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CAPITULO 1 BASES HISTORICO-CONCEITU. DOS DIREITOS a Mana fi More 24 Segurido Bobbio (1997), para compreender o di hecessério recorrer ao conceito de natureza, uma vez qui natural vem da naturezae nela se fundament tureza ¢ largo, com diferentes interpretagdes e carregado de significados articulados com as determinagées sicio-historicas de cada época. Na antitese entre a natureza e a prixis humana, nasce o significado da natureza em Arist6teles, conceito genérico dedicado a explicar o seu sentido. ja: "No sentido primério e préprio, natureza é a substincia dos seres que em si mesmos, enquanto tais, 0 principio do seu movimento” (BOBBIO, ‘idem, p.28). Assit, so formulados os prinefpios que distinguem as categorias de todos os seres ¢ de todos os eventos existentes antes e depois do homem. Natureza designa tudo que existe independentemente da ago humana e, a partir deAristteles, temos.a explicago do mundo da natureza que existe independente do homem, que escapa ao seu dominio, sendo obrigado a aceitar como necessidade, diferente do mundo humano, que consegue produzir e dominar. natural sera Os jusnaturalistas classicos entendiam que a origem da sociedade hhumana era alicergada num contrato social, com fundamento numa convengao inicial, base da explicagao da divisdo entre o mundo natural eo mundo construido elo homem. Os jusnaturalistas modemos advém dessa mat por fundamento a natureza e o significado da convengao possibilidade de explicago da passagem do feudalismo ao Estac Antes deles os gregos faziam uma distingao entre os dois mundos, 0 ‘mundo natural ¢ 0 mundo do homem, e comegavam a levantar as questes em tomo do direito, inicialmente interrogando: 0 nnatureza ou o direito & arte? Classificando as coisas naturais em contraposicao as coisas convencionais, situam, dentre elas, a questio do direito. Segundo Bobbio, a resposta dada pelos gregos em relagao A questi levantada foi quase sempre ambivalente: “0 direito énatureza.e também arte” (ibidem, p.28), Paras gregos, advém da natureza e devem ser concebidas como direito n: outras derivam da convengio, da arte e esto Dessareflexao inicial dos filbsofos clissicos, sobre a natureza do direito, hasce a antitese entre o direito natural c 0 direito positivo. A concepsio do direito natural foi historicamente apropriada e reapropriada, desde o periodo era modema ea contemporaneidade. Sobre a questo da natureza ,esereve Aristételes: ES itica, uma parte 1e seja e ndo existe em passo que eles observam alteragbes nas coisas conhecidas como justas. Isso, porém, nao é ver (ARISTOTELES, 1987, p.91). natural é a validade universal, tendo como fera do comportamento humano ha questoes ymem, que io boas ou nao por si mesmas, particulares, que mudam de ito de natureza. Gtica de justiga, ética de liberdade, de poutine de utili es de paz, de bem-estar, de frat ‘questi dos direitos universais. “Todas elas pretendem defender uma norma de constatagio de que a natireza humana é feita deste ou daquele modo, de que 0 hhomem tem naturalmente pela sua natureza esta ou aquela inclinagaio” (Idem, Ibidem, p 63). sentido do jusnaturalismo entre os gregos era que toda natureza fosse ‘governada por uma Ici universal e imanente, que o homem nao podia violar sem renegara propria natureza humana, Sendo assim, a natureza seria detentora de-uma eleologia universal umsistema cosmol6ico que conduzaos destinos ¢80 entre o justo por natureza, que representa o direito natural, eo justo por lei, que expressao dit autor comenta: Polinice, seu irméo, uma da ditadura de um poder injusto ‘Antigona a dobrar-se sobre ela, mas nada poder deté- 27 is 86.0 que Ihe interessa é 0 combate igae contra o dieito de Estado, Submeter obrigar do que deve a memeéria do irm&o e de todos 0s mortos (1986, p29)? Por sua vez, Jean Jacques Cl te natureza e convened, para dar suporte “A bondade da de acordo com uma Constituigo em que o govero conduz.os negocios ido em vista o interesse comum, submetendo-se as leis regularmente igadas, representa para o homem a sua liberdade, jamais uma escravidiio. A concepeio aristotélica foi incorporada pela tradigao da filosofia idental, adquirindo diferentes configuragdes. Na Idade Média, é retomada Santo Tomas de Aquino em bases teolégi -za humana & ida a uma ordem natural que emana das cada ser tem, ‘um lugar, uma fungdo, que consiste em reproduzi-la por meio ade. A racionalidade, elemento central na concepgaio oa Mana foe Meee 26 onto de partida deve ser buscado na razfio do aut ido como finalidade o bem comum. De acordo com Aristételes e Santo Tomas, pode-se considerar que, em iltima instincia, a natureza humana é predeterminada por algo a ela transcendente. Oautor de Suma Teoldgicacria uma ordem hierérquica na organizagiio eterna, lei lei humana (lei positiva), e acrescenta-the a lei revelada, aferida pela graga de Deus, que se torna humana, sobretud co Nestes termos, 0 poder p politico fundado sobre a natureza humana e sobre a ordem natural da sociedade, Assim, na IMdade Média, desenvolveu-se a doutrina de um direito natural que se wva com a lei revelada por Deus a Moisés e com o Evangelho. Aquino, no século XII, entendeu como “ei natural” a ordem imposta e revelada por Deus, govemador do Universo, que se acha presente na razio humana. A Unidade e a limitagdo do poder politico, a primazia do bem comum, reconhecimento dos direitos naturais, a concepeo do universo politico fundado sobre a natureza humana e sobre a ordem natural das sociedades petfizem a sustentagio de seus conceitos fundamentais. Mas o direito natural, enquanto reflexo da razio divina na natureza racional do homem, vé-se cortado em suas raizes sagradas por Grotius, que afasta a questio teolégica do debate do direito natural ¢ contrapoe um fundamento d io progressiva & natureza humana: Procurei antes de tudo fazer uma boa selegdo das provas referente ao Direito Natural e tratei de fundamenté-las em idet tas que ninguém possa ia. Pois, se meditarmos 08 principios desse Direito sto Claros e evidentes por si mesmos, quase tanto quanto as coisas que conhecemos por meio dos sentidos exteriores, stos € que nao falte nada do que é necessario para cconhecer os objetos (GROTIUS, apud CHEVALLIER, 1982, p.348).. No século XVI, o filésofi, Hugo Grotius defendia a te |, tendo como fundamentos a razdo ea experiéncia, Sua an ente uma forma de eliminar Deus ea Igreja como as fontes fundamentais da justiga. O autor fixa os mareos do novo método, dissociado da lidade de uma vida que satisfaga as necessidades dos individuos vernados por uma autoridade superior, ignorado no Estado de natureza. ‘bbio também situa na doutrina de Hugo Grotius os fundamentos do jusnaturalismo modem. t0 social, que Ihe é imanente ¢ legitimo, mas fica ausente dessa idamentagao o sentido histérico: ‘Afirmar que a lei tem essa origem na prépria natureza, significaria resgati-la do siléncio da histéria, significa oa Manu fous Merce 30 fundamenté-la objetivamente, atribuir-Ihe um valor terminam de forma gloriosa, todas as filosofias morais, terminam em pregagti, recomendar que sejao procurando falar ndo s6 da fragitidade dos sent ‘como da firmeza da raz. (BOBBIO, 1997, p. pretendem defender uma norma de constatagio de que a natureza humana é feita dese ou daquele modo, de que o homem tem naturalmente pela sua natureza esta ou aquela inclinago, o que implica sempre juizo de valor” (Idem, ibidem, p63). A historia da formagao do Estado Modemo é, em grande parte, a historia das tentativas de tornar efetiva, por meio de varios dispositivos constitucionais, a exigéncia das teorias jusnaturalistas, manifestas durante alguns séculos, em favor de uma limitagaio do poder do soberano, Neste sentido, existe uma fungao ‘no jusnaturalismo que, na formagao do Estado modemo, tem reiterado a afirmagdo dos limites do poder estatal, refletida na teoria da garantia dos direitos do homem, contra o perigo da lao; também certo grau de liberdade que o i luo goza de protegio ‘A concepgao do jusnaturalismo moderno atribui aos cidadaos os di precedentes ao Estado, isto éenfatiza 0 aspecto e a su natural sobre o direito positive como sua “condigao de validade”. Na Idade Média, a idea de natureza era articulada como criagdo divina. Nesse sentido, ela era associada a categoria genérica, situando as coisas que no dependem do homem, mas do Criador. O direito natural éredefinido como aleiescrita por Deus e revelada através das Sagradas Escrituras, que traduziam as palavras divinas aos homens. uma formula da razao aplicada a esfera da conduta humana, que impde um sistema de direitos do homem e do cidadio e nfo faz referéncia a qualquer vos & posigao e afirmago do homem no mundo. Sao 0s direitos que a Jei natural atribui. A escola do direito natural abriga correntes muito diversas, expressas pelos autores Hobbes, Rousseau e Locke, considerados expressdes do direito ral modemo, contraposto ao antigo e ao medieval, 0s quais tém como tema de suas obras 0 problema do fundamento e da natureza do Estado ¢ do Jitwto positivo. O método que perpassa areferida escola como fonte unificadora Go método racional, a construgdo de uma ciéncia demonstrativa sobre a conduta humana, chamada por alguns autores de “Escola do Direito Racional”, cujo 10 € aconstrugdo de uma ética racional separada da metafisiea, capaz. de responder & universalidade dos principios da conduta humana. Constitui o raseimento de uma nova ciénia, com 0 esteiona raz, cia do direito positivo. Este poe aos drgios do Estado ‘Aconstrugiio do Estado racional avanga com 0 ‘e com a transformagdo da relago entre por intermédio da qual o Estado deve se tornar cada vez independente da ordem religiosa. Dessa forma, no Estado racional, 0 sm encontra a possibilidade de realizar plenamente a sua natureza de ser s com os respectivos din yesenta, supostamente, a construsdo do Estado de Direito contra toda forma de despotism. oa an Aon Meco 82 6gica do modelo jusnaturalista, a sociedade é resultado de um contrat I, por meio do qual ca luo renuncia ao seu isolamento “natu ira submeter-se a um poder comum que, garantindo a coexisténcia dos di de cada um, garante 0 direito do todos. Os individuos aceitam subordinar-se ao direito igual na forma da lei, emanado do Estado que garante a justiga A concepsio da Escola do Direito Natural considera fundamental a cconstituigao do Estado como instituigdio de um poder comum, com a criagio de uma sociedade politica, com a unio das vontades individuais, expressa na vontade ‘nica de um corpo social através do “pacto societatis”, considerado 0 primeiro contrato, ou seja, uma unido das forgas que devem tomar efetiva a vontade comum. O vineulo social & subordinado a vontade politi organizagao piblica dos atores sociais dentro das relagdes do poder Recorrendo a ideia de uma sociedade natural precaria, afirma-se a importancia da liberdade originada na natureza permi tempo que reflete a tendét ica da refundagao de uma ordem: a “liberdade dos modemos”, na medida em que a ordem medieval se desagrega ‘com ela o declinio do seu fundamento, odireito natural do modelo jusnaturalista mostra a importa Lnificada pelo poder comum. O direito natural representa um modelo para Modemo. Representa também a concepsio de um sistema racional e universal ago dos direitos do homem, ao

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