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y Ud ¢ Ss sl Copyright © Editions Flammarion, Paris, 2004 ‘Copyright da tradugdo © 2006 by Editora Globo S.A. sia eeu ek ee eee ele elas SP ates ren coal ofc ieiemnes are “Thal rina La ciation file a om le clmtsion ta hme Indice remissivo: Luciano Marchiori ca SESE pea nano ea abi a ptnmeeeties) (area coe em fh Me apsto na Public (c) ne, Bs) Theme Rev Fea» do ano 1000 8 colonia ds Ams / Jerre Bache adap Marcle Rede; pelea Jequs Le ole — Sto Polo Clo, 206 fon de nee eae AR 1, Congo medial 2. ope Hida medio 3 Ide Média e Gof egos Tula oss 00-9401 toe sates erin 2401 Prof, Gabriel Castanho- Historia Medieval IT Texto yh Eee A IGREJA, INSTITUIGAO DOMINANTE DO FEUDALISMO | De tudo que se disse sobre o feudalismo, falta ainda um elemento ate {al sem diva, o mais importante, Com efeto, o esquema das trés ordens deft ‘ne uma clara hierarquia, no topo da qual se encontram os que oram, antes da propria aristocracia. Entretento, mais do que 20 clero como casta separa deve-se prestar atengao a relagto social que se estabelece entre os elérigos e os laicos. Seja exprimindo-se sob a forma de uma ausdeagau Ceictarendo-6 no g empema das trés ordens, esta relagdo-oposicfo constitui uma estrutura essen- cial do mundo feudal, e 05 clérigos sempre precedem os laicos no cortejo social. Mas o que é a Igreja na Idade Média? O termo, tomado de empréstimo do rego (eklesia: assembléia), desigra a princ‘pio a comunidade dos fiéis; este € q tinico sentido de que ele € revestido em Bizincio, assim como no Ocident durante os primeiros séculos da Idade Média, Depois, a palavra “igreja” be designar também o edificio onde se rednem os fiéis e onde se desenrola o cult [Na época carolingia, os dois aspectos parecem ainda indissocidvels e o liturgis- ta Amalério de Metz (f 850) afirma: “Esta casa é chamada ece contémm a ecclesia”. No século x1, 0s dofs sentidos da palavra ganham mais auto- nomia e Alain de Lille indica que a 2S gk gee, a : seunizo dos figis”. Tal materializaglo das realidades espirituais, que insc se dai 1 sagrado nos lugares fisicos, acompanha 0 reforgo do poder dos clér tituigao eclesiéstica. De resto, ao mesmo tempo, o termo “igreja” € carrega ui TWO significado, designande a parte institucional da Comunidade, quer dizer, o clera. A partir da, associagdes e deslocamentos constantes entre os trés sentidos da palavra “igreja” acabam constituindo um notével instrumento ideo, 6gico, por exemplo, quando se identifica a igreja material (ediffcio) com a aN ja espiritual (ao mesmo tempo, comunidade terrestre e Jerusalém celeste). mesmo modo, quando se joga com a ambigiidade entre a Igreja como comi * Como sugeriu vigorosamente Alain Guerreau, s6 se tem a ganhar em conside rar a Igreja a garantia da unidade da sociedade feudal, sua coluna vertebral ¢ © P fermento de seu dinamismo dade e a Igreja como instituig&o, uma sinédoque (em que a parte vale pelo todo) concentra nos guias clericais as virtudes associadas 4 comunidade de todos os cristdos, Ora, a partir dos séculos x! e Xl, o termo “igreja” é cada vez mais iden- tificado com seus membros edlesigailens, enquanto, para designar o conjunto dos figis, se recorre & nogdo, j4 esbogada no século 1%, de cristandade (christia- nites ou populus.christianus). Essa questdo semantica faz, assim, pressentir 2 ZA implicacao de que este capitulo deveré dar conta pieseulersc caterer "fog, ie itaoslaios «.0wforg dos poles da instuigio exes ’ Se o significado comunitério da Igreja tende a ser eclipsado, ele nao pode f? desaparecer totalmente. A fim de que a legitimidade da instituicao seja funda é da sobre a substituigiio do todo por sua parte mais eminente, a palavra deve também significar a cristandade em seu conjunto. Assim, se a Igreia — ident Sexi sooo etapa cee ce ce Me €4 propria socie 5 os séculos 1 e XIL, lero e-covieda 9f inn torar-se nocd distgntes” (Dominique logna-Prat). E impos" (A Sivel, entio, traté-la como se fosse-tim simples setor, dentre outros, da realida de medieval. No mais, se a Igreia é a prépria sociedade, ndo hé nenhum sentido em recorrer & nogao de religido tal como nés a enter je, enquanto cren- ga pessoal livremente escolhida (esbocada no século xvi, por exemplo, por Bartolomeu de Las Casas, © consolidada somente pelo Iluminismo, no século Bose I refere-se(fe0s & creng) fntima Go que &fidelidad) no sen- OS FUNDAMENTOS DO PODER ECLESIAL Unidade e diversidade da instituigao eclesial Diz-se que a Igreja a instituigdo dominante do feudalismo: ela se reproduz com sucesso como instituigdo, mas sem que as posigées em seu interior sejam transmitidas de maneira principalmente genealdgica, como ¢ habitual para uma classe social. E verdade que se pode considerar 0 alto clero como a fragao supe- rior do grupo dominante, embora ele nao forme, enquanto clero, uma classe propriamente dita. Alids, as relagbes entre o claro-e-2-aristoctacia so ambiva- lentes. Esses dois grupos so ainda mais pr6ximos pelo fato de que os filhos da astocracia monopolizam o essencial dos catgos do alto clero, mesmo se n&o existe nenhuma exclusividade nessa questdo. Entretanto, a integragao & Igreja rompe — na teotiae, em boa parte, na pritica — 0$ lagos que unem o clérigo og 2 sua parentela, Por vezes, um abade ou um bispo poderé obter mais facilmen- te de seus parentes que permaneceram seculares concessGes em favor da Tgreja oo (0u inversamente); porém, com mais frequiéncia, adiferenga de posigao faz pre- valecer os contrastes de interesses entre clétigos ¢ laicos. Clero e aristocracia ee Silas ges de dono, aida perane os dominados, 2s também sio concorrentes, como indica uma infinidade de conflitos, notada- Fnente pelo controle das terras e dos direitos que estruturam a organizagio dos senhorios, tanto laicos como eclestésticos. As namerosas criticas que os clérigos langam contra os cavaleitos tirdnicos e rapaces, acusados de “maus costumes", F zo freqiientemente, ¢ em especial durante a fase mais aguda do processo de tencelulamento, um meio de defender as prerrogativas da Igreja e de seus pré- prios senhorios. Existe, entdo, uma rivalidade entre os dois pélos do grupo domi- ante, mas que permanece submetida ao adectiado exercicio de sua superiori- dade sobre os dominados. ‘A prépria instituigdo eclesial nao ¢ homogénea. Além das contradigBes oli?” interesse ou dos conflitos doutrinais que podem opor em seu interior diferentes tendéncias, existem importantes dualidades institucionais. Uma ¢ hierdrquica e bastante simplificada quando se opdem ao alto ¢ ao baixo cleros, mas pelo menos nos lembra uma importante distancia entre os grandes dignitérios (aba- ica, manifestada por Atos, palawnas.e gestos. Sobretudo, nko seria questao de escolha pessoal: és cristio porque se nasce no cristianismo. E uma identidade herdada (pelo ritual do batismo), que néo se discute. _Embora a religifo no sentido contempordneo do termo nao exista na Idade ‘Média, as questdes relativas & organizagao da Igreja, quer dizer, as relagoes entre 0s clérigs ¢ os Iaicos, de um lado, entre os homens e 0 mundo celeste, de outro, % © WF, sao evidentemente centrais, mas nem por isso formam, em decorréncia, um ye setor auténomo e separado do restante da atividade coletiva. Elas so, pelo contré- rio, inseparavelmente imbricadas ("incrustadas’, segundo a famosa expressio de Karl Polanyi) no conjunto das realidades sociais. E preciso_entio, cessar A. sce poroes wargem da anéli , sob o pretexto de® (4G swe ele diria respeito a um capitulo “religito", que tivesse apenas relagdes .cess6rias com as estruturas sociais. Repitamos ainda uma vez: a |dade Média GF cons aterm oti cs, a Igreja, como Comme # nidade, é a sociedade em sua globalidadé, enquanto, como instituigao, ela é ‘sua parte dominante, que determina suas principais regras de funcionamento, € des, bispos, arcebispos, cardeais e papas), alguns dos quais esto entre os prin Beneficiando-se de uma sélida base senhorial local, os cluniacenses logo geram rivais em toda a cristandade. Eles ajudam Guilherme, o Conquistador, a reomganizar os monastérios da Inglaterra, depois de 1066, e fazem 0 mesmo junto aos soberanos hispanicos da Reconquista, 0 que Thes vale 0 apoio financeito tanto dos reis da Inglaterra como dos de Castela-Ledo, que enviam anualmente a Cluny um censo de mil (depois, 2 mil) moedas de ouro cobradas dos sarracenos. No total, em 1109, a Tgreja de Cluny forma uma vasta rede de 1180 estabelecimentos, espalhada nas dimensdes da cris- tandade (e até a Terra Santa). Sua formidavel capacidade de acumulagao de riquezas Ihe permite construir, a partir de 1088, uma nova igreja abacial (cha- mada Cluny 10), consagrada.em1120 e que, com seus 187 metros de compri- mento, &a maior igreja do Ocidente, superando todas as de Roma (figura 14, na p. 188). Compreende-se que os cluniacenses tenham freqiientemente tendido a confundir sua igreja e a Ipreja universal, e mesmo a identificar Cluny e Roma. No-séeula XL. o-coracan vive da crstandade é monéstico mais do que secular, tanto barguinhao como romano Cluny encama uit Weal monéistico exigente, mas bastante presente nos negécios do mundo, Enquanto a missdo dos monges durante a Alta [dade Média( canssta em uma tetirada para longe do mundo secular, 05 sbades s-as-princi pals Cluny so levados a participarativamente das lutas conta os in riigos da Jgreja. Pedro, o Venerdvel abade de Cluny dé 1122 a 1156, engaje 4 = apoiado em tratados, em todas as frentes, tanto contra 0s heréticos como con- tra os judeus ¢ os muculmanos. Essa evolugdo reduz a distancia entre os regu Iares e os seculares, tanto que os monges cluniacenses, que quase sempre rece- beram 0 sacerdécio, assumem o encargo das igrejas que Ihes so cot implantando-se, assim, na rede paroquial e engsjando-se nas tarefas pastorais, Isso ndo ocorre sem que haja afrontamentos com os seculares, ao longo dos séculos x1 e XIi, até que seja reconhecido o direito dos monges de exercer tare- fas pastorais, sob a condigao de que cles se submetam & autorizago € a0 con. trole do bispo. Entretanto, 0 préprio sucesso de Cluny ¢ seu engajamento nos negocios secullares camegam a ser objeto de criieas; a interpenetragio com as linhagens aristocraticas nao esté isenta de inconvenientes, e a dependéncia em relagio as doagdes se faz sentir desde que seu ritmo comeca a decait; enfim, a protecao direta do papa, por muito tempo garantia de autonomia, transforma-se em uma pesada tutela De fato, no fim do século Xi ¢ durante o século xt, aparecem ‘mondsticgs que, cada qual a sua maneira, se empenham em reat ‘sho bret Ga ideal wondstico a qual, s a jado com poderosas interagaes com a vida secular, Uma opgio eremita radical € assumida pela Ordem dos Camiéldulos. criada por sio Romualdo, pelos Cénegas Regulares Premonstratenses, ordem fundada por sio Norberto de Xanten, pela Orden de Fontevraud, criada por Roberto De Arbrissel, e, sobre- tudo, pela Ordem dos Cartusianos, fundada por Bruno e santo Hugo de Grenoble, em 1084, e cuja organizagao ¢ codiicada por Guigo 1. Os monges cartusianos, que dispoem de celas individuais no interior do mona: ver do dormitério e do refeitério gqletivas previstos pela Regia de sto Bento Gio quase toa, inteiramente devotada a penitén- cia e 8 prece. Do mesmo modo, a Qrdem Ci Molesmes, em 1098 1ujo desenvolvimento é chra de so Bernardo de Claraval (1090-1153), encontra-se, sob virins aspectos, em contraposigio ao tipo mands: tico clumarense, mesmo se Bernardo € iguulmente um dos personagens mais a negar, Cluny havia contrabala em a experiéncia de uma Soft ciciense, fundada por Roberto de influentes de seu tempo e, principalmente, um atdente pregador da cruzada, Assim, os "monges brancos” (em sinal de austetidade, eles recusam a cor negra das vestes dos cluniacenses) implantam-se muitas vezes nas zonas mais isoladas ce mais selvagens e esforgam-se para evitar que os seus monastérios se torriem 0 centro de burgos, como foi o caso de Cluny, desde 0 firm do século x. Em opo- siglo a riqueza ¢ a0 ouro resplandecente eles rianais cluniacenses, sao Bernardo impoe a maior severidade & vida dos monges, assim como aos edificios em pedra rua que os abrigam, proscrevendo toda escultura ou toda imagem que pudesse ienses / desviar a sua atencdo da prece e da meditacao piedosa. Enfim, os ciste recusam possuir igrejas e receber dizimos, por respeito fungo pr6pria aos seculares, ¢ afirmam que os monges devem sobreviver gragas ao seu proprio labor (suscitando, assim, o horror dos cluniacenses, que julgam tal atividade de- gradante e incompativel com o dever da prece). E verdade que os cistercienses ogo recorrem aos irmaos conversos, laicos encarregados de tarefas produtivas, mas, ao menos, conservam a idéia de uma exploragao direta de seus dominios, mais do que um recurso ao quadro senhorial, 0 que em geral Ihes permite obter resultados notéveis em matéria de exploracio agricola e de produc metalrgica, Mas, também nisso, 0 sucesso — a ordem tem 343 estabeleci ‘mentos quando da morte de si0 Bernardo e perto de seiscentos no final do século Xil — tem conseqiténcias paradoxais: os dons acumulam-se e a deco: ragao das igrejas e dos manuscritos distancia-se rapidamente dos prineipios austeros do fundador. a Reforma secular e sacralizagto do clero 0 proceso que os historiadores se habituaram @ nomear “reforma gregoriana” (a partir do nome de Gregério Wl, papa de 1073 a 1085) nao pode ser reduzido a seus aspectos mais factuais e mais ruidosos: a luta entre 0 papa e 0 imperador e a refor ‘ma moral do clero. Movimento muito mais profundo e de mais ampla duracao que a fase aguda dos anos 1049-1122, ele visa a uma reestruturagao global da socie- dade crista, sob a firme condugio da instituigao eclesial. Os seus eixos princi- pais sto a reforma da hierarquia secular sob a autoridade centralizadora do papado e 0 reforgo da separacao hierdrquica entre laicos ¢ clériyos. Trata-se de nnada menos que ceafirmar e consolidar a posigio dominante da Igreja no seio do mundo feudal. ‘Aparentemente, a exigencia de reforma langada pelo papa Ledo 1x (1049-54) apresenta-se como um ideal de retorno a Igrela primitiva (de resto, durante mais de um milénio, esta ¢ a justificativa de toda intengao de transformar a Igrej, conforme a logica medieval dos "renascimentos”). De fato, trata-se de restaurar a hierarquia eclesisstica, iberando-a do controle dos laicos e impedindo as inter vengdes destes nos negécios da Igreja, consideradas doravante ilegitimas. Assim, "(uum dos slogans dos primeiros reformadores — entre os quais Hugaberta da Silva |Candida (morto em 1061) e Pedro Damio (1007-72) — convoca a lihertas eccle-_ 888 Flibertagao da Igreja”), o que é preciso entender, evidentemente, como um ‘combate pela defesa da ordem sacerdotal. O imperador é o primeito visado, pois ‘© modelo carolingio e bizantino, ainda ativo, faz dele o chefe de todos os cristaos, apto, aeste titulo, a intervir nas questdes eclesidsticas, ¢ também porque, nessa Doravante, © papa tem jurisdicao para intervir em todos o¥ Titigios leSfdsticos © suas decisdes, transmitidas pelos decretos papais, so reunidas p20 Gressrio n (1227-41) no Liber extra, que forma, junto com 0 Decreto de ‘Graciano, a base renovada do direito canénico, quer dizer, 0 conjunto das nor- }:ias aplicaveis no seio da Igreja. Além disso, os bispos, cuja eleigao & cada vex mais controlada pelo papa, sao periodicamente obrigados as visitas ad limina aos timulos dos apéstolos Pedro e Paulo, como sinal de obediéncia A autoridade romana. E se, de inicio, os reformadores se apoiaram nos monges contra bispos excessivamente ligados aos poderes laicos, uma vez a hierarquia secular retoma- da, Roma favorece cada vez mais os bispos, limitando as isengdes mondsticas que amputam sua autoridade, ¢ alia-se a eles a fim de garantir um melhor con- trole das redes régulares, em particular as cluniacenses. Enfimm, numerosas decistes que aisles exam da responsabilidade dos bispos ‘ou arcebispos passam pata a algada exclusiva do papa. Néo hé melhor exemplo da centralizacao pontificia do que a transformacio d dime jue a transformacao dos procedimentos de cano: 0 nizagio, postos em evidéncia porfccee Vascho ‘Se, durante a Alta dade Média e ainda no século xi, a santidade se revelava geralmente pelo desenvolvimento de um culto popular, reconhecido ¢ legitimado pelo bispo, pouco a pouco o papa arroga-se a indispensavel confirmacao das canonizacdes ¢ também, por decor: réncia, a possibilidade de proibir os cultos que se desenvolveram sem sua auto rizago. Depois, Inocéncio it (1198-1216) edita as normas obrigatérias de todo processo de canonizagao, sendo que sua parte essencial deve ser efetuada na ciria romana. Mesmo se a distingao entre santos e beatos ainda permite conce der um pouco de espaco aos cultos locais, 0 poder de dar santos & cristandade € doravante um privilégio estritamente pontificio. No geral, a instituicdo ecle- sial ganha a forma de uma hierarquia bem ordenada, sob autoridade absoluta do papa ¢ os nomes de Ingcéncio lit e Gregério-tx correspondem sem diivida a0 apogeu do poder pantificio que, nesse momento, é a mais poderosa das monar- quias do Ocidente, a mais parecida com a de Cristo de que cle é temporariamente o titular ‘Ao mesmo tempo, entre os séctlos x1 xi, afiema-se a doutrina do primado pomificio, em virtude da qual o papa se sobrepoe a todas as outras autoridades e 194 Joome Bawchet rome Basco Avcivuizagao eeuvat 195 constitu’ a fonte de todo poder na Igreja. Jé encorajada por Inocéneio ti, encon!” tta-se uma clara expresso sua no liturgista Guilherme Durand (1296): o papa “dirige, dispoe e julga todas as coisas’ ele pode “suprimir todo diteto e governar acima do direit (ele proprio est acima de tudo e tem, na terra, a plenitude do poder’. Estamos longe do modelo legado por Gelésiv | (492.96), que estabele- cia uma pantlha equilibrada entre a autoridade dos cléigos, que se sobrepde em 'matéria espiritual, eo poder dos laicos, que se impo na esfera temporal. Nias isso ‘quer dizer que, agora, todos os poderes temporais concernem, ao menos india ‘mente, a0 papa? A questo continuou a ser debatida, sendo objeto de diversas for rmulagdes, moderadas ou radicais. E verdade que Gregério vi afitma que “os sacerdotes de Cristo devem ser considerados os pais e senhores dos ris, princi pes e de todas os Figis’, © & provavel que ele sonhasse em restabelecer a velha uni dade do poder temporal e do pader espiritual, mas, dessa ver, em proveito do papa ‘endo do imperador{Girolamo Arnalaij, Ele afitmava, de resto, nos Dictatus ‘papae, ue “apenas o papa tinh o direito de uso das insignias imperiais’,tendéncia que tum texto dos anos 1160 (a Summa perusina) amplifica ainda mais, enfetizando-a “O papa € 0 verdadeiro imperador’. Esta pretensio a um papado imperial, plena realizacao na terra do poder veal de Cristo, nem sempre & apenas teoria. Assim, quando ele proclama a cruzada, em 1095, Urbano i usurpa manifestamente ume pretugativa imperial e poe o papa, de modo duradouro, na posiglio de guia da crs- tandade, em um dominio que deveria ser préprio da competéncia do imperador. ‘Mas, no geral, @cristandade medieval nao tomou exatamente a forma do que se tem o habito de chamar de uma teocracia, na qual a Igreja deteria efetivamente a soberania nos negécios temporais, As afirmacdes mais combativas, sem divida, visavam menos a ser inteiramente postas em pritica do que a consolidar o essen.

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