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Fundação Getulio Vargas

Escola de Economia de São Paulo

Bruno dos Santos Barbosa


Henio Hissao Tamura
Rodrigo Catani Dutra Rodrigues

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS ABORDAGENS ECONÔMICAS


DE GILBERTO FREYRE E ADAM SMITH.

São Paulo
2010
RESUMO:

Adam Smith e Gilberto Freyre dispensam apresentação dado a


atemporalidade e relevância de suas obras. Por um lado, uma importante (se não
a mais importante) análise que agrega todo o aspecto da natureza humana e
seminalmente fundamente toda uma nova ciência, a Economia, em a “Riqueza
das Nações”. Por outro lado, numa perspectiva historiográfica Gilberto Freyre
consegue em seu texto detalhar as raízes do Ethos da sociedade brasileira em
“Casa Grande & Senzala”. O trabalho almeja fazer uma análise comparativa entre
ambos os autores e suas respectivas abordagens. Para tal o presente estudo esta
dividido em quatro partes. Sendo a primeira uma breve introdução sobre os
autores analisados, a segunda uma revisão da literatura centrada nas próprias
obras e em resenhas. A terceira, uma análise acerca das diferenças e
semelhanças entre as obras. E, por fim, concluímos com base nas considerações
obtidas.

Palavras-chave: Historia Econômica, Formação Econômica do Brasil, Gilberto


Freyre, Adam Smith.
Sumário

1. Introdução...................................................................................... 4
1.1. Adam Smith............................................................................................... 4
1.2. Gilberto Freyre .......................................................................................... 6
2. Revisão da Literatura..................................................................... 9
2.1. A Riqueza das Nações.............................................................................. 9
2.2. Casa Grande & Senzala.......................................................................... 11
3. Análise Comparativa.................................................................... 15
3.1. O indivíduo segundo cada abordagem e seu caráter.............................. 15
3.2. O racionalismo ........................................................................................ 17
4. Conclusões.................................................................................. 18
5. Referência Bibliográfica............................................................... 20
1. INTRODUÇÃO

Esta primeira parte é composta pelas biografias resumidas dos dois


autores. Todas informações foram retiradas de sites e da Fundação Gilberto
Freyre1.

1.1. Adam Smith

Considerado o pai da economia moderna, Adam Smith nasceu em


Kirkcaldy, na Escócia, filho de um fiscal alfandegário. A data exata de seu
nascimento não é conhecida, porém seis meses após a morte de seu pai, em 5 de
junho de 1723 foi batizado. Aos 14 anos ingressou na universidade de Glasgow,
onde em 1740 completou a graduação em filosofia moral e obteve uma bolsa de
estudos para a Universidade de Oxford para o Balliol College.

Seis anos depois, após abdicar da bolsa de estudos em Oxford, voltou


para a escócia e tornou-se conferencista público em Edimburgo. Em 1748
começou a dar aulas de retórica e literatura nesta mesma cidade, sob o patronato
de um lorde. No final da década de 1740, Smith expôs pela primeira vez a filosofia
econômica do “sistema simples e obvio da liberdade natural” que viria mais tarde a
fazer parte da sua principal obra.

Smith adquiriu reconhecimento dos intelectuais da época, fato que fez


com que em 1751 fosse convidado para lecionar lógica na universidade de
Glasgow, no ano seguinte passou a ocupar a cadeira de filosofia moral, em que
cobria em suas aulas assuntos como ética, retórica, jurisprudência e política
econômica. Essa mesma cadeira havia sido pleiteada por um filósofo que anos
mais tarde viria a se tornar um grande amigo de Smith, David Hume. Nesse tempo
de professor foi tendo relações com nobres e altos funcionários, freqüentando
assim as mais altas rodas da sociedade de Glasgow, esse acúmulo de prestígio
levou Smith, em 1758, ser eleito reitor da Universidade de Glasgow.

1
Vide Referência Bibliográfica parte 5
No ano de 1759, fazendo uso de parte do material desenvolvido para
suas aulas, publicou a sua primeira obra, "A Teoria dos Sentimentos Morais", até
hoje uma das suas mais conhecidas obras. Essa obra que tentava explicar a
aprovação ou desaprovação moral, ajudou a aumentar ainda mais a reputação de
Smith e mostrou ao mundo pela primeira vez características que se repetiriam em
suas obras seguintes , como a grande capacidade de argumentação, fluência e
persuasão, ainda que utilizando o recurso retórico.

No final de 1763, por intermédio de um político, Smith abandonou seu


posto na Universidade de Glasgow para assumir o bem remunerado posto de tutor
do jovem duque de Buccleuch, dessa forma mudou-se para a França. Entre 1764
a 1766 viajou bastante com seu pupilo, passou quase um ano na cidade de
Toulouse e depois foi para Genebra, cidade na qual conheceu o filósofo Voltaire.
Em Paris teve contato com outros filósofos iluministas e intelectuais nos salões
literários que pode freqüentar, como François Quesnay, principal nome da escola
fisiocrática. Um incidente com o irmão de seu protegido fez com que em 1767,
Smith viajasse a Londres onde passou a residir.

Em 1767, Smith retornou a sua terra natal, Kirkcaldy, onde iniciou a


elaboração e revisão de sua mais importante obra e teoria econômica. Depois
retornou a Londres, onde após três anos em 1770 concluiu sua principal obra
“Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”. A
obra só foi publicada em 1776, e tornou-se um dos mais importantes e influentes
livros de teoria moral e econômica do mundo. Com essa obra Smith fez duras
criticas ao mercantilismo e sua intervenção na economia lançando assim, as
bases do liberalismo apresentando conceitos como a livre concorrência e a teoria
do livre mercado. No entanto, o ponto principal defendido por Smith nessa obra é
que o bem estar de uma nação advêm do crescimento econômico e da divisão do
trabalho que garante a redução dos custos de produção e a queda do preço das
mercadorias.

Após a publicação de seu livro assumiu o confortável cargo de


comissário da alfândega na Escócia, que lhe assegurou uma boa renda, e passou
a viver junto de sua mãe em Edimburgo. Morreu nesta mesma cidade, aos 67
anos, em 17 de julho de 1790, vitima de uma dolorosa doença desconhecida.

1.2. Gilberto Freyre

Originário de uma família tradicional, Gilberto Freyre nasceu em 15 de


março de 1900 em Recife, Pernambuco. Ainda jovem aprendeu as principais
línguas modernas e o latim, aos 16 anos ministrou, na Paraíba, sua primeira
palestra. Logo de concluir seus estudos no Brasil, Freyre foi para os EUA, onde
primeiro terminou sua licenciatura no Texas, na Universidade de Baylor, e depois
em Nova Iorque estudou para obter mestrado em Ciências Sociais na
universidade de Columbia. Sua dissertação de mestrado apresentada em 1922 foi
intitulada “Social life in Brazil in the middle of the 19th century”

Durante a estadia nos EUA foi correspondente do Diário de


Pernambuco e criticou de forma acentuada o modo de vida americano, com uma
série de cartas intituladas "Da outra América”. Ainda em 1922 viajou a França,
Alemanha, Bélgica, e Inglaterra. Nesta ultima em Oxford, falou sobre a
colonização brasileira e defendeu a tese que o relacionamento sexual dos
colonizadores com os nativos tinha como objetivo conquistar novos fiéis. Visitou,
também, a Espanha e Portugal, aonde se tornou correspondente do Correio da
Manhã, essa participação, no entanto, foi curta, em 1923 depois de cinco anos
longe do Brasil retornou a sua terra natal e voltou a colaborar no Diário de
Pernambuco. A experiência internacional foi fundamental para Freyre, que no seu
regresso escreveu um conjunto de artigos pedagógicos criticando os hábitos
nacionais, suas opiniões não foram bem vistas pela elite tradicional, mas os
intelectuais de Pernambuco o aceitaram de forma imediata, essa aceitação o
permitiu organizar em 1924 o grupo “Centro Regionalista do Nordeste” que reunia
um grupo de intelectuais de diversas áreas defensores do regionalismo, e dois
anos depois o congresso regionalista.

Em 1926 após passagem pelo Rio de Janeiro, é convidado a ser


secretário particular do governador de Pernambuco e diretor geral do jornal A
Província, porém essa primeira incursão na política foi curta, em 1930 fugiu devido
a Revolução de Outubro de 1930. Seu exílio iniciou-se em Portugal, mais
precisamente em Lisboa, aonde iniciou a elaboração de sua mais importante obra
“Casa Grande e Senzala” que discorria sobre a sociedade patriarcal brasileira.
Neste período de exilo passou pela Universidade de Stanford, onde lecionou como
professor convidado. Em 1933 retornou ao Brasil e publicou “Casa Grande e
Senzala”, obra que foi muito bem criticada nacional e internacionalmente, esse
reconhecimento o levou a, em 1934, organizar o Congresso de Estudos Afro-
Brasileiros que tinha como objetivo estudar as minorias com origens africanas no
Brasil.

Casou-se em 1941 com Madelana Guedes Pereira. Já em 1945 após o


fim da segunda guerra, foi escolhido para participar da assembléia constituinte e
no ano seguinte foi eleito para a primeira legislatura do regime democrático
oriundo da constituição de 1946. No congresso nacional teve atuação destacada e
propôs a criação de institutos de pesquisa social em todo país, como o criado em
1949 “Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais”. Em 1950 após assumir a
direção do Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Recife, propôs uma
política educacional com atenção a diversidade.

Em 1951 a convite do governo Português visitou Cabo Verde, Guiné,


Goa, Moçambique, Angola, e São Tomé. Essa passagem foi fundamental para
que em 1953 Freyre lançasse os conceitos de tropicalismo e luso-tropicalismo,
esse conceitos foram descritos primeiro implicitamente e depois de forma mais
explicita no livro publicado neste ano “Aventura e Rotina e Um brasileiro em Terras
Portuguesas”. Esse conceito foi se desenvolvendo como podemos atestar na obra
publicada em 1959 “New World in the Tropics”, que ampliou a obra de 1945
“Brazil, a Interpretation”, e através de varias obras posteriores deu origem a luso-
tropicologia, proposta de ciência que liga a antropologia a ecologia e estuda o
relacionamento entre a cultura européia e a cultura tropical. As obras que
seguiram foram: “O Luso e o Trópico” de 1961, em 1962 publicou “A Arte, ciência
e trópico”, “Homem, Cultura e trópico” e ”O Brasil das Áfricas negras e mestiças”,
já em 1964 lançou “A Amazônia brasileira e uma possível lusotropicologia”. Em
1966 Promoveu um fórum de debate dedicado a Tropicologia, que foi dirigido por
Freyre até o final de sua vida. Ainda em 1966, graduou-se, em ausência, Doutor
pela Universidade de Paris (Sorbonne). A consagração cultural pela Sorbonne
juntou-se à recebida das Universidades da Colúmbia e de Coimbra e às quais se
juntaram as de Sussex (Inglaterra) e Münster(Alemanha).

Na parte final de sua vida, Gilberto Freyre recebeu diversos prêmios,


nessa fase ainda produzia como se fosse um jovem intelectual: Publicando livros,
participando em jornais e revistas, estrangeiros e nacionais, lecionando e dirigindo
cursos, além de acumular diversos cargos, como a presidência do Conselho
Estadual de Cultura. Em 1987 após a criação da Fundação Gilberto Freyre,
submete-se a uma cirurgia para introdução de marca-passo, fato que já era um
sinal do estado de saúde debilitado que em 18 de Julho levou sua morte.
2. REVISÃO DA LITERATURA

Nesta segunda parte fazemos breves resumos das duas extraordinárias


obras objetos deste estudo.

2.1. A Riqueza das Nações

No primeiro Livro da memorável obra de Adam Smith são tratadas as


questões do fenômeno da Divisão do Trabalho, Preços, Salários, menções sobre
sistemas monopolista o que praticamente fundamenta as bases da microeconomia
moderna. A seguir um resumo deste primeiro volume.

Basicamente, o autor discorre através do exemplo do processo


produtivo do alfinete que este fenômeno da Divisão do Trabalho aumenta
consideravelmente a produtividade devido à maior especialização do trabalhador
em determinado processo ao invés de ter que se preocupar com todas as etapas.
O ganho, por sua vez, viria do aumento da produção mantido um mesmo de
intervalo de tempo.

Já no segundo capítulo são feitas considerações acerca das “causas”


do advento da divisão do trabalho. Argumenta Smith que a divisão do trabalho não
deriva de uma sabedoria humana qualquer que da origem a esse ganho de
produtividade, mas sim da propensão natural do ser humano a trocar uma coisa
por outra.

Isto é, o indivíduo terá maior probabilidade de obter o que necessita se


conseguir interessar a auto-estima dos outros, mostrando-lhes que é vantajoso
fazer-lhe ou dar-lhe aquilo de que precisa. Em outras palavras é apelando para o
auto-interesse alheio e não a sua própria necessidade que a propensão a trocar
se mostra mais evidente (é exatamente neste capítulo que é enunciado a tão
conhecida passagem que se referem à benevolência do açougueiro, cervejeiro e
padeiro).
Em suma, é a certeza de poder trocar a parte excedente da produção
do seu trabalho, que estimula cada pessoa a dedicar-se a uma ocupação especí-
fica e aperfeiçoar o seu talento, que por sua vez estimula o aumento da
produtividade e por consequência a divisão do trabalho.

No terceiro capítulo são feitas reflexões sobre o limite da divisão do


trabalho. O argumento principal afirma que o grau de divisibilidade do trabalho
esta condicionado ao tamanho do mercado. O que faz muito sentido, pois em
pequenas comunidades como há menos pessoas há menor possibilidade de
realizarem-se trocas, assim, o trabalhador não conseguiria permutar facilmente o
excedente de seu trabalho, não fazendo sentido, portanto, especializar-se em
determinado processo de produção.

No próximo capítulo discorre sobre a origem da utilização do dinheiro.


Afirma o autor que a sociedade no início do processo de divisão do trabalho
encontrava grandes empecilhos para o pleno funcionamento do sistema de trocas,
pois poderia haver casos em que as partes não tivessem interesse por um dos
produtos da troca.

Os capítulo 5, 6 e 7 definem os conceitos de Preço Natural e Preço de


Mercado de commodities e fazem considerações sobre sua estrutura. Quando o
preço cobre exatamente a renda da terra, o salário do trabalhador e o lucro do
capital, diz-se que ele é o natural. O preço corrente ao qual a mercadoria é
negociada é denominado preço de mercado, esta pode estar acima ou abaixo do
preço natural dada a relação entre oferta e demanda efetiva.

Há nesta parte do texto importantes definições e considerações acerca


do agente monopolista e do monopólio. Basicamente é demonstrado através da
argumentação que o agente monopolista por ser o único a deter a posse
determinado bem pode controlar a quantidade oferecida no mercado afetando o
seu preço, obviamente sempre muito acima do seu preço natural. Podendo
perdurar por quanto tempo a as regulamentações que os deram origem forem
mantidas.
O capitulo 8 discorre sobre o Salário do Trabalhador. Afirma Smith que,
a demanda de assalariados necessariamente cresce com o aumento da renda e
do capital de um país. O aumento da renda e do capital é o aumento da riqueza
nacional.

Não é a tamanho efetivo da riqueza nacional, mas seu crescimento


contínuo que provoca uma elevação dos salários do trabalho. Não é, portanto, nos
países mais ricos, mas nos países progressistas, ou seja, naqueles que estão se
tornando ricos com mais rapidez, que os salários do trabalho são os mais altos.

Os salários representam o estímulo da operosidade, a qual, como


qualquer outra qualidade humana, melhora na proporção do estímulo que recebe.
Meios de subsistência abundantes aumentam a força física do trabalhador, e a
esperança de melhorar sua condição e talvez terminar seus dias em tranqüilidade
e abundância o anima a empenhar suas forças ao máximo. Portanto, onde os
salários são altos, sempre veremos os empregados trabalhando mais ativamente,
com maior diligência e com maior rapidez do que onde são baixos. (SMITH, A)

2.2. Casa Grande & Senzala

No capítulo inicial do livro o autor busca identificar a raiz da formação


do Brasil.

Começa então descrevendo o destemido espírito do povo português,


mostrando através de fatos e exemplos os motivos pelos quais os fizeram
pioneiros nas grandes navegações e colonização em terras distantes. Dentre
estes, Freyre cita a grande capacidade do português em relacionar-se com
diferentes etnias, que já há séculos na península Ibérica misturava desde mouros
até judeus, gerando assim uma característica extremamente cosmopolita.

Seguindo no livro o Autor descreve com bastante grau de detalhamento


a vida cotidiana da época. Com base principalmente na instituição familiar
escravocrata, a qual classifica como sendo uma sociedade pratiarcal. Num
processo de equilíbrio de antagonismos, o branco e o negro se misturavam no
interior da casa-grande e alteravam as relações sociais e culturais, criando um
novo modo de vida para a época. As relações de poder, a vida doméstica e
sexual, os negócios e a religiosidade faziam emergir, no dia-a-dia, a base da
sociedade brasileira.

Freyre discorre longamente acerca da influência religiosa na formação


do Brasil. Argumenta que a catequização praticada pelos Jesuítas teve papel
fundamental na constituição de uma unidade religiosa que posteriormente
também, de certo modo, moldou uma unidade “jurídica”, isso sem contar o
importante papel que os religiosos desempenhavam no campo da educação.

Interessante também é outro ponto em que Freyre faz conexões


distantes entre, por exemplo, características geológicas e unidade nacional, entre
alimentação e formação psíquica e somática. Discorre longamente sobre vários
aspectos dos costumes alimentares de todas as regiões brasileiras, e faz
comparações com os norte-americanos e europeus.

Freyre conclui o capítulo afirmando que de todos os exemplos


discorrido ao longo deste, mostra que a formação do Brasil se deu através do que
ele denominou “equilíbrio de antagonismos”. Antagonismos de economia e de
cultura. A cultura européia e a indígena. A européia e a africana. A africana e a
indígena. Mas sobre tudo do antagonismo maior entre Senhor de Engenho e
Escravo. E por fim embora repleta destes antagonismos às características
inerentes a essa mistura única que ocorreu nesta terra é o que de certo modo por
bem, ou por mal garantiu uma unidade nacional.

Já no segundo capítulo trata mais especificamente da importância da


população indígena na formação do Brasil.

Freyre começa o capítulo destacando a importância da mulher indígena


no contexto colonial do Brasil. Nas suas próprias palavras “... O ambiente em que
começou a vida brasileira foi de quase de intoxicação sexual...” (FREYRE,
G,)referindo-se à instintiva propensão sexual dos portugueses recém chegados,
que ao verem as mulher nuas logo iam se “aclimatando” (chegando a serem
chamados de mais libidinosos entre os três povos que originam o brasileiro).
Seguindo o texto, o autor discorre sobre divergências nas questões
morais entre os povos recém juntados. As mais contundentes referem-se às
questões relacionadas ao incesto e a poligamia. Dando a entender que apesar de
culturalmente tão distante tal barreira não foi impedimento ao ímpeto dos
colonizadores, embora tenha ocorrido para a população indígena uma verdadeira
dissolução de seus costumes devido ao contato com uma cultura mais adiantada.
Em seguida volta a enaltecer a importância da mulher indígena referindo-se a ela
num trecho com sendo o principal ativo econômico da colonização por prestarem
alem dos “serviços” sexuais, trabalho doméstico para seus senhores e também o
trabalho agrícola.

A exemplo do primeiro capítulo o autor discorre longamente sobre


questões alimentarem enfatizando a importância do complexo da mandioca em
detrimento do trigo no contexto dos colonizadores.

Já no final do capítulo há uma revisão e algumas conclusões acerca


tudo que é dito. Por exemplo, é mais uma vez enfatizado a maior importância da
mulher indígena se comparada ao homem, isso pois, dada as características dos
povos indígenas a mulher foi a que melhor se enquadrou na nova ordem
econômica trazida pelos colonizadores, prestando uma ampla gama de “serviços”
ao novos moradores. Freyre ainda enumera uma série de costumes que segundo
ele foi herança direta da influência da cultura indígena com, por exemplo, o banho
diário e preocupação com a higiene.

Por fim Freyre ressalta que a colonização do Brasil foi um processo


estrito de miscigenação, diferentemente dos povos anglo-saxões e protestantes
que na sua grande maioria era baseado na segregação estrita entre os povos e a
guerra declarada. E tudo isso graças, entre outra, a grande “hospitalidade” da
mulher indígena no contexto da época colonial.

Este interessante capítulo IV trata da relevância do negro na vida


sexual e de família do brasileiro.

Inicia o autor elencando uma série de características biológicas e


psíquicas importante para sobrevivência nos trópicos, argumentado que tais eram
extremamente bem adaptadas e, portanto superiores as dos outros dois grupos
étnicos.

Afirma o autor que esta superioridade se dava devido à experiência já


adquirida na áfrica de produção e cultivo de gado e produtos agrários
respectivamente. E dessa forma ao contrário do ameríndio havia uma maior
probabilidade de estar mais bem alimentado, pois havia suprimentos constantes
em detrimentos dos esporádicos dos indígenas.

Interessantes considerações acerca das características de cada etnia


africana que no Brasil desembarcou. Um exemplo é quando o autor cita as
diferenças entre os negros da parte ocidental da baixada fluminense em
comparação com o negro que se instalou em MG.

Neste ponto é interessante notar a importância que o autor releva as


questões alimentares, por exemplo citando a boa alimentação que praticavam
bantos e sudaneses.

Entrando em temas mais incisivos, Freyre cita a vida sexual da


sociedade brasileira. Descrevendo como eram tratadas tanto negras quantos
índias. E conclui dizendo que é um absurdo responsabilizar-se a negra ou índia
pelo que não foi obra sua mas sim do sistema social e econômico em que
funcionaram passiva e mecanicamente. Não há escravidão sem depravação
sexual.

O capítulo V continua com muitas descrições da relevância da negra


na vida sexual da sociedade brasileira.

È interessante notar a relação que o autor faz entre os costumes


cotidianos escravocratas da época e a formação de certas idéia morais e éticas
que ainda hoje persistem na sociedade. Interessante é atentar para as conexões
que o autor estabelece.
3. ANÁLISE COMPARATIVA

3.1. O indivíduo segundo cada abordagem e seu caráter

A análise comparativa dos indivíduos foca aspectos diferentes da


natureza humana. De um lado, Gilberto Freyre, autor que trabalha com base no
desenvolvimento histórico, a configuração e o desenrolar de determinados
fenômenos sociais acabam por impactar a formação das sociedades
postumamente desenvolvidas.

O estudo do fenômeno macrossociológico na obra de Freyre é muito


enriquecedor para o entendimento da formação, as características e limitações da
sociedade brasileira contemporânea, pelo menos se considerando o período em
que a obra foi escrita.

Freyre recria a construção da identidade nacional a partir dos


primórdios da colonização, o confronto cultural entre os portugueses recém
chegados e a população nativa de indígenas. A partir desse cenário conflituoso e
de imposição de novos padrões culturais e “miscigenação” desses padrões, surge
uma nova camada social. O estudo do nascimento e o ganho de formas até os
dias de hoje é o que a obra de Freyre dá grande contribuição.

O indivíduo, assim, nada mais é que a formação contínua da evolução


social, confronto e incorporação de costumes, adequação a novas realidades
socioeconômicas, um resultado do processo histórico. O indivíduo é, portanto,
resultado do meio ao mesmo tempo em que participa de maneira ativa da
formação da sociedade em que vive, ajudando a dar contorno a ela, é um
processo endógeno por natureza.

Adam Smith, por sua vez, foca o aspecto individual. A partir do foco no
indivíduo existe o delineamento dos desejos e vontades inerentes a cada um, e
qual seria o suposto impacto da tomada de decisão de uma forma agregada, ou
seja, como a coletividade pode ser afetada pela procura da realização do que
seria o melhor para você.
Para ele existe uma força, que ele denomina mão invisível, que é capaz
de reger as decisões individuais e a partir delas levar a sociedade para uma
melhora. O melhor para a sociedade, portanto, é a procura do melhor para cada
um, a maximização do bem estar individual, levando ao melhor para a sociedade
como um todo.

Smith se preocupa com o papel do homem no contexto


socioeconômico, um agente econômico em busca dos seus próprios interesses,
levando a um bem social superior. Diferentemente de Freyre, que absorve o
passado histórico e toda sua contextualização presente na sociedade
contemporânea, para Smith esse aspecto é irrelevante, uma vez que a construção
de novas estruturas da sociedade recai exclusivamente na realização e/ou busca
das vontades intrínsecas de cada cidadão.

A seguinte frase, encontrado em A Teoria dos Sentimentos Morais


resume de forma completa o que fora supradescrito: “...todo e qualquer homem é
recomendado, antes de qualquer outro e principalmente, para cuidar de si
próprio.’ Essa é a sua verdadeira tarefa e será um homem afortunado se, ao
cuidar de suas próprias necessidades, for ‘conduzido por mão invisível que o leve
a promover um fim que não fazia parte de suas intenções’”.

Em suma, devido à diferença da disciplina em que cada obra é


classificada, as primeiras divergências que encontramos foram quanto à
caracterização do agente “protagonista”. Isto é, o indivíduo em “A Riqueza das
Nações” é um ser genérico, em termos econômicos é uma função utilidade sujeito
a uma restrição orçamentária. Não faz julgamentos morais, apenas processa
informações e toma decisões consideradas racionais, muito embora Adam Smith
tenha pleno conhecimentos de todas as implicações morais acerca dos
sentimentos e paixões que envolvem o ser real (demonstrados em “A Teoria dos
Sentimentos Morais), esta simplificação se faz mister para a derivação de todo o
raciocínio expresso no livro.

Já o agente em CG&S é muito mais complexo em sua caracterização.


Basicamente o livro inteiro discorre sobre as características das três principais
etnias que formam o povo brasileiro. Descrevendo com altíssimo grau de
detalhamento todos os aspectos do ser humano, desde sua formação e criação
até suas relações sexuais, passando por seu caráter e motivação. Neste caso,
diferentemente da obra de Smith o agente não pode ser genérico, uma vez que a
interação das três diferentes etnias o foco do relato.

3.2. O racionalismo

Quanto ao racionalismo, podemos concluir com base no que foi dito


acerca dos indivíduos, que o agente em “A Riqueza das Nações” é movido por
uma racionalidade extremamente matemática e exata, agindo mecanicamente,
adequando meios para fins determinados sem que para isso sejam feitas
considerações de natureza morais, sentimentais ou passionais.

Já o indivíduo um CG&S é o ser com as características econômicas


supracitadas acrescidas de todos os aspectos morais (e amorais), sentimentais e
passionais (sem contar o caráter político), isso faz com que o racionalismo desses
seja muito mais complexo e intrincado. Isso, pois, toda decisão é baseado em
variáveis que muitas vezes não são mensuráveis fazendo com que os resultados
sejam um tanto mais imprevisíveis. Embora a análise desta imprevisibilidade seja
um dos objetivos do livro de Freyre. Em suma, o racionalismo neste caso é
misturado com aspectos não tão exatos ou matemáticos.
4. CONCLUSÕES

Visto o discorrido nos tópicos anteriores (em que através da análise do


contexto biográfico de cada autor e cada obra objetiva-se preparar o terreno para
análise comparativa que é feita logo depois) chegamos às considerações finais do
presente estudo.

A primeira parte buscou contextualizar a vida de cada autor em breves


considerações biográficas, pudemos notar a relevante importância do contexto
econômico-social vivido por Adam Smith no desenvolvimento de sua seminal obra
juntamente com o brilhantismo e inteligência com que define introduz os conceitos
econômicos que até hoje fundamentam a microeconomia moderna.

Por outro lado, quanto a Gilberto Freyre, foi possível inferir a grande
importância, apesar de uma conturbada infância, que sua família e sua formação
acadêmica tiveram na elaboração de seu importante relato acerca da formação do
povo brasileiro, formação acadêmica que pode ser ainda mais enaltecida por não
ter presenciado os fatos detalhados que com grande maestria descreve,
mostrando exímio domínio da historiografia.

Seguindo no estudo, buscamos resumir as obras analisada neste


trabalho sejam elas “A Riqueza das Nações” e “Casa-Grande & Senzala”. Devido
às grandes diferenças na abordagem e objetivos de cada autor, o segundo tópico
aparentemente ficou um tanto desconexo entre si com os resumos de cada obra.
Problema este que na análise comparativa que fizemos a seguir foi sanado.

A terceira parte buscou fazer a conexão das duas obras. Analisamos


basicamente três aspectos comparáveis nas duas obras: o indivíduo, seu caráter e
o racionalismo.

Pudemos notar que a principal diferença entre as duas obras se dá


exatamente pela diferença de objetivo de cada autor, o que implica em
metodologias também diferentes. Uma vez que uma obra objetiva descrever
genericamente um agente num contexto social (também genérico) atemporal, e,
outra pretende descrever exatamente a interação de diferentes agentes
(características distintas) em um contexto social de uma época determinada. Outro
ponto de divergência é com relação a como o indivíduo é caracterizado, mas esta
divergência se deve exatamente à diferença nos objetivos e metodologias de cada
obra. Em suma, as diferenças se dão exatamente pelas diferentes disciplinas em
que cada obra é classificada, ou seja, uma trata de Economia e outra trata de
História.

Quantos às semelhanças podemos citar a grande importância que


representam tanto para economia quanto para a historiografia, trazendo uma nova
abordagem na forma de lidar e pensar os casos que cada um estudava. Podemos
ainda notar a utilização de modelagem em ambas as obras, uma o modelo
clássico do indivíduo que gera resultado num contexto social e outra um modelo
de interação de diferentes indivíduos que resultam fatos observáveis no contexto
brasileiro.
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SMITH, A. A Riqueza das Nações. Série “Os Economistas”,1997.

________. The Wealth of Nations.


<http://www.econlib.org/library/Smith/smMSCover.html> acesso em 23 de maio de
2010.

FREYRE, G. Casa-Grande & Senzala. 48ª ed. Recife: Global Editora, 2003.

RELEITURAS. Gilberto Freyre – Biografia.


<http://www.releituras.com/gilbertofreyre_bio.asp> acesso em 23 de maio de 2010.

UOL EDUCAÇÃO. Gilberto Freyre.


<http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u228.jhtm> acesso em 23 de maio
de 2010.

ARQNET. Gilberto Freyre.


<http://www.arqnet.pt/portal/biografias/gilberto_freyre.html> acesso em 24 de maio
de 2010.

NETSABER. Biografias – Gilberto Freyre.


<http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_379.html> acesso em 24
de maio de 2010

__________. Biografias – AdamSmith.


<http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1056.html> acesso em 24
de maio de 2010

PENSADOR. Biografia Adam Smith.


<http://www.pensador.info/autor/Adam_Smith/biografia/> acesso em 24 de maio
de 2010

ALGO SOBRE. Adam Smith. <http://www.algosobre.com.br/biografias/adam-


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