Decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal da cidadania, acerca da cobrança de juros , atualização em contratos bancários e qual o índice apropriado a incidir na questão.
Decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal da cidadania, acerca da cobrança de juros , atualização em contratos bancários e qual o índice apropriado a incidir na questão.
Decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal da cidadania, acerca da cobrança de juros , atualização em contratos bancários e qual o índice apropriado a incidir na questão.
RECORRENTE : BANCO BANDEIRANTES S/A ADVOGADOS : RENATA BARBOSA FONTES E OUTROS IVAN JUNQUEIRA RIBEIRO E OUTROS ADHEMAR FERREIRA MACIEL E OUTROS RECORRIDO : JZ OUTDOOR LTDA ADVOGADO : GENARO SILVEIRA PAPINI E OUTRO
VOTO-VISTA
O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO FILHO: Trata-se, na
origem, de ao de cobrana cumulada com pedido indenizatrio proposta por JZ OUTDOOR LTDA contra BANCO BANDEIRANTES S/A, tendo em vista a realizao de lanamentos indevidos a dbito em sua conta corrente, no perodo compreendido entre 30/03/94 e 31/07/97, para os quais no havia os respectivos fatos geradores.
O pedido foi julgado parcialmente procedente, sendo condenado o ru
a ressarcir autora as importncias reclamadas, com correo monetria pelos ndices da tabela adotada pela contadoria judicial, acrescidos de juros de mora de 1% ao ms, assinalando o juiz sentenciante no terem sido provados os danos materiais.
Ambas as partes apelaram, e o egrgio Tribunal de Alada do Estado
de Minas Gerais, unanimidade, proveu, na ntegra, o recurso da autora e, em menor extenso, o do banco ru, restando o acrdo assim ementado:
CONTRATO BANCRIO DE ABERTURA DE CRDITO EM
CONTA CORRENTE LANAMENTOS INDEVIDOS A DBITO DO CORRENTISTA REPETIO DO INDBITO COM ATUALIZAO PELOS MESMOS ENCARGOS PRATICADOS PELA INSTITUIO FINANCEIRA. O reembolso do correntista do que lhe foi indevidamente apropriado pelo banco depositrio, corrigido pelas mesmas taxas e encargos praticados pela instituio financeira, simples consectrio do art. 964 do Cdigo Civil e do princpio Documento: 866372 - VOTO VISTA - Site certificado Pgina 1 de 6 Superior Tribunal de Justia imemorial que veda o enriquecimento sem causa .
Opostos embargos de declarao pelo Banco Bandeirantes, foram
rejeitados.
Seguiu-se, ento, a interposio do presente recurso especial, com
fundamento em ambas as alneas do permissivo constitucional, alegando, preliminarmente, violao ao artigo 535, II, do Cdigo de Processo Civil, ante a omisso da cmara a quo quanto a questes que considera relevantes para o deslinde da controvrsia, e, no mrito, contrariados os artigos 4, IX, da Lei n 4.595/64; 1, 3, do Decreto n 22.626/33; 159, 161, 999, I, 1.000, 1.003, 1.030, 1.062 e 1.096 do Cdigo Civil, bem assim a Lei n 6.899/81 e a Smula 596 do Supremo Tribunal Federal. Trouxe julgados para demonstrar o dissdio, no que se refere aos requisitos autorizadores da cobrana de juros acima do patamar de 12% ao ano.
Em seu arrazoado, o recorrente argumenta que, por no ser a
correntista instituio financeira, no se poderia permitir a restituio das importncias devidas, com acrscimo de juros e encargos que somente so devidos s instituies que atuam diretamente no mercado financeiro, sob pena de se permitir um enriquecimento sem causa.
Salienta, por outro lado, que no se poderia determinar a repetio do
indbito com relao a contratos j extintos por novao.
O eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, designado
relator, proferiu voto no sentido de dar provimento ao recurso especial, considerao de que a recorrida no tem direito repetio do indbito, com o acrscimo dos encargos praticados pelo banco, por ser a pretenso carecedora de amparo legal. No ponto, destaco os seguintes fundamentos lanados em seu voto: Se houve o dbito de quantias devidas, rechaada a indenizao pedida, o que se impe no a aplicao dos encargos prprios das instituies financeiras, mas, sim, os juros moratrios e a correo monetria. Ao contrrio do que entende o acrdo Documento: 866372 - VOTO VISTA - Site certificado Pgina 2 de 6 Superior Tribunal de Justia recorrido, a devoluo com aqueles encargos constitui enriquecimento sem causa do credor, porque tais encargos, como est na legislao prpria, incidem, apenas, quando se trate de instituio financeira. Esta imposio feita pelo acrdo recorrido provoca, sem sombra, clara violao aos artigos 1, 3, do Decreto-lei n. 22.626/33 e 1.062 do Cdigo Civil.
Dessa orientao divergiu a ilustre Ministra Nancy Andrighi,
considerao de que a ao de repetio de indbito tem como objeto recuperar tudo aquilo com o que o ru se enriqueceu injustificadamente. Assim, o autor no tem direito somente devoluo do que pagou indevidamente ao ru, mas, tambm, dos rendimentos advindos a este com a livre disposio do patrimnio usurpado .
E aps invocar o esclio de Pontes de Miranda, arrematou:
Alm disso, dar a algum a oportunidade de obter
lucro, como o caso, atravs da prtica de um ato ilcito, afronta a prpria noo de eqidade, pelo que deve ser afastada, ao mximo, qualquer soluo jurdica nesse sentido. Faz-se necessrio, portanto, obrigar a instituio financeira a devolver no s as quantias que indevidamente reteve do correntista, mas tambm os lucros que auferiu com tal procedimento. Para isso, razovel presumir que o banco obteve rendimentos, no mnimo, iguais s taxas e juros que pactuou com a correntista, ora recorrida, pois o destino usual da remunerao obtida pela instituio financeira a concesso de novos crditos a clientes, atravs de contratos que prevem encargos semelhantes .
Para melhor examinar a matria, solicitei vista dos autos.
De incio, no prospera o inconformismo com relao apontada
omisso do acrdo recorrido, com violao disposio do artigo 535, II, do estatuto processual civil. A questo central veiculada nas razes do especial, pertinente forma de atualizao dos valores a serem ressarcidos, foi devidamente abordada pela cmara a quo, que sobre ela emitiu pronunciamento de forma objetiva e fundamentada, no havendo se falar em deficincia na entrega da prestao jurisdicional. Alis, consoante Documento: 866372 - VOTO VISTA - Site certificado Pgina 3 de 6 Superior Tribunal de Justia entendimento reiterado nesta Corte, tendo encontrado motivao suficiente para fundar a deciso, no fica o rgo julgador obrigado a responder, um a um, os questionamentos suscitados pelas partes, mormente se notrio seu propsito de infringncia do julgado.
Quanto alegao de que no se poderia determinar a repetio do
indbito em relao a contratos extintos por novao, registro ter o acrdo recorrido assinalado que, na hiptese, no ficou comprovada a existncia do nimo de novar, inteno inequvoca de extinguir a obrigao anterior pela nova. Esbarra a pretenso, portanto, no bice do enunciado n 7 da Smula deste Tribunal.
Em relao alegada violao aos demais dispositivos legais, a serem
analisados em conjunto, impende considerar que, se o nosso cdigo no consagrou expressamente o enriquecimento sem causa como motivo gerador de obrigao, conferindo-lhe regras especficas, por outro lado, de se ter presente que o princpio do no enriquecimento custa alheia constitui um dos princpios gerais de direito, que devem ser invocados, em consonncia com o artigo 7 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil, sempre que houver omisso da lei.
Nesse passo, podemos justificar a ao do no locupletamento a partir
de duas mximas jurdicas: dar a cada um o que seu e no lesar ningum. O elemento moral da ao in rem verso a injustia do enriquecimento, ou seja, o enriquecimento contrrio ao direito.
Na hiptese em apreo, os dbitos indevidamente lanados na conta
corrente da autora entre 30.03.94 e 31.07.97 foram devidamente identificados e discriminados nas planilhas acostadas ao laudo pericial (fls. 673/677), estando presentes, portanto, as condies necessrias para se constatar o enriquecimento sem causa: o locupletamento de uma, com o empobrecimento correlativo da outra parte; a falta de justa causa e a relao de causalidade entre o enriquecimento e o empobrecimento.
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Superior Tribunal de Justia Assim, a nica questo a ser elucidada diz com os critrios a serem utilizados na apurao do montante devido, fazendo-se a opo entre a restituio do indbito com base nos parmetros adotados pela contadoria judicial, acrescidos de juros de 6% ao ano, conforme determinado pela sentena, ou, de outro modo, aplicando-se as mesmas taxas praticadas pela instituio bancria, em consonncia com o acrdo recorrido.
A esse fim, entendo que s teria procedncia a alegao de violao s
normas que regulam o sistema financeiro, se a ora recorrida, para exercer seu direito de ao, necessitasse tomar para si alguma das atribuies que so peculiares s instituies de crdito, em sua atuao no mercado financeiro, o que ocorre, por exemplo, quando algum que no se insere na definio de instituio financeira, realiza operao de emprstimo, desconto de ttulos etc. Diversa, contudo, a hiptese dos autos, em que a instituio financeira, maliciosamente ou no, lucrou s custas da ora recorrida.
Feita essa observao, tenho que, no caso concreto, o ressarcimento
deve se dar de forma plena, ante a conduta do banco, em lanar a dbito na conta corrente da recorrida, valores desprovidos do respectivo fato gerador.
Seria contrrio ao princpio geral da eqidade - que pressupe
tratamento igualitrio das partes nas suas relaes contratuais - deferir autora a atualizao monetria do montante devido acrescido apenas de juros de 6% ao ano, sob pena de se prestigiar o enriquecimento sem causa por parte do estabelecimento de crdito, o que poderia at servir de incentivo a outras prticas assemelhadas. Isso porque, embora, em situao como a dos autos, haja uma dificuldade natural de se aferir a extenso das vantagens obtidas com as importncias indevidamente retidas, razovel presumir que a movimentao desse numerrio gerou lucros para o banco, superiores, em muito, ao quantum a ser alcanado com a aplicao dos indexadores publicados pela Corregedoria de Justia, acrescidos de juros legais.
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Superior Tribunal de Justia No mbito da Quarta Turma, alis, existe precedente versando questo semelhante enfrentada no presente recurso (Resp 401.694/MG, DJ14/05/2002, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar), em que foi deferida a correo de acordo com a taxa SELIC. No obstante, acredito que o mais apropriado e justo seria adotar como critrio na atualizao do dbito a mesma taxa de juros praticada pela instituio financeira, conforme consignou a Ministra Nancy, porm, com a ressalva de que no sejam eles computados de forma capitalizada, uma vez que o anatocismo, salvante as hipteses previstas em lei, tambm afastado por esta Corte, nas demandas em que os bancos so os credores.
Pelo exposto, com a devida vnia do digno relator, acompanho a
divergncia.
o voto.
MINISTRO CASTRO FILHO
Relator
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