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| \ [ t i Capitulo 3 O sistema eleitoral brasileiro JAIRO WICOLAU Sistema eleitoral é 0 conjunto de regras ‘que define como, emuma determinada ele. 80, os eleitores podem fazer as suas esco- Ihas e como os votos so somados para se- rem transformadcs em mandatos (cadeiras no Legisatvo ou chefia do Executivo). Os ‘overnantes braileiros ko eletos pelo sis: tema proporcional e por variantes da repre- sentagio majoritiria.O propésito deste tex- ‘a € apresentar uma descrigfo do funciona- mento do sistema eleitoral ao Beas 1. 0 sisteme proporcional 0 Brasil elege representantes para a C2 ‘mara dos Deputadcs desde 1824. Durante o Império os deputados eram escolhidos por intermédio de diferentes modelos die repre sentagio majortiria. Até 1880, 0 sistema de ‘Yoragio era feito em dois nives: 0s vorantes elegjars. of elitores (primeiro alvel), que, por sua ver, excolhiam os represtmtantes pasa Cimara dos Deputados (segundo nivel) Em 1881, as eleigdes para a Cara dos Deputados passaram a ser dieetas. Na Pri- rmeiza Repiiblica (1889-1930), wés sistemas cleitoras foram wilizados; todos eles varia- s6es do modelo majoritério, O mais dura- douro (1904-1930) dividia os estados em distrtoseletorais de cinco representantes; eleitor podia votar em até quatro candida- ‘ese ainda podia vorar no mesmo candidato anais de uma ver, New pertodo, a6 eeigdes pata presidente e para a Cémara dos Dep- tados eram marcadas por fraudes em larga «esealae por redusida pantcipacio eletoral. Em 1932, foi adotado um novo eéigo ele tral que modernizou 0 processo de votacio 1 pals, sendo o primeito passo pars con solidagio de uma democracia eleitoral: as smulheres passaram ater 0 dteito do voto; foi criadaa JustigaFleitoral ~que ficou com a responsabilidade de organizaroalistamen- {0 aseleigbes, 2 spuragin das votss ea pro clamagio dos eleitos; foram tomadas medi- das para garantro sigil do voto. ‘Aré a décads de 1930, nenhum partido ‘ou movimento politico com alguma expres- so defendeu a intooducio da representagio proporcional no pais. Tal earefa devewee basicamente ao trabalho de alguns poacos intelecaais, dois deles (Assis Brasil e Jodo x Cabral) paricipavam da redasio do Cédigo| Eleitoral de 1932. Na realidade, 0 Cédigo| adotou, para aceigio para Camara dor De- pPutados, um sistema misto (com parte dos representantes eleita pelo sistema propotcio nal), cuja operasdo era bastante complexa Tal sistema foi tii2ado em apenas duas ele ‘s0es (1933 e 1934), pois 0 Golpede Estado, Tiderado por Getilio Vargas em 3937, sus pendeu as eleigbes,fechou os partidos ¢ 0 Congresso, As eleigées voltaram em 1945, com o procesio de democratizasio do pais. 28 Naquele ano, o sistema proporcional foi in tegralmente adotado nas eleigbes para C3 tara dos Deputados. Desde enti, poucas tmudengas foram feitas na forma como de- putados sio eleitos no Brasil" Arualmente, "a representasio proporcional € usada nas cleigées para a Camara dos Deputados, As sembléias Legislativas e Camara dos Verea dores. A escolha do eleitor € simples ele deve digitar 0 nfimero do candidato, ou alternati- vamente, do se partido na urna eletrOnica A seguir, sto dscutidos quatro aspectos \damentais do sistema usado nas eleigbes fi para a Cimara dos Deputados: ‘as regras para dstribuicio das cadeiras, as coligagbes, 2 liseaaberta, 2 distorgio na representagio dos estados na Camara dos Deputados. Para iustrar como € feta a disribuigto de cadeiras entre 0s partidos (ecoligagbes) no Brasil, uilizarei os resultados das ele ‘g0es para Cimara dos Deputados realizadas no Estado de Szo Paulo em 1986, Compare- ceram para votar 15.452.508 eleitores. Des- tes, 3.545.914 anularam ou deixaram a cé- dala em branco.* Assim o total de votos vi- lidos (comparecimento- brancos e nuls) fi de 11,906,594. © niimero de cadeiras dis- puradas era de 60. Passo 1: Caleulo do quociente © quociente eleitoral ¢ o resultado da divisto do total de votos vilidos pelo néme- to de cadeieas em disputa: 1.906.594 /60 = 198.443 Passo 2: Divisio dos votos de cada Partido polo quociente eleltoral Os votos de cada partido sio divididos pelo quociente eleitoral. O mimero inteiro derivado da divisto € 0 nimero de cadeiras «que cada partido obters. Por exemplo, no caso do PMDB, a divisio dos votos (5.274.397) pelo quociente (198.443) igual 8 26,578; por essa conta, o partido recebe 26 cadei Os partidos que no conseguem atingic ‘oquocienteeletoral sto exclufdos da disti- buigdo das cadeiras. Na Tabela 1, do PCB para baixo, todas 0s partidassio excluidos Assim, 0 quocienteeleitoral funciona como uma cliusula de barteira nos estadas (C3- mara dos Deputados ¢ Assembléias Legislativas) ¢ municipios (CAmara dos Ve- readores), Passo 3: Distribuigso das cadelras lo preenchidas (cob Observe-se que, apés a dstibuigio pelo ‘quocienteeletoral, nem todasascadeiras si0 ‘ocupadas. Foram preenchidas 54, fatando, assim, ses. Eas cadcras so preenchidas pelo método de maiores médias: 0 total de votos de cada partido € dividido pelo némero de 1 Deli para cl, apenas dase mudanga signs foram fas do rio para dsuibuigo Ge cde no ocupadas rm princi sleago (1990); ed excasto dor voto em bance oo elle do quien Steal (199). 2. No explo sol ers anal que no inc os vets em banc no clcale do clo do guaiete ‘dior Na vende es 1986 05 wor em banc tra lls * wre Distribuigao de votos pelo quocience eleitoral, Eeigaa para Camar TABELA 1. dos Deputados, Sao Paulo, 1985. Parise tos 99520 mast 120.64 Pa 94.003 Paes, 91.108 PMCPCN ss.0sa pve eas Pre 50525 Pwo 1.068 Total 906.504 ras obtdas pelo quociente eleitoral na diviso anterior, acrescido de um, Por exem- plo, o PMDB obteve §.274.397 votos que ‘io divididos pelas cadeiras obtidas pelo uociente (26) + 1 = 275 0 resultado é a ‘maior média do partido: 195.348. ‘Essa média€ cotejada com a dos demais partidos, levando a cadeira 0 que tiver a izior dessas médias (10 exemplo, o PT ob- tém a primeira cadeira). Procede-se, entio, ‘uma ourra rodada de distribuigio das c2- ddeicas restates. Em cada rodada, o partido {que conquistou a cadeira nel dstribuida tem seu total de votos divididos novamente, ago- rapela soma de uma unidade ao nimero de cadeiras que jé obteve. O procedimento € repetido até que todas ascadeiras sejam pre cenchidas. Observe-se que 0 PMDB obteve Notos/ Quocients."” Cadarasobidas na ‘ekon. naira Fase ~ 26578 8 10201 0 10,135 10 7968 o 198 1 se uma cadeira a mais (na segunda rodad), pois sua segunda maior méia foi superior 3 05- ‘ida na primeira rodade por alguns partidos. (© total de cadeiras obtidas pelos pari- dos (oucoligagées) €0 somatério das cadei- rasdisribufdas nos pastos 2 €3.A diswibui- ‘so final de cadeira ficariaassen: PMDB (26); PTB-PSC-PL (11); PDS-PDC PFE (11); PF (8); PDT Q). 12A _Apés adistribuigio de cadeiras entre os partidos (ecoligages), ¢ preciso saber quais nomes da lista de eandidatos apresentados sero eleitos. No Bail, os nomes mais vo- tados de cada lista ocupam as cadeiras. No ‘exemplo acima, o PDT elegeu tts cadeirass berta ral bree a alt 26 FABELA 2. Distribuigig das cadeiras no preenchidas (eobras) acide Votagdo ins! _Votagb fi Votagio fn dtvida pelo romero cadeivas da Fase 4 caderas da Fase 1 cedaras da Fase 1 “4 2 8 " Pups 195.348 8) 306,371 (0) 01075 2 Prapsce — 194037(6) 1 POSPOCPFL 18284046) ‘ Pr 976544) 1 for 194750(¢) 1 Total Note Aa eta nr rites nia # dom po adie as sobs orm roan assim, os ts candidatos mais votados si cleitos (independenemente dos voros dos homes que concorreram por outros patti dos). Este modelo € conhecide como de lista aberta. Em alguns paises (como Portugal, Bapanhs, Argentina © Africa do Sul), a lista de candidatos € ordensda antes da eleigio € (0s eletores votam apenas ns legenda (ista Fechada). Em outros paises (Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia), 08 paride ordenam a lista de candidato, mas 0s eeito- +22,cat0 dscordem do ordenamento, podem ainda votar especificamente para um dos ‘nomes da lista ~ cm cada pais hi uma p

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