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Processo: 2005.015366-7
Relator: Maria do Rocio Luz Santa Ritta
Data: 05/07/2006
Custas legais.
I - RELATÓRIO:
Tratam os autos, em resumo, de representação ofertada pelo d. Procurador-
Geral de Justiça tencionando a instauração de inquérito judicial no sentido de
apurar a responsabilidade criminal de Edemar Gruber, Juiz de Direito titular da
1a Vara Cível da Comarca de Joaçaba, em decorrência de atos supostamente
tipificados enquanto crimes de prevaricação (art. 319, CP), denunciação
caluniosa (art. 339, CP), calúnia e difamação (arts. 138 e 139, CP).
O Ministério Público, por sua vez, além de propor exceção de suspeição contra
esse mesmo Juiz de Direito (fls. 103 a 113), interpôs agravo de instrumento
com pedido de efeito suspensivo contra a medida liminar concedida no
mandado de segurança (fl. 259), o qual foi apreciado e concedido pelo e.
Tribunal de Justiça (fls. 271 a 274).
II . VOTO:
1. Procedimento.
Precedente recente do Tribunal Pleno desta Casa não derrui tal conclusão.
Deveras. Cumpre observar que, no julgamento da Representação
n.2003.007873-8, relatada pelo Des. Luiz Cézar Medeiros, o Plenário da Corte
deliberou remeter os autos do procedimento investigatório ao Procurador-Geral
de Justiça, membro do Estado-acusador, titular do dominis litis, com
competência para determinar o arquivamento em sede penal (art. 29, VII, da
Lei Orgânica do Ministério Público), excluída, por maioria de votos, a incidência
da apreciação Plenária nesse momento da persecução. O caso, contudo, tem
contornos diversos, competindo ao Tribunal Pleno determinar ou não o início
das investigações, sob pena de tornar morta a letra do art. 33, par. ún., da
LOMAN.
2. Prevaricação.
(...)
3. Denunciação caluniosa.
Para efeito desse delito, o elemento subjetivo existe enquanto dolo direto. A
imputação deve ser subjetivamente falsa, no sentido de que o agente esteja
consciente de que denuncia alguém inocente. Em caso de dúvida não há
crime, porque a figura é incompatível com o dolo eventual (RT 631/605). Deve
a acusação, por igual, ser objetivamente falsa, no sentido de que encerre
imputação dolosamente divorciada da verdade conhecida dos fatos, indicando
à autoridade acontecimento não havido (fato inverídico) ou atribuindo fato
realmente ocorrido a quem sabe não o haver praticado (autoria inverídica).
Sobre o tipo subjetivo da denunciação caluniosa, Júlio Fabbrini Mirabete anota
que .O dolo do crime de denunciação caluniosa é a vontade de provocar a
investigação policial, o processo judicial, a instauração de investigação
administrativa, o inquérito civil ou a ação de improbidade administrativa,
exigindo-se que o agente saiba que imputa a alguém crime que este não
praticou. É mister, assim, que a acusação seja objetiva e subjetivamente falsa,
isto é, que esteja em contradição com a verdade dos fatos e que haja por parte
do agente a certeza na inocência da pessoa a quem se atribui a prática do
crime; sem essa certeza não se configura o crime previsto no art. 339. O
simples estado de dúvida a esse respeito afasta a tipicidade do delito; não se
configura o crime com dolo eventual. (Código Penal Interpretado. 4a ed. Atlas,
2003, p.2214).
4. Calúnia e difamação.
Entendo que não poderia o legislador tratar de outra forma os atos dos
funcionários públicos, pois deve o mesmo, por dever de ofício, opinar ou
informar em caráter oficial, com a máxima franqueza, não se importando se irá
ofender alguém, pois deve prevalecer o interesse público. (Amauri Ferreira
Pinto. Calúnia, Injúria e Difamação. 2a ed. Rio de Janeiro: AIDE, 2000, pág.
95).
4. Conclusão.
III - DECISÃO:
Nos termos do voto da relatora, o Tribunal Pleno, por votação unânime, recebe
parcialmente a representação ofertada pelo d. Procurador-Geral de Justiça,
delimitando ao crime de prevaricação (art. 319, do Código Penal) o espectro da
investigação a levar-se a efeito pela d. Corregedoria-Geral de Justiça, e, por
extensão, da persecução criminal do magistrado representado.
Relatora