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FORMAÇÃO DE PROFESSORES E NOVAS TECNOLOGIAS

Ana Paula Lage Lopes e


Fernanda de Aragão Mikolaiczyk1

Introdução

O mundo moderno está presente em diversos âmbitos da vida do homem. Materializa-se


através de inúmeros conhecimentos jamais imaginados há um século e atinge de forma direta e
indireta todos os seres humanos.
A forma mais direta com que atinge alguns poucos homens, materializa-se pelo rápido
contato com as novas tecnologias de informação e comunicação. O consumo dessas novas
tecnologias no mundo garante a condição de mundo moderno e globalizado.
De forma indireta, materializa-se pela pobreza, pela miséria e pelo trabalho explorado de
muitos homens para a manutenção do que se pode chamar de modernidade para alguns.
Indiretamente, milhões de homens no mundo são privados dos conhecimentos da humanidade
para garantir a hegemonia de poucos.
Nesse contexto ambíguo, o Brasil elenca as novas tecnologias da informação e
comunicação para modernizar e desenvolver a educação, mais especificamente trabalhado nesse
texto, a formação de professores.
O texto aponta muito brevemente o histórico das novas tecnologias na formação de
professores e as possíveis conseqüências de um projeto que não considera o fator primeiro da sua
efetivação: a estrutura econômica.

Histórico das Novas Tecnologias no Brasil

A disseminação das novas tecnologias da informação e comunicação no Brasil aconteceu


a partir dos anos 1970, quando os países centrais já haviam garantido a sua hegemonia frente as
novas tecnologias.
No âmbito educacional o Brasil iniciou a utilização das novas tecnologias a partir de
1973 na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade Federal do Rio

1
Alunas da graduação do Curso de Pedagogia: Docência e Gestão Educacional, da Universidade Estadual do
Centro-Oeste (UNICENTRO).
Grande do Sul (UFRGS). Em 1974, a Universidade de Campinas (UNICAMP) desenvolveu o
primeiro software brasileiro voltado para a educação superior. Em 1975, divulgou-se no Brasil
uma linguagem de programação interpretada, desenvolvida principalmente para crianças e
jovens, conhecida como LOGO2. Este programa foi desenvolvido por Seymour Papert e Marvin
Minsky.
Em 1981 e 1982 aconteceram o I e o II Seminário Nacional de Informática na Educação e
a Oficina Intergovernamental para Informática (IBI). Desses seminários foi tomada a decisão de
implantação de um Programa de Informática na Educação, que originou o EDUCOM, que foi
implantado em 1985 nas Universidades Federais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco,
Rio Grande do Sul e na Universidade Estadual de Campinas.
O desenvolvimento das novas tecnologias na educação foi aumentando, ao passo que em
1997 foi criado o Programa de Informática na Educação – PROINFO e os Núcleos de
Tecnologia Educacional – NTE. É importante ressaltar que a criação desses programas aconteceu
paralelamente a implantação da LDB 9.394/1996, que em seu Título VI descreve onde se dará a
formação dos Profissionais da Educação, abrindo espaço para oferta da Educação à Distância.
A disseminação das novas tecnologias no âmbito educacional é desejada e proclamada
em diversos documentos educacionais do país que buscam, principalmente, uma relação próxima
com a formação dos professores que irão atuar na Educação Básica.
No entanto, cabe lembrar que a produção e o desenvolvimento das novas tecnologias da
informação e comunicação não acontecem no mesmo ritmo que a sua distribuição, e é com essa
contradição (entre o que é produzido e o que é distribuído) que a educação brasileira precisa
conviver em seu cotidiano escolar e universitário.

Formação de Professores e as Novas Tecnologias

Em 09 de abril de 1997 foi criado O PROINFO que é o Programa Nacional de


Informática, lançado pelo Ministério da Educação e Desporto (MEC). Seu objetivo é a instalação
de computadores nas unidades escolares do Ensino Fundamental e Médio, com os recursos do
Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações - FUST. O ProInfo tem na
capacitação dos professores sua principal meta, que é responsabilidade do MEC.
Existem também, os Núcleos de Tecnologias Educacionais (NTEs) que são estruturas de
apoio técnico-pedagógico no processo de informatização das escolas públicas estaduais e

2
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Logo>. Acesso em 11/04/2010.
municipais. São caracterizados como sendo um centro de capacitação de professores em
informática educativa e cada NTE presta assistência às escolas que fazem parte do ProInfo.
Em todo Brasil existem atualmente 259 NTEs, com 1.419 professores multiplicadores
(um especialista em capacitação de professores de escolas para o uso da telemática), 20.557
professores de escola e 302 técnicos.
Nota-se que um número significativo de professores está tendo contato com as novas
tecnologias por meio de programas governamentais. No entanto, esse número ainda é baixo para
a quantidade de professores existente no país. Ao total, são 2,6 milhões de professores na
Educação Básica e Superior (INEP, 2003)3.
O contato dos professores com as novas tecnologias da informação e comunicação é
pequeno. Muitos têm acesso ao computador somente quando vão digitar documentos acadêmicos
e nisso resume-se a interação do professor com as tecnologias.
A formação dos professores, seja ela inicial ou continuada, deve estar ligada as
objetivações mais elevadas da humanidade. E por que motivo ainda não é possível se efetivar tal
formação? A causa tem como base a estrutura econômica que não permite que todas as
sociedades tenham acesso igualitário as produções humanas, sejam elas culturais, sociais e
tecnológicas.
As políticas educacionais brasileiras proclamam aquilo que não pode ser assegurado na
prática pela falta de investimentos. Aliar novas tecnologias e formação de professores só surtirá
efeitos positivos para a educação quando esse contato não for um fim, e sim, um meio.
As novas tecnologias são instrumentos que podem ter resultados inimagináveis para o
desenvolvimento do homem em todas as suas dimensões. No entanto, como garantir isso se as
condições mínimas de formação estão sendo negadas nas instituições de formação de
professores? O conteúdo é substituído pela informação, os professores presenciais são
substituídos por tutores online e a formação torna-se apenas um processo de certificação.
Nesse contexto, onde alguns apontam os benefícios e outros os malefícios, qual a
realidade que está posta para as novas tecnologias na educação brasileira serem introduzidas? A
resposta está no contexto escolar e universitário, onde nem alunos e nem professores tem a
familiaridade e nem as condições necessárias para trabalhar com essa fração do conhecimento
humano.

Considerações Finais

3
Disponível em < http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/outras/2news03_37.htm>. Acesso em: 11/04/2010.
As únicas considerações possíveis de serem adotadas nesta breve exposição sobre as
novas tecnologias da informação e comunicação e sua relação com a formação de professores no
Brasil, é considerar a ingenuidade de um projeto que não pode atingir a todos de forma
igualitária, a fragmentação da formação do professor e a grande distância entre o que é
imaginado e o que pode ser efetivado.
Formar professores com base sólida de conhecimento sobre/com as novas tecnologias é
tarefa quase que impossível em um país que não democratizou o ensino e a formação na sua
forma mais primitiva. Ainda faltam salas de aula, cadeiras, mesas, quadros-negros, energia
elétrica, giz, papel, lápis e borrachas. Ainda falta a qualidade aplicada ao mínimo.
Não se pode imaginar a aplicação de um projeto que alie formação e tecnologia com um
contexto brasileiro onde algumas escolas nem energia elétrica possuem. Se não há sequer a
energia elétrica como as políticas educacionais querem proclamar igualdade de distribuição das
novas tecnologias para alunos e professores?
A utilização das novas tecnologias seria muito eficiente no processo de formação de
professores no Brasil se estivessem garantidas as condições mínimas de se promover educação.
Este é mais um projeto da classe burguesa que não se aplica qualitativamente à educação da
classe trabalhadora.

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Pedro Ferreira. Modelo brasileiro de Informática na Educação. Ministério da


Educação e do Desporto. Proinfe, 1995.

ANDRADE, P. F. & LIMA, M. C. M. Projeto educom. Brasília, MEC/OEA, 1993.

BRASIL. LDB - Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LEI No. 9.394, de 20
de dezembro de 1996. D.O. U. de 23 de dezembro de 1996.

KLEIN, S. P. O desafio à educação frente o avanço tecnológico. Tecnologia


Educacional. Rio de Janeiro, 1983.

LIMA, Patrícia Rosa Traple. NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E


COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES NOS
CURSOS DE LICENCIATURA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Tese de mestrado
apresentada à Universidade Federal de Santa Catarina, 2001.

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