APELAÇÃO CÍVEL Nº. 415.588-0, DA COMARCA DE LONDRINA - 3ª
VARA CÍVEL. Apelante: SERCOMTEL S/A TELECOMUNICAÇÕES. Apelada: A. S. C. CONSTRUÇÕES ELÉTRICAS LTDA. Relator Convocado: EDISON MACEDO FILHO. Revisor: DES. ADALBERTO JORGE XISTO PEREIRA
APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. HABILITAÇÃO.
LICITAÇÃO MODALIDADE TOMADA DE PREÇO. SERCOMTEL. FALTA DE CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS ATUALIZADA. GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS QUE IMPOSSIBILITOU A OBTENÇÃO DA CERTIDÃO. CASO FORTUITO. IMPOSSIBILIDADE DE IMPOR RESPONSABILIZAÇÃO À EMPRESA CONCORRENTE. RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº.
415.588-0, oriundos da 3ª Vara Cível da Comarca de Londrina, em que é apelante SERCOMTEL S/A TELECOMUNICAÇÕES, sendo apelada A. S. C. CONSTRUÇÕES ELÉTRICAS LTDA.
Relatório
Trata-se de recurso de Apelação Cível interposto contra a decisão
que, nos autos de Mandado de Segurança sob nº. 1282/2006 impetrada por A. S. C. CONTRUÇÕES ELÉTRICAS LTDA em face da SERCOMTEL S/A TELECOMUNICAÇÕES, julgou procedente o pedido para o fim de confirmar a liminar que prorrogou a validade da certidão negativa nº 31.674/2006 até o término da greve dos servidores municipais de Londrina e declarar nula a decisão de inabilitação por ausência de prova de regularidade para com a Fazenda Municipal. Inconformado com a r. sentença, a SERCOMTEL S/A TELECOMUNICAÇÕES alega, em síntese: que não se trata de analisar abstratamente, como fez a sentença, se o mandado de segurança era necessário, mas sim, concretamente, se o interessado, mesmo diante da concessão do mandamus, obteria os efeitos desejados, já que o procedimento licitatório já se encerrou e a empresa vencedora já firmou contrato, o qual já está em execução, sendo certo que a medida pleiteada é estéril; que a A.S.C não poderia evitar a greve, ou com a greve já iniciada, colher determinadas certidões, mas, sabendo que a greve estava em vias de iniciar-se, conforme amplamente noticiado pela imprensa, poderia ter colhido antes as certidões, pois tinha tempo hábil para tal; ressalta, ainda, que a única licitante a valer-se de tais escusas foi a recorrida. Assim, requer o conhecimento e provimento deste recurso. Devidamente intimada (fls. 61), a Apelada pugnou pelo desprovimento do recurso de apelação, alegando em suas contra- razões que há interesse processual no prosseguimento deste mandamus tendo em vista que o objeto é diverso daquele veiculado em outro mandado de segurança; que a greve foi um fato superveniente, estranho e alheio à vontade da Apelada; que pelo princípio da isonomia a Sercomtel, que faz parte da Administração Pública, deve observar o julgamento e processamento da licitação em conformidade com o princípio da igualdade, sendo vedado restringir, de qualquer modo, a participação de empresa por condição alheia a sua vontade; que a COPEL S/A que é detentora de boa parte do controle acionário da apelante Sercomtel, em caso análogo, permitiu aos concorrentes que apresentassem a certidão de regularidade com o fisco municipal de Londrina mesmo vencida, desde que acompanhada de declaração firmando o compromisso de que, caso vencedora, comprovaria posteriormente a regularidade fiscal atualizada, tal qual o procedimento adotado pela empresa apelada junto à Sercomtel, ante o princípio da isonomia. Assim, vieram os autos a este Tribunal para a reapreciação da lide. A douta Procuradoria Geral da Justiça, manifestou-se pelo improvimento do recurso, com a manutenção da sentença.
É, em síntese, o relatório.
Voto
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do presente
recurso. Em que pesem as razões aventadas pela Apelante, o recurso não merece ser provido. Conforme se observa do artigo 1º da Lei nº 1.533/51, bem como do art. 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal, para a concessão de mandado de segurança é necessária a existência de direito líquido e certo violado, ou na iminência de sofrer violação, o que de fato se verifica no presente caso, já que a Apelada foi impossibilitada de obter certidão comprobatória de regularidade fiscal, em razão de greve dos servidores municipais. O Mandado de Segurança é definido por Hely Lopes Meirelles, em sua obra Mandado de segurança, como "o meio constitucional posto à disposição de toda pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade processual, ou universalidade reconhecida por lei, para proteção de direito individual ou coletivo, líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça." (Direito Constitucional. 7° ed. Revista ampliada e atualizada. São Paulo: Atlas, 2000. p.153). Alexandre de Moraes, no livro Direito Constitucional, acrescenta a este conceito que "o Mandado de Segurança é conferido aos indivíduos para que eles se defendam de atos ilegais ou praticados com abuso de poder, constituindo-se verdadeiro instrumento de liberdade civil e liberdade política". (Direito Constitucional Administrativo, 3. Ed. São Paulo: Atlas, 2006, p.267). A apelante argumenta ter ocorrido a perda do objeto, em razão de sentença proferida no mandado de segurança nº 1014/2006 da 3ª Vara Cível de Londrina. No entanto, o que se verifica é que aqueles autos possuíam objeto diferente do presente, tratava-se de pleito para declarar a inexigibilidade de comprovação da capacitação técnica operacional e, por mais que se saiba dizerem respeito ao mesmo procedimento licitatório (Tomada de Preço 06/2006) não consta nos presentes autos cópia da referida sentença, bem como qualquer documento que comprove que a licitação já obteve fim e a empresa contratada já se encontra em labor. Assim, trata-se apenas de argumentos desprovidos de cunho probatório, não havendo perfectibilização em tal argumentação. Assim, necessário se faz a análise do mérito do presente recurso. Afirma o recorrente que a empresa recorrida tinha conhecimento de que havia grande probabilidade de ocorrer a greve dos servidores municipais, não havendo que se falar em "força maior" vez que a empresa possuía tempo hábil para colher antes da greve as certidões. No entanto, não se deve buscar aferir neste processo, se de fato possuía ou não a empresa concorrente tempo hábil para colher tais certidões antes de iniciada a greve, mas sim do direito que a mesma detinha em adquiri-las até o dia 22/08/2006, o dia da abertura dos envelopes. Compulsando os autos verifica-se que o edital Tomada de Preço nº 06/2006, previu como data de entrega dos documentos o dia 22/08/2006, às 09:00 horas. Às fls. 20 verifica-se que os servidores municipais de Londrina entraram em greve no dia 08/06/2006, portanto 15 (quinze) dias antes do prazo fatal para entrega dos documentos requeridos pelo edital. Nesse passo, não há como se imputar ao ora Apelante a responsabilidade pelo fato de não entregar a certidão de regularidade com fisco atualizada, vez que esta somente é fornecida pelo ente municipal por meio de atuação de seus servidores, os quais encontravam-se em greve. E, como bem dispôs a douta Procuradoria, "Não se pode impor ao administrado as consequências lesivas a direito seu de participação de processo licitatório por fatos que extrapolam a sua vontade e decorrentes de força maior". (fls. 79) Nesse sentido já se manifestou o Superior Tribunal de Justiça, vejamos: ADMINISTRATIVO. FISCALIZAÇÃO SANITÁRIA. GREVE DOS FUNCIONÁRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. 1. SENDO IMPOSSÍVEL AO PARTICULAR APRESENTAR DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA PELO PODER PÚBLICO, EM FACE DA OCORRÊNCIA DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO, ILEGITIMA AFIGURA-SE A EXIGÊNCIA DE TAL DOCUMENTAÇÃO "IN CASU", O CERTIFICADO FITO-SANITARIO. 2. RECURSO IMPROVIDO. (REsp 143.135/SP, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, julgado em 06/10/1997, DJ 17/11/1997 p. 59463)
Deve-se esclarecer ainda que, apesar de a greve ter sido objeto de
notícia nos meios de comunicação, esta circunstância não descaracteriza a greve como um motivo de caso fortuito/força maior, pois a paralisação era um evento futuro e incerto, já que vários motivos poderiam impedi-la de acontecer. Assim, não há que se falar que o direito da A.S.C. Construções Elétricas Ltda não foi violado, pois deve prevalecer o entendimento de que a mesma tinha o prazo estendido para apresentação da certidão diante da ocorrência da greve dos servidores municipais, órgão que tem o poder de fornecer tal documento. Não tendo sido concedida a mesma a oportunidade de apresentação do referido documento após a finalização da greve, resultando na sua exclusão do certame, resta caracterizada a violação a seu direito líquido e certo. Diante o exposto, nego provimento, ao recurso.
Decisão
ACORDAM os Desembargadores e Juízes Convocados integrantes da
Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade, em negar provimento ao recurso de apelação cível, de acordo com o voto do Relator. Presidiu o julgamento o Senhor Desembargador ROSENE ARÃO CRISTO PEREIRA com voto, e dele participou o Senhor Desembargador ADALBERTO JORGE XISTO PEREIRA.