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Zaraba Oliveira
Seu Barriga, de satisfao, abriu a boca num arremedo de sorriso, mostrando falta
de alguns titulares na arcada dentria, alguns superiores e outros inferiores. Afinal, seu
caminhozinho, tara de quatro toneladas, estava com a carga de verdura arrumadinha,
amarrada, pronta para a viagem para Taubat, no Estado de So Paulo. Graas a seus dois
fiis ajudantes: Florisvaldo e Z Coit, que iriam na carroceria camuflados pela lona.
Barriga, cujo apelido remetia ao seu abdome volumoso e luzidio, camisas
desbotoadas e calas mostrando o rego do traseiro, comercializava verduras, legumes e
frutas de produtores de Passa Quatro, em Minas Gerais, e buscava mercados mais
promissores nos municpios paulistas.
Abriu uma garrafa de pinga, serviu trs doses e ofereceu aos ajudantes.
- Vamos tomar essa, comer um po com linguia e botar as rodas na estrada - disse,
j emborcando a sua dose de uma vez garganta abaixo.
Florisvaldo, apesar de baixinho e meio franzino, analfabeto de pai e me, como seu
colega Z Coit, tinha um hbito bem peculiar de abordagem para falar com outras
pessoas: Duas palavrinhas!?, olhando direto e alando a mo direita altura do queixo,
os dedos polegar e o indicador apertando uma bolinha invisvel de mais ou menos sete
centmetro de di|metro.Acabou de falar: duas palavrinhas!, gozava um conhecido.
- No, posso falar com oc?
- Bo, j t falando...
Florisvaldo no perdia a mania. Era seu modo de se fazer notar e pedir aparte. No
ligava para as brincadeiras e nem pelos apelidos que ganhou. Afnal, quem em Passa
Quatro no tem apelido? Sentia uma irritao profunda mesno quando alguns amigos o
sacaneavam: Flor, deixa eu pegar no seu boto?. Flor...quie dio!
Mas ele, pobre coitado apedeuta, jamais imaginaria a confuso que arrumou pra si
com a a expresso duas palavrinhas...
***
Rancho das guas Claras, P4-MG, 18/10/06