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Pedro von Sohsten & Cynthia Pereira de Medeiros

O diagnóstico: da psiquiatria à psicanálise


Pedro von Sohsten
Cynthia Pereira de Medeiros

Resumo
Este artigo discute o lugar do diagnóstico na psiquiatria e na psicanálise, bem como seus efeitos
para a condução do tratamento. Na psiquiatria aborda, a partir da história das sistematizações
diagnósticas, os elementos presentes na constituição dos quadros psicopatológicos. No campo
da psicanálise aponta a diferença dessa abordagem diagnóstica frente à psiquiatria, através de
estudos de comentadores que se debruçaram sobre o tema na perspectiva freudo-lacaniana.

Palavras-chave
Diagnóstico, Psiquiatria, Psicanálise, Freud, Lacan.

O trabalho aborda o lugar do diagnósti- refinamento dos métodos de observação


co psiquiátrico e psicanalítico, além de para discernir melhor as doenças, com a
apontar para a condução diagnóstica no expectativa de oferecer a terapêutica mais
campo da psiquiatria e da psicanálise de eficaz e/ou específica. Têm-se ainda um
orientação freudo-lacaniana. Inicialmente marco: os pilares da influência de Pinel,
tratamos o conceito do diagnóstico em que apontou o recurso da filosofia para
sua relação com a psiquiatria, desde sua caracterizar a doença mental (Dunker;
base com a medicina até os tratados de Neto, 2011a). A história dos diagnósticos
construção de manuais diagnósticos. é referida às ciências médicas do século
Em seguida, abordamos o diagnóstico XIX com Kraepelin, que publica em 1896
na psicanálise através de comentadores seu Tratado de psiquiatria, como a primeira
que, referidos às obras de Freud e Lacan, sistematização dos transtornos mentais,
discutem o conceito. alicerçada na etiologia fisiológica e orga-
nicista (Szajnbok, 2013).
O diagnóstico e a psiquiatria A partir de 1946 intentou-se uma con-
Para Sadock (2007, p. 319) a classificação, venção diagnóstica que alcançasse uma
na psiquiatria, é “uma parte integral da amplitude internacional. Organizaram-
teoria e da prática da medicina”. Vê-se se as primeiras propostas de manuais de
a presença e a pertinência desse aspecto classificações das doenças mentais. Certa
teórico dentro do campo psiquiátrico, no comunhão de saber que continha as in-
qual o diagnóstico tem uma incidência fluências das ideias de Adolf Meyer através
fundamental para o saber da psiquiatra e de conceitos como “quadros reativos”, a
para a sua prática. lógica de adoecimento de Kraepelin, além
Assim, como afirma Szajnbok (2013), de contribuições freudianas vinculadas ao
a história dos diagnósticos se fez in- campo da neurose (Leite, 1999).
trincada com a da medicina. Desde os O CID-6 (Código Internacional das
tempos de Hipócrates dedica-se, nessa Doenças) foi a primeira versão desse
disciplina que contém uma práxis, a um manual de patologias a incluir os trans-
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O diagnóstico: da psiquiatria à psicanálise

tornos mentais. Trazia nomenclaturas uma visão a-teórica, a-histórica e a-doutri-


válidas no serviço médico aos veteranos nária na edificação de suas classificações.
da guerra que buscava classificar os qua- Numa anulação das influências anteriores
dros psíquicos dos que retornavam aos sobre o processo etiológico e patogênico
EUA. Paralelamente a isso há o intento das doenças mentais, fez-se enquanto
da American Psychiatric Association (APA) tentativa meramente descritiva, de troca
em desenvolver a primeira versão do de informação e permissível aos conformes
Diagnóstic and Statistical Manual: Mental da ciência empírica (Leite, 1999).
Disorders (DSM-I), publicado em 1952. Esse cunho a-teórico é proposto no
Havia nele uma espécie de descrição intuito de evitar incongruências e impas-
clínica que trazia a influência da visão ses no saber e na prática da psiquiatria
psicobiológica de Adolf Meyer, na qual os (Camargo; Santos, 2012). Caracteriza
transtornos representavam reações da per- uma profunda transformação na psiquia-
sonalidade a elementos biológicos, sociais tria tanto nas concepções do campo de
e psicológicos (Szajnbok, 2013). pesquisa quanto na prática (D unker ;
A esse respeito, Quinet (2001) aponta Neto, 2011a). Para Foucault ([1963]
que naquele momento havia um sistema 2011), isso se configura como uma abo-
de intercâmbio entre os campos da psica- lição das classes psiquiátricas herdeiras
nálise e da psiquiatria, no qual a psicopa- da tradição construída ao pé do leito do
tologia pôde prosperar, e onde se podiam paciente.
encontrar importações conceituais entre Viu-se o DSM-III enquanto uma re-
os campos referidos; zonas de confluências tomada da visão kraepeliniana da psiquia-
metodológicas entre outros fatores de in- tria, ao enfatizar a classificação segundo
tercessão. O DSM-I não refletia uma clara sua sintomatologia, o curso da doença e
separação entre a normalidade e a patolo- seu prognóstico. Essa versão configura um
gia; sua pretensão era um consenso termi- ‘antes’ ultrapassado, e um ‘depois’ atual e
nológico em uma prática clínica alastrada cientificista (Szajnbok, 2013). Porém, o
em várias direções (Dunker; Neto, 2011a). que se proclamava a-teórico, caracteri-
A produção do DSM-II (a partir de zou-se enquanto oposto, já que a partir da
uma revisão do CID-8 em 1968) é vista terceira versão admitiu-se – como acordo
como reflexo da primeira versão, com tácito – um novo modelo associado à
uma relevante participação da psiquiatria clínica da medicação, que leva em consi-
psicodinâmica, acompanhada da etiologia deração a resposta padrão dos pacientes
biológica e das raízes das classificações de à administração de substâncias químicas
Kraepelin. A sintomatologia não era es- específicas (Leite, 1999).
pecificamente apresentada na proposição O DSM-III procurou eliminar as
dos distúrbios. Os sintomas tinham sua explicações causais psicológicas, psicosso-
etiologia em conflitos ou reações inade- ciais ou psicanalíticas implícitas ou explí-
quadas diante das problemáticas da vida citas dos manuais anteriores. Acredita-se
(Dunker; Neto, 2011a). Houve uma rá- no foco biológico e objetivo como mais
pida associação da psiquiatria com outras ‘científicos’ e condizentes com o padrão
áreas da medicina, e alguns campos, antes médico, aumentando o status da psiquia-
distantes, tornavam-se fecundos terrenos tria na hierarquia médica (Facó, 2008).
para a produção de saber e de práticas Pautou-se que no DSM-II a influência da
vinculadas à disciplina da psiquiatria psicanálise permitia certa culpabilização
(Dunker; Neto 2011b). dos fatores ambientais (relações parentais
Já o DSM-III é uma torção de discurso intervenientes na psicodinâmica confliti-
para o campo da psiquiatria, pois propunha va e etiológica); já com a emergência da
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psiquiatria biológica “inserida” no DSM- É preciso salientar ainda uma distin-


III foi possível uma desculpabilização do ção entre o diagnóstico sindrômico como o
ambiente e até do sujeito (Aguiar, 2004). conjunto de sinais e sintomas evidenciados
No caminho de evolução dos manuais na entrevista clínica, e o diagnóstico noso-
diagnósticos, o surgimento do DSM-IV em lógico encarado enquanto uma forma de
1994 traz uma série de questões no seu rol adoecimento ou uma “doença de fundo”
de 297 classificações. Pode-se acompanhar (Tenório; Figueiredo, 2002).
quanto às suas funcionalidades que Pensa-se a abordagem sindrômica en-
quanto uma visão descritiva dos sintomas,
O DSM-IV-TR não é e não pretende ser em que não há objetivo de tipificar o adoe-
um livro didático: não se faz menção às cimento, tendo uma clínica pautada na
teorias de causa, manejo ou tratamento, eliminação dos sintomas; já a abordagem
e as controversas questões que envolvem nosológica faz uma análise da moléstia,
determinadas categorias diagnósticas observação e caracterização nosográfica do
não são discutidas (Sadock, 2007, p. quadro, que visa uma intervenção mais in-
319-320). vestigativa e supostamente mais profunda.
Encontra-se também presente a noção
É nesse desígnio de descrição como de critérios diagnósticos, que tenta con-
base de suas funções que o diagnóstico ferir mais credibilidade e confiabilidade
tende a se estabelecer a partir do DSM-IV naquilo que se determina com a nomeação
e sua revisão. Não há nenhuma finalidade diagnóstica, ou seja:
nesse conjunto descritivo do adoecimen-
to no humano. Ele apenas se faz para ali [...] são determinados critérios diagnósti-
categorizar, ativar gavetas, que alocam cos para cada transtorno mental específi-
expressões ditas doentes. O paradigma co, que incluem uma lista de aspectos que
da ciência médica é regido pela dicotomia devem estar presentes para que se faça o
saúde-doença, o que é corroborado ao se diagnóstico (Sadock, 2007, p. 319).
afirmar as disfunções psicológicas como a
base das doenças (Gelder, 2006). Nesse check-list de critérios predeter-
Para Sadock (2007), esse sistema de minados é que se norteia uma parcela da
classificação aponta alguns propósitos: práxis do saber psiquiátrico com o uso do
distinguir um diagnóstico psiquiátrico de diagnóstico. O psiquiatra vai comparando
outro, de modo que os clínicos possam as manifestações do indivíduo com um gru-
oferecer o tratamento mais efetivo; pro- po já estabelecido de comportamentos vis-
porcionar uma linguagem comum entre tos como ‘adoecidos’. A partir das proximi-
os profissionais da saúde; explorar as cau- dades e similitudes com as categorias é que
sas ainda desconhecidas dos transtornos se faz um agrupamento, a classificação, que
mentais.
Nessa perspectiva, a psiquiatria con- tenta colocar ordem na grande diversi-
solida abordagens distintas para o diagnós- dade de fenômenos clínicos encontrados
tico, como a descritiva, que visa (Gelder, 2006, p. 67).

[...] descrever as manifestações dos Assim, para Camargo e Santos (2012),


transtornos mentais e apenas rara- a prática clínica parece se aproximar de
mente tenta explicar como ocorrem. As uma tecnia habilitada a manusear manuais
definições dos transtornos consistem de de classificação e emitir um diagnóstico
descrições de aspectos clínicos (Sadock, associado a uma metodologia terapêutica,
2007, p. 319). hoje de forte tradição farmacológica.
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O diagnóstico: da psiquiatria à psicanálise

O diagnóstico e a psicanálise belecimento do diagnóstico está associado


Ao nos reportamos à psicanálise em sua re- a um tempo futuro e de “longa análise”,
lação com o conceito do diagnóstico vimos porém se faz como fundamento inicial e
que a nosografia presente na psicanálise determinante na terapêutica a ser realiza-
(histeria, neurose obsessiva, psicose, per- da (Lowernkron, 1999).
versão, etc.) não conduz a um agrupamento Destaca-se que nos primeiros trabalhos
sobre o quadro, havendo uma distinção freudianos o objetivo diagnóstico era distin-
entre as classes psicanalíticas e as catego- guir o quadro para eleger o melhor método
rias do DSM. Na psicanálise a nosografia a seguir: catártico ou psicanalítico. Viu-se
define-se como não-toda; seus elementos que Freud considerava o método catártico
pertencem e não pertencem concomitante- benéfico apenas ao diagnóstico da histeria,
mente a um dado conjunto (Milner, 2006). ainda que ele tenha utilizado tal método
Acerca da questão do diagnóstico em outros quadros. Quanto ao método
no campo da psicanálise aponta-se a psi- psicanalítico, encontra-se em Freud uma
canálise firmada na etiologia sexual das distinção diagnóstica entre neurose e psi-
neuroses, sendo esse o eixo da sua tipologia cose e a indicação desse método para as
diagnóstica, e não a descrição fenomênica manifestações neuróticas, advertindo a im-
(Camargo; Santos, 2012). possibilidade de tal metodologia na psicose
Viera (2001) ressalta que o diagnós- já que para ele somente na neurose se ins-
tico se constitui, em sua essência, con- tala a transferência analítica (Abel, 2008).
traditório para a relação analítica, uma Ao se deparar com as nosografias
vez que todo diagnóstico comporta uma correntes em sua época, como histeria ou
classificação. Diagnosticar seria, então, obsessão, Freud se ocupou em construir
como um ofício de inserção do sujeito em sua nosologia baseada no funcionamento
um grupo, no qual se definem algumas psíquico possibilitado no agrupamento
propriedades que serão utilizadas para sua de quadros em função de mecanismos
representação. Por maior que seja o esforço psíquicos comuns. Porém, Freud e seus
de resguardar a singularidade do sujeito, seguidores se utilizavam das nosografias da
há no diagnóstico, ainda que psicanalítico, psiquiatria clássica vigentes em sua época
uma atribuição de um juízo de valor, que (Romaro, 1999). Ressalta-se o exemplo de
incorporará o sujeito em uma classe, pois Kraft-Ebing, que se valia da palavra “per-
há no diagnóstico psicanalítico um aspecto versão”; ou ainda a paranoia vinculada a
de objetivação do sujeito, que organiza Kraepelin; a presença de uma crítica em
uma representação do eu – enquanto Freud quando o psiquiatra Bleuler exaltou
qualidades agrupadas como constelações a esquizofrenia; ou a clássica influência
imaginárias – em vez de uma livre flutua- do termo “neurose”, oriundo da obra de
ção acerca do subjetivo. Charcot (Leite, 1999).
Quanto a isso é possível associar o O psicanalista, através do diagnóstico,
trabalho diagnóstico na psicanálise ao opera uma investigação em seu campo
que Lévi-Strauss (citado por/apud Leite, clínico, que privilegia a escuta. Sua ava-
2001) sugeriu enquanto princípio da lógica liação é subjetiva, num espaço intersub-
da epistemologia da classificação, no qual jetivo de comunicação de inconsciente
se encontra uma constante produção de para inconsciente (Lowenkron, 1999).
termos opostos regendo e garantindo o ato O inconsciente, enquanto prisma da
classificatório. realidade psíquica realoca o que vem a
Observou-se também que as contra- ser tratado como subjetivo/sujeito em um
dições diagnósticas estão presentes na novo patamar epistêmico. Nesse sentido,
psicanálise, quando, para Freud, o esta- ressalta-se a dimensão inconsciente na
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relação que ela faz com a realidade para lança a sua noção diagnóstica pertinente
que se possa dialogar com a construção até o final da década de 1960: o simbólico
diagnóstica para a psicanálise (Figueiredo; como o registro que organizava a estru-
Machado, 2000). turação psíquica, na captura do vivente
Ainda com os autores é pertinente à cadeia de significantes (Figueiredo;
conotar que, na maneira de operar a Machado, 2000). Na associação ao campo
clínica psicanalítica, o sujeito epistêmico da teoria lacaniana se viu que o diagnós-
(observador) não é exterior ao sujeito tico estrutural é construído em análise,
empírico (observado). O observado inclui tendo como único instrumento a escuta do
o observador através da transferência. analista que visa a dimensão do discurso
Diagnóstico e tratamento estão marcados do analisando e aponta a estrutura do su-
por essa concepção. jeito na linguagem. O diagnóstico se vin-
Retomando Camargo e Santos (2012), cula às entrevistas preliminares, quando é
o trabalho diagnóstico no campo psicana- possível diagnosticar o sentido do sintoma,
lítico exige situar a posição do sujeito do sua estrutura, o ser ou não analisável. Tal
inconsciente, o que se dá em articulação diagnóstico pode ser tratado de maneira
com a transferência e o desejo do analista. “provisória”, como algo que é posto em
Na clínica psicanalítica não se parte suspenso (Romaro, 1999).
de uma ideia prévia, pois se leva em con- Já Pacheco (2012), que considera o
ta o que está em jogo no vínculo e que, diagnóstico estrutural como um orientador
no encontro clínico, se apresenta como da direção do tratamento, desloca o traba-
um fato de discurso governado por um lho clínico com as formas do sintoma e segue
saber inconsciente com leis que lhe são uma vertente que dá ênfase às modalida-
próprias. E “este encontro é tão singular des da posição do sujeito frente à fantasia.
que bem merecia chamar-se desencontro” Leite (2001) ressalta que há dois mo-
(Rappaport, 1992, p. 63). dos possíveis de classificação diagnóstica
Nessa perspectiva, Dunker (2011) na clínica fundada a partir do ensino de
afirma que em nenhum caso o diagnóstico Lacan: o modelo estrutural “no qual a
pode ser dado como universalidade ou referência principal é o envoltório formal
particularidade. Trata-se de uma relação do sintoma” (Leite, 2001, p. 35), modelo
entre o universal e o particular, e não que faz referência às categorias psicopa-
deve, então, ser compreendido como: tológicas da psiquiatria, privilegiando a
distinção neurose-psicose.
[...] uma classificação ou inclusão do caso No entanto, traz-se a topologia laca-
em sua cláusula genérica, mas como recon- niana para registrar uma não referência às
strução de uma forma de vida” (Dunker, categorias da psicopatologia psiquiátrica,
2011, p. 116). afirmando que essa

Quanto a isso Miller (2003) aponta a [...] outra maneira de pensar a clínica,
universalidade como algo que não pode es- chamada borromeana, se funda no fato
tar completamente presente no indivíduo. do ser falante ser consequência da relação
O indivíduo real pode referir e exemplificar entre Imaginário, Simbólico e Real. Re-
uma classe, ainda que com uma lacuna. lação que se dá segundo as propriedades
Para o autor, a instância da classe num de uma figura topológica chamada nó
indivíduo contém um déficit, por isso ele borromeano (Leite, 2001, p. 36).
nunca poderá ser um exemplar perfeito.
Ao considerar a estruturação do su- A esse respeito, considera-se que o
jeito remetido a algo do Outro, Lacan nos diagnóstico na psicanálise lacaniana apon-
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ta uma vertente imaginária, que confere The diagnosis:


certa roupagem ao sujeito; uma vertente from psychiatry
simbólica, que o identifica e distingue; e to psychoanalysis
uma vertente real, que toca no circuito de
gozo presente em cada singularidade. O Abstract
diagnóstico, a partir desse percurso, visa This article discusses the place of diagnosis in
localizar o modo singular de gozo, e essa psychiatry and psychoanalysis, as well as its
operação não é atravessada por grupos ou effects on the conduct of the treatment. In psy-
classes preexistentes (Vieira, 2001). chiatry addresses, from the history of diagnos-
Os “diagnósticos lacanianos” são for- tic systematization, the elements present in the
mulados a partir da análise do enodamento constitution of psychopathology. In the field
dos registros Imaginário, Simbólico e Real, of psychoanalysis points the difference this di-
trabalhados por Lacan em sua teorização agnostic front approach to psychiatry through
dos nós borromeanos. Acredita-se que tal studies of commentators who have studied
direcionamento teórico e clínico tem con- the subject in perspective Freud-Lacanian.
sequências profícuas para o diagnóstico
e a direção do tratamento na psicanálise Keywords
(Leite, 2001; Vieira, 2001). Diagnosis, Psychiatry, Psychoanalysis, Freud,
O diagnóstico na psicanálise se realiza, Lacan.
assim, como uma antítese em relação ao
diagnóstico na psiquiatria. Este último visa
uma rotulação sobre o adoecimento, que
aponta um modelo terapêutico associado à Referências
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