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Eliane Hojaij Gouveia, Ronaldo Baltar e Teresinha Bernardo Organizadores| CIENCIAS SOCIAIS NA ATUALIDADE Tematicas contemporaneas s | . | DADE CATOLICA DE SAO PAULO Reitor: Dirceu de Mello So Paulo, 2011 DIREITOS HUMANOS, ESTADO E CIDADANIA NA TEORIA POLITICA: RUMO AO COSMOPOLITISMO? UMA DIFICIL TRANSIGAO' Raquel Kritsch Ae a complexa relacdo entre direitos humanos, Estado nacional cidadania democratica com base no instrumental da teoria politica So é tarefa facil, nem sucinta. Assim, para delimitar 0 objeto deste texto, circunscreveremos a reflexdo aos seguintes eixos: primeiro, abordare- mos a relacdo entre direito e estrutura politica estatal; em seguida, seré mostrada a vinculacZo histérica dessa estrutura estatal com as nog6es de cidadania e direitos humanos, &s quais viria somar-se mais tarde a ideia de nac3o. Por fim, sero expostas algumas consequéncias, bem como os paradoxos gerados por essa configuracao especifica que tem marcado a histéria do pensamento e das instituigGes politicas ocidentais, que vincula direitos do homem, Estado e cidadania democratica de base nacional Jus e potestas, cidadania e direitos do homem A estreita relagdo entre direito e estrutura politica estatal no mundo contemporaneo parece relativamente dbvia aos estudiosos da Lo Raquel Kritsch, teoria politica, e pode ser percebida com clareza quando nos referimos & prépria ideia de direitos do homem: a nogo de “direitos humanos” traz embutida uma quantidade de suposicdes muitas vezes pouco claras 20 leigo, como, por exemplo, a vinculagdo do conceito a estruturas politicas @ juridicas que s8o especificas do mundo modero. Sem a idela um indivi duo portador de direitos ou ainda sem as nocGes de Estado e de ordena- ‘mento juridico, no hd sequer a possibilidade de se enunclar a defesa de direitos humanos tais como pensados e vividos por homens e mulheres contemporaneamente. Isso porque sem tais “instrumentos” ~ Estado, ordenamento jurk dico, individuo portador de direitos ~ seria impossivel levar a julgamento um chefe de Estado (como Pinochet, Milosevié) ou qualquer outro indi- viduo que cometesse uma infrago daquelas normas garantidas, desde pelo menos 1948, na “Declaracgo Universal dos Direitos do Homer’ Se o que torna um determinado valor (digamos, o direito a proprie- dade) ou uma certa ideta (@ liberdade) um “direito humano” indiscutivel € algo muito incerto e requer uma investigac3o profunda em diversas reas do conhecimento; é claro, contudo, que 0 que garante, hoje, 0 cumprimento ou no dos ditos direitos humanos é a maior ou a menor adesdo das formagées politicas existentes a um conjunto de valores (em sua maior parte, orlundos do ideério liberal sustentados, garantidos e protegidos pelo chamado Estado democrético de direito. € aqui estamos diante de uma questo complexa: 0 que signi fica falar num Estado democrético de direito como base para os direitos humanos? Falar em Estado, de maneira geral, ¢ em Estado constitucional, ‘em particular, como jé detalhado em outro lugar (Kritsch, 2005, p. 215), implica, hoje mais do que antes, levar em considerac3o @ nocdo de direito. Ambos, direito e politica, como reconhecem os fildsofos moder- ‘nos, supéem, em algum grau, a ideia de coersao: tanto o direito quanto a politica, para ganharem eficécia, precisam contemplar a possibilidade do recurso a forga, mesmo que esse apelo a forca constitua apenas um imo, um recurso ultimo. € nesse sentido especifico - mas sé que se pode izer que direito e Estado (jus e potestas) Direttos humanos Estado e cidedania na teorla politica constituem, no pensamento ocidental moderno, duas faces de uma mesma moeda, na qual interagem estrutura juridica e poder politico, ordenamento legal e violencia administrada. Ou sefa, quando 0 campo de referéncia do poder poltico se tra-

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