Você está na página 1de 14

XIUHTECUHTLI 

             TONATIUH

 
A Pedra do Sol, conhecida universalmente como Calendário Azteca, na
realidade nunca foi um calendário, senão um monumento ao sol, muito
elaborado, sob suas múltiplas manifestações. Também se dedicou a sacrifícios
humanos relacionados com o culto de Tonatiuh, deus do sol.

É um monólito de basalto de olivina, de 3,57 metros de diâmetro e 24,5


toneladas de peso. Foi esculpido sob a dominação do sexto imperador azteca,
Axayacatl, no ano 13-acatl correspondente a 1479, e colocado no Templo
Maior.  

Depois que os espanhóis conquistaram o império Azteca, em 1521, veio a


destruição dos ídolos, e a Pedra do Sol caiu atirada na Praça Grande. O
arcebispo Frei Alonso de Montúfar ordenou que fosse enterrada “pelos
grandes delitos de morte que se haviam cometido sobre ela”. Desse mesmo
lugar, ao ser descoberta em 1790, se transferiu para a torre ocidental da
Catedral, onde esteve até 1887, ano em que foi enviada ao Museu Nacional de
Antropologia e História.

Antes dos aztecas, o calendário havia tido três formas. No primeiro


calendário, o ano nahoa constava de 365 dias completos, e começava no
solstício de inverno; como era um ano sideral, semelhante ao egípcio, se
necessitavam 1461 anos para que seu início voltasse ao solstício de inverno.
Ao notar esta diferença com o ano solar, introduziram ao uso do dia
“intercalar” cada quatro anos, e passaram o começo do ano ao solstício de
verão.

A esta reforma seguiu a tolteca, cujo elemento fundamental foi introduzir o


período cíclico de 52 anos, formado da combinação do ano solar com o ritual
de 260 dias. Este teve sua origem na observação constante do grupo de
estrelas conhecidas como Plêiades, cuja culminação, ou seja sua passagem
pelo Zênit, ocorre precisamente a cada 52 anos. Os aztecas, em contato com
os toltecas, adotaram o período cíclico de 52 anos, e ainda assim, o princípio
do ano no equinócio da primavera.

 Os aztecas tinham a crença de que o fim do mundo se daria ao terminar um


ciclo de 52 anos. Se preparavam para essa data, destruindo todas as suas
posses, seu templos e até seus fogos eram extintos. Os sacerdotes se dirigiam
à Colina da Estrela, e ali aguardavam com grande devoção e silêncio a
passagem das Plêiades; se estas atravessavam o Zênit depois de meia-noite,
sem que houvesse fim do mundo, havia grande regozijo; tudo que foi
destruído seria renovado, os fogos seriam acesos, e com grandes festejos,
presentes e ritos religiosos, saudariam o princípio da nova era e do novo sol.

A lenda conta que quatro sóis foram destruídos (correspondentes a quatro


eras cosmogônicas) por diferentes catástrofes. Por isso, Tonatiuh é o sol da
quinta era.
O sol, Tonatiuh era invocado pelos aztecas como “o resplandecente”, o
menino precioso”, “o águia que ascende”. Daí alguns dos elementos
decorativos que aparecem na Pedra do Sol.

 
O sinal hieróglifo 13-actl cana corresponde ao ano de 1479, data em que se
terminou a construção da Pedra do Sol.

 
Este luxuoso ornamento, que significa luz, força e beleza, tem uma placa de
jade chalchiuitl e está arrematado com penas de águia e uma pérola.

 
 
As barras eretas significam o fogo morto, e as chamas representam o fogo
novo, que nasce a cada 52 anos.

 
O último círculo da borda mostra uma sucessão de pequenos círculos que
representam a via Láctea.

 
 
Em ambos os lados dos hieróglifos 13-cana, descem duas enormes serpentes
de fogo, Xiuhcoatls, que transportavam o sol através do firmamento. Na parte
superior, as caudas pontiagudas das serpentes estão enfeitadas com ervas e
flores, e na parte inferior, de suas faces abertas emergem as faces dos dois
deuses: Tonatiuh (o sol), e Xiuhtecutli (a noite).

Os dois grupos de quatro faixas agrupadas de amatl (papel vegetal de


maguey) simbolizam os quatro tlalpilli (atadura de 13 anos) que formam o
ciclo de 52 anos.

 
 

Os corpos das serpentes estão formados cada um por 11 segmentos iguais, no que se
podem observar as voltas ou chamas representativas do fogo novo.

 
Esta franja, que rodeia o calendário, tem as figuras de Vênus, deusa noturna,
simbolizada por mariposas entre raios de luz.

PEDRA DO SOL

Nos dois primeiros círculos centrais da Pedra do Sol está representado


Tonatiuh, inscrito no símbolo movimento “ollin”, e os quatro sóis que o
precederam. O terceiro círculo contém os signos dos 20 dias, rodeados de
raios solares e jóias preciosas, pois para os aztecas o sol era a coisa mais
preciosa do universo e o representavam como uma jóia. Finalmente, as
franjas exteriores contém duas serpentes de fogo ou “xiuhcoatl”, que
transportavam o sol pelo firmamento, e de suas faces saem os rostos de duas
deidades.
 

CÍRCULO CENTRAL: Tonatiuh, Deus do Sol

No centro da pedra está Tonatiuh, com a máscara de fogo, seu atributo como
rei dos planetas. Este astro regia o universo em todas suas manifestações.
Se lhe representava com o pêlo dourado por seu aspecto alourado, e as
rugas indicam sua idade avançada. O sinal “ome acatl” que tem sobre a
frente, se refere ao princípio da conta de anos ou “xiuhmolpilli”, ou seja, o
sol do primeiro dia do ciclo de 52 anos depois da noite em que inicia o fogo
novo. Além da gargantilha de seis contas se considerava também símbolo
do princípio do ciclo sagrado. A língua para fora, como faca de obsidiana,
indica a necessidade de que se lhe alimentara com sangue e corações
humanos.

SEGUNDO CÍRCULO: movimento Ollin

 
 

01  - Os quatro pontos cardeais estão representados na parte superior


e  inferior deste círculo.  O toque do guerreiro simboliza o NORTE.

02  - A adaga de obsidiana, Tecpatl, simboliza o LESTE, ou luz solar.


03  - A casa do deus das chuvas e fogo celeste, Tlalocan, simboliza o
OESTE.

04  - O SUL está representado pelo macaco.

05  - A face de Tonatiuh está rodeada por um grande símbolo “Ollin”


(movimento ou terremoto) que ocupa a parte central da Pedra do
Sol, porque é o símbolo dominante na era do quinto sol. Nos
quadrados laterais do próprio símbolo, estão inscritas as datas em
que terminaram as quatro épocas cosmogônicas que precederam a
atual. Note-se que em cada um há, além do símbolo
correspondente, quatro círculos.

06  - O quatro pontos concêntricos que se encontram ao lado do


símbolo “ollin” indicam a data em que haverá de terminar o quinto
sol por causa de um terremoto. 4 tremor

07  - Em ambos os  lados, as figuras rodeadas do símbolo “ollin”


contém as mãos de deus armadas de garras de águia, apertando
corações humanos, que significam os sacrifícios oferecidos a
Tonatiuh com o fim de que o sol se mantivesse em movimento. Em
cada pata, um olho e uma sobrancelha indicam que nada pode
ocultar-se a esta deidade.

08  - 4 tigre. A primeira e mais remota das quatro épocas


cosmogônicas, se representa por Ocelotonatiuh, deus do jaguar.
Durante ela, viveram os gigantes que haviam sido criados pelos
deuses, os quais finalmente foram atacados e devorados pelos
jacarés.

09  - 4 vento. A segunda época é representada pela cabeça de


crocodilo, Ehecatl, o deus do ar. Durante essa época a raça
humana foi destruída por fortes ventos e furacões, e os homens se
transformaram em macacos.

10  - 4 chuva. A terceira época é representada pela cabeça de Tlaloc,


deus do fogo celeste e das chuvas. Nesta época, tudo se destruiu
pela chuva de lava e fogo e os homens se converteram em aves
para sobreviver a catástrofe.

11  - 4 água. Na quarta época, representada pela cabeça de


Chalchiuhtlicue, deusa da água, esposa de Tlaloc, a destruição se
deu por fortes e tormentosas chuvas e nela os homens se
converteram em peixes para não sucumbirem afogados.

 
 

TERCEIRO CÍRCULO: os vinte dias

Neste círculo tem vinte casas com os signos dos dias, os quais se lêem
começando pela casa superior da esquerda.
 

 Dia   Deuses                Signo

      1º    Cipactli                  Crocodilo

 2º    Ehecatl                  Vento

3º    Calli                       Casa

       4º    Cuetzpallin            Lagartixa

      5º    Coatl                      Serpente

  6º    Miquiztli                 Morte

  7º     Mazatl                   Veado

  8º    Tochtli                    Coelho

9º    Atl                           Água

    10º  Itzcuintli                    Cachorro

  11º  Ozomatli                   Macaco

                                                                 12º  Malinalli                  Erva

                                                                 13º  Acatl                        Cana

                                                                 14º  Ocelotl                     Tigre

                                                                 15º  Cuauhtli                   Águia

                                                                 16º  Cozcacuauhtli          Falcão

       17º  Ollin                         Movimento

                                                                 18º  Técpatl                    Pedra

                                                                 19º  Quiahuitl                 Chuva

                                                                 20º  Xóchitl                     Flor

 
O calendário civil constava de 18 meses de 20 dias cada um, agregando-se
ao final cinco dias “nemontemi”, fatídicos e inúteis. Estes vinte dias se
combinavam de cinco em cinco, dedicando o quinto ao mercado tianquiztli.
Como os cinco nemontemi eram inúteis, resultavam no ano 72 dias de
mercado, que eram de descanso ou festa, e 288 de trabalho. O calendário
ritual constava de 260 dias, divididos em 20 trezenas, e a combinação dos
dois calendários dava o ciclo de 52 anos.

As jóias de jade e turquesa adornam ao deus porque os aztecas chamavam


ao sol Xiuhpiltontli, “o menino turquesa”. A orla de placas com cinco
incrustações ou chalchiuitl, simbolizam a combinação de cinco em cinco
dias.

As figuras concêntricas representam as penas da águia estilizadas, adorno


do deus do sol.

As pontas de flecha que apontam em todas as direções, representam os


raios solares espalhando-se e difundindo-se no universo. 

As figuras ovaladas e terminadas em ponta, são as gotas de sangue humano


oferecidas ao deus sol.

 
CÍRCULO EXTERIOR

Xiuhcoatls

O círculo exterior está formado pelo corpo de duas serpentes de fogo que
circundam a Pedra do Sol. Na parte inferior emergem duas cabeças de suas
faces: Quetzalcóat, personificado como Tonatiuh (o sol), do lado direito, e
Xiuhtecutli (deus da noite), do lado esquerdo. Esta alegoria representa a luta
cotidiana dos deuses pela supremacia na terra e nos céus. As duas faces
têm as línguas para fora, pegadas uma com a outra, e significam a
continuidade do tempo, ou seja o sol nascendo e o sol se pondo, sempre em
contato.

No alto da cabeça das serpentes contém em seu interior pequenos círculos


que significam o céu estelar.

Ao redor se podem contar sete olhos entrecerrados, que são as sete estrelas
principais das Plêiades; e como cintilantes que são, se assemelham ao olho
humano que se abre e se fecha.

Cabeça de serpente com as faces abertas.


 ~//~ 

Os povos do México pré-hispânico desenvolveram conhecimentos


astronômicos muito avançados, que lhes permitiu ter um calendário solar de
tal perfeição que não havia outro semelhante em sua época. Aliás do
cômputo dos dias, tinham conhecimento da precisão dos equinócios, as
fases da Lua e Vênus, os anos de Mercúrio e Marte; diversos fenômenos
celestes, como os eclipses do Sol, da Lua, e a periodicidade dos cometas
cuja aparição podiam predizer com exatidão. Assim mesmo, desenvolveram
uma completa cosmogonia em que entrelaçavam os conhecimentos
científicos com os conceitos mágico-religiosos, que os aztecas deixaram
plasmados na Pedra do Sol, através de símbolos colocados em forma
harmoniosa e lógica, fazendo desta uma grande obra de arte.

Você também pode gostar