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www.conjur.com.br ISSN 1809-2829 - 14 de janeiro de 2007

Artigos > Internacional

Suprema Corte
EUA faz política imperialista aos direitos autorais

por Túlio Lima Vianna

A Suprema Corte dos Estados Unidos criou importante e perigoso precedente para a criminalização da comercialização dos
programas ponto-a-ponto.

Um software “peer-to-peer” permite qualquer pessoa compartilhar arquivos na Inte rnet que podem ser acessados por outros
usuários do mesmo programa. Através deles foram criadas imensas redes de troca d e arquivos de músicas, vídeos, textos e
outros softwares. Ainda que a maioria destes arquivos esteja protegida por direi tos autorais e, portanto, ilegalmente
compartilhada, uma parcela significativa de usuários utiliza as redes “peer-to-p eer” para divulgarem seus próprios trabalhos
artísticos e intelectuais.

Até então os tribunais dos Estados Unidos aplicavam aos casos envolvendo program as “peer-to-peer” o precedente Sony v.
Betamax de 1984, que fundamentava a legalidade da venda do videocassete e, por e xtensão, de qualquer dispositivo capaz
de fraudar direitos autorais. Este entendimento permitia uma certa tranqüilidade aos desenvolvedores de programas
ponto-a-ponto, sempre pressionados pelas indústrias dos EUA de música e vídeo.

A decisão do caso Metro-Goldwyn-Mayer Studios Inc. v. Grokster, Ltd. afastou, porém, a aplicação do antigo precedente aos
programas ponto-a-ponto, sob o argumento de que, enquanto o videocassete é usado primordialmente para se gravar um
programa para assisti-lo posteriormente, os softwares “peer-to-peer” são usados principalmente para fraudar direitos autorais.
Com este entendimento, a Suprema Corte tornou possível a responsabilização das e mpresas desenvolvedoras destes
softwares pelas infrações de direitos autorais de seus usuários.

A decisão é uma verdadeira aberração jurídica e só pode ser explicada pela polít ica imperialista e antidemocrática dos
Estados Jurídicos de proteção aos direitos autorais.

Os direitos autorais têm como fundamento jurídico a necessidade de incentivo aos autores que, em tese, se sentiriam
estimulados a produzirem novas invenções se fossem remunerados por suas descober tas. Paradoxalmente, a Suprema
Corte dos EUA inverteu o raciocínio: protegeu os direitos autorais para que novo s softwares “peer-to-peer” não fossem
desenvolvidos. Cerceou a criatividade intelectual em prol da tutela dos direitos autorais.

É evidente que por trás desta decisão não se encontra a necessidade de estímulo à criatividade artística e ao
desenvolvimento tecnológico. As redes “peer-to-peer” possibilitaram uma diversid ade de acesso à produção cultural nunca
antes imaginada. Por meio delas, qualquer pessoa conectada à Internet pode ter a cesso a músicas árabes, filmes iranianos,
literatura africana, dentre uma inesgotável fonte de recursos culturais jamais a cessíveis pelos meios tradicionais. Difícil
imaginar um maior estímulo à criatividade intelectual.

A decisão, porém, analisa os direitos autorais sob uma ótica “ianquecêntrica”, p ela qual somente as criações culturais
produzidas ao norte do México e ao sul do Canadá possuem valor intelectual a ser estimulado e tutelado. Neste sentido as
redes “peer-to-peer” representam uma ameaça à indústria cultural, pois rompem a hegemonia da distribuição do
conhecimento humano concentrada até então nos grandes meios de comunicação.

Esta forma de tutela de direitos autorais não tem por objetivo incentivar a cria tividade e o desenvolvimento cultural e
tecnológico, mas garantir os monopólios de distribuição das indústrias culturais estadunidenses.

Não bastasse esta política imperialista de tutela dos direitos autorais, esta decisão da Suprema Corte fundamenta-se em uma
premissa jurídica de caráter nitidamente antidemocrático: a responsabilidade obj etiva.

Por meio da responsabilidade objetiva pune-se indiscriminadamente o responsável por um resultado danoso sem se levar em
conta sua intenção ou mesmo sua culpa. Afasta-se assim da discussão a boa-fé do desenvolvedor do software. Não se
debate se o programa foi criado para fins lícitos ou ilícitos, mas tão-somente se algum usuário o utilizou para violar direitos
autorais. Pune-se pelo efeito, não pela causa.

A prevalecer tal entendimento da Suprema Corte, seria desejável que, por analogi a, os mesmos juízes também decidissem
que as empresas de armas estadunidenses possam responder pelas vítimas das armas por elas fabricadas. Irrelevante se
foram fabricadas e vendidas para fins de defesa ou de policiamento, pois o que i nteressa é tão-somente o resultado: a morte.
A Suprema Corte dos Estados Unidos, porém, parece valorar mais os direitos autor ais do que a própria vida. Talvez porque
seja a vida de sua indústria cultural que esteja em jogo.

Revista Consultor Jurídico, 13 de agosto de 2005

Sobre o autor
Túlio Lima Vianna: Professor de Direito Penal da PUC Minas, Doutorando (UFPR) e Mestre (UFMG) em Direito.

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