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Ampliação da malha ferroviária no país

cria oportunidades
Valor Econômico - São Paulo/SP - EU & CARREIRA -
02/08/2010 - 01:02:27

Por Maurício Oliveira, para o Valor, de São Paulo

Bruno Magalhães/Nitro/Valor

Flaviaine Pereira, 24 anos, se formou no disputado curso de especialização em


engenharia ferroviária da Vale

Aos 72 anos, o aposentado José Nunes ficou emocionado ao saber que a neta Flaviaine
Pereira, 24 anos, trabalharia no setor de ferrovias. Ele atuou por muitos anos na
manutenção de estradas de ferro, mas se viu obrigado a abandonar a profissão após ter
sido demitido durante uma crise do setor. Formada em engenharia de produção,
Flaviaine superou 200 outros candidatos que disputavam cada vaga do curso de
especialização em engenharia ferroviária da Vale, empresa que administra mais de dez
mil quilômetros de ferrovias no país. Durante três meses, entre outubro e dezembro do
ano passado, ela mergulhou em uma rotina de dez horas diárias de aulas, palestras com
gestores e especialistas da empresa e visitas técnicas nos fins de semana, além de ter que
estudar para pelo menos duas provas semanais.

Ao final do curso, foi contratada para o cargo de engenheira ferroviária do setor de


planejamento e controle de manutenção de via. "Estou encantada com as perspectivas da
carreira. Tenho certeza de que o setor ferroviário brasileiro viverá nos próximos anos um
período de grande expansão e muitas oportunidades para quem atua na área", diz a
mineira de Itabira - por coincidência, berço também da empresa para a qual ela trabalha.
Solteira e sem filhos, Flaviaine mora em Belo Horizonte, mas viaja com frequência e
está em vias de se transferir para o interior do estado. "Uma das premissas dessa carreira
é a disponibilidade para mudanças, muitas vezes para pequenas cidades", diz.

A expectativa geral de quem acompanha o setor de logística é de que as oportunidades


ligadas às ferrovias - tanto na administração quanto na construção da infraestrutura e dos
equipamentos - multipliquem-se gradualmente com a anunciada expansão da malha do
país e a necessidade de aprimorar a produtividade das empresas que atuam no setor. O
país ainda usa pouco o transporte ferroviário em comparação a outras potências
econômicas e a tendência é de que o déficit seja reduzido nos próximos anos por uma
questão de competitividade. "O profissional que decide fazer carreira na área de
ferrovias não pode ter pressa para subir na carreira. O ritmo é tradicionalmente mais
lento, com processos complexos e de longo prazo", alerta o coordenador do MBA em
gestão logística da Fipecafi, instituição ligada à FEA/USP, João Bio. Ele foi estagiário
da Fepasa e trabalhou por 12 anos no Metrô de São Paulo. "Um dos problemas que
engessam o setor em termos de oportunidades de carreira é a dificuldade para a entrada
de novas empresas", diz Bio.

Esse fator, contudo, não tem impedido, a criação de postos de trabalho, especialmente
nas grandes empresas que já participam ativamente do esforço para ampliar a malha e
aprimorar a qualidade dos serviços prestados. Além do curso de formação voltado a
engenheiros de qualquer área que queiram se especializar no setor ferroviário - caminho
seguido por Flaviaine -, outra porta de entrada na Vale é o programa de trainees. Para os
jovens que conseguem passar pelo funil, as perspectivas são promissoras. A empresa já
anunciou que planeja investir cada vez mais em estruturas de logística, tanto como apoio
para as atividades de mineração quanto para a prestação de serviços terceirizados - a área
de transporte ferroviário de cargas faturou US$ 1,3 bilhão no ano passado.

Na América Latina Logística (ALL), que obteve crescimento de 10% no volume


transportado por ferrovias no ano passado, serão contratados no segundo semestre deste
ano 50 jovens por meio dos programas de trainees e formação de engenheiros
ferroviários. Além disso, serão mais 200 operadores de produção e 75 técnicos para
funções de manutenção mecânica e elétrica de locomotivas.

Assim como ocorre na Vale, a ALL aposta na formação interna. "Uma vez que não
existe mão de obra pronta disponível no mercado, optamos por selecionar profissionais
que demonstrem possuir valores que a companhia aprecia -mesmo que não tenham
qualquer experiência em ferrovias -e prepará-los por meio dos cursos da nossa
universidade corporativa", afirma o gerente de pessoas, Rodrigo Paupitz. Nas funções
técnicas, os cursos são montados em decorrência de uma demanda já existente, de tal
forma que o índice de contratação dos participantes beira os 100%. Para evitar que os
profissionais formados em casa sejam "roubados" pelos concorrentes, a empresa aposta
em um pacote de retenção que inclui monitoramento do clima de trabalho, remuneração
variável e opção de o profissional crescer tanto em funções essencialmente técnicas
quanto em cargos de gestão.

Na subsidiária brasileira da Siemens, 500 pessoas foram contratadas desde 2007 para
atuar em funções ligadas ao setor ferroviário. Até o final deste ano, serão mais 150
empregos diretos e 450 indiretos, consequência da inauguração de uma unidade fabril
em Cabreúva (SP) para reforma e fabricação de trens urbanos e composições usadas pelo
sistema metroviário. A exemplo das outras grandes empresas que atuam no setor
ferroviário, a Siemens desistiu de procurar mão de obra pronta e decidiu investir na
formação. "Contratamos pessoas sem experiência no setor e as colocamos para trabalhar
ao lado dos mais experientes. É um treinamento na prática", define o diretor executivo
da divisão mobility, Paulo Alvarenga.

A fábrica já está com uma encomenda que vai ocupar cinco anos de trabalho: a
modernização de 98 trens das linhas 1, 2 e 3 do Metrô de São Paulo. "O mercado nunca
esteve tão aquecido quanto agora. A realização da Copa de 2014 no Brasil e o projeto do
trem de alta velocidade entre São Paulo e Rio são eventos históricos", afirma Alvarenga.
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