Você está na página 1de 2

Uma Nova Espécie Humana

"A Humanidade olha para mim como um magnífico começo mas não a palavra final."
— Freeman Dyson

O conhecimento científico evolui segundo um padrão exponencial. Isto leva a que os benefícios que as
tecnologias do futuro trarão à espécie humana sejam incomparáveis aos benefícios tecnológicos a que
estamos habituados obter da Ciência. Desta vez, o que nós temos a ganhar — ou perder, as duas hipóteses
são possíveis — é muito mais do que uns anos de vida ou um pequeno conforto no nosso dia-a-dia. Nós
(pessoas do presente) temos o poder de evoluir a nossa espécie para outra melhor.

Os últimos avanços da engenharia genética já permitem modificar os genes das pessoas antes mesmo
destas nascerem e para o resto da vida. Este processo, designado "terapia genética em tecido germinal", é
ainda bastante ineficiente e está, felizmente, proibido por lei na grande parte dos países ocidentais 1.
Infelizmente, a investigação científica também está proibida. As potencialidades desta tecnologia estão a
ser desprezadas em favor de velhos medos e superstições. Graças a esta tecnologia, é possível tornar as
gerações futuras imunes a doenças como a SIDA e a malária; livres de doenças genéticas como
mongolismo, asma e hemofilia; menos susceptíveis de desenvolver cancro, etc. (este documento
ultrapassaria largamente os 12 Megabytes a que tenho direito para colocar as minhas páginas caso fosse
enumerar todas as vantagens da manipulação dos nossos genes). No fundo, teríamos uma espécie humana
geneticamente pura. Não se pense que passaríamos a ser uma colecção de Bradd Pitts e Claudia Schiffers
com o cérebro do Einstein! O que aconteceria era um "limar de arestas". Os extremos mais repugnantes
seriam eliminados, mas a diversidade permaneceria inalterável. Estou certo de que qualquer pessoa é
capaz de enumerar centenas de pessoas lindíssimas. Quanto à inteligência, sermos todos mais inteligentes
não é uma coisa necessariamente má (exceptuado talvez para as religiões, . . . essa é uma estória que fica
para outra altura). Mais uma vez, o que aconteceria seria um "limar de extremos". Neste caso, as pessoas
menos inteligentes desapareceriam. Continuaria a haver pessoas mais inteligentes do que outras. Mais
importante ainda é que continuaria a haver pessoas com diferentes especialidades, personalidades e
qualidades profissionais.

A eliminação de doenças actualmente existentes e considerações estéticas são apenas o começo. Uma
nova espécie humana terá de ter novas capacidades inexistentes na espécie actual. A nossa inteligência
será aumentada, poderemos controlar muito mais eficazmente a dor, controlaremos profundamente as
nossas emoções e sensações — as possibilidades sexuais são inimagináveis —, desenvolveremos as
nossas capacidades físicas, controlaremos a agressividade a um nível genético, etc. Existe quem proponha
a ideia de adicionar um cromossoma à nossa colecção actual de 46 para podermos incorporar todas as
mudanças que desejamos. Nessa altura as pessoas com 47 cromossomas seriam de outra espécie.

A genética é uma das tecnologias que nos permitirão evoluir, mas existem outras. A nanotecnologia (nano
significa muito pequeno pois 1 nano=10 -9 m) é uma das tecnologias com maior potencial. Trata-se de
engenharia molecular, manipulação atómica e molecular de modo a se criarem aparelhos com precisão
atómica. O melhor exemplo de nanotecnologia em acção não foi criado por nós, tratam-se das células dos
nossos e outros organismos. As nossas células possuem um enorme conjunto de enzimas para regular
reacções químicas, manipulam moléculas nos seus organelos a um nível atómico e com uma precisão que
nós ainda não compreendemos. O argumento é: se a evolução conseguiu criar nanomáquinas de tal
precisão e eficácia, porque é que nós não havemos de criar as nossas próprias nanomáquinas e utilizá-las
em proveito próprio? Estamos ainda a algumas décadas de distância da capacidade em engenharia
molecular das nossas células, mas já se fazem esforços sérios no sentido de tornar realidade a
"manipulação da matéria a um nível molecular". As consequências de tal tecnologia ultrapassam a
imaginação. Em termos informáticos passaríamos a ter nanocomputadores e abria-se caminho para
andróides e verdadeira inteligência e vida artificial; poderíamos incluir pequenos robôs — nanobots — no
nosso corpo e células para combater doenças e melhorar as nossas capacidades. Dominaríamos
completamente a Natureza; actualmente já a dominamos a nível macroscópico, passaríamos a dominá-la a
nível microscópico também. Erradicaríamos grande parte — se não todas — das doenças que nos afectam
e podíamos nos dedicar à conquista e colonização do espaço — cujos primeiros viajantes seriam
nanomáquinas autónomas e capazes de se reproduzirem.
Mesmo sem a nanotecnologia, existem duas áreas que poderão progredir: cosmologia e cibernética. Os
nossos sentidos são muito limitados, era capaz de ser interessante ver o espectro de luz em outros
comprimentos de onda que não o visível e ouvir frequências não audíveis de momento. Acoplando
máquinas artificiais isto será possível, assim como muitas outras tarefas. O futuro da estratégia militar
passa por uma fusão entre organismo biológico e organismo robótico (as aplicações militares de quase
todas estas tecnologias são enormes, mas tenho evitado falar nisso pois se nós já nos podemos matar a
todos, muito pior é difícil). Um dos objectivos finais dos transhumanistas é a conquista do Universo — a
gente não faz a coisa por menos! Colonizar outros planetas e pesquisar o Cosmos é um sonho antigo que
também faz parte do transhumanismo. Quantos segredos não existirão neste vasto — talvez infinito —
Universo. Outras espécies, outros mundos, outras culturas, outras experiências nos aguardam...

Estas ideias são muito assustadoras para muitas pessoas. Desigualdades sociais levam à ideia de que os
ricos vão passar a ser ainda 2 mais inteligentes e evoluídos, aumentando ainda mais essas injustiças
sociais. A Igreja afirma que vai contra Deus, ambientalistas são contra um ainda maior controle do
Homem sobre a Natureza, comissões de ética são contra, etc. Realmente existem muitas pessoas contra o
transhumanismo. Mas como Bertrand Russell afirmou: "Se 50 milhões de pessoas disserem uma coisa
idiota, continua a ser uma coisa idiota." É claro que existem alguns perigos inerentes a estas — e outras
— tecnologias, mas não será melhor desenvolver e estudá-las do que fugir, ignorar e fechar os olhos.
Quanto mais não seja porque se nós ignorarmos estas tecnologias, outros não hão-de cometer o mesmo
erro e poderão usá-las de forma pouco agradável para nós. É claro que o desejo, comum a todos os
transhumanistas, de obter um desenvolvimento individual não é universal. Consequentemente, não existe
um único transhumanista que pretenda obrigar alguém a se tornar pós-humano. Trata-se de auto-
evolução, cada um pode evoluir como e quando quiser. Aqueles que não pretenderem evoluir continuarão
a pertencer à espécie humana enquanto que os outros pertencerão às espécies; Homo sapiens sapiens
sapiens ou Homo sapiens sapiens cyber, etc.

1
 — Existe quem argumente que as directivas da CE podem ser ultrapassadas. No entanto, é altamente
improvável que algum governo ou empresa financie qualquer projecto de investigação na área enquanto a
polémica em seu torno se mantiver. Isto apesar do considerável apoio da comunidade científica à pesquisa
desta tecnologia — entre os notáveis destaca-se, por exemplo, o Dr. James Watson, prémio Nobel pela
descoberta do DNA e também ele um transhumanista.

2
 — Apesar da enorme polémica do assunto e de não fazer parte do transhumanismo, eu penso, com base
em estudos científicos e sem nenhum preconceito, que realmente existe uma relação entre a classe social e
o desenvolvimento intelectual. Se essa discrepância é genética ou puramente fruto do ambiente em que
pessoas de diferentes classes sociais vivem, não o vou discutir aqui. É no entanto um facto indesmentível
que as pessoas de classes sociais superiores são em média — há certamente muitas excepções — mais
inteligentes do que pessoas de classes sociais mais baixas.

Sugestões, ideias e todo o tipo de críticas são bem-vindas. Por favor contacte-me.

Fonte: http://transhumanista.no.sapo.pt/

Você também pode gostar