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INTRODUÇÃO

Qual seria a função de uma cultura? Afirmar as diferenças entre os povos? Projetar a história de
uma civilização? Ou definir por conta de uma série de hábitos e costumes as características de uma nação?
Essas são questões que ocupam o pensamento de artistas e intelectuais brasileiros durante varias décadas,
principalmente, a partir do século XX. Dessa maneira, a resposta para esse tipo de questão acabou
ganhando diferentes repercussões na literatura, no teatro e nas artes plásticas.
No meio musical, o interesse por uma cultura nacional ganhou força com o processo de
popularização do samba que, graças a fatores diversos, conseguiu alcançar o posto de bem cultural
legitimamente brasileiro. Na voz dos popularíssimos cantores de rádio e no exuberante espetáculo
carnavalesco, esse gênero musical indicou o potencial criativo e original. Paralelamente, os ritmos regionais
como o forró e a própria música caipira logo integraram esse mesmo conjunto de “estilos musicais típicos do
Brasil”.
Entretanto, essa efervescência de sons originais logo seria elemento central de uma disputa
levantada por diversos intelectuais e artistas ligados ao meio musical. Nas décadas de 1940 e 1950, a
difusão do rádio e a difusão do disco acabaram abrindo portas para que os estilos musicais estrangeiros
pudessem também atrair a atenção de diversos ouvidos brasileiros. Para alguns, esse era apenas o início
de uma competição que ia além da simples preferência musical.

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Alguns entusiastas e defensores da cultura brasileira entendiam que a popularização de
determinados gêneros musicais estrangeiros afastaria a população brasileira dos ritmos criados pelos
nossos artistas. Outros ainda defendiam que a entrada das músicas estrangeiras em nosso cenário cultural
integrava uma estratégia de dominação imperialista onde as grandes nações desenvolvidas almejavam
legitimar sua exploração econômica por meio da difusão de seus bens culturais.
Contudo, vários artistas não acreditavam que a apreciação de gêneros musicas estrangeiros não
seria uma simples afronta à cultura nacional. Já nos finais da década de 1950, a bossa nova foi um primeiro
resultado dessa perspectiva quando jovens artistas começaram a propor um diálogo entre as contribuições
sonoras do samba e do cool jazz norte-americano. Quase uma década mais tarde, o movimento tropicalista
defendeu um diálogo ainda mais profundo e amplo com os diferentes gêneros musicais.
Com uma atitude despojada e muita vontade de experimentar novos ritmos e sons, artistas como
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Rogério Duprat e o grupo Os Mutantes encabeçaram esse novo
capítulo da música brasileira. Misturando elementos provenientes do rock’n’roll, dos gêneros regionais e das
populares canções de rádio, esses artistas buscavam a criação de novidades estéticas capazes de oferecer
uma nova perspectiva de arte, mundo, política e comportamento.
Mesmo sendo responsáveis por produções artistas que, até hoje, ganham o elogio de diversos
críticos, a proposta e o som do movimento tropicalista não duraram muito tempo. O radicalismo estético de
alguns artistas e o posterior enrijecimento da Ditadura Militar que tomava conta do país estabeleceu um duro
golpe contra seus artistas. Muitos se viram obrigados a sair do país para que pudessem compor e, assim,
dar continuidade à sua carreira.
Apesar disso, as contribuições do movimento tropicalista até hoje reverberam em nosso cenário
musical. Vários artistas contemporâneos enxergam no tropicalismo um elogio à capacidade de combinar
elementos distintos para a criação de um som original. Grupos como Nação Zumbi e Cordel do Fogo
Encantado podem ser considerados como “herdeiros” dessa revolução defendida pelo tropicalismo.

DESENVOLVIMENTO

1. CONCEITO
O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da
cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques
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foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa
e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e
os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico,
compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.
Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio musical brasileiro. A música brasileira
pós-Bossa Nova e a definição da “qualidade musical” no País estavam cada vez mais dominadas pelas
posições tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas tendências, o grupo
baiano e seus colaboradores procuram universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da
cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica.
Ao mesmo tempo, sintonizaram a eletricidade com as informações da vanguarda erudita por
meio dos inovadores arranjos de maestros como Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Damiano Cozzela. Ao
unir o popular, o pop e o experimentalismo estético, as ideias tropicalistas acabaram impulsionando a
modernização não só da música, mas da própria cultura nacional.

2. ORIGEM DO TROPICALISMO
O tropicalismo foi um movimento musical, que também atingiu outras esferas culturais (artes
plásticas cinema, poesia), surgido no Brasil no final da década de 1960. O marco inicial foi o Festival de
Música Popular realizado em 1967 pela TV Record.

3. O QUE PRETENDIA
A tropicália era o espelho do sincretismo brasileiro, pois mesclava em um único caldeirão as
mais diversas tendências, como a cultura popular brasileira e inovações extremas na estética. Ela pretendia
subverter as convenções, transgredir as regras vigentes, tanto nos aspectos sócio-políticos, quanto nas
dimensões da cultura e do comportamento.

4. COMO FUNCIONOU
Quatro décadas depois de Oswald de Andrade propor um movimento antropofágico nas artes
brasileiras, o antropofagismo finalmente chegou à canção popular com o Tropicalismo. Em um momento em
que se valorizava a música engajada, popular e nacionalista, com a então recém-surgida MPB, o
Tropicalismo ousou atualizar a música popular a partir de elementos do pop internacional, como as guitarras
elétricas e linguagens caóticas e baseadas em colagens, e não se preocupar com um engajamento
sociopolítico em suas letras.

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5. INFLUÊNCIAS E INOVAÇÕES
O tropicalismo teve uma grande influência da cultura pop brasileira e internacional e de correntes
de vanguarda como, por exemplo,o concretismo. O tropicalismo, também conhecido como Tropicália, foi
inovador ao mesclar aspectos tradicionais da cultura nacional com inovações estéticas como, por exemplo,
a pop art.
O tropicalismo inovou também em possibilitar um sincretismo entre vários estilos musicais como,
por exemplo, rock, bossa nova, baião, samba, bolero, entre outros.As letras das músicas possuíam um tom
poético, elaborando críticas sociais e abordando temas do cotidiano de uma forma inovadora e criativa.

6. CRÍTICAS RECEBIDAS
O movimento tropicalista não possui como objetivo principal utilizar a música como “arma” de
combate político à ditadura militar que vigorava no Brasil. Por este motivo, foi muito criticado por aqueles
que defendiam as músicas de protesto. Os tropicalistas acreditavam que a inovação estética musical já era
uma forma revolucionária.
Uma outra crítica que os tropicalistas receberam foi o uso de guitarras elétricas em suas
músicas. Muitos músicos tradicionais e nacionalistas, acreditavam que esta era uma forte influência da
cultura pop-rock americana e que prejudicava a música brasileira, denotando uma influência estrangeira não
positiva.

7. ARTES TROPICALISTAS
O Tropicalismo não existiu só na canção. Para muitos estudiosos uma série de produções em
diferentes linguagens artísticas que aconteceram na segunda metade da década de 60 se desenvolveram
em torno dos mesmos conceitos e ideais que fundaram a Tropicália na canção. Uma dessas produções foi
nas artes plásticas com a obra de Hélio Oiticica que inspirou o nome do movimento. "Tropicália" foi exposta
em 1967 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e foi descrita como uma obra labiríntica que,segundo
o artista, criava um ambiente tropical, em sua mistura de Parangolés, poemas-objeto, aparelho de televisão,
areia, araras e plantas. No cinema, a estética tropicalista emergia na radicalização das propostas
do Cinema Novo com "Terra em Transe", de Glauber Rocha, e, no teatro, nas montagens experimentais de
"O Rei da Vela" e "Roda Viva", do Grupo Oficina. Entre as características que uniam essas produções em
diferentes linguagens estavam o experimentalismo, que caracterizou as vanguardas, e uma visão positiva e
inovadora, sem perder o tom de crítica social, que encaminhou a arte para uma abertura cultural que
superava o discurso nacional-popular característico da MPB.

8. PRINCIPAIS REPRESENTANTES DO TROPICALISMO

- Caetano Veloso
- Gilberto Gil
- Os Mutantes
- Torquato Neto
- Tom Zé
- Jorge Bem
- Gal Gosta
- Maria Bethânia

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9. DISCOS TROPICALISTAS QUE FIZERAM MAIS SUCESSO
- TROPICÁLIA ou PANIS ET CIRCENCIS - 1968 – Mutantes
- CAETANO VELOSO - 1968
- LOUVAÇÃO - 1967 - Gilberto Gil
- A BANDA TROPICALISTA DO DUPRAT - 1968 - Rogério Duprat

10. MOVIMENTOS TROPICALISTAS QUE FIZERAM SUCESSO


- Tropicália (Caetano Veloso, 1968)
- Alegria, Alegria (Caetano Veloso, 1968)
- Panis et circencis (Gilberto Gil e Caetano Veloso, 1968)
- Atrás do trio elétrico, (Caetano Veloso, 1969)
- Cadê Teresa (Jorge Ben, 1969)
- Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969)

CONCLUSÃO
O tropicalismo foi muito importante no sentido em que serviu para modernizar a música
brasileira, incorporando e desenvolvendo novos padrões estéticos. Neste sentido, foi um movimento cultural
revolucionário, embora muito criticado no período. Influenciou as gerações musicais brasileiras nas décadas
seguintes.

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