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tm, contudo, um arco-ris na alma? Mais uma vez, trago aqui como exemplo ilustrativo deste
mecanismo perverso o cotidiano infeliz de Dona Rute, emparedada tambm pela represso
sexual e pela projeo da violncia reforada como espetculo miditico: Chegava domingo,
ia ver um pouco de televiso no seu Pereira. Ele morava com duas filhas e era vivo. s vezes,
sentado ao lado de Dona Rute, tirava uma casquinha, muito sem jeito, ela olhava para ele, mas
bem que deixava o bate-coxa. As meninas nem notavam: tambm coisa de velho nem era para
reparar. Ficavam ali at tarde da noite, vendo filmes de bangue-bangue ou ratatatatata...
Difcil verem filmes romnticos. A cidade engolia qualquer sentimento de afeto. A violncia
era j engolida por seus habitantes.
Alm de denunciar a miserabilidade humana, devemos principalmente contribuir para a
composio de alternativas viveis no sentido de promover a dignidade coletiva como
prioridade mxima em matria de cidadania exemplar. Embora seja comum o apelo tico em
favor de sociedades mais solidrias, como faz Francisco Varela ao conclamar a conscincia
planetria, ou Sergey Brin ao exigir o escrutnio crtico dos cidados sobre a transferncia da
informao, ou Pierre Lvy ao aclamar abertura democrtica das tecnologias da inteligncia,
persiste a violncia em nosso encalo, porque tambm insistimos em combinar de modo cnico
solidariedade e concorrncia.
* Professor das Faculdades Ascenso e JK, no Distrito Federal. Jornalista, poeta e doutor em Estudos Literrios pela Faculdade de Letras da
UFMG.