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Notícias / ex-agente do FBI

CSI atrapalha investigações, diz ex-agente do FBI


Em entrevista exclusiva a Galileu, Max Houck conta o que a série
trouxe de bom e ruim a quem trabalha de verdade com as
investigações
Mariana Lucena

Quando Max Houck pegou o caso, o FBI não tinha praticamente nada. O corpo da jovem nua, à beira de
uma rodovia do pequenino Estado de Delaware, parecia não querer dar pistas. O único deslize do
assassino era um fio minúsculo, deixado na vagina da garota. O agente se debruçou com dedicação
sherlockiana sobre a prova, que vinha de um tecido muito específico: o carpete de um modelo de
caminhão que há 26 anos não era fabricado nos Estados Unidos. Após consulta a um banco de dados, a
equipe rastreou oito proprietários daquele modelo no Estado e nos cinco vizinhos: só um tinha um carpete
naquela cor. Cercado pelas evidências, o assassino confessou. Gil Grissom foi para casa tranquilo: este
episódio do seu CSI da vida real havia conquistado um final triunfante.

Doze anos depois, Houck faz questão de frisar que a história não foi tão parecida assim com a trama da
TV. O caso não se resolveu em 48 minutos, mas em três semanas. Ele não estava dedicado
exclusivamente a essa investigação, mas a dezenas de outras. E também não contava com uma equipe de
Catherines Willow, Bones e Elliots Stabler ao seu dispor. “Colocar uma equipe daquelas em um só caso?
Talvez... se envolvesse o presidente!”, brinca.

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Na época, a TV passava Arquivo X – e Houck já convivia com os mitos criados sobre a sua profissão.
Mas foi dois anos depois, em 2000, que a expectativa sobre a atividade atingiu o topo: foi lançado o
primeiro CSI, puxando uma enxurrada de séries policiais. “Não dá para nutrir esse tipo de expectativa. Os
seriados têm muito financiamento, pessoal e até equipamentos que são emprestados para fazer
publicidade do produto, mas que quase nenhum laboratório real consegue comprar”, afirma Jan Burke,
presidente do projeto CrimeLab, que tem como objetivo conseguir mais financiamento para os
laboratórios forenses norte-americanos. “Alguns não laboratórios nem têm acesso à internet, e aposto: em
casa você deve ter uma conexão melhor do que muitos deles”, critica Houck.

O resultado da comparação e do crescimento da expectativa sobre os verdadeiros investigadores foi


apelidado de Efeito CSI. Segundo alguns promotores norte-americanos, desde que as séries foram ao ar,
júris têm demandado mais provas. Eles querem digitais, exames de DNA, autópsias reveladoras. Em
resposta a isso, investigadores teriam começado a trazer ao laboratório “evidências” impossíveis de serem
processadas. Cada bituca ou embalagem de batom se transformou num detalhe importantíssimo. “O maior
erro destas séries é fazer parecer que essas análises não tomam tempo. Se você recebesse uma amostra de
DNA e só trabalhasse naquele caso – o que não acontece – levaria cerca de dois dias para obter uma
identificação”, conta o ex-agente do FBI.

O volume de trabalho tem aumentado, mas a verba, não. Resultado: cientistas forenses estão cada vez
mais sobrecarregados. O último censo do gabinete de estatísticas da justiça americana mostra que 359 mil
casos por ano são arquivados ou não resolvidos em 30 dias. Pudera: os laboratórios forenses recebem 225
casos para cada funcionário contratado. Se nem Grissom lidaria bem com esse volume de trabalho, não
seria um staff mal preparado a vencer o desafio. “Na grande maioria das jurisdições, as pessoas que
lideram esses escritórios tiveram 48 horas ou menos de treinamento específico. Alguns legistas chegam ao
absurdo de tomar decisões como ‘foi um crime ou uma morte natural?’ falando com o policial ao
telefone”, diz a presidente do CrimeLab.

Não há comprovação se o efeito das séries policiais não passa de impressão. Na opinião de Houck, no
entanto, ele não é, de todo, indesejável. “Na minha instituição, a Universidade da Virgínia Ocidental, o
curso de ciência forense e investigativa, que em 2000 tinha quatro alunos, atualmente tem cerca de 400”,
diz. “Foi mais ou menos nessa época, logo antes de lançarem CSI, que uma colega do FBI e eu fomos
chamados a uma cena do crime em Washington D.C. Colocamos ternos, e eu lancei mão até de uma
gravata. Quando chegamos, um policial nos olhou e disse ‘quem são vocês, Mulder e Scully [agentes de
Arquivo X’]?”. O efeito das séries havia pegado ele também.

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