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Minhas

anarquias. Dia 1.


Gosto das coisas tortas, erradas, esquisitas, de muitos pontos de exclamaes, de gritos
surdos, de vrgulas fora do lugar elas teriam um lugar s delas?

Gosto do vazio, do nada, do sem. Quando tira tudo, quando no diz nada.
Especialmente daqueles vazios que as palavras tateiam em vo. Sou um caador de
nadas, um admirador convicto das coisas sem coisa alguma, do incontornvel vazio
entre um beijo e outro, entre um corpo e outro, como nuvens que passam e levam tudo.

Gosto de corpos sudorentos, trpegos, arfantes, desses que mal conseguem levantar da
cama, desses que no renunciam ao infernal desejo que circula pela superfcie
friccionada das peles. Corpos sem ar, sem nome, sem palavra. Corpo que vibram, uivam,
tremem. Corpos que se embaraam nos lenois feito aranha em rede mal tecida.

Sou um corpo morto, e, resisto morte com palavras, sopros, gemidos vida. Como
haveria de resistir morte, se no capturando a vida que abandonou esse corpo?
Resistir morte como viver intensamente, eternamente, amavelmente. Amo a vida,
amo a morte, mas nada a fazer.

Gosto do tdio das horas longas, do relgio que corre como se algum final o esperasse.
Ainda mais do tempo que passa como gesto inapreensvel, um piscar de olhos e tudo se
esvai. Sou um bruxo, anulo o tempo penetrando-o feito bactrias em clulas
desavisadas.

Como um xam, entre a morte e a vida, cambaleio por mundos outros, por tempos
outros, trafico armas com Rimbaud, fumo pio com Fernando Pessoa e escuto jazz com
Cortzar. E o nada, me faz Dionisio, enche-me de uma beleza fulgurante que escapa por
todos os lados.




Igor D.
21/06/17
[ primeiro rascunho ]

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