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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – UFPB –5 a 9/9/2022

O que toca nas emissoras paraibanas: uma análise sobre os gêneros musicais em
tempos de rádio expandido1

Reginaldo VENÂNCIO JÚNIOR2


Patrícia Monteiro Cruz MENDES3
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB

RESUMO

Este artigo tem o objetivo de discutir a maneira como cinco emissoras de rádio FM da
capital paraibana estruturam sua programação musical, compreendendo ainda se possuem
plataformas digitais e se há a preocupação em valorizar a cultura do ambiente em que
estão inseridas. O método de pesquisa tem abordagem qualitativa e finalidade descritiva,
tendo como base a musicologia da escuta. O estudo fundamenta-se nos conceitos de rádio
expandido, convergência midiática e rádio hipermidiático, balizando-se também em
conceitos da etnomusicologia. A pesquisa identificou que, mesmo havendo
predominância da música brasileira nas rádios paraibanas, apenas 3,85% da programação
é dedicada à produção local.

PALAVRAS-CHAVE: rádio; mídia sonora; consumo de áudio; música paraibana.

INTRODUÇÃO

Sabe-se que a música é uma manifestação cultural importante e que o rádio é um


veículo de comunicação essencial para a difusão dos gêneros musicais e dos artistas,
propagando, por meio das ondas sonoras, mensagens diversas que tocam e provocam a
sociedade. O presente artigo tem o objetivo de investigar a maneira como emissoras de
rádio na Paraíba estruturam sua programação musical, compreendendo ainda se possuem
plataformas digitais e se há a preocupação em valorizar a cultura do ambiente em que
estão inseridas. Tomando como base alguns conceitos da etnomusicologia4, e tentando

1Trabalho apresentado no GP Rádio e Mídia Sonora, XXII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento
componente do 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (PPJ) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e-mail:
reginaldojppb@hotmail.com.br.
3Orientadora do trabalho. Professora da graduação e da pós-graduação em Jornalismo na Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), e-mail: patricia.monteiro@academico.ufpb.br

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Campo de pesquisa interdisciplinar repleto de ferramentas de pesquisa tomadas de empréstimo, e compostas a partir
de teorias e métodos de suas disciplinas irmãs, tais como a sociologia, a antropologia, a lingüística e a etnografia,
dentre outras (MUKUNA, 2008).

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compreender o momento histórico que influenciou a música brasileira numa determinada


época, trazemos uma citação de Alan Merriam, explicando sua visão a respeito da música:
A música é um produto do homem e tem estrutura, mas sua estrutura
não pode ter existência própria dissociada do comportamento que a
produz. Para entender porque uma estrutura musical existe como existe,
também devemos entender como e por que o comportamento que o
produz é como é, e como e por que os conceitos que subjazem a esse
comportamento são ordenados de modo a produzir a forma
particularmente desejada de som organizado (MERRIAM, 1964, p.7).

A década de 80 no Brasil foi fortemente marcada por acontecimentos políticos e


artísticos que mudaram a imagem do país perante a comunidade mundial e ainda
reverbera os efeitos destes acontecimentos nos dias atuais. A anistia política, o processo
de eleição das Diretas Já e o Rock in Rio são algumas destas manifestações. A Ditadura
Militar chegaria ao fim com a assinatura da Lei da Anistia em agosto de 1979 que
concedia perdão para quem tinha se oposto ao período governado pelos militares e
permitiria a volta dos exilados para casa (WESTIN, 2019). Alguns partidos políticos
foram criados nesta época, a exemplo do Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido
Democrático Trabalhista (PDT).
Uma pressão popular reivindicava o voto direto, direito de escolher o presidente
da república, através da emenda Dante de Oliveira. Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo
Neves seria eleito (ainda de forma indireta) o primeiro presidente civil do Brasil após o
fim da Ditadura Militar (MARTINS, 2022). Muito destas reivindicações (e protestos)
foram evidenciadas em letras de música, algumas delas nos festivais realizados ainda nos
anos 60, como ‘Caminhando (Pra não dizer que não falei das flores)’ do compositor
paraibano Geraldo Vandré em 1968 e ‘Apesar de Você’, um recado direto à ditadura, de
autoria de Chico Buarque, lançado em 1970 (SEVERIANO e MELLO, 2006).
No início dos anos 80, a juventude brasileira mostrava sua indignação e rebeldia
também através de canções, principalmente num estilo que marcaria a década: o rock (que
ganhou vários apelidos como BRock, Rock brazuca ou ainda pop rock nacional). Esse
movimento ganharia corpo a partir de 1982 a reboque do surgimento da banda Blitz
(RODRIGUES, 2009). Surgem então dois equipamentos imprescindíveis para esta
consolidação no Rio de Janeiro, e daí para o resto do país: a casa de shows Circo Voador
e a Rádio Fluminense FM.
Conhecida como a Maldita (ESTRELLA, 2010), a Rádio Fluminense foi o vetor
principal de divulgação das novas bandas que surgiram nesse período e que se

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beneficiavam dos hábitos consolidados de consumo musical através das ondas hertzianas
e das estratégias de marketing das gravadoras, como explicam Campos e Kischinhevsky:
As FMs musicais, consolidadas no Brasil entre os anos 1970 e 1980,
constituíam lugar privilegiado de escuta, servindo às grandes
gravadoras como vitrine para a inovação artística e também como
promotoras de vendas, ao auxiliarem na construção do sucesso
comercial por meio da (intensa) repetição de fonogramas (CAMPOS e
KISCHINHEVSKY, 2015).

Para Araújo (1999), essa massiva execução em rádios e uma suposta


vulnerabilidade do gosto popular são responsáveis por estabelecer um determinado
gênero musical no consciente coletivo, privando o público de ter acesso aos bens culturais
e cultivo de manifestações próprias.
Esta estrutura permaneceria até meados da última década do século XX, quando
surgem a internet e os processos de privatização da telefonia brasileira e o império das
gravadoras começa a ruir. Com a progressiva melhoria no tráfego de dados em sintonia
com o avanço da telefonia privada móvel e a crescente mudança da forma de se consumir
música, surgem os serviços de streaming e as chamadas rádios sociais como Spotify e
Deezer responsáveis por mobilizar as emissoras tradicionais de rádio a se adaptarem a
este novo modelo de interação (KISCHINHEVSKY, 2016).
É importante ressaltar que o presente estudo é um recorte de pesquisa de mestrado
ainda em andamento, iniciado em março deste ano junto ao Programa de Pós-Graduação
em Jornalismo (PPJ) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

ONDAS HERTZIANAS E DIVULGAÇÃO MUSICAL

O compositor baiano Elomar5 contou certa feita que estava saindo de sua fazenda
em direção ao centro da cidade para despachar encomendas pelo correio quando viu um
rapaz na beira da estrada a pedir uma ponga (carona, em seu dialeto sertanejo). Ao subir
na camionete e se acomodar, o rapaz trazia consigo uns compactos6 em suas mãos.
Perguntando de que artista se tratava teve como resposta: Michael Jackson!

5.Elomar Figueira Melo, compositor e violonista de Vitória da Conquista, nascido em 21 de dezembro de 1937, ainda
em atividade, compondo e promovendo concertos (PORTEIRA, 2022).
6. Discosde sete polegadas com cerca de 3 a 5 minutos de duração de cada lado, lançado por artistas para divulgar as
músicas de trabalho. Podiam ser simples ou duplos; também conhecidos como EP’s ou singles ou ainda discos de 45
rpm (VIEIRA, 2022).

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Entre eles estava a encomenda composta de vários LPs7 de O Auto da Catingueira,


lançado de forma independente em 1983, sétimo trabalho fonográfico de Elomar, a quem
parecia inconcebível o alcance que tinha um artista dos Estados Unidos da América
(EUA) conseguir escoar seu produto até os confins do sertão profundo, Vitória da
Conquista no caso, ainda mais para um compositor independente como ele, um artista
praticamente anônimo em seu país (TV MINAS, 2022).
O compacto em questão, possivelmente, trazia músicas do álbum Thriller, um dos
mais vendidos de todos os tempos no mundo e que até o ano de 2018 tinha alcançado a
marca de 32 milhões de cópias só nos EUA, permanecendo como álbum mais vendido
até então (INSIDER, 2022).
Como o rapaz conquistense teria descoberto a música de Michael Jackson senão
pelas ondas do rádio? Veículo que nos anos 80 era o grande vetor de divulgação musical
e sonho de realização de qualquer artista iniciante. Artistas e bandas assim que dispunham
de algum material próprio para mostrar cumpriam a peregrinação de visitar as estações
de rádios e escritórios de gravadoras munidas com fitas K78 (também chamadas de fita
demo, de demonstração) para se fazer ouvir. Evandro Mesquita, cantor e líder da banda
Blitz, contou no livro biografia da banda sobre a emoção que sentiu ao ouvir a sua música
“Você não soube me amar” tocando no rádio de seu carro pela primeira vez: “Tive que
parar o carro mesmo, não conseguia continuar, chorando de tanta emoção; desabei”
(RODRIGUES, 2009, p. 72).
Tanto para a Blitz quanto para a maioria das bandas surgidas no Rio de Janeiro
até o final de 1984, foi de grande importância a vitrine ofertada pelo Circo Voador e a
Rádio Fluminense FM, que atuavam em parceria. O Circo Voador embora tenha sido
criado nas areias da praia do Arpoador, após problemas com a prefeitura precisou mudar-
se para o bairro boêmio da Lapa (onde se encontra até hoje). Sua inauguração no novo
endereço ocorreu no dia 23 de outubro de 1982 com show da Blitz (JUÇA, 2014). Este
evento teve apoio irrestrito da rádio que chegou a ajudar na produção dos shows com
sugestões de bandas e abrindo os microfones para entrevistas.
A rádio Fluminense FM tinha sido inaugurada alguns meses antes, em 01 de
março, tendo uma mulher na locução: Selma Boiron. Além dela outras 05 mulheres foram

7. O "long-play" (LP) é uma gravação em vinil, reproduzida a 33 1/3 rotações por minuto (rpm) (EHOW, 2022).
8. Abreviação de fita cassete. Tratava-se de fita magnética em dispositivo plástico que permitia a gravação de áudio.
Tecnologia surgida em 1963 como alternativa para a reprodução portátil de músicas (COELHO, 2022).

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contratadas para comandar os microfones (numa época em que o mercado era dominado
pelos homens), seguindo estratégias que diferiam das outras rádios, como deixar a escolha
das músicas a serem tocadas ao gosto das locutoras; não tocar a mesma música duas vezes
ao dia; nunca aceitar jabá9; abolir a música de trabalho, entre outras (ESTRELLA, 2010).
Esta parceria ajudaria a consolidar o rock nacional na década de 80 e culminaria na
escalação de bandas como Paralamas do Sucesso, Blitz, Kid Abelha, e Barão Vermelho
em um dos maiores festivais de música do mundo: o Rock in Rio.
O rádio é um veículo centenário e que tem se reinventado, acompanhando o
desenvolvimento tecnológico. A convergência de mídias é hoje, parte da natureza desse
relevante meio de comunicação. Jenkins (2013) define convergência como um “fluxo de
conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia” referindo-se “à cooperação entre
múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios
de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de
entretenimento que desejam”. Para Lopez, o rádio é hipermidiático, visto que
sua construção narrativa apresenta-se como multimídia, mas sempre
fundamentada em uma base sonora, por isso se configura como rádio
(...) e insere-se no contexto da tecnologização das informações,
sofrendo influências principalmente do rádio digital e da entrada deste
meio na internet (LOPEZ, 2010).

Kischinhevsky (2016), por sua vez, observa as múltiplas possibilidades de


produção, consumo e presença do rádio, afirmando que o veículo é expandido, visto que,
“extrapola as transmissões em ondas hertzianas e transborda para as mídias sociais, o
celular, a TV por assinatura, sites de jornais, portais de músicas”.
As emissoras paraibanas que são objeto de estudo deste trabalho demonstram a
presença hipermidiática e expandida do rádio, pois a emissão dos conteúdos sonoros vai
além das ondas hertzianas, estando as rádios presentes em outras mídias, tais como as
rádios sociais Spotify e Deezer, seus portais em sites da internet, youtube e facebook, para
citar alguns.

PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

9 Valor financeiro usado para forçar a execução de algumas músicas por imposição das gravadoras ou agentes dos
artistas.

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A partir de pesquisa de audiência divulgada pelo site rádios.com.br no mês de


julho de 2022, elencando 20 das emissoras de rádio da Paraíba mais acessadas na internet,
selecionamos cinco entre as dez primeiras estações de FM com maior número de ouvintes,
a saber: Arapuan FM 95.3, Cabo Branco FM 91.5, Mix FM 93.7, Correio FM 98 e
Tabajara FM 105.5 (RÁDIOS, 2022).
Para atingir os objetivos propostos no presente artigo, foi realizada pesquisa
exploratória através da internet, por meio dos sites e redes sociais digitais das emissoras
citadas. A análise ocorreu na primeira semana do mês de julho de 2022. O método de
pesquisa tem abordagem qualitativa e finalidade descritiva, sendo a análise realizada com
base na musicologia da escuta.
Dada a dificuldade de acesso à lista das músicas que são executadas nas emissoras,
procedemos à escuta das rádios escolhidas em períodos de 70 minutos aproximadamente,
nos dias 01/07/2022 (16h48-17h56), 04/07/2022 (15h24-16h26) e 05/07/2022 (9h09-
10h19), alternando os turnos da manhã e tarde. Este processo foi definido por Martha
Ulhôa como “musicologia da escuta”. Para a autora,
Escuta não só pelo próprio processo de percepção e produção de
sentido, como também com a relação de vai-e-vem entre presente e
passado que a caracteriza. Pois a escuta é sempre um processo ao
mesmo tempo sincrônico e diacrônico, ou seja, música escutada no
presente, para ter sentido, é comparada com outras músicas (ou
sonoridades) do passado, seja o passado imediato, seja o passado
distante. É uma triangulação constante dos eixos metonímicos e
metafóricos da produção de sentido (ULHÔA, 2021, p.110).

Nessa perspectiva, o artigo se caracteriza como estudo a respeito do rádio com


análise de produtos radiofônicos, plataformas midiáticas e escuta de gêneros musicais,
buscando compreender como se estrutura a programação musical das emissoras
paraibanas nesse atual cenário de convergência midiática e de rádio hipermidiático.
As escolhas que serviram de base para a análise foram definidas a partir dos
seguintes critérios: gêneros veiculados nas emissoras paraibanas; ano de lançamento dos
fonogramas (ou de relançamento); país de origem dos compositores e/ou intérpretes, se
há páginas de escuta na internet ou nas rádios sociais.
Com o auxílio do aplicativo Shazam, identificamos o título e o intérprete das
canções. Com o aplicativo Music GenreFinder descobrimos o gênero musical e ano de
lançamento do fonograma. A seguir, trazemos os resultados acerca da escuta e análise da
programação das cinco emissoras paraibanas que são objeto de estudo desta pesquisa.

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O QUE TOCA NAS RÁDIOS PARAIBANAS: ANÁLISE DAS EMISSORAS

Antes de apresentar quais os gêneros musicais e artistas que tocam nas rádios
pesquisadas, trazemos um breve contexto sobre cada uma delas.
Fundada em 02 de setembro de 1986, a Rádio Arapuan 95.3 FM é a primeira a
operar na freqüência modulada (FM) na cidade de João Pessoa, cobrindo 60 municípios
do estado paraibano e alcançando mais oito cidades nos estados vizinhos (quatro em
Pernambuco e quatro no Rio Grande do Norte (ARAPUAN, 2022). Tem em sua
programação a predominância dos ritmos que impõem a moda do momento em sintonia
com o que toma conta das rádios brasileiras conforme relatório da empresa de
monitoramento Crowley que analisou cerca de 350 emissoras de rádios em 14 cidades
brasileiras e detectou o sertanejo como gênero mais tocado (RANKING, 2021).
No caso observado, das 15 músicas relacionadas neste recorte 11 são do gênero
sertanejo (73,33%). Embora todas as músicas veiculadas sejam de origem brasileira
apenas uma é representante do mercado local. A cantora sertaneja Bizay é natural de
Patos, gravou seu primeiro DVD na cidade de Cabedelo (PB) e se divide entre as cidades
de João Pessoa e Goiânia (GO), epicentro da música sertaneja (BIZAY, 2022). O cantor
Diego Faria, mesmo tendo nascido em solo paraibano migrou na adolescência para São
Paulo onde iniciou sua carreira (SILVA, 2022). A Arapuan possue site onde se pode ouvir
outras três estações, ter acesso a alguns podcasts e conferir a programação da emissora.
Quadro 1 – Programação Arapuan FM

Fonte: autoria própria

Inaugurada em 5 de fevereiro de 1993, a Cabo Branco 91.5 FM faz parte da Rede


Paraíba de Comunicação, que conta também com a rádio CBN João Pessoa, o

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portal G1 Paraíba, as TVs Cabo Branco e Paraíba (afiliadas da Rede Globo). Apresenta
programação musical calcada na MPB e no Pop internacional, como proclamado em seu
site (CABO BRANCO FM, 2022) e condiz com os dados analisados, onde se percebe que
a maioria das músicas veiculadas é de origem estrangeira (60%) em contraste com a
música nacional (40%) e, destas, nenhuma contempla a música paraibana.
Vale ressaltar que a programação privilegia fonogramas já consolidados no gosto
popular, sem predominância de estilos (disco, MPB, soul, soft rock, pop e rock) e sem
espaço para novidades no cenário musical, como mostra música mais recente datada de
2016 (Quadro 2).
A Cabo Branco FM é uma rádio predominantemente musical, com programação
iniciando às 5h e se estendendo até 24h, transmitindo programas como Lá vem o Som,
Expresso Brasil e Acervo Cabo Branco. Embora atualmente não se perceba espaço para
a música local, a emissora já produziu programa totalmente voltado para este nicho, como
o Som Nascente, com apresentação do jornalista Diogo de Almeida Camelo.
O programa tinha parceria da rádio Cabo Branco com o Portal G1, o que
demonstra a convergência do rádio com a internet, e colocou no ar três temporadas com
mais de 20 programas, evoluindo em 2019 para um podcast (SOM NASCENTE, 2022).
Tanto o Som Nascente quanto outros programas como Vozes do Brasil podem ser
acompanhados pela página da rádio na internet que também dispõe da programação da
rádio e um canal de notícias, embora não seja atualizado. A notícia mais recente informa
sobre uma homenagem concedida em 9 de junho de 2022.
Quadro 2 – Programação Cabo Branco FM

Fonte: autoria própria

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A rádio Correio 98 FM pertence ao Sistema Correio de Comunicação, grupo


afiliado à Rede Record, sendo composto ainda pela TV Correio, o Portal Correio, e o
Correio Sat, com aproximadamente 14 emissoras de rádio em vários municípios
paraibanos, bem como a rádio Mix 93.7 FM. A rádio Correio 98 FM lidera há onze anos
o número de ouvintes na capital paraibana.
A liderança da Correio FM é fortemente mantida pelo programa “As Músicas da
Fé”, capitaneado pelo locutor Elson Júnior. Com pouco mais da metade (53,33%) do
tempo analisado dedicado à programação musical (todas religiosas), há espaço para
participação do ouvinte, ao vivo, e pregação. No programa, orações e aconselhamentos
costumam ser proferidos no ar, conforme pode ser observado no Quadro 3.

Quadro 3 – Programação da Correio FM

Fonte: autoria própria

A rádio Mix FM 93.7 faz parte da Rede Mix, (que tem sede em São Paulo e conta
com mais de 30 afiliadas em todo o Brasil), e se autodefine como a primeira emissora
fora dos limites do estado paulista, fundada em 20 de janeiro de 2005, com 17 anos de
atuação na cidade de João Pessoa.
A programação da MIX FM baseia-se fortemente no estilo pop (78,79%), com
predominância da música estrangeira (81,82%), o que demonstra ser a cultura nacional e,
sobretudo, local, totalmente negligenciadas na programação musical da emissora.
A rádio Mix FM 93.7 também investe pouco em lançamentos ou músicas mais
recentes (21,22%). A ausência do repertório doméstico, já verificada pela predominância
do espaço dedicado à música internacional, também se comprova com um dado ainda
mais preocupante: a completa ausência da música paraibana (0%) na programação,
conforme destacamos no Quadro 4, a seguir.

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Quadro 4 –Programação Mix FM

Fonte: autoria própria

Quanto à escuta na internet, tanto a Correio FM e a Mix FM podem ser acessadas


na página www.correiosat.com.br, onde também é possível outras 12 estações. Uma
particularidade é que, ao verificar a programação das outras rádios disponíveis na página,
todas veiculavam a mesma programação (CORREIO, 2022).
Entre as rádios analisadas no presente artigo, a Rádio Tabajara é a mais antiga em
atuação, sendo uma das mais longevas em atividade no Brasil. Fundada em 25 de janeiro
de 1937 como Rádio Difusora da Parahyba PRI-4, alterou seu nome poucos meses depois
para Rádio Tabajaras da Parahyba, em homenagem aos índios Tabajaras que habitavam
a região há séculos. A emissora pertence à Empresa Paraibana de Comunicação (EPC),
vinculada ao governo do estado da Paraíba.
Em seus primeiros 20 anos de existência foi considerada “uma das mais
prestigiosas do país”, com seus programas de auditório por onde passaram artistas de
renome nacional e internacional como Nelson Gonçalves, o argentino Carlos Galhardo
(“a voz de veludo”), Orlando Silva (“o cantor das multidões”), Emilinha Borba (uma das
“Rainhas do Rádio”) e a Orquestra do trombonista norte-americano Tommy Dorsey, para
citar alguns (SOUTO MAIOR, 2015).
Após 62 anos de atividade, passou a operar nas frequências moduladas ao cria,r
em 07 de agosto de 1999, a Rádio Tabajara 105.5 FM. Destaca-se entre as rádios avaliadas

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por ser uma das poucas a privilegiar a música local (10,34%) e, no presente recorte,
oferecer uma programação 100% brasileira.
Embora não invista nos lançamentos, restringindo-se a veicular a produção
artística já consolidada (96,55%), e destes, se concentra na música produzida na década
de 1980, como estilo (pop rock ‘nacional’) mais veiculado (34,48%), conforme demonstra
o Quadro 5.
Quadro 5 - Programação Tabajara FM

Fonte: elaboração própria

Mas nem sempre foi assim. A Tabajara já precisou enfrentar o protesto de


compositores paraibanos que não tendo espaço nas rádios para se fazerem ouvir,
decidiram empreender esforços para ampliar o alcance de sua música (a exemplo do
Musiclube da Paraíba). Certa vez, ao contestar a explicação de um antigo programador
da rádio de que não dispunha de material para tocar para os ouvintes, levaram e
entregaram pessoalmente na rádio, um balaio (cesto) com mais de 100 discos autorais,
como foi dito pelo jornalista, músico e compositor Adeildo Vieira em trabalho anterior
realizado por este autor.
Cenário bem diferente dos dias atuais em que estão a serviço da música paraibana
o Programa Palco 105 (programa de auditório que recebe artistas locais para
apresentações e entrevistas) apresentado nas noites de terça-feira e o Tabajara em Revista,
programa que vai ao ar de segunda-feira a sexta-feira, das 14h às 15h.
A Tabajara também mantém em redes sociais como o Spotify alguns programas
como o Tabajara em Revista, o Tabajara Entrevista, e Reportagens Especiais que fazem

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parte da programação da Rádio e são colocados à disposição do ouvinte para escuta sob
demanda em formato de podcast.
De forma resumida, e considerando-se todas as músicas veiculadas
simultaneamente, percebe-se que, mesmo havendo predominância da música brasileira
nas rádios paraibanas, apenas 3,85% é dedicada à produção local (Quadro 6).

Quadro 6 - Músicas veiculadas

Fonte: elaboração própria

Os dados apontam que apenas quatro em cento e quatro músicas são de autoria de
artistas paraibanos. Isso significa que a produção local é neglicenciada no momento de
compor a grade de programação das emisoras que foram alvo desta análise.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos critérios escolhidos para avaliar os dados selecionados, foi possível
perceber desafios e dilemas que marcam a estrutura da programação radiofônica,
sobretudo em termos de divulgação musical.
A Arapuan FM, que é líder em audiência na pesquisa das rádios mais ouvidas pela
internet (53,13%), entre as cinco emissoras escolhidas, opta por consolidar o sertanejo
como gênero musical mais veiculado e apresenta sempre músicas recém lançadas, quase
que de forma exclusiva, pois este gênero não foi percebido nas outras rádios avaliadas.
A Correio FM também lidera o ranking de audiência, só que através das ondas
hertzianas, no nicho religioso em que se encontra, com espaço inclusive para orações ao
vivo e participação dos ouvintes. As rádios Mix FM e Cabo Branco FM têm algumas
similaridades: ambas privilegiam a música internacional, músicas já consolidadas no
gosto popular e sem espaço para música local. Diferem apenas no gênero musical. A
primeira privilegia o pop enquanto a segunda a música popular brasileira.
Já a Rádio Tabajara FM tem programação 100% nacional, com espaço para a
música paraibana além de oferecer outras vitrines que ajudam a privilegiar a música

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autoral local como os programas “Palco Tabajara” e “Tabajara em Revista”, uma parceria
que lembra o trabalho conjunto feito pelo Circo Voador e a Rádio Fluminense FM, nos
anos 80, realizado no Rio de Janeiro.
Outro aspecto a salientar é que, das cinco emissoras analisadas, três são emissoras
comerciais pertencentes a afiliadas de grupos de comunicação nacionais, ou seja, definem
sua programação a partir de certas lógicas de mercado e de programação em rede. A Rádio
Tabajara, por sua vez, é caracterizada como rádio estatal, tendo um espaço maior de sua
programação voltada à cultura e demais pautas locais, sobretudo vinculadas ao governo
do estado da Paraíba.
Embora não tenha sido alvo do presente estudo, pesquisar as motivações político-
editoriais das emissoras certamente ajuda a compreender por que as rádios tocam
determinados gêneros musicais e silenciam ou ignoram outros. Este silenciamento, por
sua vez, pode comprometer a sobrevivência de artistas locais.
Este levantamento, ainda inicial, teve o objetivo de identificar o espaço dado pelas
emissoras de rádio à música paraibana, buscando também compreender como a cultura
passa pelas ondas hertzianas e transborda para outras plataformas em tempos de rádio
expandido e convergência midiática. Em pesquisas futuras, pretende-se aprofundar este
aspecto, além de investigar as questões comerciais e editoriais que definem os critérios
de escolha da programação musical disponibilizada aos paraibanos.

REFERÊNCIAS

ARAPUAN. Disponível em:< https://www.arapuanfm.com.br/2021/site/index >. Acesso em: 11


jul. 2022.

ARAÚJO, S. Brega, samba e trabalho acústico: variações em torno de uma contribuição teórica
à etnomusicologia. Revista opus. v. 6, 1999.

BIZAY.Cantora e compositora paraibana é grande aposta do sertanejo nacional. 04 jan.


2022.Disponível em:< https://paraiba.com.br/2022/01/04/cantora-e-compositora-paraibana-e-
grande-aposta-do-sertanejo-nacional/>. Acesso em: 13 jul. 2022.

CABO BRANCO FM. Disponível em:<http://cabobranco.fm.br/#!/cabo-branco-fm/>. Acesso


em: 12 jul. 2022.

CAMPOS, L. B.; KISCHINHEVSKY, M. Rádio social: novosintermediários da indústria da


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