acervo de Leon Barg, da Revivendo, para poder lançar uma coleção de Carmem
Miranda, em 1996, pois a gravadora não tinha mais as matrizes originais.
60 SELO EVOCAÇÃO
de 10 polegadas. A prensagem dos discos era feita na BMG Ariola, em
São Paulo, sendo a única exceção o disco Saudades de minha terra, com
cantores paulistanos, que foi prensado na Continental. Além disso, o
produtor, que trabalhou como engenheiro em uma grande empresa
multinacional, tinha boas noções de desenho e fazia questão de ideali-
zar e produzir as capas.
A distribuição, um dos momentos mais difíceis do processo, tam-
bém era feita por Iabutti, que conhecia os principais estabelecimen-
tos musicais do gênero. Ele conta que os dois discos de Orlando Silva
esgotaram-se logo após o lançamento, o que demonstra a demanda da
sociedade por este tipo de música.83 A respeito do segundo deles, um ál-
bum duplo, Eduardo Martins, do jornal O Estado de S. Paulo, afirmou que
sua grande vantagem residia “na variedade do repertório. Se apenas
cinco canções das 24 são inéditas em LP, as demais não figuram entre
as já muito conhecidas de Orlando”. E acrescentava: “além da evocação,
serve como documento precioso dos anos mais ricos da música popular
brasileira e da arte de um intérprete que figura entre os dois ou três
maiores do País em todos os tempos”.84
Sobre este disco, Paulo Iabutti lembra que “...tinha certeza que sen-
do do Orlando Silva ia vender. Muitos dos meus amigos falaram que
era um risco tremendo soltar um duplo, porque o custo é o dobro, mas
acreditei na ideia, achei que ia vender, e já na primeira noite vendeu
200 LPs; depois de dois meses tinha esgotado”.85
Outro aspecto pertinente ao trabalho deste pequeno selo era a
perspectiva de relançar artistas paulistanos que não tinham e ainda
não têm espaço na história da produção fonográfica. Foi o que ocorreu
com o lançamento do segundo LP da gravadora, uma coletânea de anti-
gos e raros 78 Rotações, com 12 intérpretes diferentes. Cantores como
Moacyr Bueno Rocha, Jorge Amaral, Jurandyr Santos, pouco conhecidos
até mesmo por alguns estudiosos da música popular, tiveram a opor-
tunidade de ser relançados pelo Evocação. Um trecho do artigo de Rui
Ribeiro, pesquisador de MPB, veiculado pelo jornal Folha de S. Paulo,
tenta justificar o motivo desse anonimato: “é provável que o motivo
83. Alguns filmes e espetáculos teatrais que retratam este período, produzidos no final do
século XX e início do XXI, têm logrado êxito junto à população, o que mostra o interesse,
de parcela da sociedade, sobre o assunto.
84. O Estado de S. Paulo, 27/9/1988.
85. Entrevista em 26/3/2007.
SELO EVOCAÇÃO 61
do desconhecimento decorra do fato de alguns de seus intérpretes te-
rem desaparecido de repente do cenário artístico, ou militarem à época
no rádio paulista, que não alcançara ainda a penetração das emissoras
cariocas”.86
A bibliografia específica sobre a história das gravadoras e selos cria-
dos em São Paulo ainda é escassa,87 entretanto, o surgimento destes ao
longo da história não alterou muito o processo de produção fonográfica
que está atrelado ao poderio das majors que dominam este mercado. O
que interessa, neste caso, é que a repercussão advinda do chamado “pe-
ríodo de ouro” das produções cariocas é muito mais amplificada do que
a produção paulistana. Um aspecto essencial para a ocorrência deste
fato é que, nesta época, o Rio de Janeiro era a capital federal e caixa de
ressonância da cultura nacional. Alguns artistas, portanto, que optaram
por desenvolver suas atividades em solo paulistano, não conseguiram
alcançar muita visibilidade em seu trabalho.
Embora trabalhe especialmente com a produção musical na década
de 1930, a pesquisadora Camila Koshiba Gonçalves evidencia estes as-
pectos, ao analisar o caso paulistano:
62 SELO EVOCAÇÃO
Esta análise tem continuidade com as pesquisas realizadas por
Renato Ortiz, ao avaliar que o rádio paulistano, nas décadas de 1930 a
1950, tinha “características marcadamente locais, e se pautava segun-
do um padrão regional”.89
O produtor Paulo Iabutti, profundo conhecedor da história da mú-
sica e do rádio, em particular a paulistana, apresenta três grandes em-
pecilhos que o levaram a encerrar a curta existência do selo. O primei-
ro refere-se ao tempo de manutenção do direito autoral que, para ele,
deveria ser menor para a reprodução mais democrática. Atualmente,
segundo o artigo 41, da Lei 9.610, de 1998, que atualiza o Decreto de
1973, “os direitos patrimoniais do autor perduram por 70 anos conta-
dos de 1º de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obede-
cida a ordem sucessória da lei civil”. A argumentação de Paulo Iabutti é
bem contundente:
SELO EVOCAÇÃO 63
co da memória da cultura brasileira. Eu sou totalmente
contra direito autoral dessa forma.90
64 SELO EVOCAÇÃO
a subsidiária brasileira da WEA, o braço fonográfico
do grupo Warner, é fundada em 1976 e a da Ariola –
pertencente ao conglomerado alemão Bertellsman –
em 1979. A RCA, que mais tarde seria adquirida pela
Bertellsman tornando-se o núcleo da BMG, operava no
país desde 1925 e completava o quadro das empresas
internacionais mais significativas em nosso cenário do-
méstico (...).93
SELO EVOCAÇÃO 65
tor teve que refazer todo o caminho da pesquisa de repertório, alterar
a parte gráfica já pronta, etc. Para contornar esse problema, Iabutti
acabou lançando na sequência dois LPs com trilhas de filmes, mas aca-
bou desistindo, pois o projeto original era o da divulgação da música
brasileira mesmo, com destaque para a produzida em São Paulo. O que
ele lamenta, entretanto, é que a memória da música regional paulistana
corre o risco de se perder.
Evocar é preciso
Uma breve contextualização das décadas de 1930 a 1950 pode ajudar
a compreender melhor o apogeu do rádio e da música popular neste
período. As conquistas técnicas alcançadas no campo da radiodifusão
e da produção dos discos levaram estes dois campos a uma integração
intensa, especialmente após a década de 1930. Quando surgem as pri-
meiras emissoras de rádio, tendo como precursora a Rádio Sociedade
do Rio de Janeiro, em 1923, ainda não há, de imediato, o interesse mais
generalizado da sociedade por este veículo. Somente a partir da década
seguinte é que o rádio provoca uma interação jamais vista na história
da comunicação social. Com a indústria cultural ainda incipiente, é pos-
sível afirmar que as emissoras radiofônicas representaram um elemen-
to democratizador das práticas culturais. Afinal, antes do surgimento
deste meio eletrônico, as pessoas necessitavam de habilidades espe-
cíficas de leitura e escrita para ter acesso ao que era veiculado pelos
meios impressos.96 Embora o rádio e o disco tenham participado do
circuito comercial e contribuído para o estímulo do consumo de produ-
tos, também participaram de um processo de construção simbólica que
permeou a própria constituição da cultura de uma época.
Um dos aspectos mais importantes da memória radiofônica é a mú-
sica. A chamada “fase de ouro” da MPB consagra compositores e intér-
pretes que até hoje são apreciados não só por antigos radiouvintes, mas
também por músicos e estudiosos como Jairo Severiano e Zuza Homem
de Mello:
66 SELO EVOCAÇÃO
anterior com a criação do samba, da marchinha e de ou-
tros gêneros; a chegada ao Brasil do rádio, da gravação
eletromagnética do som e do cinema falado; e, principal-
mente, a feliz coincidência do aparecimento de um consi-
derável número de artistas talentosos numa mesma ge-
ração. Foi a necessidade de preenchimento dos quadros
das diversas rádios e gravadoras surgidas na ocasião que
propiciou o aproveitamento desses talentos.97
SELO EVOCAÇÃO 67
O projeto desenvolvido por Paulo Iabutti, este produtor obstinado,
também é reconhecido por José Ramos Tinhorão, estudioso e profundo
conhecedor da história da música popular brasileira. É interessante ci-
tar um trecho escrito por ele na contracapa do primeiro LP lançado pelo
Evocação:
Considerações finais
O circuito cultural que se formou nas décadas de 1930 a 1950, em espe-
cial com o advento do rádio e o crescimento e consolidação da indústria
do disco, projetou inúmeros compositores e intérpretes que ainda hoje
sobrevivem no imaginário nacional. A valorização do artista ofereceria
a possibilidade de participação dos excluídos nesse circuito. José Ramos
Tinhorão, ao discutir o aspecto da profissionalização do músico, com
expressiva contribuição do rádio, cita como exemplo a letra de uma
68 SELO EVOCAÇÃO
música composta por Germano Augusto e Gabriel Meira, intitulada
“Maestro caixa de fósforo”:
SELO EVOCAÇÃO 69
com um exemplo: Bing Crosby era ouvido por 0,5% dos
entrevistados, enquanto Carlos Galhardo tinha 26,7%
da preferência. A música não foi o melhor veículo do
americanismo.104
70 SELO EVOCAÇÃO
A constituição do mercado fonográfico que se verifica a partir da
década de 1980, período em que surge o selo Evocação, tem como base
a inserção do Brasil no contexto da modernidade, que busca no público
jovem o seu perfil de consumidor. Neste sentido é extremamente perti-
nente um exemplo dado por Eduardo Vicente, ao discutir a organização
da indústria na década de 1970 e citar como destaque a saída de André
Midani da direção da Polygram, em 1976, quando este tem a missão de
fundar a WEA do Brasil: “A afirmação de que o futuro da indústria está
no rock e o cast de sua gravadora será formado apenas por artistas com
menos de 30 anos, que saibam administrar suas carreiras, é sintomática
do novo momento que se inicia”.107 Para uma cultura da presentificação
nada mais justo do que excluir aqueles que cantaram a história da mú-
sica popular brasileira, movimento que está presente tanto no campo
privado como na esfera pública.
Ao privilegiar a história deste selo paulistano, busca-se mostrar que
mesmo um pequeno selo, com todas as dificuldades inerentes, pode
ajudar a “retirar do esquecimento” inúmeros intérpretes e composito-
res, depositários de parte da memória musical do país, e assim contri-
buir para a circulação de sons que transitam no espaço etéreo que a
música pode proporcionar.
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SELO EVOCAÇÃO 73
INDÚSTRIA FONOGRÁFICA
EM MINAS GERAIS
Angela de Moura
Nair Prata
Sônia Pessoa
Waldiane Fialho
Wanir Campelo
108. Pirataria é entendida aqui como cópia indevida de programas de informática, de fitas
de vídeo ou de som.
As multinacionais em Minas
Das quatro maiores empresas da indústria fonográfica mundial, três
delas estão representadas em Minas Gerais, com escritórios regionais
localizados em Belo Horizonte: EMI Music, Universal Music e Sony. As
atividades de cada uma estão relacionadas a seguir, a partir do depoi-
mento dos profissionais que as representam e das informações publi-
cadas nos sites das empresas. Um dos termômetros das gravadoras é o
relatório diário da Crowley Broadcast Analysis do Brasil, empresa que
monitora a quantidade de vezes que determinada música é veiculada
em uma emissora. A empresa tem escritórios em diversos Estados bra-
sileiros. A partir da gravação da programação, a Crowley emite rela-
tórios nos quais se pode consultar a música, a emissora, o horário em
que foi tocada e o número de execuções diárias. Para as gravadoras, o
112. A transcrição das entrevistas foi realizada por bolsistas e voluntários integrantes do
Projeto de Extensão Radioescola Ponto Com, coordenado pela professora Wanir Campelo
da Uni-BH: Juliana Garcia, Bianca Vargas, Michelle Leal, Rosânia Felipe, Marney Vilela e
Thiago Pereira.
EMI Music
A EMI (Electric and Musical Industries) é uma das quatro maiores gra-
vadoras do mundo. Sua sede fica em Londres e ela opera em 25 países.
Em Minas, está há quase meio século e hoje é representada pelo pro-
motor de vendas e divulgador Alessandro Adolfo Viriato,114 que traba-
lha no setor há 19 anos e está na EMI há cinco. Fica também sob a
responsabilidade dele representar a EMI nos Estados de Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul. O divulgador da EMI Music tem rotina atribula-
da. Vive com um olho no dial para verificar as músicas mais tocadas e
outro nas promoções realizadas em parceria com as emissoras. “Levo
o produto novo e apresento a intenção da companhia diante daquele
produto. Como estou há muito tempo no mercado, conheço cada um
em cada veículo dessa cidade e todos também já me conhecem. Temos
uma relação muito respeitosa, mas muito informal também. Trocamos
impressões, batemos um papo e discutimos estratégias”, afirma Viriato.
Ao representante de Belo Horizonte cabe o recebimento da música que,
na maioria das vezes, chega por e-mail. Grava-se daí o CD, que será
levado às emissoras de rádio para ser distribuído e executado. “É uma
negociação que pode depender de promoções com o artista, sua agenda
de shows e uma série de outros fatores”.
Todos têm metas a serem alcançadas. As de Viriato chegam mensal-
mente e servem tanto para divulgação, quanto para venda. Para atingi-
las, ele garante que mantém contato constante com os responsáveis
Universal Music
Até 2007, as tarefas na Universal em Minas Gerais eram divididas. Havia
um divulgador, um representante comercial para a capital e outro para
o interior. Em 2008, a exemplo do que aconteceu com a EMI, todas
essas funções se concentraram nas mãos de um único profissional:
Sílvio Antônio de Moraes, que está há 30 anos na mesma gravadora. A
Universal não tem mais a sala onde funcionava, em 2008, localizada na
Avenida Afonso Pena, bem no coração da cidade. Hoje, Sílvio tem o seu
escritório em casa mesmo. “Passo a maior parte do meu tempo levando
meu produto para as rádios. Minha missão é transformar a música lan-
çada pela gravadora em um produto conhecido mundo afora.”115
Os selos independentes e o grande número de artistas por eles re-
presentados trouxeram duras consequências ao mercado fonográfico,
entre elas a dificuldade para emplacar músicas no ranking das mais
tocadas em emissoras de rádio. Percebe-se que não tem sido nada fácil
conseguir esse espaço, mesmo que seja para um artista consagrado.
Se antes se lançava uma música qualquer de um grande artista com
116. Idem.
117. Sony compra 50% restantes da gravadora Sony BMG por US$ 900 mi. Disponível
em http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,OI3054781-EI4795,00.html. Acesso em
5/08/2008.
118. Entrevista ao grupo de pesquisa em 07/2008.
Considerações finais
Pelo menos dois fenômenos provocam mudanças no mercado fonográfi-
co mundial, com consequência, como não poderia deixar de ser, para as
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Ayêska Paulafreitas
Salvador, anos 60
Desde a segunda metade da década de 1950, na esteira do desenvolvi-
mentismo do governo JK, a cidade do Salvador vivia em ebulição cultu-
ral. O reitor Edgard Santos, da Universidade da Bahia, compreendendo
a vocação artística da cidade, criou os Seminários de Música (1954),
para onde o maestro Kollreuter levou a dodecafonia; a Escola de Dança
(1956) que viria a ser o primeiro curso superior de dança no Brasil, co-
ordenado pela polonesa Yanka Rudzka, uma das pioneiras na dança mo-
derna mundial; e a Escola de Teatro (1956), dirigida por Eros Martim
Gonçalves, que contava com professores do Actor’s Studio. Somando-se
à antiga Escola de Belas Artes,130 esses cursos atraíam gente de todo
130. Criada em 1877 por Miguel Navarro y Cañizares e incorporada à Universidade por
Edgard Santos em 1948.
Gravações JS
Três meses antes da inauguração da TV, em agosto de 1960, o radia-
lista e músico Jorge Santos,132 atento ao mercado que surgiria, criou a
Gravações JS, que viria a ser a primeira gravadora e o primeiro selo mu-
sical da Bahia, o JS Discos – na época, só havia uma gravadora em todo
o Norte-Nordeste: a Mocambo, em Pernambuco (Sousa; Maranhão Filho,
133. Segundo Fred Souza Castro (2007), diretor da TV Itapoan nos seus primeiros anos,
a publicidade veiculada, com produção local, era feita ao vivo ou com imagens em still e
áudio em off, no formato do spot radiofônico. Os slides que surtiam melhor efeito na tela
da TV eram os produzidos com letras amarelas em fundo preto, que ajudava a “descolar”
as letras, dando a impressão de que saltavam. Raramente exibia-se um filmete, mas este
não era produzido na Bahia.
134. “Você pensava que fosse impossível/Mas afinal seu calçado chegou/ É mais durável,
pois é flexível/ É bossa nova que a Calba criou” – era a letra do jingle. Mas, além dos
Calçados Calba, havia outros clientes assíduos: lojas O Cruzeiro, Milisan, Polígono Filmes,
Fratelli Vita, Casa Alberto, Laranja Turva, Envelopes de Ouro.
135. Batatinha é Oscar da Penha; Tião Motorista é Raimundo Cleto; Riachão é Clementino
Rodrigues.
136. Revelação do programa A Caminho da Grande Chance (preliminar local do A Grande
Chance, de Flávio Cavalcanti), Armandinho foi apontado como gênio do bandolim. Na
década de 1970, criou com outros músicos a banda A Cor do Som e hoje é guitarrista
mundialmente reconhecido.
Nesse mesmo ano, Gilberto Gil fez sua primeira gravação como in-
térprete em um 78 RPM em cera de carnaúba, com as músicas “Coça,
Coça Lacerdinha” e “Povo Petroleiro”, uma homenagem de Everaldo
Guedes, funcionário da Petrobras, aos colegas de profissão. Em 1963,
gravou um compacto duplo em 33 RPM, Gilberto Gil: sua música, sua in-
terpretação, no qual aparece como autor e intérprete de quatro músicas:
“Serenata do Telecoteco”, “Maria Tristeza”, “Meu Luar, Minhas Canções”
e “Vontade de Amar”. Nesse mesmo ano, saiu seu segundo disco pela JS,
também em 78 RPM, com as músicas “Decisão (Amor de Carnaval)”, de
sua autoria, e “Vem Colombina”, de Silvan Castelo Neto e Jorge Santos.
A JS era uma extensão da TV Itapoan, que foi responsável pela re-
velação de praticamente todos os artistas da música surgidos naquela
década. Ali, os talentos locais tinham oportunidade de encontrar ar-
tistas vindos “do Sul como Elis Regina, Jair Rodrigues, Silvio Caldas,
Clara Nunes, Lana Bittencourt, Gregório Barrios e muitos outros, nos
dava a oportunidade de comparar nosso valor, sentíamos quase sempre
que estávamos no mesmo nível, entretanto, estávamos na Bahia” (José
Emmanuel, 2004). Estar na Bahia significava não ter acesso às gravado-
ras, à divulgação, ao sucesso.137
137. Em seu lugar de origem, a música baiana sofria preconceito: “Um dia apresentei a
Lacerda, que era diretor musical, o Trio Inema, ele os colocou no programa, iriam cantar
uma música minha. Miranda Filho [diretor da emissora] não gostava nem permitia que
cantássemos músicas da Bahia desconhecidas, e quando perguntaram a eles de quem era
Studios WR
No que se refere à gravação de música e à existência de um selo, a JS
foi pioneira e, durante toda a década de 1960, esteve sozinha no mer-
cado de gravações da Bahia,138 mas em 1975 o administrador Wesley
Rangel instalou um novo estúdio no edifício A Tarde, na Praça Castro
Alves, para atender ao mercado publicitário.139 Até o início da década
de 1980, a quase totalidade da produção dos Studios WR Gravações e
Produções era de jingles para rádio e TV, com algumas raras exceções:
os discos São Jorge dos Ilhéus, de um grupo de instrumentistas lidera-
dos por Saul Barbosa; a música caatingueira de Ubiratan; Os Ingênuos;
Osmar Pinheiro; Josmar Assis; Sertania: Sinfonia do Sertão (1983), de
Ernest Widmer e o experimentalismo de Walter Smetak.
Para atender ao mercado de jingles, Rangel mantinha uma banda
de estúdio, cuja base era formada por Toninho Lacerda nos teclados e
arranjos, Carlinhos Marques no baixo e Leléu na bateria. Aos poucos a
banda foi ampliando-se, com os vocalistas Silvinha Torres e Paulinho
a música, eles disseram que era de Vinicius de Moraes, assim cantaram ‘Menino do Acaçá’
várias vezes sem problema. Lacerda se divertia” (José Emmanuel, 2004).
138. Há notícia de gravações de jingles para campanhas políticas em estúdio de emissora
de rádio no Centro Histórico de Salvador: “Nós fizemos uma gravação, e não foi pra cá.
Foi uma gravação pra político. Música. Era Leandro Maciel, que era sergipano. O maestro
foi Aurindo, o saxofonista que toca com Roberto Carlos, ele vive no Rio. Eu me lembro que
Deny Moreira estava cantando” (Cacau, 2004).
139. A WR mudou-se depois para uma casa na rua Manoel Barreto, bairro da Graça, e hoje
tem sede própria, com vários estúdios, na rua Maestro Carlos Lacerda Garibaldi, bairro
do Rio Vermelho.
140. Nessa época houve uma certa mistura entre a Acordes Verdes, criada e batizada por
Luiz Caldas em 1980, que se apresentava no trio elétrico Tapajós, e a banda de estúdio
da WR, formada e contratada por Rangel. A maioria do músicos integrava uma e outra, e
ambas sofreram mudanças em suas formações. A Acordes Verdes aliava a sonoridade de
trio elétrico – duas guitarras baianas e baixo – às composições de artistas locais, que se
inspiravam no movimento de corpo do próprio público e nos fatos do cotidiano de bairros
populares. Tinha influências de outras bandas, especialmente a Chiclete com Banana, e
de compositores da geração anterior, como Moraes Moreira e Caetano Veloso, que deram
importantes contribuições ao carnaval baiano. Mas a banda de estúdio, dirigida por um
empresário, estava voltada para o mercado e visava ao lucro.
141. “Mrs Robinson” (Paul Simon, 1968); “Nouai” (Val Macambira e Enzo); “Visão do
Cíclope” (Jéferson Robson, Carlinhos Brown e Luiz Caldas).
142. Segundo Carlinhos Marques (2005), “Luiz Caldas já era um personagem de destaque
no [trio elétrico] Tapajós, como band leader, guitarrista e cantor, seguindo a trilha de
Moraes Moreira” e puxando o bloco Beijo com a banda que nominara de Acordes Verdes.
143. “Meu amor / Não se esqueça de mim / Por favor, diga que sim / Eu não consigo esque-
cer você / Ouça meu bem o que eu vou lhe dizer // Quero você / Quero você / Quero você
/ Todinha pra mim // Meu amor / Só uma condição / Pra me poder fazer você feliz / Quero
ser dono do seu coração / Você é a coisa que eu sempre quis // Quero você...” (Quero você,
de Carlos Santos e Alípio Martins).
144. Cf. http://www.salsa.com.br.
145. Faixas: “Magia” (L. Caldas), “Tilintar” (L. Caldas), “Visão do Cíclope” (Jeferson Robson,
C. Brown, L. Caldas), “Sonho bom” (Silvinha Torres, Paulinho Caldas, Alfredo Moura),
“Nouai” (Val Macambira, Enzo), “Fricote” (Paulinho Camafeu, Luiz Caldas), “Pinta jamai-
cana” (Edmundo Carôzo, L. Caldas), “A vida é assim” (Zé Paulo), “Contramão” (Silvinha,
Alfredo Moura), “Nara” (L. Caldas).
Nesse início dos anos 80, época de tantas aberturas, também co-
meçavam a ganhar mais espaço no carnaval os blocos afro – blocos
carnavalescos de afirmação étnica e música de base percussiva –, e o
Olodum despontava com seus tambores sob o comando de Neguinho
do Samba, mostrando uma ritmia própria que atraiu músicos estran-
geiros como Paul Simon e Mickael Jackson ao Brasil para gravar seus
clipes no Pelourinho. Essa levada – denominada samba-reggae – acabou
contribuindo para a formação da identidade que iria ter a nova música
baiana. O disco Magia, a banda Acordes Verdes e o reconhecimento da
música dos blocos afro, especialmente o samba-reggae do Olodum, de-
terminaram o carnaval de 1985 como o marco histórico do nascimento
de um movimento de renovação da música popular de rua batizado
pejorativamente de “axé music” por um jornalista adepto do rock.
Das ruas, a axé music foi para o programa do Chacrinha, que apa-
drinhou Luiz Caldas, Sarajane146 e Zé Paulo, dando visibilidade nacional
a uma música que nascia associada a uma coreografia alegre e sensu-
146. Sarajane caiu nas graças da Rede Globo e participou também de 14 programas “Os
Trapalhões”.
147. Do disco Daniela Mercury, produzido pela cantora e Wesley Rangel para a Eldorado.
148. A Atalho lançou as bandas Autômata, Cobalto, Malcom e Mirabolix (2005), Plane of
Mine e The Honkers (2006). A MUV não está presa a um estilo; lançou a banda Flauer e
administra uma casa de eventos.
149. A Maianga Discos e a Maianga Editora Musical são segmentos da Maianga Produções
e Promoções (2000), empresa do publicitário e fotógrafo Sergio Guerra que atua também
como editora de livros, produtora de vídeo e promotora de shows e eventos no Brasil e em
Angola. Lançou 18 CDs/DVDs.
150. Foram encontradas, ainda, referências aos selos Frangote, Plataforma de Lançamento
e Torto Fono Gramas (2006), este criado para bandas “que mesmo dentro do cenário inde-
pendente fazem um som nem um pouco fácil ou popular” (Sergio Franco Filho, in: www.
bahiarock.com.br). Em 2010, Paulo Brandão, do espaço Midialouca, onde se realizam
shows e venda de música independente, lançou o selo Caramuru.
151. Criada em 2005, por Jesus Sangalo, Fábio Almeida e Alexandre Lins, integra a holding
Caco de Telha, que cuida da carreira de Ivete Sangalo.
152. Segundo Ortiz (1995), o Estado autoritário da ditadura militar aprofunda medidas
econômicas do governo JK, reorganiza a economia brasileira e consolida-se o “capitalismo
tardio”. “Em termos culturais, essa reorientação econômica traz consequências imedia-
tas, pois, paralelamente ao crescimento do parque industrial e do mercado interno de
bens culturais, fortalece-se o parque industrial de produção de cultura e o mercado de
bens culturais” (p. 114). Ortiz afirma que os interesses do Estado – ao mesmo tempo re-
pressor e incentivador das ações culturais – e dos empresários da cultura são os mesmos,
diferenciando-se na ideologia, moralista do Estado e mercadológica dos empresários.
Estes se queixam do excessivo rigor da censura, que acarreta prejuízos materiais, o que
permite deslocar a questão cultura/censura para o plano econômico (p.120). Ortiz acres-
centa que “o que caracteriza a situação cultural nos anos 60 e 70 é o volume e a dimensão
do mercado de bens culturais” (p. 121), cuja expansão podemos comprovar nos números:
livros, de 43,6 milhões de exemplares (1966) para 112,5 milhões (1976); filmes, crescem de
13,9% do mercado (1971) para 35% (1982). O mercado fonográfico deu uma arrancada em
1970, em parte devido à facilidade de aquisição de eletrodomésticos: “entre 1967 e 1980
a venda de toca-discos cresce 813%” e o faturamento das empresas fonográficas cresce
1.375% entre 1970 e 1976 (p. 127). Em 1970 havia cerca de 4 milhões de domicílios com
aparelho de TV; em 1982, eram mais de 15 milhões, e o hábito se disseminara por todas
as classes sociais (p. 130).
153. 1) de 1948 a 1955, houve uma intensa concentração corporativa em quatro compa-
nhias, com controle total do fluxo da produção; 2) de 1956 a 1959, selos independentes
ganham maior expressão e novos artistas e segmentos não prestigiados ocupam posi-
ções predominantes; 3) de 1959 a 1963, o cenário manteve-se estável; 4) de 1964 a 1969,
uma re-arrumação no mercado, motivada pelo surgimento de uma segunda geração do
rock, provoca a volta à concentração nas grandes gravadoras; 5) de 1969 a 1973, selos
independentes são adquiridos pelas majors, uma estratégia para atender a toda gama
de gosto dos consumidores, com a ampliação do leque de artistas; no entanto, apostam
que a tendência seria retornar à posição inicial, de concentração e total controle do fluxo
pelas majors.
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Histórico
O surgimento das sociedades e clubes musicais na segunda metade do
século XIX, aliado ao hábito das serenatas e dos saraus importados da
Europa pelos filhos dos fazendeiros que vão a Paris e Coimbra realizar
seus estudos superiores, amplia o público receptor de música erudi-
ta no Brasil. Entidades como o Club Mozart (1867), o Club Beethoven
(1882) e a Sociedade de Concertos Clássicos (1883), no Rio de Janeiro, e
o Club Haydn(1883), em São Paulo, ampliam o repertório executado e
trazem virtuoses para essas cidades. Ainda em 1883, o público carioca
154. O registro de poesias, normalmente interpretadas por seus próprios autores, foi o
aspecto mais importante da atuação da Festa, que gravou trabalhos de Carlos Drummond
de Andrade, Manoel Bandeira, Pablo Neruda e Rafael Alberti, entre muitos outros. No
campo da música popular, ela foi responsável pela gravação do álbum Canção do Amor
Demais (Elizete Cardoso, 1958), considerado como o marco inaugural da Bossa Nova. A
atuação da Festa na área da música erudita será discutida adiante.
155. A CBD, Companhia Brasileira de Discos, fora fundada em 1945 com o nome de Sinter.
Pertencia à família Pittigliani desde 1955 e, em 1958, fora adquirida pela Philips, sendo
a base a partir da qual essa gravadora (hoje parte da Universal Music) iniciou suas ativi-
dades no Brasil.
159. http://distribuidoraindependente.uol.com.br/selo/index.jsp?id=452
160. Uma discussão mais aprofundada sobre essa crise pode ser encontrada em VICENTE,
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rado. São Paulo, ECA/USP, 2002.
162. A Sony Classical chega ao Brasil, com um pacote de primeira qualidade. Jornal da
Tarde, 21/02/1991. O artigo é assinado por J. Jota de Moraes.
163. Pela legislação brasileira e internacional, uma obra musical torna-se de domínio
público 70 anos após a morte do autor. Vale sublinhar que o domínio público refere-se
à composição em si, e não ao registro fonográfico, que sempre necessita de autorização
para ser utilizado.
164. Apesar disso, a Rádio Eldorado ainda inclui um programa de música erudita em sua
programação radiofônica e mantém em catálogo algumas gravações antigas.
165. A Pia Sociedade Paulina, assim como a Pia Sociedade Filhas de São Paulo, criada
um ano depois, em 1915, pertencem, assim, como outras instituições, à Família Paulina,
que compreende o conjunto das Congregações e Institutos Religiosos fundados pelo Pe
Alberione, conf. www.paulinos.org.br/site/quemsomos_6.jsp
166. “A Marco Pólo e o Brasil”, Jornal da Tarde, 16/05/1995. A matéria é assinada por Jota
J. Moraes.
167. A orquestra é dirigida atualmente pelo maestro John Neschling.
Conclusão
Diante do impasse vivido atualmente pela indústria fonográfica como
um todo, a produção musical erudita num país que, como o nosso, tem
pouca tradição na área, vive um momento particularmente complexo.
Introdução
A expressão é usada até os dias de hoje: “banca de jornais”. Mas numa
banca de jornais é comum encontrarmos, além de jornais e revistas,
uma oferta dos mais variados produtos: livros, CDs, DVDs, objetos cole-
cionáveis – como canetas e relógios – cigarros, balas, brinquedos... Até
meados dos anos 50, entretanto, uma banca de jornais vendia somente
jornais e revistas. Quando muito, um ou outro álbum de figurinhas. Em
169. Trabalho apresentado ao NP de Rádio e Mídia Sonora, do VII Encontro dos Núcleos
de Pesquisa da Intercom.
170. Informação prestada por José Fernando Martins, filho do editor José de Barros
Martins, no dia 3 de outubro de 2007.
171. Entrevista concedida por Pedro Paulo Poppovic ao autor no dia 8 de fevereiro de
2007.
172. Para muitos fascículos, a Abril chegou a contratar o trabalho de intelectuais, muitos
deles da USP, que estavam sendo perseguidos pela ditadura militar.
175. Nos aparelhos que seguiam o modelo do fonógrafo de Edison, as gravações eram
registradas em cilindros recobertos de cera.
O Disco de Bolso
Se as coleções de fascículos da Abril representam o poder de uma das
maiores editoras do país e foram realizadas num esquema altamente
industrial, encontra-se no outro extremo uma iniciativa do cantor, com-
positor e sempre rebelde Sérgio Ricardo, do ano de 1972: o Disco de
Bolso. A proposta, que tinha a parceria do semanário O Pasquim, era,
com recursos mínimos, romper as barreiras comerciais impostas por
gravadoras, emissoras de rádio e TV, produzindo discos independentes,
com gravações inéditas, para serem vendidos em bancas de jornais. O
primeiro deles, um “compacto simples” (disco de vinil com sete pole-
gadas de diâmetro e uma música de cada lado) tinha o título O tom de
Antônio Carlos Jobim e o tal de João Bosco. A ideia era sempre reunir uma
música desconhecida de um compositor consagrado e uma composi-
ção também desconhecida de um autor promissor. Esse primeiro disco
apresenta nada menos que a primeira gravação mundial de “Águas de
março”, cantada pelo próprio Jobim, e a primeira gravação de uma com-
posição – “Agnus Sei” – da então desconhecida dupla João Bosco (então
com 24 anos) e Aldir Blanc. O disco vinha juntamente com uma peque-
na revista, ao estilo do Pasquim, que trazia na sua primeira página um
artigo do próprio Sérgio Ricardo: “Qual é a do Disco de Bolso”, em que
177. Disco de Bolso: o tom de Antônio Carlos Jobim e o tal de João Bosco, p. 1
Lobão e outracoisa
Com a sua costumeira rebeldia, discordando dos critérios artísticos das
grandes gravadoras e desconfiando da lisura das suas contabilidades,
em 1999 o cantor e compositor Lobão resolveu lançar o seu CD A vida é
doce em bancas de jornais (além de algumas megastores e sites de ven-
das). O resultado não decepcionou: foram vendidos cem mil exemplares
189. Eduardo Vicente. Música e disco no Brasil: a trajetória da indústria nas décadas de 80
e 90.
190. www. cliquemusic.uol.com.br. Último acesso em 4 de outubro de 2007.
Fascículos e revistas
CLÁSSICA: A história dos gênios da música. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
DEUTSCHE GRAMMOPHON COLLECTION. Barcelona: Ediciones Altaya, 1999.
DISCO DE BOLSO: O tom de Antônio Carlos Jobim e o tal de João Bosco. Rio de
Janeiro: L&C Editora, n. 1, 1972.
GIGANTES DO JAZZ. São Paulo: Abril Cultural, 1980/1981.
OS GRANDES CLÁSSICOS. Madri: Ediciones del Prado, 1994.
GRANDES COMPOSITORES. Barcelona: Editorial Sol90, 2005.
GRANDES COMPOSITORES DA MÚSICA UNIVERSAL. São Paulo: Abril Cultural,
1968.
AS GRANDES ÓPERAS. São Paulo: Abril Cultural, 1971.
HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. São Paulo: Abril Cultural,
1970/1971.
HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: GRANDES COMPOSITORES (nova
versão). São Paulo: Abril Cultural, 1982/1984.
JAZZ. Madri: Ediciones del Prado, 1996.
JÓIAS DA MÚSICA. São Paulo: Caras, s/d
THE JAZZ MASTERS: Os reis do Swing. Barcelona: Ediciones Folio S.A., 1996.
MESTRES DA MÚSICA. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
MESTRES DO BLUES. Barcelona: Ediciones Altaya, 1996.
MÚSICA PELOS MESTRES. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
MÚSICA SACRA. Barcelona: Ediciones Altaya, 1996/1997.
A MÚSICA DO MUNDO. São Paulo: Caras, 2004.
OPERA COLLECTION. Orbis Fabbri.
OUTRACOISA. Rio de Janeiro: L&C, 2007.
POVOS E PAÍSES. São Paulo: Abril Cultural, 1972.
ROYAL PHILHARMONIC ORCHESTRA. Madrid: Mediasat Group, 2005.
Tese
VICENTE, Eduardo. Música e disco no Brasil: a trajetória da indústria nas décadas
de 1980 e 1990. São Paulo: Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e
Artes, 2002. (Tese de doutorado.)
Periódicos
CORREIO DA BAHIA, 16 set. 2007.
Sites
www.altaya.es
www.azulmusic.com.br
www.abril.com.br/institucional/50anos/fasciculos.html
www.delprado.com.
www.folio-sa.es
www.hho.co.uk
www.mediasatgroup.com
www.musicaclassica.folha.com.br
www.revistaoutracoisa.com.br.
www. cliquemusic.uol.com.br
193. No roteiro de rádio, Loc é abreviação para locutor, assim como Tec indica acionamen-
to da técnica de áudio. Neste roteiro, procuramos manter grafia e modo para apresenta-
ção original.
Os concertos e os “Discocuecas”
A estratégia de visibilidade pelo oferecimento de shows de bandas e ar-
tistas locais, na verdade, completava o conjunto de ações iniciadas com
as aparições de Hermes Aquino, Fernando Ribeiro, Almôndegas, dentro
da programação da Continental, anterior à organização do “Vivendo a
vida de Lee”.
Pela ordem, primeiro fora necessário gravar as músicas, em muti-
rão. Depois, obter espaço mínimo e ir ampliando-o para apresentações
“Inconsciente Coletivo”
Ângela Lângaro, Alexandre Vieira e José Antônio Araújo são acadêmi-
cos de Psicologia da UFRGS que decidem formar o grupo Inconsciente
Coletivo, que ergue, na cidade, a trilha musical do grupo Halai Halai,
investindo na criação local da música country e de protesto. Logo,
Anginha, Xandi e Tonho conquistam o público pelos belos arranjos me-
lódicos e pelas letras de inspiração sessentista, de linha aproximada,
espelhada no proposto poético de Bob Dylan.
Naqueles dias, a pequena e brava sede do Diretório Acadêmico dos
Institutos Unificados – Daiu, antigo Instituto de Filosofia, Ciências
Sociais e Letras, fica ao lado do famoso Bar do Antônio e serve como lo-
cal para os primeiros encontros musicais, além de espaço para os deba-
tes políticos, discussões de conjunturas e realização de peças escritas, à
base do velho mimeógrafo.
Logo, a participação na mostra do III Musipuc levaria o “Inconsciente”
para palcos e públicos maiores, até a gravação de disco, pela Tapecar, e
novas excursões. Atualmente, Xandi continua a carreira como músico
profissional, sendo também um dos sócios-proprietários, hoje, do pub
Sgt. Pepper’s. Tonho tornou-se profissional liberal, e Anginha é psicólo-
ga clínica, tendo acrescido o sobrenome Becker do marido.
Além de peripécias, como acima apresentadas, o presente trabalho
resgatou, parcialmente, a história da Rádio Continental e seu protago-
nismo diante da indústria fonográfica. O trabalho é recorte de capítulo
Referências bibliográficas
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Compreensão da Ciência Histórica no Pensamento Contemporâneo. Porto Alegre:
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VEYNE, Paul. Como se escreve a história e Foucault revoluciona a história. Brasília:
UnB, 1998.
Micael Herschmann
194. Uma versão mais resumida deste artigo foi publicada na coletânea intitulada Novos
Rumos da Cultura da Mídia (Ed. Mauad X), em 2007.
195. Agradeço não só ao CNPq e à Faperj pelo apoio a esta pesquisa, mas também às
bolsistas de iniciação científica Carolina Leal e Taiane Linhares pela colaboração na ela-
boração deste artigo.
196. Antes da era digital e em rede, a indústria fonográfica utilizou vários formatos,
tais como cilindros, discos de vinil (álbuns simples e LPs) e as fitas K-7 (Shuker, 2005,
p. 143-144).
197. Nos dados divulgados pela IFPI em 2004, as indies detinham 28,4% do mercado (IFPI,
2005).
199 Não confundir com a famosa banda de heavy metal norte-americana, cujo nome o
grupo assumiu como forma de homenagem.
200. Não é um fenômeno apenas local: em 2006, a entrada para o show de Elton John em
Las Vegas (EUA) custou em média 1.300 reais, e a de Robbie Williams, em Hong Kong, algo
em torno de 600 reais (Sandall, 2007).
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HERSCHMANN, Micael. Lapa, cidade da música. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
Andréa Pinheiro
Mestre em Educação Brasileira (UFC) e professora da Universidade
Federal do Ceará
Angela de Moura
Jornalista e mestre em Educação (PUC Minas). Professora do Centro
Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH). Coordenadora do Laboratório
de Rádio do Uni-BH.
Ayêska Paulafreitas
Mestre em Letras (UFBA) e doutoranda em Ciências Sociais (Unicamp).
Professora do Curso de Comunicação Social da UESC (BA).
Eduardo Vicente
Professor no Departamento de Cinema, Rádio e TV (CTR) da ECA/USP,
vice-coordenador e professor do Programa de Pós-Graduação em Meios
e Processos Audiovisuais do mesmo departamento. A pesquisa desen-
volvida pelo autor para a produção desse texto foi realizada dentro do
projeto “O Outro Lado do Disco: a memória oral da indústria fonográfi-
ca brasileira”, desenvolvido entre 2007 e 2009 com o apoio da FAPESP
– Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Micael Herschmann
Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação
da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do NEPCOM-
ECO/UFRJ.
Nair Prata
Jornalista e doutora em Linguística Aplicada (UFMG). No Centro
Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) é professora do curso de
Jornalismo e do curso de especialização Criação e Produção em Mídia
Eletrônica – Rádio e TV e coordenadora do Núcleo de Imprensa.
Sônia Pessoa
Jornalista e mestre em Linguística (UFMG). Professora do Centro
Universitário Newton Paiva e da Faculdade Estácio de Sá. Professora do
curso de especialização Criação e Produção em Mídia Eletrônica – Rádio
e TV do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH).
Waldiane Fialho
Publicitária e mestre em Artes Visuais (UFMG). Professora e pesquisa-
dora do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Estácio de Sá
de Belo Horizonte. Professora dos cursos de especialização Criação e
Wanir Campelo
Jornalista e mestre em Comunicação (Universidade São Marcos-SP).
Professora do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Belo
Horizonte (Uni-BH). Coordenadora do projeto de extensão Radioescola
Ponto Com do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH).
Coordenadora e professora do curso de especialização Criação e
Produção em Mídia Eletrônica – Rádio e TV do Centro Universitário de
Belo Horizonte (Uni-BH).