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Resumo:
Este trabalho analisa a gestão da segurança do trabalho na administração municipal e suas
contribuições para o resgate do valor do serviço público. Analisa um município com carreira
pública e busca identificar o campo de ação da gestão da segurança do trabalho, seus fatores
de influência e sugerir alternativas para o fortalecimento, especialmente nas pequenas e
médias cidades onde a gestão pública ainda se ressente de práticas mais consolidadas. Através
da apresentação da experiência de Pouso Alegre – MG, é demonstrado que apesar da gestão
municipal conhecer as necessidades e obrigações em termos da segurança do trabalho,
encontra aspectos limitantes em sua aplicação como as restrições de recursos para o
reconhecimento das áreas de risco, a inexistência de equipamentos e ambiente adequado para
a implementação de políticas de segurança e sua legislação, bem como as particularidades da
legislação para as carreiras públicas que não estão sujeitas à Consolidação das Leis do
Trabalho. O trabalho conclui que a administração municipal pode ampliar o aproveitamento
da política de segurança enquanto instrumento para o resgate do valor do serviço público,
mesmo convivendo com o atual contexto de restrição de recursos.
Palavras-chave: processos, segurança, serviço público.
1. Introdução
Os sistemas gerenciais para a melhoria do desempenho vêm sendo cada vez mais adotados
nas organizações privadas, públicas e não lucrativas. Os sistemas de gestão pela qualidade,
gestão ambiental e gestão da segurança e medicina no trabalho muitas vezes são tratados de
maneira integrada nas organizações privadas, uma vez que lidam com o envolvimento dos
funcionários e pressupõem dimensões de melhorias, muitas vezes entrelaçadas.
A gestão pública ampliou, nos últimos anos, a implementação de sistemas de qualidade, sendo
que, na década passada, foram criados diversos programas abrangentes, como o da Qualidade
e Produtividade no Setor Público promovido pelo Governo Federal e os programas estaduais,
como no caso de São Paulo. A gestão ambiental passou por um processo de expansão similar,
sendo que as organizações públicas que envolvem riscos ao meio ambiente já adotam medidas
preventivas, em atendimento à legislação que lhes regulamenta. A gestão da segurança no
trabalho, por sua vez, encontrava limites de aplicabilidade na administração pública sendo que
um dos impedimentos para tal estava no fato de sua legislação estar relacionada à
Consolidação das Leis do Trabalho. Esta situação alterou-se e, no início desse século, diversas
organizações públicas estruturaram seus sistemas de gestão da segurança e medicina no
trabalho.
Este movimento observado na administração pública, entretanto, deve ser compreendido não
como uma série de iniciativas para atendimento às legislações; mas sim como oportunidades
para a melhoria do desempenho e da gestão. O contexto de Reforma do Estado, preconizado
pela Administração Gerencial e promovida no governo Fernando Henrique Cardoso, trouxe
para a administração pública novos desafios que, em termos da gestão de pessoas, mantém-se
atuais, já que estão associados com questões mais abrangentes determinadas historicamente
pelas relações entre Estado, administração pública e sociedade.
Mesmo encontrando limites para a implementação dos sistemas gerenciais, passaram a ser
encontrados nas diferentes esferas de governo, esforços direcionados ao desenvolvimento das
habilidades gerenciais de seus funcionários, ao estabelecimento do foco no cliente/cidadão, à
implementação de programas de qualidade de vida no trabalho, ao estabelecimento de
remuneração variável, à gestão da cultura organizacional, entre outros. Associados com outros
elementos em um contexto de desvalorização do servidor público e de imposição de restrições
à estabilidade, esses esforços tornam-se relevantes para a geração de valor no serviço público,
qual seja, as respostas e compromissos dos funcionários para com a sociedade.
Entretanto, as inúmeras dificuldades e restrições financeiras que sofrem as administrações
públicas acabam por restringir o espaço para propagação e a oportunidade de
impulsionamento dos resultados obtidos com a implementação dos sistemas gerenciais. Neste
sentido, faz-se necessária uma releitura de tais processos, de maneira a ampliar a compreensão
sobre o seu alcance. O objetivo deste trabalho é explorar os aspectos colaborativos da
segurança no trabalho para o fortalecimento da geração de valor à sociedade pelo serviço
público, na administração de pequenos e médios municípios.
2. O sistema de segurança no trabalho nas Prefeituras Municipais
Neste trabalho entende-se por segurança do trabalho o conjunto de serviços especializados
que tem por “finalidade promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de
trabalho” (NR3, regulamentada pela Portaria 3.214 de 8/6/78). De acordo com SALIBA
(1998, p. 11-12), a segurança do trabalho orienta-se para a identificação e reconhecimento do
risco ambiental no local de trabalho e o seu controle, com o objetivo de restringir as doenças e
acidentes que tenham implicações para a saúde e bem estar dos trabalhadores.
No formato em que está estruturado o Sistema Institucional para a implementação da
segurança e saúde do trabalho no Brasil, cabe ao Ministério do Trabalho e Emprego a
coordenação, orientação, controle e supervisão das atividades relacionadas com a segurança e
medicina do trabalho, sendo que a execução das atividades e a fiscalização cabem às
Delegacias Regionais do Trabalho - DRT. De forma diferente de outras áreas de intervenção
governamental, como o meio ambiente, este sistema não estabelece papéis claros para a
atuação de estados federados e municípios, prevendo apenas a possibilidade de delegação de
competências da DRT, através de convênios. Apesar disto, a legislação prevê que normas
específicas de âmbito estadual ou municipal também devem ser respeitadas por empregadores
e empregados.
O fato do sistema normativo referente à segurança do trabalho estar atrelado às relações de
trabalho regulamentadas pela CLT, constitui um fator restritivo para sua ampla aplicação, pois
os regimes de trabalho diferenciados, como os estatutários, não estão sob sua égide, a não ser
quando há leis específicas para tanto. Esta observação traz conseqüências não apenas para a
administração pública, mas também para o contexto das relações produtivas onde a questão da
empregabilidade tem como um de seus pilares o rompimento do regime celetista para a
adoção de novas formas de relacionamento, como a terceirização, o cooperativismo, o
trabalho informal, entre outros.
Na análise das Prefeituras Municipais de médio e pequeno porte, pode-se reconhecer alguns
espaços de aplicação das normas de segurança do trabalho, sendo as principais fontes de risco:
a) na educação: as escolas com seus serviços de preparação de alimentos e limpeza, com
riscos de acidentes pessoais;
b) na saúde: postos de saúde, pronto socorro e eventualmente, hospitais, onde podem ocorrer
riscos físicos, biológicos e químicos;
interna e intrínseca, embora a pesquisa não tenha confirmado a relação deste último fator com
o tema em análise. Ao elaborar o problema de análise, os autores apoiados nessas três causas,
refletem sobre a problemática central na gestão pública: o conflito entre os interesses privados
do funcionalismo e os interesses da comunidade.
As considerações acima conduzem a um fio de reflexão ainda frágil nas discussões sobre
gestão no setor público, que é o valor do serviço público. O cumprimento do papel da
administração pública requer ações de fortalecimento do vínculo entre o servidor e a
comunidade, pois esses são fundamentais para restringir as implicações negativas do
descomprometimento do funcionalismo com a organização e com sua profissão, bem como
essenciais para a transformação do cenário caleidoscópico da administração pública atual.
Nestes aspectos, residem vínculos que propiciam oportunidades de geração de valor:
− no comprometimento com a organização, é possível atrelar os esforços de melhoria na
gestão e aperfeiçoamento das políticas públicas com uma ação mais efetiva por parte dos
servidores, junto às comunidades;
− no comprometimento com a profissão, encontra-se a possibilidade de recuperar o posto de
trabalho no setor público como uma oportunidade de carreira e formação, já que as
restrições financeiras limitam a remuneração, bem como é possível destacar o bem social
que as diferentes profissões podem gerar; e,
− na absorção de novas tecnologias, métodos e práticas é possível aperfeiçoar a ação pública
necessária para melhor atender aos cidadãos e para fazer frente ao aparato tecnológico
com que contam os setores que regulam ou fiscalizam.
Para o resgate do valor do serviço público, portanto, deve-se considerar, em primeiro lugar a
possibilidade dos servidores comprometerem-se com as políticas públicas e as ações
organizacionais, compondo novas interações e comportamentos frente à gestão organizacional
e a comunidade.
Em segundo lugar, a valorização do saber das diversas categorias e profissões dos servidores
públicos deve ser restaurada e dotada de sentido no que tange à sua contribuição para a
sociedade como um todo.
Por fim, o resgate do valor do serviço público pressupõe a aceitação da busca de novos
patamares de ação governamental, que possibilitem aperfeiçoar a ação do aparato público,
independentemente dos receios e resistências dos funcionários.
4. Metodologia
O presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa qualitativa sobre a gestão de
segurança do trabalho em municípios médios e pequenos. Sua elaboração se deu a partir do
levantamento de referências bibliográficas sobre o tema, da entrevista com especialistas em
segurança do trabalho e em gestão municipal quanto ao panorama atual deste sistema de
gerenciamento nos municípios e de entrevistas em profundidade realizadas com os
responsáveis pela segurança do trabalho na Prefeitura de Pouso Alegre-MG, na gestão
passada.
Foram realizadas entrevistas com especialistas na área de segurança no trabalho, além do
técnico em segurança do trabalho e Secretário de Recursos Humanos, ambos do município de
Pouso Alegre-MG.
O método de caso foi aplicado com o intuito de “cobrir o fenômeno de interesse e seu
contexto, reunindo um grande número de variáveis potencialmente relevantes”(YIN, 1984,
p.55).
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